sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Reflexão do dia – Fernando Henrique Cardoso

“O outro alvo da distorção petista se refere à insensibilidade social de quem só se preocuparia com a economia. Os fatos são diferentes: com o real, a população pobre diminuiu de 35% para 28% do total. A pobreza continuou caindo, com alguma oscilação, até atingir 18% em 2007, fruto do efeito acumulado de políticas sociais e econômicas, entre elas o aumento do salário mínimo. De 1995 a 2002 houve um aumento real de 47,4%; de 2003 a 2009, de 49,5%. O rendimento médio mensal dos trabalhadores, descontada a inflação, não cresceu espetacularmente no período, salvo entre 1993 e 1997, quando saltou de R$ 800 para aproximadamente R$ 1.200. Hoje se encontra abaixo do nível alcançado nos anos iniciais do Plano Real.”


Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente, no artigo “Sem medo do passado”, domingo, em vários jornais do Brasil)

O Leviathan do PT: Roberto Freire

DEU NO BRASIL ECONÔMICO

Em linhas gerais, diz-se que um Estado é democrático quando controlado pela sociedade civil, por meio de suas instituições, com destaque para uma imprensa livre e atuante, vigindo rigorosa separação entre os poderes, em que o Legislativo e o Judiciário fiscalizam a ação do Executivo e zelam pela aplicação dos preceitos constitucionais.

Estado totalitário é o que controla a sociedade, por meio da cooptação de segmentos sociais à sua lógica de reprodução ampliada do poder político, em um ambiente onde é vital a submissão dos meios de comunicação de massa, domínio da estrutura econômica e crescente intrusão na vida do cidadão comum.

O que o Estado totalitário almeja é que a sociedade se realize nele. Já o Estado democrático é uma realização da sociedade. Essa distinção é básica, mas fundamental.

Ao que parece, estamos assistindo, no Brasil, aos albores de um Estado totalitário, como deixa antever o documento "A grande transformação", que servirá de base ao 4º Congresso Nacional do PT e elemento definidor do programa da candidata Dilma à sucessão presidencial, em outubro.

Pelo que se pode perceber desse documento é que se trata de um elemento a mais de um processo lento e insidioso de crescente intromissão do Estado na esfera da sociedade civil, que o atual governo vem tornando cada vez mais claro.

Ao ocupar todos os espaços possíveis de articulação autônoma da sociedade, e em seu nome, por meio de conferências nacionais e fóruns, estabelece seus próprios pressupostos de um tipo de Estado que tudo atrai a seu seio gentil, além de desrespeitar a soberania do Legislativo e do Judiciário.

Seu "modelo de desenvolvimento", com claras características de capitalismo de Estado, tem a mesma lógica do imposto pela ditadura militar, assentada na crescente estatização da economia e na criação de conglomerados associados ao Estado, fortemente subvencionados pelos bancos públicos.

Esta a lógica do assim chamado "Consenso de Pequim", o contraponto ideológico do "Consenso de Washington".

Por trás da linguagem pretensamente de "esquerda", buscando ressaltar o caráter indutor do desenvolvimento, esconde-se a possibilidade de assunção de um Estado totalitário.

É que, em vez de regular e garantir um ambiente favorável ao desenvolvimento da economia, com transparência e eficiência, tenderemos a uma máquina de gastar dinheiro, ineficiente, corporativizada, presa aos interesses de grupos encastelados em sua estrutura.

Ao contrário de se criar as condições que garantam a equidade, estabelecem-se mecanismos de manutenção das desigualdades entre os agentes econômicos, políticos e sociais ao beneficiar determinados estratos, em função, unicamente, do cálculo político de perpetuação do poder, em detrimento da efetiva democratização da sociedade, em função de sua crescente autonomia frente ao Leviathan do PT.

Não por outro motivo, o "condottiere" da Venezuela, o coronel Chávez, o melhor representante desse tipo de Estado, em nosso continente, já declarou publicamente seu voto para Dilma, por ver nela a melhor representante do projeto que defende.

Roberto Freire é presidente do PPS

Merval Pereira:: Psicopata político

DEU EM O GLOBO

Se as marchinhas de carnaval falando sobre os panetones do Arruda já previam que sua excelência seria o principal personagem da folia em vários cantos do país, sua prisão veio dar um toque dramático a esta tragédia da política brasileira. Não é todo dia que um governador de Estado, principalmente o da capital do país, vai em cana. Na verdade, Arruda inaugurou essa possibilidade, até hoje uma ameaça implausível, o que representa uma mudança de qualidade na Justiça brasileira que pode ter reflexos na política.


Por isso, é estranhável a reação do presidente Lula, preocupado com a sorte de Arruda e considerando que não é bom para a classe política que um governador vá preso. Ao contrário, a prisão de Arruda, mesmo que seja por poucas horas, é um avanço democrático. O que Lula faz, mais uma vez, é defender a impunidade dos políticos, como fez com os mensaleiros e com os aloprados do PT.

A maneira arrogante e dissimulada com que Arruda, agora governador afastado do DF, continuava a exercer o poder em Brasília, controlando a Câmara Distrital às custas dos votos dos deputados envolvidos com ele nos escândalos de corrupção, e o cinismo com que tratava as denúncias, demonstravam não apenas que ele tinha certeza de que era inatingível pela lei das probabilidades que regia a política nacional, mas que estávamos lidando com um psicopata político.

No seu pedido de afastamento do cargo, ainda ontem, diante da prisão decretada, Arruda ainda insistia na fantasia de que é ele a vítima de uma armação política de adversários e que estava limpando a administração pública.

Essa distorção da personalidade já havia surgido em 2001, no escândalo da violação do painel eletrônico do Senado Federal. Arruda negou, depois admitiu a culpa, chorou, atribuiu sua atitude à arrogância do sentimento do poder absoluto e prometeu se emendar.

Apresentou suas desculpas quase que pessoalmente aos eleitores do Distrito Federal e voltou consagrado ao poder.

Jogou fora uma carreira política que poderia ter sido exitosa, pois tinha as qualidades do bom administrador, neutralizadas pelo desvio de personalidade e pela ganância financeira desmedida.

A maneira mafiosa com que governava foi revelada pelos filmes que seu secretário Durval Barbosa gravou clandestinamente, provas da corrupção generalizada e da certeza da impunidade.

As imagens quase pornográficas mostraram para todo o país a disseminação da bandalheira em seu desgoverno, mas sobretudo a apodrecida política partidária brasileira.

O desmonte do esquema respingou diretamente no seu partido, o DEM, que, apesar de tê-lo forçado a deixar a legenda, não teve força para expulsá-lo, tamanhas eram as influências de seu poder político.

Ao ponto de até ontem filiados do DEM ainda participarem do governo do Distrito Federal.

O pedido de intervenção federal feito pelo procuradorgeral da República, mesmo que não venha a se viabilizar, mostra o nível de podridão a que chegou a política no Distrito Federal nos últimos anos, dominado pelos grupos de Roriz e Arruda, em disputa permanente com golpes abaixo da linha da cintura.

Além de escutas clandestinas na Câmara Distrital e tentativa de suborno de uma testemunha, o governador afastado usava até o limite seus recursos de poder para tentar se manter imune a punições.

Na tentativa de obter apoios políticos, ele ousou até chantagear os deputados federais.

Nos últimos dias, expediu ofícios convocando de volta todos os servidores do Distrito Federal requisitados para trabalhar na Câmara dos Deputados, a maior parte em gabinetes dos parlamentares.

Junto com a convocação, o governo do Distrito Federal insinuava que os casos seriam resolvidos individualmente em conversas de Arruda com o parlamentar interessado.

O presidente da Câmara, Michel Temer, foi procurado por diversos deputados com queixas sobre o procedimento do ainda governador do Distrito Federal.

Mas não é provável que esse escândalo prejudique mais do que já prejudicou a campanha do candidato do PSDB à sucessão de Lula, embora seja previsível que aumenta a inviabilidade de o DEM indicar o vice na chapa oposicionista.

O tema da corrupção na política não deve animar muito a campanha presidencial, pois todos os partidos que contam na sucessão, em maior ou menor grau, estão envolvidos em casos. E isso diz muito das misérias do nosso sistema políticopartidário.

Vai ficar mais difícil, isso sim, fechar um acordo eleitoral com o grupo do ex-governador Joaquim Roriz, que voltará a ser o grande nome da política do Distrito Federal.

Berço político de Arruda, transformado em seu adversário e algoz através de Durval Barbosa, Roriz estará cada vez mais exposto à análise do eleitorado, e tem um telhado de vidro que não resiste a muita publicidade.

O fato de que vários mensaleiros do PT continuam na vida pública, livres, leves e soltos, e que muitos deles estejam assumindo postos relevantes tanto na Executiva do partido quanto na coordenação da candidatura da ministra Dilma Rousseff, inviabiliza uma campanha mais agressiva contra o chamado “mensalão do DEM”, que Arruda protagonizou ainda como a principal liderança política do partido.

Enquanto não foi desmascarado, José Roberto Arruda parecia um político tão promissor que era disputado tanto pelo governo quanto pela oposição. Já estão correndo na internet filmes e fotos que se neutralizam.

De um lado, há um vídeo em que o governador paulista, José Serra, aparece dizendo, risonho, que quem votasse em um careca ganharia dois, isso nos tempos em que Arruda aparecia como boa opção até para ser vice na chapa tucana.

Mas há também uma foto em que Lula aparece todo sorridente ao lado do governador do DF, segurando uma camisa de futebol com o nome de Arruda estampado.

Cenas de um país que não tem um sistema partidário organizado e que vive mais de nomes do que de programas e projetos.

Fernando de Barros e Silva: Na cama sem Madonna

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

"Dependo do povo, irei se o povo quiser", disse o governador José Serra, ao responder à cantora Madonna se era verdade que ele voltaria a morar na capital do país. A pergunta da velha senhora do pop exprime uma curiosidade que é menos dela do que do planeta tucano.

Em suas noites mal dormidas, Serra já se decidiu -"irei se o povo quiser" equivale a dizer que, sim, disputará a sucessão de Lula.

Segundo a imagem de um tucano próximo do governador, uma eventual desistência a partir de agora seria como puxar o breque de mão de um carro em velocidade. O abandono da corrida teria consequências indeléveis para a biografia de Serra -não há mais como fazê-lo sem ter na testa o carimbo de "covarde".

As especulações em torno da indefinição da candidatura tucana exprimem uma situação paradoxal: Serra lidera as pesquisas, mas até seus adeptos admitem o favoritismo da segunda colocada, a ministra Dilma Rousseff. Essa é hoje a sensação dominante, apesar das ressalvas de praxe de que a disputa mal começou e terá lances inesperados.

Há um segundo paradoxo a atazanar o tucano: em 2002, quando a economia desandava e a popularidade de FHC se esvaía, Serra era o candidato da situação; hoje, quando a economia dá sinais de exuberância e Lula vive dias de glória, Serra é o nome da oposição. Lá atrás, a mágica da "continuidade sem continuísmo" não encantou o povo. Agora, Serra foge do embate plebiscitário que o PT e Dilma perseguem.

A intervenção recente de FHC, jogando lenha na comparação entre os governos, contrariou demais a Serra. O ex-presidente deveria se preocupar menos com a própria biografia e mais com o país -frase ouvida no entorno do governador.

FHC, por sua vez, está certo de que seu legado (e o do PSDB) foi aviltado pelo desprezo que Serra e Alckmin lhe dedicaram em 2002 e 2006. Vê um erro histórico na ingratidão e reage ao abandono dos próprios aliados. Os tucanos hoje não falam a mesma língua. Isso torna a presença de Aécio Neves na chapa mais difícil. E necessária.

Serra já monta palanque nos Estados

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Nos últimos dias, governador se reuniu com os prefeitos de Curitiba e Teresina e com lideranças estaduais

Julia Duailibi

Discretamente, e cedendo a pressões do próprio partido, o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), aumentou as articulações para montagem dos palanques tucanos que darão sustentação à candidatura à Presidência. Numa espécie de sabatina, recebeu nos últimos dias quatro pré-candidatos tucanos aos governos estaduais. Somente nesta semana, reuniu-se com os prefeitos de Curitiba e de Teresina para tratar dos palanques no Paraná e no Piauí. Na semana passada, encontrou as principais lideranças tucanas em Alagoas e no Pará.

Anteontem, Serra despediu-se da cantora Madonna e recebeu, logo em seguida, o prefeito de Curitiba, Beto Richa. Os dois se reuniram no gabinete, no Palácio dos Bandeirantes, para discutir o palanque tucano no Paraná, um dos Estados onde está o maior nó para o PSDB.

Além de ter dois pré-candidatos ao governo - Richa e o senador Álvaro Dias -, o partido trabalha para conseguir, pelo menos, a neutralidade do senador Osmar Dias (PDT), pré-candidato cortejado pelo PT para dar palanque à ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. O encontro entre Serra e Richa, no entanto, consolidou a tendência de lançar o prefeito candidato.

A entrada de Serra na montagem dos palanques estaduais é uma demanda dos aliados, para quem se tornou essencial a participação dele, de modo mais incisivo, nas negociações. O raciocínio é que o governador não precisa dizer oficialmente que é candidato, mas pode ajudar a amarrar as articulações regionais, dando mais peso aos acordos. Os tucanos usam como argumento o fato de o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva participar ativamente da montagem dos palanques de Dilma, que, lembram, também ainda não disse ser candidata.

O presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), minimiza as pressões dos aliados e disse que Serra "está fazendo o que deve fazer". "Ele tem se encontrado com lideranças de vários Estados", afirmou.

O encontro entre Serra e Richa serviu para calibrar o discurso de união no Paraná a fim de evitar que uma decisão favorável ao prefeito leve a um racha interno. Antes de ir a São Paulo, Richa se encontrou com o presidente do partido e com Álvaro Dias em Brasília. Os três debateram as questões da candidatura no Estado, mas só Richa acabou seguindo para o Palácio dos Bandeirantes expor pessoalmente os fatos ao governador Serra. No encontro de quarta, foi ponderada a situação do diretório estadual, que estaria fechado com o prefeito de Curitiba - reunião no próximo dia 22 deve chancelar essa posição. "Passei o quadro real. Mas a decisão é deles, em São Paulo", rebateu Álvaro Dias.

Depois de receber Richa, Serra reuniu-se no mesmo dia com o prefeito de Teresina, Sílvio Mendes. Pré-candidato ao governo do Piauí, o prefeito trabalha para costurar uma aliança de oposição, formada por PSDB, DEM e PPS, com o objetivo de enfrentar o candidato PT, do governador Wellington Dias.

"O palanque forte não é um projeto do Serra, mas é um projeto para o País", afirmou o prefeito. "O governador tem acompanhado os fatos. Mas São Paulo precisa da presença dele", completou Sílvio Mendes.

OUTROS ESTADOS

Na semana passada, Serra encontrou-se com o governador de Alagoas, Teotônio Vilela, pré-candidato do PSDB à reeleição. Na quarta-feira, esteve com o pré-candidato ao governo do Pará, Simão Jatene, e o senador Flexa Ribeiro - duas das principais lideranças tucanas no Estado. Conversou com os dois sobre a questão regional, onde há dificuldade de composição entre o PT, da governadora Ana Júlia Carepa, e o PMDB, de Jader Barbalho. Os tucanos trabalham para amarrar o PMDB na chapa do PSDB, que já está fechado com o PPS - Jatene também conversou com Serra sobre a pauta ambiental para a eleição deste ano.

Candidatos 'desfilam' no carnaval

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Festa servirá de primeiro teste de popularidade para presidenciáveis; só Marina fugirá da folia

Clarissa Oliveira


A menos de cinco meses do início da campanha eleitoral, os principais pré-candidatos ao Palácio do Planalto vão transformar o carnaval deste ano em seu primeiro teste de popularidade. A ordem é intensificar a agenda de folia e garantir exposição nas maiores e mais tradicionais festas do País. Na lista de destinos, estão Recife, Pernambuco e Rio.

Decidida a herdar os votos do eleitorado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), tinha até ontem a agenda mais intensa entre os pré-candidatos. Ela abrirá a maratona no sábado, no Recife, aceitando convite do governador Eduardo Campos (PSB) para participar do Galo da Madrugada, maior bloco carnavalesco do mundo. De lá, segue para Salvador, no camarote com o governador Jaques Wagner (PT). Por fim, irá ao Rio, na companhia do governador Sérgio Cabral Filho (PMDB).

Como os três Estados são governados por partidos da base aliada, o comando da campanha de Dilma avalia que essa será a oportunidade para preparar o terreno para o lançamento da pré-candidatura. A ministra será oficializada como o nome do PT para a disputa presidencial logo após o carnaval, no 4º Congresso da sigla, entre os dias 18 e 20 deste mês. De quebra, a agenda vai permitir estreitar as relações com o PSB e o PMDB, alvos estratégicos da política de alianças do PT.

"Dilma tem um estilo dela e não vai necessariamente sair sambando por aí. Mas ela com certeza saberá cantar um samba-enredo como ninguém", brincou o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel, membro da coordenação de campanha da ministra.

Ontem, circulava no PT a informação de que Dilma teria sido convidada também para o carnaval de São Paulo, Estado governado pelo pré-candidato tucano José Serra (PSDB). Mas o desfile no Sambódromo do Anhembi ficou fora da agenda.

Se as fortes chuvas que atingem São Paulo há mais de um mês derem trégua, Serra deverá seguir um caminho semelhante ao da rival petista. O tucano confidenciou a aliados que está de olho nos convites que recebeu para prestigiar o carnaval no Recife e em Salvador.

Serra vem sendo pressionado pelo tucanato a buscar exposição no Nordeste. O governador se mantém na dianteira nas pesquisas ? no último levantamento CNT/Sensus, ele tinha 33,2% das intenções de voto, enquanto Dilma contabilizava 27,8%. Mas a petista disparava para 38% na região Nordeste, onde tucano tinha 25,4%.

Não está descartada a possibilidade de Serra aparecer no Rio. Ainda assim, o governador deixou claro a aliados que só sairá de São Paulo se estiver certo de que as chuvas não serão problema durante o feriado. Não quer correr o risco de ser fotografado em meio a confetes e serpentinas, se houver qualquer perigo de enchente ou alagamento em seu Estado. Se a previsão for de chuva forte, a agenda deverá se restringir ao Anhembi.

CIRO

Se Serra optar por não viajar, quem poderá fazer companhia a Dilma no Galo da Madrugada é o deputado Ciro Gomes (PSB-CE). Ele aceitou o convite de Eduardo Campos e garantiu que estará no Recife no sábado. De lá, ele segue para o Rio, onde costuma passar o carnaval ao lado de sua mulher, a atriz Patrícia Pillar.

A única exceção ficou por conta da senadora Marina Silva (PV-AC). Conhecida por sua religiosidade, ela avisou que passará o feriado em casa, em Brasília, com a família. Disse que nunca foi de pular carnaval e não vai mudar de comportamento agora que virou candidata. "É questão de coerência", disse o presidente do PV do Rio, Alfredo Sirkis, que planeja festejar com o ex-ministro da Cultura Gilberto Gil, em Salvador.

O show e o projeto poder:: Rolf Kuntz*

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Boneca de ventríloquo? Nem sempre. Nenhum ventríloquo, a não ser por gozação, teria chamado Governador Valadares de Juiz de Fora duas vezes na mesma visita. Nem teria mencionado o ambiente como "ameaça ao desenvolvimento", especialmente em Copenhague durante a conferência do clima. Também não teria respondido a uma repórter de forma truculenta, usando com ar de superioridade a expressão "minha filha". Tudo isso é Dilma Rousseff na sua mais autêntica expressão. O problema não é falta de carisma nem de liderança. A escassez é de atributos mais básicos. Também é puro Dilma Rousseff o desafio lançado na terça-feira: "Se quiserem, vamos comparar número por número, obra por obra, casa por casa, escola por escola, emprego por emprego."

Partindo de Lula, esse desafio seria apenas mais uma esperteza, rasteira como tantas outras. Na boca da ministra, ganha um tom diferente: ela parece acreditar na relevância e no valor informativo desse confronto de números e de obras. Também essa crença é indicativa do padrão da Mãe do PAC.

A comparação relevante é outra, mas não é assunto para palanque nem proporciona grande novidade ao público razoavelmente informado. O crescimento econômico do período Lula simplesmente não teria ocorrido sem o governo anterior - de fato, sem os dois governos anteriores.

A economia brasileira foi reformatada entre 1994 e 2002. Nenhum avanço teria ocorrido a partir de 2003, se não se tivesse eliminado a hiperinflação e não se houvessem criado as bases para uma política monetária eficiente e para um controle maior das contas públicas.

Tudo isso é bem conhecido e realizações desse tipo não são comparáveis com números de obras e de empregos. São condições para a execução sustentável de programas de obras e de criação de empregos.

O presidente Lula sabe disso. Evita reconhecê-lo, mas poderia ter contado essa parte da história à ministra Dilma, para instruí-la um pouco mais sobre os fatos. Ela tem um diploma de economista e essa conversa poderia trazer-lhe sugestivas lembranças da vida escolar.

Foram cometidos, é claro, alguns erros graves no governo de Fernando Henrique Cardoso. A valorização cambial prolongada foi um desses equívocos. Funcionou como âncora dos preços durante algum tempo, mas acabou prejudicando o equilíbrio externo. Economistas do governo confiaram demais na poupança estrangeira como fator de crescimento e o fizeram no pior momento, num mundo cheio de turbulências.

A crise cambial de janeiro de 1999 foi o preço desse erro. Mas a recuperação foi rápida e as inovações implantadas no mesmo ano - câmbio flutuante e metas de inflação - tornaram-se elementos essenciais da política econômica, juntamente com o compromisso do superávit primário. O presidente Lula manteve esse conjunto de instrumentos. A Lei de Responsabilidade Fiscal, aprovada em 2000, e a disciplina imposta a Estados e municípios, quando suas dívidas foram renegociadas nos anos 90, completaram o balizamento da política econômica.

Inovações desse tipo foram imensamente mais complicadas, em termos técnicos e políticos, do que qualquer realização a partir de 2003. Além do mais, a abertura da economia brasileira, no começo dos anos 90, a privatização de atividades típicas de mercado e a modernização da política do petróleo aumentaram a eficiência e a competitividade da produção. O sucesso do governo Lula - e isso inclui a redução da pobreza - foi um desdobramento dessas mudanças.

Quando se examina a história recente a partir desse ponto de vista, fica evidente o absurdo da comparação de obras e números, embora também os avanços na redução da desigualdade e na universalização do ensino fundamental tenham começado bem antes de 2003. As séries históricas do IBGE não deixam dúvida quanto a isso.

Alguns dos petistas mais articulados, como o recém-eleito presidente do partido, José Eduardo Dutra, falam em continuidade, prometem a manutenção das bases de uma economia saudável e desafiam os tucanos a detalhar seus planos de mudança. Esse é o desafio sério, não o da comparação estapafúrdia proposta pela ministra Dilma Rousseff. Mas o presidente Lula escolheu a ministra como candidata, embora nada, em seu currículo administrativo ou político, a recomende para o cargo. Que plano de poder dá sentido a essa escolha? Eis um tema de reflexão para o eleitor preocupado com a democracia.

*Rolf Kuntz é jornalista

Prós e contras - Editorial

DEU EM O GLOBO

Três décadas de existência e quase oito anos no poder em Brasília fazem do PT uma legenda de peso na história republicana do país.

Não se pode negar que é positivo o balanço de todo esse tempo de estrada.

Mas ele pode ser mais positivo ou menos, a depender do ângulo pelo qual se avalie o partido.

Assunto encharcado de paixões, contaminado de ideologia, a política é terreno acidentado para quem busca visões equilibradas. Mas é possível fazer um balanço de lucros e perdas. E na coluna dos lucros do PT, está a subordinação ao jogo democrático — embora, por ser uma confederação de frações de esquerda, haja na legenda quem considere a democracia representativa apenas um estágio para a chegada ao “paraíso socialista”. Golpista e autoritária, a visão é minoritária na legenda, diga-se. Além disso, o estado democrático de direito tem antídotos para conter quem deseja derrubálo na marra.

Um salto histórico do PT se confunde com a percepção do seu único líder de expressão, Lula, de que jamais chegaria ao Planalto apenas com os 30% de votos militantes que a legenda costumava atrair. Lula, então, aposentou o discurso raivoso de inspiração revolucionária, abriu o partido a alianças e, ponto culminante da metamorfose — a primeira entre tantas que viriam —, assumiu, por meio da Carta ao Povo Brasileiro, na campanha de 2002, o compromisso de manter as bases da economia de mercado, sem calotes e outros delírios. Foi decisãochave para seu êxito no Planalto.

Lula e PT amadureceram, mas, ao negociarem alianças e apoios, derraparam no clientelismo, na fisiologia.

Como reconheceu o próprio Gilberto Carvalho, chefe de gabinete de Lula, conhecedor dos meandros da legenda, o PT não ficou livre sequer da corrupção, da qual o caso do mensalão é símbolo.

Patrocinador, também, de avassalador aparelhamento da máquina pública, o PT adquiriu vícios de partidos tradicionais, e assim deu sua contribuição para o perigoso descrédito da sociedade na política.

Portanto, também é responsabilidade da legenda trabalhar pela limpeza da vida pública.

Uma faceta positiva desses 30 anos é o fato de a esquerda, ao passar pela experiência de administrar o governo federal, aprender que as velhas fórmulas salvacionistas, se são inadequadas em geral, jamais funcionarão num país com o tamanho e complexidades do Brasil.

Prova deste saudável entendimento é a cúpula do partido rejeitar propostas esquerdizantes para o programa de governo de sua candidata.

O fim do dogma da infalibilidade petista e a dessacralização da esquerda são positivos para a democracia brasileira.

FH diz que Dilma é 'autoritária' e 'dogmática' em entrevista a jornal americano

DEU EM O GLOBO

" Ela é uma pessoa muito dura e autoritária”

" Tem uma visão ultrapassada, a favor de uma maior interferência do Estado (na economia) "

" Provavelmente (Dilma seria mais próxima de Chávez) "

RIO - Em um novo capítulo da troca de farpas entre PT e PSDB, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso classificou a ministra Dilma Rousseff, pré-candidata à sucessão presidencial, como uma pessoa "dura", "autoritária" e "dogmática" . A declaração foi feita ao colunista Andres Oppenheimer e publicada nesta quinta-feira no site do jornal americano "The Miami Herald" .

"Não acho que Dilma seria assim (como Lula), porque ela é mais - talvez isso seja um pouco duro - dogmática. Ela tem uma visão ultrapassada, a favor de uma maior interferência do Estado (na economia)", disse FH, segundo o artigo, assinado por Oppenheimer, e que ganhou destaque na primeira página do site.

Na entrevista, o ex-presidente diz ainda que "o coração de Dilma é mais próximo à esquerda". Perguntado se na presidência a ministra poderia se aproximar de Hugo Chávez, o tucano respondeu afirmativamente. Mas destacou que a existência de "instituições fortes" no Brasil serviria de "contrapeso".

"Provavelmente (Dilma seria mais próxima de Chávez). Ela pode querer, mas a liderança de outros grupos políticos, a liberdade de imprensa, empresas fortes, universidades, tudo isso funciona como um contrapeso. Mas, tendo dito isto, o coração de Dilma é mais próximo da esquerda", disse FH segundo o colunista.

O articulista destaca que Dilma terá que se inclinar mais para o centro se quiser vencer, assim como Lula fez em 2002.

O colunista apresenta FH como o arquiteto da recuperação econômica do país e uma das vozes da oposição mais respeitadas. O texto destaca que nos últimos meses "Lula tem desfilado com Dilma pelo país inaugurando obras, esperando que seus 80% de popularidade e a expectativa de crescimento de 5% da economia brasileira irão beneficiar a candidatura da ministra".

Ainda segundo o autor do artigo, Fernando Henrique disse não acreditar que Dilma seria manipulada por Lula.

"Não acho que alguém que suba ao poder irá permitir que alguém o manipule. Mas, também pelas características dela. Ela é uma pessoa muito dura e autoritária".

" Dilma Rousseff não tem qualquer experiência de liderança. Não foi governadora, prefeita, nada. Acho difícil que as pessoas confiem em alguém que é um funcionário público "

Na entrevista, FH afirma que é possível que Dilma suba nas pesquisas , já que o "presidente Lula acelerou o início de sua campanha, e a oposição ainda não escolheu oficialmente seu candidato". O ex-presidente, no entanto, afirma que, apesar deste eventual crescimento, no entanto, "as coisas irão mudar" quando os eleitores forem às urnas, devido à falta de experiência da ministra em cargos eletivos.

"Dilma Rousseff não tem qualquer experiência de liderança. Ela nunca foi líder. Não foi governadora, prefeita, nada. Acho difícil que as pessoas confiem em alguém que é um funcionário público, que não é um líder, enquanto no outro campo você tem líderes com um histórico comprovado".

Desde o fim de semana, Fernando Henrique e integrantes da equipe de governo Lula travam verdadeira batalha verbal para comparar os feitos entre os dois governos Em artigo publicado domingo no GLOBO e no "Estado de S.Paulo", Fernando Henrique disse que o presidente Lula "inventa inimigos" e "enuncia inverdades". No dia seguinte, subiu o tom das críticas à ministra Dilma, afirmando que ela ainda não inspira confiança. A petista reagiu e, sem citar FH, desafiou a oposição a comparar os governos.

Líderes petistas comemoraram, por sua vez, a entrada do tucano no ringue da disputa presidencial. E parlamentares da oposição reforçaram o contra-ataque de Fernando Henrique, avisando que não ficarão mais acuados. Na quarta-feira, o PSDB usou o Twitter para fortalecer o coro tucano contra o governo Lula e Dilma. "Principal programa da Rede de Proteção Social tucana, o Bolsa Família de hoje nada mais é do que o Bolsa Escola de ontem", afirmava um dos seis recados deixados aos 806 seguidores registrados até quarta-feira no Twitter do partido.

Pela quinta vez oposição aciona TSE contra Lula e Dilma por campanha antecipada

DEU NO PORTAL DO PPS

Freire: A justiça precisa barrar este desrespeito ao nosso regime de leis.

William Passos

A oposição protocolou nesta quinta-feira nova representação contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e contra a ministra Dilma Roussef que voltaram a fazer campanha eleitoral antecipada esta semana.

Representantes do PPS, DEM e PSDB entregaram no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) uma representação onde pedem a punição do chefe do Executivo com multa que varia de R$ 5 mil a R$ 25 mil.

Na última terça-feira, Lula falou a uma plateia de moradores que assistia a seu discurso no Norte de Minas Gerais que se a oposição ganhar as eleições de outubro o Brasil retrocederá.

Em um dos trechos da ação, os partidos alegam que "a principal razão da viagem não era outra senão a de divulgar que está trabalhando para eleger o seu sucessor".

Além disso, Lula disse que vai trabalhar para eleger sua sucessora.

“O presidente debocha abertamente da legislação e ultrapassa os limites do que é legal. Vamos, quantas vezes for preciso, acionar a justiça para barrar este desrespeito ao nosso regime de leis”, disse o presidente do PPS, Roberto Freire.

Prática recorrente

É a quinta vez que o TSE será acionado para apreciar a prática de crime eleitoral cometida pelo presidente da República e pela ministra Dilma.

A legislação prevê o início da campanha eleitoral para julho.

Os advogados dos partidos mencionam que Lula e Dilma teriam infrigido o artigo 36 da Lei 9.504/97. Eles apontam a prática de propaganda extemporânea durante os discursos feitos pelo presidente Lula na inauguração da barragem Setúbal, em Jenipapo (MG), e do campus de Araçuaí (MG), no dia 19 de janeiro.

Oposição vai ao TSE contra Lula e Dilma

DEU NO VALOR ECONÔMICO

Juliano Basile

Brasília - O DEM, o PSDB e o PPS ingressaram novamente no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, pré-candidata à Presidência da República pelo PT. Ambos são acusados de fazer campanha eleitoral antecipada, em viagens para a inauguração de obras.

Nessa nova representação, os partidos de oposição contestam discurso feito por Lula, durante inauguração de prédios na Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, em Teófilo Otoni, no interior de Minas Gerais. Em seu discurso, o presidente disse "que vai fazer muita força para eleger sua sucessora" e que vai intensificar as viagens pelo Brasil "até 31 de dezembro". "Até lá, a festa é minha", afirmou Lula.

Para a oposição, o discurso é "manifestação explícita do presidente em favor da ministra Dilma".
Os partidos afirmaram ainda que o verdadeiro propósito da viagem do presidente teria sido "propagandear que vai fazer a sua sucessão".

Ontem, o DEM, o PSDB e o PPS ingressaram com recurso contra a decisão do ministro substituto do TSE Joelson Dias. Ele julgou improcedente a representação proposta pela oposição contra o presidente Lula e Dilma com relação a discursos feitos, em 19 de janeiro, durante a inauguração da barragem Setúbal, em Jenipapo, e do Campus de Araçuaí, no interior de Minas.

Para o ministro, os discursos do presidente não indicaram a antecipação da campanha, pois, em nenhum momento, a ministra Dilma foi apresentada como a responsável pelas obras, ou como a "mais apta para a função pública".

No recurso, os partidos de oposição argumentaram que é evidente a intenção de Lula de mostrar aos eleitores que, ao votar em Dilma, eles vão garantir a continuidade de sua gestão. "A pretexto de fiscalizar as obras do chamado Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o presidente Lula terminou realizando propaganda com nítido caráter eleitoral em benefício da sua candidata de fato", diz o recurso apresentado.

Em defesa do presidente Lula, a Advocacia-Geral da União (AGU) tem argumentado que os partidos de oposição estão tirando os discursos do contexto e que, durante as inaugurações de obras, não houve menção à candidatura de Dilma. Para a AGU, Lula fala sobre obras, e não sobre a campanha.

O Banco Central e o mercado de câmbio:: Luiz Carlos Mendonça de Barros

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

O mesmo raciocínio que levou o BC a comprar dólares leva agora à necessidade de estar preparado para vender

Na edição da Folha do domingo passado, defendi em entrevista ao jornalista Toni Sciarretta a intervenção do Banco Central para administrar uma possível desvalorização do real nos próximos meses. A superposição de fatores externos e internos pode sustentar essa nova tendência, depois de mais de seis anos de fortalecimento quase ininterrupto da moeda brasileira.

Durante esse período, o Banco Central comprou várias dezenas de bilhões de dólares no mercado para evitar uma desvalorização ainda maior da moeda americana. Como as forças que agem dentro do tecido econômico criam, ao longo do tempo, mecanismos autônomos de compensação, a valorização do real levou a um aumento significativo do deficit na conta-corrente. Com o dólar barato, as exportações perderam vigor, as importações cresceram a taxas elevadas e os gastos dos brasileiros com viagens ao exterior explodiram. Além disso, as empresas internacionais com sede no Brasil aumentaram em muito suas remessas de dividendos.

O resultado final é que, em 2010, teremos uma necessidade de cerca de US$ 50 bilhões para equilibrar nossas contas externas, valor que, se for seguida a tendência, pode chegar próximo a US$ 90 bilhões em 2011. Nessas condições, para equilibrar o mercado de câmbio, será necessária uma entrada substantiva de capitais financeiros nos próximos dois anos.

Investimentos estrangeiros em ações brasileiras e em títulos de renda fixa passam a ser necessários para equilibrar a taxa de câmbio. Antes, esses investimentos criavam uma situação de sobra de dólares que o BC precisava retirar do mercado; agora, por conta de uma situação internacional de maior aversão ao risco, na ausência dessas entradas, poderemos ter uma situação de falta de dólares no mercado.

O mesmo raciocínio lógico que levou o BC a participar do mercado de câmbio comprando dólares leva agora à necessidade de estar preparado para vender dólares em dias de escassez. Não me parece que, ao aceitar essa possibilidade, estará o BC se comprometendo com a fixação de um valor para o real. Também não me parece que, ao aceitar intervir no mercado também como vendedor de dólares de sua reserva, estará nossa autoridade monetária rasgando os compromissos envolvidos no atual sistema de metas de inflação.Essas foram duas razões que o presidente Henrique Meirelles usou para rechaçar a possibilidade de vender dólares quando uma situação de escassez ocorrer. A sensibilidade da burocracia do BC brasileiro -inclusive de seus diretores nomeados- em relação à intervenção no mercado de câmbio sempre me pareceu exagerada. Além disso, sempre procuram caracterizar qualquer sugestão de interferência na formação da taxa de câmbio como vinda de mentes exóticas e irresponsáveis.

Para esses, sugiro a leitura de texto do dia 9 do site da Bloomberg. O presidente do banco central suíço, no meio da crise do euro que estamos vivendo, disse ao repórter: "Realmente compramos hoje euro no mercado para evitar a valorização do franco suíço. Afinal, as empresas suíças não podem sofrer porque a Grécia está em dificuldades e existe um movimento especulativo de curto prazo". Não me parece que se possa acusar o presidente do BC suíço de delírios desenvolvimentistas.

Intervenção nos mercados de câmbio é uma arte complexa e difícil, mas não um crime.

Luiz Carlos Mendonça De Barros, 67, engenheiro e economista, é economista-chefe da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo Fernando Henrique Cardoso).

Apagões do Lula: Deu galho na luz do Nordeste


DEU EM O GLOBO

Blecaute que desligou 30% da energia da região e afetou Norte foi causado por árvore

Gustavo Paul

BRASÍLIA - Um galho de árvore foi o estopim do apagão que desligou 30% da carga do Nordeste e 20% do Norte na tarde de quarta-feira e ainda atingiu parte do Centro-Oeste. A informação foi dada ontem pela assessoria da Eletronorte, estatal responsável pela linha de transmissão entre as cidades de Colinas e Miracema, no Tocantins.

Segundo a empresa, a copa dessa árvore entrou no campo magnético da linha de transmissão, passando a funcionar como uma espécie de para-raios. O fenômeno, que levou ao “fechamento da linha”, atraindo a energia para o galho, foi tão intenso que incinerou a árvore, causando o curto-circuito.

O fato ocorreu a cerca de cinco quilômetros da subestação de Colinas do Tocantins, distante 270 quilômetros da capital Palmas. A exemplo do que ocorreu no grande blecaute de novembro passado, uma série de eventos em cascata levou ao desligamento das três principais linhas de transmissão do país próximas à região: a Norte-Sul, a Norte-Nordeste e a Sudeste-Nordeste. As três interligam os sistemas elétricos brasileiros.

Segundo o secretário de Energia do Ministério de Minas e Energia, Josias Matos de Araújo, o Operador Nacional do Sistema (ONS) fez três tentativas para religar a linha de Colinas, sem sucesso. Na terceira tentativa, ocorreu a interrupção de um segundo circuito elétrico. Com a oscilação energética, o sistema foi desligado de forma automática e preventiva.

Um relatório do Ministério de Minas e Energia registra o blecaute às 14h52m de Brasília (13h52m nas regiões Norte e Nordeste, que não adotam o horário de verão). O sistema começou a ser religado aos poucos às 15h e foi totalmente restabelecido às 15h30m, ambos no horário de Brasília.

Ainda assim, o desligamento estendeu-se por três regiões num efeito-dominó. Foram cortados imediatamente 3.600 megawatts (MW) da energia destinada ao Nordeste, o que representa 30% da carga da região. Todos os estados tiveram consequências, mas de maneira diferenciada. Ao todo, segundo o ministério, 20% da população nordestina foram prejudicados.

'Mostra um desleixo grave’, afirma especialista

Na Região Norte, o corte foi de 260 MW, o equivalente a 20% da carga do Pará e de Tocantins, com prejuízos a 10% da população desses estados. O Centro-Oeste, que registrou um pico de luz no momento do apagão, perdeu apenas 1% da carga. O esquema de proteção, ao desligar a interligação Norte-Sul e SudesteNordeste, preservou o fornecimento das regiões Sudeste e Sul.

Os técnicos da Eletronorte passaram o dia de ontem percorrendo os 250 quilômetros de extensão da linha. Apesar de descobrir a origem do problema, a estatal ainda não sabe responder o que levou ao desligamento dos circuitos e ao efeito-dominó no sistema. Teoricamente, problemas eventuais com árvores não deveriam ter essa dimensão.

Para os técnicos do ONS, o blecaute não é considerado de gravidade, mas eles admitem que o desligamento dos três grandes linhões não é algo corriqueiro. O secretário de Energia prefere esperar o relatório do ONS sobre o caso, prometido para o dia 23 de fevereiro: — É claro que todo e qualquer desligamento preocupa o ministério, mas é preciso fazer uma análise dos dados.

A ocorrência de um terceiro apagão de proporções regionais em linhas de transmissão nos últimos três meses faz os especialistas levantarem um alerta sobre a situação da transmissão elétrica no país. O consultor Afonso Henriques Santos, ex-secretário de Energia do Ministério de Minas e Energia, reagiu com ceticismo diante da informação de que um galho causou o problema: — Se for isso mesmo, a manutenção da faixa de servidão dessa linha de transmissão (área livre sob a linha) pela Eletronorte é ridícula. É algo improvável. Mostra um desleixo grave, pois as árvores devem ser podadas ou tiradas do local. Esse fato revela a fragilidade do nosso sistema de transmissão.

Governo diz que apagões não estão relacionados

É o que também alerta o engenheiro Otávio Santoro, da consultoria de energia Indeco. Ele levanta a possibilidade de o aumento de linhas de transmissão no país nos últimos anos — o governo licitou 32 mil quilômetros desde 2003 — ter fragilizado o sistema.

— Algo não está certo e precisa ser reavaliado.

Estamos mudando as características da rede de transmissão e, por isso, pode estar ocorrendo um desbalanceamento da carga nas regiões Norte e Nordeste — afirma.

Ele cita o blecaute ocorrido em 8 de janeiro no Acre e em Rondônia, que teve duração de cinco horas e 17 minutos. A razão foi a falha no chamado sistema de proteção, problema semelhante que levou ao grande blecaute de 10 de novembro passado, que deixou sem luz 18 estados por quase quatro horas. Técnicos do setor consideram que, naquela ocasião, também houve falhas no sistema de proteção nas três linhas que interligam a usina hidrelétrica de Itaipu às regiões Sudeste e Centro-Oeste do país, no trecho IvaiporãItaberá. Até hoje, o governo não apresentou o relatório final sobre o apagão de 2009.

A sequência de eventos preocupa o procurador Marcelo Ribeiro de Oliveira, responsável pelo processo administrativo do Ministério Público Federal que investiga as causas do blecaute de novembro. Segundo ele, o problema evidencia que é preciso saber o quanto o sistema interligado é vulnerável.

— Até porque não dá mais para dizer que o sistema elétrico brasileiro é confiável — disse Oliveira, que espera para março o relatório técnico de universidades de São Paulo (USP) e do Rio (UFRJ) para verificar as razões do blecaute de dezembro e propor providências.

O analista Marcos Alves, da TreeTech, empresa especializada em linhas de transmissão, admite que o número de casos de grande proporção está “acima da média em um tempo relativamente curto”. Mas o secretário de Energia argumenta que os apagões ocorridos nos últimos três meses não estão relacionados entre si: — Eles ocorreram em regiões diferentes e têm características diferentes. Nosso sistema de transmissão tem desempenho de 99,95%. Ocorrem desligamentos quase todos os dias e o abastecimento não chega a ser prejudicado.

Em novembro, 18 estados às escuras

DEU EM O GLOBO

No início de 2010, Rondônia e Acre foram afetados

Grandes blecautes vêm ocorrendo com mais frequência desde o fim do ano passado, colocando em xeque a segurança do sistema elétrico brasileiro. Em novembro do ano passado, um apagão deixou 18 estados sem luz, afetando cerca de 60 milhões de pessoas. Os órgãos responsáveis aventaram várias hipóteses. Por fim, o Operador Nacional do Sistema (ONS) disse que o blecaute foi causado por três curtos-circuitos simultâneos, causados pela queda de raios.

Segundo o ONS, as descargas elétricas (curtos) ocorreram em intervalos de 13,5 milésimos de segundo, entre as subestações de Ivaiporã (PR) e Itaberá (SP), provocando o apagão, num caso considerado inédito. Mas, até hoje, o governo não apresentou o relatório final sobre o apagão de 2009.

Em janeiro, um novo blecaute deixou os estados de Rondônia e Acre sem luz por mais de cinco horas. Segundo a Eletronorte, houve falha no dispositivo de proteção de emergência, que manteria um mínimo de fornecimento de energia