sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Reflexão do dia – Prof. Raimundo Santos

“Em cenário pessimista, mas não improvável, poderemos caminhar para uma situação próxima de um impasse: ao tempo em que as instituições e os valores vêm perdendo legitimidade, a figura do Presidente Lula, indiferente a essa tendência (pois, repita-se, em seus diálogos popularistas deles diz coisas díspares), torna-se dia-dia mais centralizadora, com popularidade altíssima. Cada vez mais já perto desse limite, a esfera da política-teoria-valores adquire grande relevância, como também o próprio mundo político – por mais combalido que hoje esteja – ganha um realce que muitos não acreditam. Importância no sentido de ter função para restituir inteligibilidade ao processo político em andamento, quando muitas coisas hoje parecem turvas. Aliás, como nos ensina a experiência da resistência democrática nos anos de chumbo, época – este é o motivo da alusão – de grande descrédito na política e nos partidos.”


(Raimundo Santos. "O sentido da esquerda na atual circunstância", texto da coletânea O centenário de Caio Prado Jr., FAP, no prelo)

Merval Pereira :: O Brasil e o Haiti

DEU EM O GLOBO

Desde que assumiu em 2004, a pedido dos Estados Unidos, o comando da Força de Paz da ONU no Haiti, o governo brasileiro vem fazendo gestões junto aos organismos internacionais, inclusive a própria ONU, para que se empenhem com mais vigor na recuperação do país mais pobre do ocidente, com programas de ajuda humanitária, mais apoio de forças de outros países, máquinas para limpar as ruas, dinheiro para programas sociais.

O impacto da tragédia em Porto Príncipe está fazendo, afinal, com que a situação do Haiti ganhe relevância no discurso de líderes internacionais como os presidentes dos Estados Unidos, Barack Obama, e da França, Nicolas Sarkozy.

É preciso agora que promessas antigas da comunidade internacional, como apoio financeiro do BID e da Comunidade Europeia, se tornem realidade, juntamente com o apoio indispensável, financeiro e político dos Estados Unidos.

O governo brasileiro jamais admitiu formalmente, mas viu desde cedo, no pedido dos Estados Unidos, uma boa oportunidade para reforçar sua pretensão de obter uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU.

As experiências anteriores, lideradas por militares dos Estados Unidos e da França, fracassaram redondamente sobretudo porque se limitaram à repressão militar violenta, criando um clima permanente de confrontação que era estimulado pelas gangues que dominavam a maior parte do território, especialmente em Porto Príncipe.

Esse foi o ambiente inicial que as tropas brasileiras encontraram em Porto Príncipe, e houve mesmo uma tentativa de grupos parlamentares de não aprovar a renovação da autorização para as tropas ficarem por lá, devido às notícias de que a rejeição da população era grande.

A estratégia de passar a prestar serviços básicos à população, depois de dominar as partes de Porto Príncipe que estavam controladas por gangues, foi fundamental para o êxito da força internacional de paz que o Brasil comanda no Haiti.

Uma das primeiras decisões para libertar a Cité Soleil, uma das maiores favelas do país, dominada por gangues armadas, foi participar da retirada do lixo que se acumulava nas ruas e era usado até mesmo como barricadas.

O clima de simpatia em relação aos militares brasileiros passou a predominar, consolidado pelo Jogo da Paz, em que a seleção brasileira jogou no Haiti. Até bem pouco, era comum ver bandeiras brasileiras pintadas nos muros da cidade, e crianças com camisas da seleção.

A necessidade de maior financiamento está explícita justamente nessa estratégia de dominação do território, onde o combate às gangues tem que ser seguido de uma atuação social imediata, levando escolas, postos de saúde, delegacias de polícia à população.

Da mesma forma que acontece nas favelas cariocas que eram dominadas pelos traficantes, se não houver depois a ocupação "do bem", com o cumprimento efetivo do que se espera do Estado, a situação voltará ao que era.

A experiência que o Exército brasileiro está tendo no Haiti é considerada algo que tem sido efetivamente inovador no campo militar, por não se limitar à tarefa de polícia e dar aos militares treinamento em uma nova forma de atuação que pode ser útil em outras operações que envolvam a ocupação de territórios dominados por bandidos.

O Ministério da Defesa, por isso mesmo, está promovendo uma reforma na legislação, que depende da aprovação do Congresso, para dar poder de polícia às Forças Armadas que atuem em conflitos urbanos e também no patrulhamento das fronteiras.

A atuação junto às comunidades carentes em casos como o do Haiti é também uma aplicação da experiência que o Exército brasileiro já adquiriu na atuação em território nacional, como na Amazônia, por meio de ações cívico-sociais (as operações Acisos).

A importância estratégica que o Brasil ganhou com a atuação no Haiti coloca o país no centro das decisões sobre sua reconstrução, e o governo brasileiro pretende assumir a tarefa dentro do contexto de liderança regional: o que acontece nas Américas tem que ser do nosso interesse, é a definição do Itamaraty.

A mudança que o presidente Lula fez no texto, que ele não havia lido, do Programa Nacional de Direitos Humanos, no que se refere à criação da Comissão Nacional da Verdade, esvaziou a crise militar por uma simples razão: o recuo retirou do texto a carga de revanchismo que poderia justificar uma investigação tendenciosa. E deixou claro que na Lei de Anistia não se mexe.

Mas a abrangência de tempo - de 1946 a 1988 - já estava lá no texto original. A Comissão da Verdade, em que pese o nome mal definido, pois chegar à verdade completa é impossível, por ela ser, por definição, inexaurível, poderá, mesmo com sua função podada de ideologia, "identificar e tornar públicas" as violações dos direitos humanos.

Não há nada que impeça que o governo, através dela, abra os arquivos dos tempos do regime militar. Anistia é perdão, mas não é esquecimento.

Tem cabido à imprensa nos últimos anos a revelação de fatos obscuros do tempo ditatorial. Cito aqui duas grandes reportagens do GLOBO, entre tantas, como exemplo desse trabalho:

Em 1995, a partir de documentos obtidos junto a fontes militares, um profundo trabalho investigativo reconstituiu a história da Guerrilha do Araguaia, proporcionando a descoberta de ossadas em cemitérios clandestinos, a identificação de uma guerrilheira dada como "desaparecida" e pagamento de indenizações às famílias.

Em 1999, uma série de reportagens do GLOBO provocou a reabertura do caso do Riocentro, provando oficialmente o que todos sabiam: que os militares foram os responsáveis pela explosão da bomba. Ninguém foi preso pois o crime havia prescrito, mas a história foi revelada.

Dora Kramer ::Triângulo das Bermudas

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Com São Paulo sob jurisdição do governador e candidato a presidente, José Serra, Minas Gerais sob administração do governador e por ora candidato a senador, Aécio Neves, é fundamental para o PSDB resolver sua equação eleitoral no Rio de Janeiro, hoje terra de ninguém para o campo oposicionista.

O PSDB já governou os três Estados ao mesmo tempo, no governo Fernando Henrique Cardoso. Nunca perdeu o controle nos dois maiores colégios eleitorais, mas no Rio, depois de Marcelo Alencar, só fez definhar. A ponto de não contar com uma só liderança de expressão nacional nem de influência eleitoral no Estado.

Recuperar esse terreno é crucial para os tucanos, que precisam arrumar uma maneira de compensar a vantagem do presidente Luiz Inácio da Silva nas regiões Norte e, principalmente, Nordeste.

A fórmula seria "fechar" boas estruturas nos três maiores colégios eleitorais do País que, juntos, somam 54.990.759 dos 131.883.788 eleitores brasileiros.

Em São Paulo vivem 29.498.433 eleitores; em Minas estão registrados 14.150.093 votantes; no Rio eles são 11.342.233, um número importante demais para ser tratado com displicência e deixado ao sabor dos pré-candidatos hoje em primeiro lugar nas pesquisas: o governador Sérgio Cabral e o ex-governador Anthony Garotinho.

Isso posto, expõe-se também a razão pela qual não só o PSDB, mas todas as forças de oposição a Sérgio Cabral - em tese dono do capital eleitoral do presidente Lula - investem na composição de uma aliança em torno do deputado Fernando Gabeira como candidato a governador.

Na semana passada, o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra, estava praticamente convencido de que essa solução não seria possível, porque Gabeira havia decidido disputar a reeleição para deputado.

O PSDB, então, estava inclinado a considerar o Rio um caso perdido e concorrer apenas para assegurar o tempo de televisão com algum candidato frágil no tocante à densidade de votos, mas que defendesse a candidatura de Serra no horário eleitoral.

Começou até a haver uma paquera com Anthony Garotinho, conduzida por intermédio do ex-prefeito Cesar Maia, não para uma aliança formal, mas talvez para um acerto mediante o qual haveria várias candidaturas no campo oposicionista com o objetivo de quebrar o favoritismo de Cabral.

A partir do seguinte raciocínio: quanto menos votos o governador tiver, menos terá também a candidata de Lula.

Mas a partir do último fim de semana as coisas evoluíram para outro lado, embora sem prejuízo das conversações entre os adversários de Cabral e Lula.

Na nova versão, ainda em fase de modelagem, Gabeira seria o candidato, digamos, "principal" de uma coligação em princípio integrada por PSDB, PV e PPS. Ele faria a campanha nacional de Marina Silva e os candidatos nas proporcionais (deputados) apoiariam Serra.

Uma construção ainda nebulosa do ponto de vista do funcionamento. Gabeira diz que topa, vai conversar em breve a respeito com José Serra, mas condiciona o fechamento do acordo a um acerto prévio das regras do jogo. Em que termos?

"Nos termos de um entendimento nacional onde todos se sintam confortáveis", diz Gabeira, sem esclarecer grande coisa.

Pelo jeito, de propósito, pois por ora ainda há uma infinidade de problemas a resolver antes de a solução final se apresentar.

À francesa

A solução dada à crise provocada pelo ato que quase revoga a Constituição por decreto é solução nenhuma. O ministro da Defesa e o secretário de Direitos Humanos se declaram satisfeitos com a mudança do texto na parte relativa à Comissão da Verdade.

Considerando que sabem muito bem o que significa a frase "examinar as violações dos direitos humanos" - ou seja, nada -, satisfeitos mesmo só podem estar os militares, pois a nova versão avança menos que o acordo anterior (não cumprido) que previa o reexame das ações repressivas do Estado e as ofensivas da luta armada.

Não se discutiram os outros pontos que provocaram tanta reação contrária, simplesmente porque não serão levados adiante. O presidente Luiz Inácio da Silva debelou a crise como sempre faz: deixando o dito pelo não dito.

Mas pode ter criado um problema para sua candidata Dilma Rousseff ao dar margem à interpretação de que as metas contidas no decreto equivalem a uma plataforma de governo a respeito das quais Dilma será questionada durante a campanha pela oposição e pelos setores a cuja insatisfação não se deu a menor satisfação.

Vácuo

A estratégia do Planalto de distanciar Dilma Rousseff de qualquer situação ou discussão adversa é arriscada. Pode acabar dando a impressão de que ela não opina como candidata nem palpita na Casa Civil como ministra e, portanto, flana.

Candidato não é chefe da oposição, diz Serra

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Christiane Samarco

O governador José Serra só oficializará a candidatura presidencial em março, mas já adianta que o foco da campanha do PSDB não será o atual governo. Demonstrando, pela primeira vez, menos preocupação com a condição de candidato natural à sucessão de Lula, ele conversou com o Estado na noite de quarta-feira, depois de participar, no Itamaraty, de evento em que foram anunciados investimentos federais nos Estados que sediarão jogos da Copa de 2014.

"Candidato a presidente não é chefe da oposição", afirmou, delegando ao PSDB a tarefa de criticar o governo Lula e se guardando para o que considera o confronto real, com a candidata Dilma Rousseff, mais adiante. A síntese é a de que o exercício da oposição é tarefa partidária. A sua é a de governar o Estado.

A mensagem alcança o Planalto porque o governador avalia que o presidente Lula antecipou o calendário eleitoral também para atraí-lo antes do tempo. Se caísse na cilada palaciana, facilitaria a estratégia de Lula de estabelecer uma campanha polarizada entre seu governo e o anterior, do PSDB.

FUTURO

Nesse contexto, sem explicitar, Serra compartilha a tese do governador de Minas, Aécio Neves, que cunhou a expressão "pós-Lula", como referência tática para a campanha do partido. "Vou apontar as coisas para o futuro", afirmou.

Lula declarou reiteradas vezes que a campanha de 2010 será uma comparação entre seu governo e o de Fernando Henrique Cardoso. O governador paulista não vai por aí. "Não vou ficar tomando conta do governo Lula", disse ao Estado.

As bancadas tucanas na Câmara e no Senado terão de se organizar para fazer uma oposição mais articulada e eficaz. Caberá aos deputados e senadores do PSDB, e não ao candidato presidencial do partido, acompanhar com lupa cada ato do governo Lula e liderar a oposição.

Essa mensagem, o próprio Serra já se encarregara de transmitir ao PSDB no início do ano, em tom de cobrança, provocando um debate interno, que envolveu a cúpula da legenda. O efeito foi imediato.

"Precisamos combater esse ufanismo", apelou o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), aos dirigentes tucanos. "Isso não combina com um Brasil que cresceu 0% em 2009 e teve a maior queda da exportação da história", completou o deputado Jutahy Júnior (PSDB-BA), respondendo de pronto à cobrança do candidato. Serrista de primeira hora, Jutahy lembra que, "em ano eleitoral, é preciso ter uma ação parlamentar sincronizada com o candidato, sobretudo diante da propaganda escandalosa do governo".

DINÂMICA

Determinado a não permitir que a guerra antecipada da campanha lhe crie dificuldades na tarefa de governar São Paulo, Serra diz que essa fase de pré-campanha foi ditada pela conveniência de Lula. Que não é a dele, Serra. Para o tucano, o processo tem dinâmica própria e alguns passos políticos não ocorrem fora do tempo, nem por pressão nem por conveniência. "Certas coisas são irremovíveis."

Por irremovíveis, segundo o raciocínio de Serra, devem ser entendidas a escolha do candidato a vice e as decisões finais sobre as coligações nos Estados. Mas o PSDB também está acelerando a montagem de palanques em Estados-chave como o Rio de Janeiro, e o próprio Serra procurou o ex-prefeito Cesar Maia para tratar desse assunto.

"No Rio, o PSDB reabriu uma perspectiva, mas tem muita água para rolar debaixo da ponte", avaliou. Serra calcula que o prazo formal de campanha, que vai de abril, quando a Lei Eleitoral obriga os candidatos a deixarem seus cargos, até 3 de outubro, data da eleição, é mais que suficiente para os concorrentes se apresentarem ao eleitor. "A partir de abril teremos seis meses pela frente. Isso é tempo demais, especialmente se a gente considerar que nos primeiros três meses ninguém pode fazer campanha."

João Bosco Rabello ::Governador escolheu o timing correto

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

O raciocínio político que orienta o governador José Serra é estrategicamente corretíssimo. Seu timing não é o mesmo do presidente Lula simplesmente porque as circunstâncias de um e de outro também não são as mesmas. A Lula convinha antecipar a campanha para evitar que o debate sucessório dentro do PT ocorresse à sua revelia. Ao fazê-lo, escolhendo uma candidata sem biografia política, e neófita em eleições, impôs-se a tarefa de construir sua candidatura. O tempo, nesse caso, é precioso e não pode ser desperdiçado.

Nem o tempo nem a oportunidade de aproveitar o cargo para dar visibilidade à candidata. A estrutura de governo e a agenda de trabalho são postos a serviço dessa estratégia, numa campanha disfarçada em ações de governo, País afora. A ministra Dilma Rousseff aprende o comportamento de candidata no cargo e dá robustez ao seu nome nas pesquisas.

Aqui, a primeira circunstância diferente. Serra tem biografia conhecida, perfil progressista, já disputou eleições, inclusive a presidencial, seu nome esteve em todas as pesquisas na última década.

Governa o maior colégio eleitoral do País com alto índice de aprovação, que precisa manter. Tem, enfim, altíssimo nível de exposição. Não tem interesse em fazer campanha contra Lula, porque sua adversária será Dilma.

Pesquisas que não foram a público, mas nas quais candidatos baseiam seu comportamento, indicam que a maioria do eleitorado identifica a estabilidade econômica e o fim da inflação com o Plano Real e, portanto, com o governo tucano. Porém, com a mesma clareza, valoriza prioritariamente o aumento de seu poder de consumo e o consequente progresso material e pessoal obtidos nos últimos anos. E grande parte atribui isso aos programas sociais implantados pelo governo, que estão irreversivelmente identificados com a figura do presidente Lula.

É a segunda circunstância que põe o interesse do governador na direção oposta à do presidente e os separa no tempo. A chance de eleger-se passa pela garantia de não só manter esses programas, como ampliá-los e melhorá-los ainda mais. Mas a ocasião oportuna para fazê-lo será quando puder confrontar sua biografia, capacidade e experiência, como político e gestor público, com a de Dilma Rousseff.

É nessa fase da campanha que a oposição aposta as fichas em José Serra. Nessa avaliação, na medida em que os debates se derem apenas entre ambos, será possível limitar a capacidade de Lula transferir votos.

Por isso, Serra diz que seu olhar está no futuro e que a oposição a Lula deve ser partidária, portanto, do PSDB. "Candidato não é chefe da oposição", diz, resistindo à provocação de Lula para um debate antecipado.

Garotinho cogita hipótese de apoiar tucano

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Ele diz que poderá reavaliar sua estratégia de alianças se Planalto não ficar neutro no Estado

Alfredo Junqueira

O governador José Serra (PSDB) pode ganhar mais um palanque forte no Estado do Rio - terceiro maior colégio eleitoral do País. Após anúncio da volta do deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) à disputa pelo governo, ontem foi a vez de Anthony Garotinho, ex-governador e pré-candidato ao Palácio Guanabara, acenar com apoio ao tucano.

Garotinho está furioso com manifestações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a favor da reeleição do governador Sérgio Cabral (PMDB). Caso não haja posição neutra por parte de Lula e da candidata à sua sucessão, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, ele pode reavaliar a sua estratégia de alianças.

"Minha prioridade é apoiar a Dilma. Se nem ela e nem o Lula se mantiverem neutros, se não houver reciprocidades, posso tomar duas posições. A primeira é ficar neutro. A segunda é embarcar na candidatura do Serra. Mas isso só vai ocorrer se o PSDB e o DEM locais resolvam me apoiar e me dar seus tempos de televisão", disse. O ex-governador aparece em segundo lugar nas pesquisas, com 10 a 15 pontos, atrás de Cabral.

"Quero a garantia que eu não vou ser passado para trás aqui no Rio", disse Garotinho, contando que esteve com o prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias (PT), após ele desistir de disputar o governo em favor de Cabral. O petista teria dito que fez isso a pedido de Lula. Lindberg também teria falado que o presidente fará, sim, campanha para o peemedebista. "Quando soube disso, procurei o Ricardo Berzoini. Ele me garantiu que era mentira. Pedi um encontro com Dilma e o presidente Lula. Espero que essa reunião ocorra em 15 dias."

Pré-candidato ao Senado pela coligação que deve apoiar Gabeira, o ex-prefeito do Rio Cesar Maia (DEM) disse que apenas Serra poderia avaliar a possibilidade do apoio de Garotinho: "O DEM acredita firmemente na candidatura do Gabeira."

O presidente tucano no Rio, deputado Luiz Paulo Rocha, fez coro: "O PSDB está a caminho de fazer aliança com o PV, DEM e PPS, com o Gabeira governador. Não tem outro caminho."

Berzoini e Lindberg não atenderam às ligações da reportagem . Cabral evitou comentar o retorno de Gabeira ao tabuleiro eleitoral do Rio, mas ressaltou o seu compromisso com a candidatura de Dilma à Presidência.

Acordo entre PV e PSDB no Rio ameaça apoio do PSOL a Marina

DEU EM O GLOBO

Chico Alencar diz que relação de seu partido com tucanos é como "água e azeite"

Cássio Bruno e Soraya Aggege

RIO e SÃO PAULO. O acordo que está sendo costurado no Rio entre o PV e o PSDB para garantir um palanque estadual ao tucano José Serra ameaça outra aliança almejada pela pré-candidatura da senadora Marina Silva (PV) à Presidência. O PSOL, que daria à candidatura de Marina um viés mais à esquerda, ameaçou ontem não apoiá-la caso o PV se alie aos tucanos do Rio para lançar o nome do deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) ao governo do estado.

Com o acordo, Gabeira teria de subir em dois palanques na disputa presidencial: o de Marina e o do governador de São Paulo, José Serra (PSDB).

Segundo o deputado federal Chico Alencar (PSOL-RJ), a aliança entre o partido e os tucanos é como "água e azeite":

- Estamos num processo de convencimento. E um dos nossos pontos fundamentais abordados é a construção de uma candidatura (de Marina) que esteja fora da aliança PV e PSDB. Nossa relação com o PSDB é como água e azeite.

Essa é mais uma polêmica na coligação PSDB/DEM/PPS/PV. Integrantes do PV, entre eles o presidente do diretório regional do Rio, Alfredo Sirkis, resistem ao nome do ex-prefeito Cesar Maia (DEM) para concorrer ao Senado. O PV vai discutir internamente a situação envolvendo os dois palanques de Gabeira no Rio, mesmo com o apoio de Marina a sua pré-candidatura. Aliados aos tucanos, os verdes ganham mais visibilidade na campanha, com tempo maior no horário eleitoral.

Chico Alencar diz que entende a intenção de Gabeira de disputar a sucessão fluminense contra o governador Sérgio Cabral (PMDB) e o ex-governador Anthony Garotinho (PR).

- A posição dele (Gabeira) é legítima - afirmou o deputado, lembrando que o PSOL lançará candidato ao governo do Rio.

O deputado federal Otávio Leite (PSDB-RJ) minimizou:

- Não afeta a estratégia e o potencial da campanha do Gabeira. O que estamos tratando é da candidatura do Gabeira e não da Marina. São eleições isoladas na cabeça do eleitor.

Gabeira evitou a polêmica:

- Se acontecer (a saída do PSOL), a gente vai examinar. No momento, estou envolvido com a tragédia do Haiti.

Marina: "preparando a máquina para a campanha"

Marina iniciou ontem um check-up no Instituto do Coração, da Universidade de São Paulo. A bateria de exames termina hoje. Segundo sua assessoria, a senadora está apenas "preparando a máquina" para a campanha. Marina, de 51 anos, nasceu no Acre, onde sofreu contaminação por metais pesados. Ela também já contraiu malária e hepatite. Seu estado de saúde, no entanto, é "excelente", de acordo com a assessoria.

Após os exames, Marina se reuniu com os dirigentes do PV em São Paulo, para discutir o programa do partido, que deve ir ao ar dia 10, e a possibilidade da definição de um candidato da legenda para o governo de São Paulo.

Jarbas de Holanda:: O ensaio de maior esquerdização do governo e o salto alto de Lula

O anúncio no finalzinho de 2009 do Programa Nacional de Direitos Humanos e o decreto presidencial instituindo as medidas nele previstas inserem-se numa sequência de mani festações e atos indicativos de um maior grau de esquerdização do governo e de reforço do voluntarismo personalista do presidente Lula que se chocam, sobretudo o primeiro, com o
pragmatismo e o realismo político imprimidos por ele na condução da máquina administrativa, nas relações com o Congresso (após o mensalão) e no projeto para viabilizar a eleição de sua candidata Dilma Rousseff centrado na parceria com o PMDB. Tal sequencia inclui desde ações do Itamaraty, como a operação de abrigo a Zelaya na embaixada brasileira em Honduras, a recepção a Ahmadinejad em Brasília e a recente proposta de relação com os terroristas do grupo Hamas, até fatos e episódios de alcance interno, estes com maiores implicações políticas e sociais no país. Como a declaração do próprio Lula de que o PMDB deve indicar uma lista
tríplice de pré-candidatos a vice na chapa de Dilma. E, agora, o lançamento de um programa (de direitos humanos) que suscita fortes críticas de amplos segmentos da mídia, do em
presariado, da CNBB – e que divide o governo, gerando protestos dos ministros da Defesa e da Agricultura e dos comandantes militares, que o qualificam de “insultuoso, agressivo e
revanchista”.

Por trás da maior abertura do Palácio do Planalto a ações e propostas esquerdistas, bem como do desrespeito pelo presidente à autonomia da direção do PMDB, estão certamente os dados relativos aos cenários econômico, social e político, que se configuraram já desde o início do segundo semestre de 2009. Dos quais se destacam a retomada do crescimento e o horizonte de expressiva expansão do PIB em 2010 (combinada com as perspectivas que foram abertas pelo lançamento do pré-sal), de par com a continuidade do controle inflacionário, um salto na geração de empregos e grande reforço dos programas assistencialistas; o amplo reconhecimento internacional favorável da figura de Lula, decorrente sobretudo do desempenho de nossa economia mas facilitado pela identificação dele como contraponto ao radicalismo chavista e reavivado pela escolha do Rio para sede das Olimpíadas de 2016; e os efeitos disso tudo nos níveis recordes da popularidade dele – pessoal e como chefe do governo.

Com esses cenários, de um lado, o presidente passou a vincular a campanha de sua candidata – a formação da aliança e o sucesso eleitoral – basicamente à força do lulismo, a um plebiscito em torno do lulismo. Daí o uso do salto alto no ensaio de interferência numa decisão interna do comando do PMDB. De outro lado, o PT tratou de explorar tais cenários no sentido de alargamento das influências dos quadros partidários e sobretudo nas estatais, bem como nas definições de programas oficiais como o de direitos humanos, com a introdução de vários itens de agressivo conteúdo estatizante, restritivo da iniciativa privada e autoritário. Até como troca pelo acolhimento da imposição da candidatura de Dilma Rousseff e pela subordinação a ela dos interesses e projetos do partido em vários estados.

Mas a escalada de esquerdização do governo está sendo posta em xeque pela amplitude das repercussões negativas desse programa nos meios políticos, econômicos e sociais (inclusive nas áreas militares e na Igreja Católica). O presidente Lula, por avaliação própria e provavelmente de conselheiros especiais como Antonio Palocci e José Dirceu, deve estar dando-se conta de que, ademais de lesivas para as relações e a imagem do governo no conjunto da sociedade, essa escalada e as propostas esquerdistas do referido programa, se mantidas, afetarão também a campanha de sua candidata.

E os mesmos conselheiros, pelo realismo econômico de um e pela sagacidade política do outro, devem tê-lo advertido da inconveniência da proposta da lista tríplice de pré-candidatos a vice, mostrando-lhe os riscos do uso do salto alto nas negociações com a pragmática federação constituída pelo PMDB.

Jarbas de Holanda é jornalista

A força do carisma

DEU NO VALOR ECONÔMICO

Getúlio Vargas e Ademir Menezes, da seleção de futebol, seguram a taça ganha pelos brasileiros no campeonato sul-americano, em 1952

Por Carla Rodrigues, para o Valor, do Rio

A história brasileira é pontilhada por lideranças consideradas carismáticas, que vão de d. Pedro II a Jânio Quadros, passando por Getúlio Vargas e desaguando em Luiz Inácio Lula da Silva. Embora faça parte dessa grande família de políticos, "nunca na história deste país" houve um presidente como Lula. "Ele é um fenômeno único. Não se encontra na política brasileira outro líder que tenha condensado tanta popularidade em tão pouco tempo", afirma o cientista político Renato Lessa, do Iuperj, para quem a popularidade de Lula não pode ser comparada nem com a do momento áureo de Getúlio. "Lula é popular num ambiente democrático, em que todo mundo pode dizer o que quer".

Com um departamento de imprensa e propaganda, o famigerado DIP, braço da censura acoplada ao incensamento de sua figura onipresente, Vargas detinha o monopólio da comunicação com as massas. Dessa forma, dava-se no ditador a confluência do carisma e do populismo, que tão frequentemente se alimentam um ao outro - embora não necessariamente em ditaduras.

Para o sociólogo alemão Max Weber, o carisma é a qualidade pela qual alguém é colocado à parte das pessoas comuns e é tratado como se dotado de poderes ou qualidades sobrenaturais, sobre-humanas, ou, pelo menos, excepcionais. Não são traços encontrados entre pessoas quaisquer. São considerados de origem divina, ou qualificados, mais terrenamente, como exemplares. Os ungidos são tratados como líderes, completa Weber.

Esses privilegiados podem, como pôde Getúlio, exercitar seu carisma em práticas de populismo, que se define pela relação direta do líder com as massas. Há variações, mundo afora, de resultados que brotam dessa comunicação sem passagens intermediárias típicas de democracias representativas. Esse populismo mais de uma vez constituiu, como parece ter acontecido na época de Vargas ditador, uma espécie de primeiro momento de expressão política, ou propiciador dele, para os pobres de um país.

Para o cientista político Francisco Weffort, um dos fundadores do PT e ex-ministro da Cultura no governo Fernando Henrique Cardoso, carisma e liderança populista não se equivalem, nem devem ser tratados como sinônimos. "Carisma é um conceito da história religiosa, são os católicos que obedecem a quem tem carisma, como se essa pessoa representasse a palavra de Deus. Carisma não tem nada a ver com política."

Weffort acredita que não é possível comparar Lula a Getúlio, nem classificá-lo como populista. "O Lula não é um populista. E, se for, não é um populista clássico", avalia, reconhecendo no governo, porém, um traço que poderia ser considerado populista: o que ele chama de distributivismo social. Mesmo identificando essa semelhança, Weffort rejeita a classificação de populista para Lula com o argumento de que as políticas sociais que beneficiam a massa são uma característica dos sistemas democráticos. "Todos os políticos precisam dar atenção ao fato de que é a massa quem decide. E, na democracia, o político precisa encontrar um jeito de agradar à massa."

Os eleitores "deste país" (expressões do falar de carismáticos costumam popularizar-se) darão resposta, este ano, à intenção de Lula de transferir sua popularidade e fazer seu sucessor, vitória até hoje só obtida por Getúlio em 1945, quando elegeu o presidente Eurico Dutra, um não carismático absoluto.

"Transferência de voto não é uma coisa tão simples, mas pode ser que tudo que aprendemos sobre isso não funcione nesse caso porque é o Lula", avalia a diretora executiva do Ibope Inteligência, Márcia Cavallari. Ela explica que, por tudo que se conhece, nas pesquisas de opinião, sobre transferência de votos, Lula não alcançaria a mesma façanha de Getúlio em 1945. Mas, pelas peculiaridades do presidente, essa é uma hipótese a ser considerada. Márcia só está certa de que a transferência não é automática e costuma acontecer somente com uma parte dos votos que supostamente iriam para o candidato original.

Lessa também acredita na possibilidade de Lula transformar um tanto de seu prestígio em votos para Dilma Rousseff. "Ele pode transferir uma parte dessa popularidade e levá-la para o segundo turno." Para Lessa, no entanto, é muito difícil pensar em continuidade política quando se troca o governante. "As escolhas são muito ligadas às pessoas."

Márcia observa que, em muitos lugares e épocas, "a criatura rompeu com o criador" - ou seja, depois de eleito, o político que deveria representar continuidade desligou-se de seu mentor e ignorou os compromissos assumidos na campanha. "O eleitor aprende com isso."

Uma das principais razões para que seja difícil imaginar o comportamento do eleitor está no fato de que, desde a primeira eleição redemocratizada, em 1989, Lula sempre foi candidato. Para o cientista político Jairo Nicolau, colega de Lessa no Iuperj, a singularidade da não participação de Lula numa eleição ainda não pode ser dimensionada. "Dilma nunca passou por uma eleição, não se pode prever o que vai acontecer com essa proposta de continuidade sem o político que a representa. Como tudo na política brasileira é muito em torno da pessoa, o eleitor não acredita em continuidade sem o político."

Além do mais, nem Dilma Rousseff, nem José Serra, os dois principais nomes para a sucessão de Lula, se encaixam no perfil de liderança carismática capaz de emocionar o eleitorado. Lessa acha ótimo. "São alternativas mais técnicas, que vão substituir o voto do coração. Ai do país que precisa de grandes líderes para ser governado."

Mas há também quem acredite que a candidatura de Marina Silva pode decolar justamente nas asas da preferência do eleitorado por políticos que aliem suas plataformas políticas a uma trajetória pessoal singular. Márcia lembra que Marina tem uma história de vida muito parecida com a de Lula, mas afirma que, além do carisma, é preciso ter condições concretas de disputar, como tempo de TV, estrutura partidária e de campanha. "Ela pode ser o Lula daqui a três eleições."

Para a historiadora Ângela Castro Gomes, da FGV, que reconhece em Marina uma liderança carismática, "engana-se quem pensa que o carisma vem apenas da grande capacidade de oratória. Carisma tem a ver com a trajetória de vida do político e com a forma como essa trajetória é apresentada. É uma colagem entre quem é o candidato com o seu programa de governo".

Ser carismático não é condição para se ter sucesso na política. Está aí o exemplo da eleição do prefeito Gilberto Kassab, em São Paulo, que era vice de Serra quando o atual governador deixou a prefeitura para candidatar-se ao Palácio dos Bandeirantes. "É um diferencial, uma característica a mais, um atributo natural que já foi considerado muito importante, mas é só mais um. Um político que não seja carismático não está condenado ao fracasso", avalia Nicolau.

O historiador Carlos Guilherme Mota associa liderança política carismática a atraso. "Líderes messiânicos e personalidades fascistas ou totalitárias começam com o uso de carisma, e logo depois encantam-se consigo mesmas e passam ao abuso de seus poderes, mas sempre pressupondo a ignorância dos outros. No Brasil, temos uma hemorragia de lideranças carismáticas no momento. Sinal de pobreza, não só econômico-financeira, mas mental e cultural."

Mota não está simplesmente engrossando o coro dos descontentes com a política brasileira. Ele acredita que há uma nação nova surgindo em salas de aula, em laboratórios, em congressos de profissionais e até mesmo entre o empresariado. "O Brasil, seus partidos, sua cultura política ficaram velhos e ninguém aguenta mais essa República corrupta, rançosa, datada. Por isso, vem despontando uma nova sociedade civil, que não engole tudo o que está aí. E os jovens estão buscando novas utopias, pois o populismo liquidou com as antigas utopias."

O populismo a que Mota se refere não é um fenômeno exclusivo do Brasil. Na América Latina, o populismo se caracteriza, segundo Francisco Weffort - autor do clássico "O Populismo na Política Brasileira" - , como um fenômeno que começa nos anos 1930, com a urbanização, e se aprofunda nos anos 1940/1950, com a transição entre uma sociedade rural e patriarcal para uma sociedade urbana e de massas. Também define o populismo um tipo de política praticada por líderes que são dissidência do sistema tradicional. Para Weffort, o presidente Getúlio Vargas encarna o símbolo máximo de político populista na história brasileira justamente por ter governado no período marcado por aquela transição e por ter se tornado um líder de massas tendo como origem a velha oligarquia rural do Rio Grande do Sul.

O tipo de líder do qual Getúlio é o principal exemplo se apresenta como benfeitor desse eleitorado pobre emergente que está sendo incorporado como massa nas grandes cidades (não por outra razão ele era chamado de "pai dos pobres") e tem grande capacidade de intervir na economia. Weffort lembra que Getúlio criou a Petrobras, a Vale do Rio Doce e toda a siderurgia nacional no rastro da crise do Estado liberal, instituindo o modelo de um Estado intervencionista.

Na sequência e seguindo a mesma linha, Juscelino Kubitschek criou a indústria automobilística.
Hoje, com a economia concentrada no setor financeiro, um presidente não tem a mesma capacidade de intervenção. "O máximo que o Lula conseguiu fazer para intervir na indústria foi reduzir o IPI", entende Weffort.

Cada um a seu modo, Renato Lessa, Jairo Nicolau e Ângela de Castro Gomes são críticos do uso do termo populismo para pensar ou explicar o que acontece na política brasileira. Lessa lembra que, como tudo que inspira presença das massas populares, a palavra populista é uma designação acusatória. "É uma ideia imprecisa, que aponta para patologias políticas."

Embora o termo faça parte do vocabulário político de uso comum, Ângela questiona sua validade.
"A palavra ganhou um sentido negativo e acusatório, e sempre é usada com a intenção de dar a entender que o político está fazendo falsas promessas ou tentando enganar o eleitor" - supostamente incapaz, por sua vez, de distinguir o bom do mau político.

Jairo Nicolau segue a mesma linha de Ângela e lembra que, no senso comum, a palavra populismo é quase uma peça de acusação. "O termo está contaminado, não ajuda muito a pensar sobre a política brasileira."

Carlos Guilherme Mota identifica em Pedro II o primeiro líder carismático, e também o nome inaugural de uma linhagem de populistas que passaria por Luiz Carlos Prestes, teria seu auge em Getúlio - "um Maquiavel de bombachas que driblou direitas e esquerdas" -, incluiria Leonel Brizola e desaguaria em Lula. "Ao contrário de Brizola, Lula conseguiu mobilizar o proletariado mais moderno do ABC, mas se perdeu na conciliação com as elites mais retrógradas."

No Brasil dos últimos 16 anos, a receita para agradar à massa tem sido mais ou menos a mesma, afirma Lessa, apontando para as semelhanças entre o governo de Fernando Henrique Cardoso e o de Lula, ambos apoiados em políticas sociais, economia de mercado, crescimento econômico e fortalecimento democrático. "Há uma convergência para o centro." Para Lessa, uma das diferenças estaria no fato de que, embora FHC não seja totalmente desprovido de carisma, Lula opera no vazio institucional de um parlamento desgastado e num vácuo de poder que é preenchido pelo presidente.

"No Brasil, quando a economia vai bem, o líder vai bem. O presidente tem poderes imperiais porque o governo federal é a maior reserva de recursos públicos do país", calcula Weffort. A concentração de recursos que dependem da caneta do presidente da República e a convergência para o centro explicariam, por exemplo, a importância do PMDB na sucessão presidencial.

Os pesquisadores Cesar Romero, Dora Rodrigues Hees, Violette Brustlein e Philippe Waniez trabalham com a análise histórica e geográfica dos dados eleitorais para mostrar que, desde a vitória de Fernando Collor, em 1989, vence a eleição presidencial o candidato que consegue reunir três requisitos: fechar alianças partidárias nos grotões, municípios de até 100 mil habitantes nos quais estão concentrados 40% do eleitorado; conquistar o voto dos eleitores evangélicos, majoritários nas periferias metropolitanas onde a Igreja Católica tem perdido fiéis desde a década de 1980; e atrair, por estratégias de marketing bem-sucedidas, os votos da classe média urbana, escolarizada, residente nos grandes centros, onde a tendência é a do voto de opinião. E se houver carisma, claro, provavelmente tudo ficará mais fácil.

A Constituição Federal e o direito à informação

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

José Carlos Garcia de Freitas e Talita Tatiana Dias Rampin

A Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em 5 de outubro de 1988, pluridimensionalizou o nosso Estado Democrático de Direito. Mais ainda, ampliou o exercício de direitos, a fim de proporcionar a efetiva consagração do processo de cidadania. Nunca antes, em toda a história brasileira, a preocupação com os direitos fundamentais foi tão marcante e acentuada, mesmo porque o Brasil havia superado um período de exceção extremamente dramático, da ditadura militar, em decorrência do cerceamento das liberdades públicas.

Foi em consideração a uma conquista democrática, inspirada no século das luzes, que o sagrado direito à informação passou a ser uma das exigências fundamentais para o mais amplo exercício das liberdades públicas. Em qualquer circunstância, o sagrado direito que o cidadão tem à informação não pode ser cerceado de nenhuma forma, mais ainda por uma decisão do Poder Judiciário, como vem ocorrendo em relação ao jornal O Estado de S. Paulo.

O ato de censura representa um atentado à dignidade do Estado Democrático de Direito, com o gravame de ter tido origem no Judiciário, que tem a responsabilidade de garantir o direito fundamental à liberdade de informação, estimulando, assim, a prevalência de uma "kakistocracia" (governo dos piores, em todos os sentidos da banalização das instituições).

Não é excessivo lembrar o consagrado em nossa Constituição Federal, no artigo 5º: "Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato; (...) IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença; (...) XIV - é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional."

A liberdade de exteriorização do pensamento é um dos fundamentos mais sagrados e de maior relevância da dignidade do espírito de uma verdadeira democracia. A liberdade de imprensa é a garantia de sustentação da vida das grandes democracias. Jamais o arbítrio pode pretender o cerceamento do sagrado direito que um povo tem à informação. Ninguém melhor do que o nosso maior jurisconsulto, Ruy Barbosa, para defender o direito à informação: "A imprensa é a vista da Nação. Por ela é que a Nação acompanha o que lhe passa ao perto e ao longe, enxerga o que lhe malfazem, devassa o que lhe ocultam e tramam, colhe o que lhe sonegam, ou roubam, percebe onde lhe alvejam, ou nodoam, mede o que lhe cerceiam, ou destroem, vela pelo que lhe interessa, e se acautela do que a ameaça."

A liberdade de pensamento foi discutida claramente nas ágoras atenienses e nos tribunais romanos, considerando a necessidade de formação do código cultural de cada grupo social. Sem liberdade de expressão, as instituições não conseguem cumprir a sua destinação histórica. Com isso, a tiranização de um povo pelo autoritarismo é inevitável. As instituições enfraquecem e, consequentemente, podem morrer, deixando o povo na orfandade. Atualmente, na América Latina, há uma verdadeira tendência em tumular a liberdade de expressão de pensamento, principalmente, através da imprensa.

O Estado sempre desenvolveu um jornalismo sério, profundamente comprometido com os valores éticos fundamentais. É, reconhecidamente, um defensor perpétuo das liberdades públicas, merecendo sempre o respeito das instituições democráticas mundiais. Durante a ditadura, também houve censura. À época, eram publicados trechos da obra de Luís de Camões, Os Lusíadas, indicando noticiário censurado. O Estado nunca esteve de joelhos, porém, sempre de pé, amparado pela sua dignidade, conquistada pelo seu jornalismo ético. Nunca colocou a sua trajetória e a sua tradição ao sabor da riqueza corrompida. A sua riqueza sempre foi informar com dignidade e com o compromisso com a verdade, mesmo incomodando os poderosos e os regimes de exceção.

Em decorrência de procedimento judicial, apresentado pelo empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney, o desembargador Dácio Vieira, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, proibiu o Estado de publicar reportagens da Operação Boi Barrica, da Polícia Federal. Apesar de toda a tramitação processual, não houve a decretação de nulidade da decisão impondo censura ao jornal, caracterizando, assim, uma verdadeira afronta ao bom senso, porque, juridicamente, entende-se que qualquer ato processual, praticado em um tribunal que se julga incompetente para julgar, é nulo de pleno direito.

Finalmente, o Estado entrou no Supremo Tribunal Federal com um recurso, denominado reclamação, requerendo a imediata suspensão da censura imposta. Discutindo aspectos técnicos, perfeitamente sanáveis, mediante previsão processual, o STF não discutiu o mérito e rejeitou o procedimento processual, permanecendo, então, a censura. Entrementes, Fernando Sarney apresentou pedido de desistência do procedimento processual, em 18 de dezembro, véspera do recesso forense. Agora, o Estadão será intimado a decidir se concorda com a extinção ou então se prefere que a Justiça aprecie o mérito.

Particularmente, entende-se que o ideal seria o jornal, depois de intimado, ao se manifestar, processualmente, não concordar com a extinção, preferindo que a Justiça aprecie o mérito, mais precisamente, considerando a previsão contida no inciso 25 do artigo 5º da Constituição Federal: "A lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito."

Se o Estado concordar com a extinção, sem o esperado julgamento do mérito, o Brasil e o mundo estarão perdendo a oportunidade de saber o que pensa a Justiça brasileira a respeito da censura ao direito à informação e à liberdade de imprensa. Há, pois, necessidade de uma decisão jurídica, não política ou corporativista. O Estado precisa enfrentar esse desafio com a dignidade que sempre o caracterizou. É uma exigência da própria democracia.

José Carlos Garcia de Freitas, doutor em Filosofia e Teoria Geral do Direito e professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Franca (SP) - Talita Tatiana Dias Rampin, advogada e mestranda em direito pela Unesp, em Franca (SP)

José Serra ::Uma mulher e tanto

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

"É um grande prazer recebê-los aqui, senhor Bispo, dra. Zilda. Já li a pauta que sugeriram para este encontro e que inclui várias questões pendentes entre o ministério e a Pastoral da Criança. Mas, antes de ouvi-los, eu queria perguntar: a senhora estaria disposta, seria possível duplicar o trabalho que a Pastoral vem fazendo com o apoio do Ministério da Saúde? Nós duplicaríamos imediatamente os recursos, bastaria apresentarem um plano de expansão. Acho a ação da Pastoral extraordinária e fundamental para derrubarmos ainda mais a mortalidade infantil no Brasil."

Foi mais ou menos isso o que eu disse aos dois visitantes, numa tarde de abril de 1998, enquanto eles ainda se acomodavam nas poltronas da minha sala, no Ministério da Saúde. Não disfarçaram sua surpresa, esqueceram seus pleitos e aceitaram o desafio na hora. Eu havia assumido o cargo fazia poucos dias e tinha atendido rapidamente a um pedido de audiência do bispo d. Aloysio Penna, responsável pela área da criança na CNBB, e da dra. Zilda Arns, coordenadora da Pastoral da Criança.

Dali em diante, Zilda Arns tornou-se uma parceira de todos os momentos. Recorri a ela muitas vezes, como no caso do Projeto de Emenda Constitucional nº 30, em 2000/01, que definia recursos orçamentários mínimos para a Saúde, nas três esferas de governo. A tramitação no Congresso era difícil, principalmente no Senado. Por isso, pedi ajuda a ela e a seu irmão, d. Paulo Evaristo. E eles acabaram sendo fundamentais na mobilização da opinião pública em favor da aprovação da emenda.

Zilda Arns tinha formação científica e era cristã fervorosa. Com sua crença, tornou mais humana a sua ciência; com a sua ciência, deu impressionante dimensão prática à sua crença. Sempre evidenciou a importância de unir o Brasil num propósito, em vez de dividi-lo. De potencializar o conhecimento com a fé, e a fé com o conhecimento.

Ela era infinitamente paciente. Uma mulher serena nos gestos, no olhar, no sorriso fácil, na delicadeza com que tratava todos, em qualquer circunstância, e na tolerância em relação às ideias das quais divergia e às pessoas que não admirava. Ao mesmo tempo, era disciplinada, organizada e sistemática no trabalho, docemente insistente na defesa de suas crenças e propostas.

Certa vez, quando intensificamos, no Ministério da Saúde, a distribuição de anticoncepcionais e preservativos, a dra. Zilda veio me ver. Sem fazer menção à nossa campanha, mostrou-me uma espécie de terço que, à primeira vista, não identifiquei. Não percebi do que se tratava. Finalmente, depois de alguns rodeios, ela me explicou: era um expediente de custo mínimo, para as mulheres lembrarem seus dias de fertilidade e controlarem suas relações sexuais, evitando gravidez indesejada. Surpreso, tentei argumentar:

- Mas, dona Zilda, o pessoal aqui do ministério não vai aceitar nunca que esse terço seja utilizado em vez de anticoncepcionais.

- Eu sei disso. Mas nada impede que este método seja utilizado como complemento, inclusive com mulheres que não podem tomar anticoncepcionais. Aí as pessoas que são contra vão se convencer, pois os resultados serão muito bons.

Essa era a Zilda Arns. Não brigava, procurava persuadir. A mesma dona Zilda que salvou a vida de centenas de milhares de crianças. Tradicionalmente, o combate à mortalidade infantil no Brasil, do ângulo correto do governo, requer três linhas de ação: expansão das obras de saneamento básico, atenção às gestantes e melhora do atendimento no parto, incluindo a fase pré-natal. No ministério, ratificamos essas linhas, reforçando muito cada um dos seus elos e estendendo-as ao pós-natal, mediante uma expansão considerável das UTIs especializadas por todo o País.

O trabalho da Pastoral da Criança, contudo, era e é de outra natureza, complementar, educativa e psicológica, enfatizando a atenção à família, as condições de higiene e nutrição, acompanhando o desenvolvimento das crianças, em cada casa, em cada bairro. É um trabalho feito por voluntários (hoje, mais de 150 mil) e focalizado nas regiões e municípios mais pobres (cerca de 3,4 mil). Até certo ponto, acaba sendo, também, uma "porta de entrada" dos mais carentes nas redes públicas de Saúde.

Dona Zilda fazia muito mais com muito menos. Perdoem-me o economicismo: a "produtividade" dessas ações era enorme, em termos de queda da mortalidade infantil. Certa vez, estimei que, para obter os resultados do trabalho comandado por ela, uma ação equivalente de governo custaria de oito a dez vezes mais.

O governo já havia percebido a necessidade de atuar junto às famílias. Traduziu-a nos programas de Saúde da Família e de agentes comunitários de Saúde, criados na primeira metade dos anos noventa, mas ainda incipientes, no caso do PSF. Por isso mesmo, multiplicamos por dez, em poucos anos, o número de equipes, de forma mais concentrada nas áreas mais carentes do País. Porém, as ações da Pastoral, integrais, envolventes e próximas das pessoas, mais do que necessárias, continuaram insubstituíveis.

Em 2001, por ideia de um amigo que a admirava, deflagrei uma campanha para a concessão do Prêmio Nobel da Paz à dra. Zilda Arns. Naquele momento, ficou claro o reconhecimento que seu trabalho e seu exemplo mereciam, não só no Brasil como em todo o mundo, pela extensão e representatividade dos apoios que sua indicação recebeu.

Aliás, ela sempre deu prioridade à transmissão e à réplica da experiência brasileira da Pastoral da Criança nos países pobres da América Latina, da Ásia e da África. Foi nessa missão que ela estava no Haiti, o país mais pobre das Américas. E foi dali, dentro de uma Igreja onde pregava, que nos deixou, sob os escombros da tragédia que matou também jovens militares brasileiros, num incrível capricho do destino.

Morreu Dona Zilda. Viva Dona Zilda, na sua obra, no seu exemplo e nos milhares e milhares de crianças cujas vidas ajudou a salvar e a construir.

*José Serra é governador do Estado de São Paulo e ex-ministro da Saúde

Itamar Franco ::Zilda Arns, a imprescindível

DEU NA TRIBUNA DE MINAS

Ao ter a notícia do falecimento da Dra. Zilda, logo me veio à mente o trecho do poema de Bertold Brecht que relembro como forma de homenagem e, sobretudo, de agradecimento, tanto como cidadão brasileiro quanto como ex-presidente da República.

“Há homens que lutam um dia e são bons/ há outros que lutam muitos dias e são muito bons/ há homens que lutam muitos anos e são melhores/ mas há os que lutam toda a vida, esses são os imprescindíveis.”

Tive a honra e a felicidade de conviver com Dra. Zilda e receber dela contribuição fundamental na política de combate à mortalidade infantil no meu Governo.

Ela lutou a vida inteira e de modo inteiro pela causa que abraçou junto às populações excluídas, dos rincões mais distantes, especialmente mulheres e crianças.

Salvou vidas, milhões de vidas, como médica e educadora simultaneamente.

Liderança inconfundível, sempre a serviço do bem, suprapartidária, combativa, independente e de muita fé, contagiante fé.

Revolucionou tanto a nutrição e a pediatria, dando visibilidade a suas crenças e práticas através de pioneiras parcerias.

Meu ministro Henrique Santillo a convidou para exercer o cargo de coordenadora geral da Atenção Materno-Infantil no Ministério da Saúde, nomeando-a em 2 de dezembro de 1993. Trabalhou com tamanho afinco e competência que contribuiu para redirecionar a política de saúde para um novo modelo de saúde, integrando ações do Governo e da sociedade.

Argumentos sólidos lembram Dra. Zilda no Palácio do Planalto em reunião do Conselho Nacional de Segurança Alimentar ao lado de Dom Mauro Morelli, vários ministros e tantos outros colaboradores mostrando os números colhidos pelo Sistema de Informações da Pastoral da CNBB.

Ela demonstrou novos dados no que diz respeito aos índices de mortalidade infantil no país, e nós passamos a considerar as suas informações, para orientar nossas ações na área social, a partir dali.

Dra. Zilda, imortal brasileira, cidadã do mundo, exemplo de cidadania, solidariedade, maior ícone da ajuda humanitária internacional dos nossos tempos.

Ex-presidente da República

CHILE: Empate técnico às vésperas das eleições presidenciais

DEU EM O GLOBO

Candidato da oposição no Chile, Sebastián Piñera tem apenas 1,8 ponto percentual de vantagem em relação a Frei

Cristina Azevedo

SANTIAGO. A campanha pelo segundo turno das eleições presidenciais chilenas terminou ontem ainda mais incerta do que começou: às vésperas da votação deste domingo, Eduardo Frei, o candidato do partido da presidente Michelle Bachelet, conseguiu encurtar uma diferença que era de dois dígitos e agora está apenas a 1,8 ponto percentual do opositor Sebastián Piñera, em situação de empate técnico. Frei afirma que vai vencer "por um nariz" a eleição mais disputada dos últimos 20 anos, mas seu partido se prepara para dois cenários distintos.

A pesquisa do instituto Mori, dando 50,9% das intenções de voto ao empresário Piñera, da Coalizão para a Mudança, de direita, e 49,1% para Frei, injetou um novo ânimo, já na reta final, para a Concertação. Ao mesmo tempo, líderes dos quatro partidos que compõem a coalizão (PS, PDC, PPD e PRSD) se reuniram para definir que discurso adotar em caso de derrota. A ordem é evitar a troca de acusações e uma debandada geral que fragmente a coalizão que ocupa o poder desde a redemocratização do Chile, há 20 anos.

- Creio que essa diferença pode diminuir um pouco mais. A pesquisa é de antes do debate presidencial, na segunda-feira, e Michelle Bachelet fez uma declaração muito positiva, manifestando seu voto a Frei, como não havia feito até agora. Mas não creio que ele vá ganhar - disse o analista político Carlos Huneeus, diretor-executivo do conceituado Centro de Estudos da Realidade Contemporânea (Cerc).

A pesquisa veio numa semana intensa, em que o vento finalmente parecia soprar a favor do ex-presidente Frei, que tenta voltar ao poder. Piñera viu nas últimas semanas boa parte dos seus 14 pontos de vantagem no primeiro turno virarem fumaça. Na semana passada, a diferença já era de apenas cinco pontos percentuais. Ele não comentou a pesquisa, mas a Coalizão pela Mudança (que reúne a Renovação Nacional e a UDI) fez uma outra leitura e confirma a sua vitória.

Vitória deve ser por pouco mais de cem mil votos

Essa semana, os sinais se intensificaram. Eles vieram no apoio - tímido - do terceiro colocado no primeiro turno, Marco Enríquez-Ominami, numa declaração em que sequer mencionou o nome de Frei, dizendo que votará "naquele que obteve 29%" na primeira votação; e na declaração de Bachelet que, ontem, pela primeira vez, disse com todas as letras que votou e votará em Frei.
Pode parecer redundante, mas o Chile é um país de matizes, em que gestos comedidos podem ter significado maior do que se espera. Frei não dispensou o apoio, e o agradeceu com humildade.

Humildade marcou também um apelo de Piñera no último dia da campanha, em Valparaíso. O bilionário, dono da Lan Airlines, que por toda campanha manteve postura de vencedor, fez um pedido aos chilenos.

- Peço-lhes uma oportunidade para demonstrar que podemos ter um governo que trabalha de forma honesta e sem descanso - disse, antes de seguir para encerrar a campanha em Concepción, no sul.

De certo, só parece haver a afirmação de que esta já é a eleição mais disputada dos últimos anos.
Em 2000, Ricardo Lagos venceu Joaquin Lavin por 2,6 pontos de diferença - cerca de 300 mil votos. Se os dados do instituto Mori forem confirmado pelas urnas, Piñera vencerá Frei por pouco mais de cem mil votos.

Chile deve ter eleição mais apertada do pós-Pinochet

DEU NO VALOR ECONÔMICO

Rodrigo Uchoa, de Santiago

O Chile vai às urnas neste domingo no segundo turno de uma das eleições presidenciais que promete ser a mais apertada da história recente. O candidato governista, o democrata-cristão Eduardo Frei, 67, chegou a um empate técnico com o até agora favorito, o bilionário Sebastián Piñera, 60.

Nenhum dos dois candidatos promete uma mudança significativa nos rumos da economia do país. O direitista Piñera diz que vai introduzir reformas para aumentar a competitividade das empresas e quer vender parte da Codelco, a estatal chilena de cobre. Frei é contra a privatização mesmo que minoritária, o que lhe vale simpatia da esquerda e dos sindicatos. O governista diz ainda que sua eleição serviria para garantir a continuidade dos avanços da Concertación, coalizão de centro-esquerda que governa o Chile desde 1990.

Entretanto há um certo "desagrado", um mal-estar no eleitorado chileno. Segundo analistas, muito disso se deve a um processo eleitoral que, apesar de ter proporcionado estabilidade nos últimos 20 anos, "engessou" o sistema político, deu poder excessivos às cúpulas dos partidos e alijou lideranças independentes emergentes.

"Há uma "camisa-de-força" no sistema político que cria obstáculos democráticos", afirma Eugenio Guzmán, sociólogo da Universidade do Chile. "Há um desencanto com a democracia chilena."

Outros vão mais longe e falam de crise de representatividade.

Isso tudo se dá porque o sistema eleitoral chileno, na prática, obriga os partidos a se reunirem em coalizões, pois só assim eles têm chances de ganhar cadeiras no Congresso, eleger representantes municipais e, por fim, chegar ao jogo mais pesado da política.

Chamado de binominal, ele divide o país em distritos, cada um com direito a duas cadeiras no Congresso. Cada coalizão apresenta várias listas com dois candidatos. O eleitor vota na dupla que preferir, mas a soma de todos os votos para a coalizão interferirá na definição do vencedor. Para que uma coalizão ganhe as duas cadeiras, é necessário que receba mais de dois terços dos votos; se a coalizão menos votada obtiver um terço, a mais votada ganha uma cadeira e a menos votada, a outra.

Se um candidato obtém 24% dos votos e seu companheiro de chapa só 1%, ele pode perder a cadeira para um candidato que obteve 14%, cujo companheiro obteve 12%, por exemplo. Isso se dá porque a soma dos votos da primeira lista foi 25% e a soma da segunda, 26%.

Chapas independentes podem se apresentar, mas o sistema torna virtualmente impossível que elas elejam algum de seus integrantes.

Isso já vem causando uma reação do eleitorado. A porcentagem de eleitores inscritos em relação ao total de cidadãos em idade de votar vem caindo paulatinamente desde a redemocratização. Se em fins dos anos 80, essa porcentagem chegou a 86%, atualmente ela não passa de 70%. O eleitor que não se inscrever não é obrigado a votar

E isso afeta os partidos mais identificados com o sistema. Um exemplo é o Partido Democrata Cristão (PDC), de Eduardo Frei. O PDC vem sentindo um baque significativo de perda de votos.
Apesar de ainda ser preponderante na Concertación, perdeu muito de seu cacife eleitoral: de 25% do eleitorado, no início da década de 90, para cerca de 15% após 20 anos de poder dividido com os socialistas.

Para Carolina Segovia, socióloga da Pontifícia Universidade Católica do Chile e pesquisadora do Centro de Estudos Políticos, "há uma avaliação ruim [pelo eleitor] da atividade política, de seus principais atores e até mesmo da democracia, mas isso se constitui mais num problema do que numa crise".

Isso ajuda a explicar por que a presidente Michelle Bachelet não consegue transferir sua grande aprovação popular (mais de 80%) para o candidato de sua coalizão.

"Os eleitores veem Bachelet como líder, um indivíduo de grande capacidade, e não como chefe de uma máquina política impessoal. Com Frei não é a mesma coisa", disse ao Valor um político da Concertación que pediu para não ser identificado. "Frei pode até ser eleito, por uma série de fatores. Mas, nesse caso, deverá liderar a coalizão mais fragmentada da história recente do Chile. Duvido que isso fará bem à governabilidade."

Miriam Leitão:: O câmbio do PSDB

DEU EM O GLOBO

O senador Sérgio Guerra, presidente do PSDB, disse que o partido não pretende, se for eleito, mudar metas de inflação, nem câmbio flutuante, nem autonomia do Banco Central. Isso parece a você o oposto do que ele disse à "Veja"? Também achei. Ele garante que os fundamentos da política econômica serão os mesmos, mas os pesos serão diferentes. Entendeu? Nem eu.

O que o senador me disse, quando liguei para entender melhor o que ele enunciara na entrevista da revista, foi o seguinte:

- As metas de inflação serão mantidas porque têm tido um bom resultado. O câmbio permanecerá sendo flutuante. O grande instrumento de mudança será o controle dos gastos públicos. Vamos cortar gastos de custeio e aumentar os investimentos, mudando o papel do Estado.

Na revista "Veja", quando o repórter Diego Escosteguy perguntou se haveria mudança na política econômica caso eles fossem eleitos, o mesmo senador respondeu: "Sem dúvida nenhuma. Iremos mexer nas taxas de juros, no câmbio e nas metas de inflação. Essas variáveis continuarão a reger nossa economia, mas terão pesos diferentes."

Exceto o fato de que elas terão pesos diferentes, a resposta que ele me deu tem um peso bem diferente da que deu à "Veja".

Explicação de Sérgio Guerra quando cobrei a contradição:

- Dei uma entrevista muito maior do que essa, como é normal na revista. Isso é parte do que eu disse, mas não tudo. Não disse que se vai mexer nas metas de inflação.

Quis saber então como é que eles vão "mexer com câmbio e com os juros". Qual será a nova política cambial e monetária que vai substituir a atual?

- Vamos atuar fortemente nos gastos públicos, vamos reorganizar o Estado, rever prioridades. Os juros são bastante altos. O mercado continuará tendo um papel, mas vamos trabalhar para que os juros caiam.

Perguntei se esse mexer com os juros significaria intervir nas decisões hoje tomadas de forma autônoma pelo Banco Central:

- Não vamos intervir, o Banco Central terá independência.

Então quer dizer que vocês vão propor a independência do Banco Central?

- Não. Isso não foi discutido dentro do partido.

Então ficará tudo como é atualmente, com o BC tendo autonomia?

- Sim, o BC continuará tendo autonomia, mas trabalharemos para que os juros caiam porque eles são altíssimos no Brasil.

Argumentei que os juros são altos, mas caíram muito nos últimos anos, por decisões do próprio BC.

Os juros vão cair, segundo Sérgio Guerra, por força desse ajuste fiscal.

- Vamos fazer um forte ajuste fiscal - disse.
De fato, essa é a forma pela qual se abre espaço para a queda dos juros, mas nada é feito de uma hora para a outra, e na revista ele tinha dito: "Se ganharmos, agiremos rápida e objetivamente."

Na conversa comigo, ele falou de refazer o planejamento do governo, mudar a forma de gastar. Nada que tenha resultado assim tão imediato.

O senador me disse, mais de uma vez, que não será abandonada a flutuação do câmbio. Mas falou em mudar o câmbio.

- O câmbio será mais apreciado. É claro que não dá mais para conviver com estas taxas de câmbio. Os níveis são evidentemente prejudiciais às exportações brasileiras - disse.

O interesse em tudo o que ele disse é óbvio: ele é o presidente do maior partido de oposição e que está na frente nas pesquisas de intenção de votos.

Sem intervir no câmbio, a única forma de apreciar a taxa é derrubar os juros. E a única forma de derrubar os juros é cortando os gastos públicos, reduzindo demanda agregada para neutralizar possíveis pressões inflacionárias que coloquem as metas de inflação em risco.

Foi esse o edifício montado pelo próprio PSDB depois da desvalorização cambial de 1999. Na política de metas de inflação, o BC tem que ter autonomia para elevar os juros caso a inflação saia da trajetória estabelecida.

O problema é que isso sempre causa atritos com a área política. Em qualquer governo. O dólar baixo é curioso porque traz efeitos diferentes. Por um lado, reduz a inflação e aumenta a capacidade de compra dos salários. Desses efeitos, todos os governantes gostam, mas nunca atribuem ao câmbio. Por outro, reduz a competitividade das exportações e incentiva importações. Isso, todos condenam. E nesse caso também há uma complicação a mais: muitas vezes quem exporta também importa e isso acaba neutralizando um pouco suas perdas. A confusão é que nenhum governo consegue apreciar o câmbio quando quer, a menos que mude a política de flutuação cambial, o que tem, como aprendemos, vários perigos.

A política econômica em seus fundamentos principais foi uma montagem do governo do PSDB. Ela foi mantida pelo governo do PT. Durante a campanha, como todos sabem, o então candidato Lula teve que divulgar uma "Carta aos Brasileiros", mudando as bases das políticas que eles vinham defendendo por anos. Se continuar falando em mudanças na política econômica sem explicar direito, o PSDB vai acabar tendo que fazer também a sua "Carta aos Brasileiros".

Luiz Carlos Mendonça de Barros :: A China muda de terapia


DEU NA FOLHA DE S. PAULO

É a primeira grande economia que inicia um movimento de redução dos estímulos monetários pós-crise

O BANCO CENTRAL da China surpreendeu o mercado financeiro ao dar dois passos seguidos na direção de um aperto nas condições monetárias da economia. Como é o padrão chinês, são medidas graduais, definidas unilateralmente pelo governo, mas que têm um objetivo claro a ser perseguido. No momento atual, o sinal dado é o de que a economia já se recuperou de forma sólida e a ameaça de um superaquecimento no futuro já é considerável.

Para um governo cauteloso em seus movimentos, é uma prova de que já há mais confiança nos meios dirigentes de Pequim.

Sabe-se hoje que o governo chinês tomou um grande susto com o agravamento da crise econômica mundial depois de setembro de 2008. A economia caiu em um verdadeiro precipício, principalmente nos setores voltados para a exportação de bens industriais, o que levou a demissões em massa no setor privado da economia.

O colapso do comércio internacional mostrou de forma clara a dependência do modelo chinês em relação ao consumo no mundo desenvolvido. Para um país que procura construir uma posição geopolítica de grande potência, essa fragilidade foi assustadora. Por outro lado, com seu equilíbrio social vinculado ao sucesso na absorção de centenas de milhões de chineses na chamada economia de mercado, essas flutuações cíclicas de grandes proporções podem ser altamente perigosas.

O governo chinês sabe que, para ter sucesso em sua estratégia de construir uma grande potência, será necessário mais de uma década de crescimento continuado, sem grandes flutuações. Por isso, a tomada de consciência da dependência chinesa em relação aos ciclos das economias desenvolvidas fez as lideranças colocarem as barbas de molho.

Analistas que acompanham o governo chinês de forma mais sistemática são unânimes em reconhecer o susto tomado e prever mudanças profundas na gestão da economia no futuro. Para Stephen Roach, do banco Morgan Stanley, o instrumento efetivo para isso será o 12º Plano Quinquenal, que cobrirá o período de 2011 a 2016. Segundo esse analista experiente em China, o governo vai seguir a recomendação de vários economistas, aumentando a participação do consumo dos chineses na composição do PIB (Produto Interno Bruto).

Com isso, pode reduzir a importância das exportações industriais para o Primeiro Mundo e moderar o impacto das flutuações cíclicas das economias mais maduras sobre a velocidade do crescimento chinês.

O consumo das famílias representa hoje apenas 35% da formação do PIB e precisaria ser de, pelo menos, 45% ou 50% para acomodar uma participação menor das exportações. Também são conhecidas as principais medidas que deverão ser tomadas para atingir esse objetivo.

Entre elas, a criação de uma rede de proteção social -que leve o chinês médio a reduzir sua taxa de poupança- e a expansão do setor de serviços seriam as mais importantes.

Mas o movimento recente do Banco Central não tem nada a ver com essa mudança de rumo. Ele está associado a uma correção tática na medida em que a economia mostra sinais de que voltou a uma dinâmica de crescimento sustentado.

É a primeira grande economia que inicia um movimento sistemático de redução dos estímulos monetários -e certamente fiscais- colocados em prática nos dias negros que se seguiram à quebra do banco Lehman Brothers.

O diretor Sílvio Tendler prepara documentário sobre Tancredo Neves

DEU NO JORNAL DO BRASIL / Caderno B

Bernardo Costa

RIO - Autor de documentários como Os anos JK (1980), e Jango (1984), Sílvio Tendler vê com frequência sua arte entrelaçar-se com os fatos políticos e sociais que retrata. Foi assim com o longa sobre o presidente deposto no golpe militar de 1964 que, visto por mais de 1 milhão de pessoas no ano de seu lançamento, teve uma canção de sua trilha sonora, Coração de estudante, de Milton Nascimento e Wagner Tiso, eleita o hino do movimento das Diretas Já. Agora, o cineasta volta-se novamente para o período e seus reflexos na democracia atual, através de uma de suas maiores figuras, o presidente Tancredo Neves, 25 anos depois de sua morte. Tendler espera lançar o longa Tancredo, a travessia em abril – mesmo mês em o político morreu, em 1985, impedindo assim que ele assumisse de fato a presidência, passando o comando da nação ao vice, José Sarney – junto a Utopia e barbárie, um projeto que o documentarista vem desenvolvendo há 19 anos. Mais que revelar a história do político, Tendler quer mostrar os bastidores da transição do poder no Brasil.

– Quero desconstruir as articulações políticas. Mostrar como se dá a política parlamentar, como foi possível a candidatura Tancredo Neves e quais artifícios ele utilizou para se lançar candidato à presidência da república e conseguir se eleger em 1985. Esses mecanismos não mudaram muito de lá pra cá – compara Tendler. – Quem milita politicamente e se acha extremamente importante, percebe que, ao contrário do que gostaria, não é um bispo, mas apenas um peão desse xadrez do poder. Quero mostrar como Tancredo, em plena ditadura militar, consegue convencer os setores de esquerda e de direita de que há uma transição possível para a democracia que não passa pela violência, mas sim pela negociação.

O documentário traz depoimentos de figuras de diferentes esferas políticas do período, para criar um mosaico completo das mudanças pelas quais o país passava.

– Falei com Paulo Maluf, adversário de Tancredo durante as eleições de 1985; fui atrás do general Leônidas, homem do esquema militar. Vou ouvir o Jarbas Vasconcelos, que era do MDB, mas se recusou a votar no Tancredo, e o Airton Soares, que foi expulso do PT por ter votado nele. Colhi depoimentos de jornalistas com pensamentos diferentes como o (articulista do Jornal do Brasil) Mauro Santayana, que era muito próximo ao Tancredo, e Ricardo Kotscho, que está longe de ser tancredista. Cada um desses depoimentos é surpreendente em algum aspecto. Não privilegio ninguém, faço história.

Outra peça política fundamental na sucessão política do período ouvida pelo diretor é José Sarney, o que acabou gerando um boato que o atual presidente do Senado também seria biografado por Tendler.

– Essa é uma besteira que está rolando na internet. Houve um diálogo entre eu e Sarney de que precisávamos fazer algo juntos, pois a entrevista foi uma aula de política. Aí alguém contou para um repórter que me atazanou durante uma semana – revolta-se. – Queriam, que eu destilasse preconceito contra Sarney e isso não vou fazer; até porque eu nunca vi nenhum político ser condenado pela Justiça no Brasil, nem mesmo o Collor. Por que eu vou condená-lo antecipadamente? Não sou preconceituoso nem à esquerda nem à direita.

Junto aos depoimentos, o cineasta realiza um longo trabalho de pesquisa de imagens, processo que Tendler considera mais fácil hoje do que em empreitadas anteriores.

– Nem se compara ao que passei em 1976, quando fiz Os anos JK. Naquela época, consegui imagens na base da amizade, do favor – recorda o diretor. – Desde então, fui montando um acervo particular, que hoje conta com mais de 100 horas em vídeo. Fora isso, pesquisei no CPDoc do Jornal do Brasil, em cujas imagens me concentrei para o filme. Ainda fiz pesquisas na Cinemateca Brasileira, no Arquivo Nacional, nos acervos da TV Globo e TV Bandeirantes, entre outros lugares.

Preparando-se para lançar dois filmes no mesmo período – Utopia e barbárie é um projeto autobiográfico, com os principais fatos que o cineasta presenciou desde o AI-5, em 1968 – Tendler só se mostra descrente do cinema quando o assunto é a distribuição, que, na sua opinião, é precária para a maioria das produções lançadas no Brasil.

– Costumo dizer que a gente não lança filmes, conta segredo. A maioria dos cineastas brasileiros fica espremida em poucas salas diante de um arrasa-quarteirão holywoodiano, filmes que chegam aqui bombardeados pela mídia estrangeira e repercutem massivamente nos meios de comunicação nacionais – indgna-se. – Também não conseguimos dialogar com a nossa realidade no cinema brasileiro, que sempre macaquequeou o que vem de fora. Precisamos encontrar uma linguagem própria.