quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Reflexão do dia - Gilmar Mendes

“Tem que haver critério único para aferir a chamada campanha antecipada. Não se pode usar um critério para prefeitos e governadores e outro para presidente da República. A Justiça Eleitoral tem que primar por um parâmetro único”


(Gilmar Mendes, em cerimônia no Conselho Nacional de Justiça, em O Globo, hoje)

Merval Pereira :: As culpas de Davos

DEU EM O GLOBO

DAVOS. O palco está montado aqui em Davos para uma demonstração de que o capitalismo se preocupa com o lado social do desenvolvimento. Ao mesmo tempo em que se espera um retorno dos representantes de grandes bancos mundiais para a 40areunião do Fórum Econômico Mundial, de onde estiveram ausentes na reunião de 2009 devido à crise que estourou no final do ano anterior, o ambiente será propício a uma condenação maciça das ambições gananciosas desses mesmos banqueiros. Um palco perfeito para a dupla Lula-Sarkozy marcar presença, pedindo uma reorganização do sistema econômico internacional.

É interessante notar que os principais dirigentes mundiais andam tentando se reconectar com seu eleitorado, especialmente a classe média mais atingida pela crise econômica.

Tanto o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, quanto o presidente francês, Nicolas Sarkozy, andaram fazendo movimentos semelhantes, nos últimos dias, nesse sentido.

Obama, em queda vertiginosa de popularidade ao final de seu primeiro ano de governo, tomou várias decisões para tentar amainar os impactos da crise na classe média, direcionadas especialmente àqueles que estão desempregados.

E atacou os bônus milionários dos banqueiros. Sua equipe econômica estará representada aqui em Davos por Larry Summers, autor intelectual de um programa de reforma do sistema financeiro que ainda não saiu do papel, mas que Obama está retomando como sinalização de que sua administração se preocupa mais com os cidadãos do que com o mercado financeiro.

Retomando um sistema que deu certo na campanha eleitoral, Obama também anunciou que responderá diretamente àqueles que enviarem perguntas através dos diversos novos meios de comunicação, as chamadas “redes sociais”, como Facebook e Twitter.

Também o presidente francês anda recorrendo a esses modernos meios de comunicação para recuperar sua imagem diante do eleitorado, respondendo no Facebook.

Na segunda-feira, ele se submeteu a uma entrevista coletiva com diversos representantes da sociedade francesa, escolhidos pela televisão TF1, preponderantemente de classe média.

O interessante, para nós no Brasil que acompanhamos a antecipação da campanha eleitoral, é que o momento da entrevista foi escolhido a dedo, uma semana antes da definição do tempo de televisão pelo tribunal eleitoral francês, que vai restringir o acesso à televisão dos políticos, tanto do governo quanto da oposição, para a campanha das eleições regionais de março.

Também Obama está tentando recuperar o terreno para a campanha eleitoral de metade do mandato, quando serão renovados a Câmara e o Senado. Diante da tendência de que os democratas sofram uma derrota, indicada pela eleição de um senador republicano para a vaga de Ted Kennedy, o presidente dos Estados Unidos tenta uma retomada de contato com o eleitorado que o elegeu apenas um ano atrás e agora se mostra desiludido diante dos efeitos da crise econômica.

O próprio Klaus Schwab, fundador do Fórum Econômico Mundial há 40 anos, já deixou claro que não há o que comemorar nesta reunião, e o mote do encontro, “repensar, recriar, reconstruir” o mundo depois da crise, mostra que os “senhores do Universo” ainda não encontraram o caminho de volta aos tempos de bonança do capitalismo.

Os bônus dos banqueiros, alvo de medidas do governo americano classificadas de populismo econômico pelos seus críticos, também são demonizados por Schwab, que disse em uma coletiva que o mercado financeiro não deveria ser movido a estímulos como esses.

Justamente num momento assim, o mundo se vê envolvido com a tragédia do Haiti, que acabou tomando parte da agenda do Fórum Econômico este ano. Um painel coordenado pelo ex-presidente dos Estados Unidos Bill Clinton vai discutir a reconstrução do país, enquanto uma campanha de doações está sendo desencadeada pela direção do Fórum.

É neste ambiente, em que se misturam sentimentos de desânimo e de culpa, que o presidente Lula receberá em Davos o título de Estadista Global, dado pela primeira vez pelo Fórum Econômico Mundial.

Detentor de uma admirável taxa de popularidade, o presidente Lula volta a ser o sonho de consumo dos dirigentes mundiais às voltas com uma queda de prestígio entre o eleitorado devido à crise econômica.

Embora longe de ser a “marolinha” que Lula previu, a economia brasileira reagiu à crise melhor que a maioria das economias ocidentais, perdendo apenas para as da Índia e da China.

Mas Lula também anda atrás da classe média brasileira que, se está satisfeita com os resultados econômicos, especialmente a nova classe média emergente, tem ressalvas quanto a aspectos esquerdistas de seu governo.

Aqui em Davos, ele vai encontrar uma plateia de “louros de olhos azuis” cheia de culpa, ávida por ouvir suas críticas ao sistema financeiro internacional, seus apelos por uma retomada da Rodada de Doha para que o comércio internacional seja mais justo, e por seu chamamento à reconstrução do Haiti, onde o Brasil trava uma disputa surda e impensável anos atrás com os Estados Unidos.

Não foi à toa sua escolha para o primeiro premiado com o título de Estadista Global. Desde que, em 2001, o PT e seus companheiros de esquerda latino-americana inventaram o Fórum Social Mundial para se contrapor ao Fórum Econômico, que os homens de Davos tentam mostrar a face social do capitalismo.

Lula tentou unir os dois fóruns anos atrás, mas não foi seguido pela esquerda latino-americana. Davos agora, especialmente depois da crise internacional, tenta amenizar a face do capitalismo trazendo para si o mais emblemático dos líderes da esquerda mundial.

Fernando de Barros e Silva: Marina e o tucano-petismo

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

SÃO PAULO - A candidatura presidencial de Marina Silva nasce lastreada numa certa elite. Isso não é uma força de expressão. A mais recente pesquisa Datafolha mostrou em dezembro a senadora do PV com 8% das intenções de voto, contra 37% de Serra (PSDB), 23% de Dilma (PT) e 13% de Ciro (PSB).

Marina atinge seus melhores índices entre os eleitores com curso superior -13%. É preferida por 11% dos que ganham mais de 10 salários mínimos, enquanto apenas 6% dos que recebem até dois salários mínimos a escolhem. É essa massa que integra a base social do lulismo.

A senadora atrai mais os jovens de 16 a 24 anos (10%) do que as demais faixas etárias. E seu voto é mais acentuado nas capitais (10%). Em resumo, Marina nasce como candidata de um tucano-petismo difuso de extração universitária.

E o que essa candidatura que por ora diz pouco ao povão mas fala à imaginação de certa classe média ilustrada pretende propor ao país, além da plataforma ambiental?

Marina vê a si mesma como o ponto de fuga, ou a convergência possível entre PT e PSDB.

Sustenta que os dois estarão novamente se ferindo de morte no processo eleitoral, enquanto ela reúne condições e disposição para reconhecer no real de FHC e nos ganhos sociais do lulismo etapas de um mesmo processo, de uma única conquista histórica. Aí estaria a base do "pós-Lula", expressão que Marina empresta de Aécio Neves para frisar que uma mudança qualitativa da política brasileira só será viável no dia em que PT e PSDB estiverem juntos.

Essa história não é nova. Mas Marina não se incomoda de ser identificada com a reciclagem da política. Pelo contrário. Seu vocabulário já recicla jargões da esquerda. Na sua boca, a "sociedade civil" dos anos 70 são os "núcleos vivos da sociedade". A candidata que seduz petistas e tucanos pelas bordas fala em "agir em rede" e em considerar as coisas na sua "transversalidade". Pode parecer papo de Gilberto Gil. Mas faz todo o sentido. Ou não.

Brasília-DF :: Luiz Carlos Azedo

DEU NO CORREIO BRAZILIENSE

O PT tem pressa

O ex-deputado José Dirceu advertiu à cúpula do PT de que a legenda precisa encontrar rapidamente um candidato em São Paulo. Segundo ele, é melhor do que esperar que o PSB decida o destino de Ciro Gomes, o candidato a presidente da República que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pretende abater ainda na pista. Sábado, Dirceu advertiu o novo presidente do PT, José Eduardo Dutra, de que o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, será o candidato do PSB a governador de São Paulo. E sugeriu que agisse logo para evitar que Ciro mantenha sua candidatura à Presidência da República na convenção do PSB.

Artífice das alianças que levaram o presidente Lula à vitória em 2002, Dirceu é um crítico da indicação do deputado Michel Temer(PMDB-SP) para vice de Dilma Rousseff na chapa PT-PMDB. Avalia que o presidente da Câmara nada acrescentaria à candidatura da petista. Faz coro com o presidente Lula, que inventou a tal da lista tríplice do PMDB para Dilma escolher o vice com o único propósito de se livrar do compromisso com Temer. --> --> --> -->

Cascudo// O presidente do PPS, Roberto Freire, acusado de aderir ao neoliberalismo, diz que não se importa com a irritação dos petistas por causa de suas críticas ao presidente Lula. “Durante a ditadura, organizei a resistência democrática; agora, faço oposição ao populismo petista”.

Opção

Pressionada por Lula, a cúpula do PSB tenta empurrar com a barriga a decisão sobre a candidatura de Ciro Gomes. “O que é combinado não custa caro”, adverte o líder do PSB na Câmara, Rodrigo Rollemberg (foto), do DF, ao defender que a decisão seja tomada em março, prazo negociado com o presidente Lula para Ciro avaliar se mantém a candidatura ou não. O presidente do PSB, o governador Eduardo Campos (PE), por ora, não pretende mover uma palha sobre o assunto. Já o governador do Ceará, Cid Gomes (PSB), está uma onça por causa das pressões petistas.

Perigo

O Twitter, a rede social que vem sendo usada fortemente por políticos, pode não ser uma boa plataforma de trabalho pré-eleitoral. No Acre, o Tribunal Regional Eleitoral multou em R$ 5 mil um pré-candidato a deputado que estaria fazendo campanha antecipada. E proibiu todos os posts de sua página pessoal relativos à eleição.

Teimoso

Mato Grosso do Sul, Paraná, Santa Catarina, São Paulo, Acre, Pernambuco e Rio Grande do Sul são estados onde as seções do PMDB não querem coligar com Dilma. Vivem às turras com o PT. Para complicar, apoiam a candidatura do governador do Paraná, Roberto Requião (foto), que também insiste em disputar a Presidência da República em 2010.

Na carne

Corregedor-geral do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, o desembargador Roberto Wider vai responder a processo disciplinar no Conselho Nacional de Justiça por suspeita de irregularidades envolvendo cartórios extrajudiciais no estado. O CNJ aprovou ainda o afastamento preventivo do desembargador, conforme recomendou em seu voto o corregedor Gilson Dipp.

Solidário

O secretário nacional de Economia Solidária, Paul Singer, anunciou ontem que o número de pessoas envolvidas e beneficiadas pelo sistema de economia baseado na produção, na distribuição e no consumo solidário — que movimentou R$ 8 bilhões em 2007 — saltou de 1,7 milhão para 2,5 milhões

Posses/ O físico Carlos Alberto Aragão de Carvalho Filho assume, hoje, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq/MCT). Jarbas Valente toma posse em diretoria da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).

Eleição/ O delegado Reinaldo de Almeida Cesar é candidato único a presidente da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal para o biênio 2010-2012. A chapa concorrente foi impugnada. A eleição será em março.

Silêncio/ Com o habeas corpus concedido pelo Supremo Tribunal Federal em mãos, o empresário Avaldir de Oliveira, dono da CTIS — empresa de informática investigada pela Operação Caixa de Pandora, da PF — deve entrar mudo e sair calado do depoimento hoje na Polícia Federal, às 10h.

Carrão/ Um dos investigados na Operação Caixa de Pandora da Polícia Federal, aquela do panetone, resolveu deixar o Porsche Carrera em São Paulo para não chamar muita atenção.

Raquel Ulhôa :: Oposição quer ver Serra em ação

DEU NO VALOR ECONÔMICO

Confiante em sua velocidade, a lebre despreocupa-se com a corrida e perde para a tartaruga, que, em seu ritmo lento, não parou de caminhar. O desfecho da fábula aflige um aliado do governador José Serra. Para ele, o PSDB está perdendo terreno para o PT. O pré-candidato tucano mantém-se líder das pesquisas, mas a campanha está ausente nos Estados.

Serra ainda não fala em candidatura. Quer governar São Paulo até abril sem enfrentar ataques de setores ligados ao PT. "A inércia tem nos favorecido", diz Jorge Bornhausen, ex-presidente do DEM, interlocutor frequente do governador paulista.

A campanha da ministra Dilma Rousseff ganha visibilidade em viagens e discursos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na pauta dos dirigentes do PT, em reuniões de líderes do PMDB e em decisões de partidos governistas. Dilma reúne-se semanalmente com um grupo informal de coordenação de campanha.

O PT assume a estratégia. A antecipação da campanha é necessária para tornar a ministra conhecida. Enquanto está no governo, precisa colar sua imagem à de Lula, percorrer o país com ele, ter seu nome cada vez mais em evidência.

Alguns líderes da oposição entendem a lógica de Serra, mas querem ações e unificação de discursos nos Estados. Acham insuficiente notas e ações judiciais. Esperam que o PSDB mobilize aliados logo após o Carnaval. Listam problemas que se acumulam.

Em Pernambuco, o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB) continua desestimulado a disputar com o governador Eduardo Campos (PSB), aliado do PT, apenas para garantir palanque a Serra. Pemedebistas queixam-se de fragilidade e desarticulação da aliança com PSDB e DEM.

Com agravante: o senador Sérgio Guerra, presidente do PSDB, provável coordenador da campanha de Serra, enfrenta dificuldades pessoais para se reeleger contra a frente governista. Ex-aliado de Miguel Arraes, avô de Campos, Guerra tem bom relacionamento com o governador, que disputa a reeleição. O tucano ganharia a eleição mais facilmente se contasse com o apoio informal de Campos.

No interior, prefeitos do PSDB começam a se declarar neutros na disputa ao governo do Estado, contando, aparentemente, com a compreensão da cúpula tucana. No Ceará, o PSDB procura um candidato competitivo para o governo. O senador Tasso Jereissati rejeita ir para o sacrifício. Sua situação é parecida à de Guerra: tem ligações com o governador Cid Gomes (PSB) e sua reeleição para o Senado seria mais fácil se Cid lançasse apenas um candidato à vaga. Mas PMDB e PT, aliados do governador, têm concorrentes.

No Distrito Federal, o palanque da oposição ruiu. O único governador eleito pelo DEM, José Roberto Arruda, foi abatido num caso de corrupção. Saiu do partido e da disputa eleitoral. No Rio Grande do Sul, a governadora Yeda Crusius (PSDB), mesmo enfraquecida por denúncias, ainda não desistiu de disputar a reeleição, o que atrasa a negociação com o PMDB de José Fogaça.

Em Santa Catarina, onde também o PMDB do governador Luiz Henrique sempre foi parceiro do PSDB e do DEM, o vice-governador, Leonel Pavan, pré-candidato tucano ao governo, foi denunciado pelo Ministério Público à Justiça por suposta corrupção passiva, entre outras coisas.

A oposição prefere comemorar vitórias, como a desistência do governador Aécio Neves (MG) de disputar com Serra a candidatura. Mas tem o desafio de convencê-lo a ser o vice na chapa. As cúpulas de PSDB, DEM e PPS estão empenhadas nisso. Temem que, como candidato ao Senado e interessado em votação consagradora, Aécio faça uma campanha presidencial "light", insuficiente para despejar os votos de Minas na candidatura de Serra.

A aliança em torno de Fernando Gabeira (PV) ao governo do Rio é outra vitória apontada por serristas. Foi o melhor que a oposição conseguiu num Estado eleitoralmente estratégico. Serra terá aliados na chapa, mas, ao menos no primeiro turno, Gabeira apoiará a senadora Marina Silva (PV) para presidente.

Para serristas, os problemas maiores são do PT. Um deles é a escolha do vice de Dilma, que pode causar mais constrangimentos à aliança com o PMDB. Michel Temer é tido, em avaliações feitas por estrategistas do PT, como opção apenas em caso de "eleição fácil". No caso de Aécio ceder às pressões e integrar a chapa de Serra, o mineiro Hélio Costa pode ser mais útil.

A prudência do tucano pode estar certa, a se confirmar análise do historiador Marco Antonio Villa, da Universidade Federal de São Carlos. Ele prevê "a campanha mais violenta da história", com troca de acusações e guerra de dossiês, tudo facilitado pelo uso da internet. Por trás, estarão os grupos que sustentam as candidaturas e delas dependem.

Para Villa, apesar da antecipação da campanha da parte de Lula e do PT, a ministra ainda é uma incógnita como candidata. "Dilma terá de começar a caminhar com as próprias pernas", afirma. Por enquanto, ela não se apresentou. É candidata em formação, tartaruga empurrada pelo presidente e pelo PT. Serra observa. Aliados próximos dizem que, ao contrário da lebre, o tucano não está parado. Corre nos bastidores.

Raquel Ulhôa é repórter de Política em Brasília. A titular da coluna, Rosângela Bittar, está em férias

Gilmar: Justiça Eleitoral deve ter padrão único

DEU EM O GLOBO

Presidente do STF, Gilmar Mendes defende punição rígida para todos os candidatos que anteciparem campanha

Carolina Brígido

BRASÍLIA. O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Gilmar Mendes, voltou a cobrar ontem da Justiça Eleitoral padrão único de rigidez nos julgamentos de candidatos suspeitos de antecipar campanhas.

Para ele, não se pode tratar de forma diferente candidatos de eleições municipais, estaduais e nacional. O comentário foi feito durante cerimônia no Conselho Nacional de Justiça.

— Tem que haver critério único para aferir a chamada campanha antecipada. Não se pode usar um critério para prefeitos e governadores e outro para presidente da República. A Justiça Eleitoral tem que primar por um parâmetro único — disse, sem citar exemplos.

Na semana passada, o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do Acre condenou um pré-candidato do PP a deputado estadual por propaganda eleitoral antecipada em sua página no Twitter.

A decisão obriga o político a retirar as mensagens do site e a pagar multa de R$ 5 mil.

A oposição entrou com representações no Tribunal Superior Eleitoral contra a ministra Dilma Rousseff, da Casa Civil, e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva por suposta antecipação de campanha. Nenhum foi punido.

Perguntado se considera os julgamentos de candidatos municipais e estaduais mais rígidos que os de presidenciáveis, Gilmar não quis comparar: — Tem que ser examinado.

Comparem as decisões e vejam o que ocorre. Em geral, a Justiça Eleitoral é severa com autoridades ocupantes de cargos públicos.

É preciso uma reflexão e uma crítica para que haja um mesmo parâmetro.

Para o advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, não falta padrão no julgamento de processos contra candidatos: — Ele existe e está sendo preservado.

Adams ponderou que muitas representações são ajuizadas para atender a um jogo político, numa tentativa da oposição de constranger o governo federal.

— Ao final da campanha, vocês vão ver uma infinidade de representações. Não sou julgador, mas, tomando em conta esse padrão, o pedido não vai dar em nada. O presidente (Lula) tem se comportado sempre com muito cuidado — disse Adams, após participar da cerimônia do CNJ com Gilmar.

O presidente do TSE, Ayres Britto, não foi encontrado. Sua assessoria informou que ele estava no exterior.

Puxão de Orelhas

DEU EM O GLOBO

OPINIÃO

AS PROVAS de que o presidente Lula atropela a legislação eleitoral, ao antecipar a campanha de sua candidata, são dadas por ele próprio.

HÁ VÁRIAS declarações, irônicas ou não, de Lula, em comícios disfarçados de inaugurações e visitas a canteiros de obras, em que o caráter eleitoral dos eventos é confirmado.

ACERTA, PORTANTO, o presidente do Supremo, ministro Gilmar Mendes, na cobrança à Justiça eleitoral para que trate de maneira uniforme, como reza a lei, o presidente, prefeitos, governadores, quem for.

A POPULARIDADE de qualquer político não o coloca acima do estado de direito.

Itamar sai do BDMG para entrar na campanha 2010

DEU NO VALOR ECONÔMICO

Belo Horizonte - O ex-presidente Itamar Franco (PPS) anunciou ontem que está pronto a "entrar em campo" para disputar as eleições este ano. Itamar reuniu-se ontem por uma hora e meia com o governador mineiro Aécio Neves (PSDB), formalmente para se desincompatibilizar da presidência do Conselho de Administração do Banco do Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), cargo sem função executiva.

O ex-presidente poderá ser candidato a senador ou vice-governador mineiro. Só demonstrou descartar a posição de vice na chapa do governador paulista José Serra (PSDB) à Presidência. "Nem penso nisso", afirmou.

Itamar reagiu às versões de que sua presença na chapa poderia ser uma alternativa à ausência de Aécio na chapa tucana. O governador desistiu de concorrer à cabeça de chapa no mês passado, ao perceber que a cúpula tucana tinha preferência por Serra. E não quer aceitar ser companheiro de chapa do paulista.

"Eu não sou plano B de ninguém", afirmou Itamar, que criticou a demora de Serra em assumir-se candidato. "Falam na candidatura de vice, mas quem é o candidato da oposição , mesmo? É muito estranho termos candidato a vice e não termos a presidente", comentou.

Hoje, Aécio deve reunir-se, separadamente, com o presidente nacional do PPS, o ex-senador Roberto Freire , e com o deputado federal ACM Neto (DEM-BA). A candidatura de Itamar em 2010 deve ser discutida com o primeiro. Desde que saiu do governo mineiro, em 2002, Itamar tem sido aliado incondicional de Aécio no Estado. (CF)

Itamar descarta ser vice

DEU NO ESTADO DE MINAS

Ex-presidente critica demora do governador José Serra em assumir candidatura à Presidência, afirma que não pretende compor chapa com ele e que ainda vai decidir o seu futuro político

Thiago Herdy

O ex-presidente Itamar Franco (PPS) praticamente descartou ontem a possibilidade de ser vice-candidato à Presidência da República na chapa do governador de São Paulo, José Serra (PMDB). Embora tenha dito que ainda discutirá seu destino político em 2010 com os aliados de seu partido, o ex-presidente foi taxativo quando perguntado sobre a possibilidade de representar Minas Gerais na chapa da oposição nas eleições de outubro: “Não pedi, não penso e não desejo”, disse Itamar, depois de passar quase duas horas reunido com o governador de Minas, Aécio Neves (PSDB), no Palácio das Mangabeiras, em Belo Horizonte.

Itamar voltou a criticar José Serra por ainda não ter se posicionado publicamente a respeito de sua candidatura ao governo federal. Há algumas semanas, Itamar havia dito que, por causa disso, a oposição corria até mesmo o risco de perder as eleições por W.O. “Quem é o candidato do PSDB, eu pergunto aos senhores e senhoras? Temos um candidato? O cidadão, lá, vai ou não vai?”, perguntou aos jornalistas, referindo-se ao governador José Serra. Nos últimos meses, Itamar foi um dos principais defensores da candidatura de Aécio Neves à presidência.

Desde o fim do ano passado, o presidente nacional do PPS, o ex-senador Roberto Freire, defende o nome de Aécio como vice de Serra. As recorrentes negativas do governador mineiro levaram Freire a citar Itamar como eventual plano B para a candidatura, caso a oposição resolva adotar como estratégia a escolha de um nome de Minas Gerais, segundo maior colégio eleitoral do país, para integrar a chapa. Embora tenha dito ter grande respeito por Freire, Itamar reclamou da declaração. “Coisa feia, né? Nunca fui, nem vou ser plano B de ninguém”, disse.

Quando perguntado sobre a possibilidade de ser vice-candidato ao governo de Minas, na chapa de Anastasia, ele respondeu com uma careta. Em seguida, deu uma risada irônica sugerindo que não aceitaria a proposta e repetiu seu discurso, dizendo que “vice não se oferece, é escolhido pelo candidato da chapa”. No entanto, quando já estava entrando no carro para deixar o Palácio, perguntaram a Itamar se ele aceitaria ser candidato ao Senado, numa suposta tentativa de “moralização” da Casa Legislativa. O ex-presidente pensou um pouco e respondeu, maroto:

“Acho que sim”.

No encontro com Aécio, Itamar informou que deixará, em 10 de fevereiro, o Conselho de Administração do BDMG, para decidir seu destino político. “Antes eu estava no banco de reservas e sem chuteira. Agora, calcei a chuteira, vesti o calção e estou pronto para entrar no jogo”, disse o ex-presidente, que pretende discutir sua estratégia para 2010 amanhã, em reunião da Executiva do seu partido, em Belo Horizonte.

VIAGENS

O governador Aécio Neves (PSDB) esteve ontem em Capelinha, no Vale do Jequitinhonha, e Caratinga, na Zona da Mata, para inaugurar obras e apresentar à população o vice-governador Antônio Augusto Anastasia, como seu sucessor a partir de abril e seu candidato ao Palácio da Liberdade nas eleições de outubro. Aécio voltou a lembrar que deixará o governo dentro de dois meses para disputar uma vaga no Senado.

Perguntado sobre as representações apresentadas pela direção de seu partido na Justiça Eleitoral, acusando o presidente Lula e a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, de fazer campanha antecipada ao viajar juntos pelo país para inaugurar obras, o governador não quis entrar em polêmica e despistou. “Essa é uma decisão feita pela direção do partido. Eu não sou da direção nacional do partido. Tem que avaliar. Se se encontrar alguma violação à legislação, é justificável. Não estou nesse acompanhamento diário”, disse Aécio.

O governador disse pedir aos aliados que façam “ação administrativa com todo cuidado”, para não infringir a legislação eleitoral. Lembrou que Anastasia terá ainda mais motivos para viajar pelo estado inaugurando obras, a partir de março, porque ele será obrigado a se desincompatibilizar para concorrer a um cargo eletivo e, por isso, o atual vice assumirá o seu lugar. “Caberá a ele continuar as nossas obras, independentemente da eleição e do próprio resultado eleitoral”, disse.

Planalto defende Meirelles para vice de Dilma

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Ideia de Lula é ter alguém com perfil de Alencar na chapa, mas ele sabe que PMDB resistirá contra o ""cristão novo""

Vera Rosa e Beatriz Abreu

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse a auxiliares e dirigentes do PT que, se depender dele, a cara-metade da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, na chapa ao Palácio do Planalto será um nome com perfil semelhante ao do vice-presidente José Alencar (PRB). Lula defende para a dobradinha o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, cristão novo no PMDB, mas sabe que a cúpula peemedebista não apenas criará problemas a essa indicação como tentará emplacar o presidente da Câmara, Michel Temer (SP).

Ao tomar café da manhã, ontem, com o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), Lula combinou com o aliado que, antes de definir o vice, a prioridade será superar as divergências entre o PT e o PMDB nos Estados, na tentativa de construir palanques conjuntos para Dilma.

Sarney pediu a Lula que cobre do PT apoio à sua filha, a governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PMDB). O presidente garantiu a ele que, apesar da divisão do PT no Estado, os petistas darão aval à reeleição de Roseana. Detalhe: Sarney também acha que a indicação de Temer para vice de Dilma é a que mais unifica o partido. No seu diagnóstico, Temer sairá fortalecido na convenção do PMDB que foi antecipada para 6 de fevereiro e deverá reconduzi-lo ao comando do partido.

Para o governo, porém, Meirelles atuaria como uma espécie de escudo da candidata do PT, dando segurança ao mercado financeiro. A cúpula da campanha petista teme que a oposição explore o passado de Dilma como ex-guerrilheira, provocando desconfianças sobre os rumos da economia.

Em conversas reservadas, Lula tem dito que, nesse cenário, somente um nome com bom trânsito no empresariado e no setor financeiro - papel que Alencar desempenhou em sua campanha, em 2002 - quebraria resistências.

Embora o programa de governo de Dilma não esteja pronto, a principal recomendação do presidente é para que o PT "não queira inventar a roda" na economia. Serão mantidos o sistema de metas de inflação, câmbio flutuante e ajuste fiscal. Não sem motivo, um dos principais coordenadores da campanha de Dilma - que ontem participou do Fórum Social, em Porto Alegre - será o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci (SP), hoje deputado.

MALDIÇÃO DO VICE

A operação de bastidor para barrar a indicação de Temer como candidato a vice tem ainda ingrediente adicional. O receio do Planalto é que a maldição do vice se repita e o governo seja obrigado a trocar o colega de chapa da ministra durante a corrida eleitoral, causando instabilidade na campanha.

A necessidade de substituir vices alvejados por denúncias - mesmo que não comprovadas - já atingiu tanto Lula como o então candidato Fernando Henrique Cardoso (PSDB), na campanha de 1994, além do também tucano José Serra - hoje governador e potencial candidato ao Planalto - na maratona de 2002.

Em dezembro, Temer foi citado pela Polícia Federal na Operação Castelo de Areia. Acusado de ter recebido R$ 410 mil da construtora Camargo Corrêa entre 1996 e 1998, ele reagiu. "Isso é uma indignidade e expresso minha revolta com esse papel apócrifo, que coloca nomes das mais variadas pessoas. É uma infâmia", disse na época.

PMDB ameaça abandonar chapa se Temer for vetado

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Articulação da campanha de Dilma para barrar a indicação do deputado provocou protestos na sigla

Christiane Samarco

A articulação do comando da campanha presidencial do PT para barrar a indicação do presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), para vice na chapa de Dilma Rousseff, como revelou ontem o Estado, provocou protestos nos bastidores do PMDB. Mais do que fincar pé no nome do presidente do partido, afirmando que "o vice da Dilma será o Michel", um dirigente peemedebista avisa que, "se tiver de ser outro vice, talvez não seja da Dilma, e sim do PSDB".

Desconfortável com a movimentação petista, Temer diz que é candidato a deputado federal.

"Essa coisa de vice tem me prejudicado", queixou-se ontem, lembrando que sua candidatura à reeleição está mantida, até para que os aliados não ocupem seu espaço político no interior paulista. Ele considera "deselegante" a campanha petista contra sua indicação, sobretudo por conta dos "recados" pelos jornais. "Quem vai resolver isto é o PMDB, não há a menor dúvida, e é claro que vamos conversar com o PT e a candidata no devido tempo. Não é preciso fazer campanha pelos jornais", reclamou Temer.

"Tiroteio e bala perdida em política sempre vão ocorrer, mas temos de criar contenções.

Cada partido tem de cuidar dos seus, para não azedar as relações", cobra o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR). Em conversas reservadas, no entanto, integrantes da cúpula reagem à tentativa de veto, advertindo que o nome do ministro das Comunicações e senador Hélio Costa (PMDB-MG), sugerido por petistas, vestiria melhor o figurino de vice na chapa tucana do governador de São Paulo, José Serra. Argumentam que o mineiro seria o vice ideal para um candidato paulista, e não para Dilma, que também é de Minas.

"Temos de evitar problemas fazendo logo a nova executiva e mostrando unidade partidária.

Não dá para deixar hiato de poder nem ficar espaço de dúvida", defende Jucá, destacando que só a partir daí é que o PMDB vai discutir polêmicas como a da escolha do vice. É este o pensamento predominante na executiva nacional do partido, que se reúne hoje para marcar a data da convenção que elegerá a nova direção, no mês que vem. Desta vez, deputados e senadores dividirão o poder, dando à nova executiva caráter muito mais abrangente que a atual.

O mandato de Temer na presidência do partido só termina em 10 de março, mas os peemedebistas querem reelegê-lo no dia 6 de fevereiro. A preocupação da cúpula em empossar o quanto antes a nova direção partidária atende a dois objetivos: mostrar aos dissidentes que os governistas têm ampla maioria para tomar as decisões no partido e dar uma demonstração de força ao PT. Eles querem deixar claro que, vice ou não, Temer estará à frente de todas as negociações políticas com o PT e demais aliados.

Temer chegou a ponderar a conveniência de deixar a eleição para março, para atender o grupo dissidente que está fechado com Serra e ameaçava contestar a antecipação na justiça.

"Pensei inicialmente em fazer uma conciliação que é do meu estilo, vejo que não seria útil para o partido nem pessoalmente para mim."

Oposição vai ao TSE contra Lula e Dilma

DEU EM O GLOBO

PSDB, DEM e PPS acusam presidente de fazer campanha fora de hora

Cristiane Jungblut

BRASÍLIA. Em mais uma representação protocolada ontem no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), os três principais partidos de oposição — DEM, PSDB e PPS — acusam o presidente Luiz Inácio Lula da Silva de fazer campanha eleitoral antecipada em favor da chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, précandidata do PT à Presidência, em evento realizado no último dia 22. Os partidos destacaram declarações antigas de Lula sobre Dilma, como “minha candidata” e “mãe do PAC” e incluíram trechos de seu discurso de sexta-feira, em São Paulo.

Depois de várias negativas da Justiça Eleitoral a ações do mesmo tipo, a oposição citou também caso de um governador que perdeu o mandato por práticas semelhantes. Na representação, os advogados lembram o voto favorável do ministro Felix Fischer no julgamento em que o TSE cassou o mandato do ex-governador do Maranhão Jackson Lago por ter participado de evento público.

Citam também declaração do ministro Carlos Ayres Britto, atual presidente do TSE, por ocasião do mesmo julgamento: “A predisposição para usar a máquina administrativa sob a lógica pragmática do vale-tudo, fazendo jus ao dito horroroso de que ‘o feio em política é perder’, ou ‘para os inimigos a lei, e para os amigos tudo’”.

A oposição sustenta que o presidente Lula “vem percorrendo todo o território nacional em plena intenção eleitoreira” e “inflama seu discurso sucessório sem qualquer tipo de limitação”.

Os três partidos alertam que a campanha eleitoral só deve começar no dia 5 de julho.

Partidos pedem multa no valor de R$ 25 mil

Essa é a segunda ação apresentada em 2010, sendo que a primeira tratou de evento realizado em Minas Gerais. Os partidos pedem que seja aplicada multa, no valor de R$ 25 mil, ou no valor dos custos com o evento, o que for maior.

A ação cita que em São Paulo, no dia 22, Lula disse que esperava que os presentes adivinhassem quem seria seu sucessor, já que ele não podia dizer o nome por razões legais: “E quem vier depois de mim — eu, por questões legais, não posso dizer quem é; espero que vocês adivinhem, espero —, quem vier depois de mim já vai encontrar um programa pronto, com dinheiro no Orçamento, porque eu estou fazendo o PAC-2 porque eu preciso colocar dinheiro no Orçamento para 2011, para que as pessoas comecem a trabalhar”.

Na ação, a oposição diz que Lula “estava, sim, fazendo comício em prol da candidata ‘de fato’ do PT para o próximo pleito presidencial” e utilizando de uma propaganda subliminar em favor de Dilma.

Para os partidos, há exposição diária e ostensiva do nome de Dilma ao eleitorado, com vinculação à continuidade de programas, obras e ações do governo, o que caracterizaria propaganda eleitoral até mais eficiente do que a campanha explícita.

Márcio Fortes será o vice na chapa de Gabeira

DEU EM O GLOBO

Apesar de cautelosos, tucanos e aliados admitem o acordo

Cássio Bruno


O empresário e primeiro vicepresidente estadual do PSDB do Rio, Márcio Fortes, de 65 anos, será o nome indicado do partido para ser o vice na chapa do deputado federal Fernando Gabeira (PV), pré-candidato ao governo fluminense. Apesar de os tucanos ainda manterem a cautela diante do anúncio oficial, que só deverá ocorrer na próxima semana, integrantes de coligação PV/DEM/PPS/PSDB já admitem a dobradinha entre Fortes e Gabeira na disputa pela sucessão do governador Sergio Cabral (PMDB), que tentará a reeleição.

Ontem, Fortes se reuniu com o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), pré-candidato à Presidência. A intenção do PSDB é que Fortes tenha função estratégica nas eleições: coordenar e comandar a campanha de Serra no Rio, já que Gabeira, no primeiro turno, ficará no palanque da senadora Marina Silva (PVAC), outra pré-candidata a presidente.

O tucano, membro da executiva nacional, é uma unanimidade no PSDB e na coligação de oposição a Cabral.

— Ele representa bem o Serra.

Faz parte do governo paulista e demonstra que tem capacidade — afirmou o presidente regional, José Camilo Zito, sobre Fortes, presidente da Emplasa, estatal paulista de planejamento.

Fortes diz que há alternativas

Outros postulantes do PSDB a vice de Gabeira seriam o deputado federal Otávio Leite e o deputado estadual Luiz Paulo Correa da Rocha. Ambos já disseram não abrir mão da reeleição.

A presidente do Flamengo, Patrícia Amorim, descartou a possibilidade de formar a chapa.

— O Marcio Fortes será o indicado.

Tenho tanta certeza como dois mais dois são quatro. É inevitável — disse a vereadora Aspásia Camargo (PV), pré-candidata ao Senado.

O presidente nacional do PSDB, Sérgio Guerra, sinalizou a favor de Fortes: — Ele é bem aprovado.

Fortes desconversa: — É o partido que vai decidir.

Existem alternativas. Haverá uma discussão.

Agência para fundos já nasce loteada

DEU EM O GLOBO

O presidente Lula instalou ontem o novo órgão regulador dos fundos de pensão, a Previc; com diretores indicados por PT e PMDB. Também tem ligações com o PT o superintendente da agência.

Apadrinhados comandam novo órgão regulador

Presidente Lula instala superintendência que cuidará de fundos de pensão e nomeia direção loteada por PT e PMDB

Geralda Doca e Luiza Damé

BRASÍLIA. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva instalou ontem a Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc) e nomeou seis dirigentes para cargos-chave do novo órgão regulador dos fundos de pensão — setor que movimentou R$ 506 bilhões em 2009. Entre os indicados, três são apadrinhados do PT e do PMDB, embora tenham formação técnica. Para os governistas, isso é normal.

Durante discurso de posse da diretoria do novo órgão, o secretárioexecutivo do Ministério da Previdência, Carlos Eduardo Gabas, do PT paulista, considerou “absurda a capacidade de invenção da mídia” sobre a divisão de cargos entre seu partido e o PMDB no comando da Previc. Ele considerou natural esse tipo de arranjo: — Isso é muito natural. Queriam que a gente procurasse a oposição? Partido vitorioso é quem governa — afirmou Gabas.

— Se há alguém (da diretoria) com referência a algum político que tem mandato, qual é o problema? — Não existe trabalho técnico sem o respaldo político — emendou o diretor superintendente do órgão, Ricardo Pena, ligado ao PT.

A Previc, criada por lei aprovada no fim do ano pelo Congresso, é um pleito antigo dos trabalhadores e empresas dos fundos de pensão. Além de Ricardo Pena, o presidente Lula nomeou os seguintes dirigentes: os diretores de assuntos econômicos, Edevaldo Fernandes da Silva, do PT paulista; de administração, José Maria Freira de Menezes Filho, ligado ao senador peemedebista Romero Jucá (RR); e de fiscalização, Manoel Lucena dos Santos, que trabalhava no gabinete do ministro da Previdência, José Pimentel (PT).

Pena, que era secretário de Previdência Complementar (SPC) do ministério, órgão responsável até então pela fiscalização dos fundos de pensão, foi nomeado para a Superintendência da Previc com apoio do PT e respaldo do PMDB. O diretor de análise técnica, Carlos Alberto de Paula, e o procurador Ivan Jorge Bichara Filho, também já ocupavam cargos na secretaria.

Ao ser perguntado sobre o risco das indicações políticas na Previc, Pena disse que a estrutura do órgão, na qual as decisões serão tomadas por uma diretoria-colegiada, ajuda a afastar esse tipo de interferência.

Neste ano, o governo terá a prerrogativa de indicar pelo menos mais 12 nomes para cargos importantes em sete agências reguladoras. Embora tenham autonomia administrativa e orçamentária garantidas por lei, na gestão do PT os partidos políticos aumentaram a presença nesses órgãos, agora mais vinculados aos respectivos ministérios — como a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), que nada decide sem o aval do Ministério da Defesa.

Autarquia ainda não tem sede e orçamento garantidos Presente às cerimônias de criação da Previc e de posse da diretoria, Jucá destacou a importância do novo órgão e se comprometeu a trabalhar para que os novos diretores tenham mandato definido e sejam sabatinados pelo Senado, o que não ficou previsto na lei.

Na votação final da proposta, em dezembro, os senadores evitaram fazer a mudança para que o projeto não voltasse à Câmara; mas o governo se comprometeu a adotar a regra. Caso a lei não entrasse logo em vigor, seria perdida a possibilidade de se cobrar, já a partir de maio, uma taxa dos fundos de pensão para ajudar na manutenção da estrutura da Previc. A cobrança é quadrimestral e o valor varia entre R$ 15 e R$ 2 milhões. Por ano, a Previc vai arrecadar R$ 33 milhões com a tarifa.

A nova autarquia não tem sede nem orçamento garantido.

Funcionará provisoriamente no Ministério da Previdência e terá apoio da pasta, da Dataprev (empresa de processamento de dados) e da Advocacia-Geral da União. Até abril, fará concurso público para 200 servidores.

“Isso é muito natural. Queriam que a gente procurasse a oposição? Partido vitorioso é quem governa. Se há alguém (da diretoria) com referência a algum político que tem mandato, qual é o problema?

Carlos Eduardo Gabas, secretário executivo do Ministério da Previdência

“Não existe trabalho técnico sem o respaldo político”

Ricardo Pena, diretor superintendente da Previc

Dívida da União atinge R$ 1,5 trilhão

DEU EM O GLOBO

A dívida pública federal em títulos cresceu 7,1% em 2009, chegando a R$ 1,5 trilhão. Este ano, poderá subir mais 15,5%.0 salto será puxado pela emissão de títulos do governo para, na crise, capitalizar BNDE5, Caixa e Fundo da Marinha Mercante.

Dívida em escalada

Endividamento público federal em títulos atinge R$ 1,5 trilhão e pode crescer 15% este ano

Martha Beck

BRASÍLIA - A dívida pública federal em títulos poderá subir R$ 232,6 bilhões este ano, o equivalente a 15,56% de aumento. Segundo o Plano Anual de Financiamento (PAF) 2010, divulgado ontem pelo Tesouro Nacional, o estoque — que fechou 2009 em R$ 1,497 trilhão, em alta de 7,1% ou R$ 100,06 bilhões — deve terminar 2010 num intervalo entre R$ 1,6 trilhão e R$ 1,730 trilhão. Os principais responsáveis pelo salto serão emissões feitas pelo governo para capitalizar o BNDES (R$ 80 bilhões), o Fundo da Marinha Mercante (R$ 15 bilhões), a Caixa Econômica Federal (R$ 6 bilhões) e o Banco do Nordeste (R$ 1 bilhão).

Para o secretário do Tesouro, Arno Augustin, o aumento não é preocupante, pois o governo tem condições de gerenciar a dívida de maneira segura.

Segundo ele, de um total de R$ 372,3 bilhões de vencimentos previstos para 2010, R$ 100,92 bilhões (ou 27,1% do total) já foram rolados em janeiro.

Além disso, o Tesouro tem em caixa recursos suficientes para honrar os compromissos da dívida por seis meses.

No caso da dívida externa, os vencimentos previstos para 2010 chegam a US$ 7,6 bilhões, sendo que o governo captou antecipadamente US$ 5,6 bilhões em 2009.

— Mesmo que o mercado enfrente alguma dificuldade, isso não se refletirá no Tesouro — disse o secretário. — Sempre que acharmos que as condições de mercado não estão razoáveis, vamos ter uma postura mais contida.

Não vamos sancionar (as taxas de juros mais elevadas pedidas pelos investidores).

Vamos com menos força e mais tranquilidade.

Capitalização do BNDES preocupa

Mesmo assim, a estratégia do governo deixa o mercado alerta. Para o economista da consultoria Tendências Felipe Salto, emissões de títulos para capitalizar bancos podem ser vistas por investidores como operações de risco, pois o Tesouro só vai receber os recursos de volta a longo prazo: — Não é a primeira vez que o Tesouro capitaliza o BNDES. Usar esse instrumento sistematicamente pode ser encarado como um movimento de piora na solvência.

A solvência de um país é medida pela dívida líquida do setor público consolidado (que inclui não só governo federal, mas estatais, estados, municípios e considera os créditos a receber).

O endividamento em títulos responde por mais de 40% da dívida líquida. Porém, as emissões para capitalização dos bancos públicos são empréstimos e, portanto, não impactam a dívida líquida.

Para o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, a alta da dívida não preocupa, desde que o governo administre as emissões e se mantenha na estratégia de alongar vencimentos e melhorar o perfil do estoque.

— O aumento da dívida em 2010 virá, em parte, para aumentar investimentos e estimular o crescimento econômico.

Isso é algo positivo. Mas as operações devem ser casadas. O vencimento dos títulos emitidos deve, por exemplo, acompanhar o prazo de maturação dos investimentos — disse Agostini.

Em 2009, a dívida pública federal cresceu R$ 100,06 bilhões, mesmo montante emitido para capitalizar o BNDES. Com esses recursos, num momento de crise mundial de liquidez, o banco pôde ampliar seus empréstimos ao setor produtivo. Não é possível afirmar que a dívida teria ficado estável sem a emissão — já que não se sabe que tipo de planejamento o governo teria feito para o endividamento.

Somente em dezembro, o estoque teve aumento de 0,37% em relação a novembro, devido a uma incorporação de juros de R$ 12,04 bilhões.

Augustin disse que a composição e os prazos ficaram dentro da previsão ou até superaram positivamente os parâmetros fixados no PAF de 2009. A parcela corrigida por papéis prefixados, por exemplo, fechou o ano em 32,2% do total, sendo que o plano previa um intervalo entre 24% e 31%.

O governo tem como estratégia aumentar a participação dos prefixados no estoque. Assim, o Tesouro sabe previamente quanto terá de desembolsar para remunerar o investidor.

A meta do PAF 2009 para câmbio previa um intervalo entre 7% e 11% do estoque, e o resultado do ano foi de 6,56%. Isso também é positivo porque reduz a parcela da dívida sujeita a variações cambiais que o Tesouro não pode controlar. Já a parcela da dívida com vencimento a curto prazo (12 meses) terminou o ano em 23,63%. A meta previa intervalo entre 25% e 29%.

Ou seja, o endividamento se alongou.

Augustin destacou ainda que as diretrizes do PAF 2010 estão na mesma linha dos últimos anos: elevar a parcela prefixada da dívida e reduzir a atrelada à Selic, aumentar o prazo médio do estoque, aperfeiçoar a dívida externa e ampliar a base de investidores.

OIT: mundo vive desemprego recorde

DEU EM O GLOBO

Em 2009, 212 milhões ficaram sem trabalho e 1,5 bilhão em emprego precário

Vivian Oswald

BRASÍLIA. No rastro da maior crise desde 1929, o mundo registrou no ano passado o maior número de desempregados: 212 milhões. É mais do que um Brasil de pessoas sem trabalho e um aumento sem precedentes de 34 milhões em relação a 2007. O percentual de trabalhadores com empregos vulneráveis (soma de trabalhadores familiares e por conta própria) no mundo supera 1,5 bilhão de pessoas, ou mais da metade (50,6%) da força de trabalho global.

Estima-se que o total de pessoas com empregos vulneráveis tenha aumentado em mais de 110 milhões em 2009. O relatório diz ainda que o número de jovens desempregados subiu em 10,2 milhões em 2009 — a maior alta desde 1991 — e corresponde a um terço do contingente que foi parar na rua no período.

— Na hora em que o Fórum Econômico Mundial se reúne em Davos, fica claro que a prioridade política hoje é evitar que a recuperação econômica venha sem trabalho — diz o diretorgeral da OIT, Juan Somavia A OIT estima que em 2010 o desemprego ainda será uma pedra no sapato das economias globais, com mais três milhões de desocupados. O estudo aponta que, apesar de as economias terem dado sinais de reação em 2009, os mercados de trabalho não acompanharam a retomada no mesmo ritmo. Os países desenvolvidos e a União Europeia (UE) registraram as maiores altas na taxa de desemprego.

Na América Latina, desemprego deve cair

“O colapso de um banco de investimento americano em 15 de setembro de 2008 disparou a paralisia no sistema financeiro global que se transformou em crise global econômica e de empregos e tomou conta do mundo em 2009. A crise se espalhou rapidamente, debilitando as economias, reduzindo a produtividade das empresas e pondo milhões para fora do mercado de trabalho”, diz o documento.

Mas na América Latina o ano será auspicioso, com a taxa de desemprego caindo de 8,2% para 8%. Para o mundo, a projeção é de ligeira baixa: de 6,6% para 6,5%. A OIT assinala que 633 milhões de trabalhadores e suas famílias viviam com menos de US$ 1,25 por dia em 2008, e outros 215 milhões estavam em risco de cair na pobreza em 2009. A taxa de desemprego na América Latina em 2007 foi de 7% e no mundo, 5,8%.

Presidente do Banco de Venezuela se demite

DEU EM O GLOBO

Em Caracas, manifestações levam milhares de pessoas às ruas contra o governo, elevando tensão no país

CARACAS. Logo após o anúncio dos pedidos de demissão do vicepresidente e ministro da Defesa da Venezuela, Ramón Carrizález, e de sua mulher, Yuvirí Ortega, ministra para o Ambiente, anunciados na segunda-feira, o governo de Hugo Chávez sofreu uma nova baixa. Na mesma noite, Eugenio Vásquez Orellana, presidente do Banco de Venezuela — que pertencia ao grupo Santander e fora estatizado em julho passado — entregou o cargo, alegando problemas de saúde.

Analistas, porém, sugerem que Orellana, homem de confiança de Carrizález, tivera desentendimentos com o novo ministro da Economia, Jorge Giordani.

Ontem, o país, mergulhado numa crise política, assistiu ainda a novas manifestações de milhares de estudantes oposicionistas na capital, num protesto contra a repressão do governo e pela liberdade de expressão.

Estudantes marcharam até sede de TV estatal

Os maus resultados do Banco de Venezuela nos seis primeiros meses de gestão estatal, quando o faturamento caiu 25% em comparação ao mesmo período no ano anterior, de administração privada, também teriam pressionado Orellana a deixar o cargo.

A nova demissão ocorreu no mesmo dia em que dois estudantes morreram em consequência de manifestações na região de Mérida. Na noite de segunda, em conflitos durante protestos de apoio ao canal a cabo RCTV Internacional — retirado do ar junto com outros cinco canais por ordem do Estado no fim de semana — Yosinio Carrillo Torres, de 15 anos, chavista, foi morto a tiros, e o oposicionista Marcos Rosales, de 28, por ferimentos causados por explosivos.

Outras 16 pessoas teriam se ferido nos embates.

Num movimento unificado, milhares de universitários marcharam ontem até as imediações da sede da estatal Venezulana de Televisão — enquanto simpatizantes de Chávez também foram às ruas em apoio ao presidente. Em universidades de todo o país, as aulas foram suspensas.

Roderick Navarro, presidente da Federação de Centros Universitários da Universidade Central da Venezuela, e representantes de outras instituições se reuniram com a direção da TV e pediram que a emissora reduza o tom agressivo de seus programas, que incitariam a violência.

Ao jornal local “El Universal”, Navarro declarou esperar que, com a reunião, “não se polarize mais o país; que não se diga que o problema da insegurança é da oposição ou do chavismo.

A insegurança é um problema de todos”.

Dezenas de policiais bloquearam as vias de acesso à TV para evitar confusões. Empunhando bandeiras venezuelanas, os estudantes gritavam que queriam “liberdade de expressão” e diziam “não à violência”, referindo-se à suspensão da RCTV e às mortes dos jovens. Estudante de medicina, Nélson Martínez, de 19 anos, trazia nas mãos uma bandeira desbotada, representando “a morte da democracia”.

— Durante este governo, se perderam as liberdades. Marcho não só por causa do fechamento de um canal, mas também pela quantidade de direitos que perdemos — afirmou.

Mérida, no oeste do país e cenário dos embates que resultaram na morte dos estudantes na segunda, amanheceu sob forte patrulhamento da Guarda Nacional. Quatro promotores do Ministério Público foram designados para investigar as circunstâncias dos crimes. Numa declaração polêmica, governador do estado, Marcos Díaz Orellana, culpou os “contrarrevolucionários” pelo clima de violência na região e se disse disposto a defender o processo liderado por Chávez “até com a própria vida, se necessário”.

— Esses fatos (as mortes) não foram fortuitos, mas ações desenhadas por setores da contrarrevolução que tentam gerar um clima de violência — disse, afirmando que a oposição se vale dos universitários para combater o Estado.

Chávez ataca França, que criticara suspensão de canais

A suspensão do sinal da RCTV também continuou gerando controvérsia ontem. O ministro de Obas Públicas, Diosdado Cabello, também à frente da Comissão Nacional de Telecomunicações (Conatel), que tirara as emissoras do ar, foi a público declarar que, por trás das reclamações dos proprietários das TVs, “só está o bolso, a única parte que lhes dói”. Segundo fontes ligadas ao governo, divergências com Cabello teriam sido o estopim para o pedido de demissão do vicepresidente Carrizález, que discordava do cerco à RCTV.

— Pergunto-me se o dinheiro de ricaços vale a vida de um menino de 15 anos — disse, referindo-se à morte do estudante governista, cuja culpa atribuiu somente à “ultradireita venezuelana”.

Já o presidente Chávez atacou o governo francês, que na véspera manifestara “preocupação” com a suspensão do sinal das seis emissoras e pedira à Venezuela que revogasse imediatamente a medida: — Que os EUA o façam, não seria estranho; o estranho é ainda não terem feito. Mas não sei por que o governo de Nicolas Sarkozy tem que se meter em coisas internas que, além disso, estão apegadas à lei.

"Marcho não só por causa do fechamento de um canal, mas pelos direitos que perdemos"

Nélson Martínez, estudante