sábado, 18 de setembro de 2010

A pressa de Lula

DEU EM O GLOBO

Para tentar reduzir o desgaste de Dilma Rousseff, Lula tomou a decisão de demitir Erenice Guerra em cinco dias, uma rapidez que ele não adotou em casos anteriores. No escândalo do mensalão, Lula demorou dez dias para demitir José Dirceu. E Palocci ganhou sobrevida de quase 20 dias no caso Francenildo.

Ano eleitoral, decisão rápida

Erenice caiu em 5 dias; Dirceu, em dez

BRASÍLIA. Em seus quase oito anos de mandato no Palácio do Planalto, o presidente Lula adotou posturas distintas para se livrar de auxiliares problemas, embora tenha sido sempre reticente em demiti-los. Ficou evidente, porém, que a maior dificuldade se dá quando os denunciados são amigos e/ou petistas.

O processo de expurgo de Erenice Guerra da Casa Civil foi um dos mais rápidos por dois fatores: não é próxima de Lula, mas de Dilma Rousseff; e o calendário eleitoral exigiu decisão rápida, para tentar evitar um estrago na campanha da petista. As denúncias foram publicadas no dia 11 pela Veja. Cinco dias depois, a ex-braço-direito de Dilma caiu.

A queda de José Dirceu da Casa Civil em 2005 no rastro das denúncias do mensalão demorou dez dias. Em 6 de junho, a Folha de S.Paulo publicou entrevista com o então deputado Roberto Jefferson (PTB) em que ele acusava Dirceu de ser o mentor do esquema de distribuição de recursos entre partidos. Em 16 de junho, Dirceu saiu.

A saída de Antonio Palocci da Fazenda foi mais dolorosa para Lula, que adiou a decisão por quase 20 dias. Em 8 de março de 2006, o motorista Francisco das Chagas Costa disse na CPI dos Bingos que Palocci frequentava a casa de Vladimir Poletto em Brasília. Palocci havia negado que ia à casa, chamada de República de Ribeirão Preto. Em 16 de março, o caseiro Francenildo dos Santos Costa confirmou que Palocci visitava a mansão. No dia 18, a revista Época publicou a quebra do sigilo do caseiro, identificando R$ 38.860 em sua conta. No dia 27, o então presidente da Caixa, Jorge Mattoso, disse ter entregue a Palocci a movimentação bancária do caseiro. Palocci saiu.

Lula foi mais rápido na substituição do ex-titular de Minas e Energia Silas Rondeau, apadrinhado de José Sarney. A Operação Navalha da PF, que investigou corrupção em obras públicas, apontou que Rondeau teria recebido propina da construtora Gautama numa licitação. A Operação foi deflagrada em 17 de maio de 2007, e no dia 22 Rondeau pediu demissão. Outro peemedebista, Romero Jucá, também teve vida no curta na equipe de Lula: alvejado por denúncias de desvio de recursos, ficou cinco meses na Previdência.

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