quinta-feira, 27 de maio de 2010

Reflexão do dia - Fernando Henrique Cardoso


Valor: O senhor voltou a fazer essa cobrança em 2006, em uma carta aberta. A que o senhor atribui essa dificuldade do PSDB de se aproximar dos movimentos sociais e dos sindicatos?

FHC: " Não é uma dificuldade só do PSDB. É de todos os partidos. O que tinha ligação, que é o PT, perdeu também. Ele está próximo dos líderes sindicais. Os sindicatos perderam relevância na vida social brasileira. Já houve épocas em que os sindicatos mobilizavam, faziam greve. Não tem mais isso. O número de filiados caiu muito. O que ficou foi uma camada sindical, que se organizou muito ao redor da CUT e da Força Sindical. Quando fazem manifestação de massa é porque tem prêmio, tem sorteio de casa. Não é uma coisa politizada. Estávamos num horizonte pré-queda do muro de Berlim. Tinha uma movimentação diferente das massas. O mundo de lá para cá tomou outras características. "

Valor: E os movimentos sociais?

FHC: " Esses têm força. Mas quais? Tem o MST. E mais quais? A força das pastorais caiu muito. Quem tem força mobilizadora sem estar ligado ao aparelho do Estado, através dos convênios, das ONGs que recebem o recurso? Houve uma especialização da política, que se chama erroneamente de classe política. É muito desconectada do cotidiano. Não é só do sindicato, é em geral. A sociedade assiste ao espetáculo da política pela televisão, pelo jornal. Assiste de fora. "



(Fernando Henrique Cardoso, na entrevista no Valor Econômico, em 20/6/2008)

Distorções:: Merval Pereira

DEU EM O GLOBO

A eleição presidencial que definirá a sucessão do presidente Lula está polarizada de tal jeito entre os candidatos do PT e do PSDB que as negociações políticas estão ocorrendo de cima para baixo. As regionais obedecem mais que nunca à lógica nacional, com imposições de alianças muitas vezes traumáticas, como a do Maranhão, onde o PT está obrigando seus aliados históricos a apoiar Roseana Sarney, do PMDB. Ou a de Minas, onde o PT resiste a abrir mão da candidatura a governador para o PMDB.

Em estados em que o lulismo é hegemônico, como nos do Nordeste ou no Pará e no Amazonas, mesmo as dissidências locais se acomodam, enquanto a oposição mede palavras para ter chances na eleição.

Caso raro é o do senador Jarbas Vasconcellos, dissidente do PMDB, que vai para o sacrifício em Pernambuco para dar um palanque ao candidato José Serra mesmo tendo chances quase nulas de vitória.

A tendência de haver uma definição já no primeiro turno é cada vez mais acentuada, e uma das razões mais perversas é o controle dos dois partidos tanto do tempo de propaganda eleitoral quanto do financiamento das campanhas.

O risco de caminharmos para uma plutocracia, onde o dinheiro desequilibre as campanhas eleitorais, já não é mais neutralizado pelo já existente financiamento público, cujo principal item é a propaganda partidária pelo rádio e pela televisão.

A candidata do Partido Verde, Marina Silva, terá poucos minutos de propaganda eleitoral e só recebe tratamento igual ao dos candidatos de PT e PSDB por sua luz própria.

Um bom exemplo disso foram as pressões do Palácio do Planalto para inviabilizar alianças do PDT e do PCdoB com o PSB, que dariam tempo de televisão para a candidatura do deputado federal Ciro Gomes.

Tratada como uma operação de guerra, a campanha presidencial exibe uma opulência consentida e estimulada pelos grandes partidos, que concentram entre si os recursos de financiamentos privados e agora também tentam ampliar as alianças partidárias para dominar o maior tempo possível da propaganda eleitoral gratuita.

O uso da propaganda de rádio e televisão está tão distorcido que as alianças estão sendo fechadas com vistas ao tempo que cada partido tem, ficando longe as considerações programáticas.

O PTB de Roberto Jefferson aderiu oficialmente à candidatura tucana, e veio junto com sua má-fama política quase um minuto de televisão, e mais o direito ao programa anual de dez minutos que será exibido já este mês, sob a coordenação da equipe de marketing da candidatura de Serra.

Assim como no PMDB, onde algumas bases regionais apoiam Serra, alguns estados, como a Alagoas do senador Fernando Collor, apoiam a candidatura oficial de Dilma Rousseff, mas o que vale é o que a direção nacional decide.

Anteriormente aderira ao tucano o PSC, entregando mais alguns segundos de televisão.

Mas nesse pacote há o risco de vir o provável candidato ao governo do Distrito Federal Joaquim Roriz, a matriz de todos os escândalos que estão sendo revelados na capital.

Também o tempo de propaganda do PP está na alça de mira, sendo disputado tanto pelo PT quanto pelo PSDB.

Quando a certeza da vitória da candidata oficial era maior, a adesão do PP era considerada pule de dez.

A permanência do candidato oposicionista na frente das pesquisas eleitorais e, sobretudo, a possibilidade de seu presidente, o senador Francisco Dornelles, vir a ser o escolhido para vice de Serra, fez o PP mudar de posição, ficando entre a neutralidade e a adesão ao PSDB.

Hoje, com os dois candidatos empatados, mas com Dilma crescendo, o PP analisa a possibilidade de sair da neutralidade para voltar a fazer parte da base governista.

Mas ainda aguarda os desdobramentos da negociação do PSDB com Aécio Neves, embora, depois da atuação de Dornelles na alteração do texto do projeto Ficha Limpa, seja difícil que ele ainda venha a ser indicado vice na chapa tucana.

Por ora, a coligação de Serra dispõe de cinco legendas: PSDB, DEM, PPS, PSC e o PTB, com cerca de sete minutos de televisão, se somarmos aos tempos de cada partido o dos partidos sem candidato, que será dividido igualmente entre todos os candidatos.

A candidatura oficial é apoiada por uma coligação de PT-PMDB-PSB-PDT-PCdoB-PR e PRB e por isso terá um tempo de televisão maior, por volta de 11 minutos.

Toda essa mistura de letras, sem nenhum suporte ideológico ou programático, prepara uma crise institucional mais adiante, esteja quem estiver no governo.

A campanha eleitoral brasileira está baseada justamente no tempo de propaganda gratuita. Será durante o período eleitoral que os candidatos mostrarão seus programas aos eleitores.

Mas, antes disso, na chamada pré-campanha, os programas anuais de dez minutos e as inserções durante a programação são fundamentais para mexer nos números das pesquisas, como tivemos recentemente prova cabal com a subida da candidata oficial depois de ter sido ancorada ilegalmente pelo presidente Lula no programa partidário do PT.

O PSDB já esperava, e temia, esse pior cenário, no período entre maio e junho, quando foram apresentados os programas de televisão da maioria dos partidos que apoiam o governo.

Os programas do PSDB e de seus aliados DEM e PPS e agora PTB serão os últimos a serem transmitidos, próximo das convenções partidárias, no fim de junho, e a mesma dose de ilegalidade está sendo preparada, para tentar recuperar a vantagem perdida ou, pelo menos, neutralizar o crescimento de Dilma.

A campanha presidencial deste ano, possivelmente devido ao equilíbrio da disputa, está demonstrando que uma futura reforma política não pode deixar de rever essa legislação eleitoral.

Na coluna de ontem, troquei 1998 por 2006 na frase Em 1994, Fernando Henrique venceu por cerca de três milhões de votos, diferença que caiu para dois milhões em 2006

A joia da coroa :: Dora Kramer

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

À medida que vai se aproximando a hora de a onça beber água, as coisas vão ficando mais claras nas negociações de uma aliança entre PT e PMDB para a disputa do governo de Minas Gerais

Onde em tese há meses se trabalha por um acerto, impera o mais perfeito desacerto. E por que perfeito? Porque obedece a um roteiro muito bem delineado.

A ideia do PT sempre foi fazer uma aliança, mas de verdade nunca pretendeu entregar ao PMDB a candidatura ao governo e ficar com o papel subalterno das vagas de vice e uma cadeira ao Senado.

Por isso realizou prévias no Estado. Por isso, Fernando Pimentel assim que venceu a disputa interna disse o seguinte: "A próxima etapa é convencer o PMDB de que o melhor é o PT para governador."

A despeito da clareza, continuou valendo para todos os efeitos a regra de que a primazia seria do PMDB.

Naqueles dias conturbados o presidente Lula chegou a ameaçar com intervenção no diretório regional.

Hoje a conversa é outra. No Palácio do Planalto e alhures. Fala-se em "enquadrar" o PMDB, tido como um aliado voraz.

E a intervenção? "Lula falou em sentido figurado", diz um negociador da cúpula petista.

Passou-se a adotar (alegando ter sido sempre essa a norma acertada) o critério segundo o qual a decisão será tomada com base nas pesquisas de opinião: quem estiver melhor fica com a vaga ao governo.

O anúncio do apoio do PT ao candidato do PMDB, Hélio Costa, está previsto para 6 de junho. Já esteve marcado para 9 de maio. Mas pode ser adiado para o início de julho, o prazo finalíssimo do registro de candidaturas.

Até lá o PT espera que Hélio Costa desista de disputar o governo para concorrer ao Senado.

"A entrada de Aécio Neves de rijo na campanha de Antonio Anastasia tornaria a candidatura dele vulnerável, já que não é um personagem político ligado ao cotidiano do Estado", diz nosso intérprete as razões petistas.

Hélio Costa está com 45% e Fernando Pimentel com 35%. O argumento acima se baseia na suposição de que os índices de Costa são inconsistentes porque ele faz vida política em Brasília como senador e ministro enquanto Pimentel foi prefeito de Belo Horizonte até 2008, e saiu com 80% de aprovação.

Muito bem, e alguém já disse isso ao PMDB? Ainda não. Inclusive porque se o parceiro "entestar", leva.

Por "entestar" leia-se ameaçar romper a aliança nacional. Chance de acontecer depois de Michel Temer anunciado como vice de Dilma Rousseff?

"Zero". Pois então é briga para mais de metro.

O leitor que não é mineiro poderá se perguntar: quem a importância de tudo isso?

Minas é o segundo colégio eleitoral, com 14 milhões de eleitores e reza o consenso que quem ganhar em Minas ganha a eleição presidencial.

Além disso, para o PT Minas representa uma espécie de última trincheira. Não é competitivo em São Paulo, não tem candidato no Rio e entregou vários estados ao PMDB em nome da aliança nacional.

Acha que já arriscou demais; não pode arriscar tudo e ficar sem nada se perder a presidência.

Veneráveis na ativa. Começa amanhã em Johannesburgo (África do Sul) a reunião do The Elders (os Anciãos), grupo de personalidades mundiais que se encontram duas vezes por ano para trocar impressões sobre conflitos internacionais. Experientes, prestam uma espécie de consultoria permanente à ONU.

Integram o The Elders quatro ex-presidentes: Nelson Mandela (África do Sul), Jimmy Carter (EUA), Fernando Henrique Cardoso e Marti Ahtisaari (Finlândia).

Duas ex-primeiras-ministras, Mary Robison (Irlanda) e Gros Brutland (Noruega), o ex-secretário-geral da ONU Kofi Annan, o arcebispo sulafricano Desmond Tutu, entre outros.

Não obstante a composição política, o grupo foi idealizado por uma dupla de outra esfera: o ex-líder da banda Gênesis, Peter Gabriel, e Richard Branson, dono do Grupo Virgin.

O encontro de amanhã até a próxima terça-feira debate os confrontos entre países da África. Marcado no país sede e às vésperas da Copa do Mundo, vai atrair publicidade e atenção internacional para a discussão sobre nações africanas em conflito.

Ruralistas versus direitos humanos:: Maria Inês Nassif

DEU NO VALOR ECONÔMICO

Existem inúmeras razões para colocar a erradicação do trabalho escravo como a prioridade número um do Século XXI - de ordem econômica, religiosa ou social. O difícil é imaginar alguma razão para defender a acumulação de riqueza por meio da exploração do trabalho de forma desumana e degradante. A despeito de todo horror que causa a existência de seres humanos que, em estado de miséria, são submetidos a condições de exploração extrema, a barreira ruralista que rapidamente se arma a qualquer vaga ameaça sobre a propriedade tenta se impor ao bom senso. O bom senso - único, inescapável - é que o trabalho escravo tem que ser eliminado da vida brasileira.

As atuações das secretarias de Direitos Humanos de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não foram de ruptura. Sob a liderança de militantes históricos da área - José Gregori, no governo FHC, e Nilmário Miranda e Paulo Vannuchi, no governo Lula -, os governos tucano e petista mantiveram uma agenda que era comum à sociedade civil que, desde a ditadura, lutava por direitos políticos e de cidadania. Talvez por terem a mesma origem, dificilmente - com a triste exceção da desmedida reação conservadora ao 3º Programa Nacional dos Direitos Humanos (PNDH-3), apoiada por tucanos por razões que fugiram aos seus compromissos históricos - encontram grandes resistências no terreno de disputa partidária entre as duas legendas que lideram o cenário da política institucional, o PT e o PSDB. A Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, as tentativas de resgate da memória da repressão política no período militar (1964-1985), o combate ao trabalho infantil, as ações para universalizar o registro civil e vários outros programas dos que se desenvolvem hoje, na SEDH, começaram no período anterior.

O Programa de Erradicação do Trabalho Escravo é um deles. O Brasil tornou-se referência mundial de combate ao trabalho degradante em 1995, quando o governo de FHC reconheceu publicamente a existência do trabalho escravo no país. O Grupo Executivo de Repressão ao Trabalho Forçado (Gertraf) foi criado naquela época e elevado a Comissão Nacional Para a Erradicação do Trabalho Escravo (Conatrae), órgão colegiado vinculado à Secretaria Especial dos Direitos Humanos, no governo Lula. É de 1995 a criação do Grupo de Fiscalização Móvel - que, de lá para cá, tem tornado relativamente comuns as ações, estampadas pelos jornais, de libertação de mão de obra em regime análogo ao trabalho escravo em fazendas pelo Brasil afora.

O 1ºEncontro Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo, que acontece desde terça-feira em Brasília, coloca o problema como política pública que envolve Executivo, Legislativo e Judiciário, por demanda de setores sociais engajados em apagar a escravidão da triste história brasileira. O encontro reúne ministros do governo, o ministro Carlos Ayres Brito, do Supremo Tribunal Federal, organizações sociais envolvidas no combate à escravidão, ministros do Tribunal Superior do Trabalho, juízes do Trabalho, representantes do Ministério Público, a relatora Especial das Nações Unidas sobre formas contemporâneas de escravidão, Gulnara Shahinian etc. Se, de um lado, reúne consensos, de outro tem um enorme potencial do confronto.

A aprovação, o Congresso, da proposta de iniciativa popular da Ficha Limpa, a despeito de todas as previsões, recolocou a PEC nº438/2001 com mais força na agenda desses setores que querem transformar a luta pela erradicação do trabalho escravo em consenso. A emenda foi apresentada ainda no governo de FHC, foi votada pelo Senado em dois turnos e apenas conseguiu ser apreciada no primeiro turno pela Câmara em 2004, em meio à comoção do massacre de Unaí, quando fiscais do trabalho foram massacrados a mando de um fazendeiro. Espera a votação em segundo turno até hoje. A PEC autoriza a desapropriação, para fins de reforma agrária, das propriedades rurais que fizerem uso do trabalho escravo- a exemplo do que a Constituição de 1988 definiu para as propriedades rurais que fizerem plantio de drogas. Impede a votação a oposição da bancada ruralista, o setor mais conservador da sociedade brasileira e mais super-representado no Congresso Nacional. É enorme o poder de veto da bancada, no que se refere a qualquer assunto que envolva a propriedade rural.

O momento, segundo o ministro Paulo Vannuchi, pode ser propício: a efetividade da pressão popular que levou à votação do Ficha Limpa pode neutralizar o poder de veto da bancada ruralista. Foi entregue ao presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), um abaixo-assinado com 284 mil assinaturas em favor da votação da PEC do Trabalho Escravo. Houve empenho inclusive de empresa na coleta de assinaturas ao abaixo-assinado.

A PEC não será definitiva na erradicação do trabalho escravo, mas sua aprovação poderá ser um importante instrumento de desestímulo a essa prática. Segundo Leonardo Sakamoto, jornalista e coordenador da organização Repórter Brasil, que também coordena o movimento, tem grande efetividade na luta pela erradicação do trabalho escravo o pacto empresarial firmado em torno da Lista Suja divulgada pelo Ministério do Trabalho, com o nome de empresas e pessoas físicas que tenham feito uso do trabalho escravo. Os integrantes dessa lista são excluídos do rol de fornecedores das duas centenas de empresas e os bancos oficiais têm suspendido crédito a eles. Segundo José Guerra, do Movimento Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo, essas 200 empresas que punem comercialmente as empresas rurais que fazem uso da escravidão representam uma boa parcela do PIB nacional.

A questão, todavia, é evitar que o tema seja tragado pelos setores mais atrasados, cuja resistência a uma rígida punição ao uso do trabalho escravo pode configurar até como uma confissão de culpa.

Maria Inês Nassif é repórter especial de Política. Escreve às quintas-feiras

Lula volta a fazer ironias à Justiça Eleitoral

DEU EM O GLOBO

Presidente diz que, em ano de eleições, pode até ser processado por ter recebido luneta de presente de ministro

Luiza Damé

BRASÍLIA. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a debochar ontem à noite da atuação das instituições de controle e fiscalização do país, durante discurso na abertura da Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, em Brasília. Em tom irônico, o presidente disse que, em ano eleitoral, pode vir a ser processado porque ganhou uma luneta de presente do ministro da Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende. Disse ainda que a luneta poderia levar a oposição a propor uma CPI no Congresso e paralisar o país.

Ele (Rezende) me deu uma luneta que não funciona, porque estamos em ano eleitoral e alguém vai dizer: O ministro deu uma luneta para o Lula.

Uma luneta que foi comprada para dar às crianças. Pronto.

Já está o Lula processado, já está o Ministério Público atrás da minha luneta e o Tribunal de Contas procurando que crime eu cometi. Já está a oposição propondo a CPI da Luneta, e aí tudo fica paralisado neste país afirmou Lula, alterando a voz, como se imitasse alguém.

Bastante aplaudido pelos cientistas, que pediram seu apoio para atingir metas no setor em 2020, Lula fez uma série de queixas. Reclamou dos ministros que emperram projetos de outras pastas, dos que não gastam a verba disponível, dos empresários que não investem em inovação e dos trabalhadores que fazem greve, mas não aceitam ter os dias descontados.

No caso de projetos de ciência e tecnologia, Lula citou o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, e o secretárioexecutivo da pasta, João Bernardo, que levaram oito meses para liberar o projeto que cria um centro de estudos para o semiaacute;rido nordestino.

Eu disse ao João Bernardo: O que você não fez em oito meses vai fazer agora.

Num período em que vários setores do serviço público estão em greve, Lula, um ex-sindicalista, voltou a defender o corte de ponto dos que não comparecem ao trabalho. Para o presidente, greve longa sem desconto dos dias parados é férias.

Lula também atacou os críticos do Programa Nacional de Direitos Humanos, lançado em dezembro do ano passado, que provocou reação de diversos setores da sociedade. Os militares não gostaram da forma como foi abordada a tortura na época da ditadura militar; a Igreja condenou o tratamento dado ao aborto e o agronegócio condenou a fórmula das desapropriações de terras. Lula disse que, depois de três meses de críticas ao ministro de Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, foi comparar os planos de 1996, 2002 e 2009, concluindo que os dois primeiros eram mais à esquerda.

Nos aspectos em que o Paulinho apanhou, as conferências de 2002 e 1996 eram muito mais sectárias e muito mais à esquerda. Entretanto, os algozes o criticaram provavelmente porque leram, mas não acreditaram que seriam feitas. A nossa, eles nem leram e não gostaram disse.

Lula voltou a criticar também a postura dos Estados Unidos diante do acordo assinado entre Brasil, Turquia e Irã, sobre a questão nuclear. Lula disse que alguns países só sabem fazer política criando inimigos ruins e feios, e demonstrando que têm força. O presidente afirmou que, criando um clima de confiança com o Irã, conseguiu celebrar um acordo que os Estados Unidos tentavam há 31 anos.

Tem gente que, em vez de sentar numa mesa para conversar, prefere mostrar: Eu tenho força. Ou dá ou desce. Eu não sou assim, ninguém dá e todo mundo desce disse Lula, batendo no antebraço, numa demonstração de força

Empresários apelam a "patriotismo" para que Aécio seja vice

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Recado foi enviado por intermediários e pode ser dito pessoalmente hoje, no 1º evento do mineiro pós-férias

Apesar de pressão extra de última hora, tucanos avaliam que chance de Aécio decidir se tornar vice de Serra é pequena

Valdo Cruz
Fernando Rodrigues
BRASÍLIA - Além da cúpula tucana, empresários paulistas ligados a José Serra querem tentar convencer Aécio Neves a desistir da candidatura ao Senado e ser o vice na chapa tucana à Presidência.

Em conversas reservadas, empresários disseram que vão enviar recados ao ex-governador mineiro sobre a "importância" de ele aceitar o convite para formar chapa puro-sangue com Serra.

Alguns chegam a dizer que seria "falta de patriotismo" de Aécio não sair candidato a vice, principalmente num momento em que a candidatura precisa de fôlego novo.

O recado, já enviado por intermediários, pode ser transmitido diretamente hoje por alguns empresários que devem estar com Aécio num almoço em homenagem ao presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Armando Monteiro, no Palácio da Liberdade.

De saída da presidência da CNI para disputar as eleições, Monteiro receberá a medalha dos Inconfidentes do governador Antonio Anastasia (PSDB-MG).

A pressão dos empresários ocorre num momento em que a cúpula tucana decidiu acelerar a definição do vice. Segundo o presidente do PSDB, Sérgio Guerra, e a senadora Marisa Serrano (PSDB-GO), a escolha tem de acontecer em até dez dias.

Em conversas reservadas, eles dizem que o PSDB não pode chegar à convenção que irá homologar oficialmente o nome de Serra como candidato, no dia 12 de junho, sem a escolha do vice.

Caso contrário, afirmam, o centro das atenções deixará de ser o candidato e recairá sobre a indefinição. O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) defende essa posição.

A cúpula tucana, porém, está preocupada com as pressões públicas de última hora sobre Aécio. O próprio Serra tem dito que isso apenas criará uma expectativa que, não confirmada, trará um efeito negativo.

Atualmente, o PSDB avalia como pequena a possibilidade de o ex-governador mineiro mudar de posição, mas ainda nutre uma esperança de mudança de última hora.

Até 100 mil vão contribuir pela web para programa de governo, espera PSDB

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Julia Duailibi

O PSDB montou núcleos de discussão para o esboço do programa de governo do pré-candidato do partido à Presidência da República, José Serra, e definiu que a proposta agregará contribuições de subgrupos regionais e de fóruns de debate na internet.

A meta no partido é que até 100 mil pessoas colaborem, por meio da rede, com o projeto, que será formatado até agosto. A área técnica do programa está composta por quadros que integraram a administração Serra em São Paulo e as duas gestões na Presidência de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).

Foram escolhidos 40 temas para discussão em todos os Estados. Cada um dos eixos temáticos será debatido por, pelo menos, um colaborador ou técnico indicado pelos três principais partidos que compõem a aliança nacional: PSDB, DEM e PPS.

Se o mecanismo de fato funcionar, serão mais de 3 mil pessoas envolvidas diretamente na elaboração da proposta - mas, mesmo internamente, estima-se que a contribuição seja menor, de até 500 colaboradores.

O DEM e o PPS indicaram, respectivamente, os deputados José Carlos Aleluia (BA) e Arnaldo Jardim (SP) para fazerem a interlocução partidária com o coordenação do programa, que é feita pelo secretário da Agricultura, Xico Graziano, que deixará o cargo no começo de junho.

Cada um dos líderes dos partidos aliados indicou dois técnicos para ajudar na formatação. Pelo DEM, foi chamado para participar das reuniões Marcelo Garcia, ex-secretário de Desenvolvimento Social da Prefeitura do Rio de Janeiro. Pelo PPS, Cláudio Vittorino, secretário nacional de Formação Política do partido. Os dois já estão atuando.

É a primeira vez que o partido tenta compilar colaborações para um programa nacional usando a rede de forma sistemática. O objetivo é agregar demandas regionais e dar um caráter nacional à discussão - há reclamações de que as decisões estão concentradas em São Paulo, onde está grande parte dos colaboradores e técnicos ligados a Serra.

Diretrizes. Paralelamente às discussões temáticas, o núcleo mais próximo de Serra já desenha as Diretrizes do Programa de Governo, que devem ser lançadas no começo de julho, quando a campanha começa oficialmente. Esse primeiro documento será mais geral e apresentará os princípios e fundamentos políticos que embasarão a proposta de governo - temas como planejamento, infraestrutura e emprego serão contemplados.

Um grupo de aproximadamente 50 pessoas, de diferentes regiões, tem ajudado a produzir papers sobre assuntos específicos. Esses documentos, além de aproveitados no programa final, são levados a Serra, que os usa na sua preparação para os debates.

Nesse tipo de assessoria, o pré-candidato tucano tem contado com a ajuda de Geraldo Biasotto, diretor executivo da Fundação do Desenvolvimento Administrativo (Fundap), e Gesner Oliveira, presidente da Sabesp.

Biasotto tem ajudado a compilar e organizar questões sobre infraestrutura, que se desdobram em outros subtemas, como energia e petróleo. Gesner, que foi presidente do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) no governo Fernando Henrique Cardoso, tem se mantido mais nos assuntos macroeconômicos, sua especialidade.

Na área social, a pesquisadora do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea) Ana Lobato, que está cedida para o Senado, onde é técnica no gabinete de Tasso Jereissati (PSDB-CE), tem organizado as linhas do programa. Ana Lobato coordenou a área social da Casa Civil durante o governo FHC e terá papel fundamental num dos temas mais sensíveis do debate eleitoral.

O diplomata Rubens Barbosa, que foi embaixador do Brasil em Londres e Washington n o governo tucano, ajudará nas questões sobre comércio exterior.

Outro nome do governo FHC que colabora com o programa, e também terá papel importante na discussão na rede, é o do cientista político Eduardo Graeff, que foi secretário-geral da Presidência da República.

Fronteiras. Com o formato "interativo" do programa de governo, o PSDB diz que pretende também "ampliar as fronteiras do partido", de acordo com definição ouvida pelo Estado de um coordenador da campanha.

Há ainda ceticismo em relação à eficácia que as colaborações feitas na rede poderão ter para o programa de governo final.

Para integrantes do partido, no entanto, a função mais importante do debate programático na rede é a de mobilização da militância e dos simpatizantes com a candidatura Serra. Esse mecanismo de participação, também usado pelo PT, foi explorado pela campanha e, depois, pelo governo de Barack Obama nos Estados Unidos - embora o contexto e os públicos sejam diferentes, lembram tucanos.

Na era virtual, candidatos apostam no rádio durante a pré-campanha

DEU EM O GLOBO

Em menos de 2 meses, presidenciáveis participaram de 53 programas

Silvia Amorim

SÃO PAULO. Na era dos blogs e das redes sociais da internet, a corrida por popularidade tem levado os pré-candidatos à Presidência da República a recorrerem ao tradicional rádio para marcar suas posições junto ao eleitorado. Ontem foi mais um dia em que José Serra (PSDB), Dilma Rousseff (PT) e Marina Silva (PV) dedicaram espaço privilegiado em suas agendas para entrevistas a emissoras de todo o país. Desde abril, os três juntos já participaram de pelo menos 53 programas, o que dá uma média de uma aparição por dia de um dos presidenciáveis nessa mídia.

A ofensiva não é por acaso.

Os programas de rádio são considerados pelas campanhas um canal estratégico para alavancar o potencial eleitoral dos précandidatos.

A preferência é sempre por emissoras populares e de grande audiência, que têm uma penetração maior junto ao eleitorado que está fora dos grandes centros. Nessas oportunidades, Serra, Dilma e Marina exploram suas plataformas principalmente na área social. Temas como a continuidade do Bolsa Família são obrigatórios.

Serra foi quem participou de mais programas Ontem, Dilma fez uma maratona midiática. De manhã, a petista deu entrevista a programas nas rádios Record e Tupi, em São Paulo, e, à noite, participou do jornal SBT Brasil. Serra cancelou visita a Gramado (RS) e foi para o Rio para dar uma entrevista à Rádio Globo. Marina dedicou o fim de tarde a um programa na Rádio Bandnews, em São Paulo.

Há uma diferença, entretanto, sobre o que move cada um dos presidenciáveis a se lançar nessa incursão. Serra, por exemplo, usou as rádios para se tornar mais popular no Nordeste e, com isso, amenizar a fama de ser um candidato dos centros urbanos. Já Dilma recorreu ao rádio para se fazer conhecer como candidata do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Marina também se lançou à empreitada para se tornar mais conhecida.

Em geral, as campanhas aproveitam as visitas aos estados para fazer essa ofensiva.

Mas isso não impede os pré-candidatos de fazerem participações à distância.

Serra é, por enquanto, o campeão em entrevistas. Esteve, pelo menos, em 21 programas conversando com ouvintes da Bahia, Paraíba, Pernambuco, Natal, Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais. Marina fez 18 e Dilma, 13.

Enquanto não tem campanha oficialmente, as rádios são o único caminho para falar com esse segmento mais popular da população e que é maioria do eleitorado analisa o presidente da Associação Brasileira de Consultores Políticos e professor da Universidade de Salamanca em Comunicação Política, Carlos Manhanelli.

Busca mais violenta nesta eleição, diz consultor Com o início oficial das eleições, em julho, acredita o consultor, a procura pelas rádios tende a arrefecer. Um dos motivos é o rigor da legislação eleitoral para rádio e TV. Outra razão é que a agenda dos candidatos acaba ficando mais carregada. Além disso, há a veiculação do horário eleitoral na TV e no rádio a partir de agosto. Embora em toda eleição a procura por programas de rádio ocorra, Manhanelli vê nesta eleição uma procura maior: Acredito que agora há uma busca mais violenta, talvez porque esteja havendo uma fiscalização mais rigorosa entre os partidos da postura dos pré-candidatos nos eventos públicos

Serra: Maracujá e corpo a corpo no Rio

DEU EM O GLOBO

Serra anda pelo Catete e por Duque de Caxias, além de usar metrô

Fábio Vasconcellos

No lugar do tradicional cafezinho, que candidatos costumam saborear nas campanhas eleitorais, o primeiro corpo a corpo do pré-candidato do PSDB à Presidência, José Serra, foi à base de suco de maracujá. Conhecido pelo seu mau humor, Serra fez uma caminhada ontem pelo bairro do Catete, no Rio, andou de metrô e ainda cumprimentou eleitores em Duque de Caxias.

Ainda no Catete, Serra, que está empatado nas pesquisas com a pré-candidata do PT, Dilma Rousseff, parou numa lanchonete e, após alguns minutos, fez o pedido: Maracujá sem gelo, por favor.

Durante a caminhada, o pré-candidato ouviu a pergunta de um eleitor e não gostou do que ouviu.

O boato que corre é que o senhor vai entregar as empresas brasileiras para os estrangeiros.

É isso mesmo? perguntou o eleitor, que não se identificou.

De maneira alguma. Isso é futrica do PT afirmou Serra.

Ao chegar ao Largo do Machado, o tucano, que estava acompanhado do candidato a vice-governador na chapa de Fernando Gabeira (PV), Márcio Fortes (PSDB), embarcou no metrô até a Estação da Glória. Lá, foi até a sede da Arquidiocese do Rio visitar o arcebispo do Rio, dom Orani Tempesta. Depois, Serra foi para outro corpo a corpo em Caxias.

Na entrevista que concedeu à Rádio Globo, Serra disse que o apoio do PTB, do ex-deputado Roberto Jefferson, não atrapalha sua campanha. Segundo o ex-governador, o PTB já havia apoiado sua candidatura ao governo de São Paulo e não houve loteamento da estrutura do Executivo: O PTB me apoiou, e eu não fiz nenhum loteamento disse.

Em relação ao aumento de 7,7% para os aposentados, medida que ainda é analisada pelo presidente Lula, Serra foi mais cauteloso.

Evitou falar que apoiará qualquer decisão do presidente, mas disse acreditar que o governo sancionará o aumento.

Vou respeitar a decisão do governo.

Não vou ficar em cima. O Lula tem boa vontade, e o Guido Mantega é um homem sério. Não vai ficar inventando números.

Não vou me situar aqui como governo, nem como oposição. Vou me situar do lado daqueles que querem uma melhora substancial e realista disse Serra.

Perguntado se o aumento de 7,7% inviabilizaria a economia do país, o tucano foi taxativo: Não. Com certeza não.

Em resposta à pré-candidata do PT, que havia defendido ontem a construção de Unidades de Pronto Atendimento 24h (UPAs) como as que foram instaladas no Rio, José Serra respondeu:

A UPAs replicam a experiência da Amas, que fiz dois anos antes na prefeitura de São Paulo.

Construímos 130 AMAs (Assistência Médica Ambulatorial).

Em Caxias, Serra foi recepcionado pelo prefeito José Camilo Zito (PSDB). Os dois visitaram a Biblioteca Leonel Brizola e ouviram críticas. Uma estudante reclamou das lâmpadas queimadas que impediam a leitura depois das 18h. Serra ouviu de Zito que o problema será resolvido em breve.

Serra evitou polêmica ao falar sobre um possível apoio do pré-candidato a governador pelo PV, Fernando Gabeira, ainda no primeiro turno: As questões locais são resolvidas localmente.

Se encaminhar para isso, vamos ver o que acontece

Serra diz que Bolívia é cúmplice de traficantes

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Para ele, governo boliviano faz "corpo mole"; ministro de Evo reage e pede provas a tucano

O pré-candidato à Presidência da República pelo PSDB, José Serra, afirmou ontem que o governo da Bolívia é "cúmplice" do tráfico de cocaína para o Brasil. Durante entrevista em um programa de rádio no Rio, o tucano disse que o governo brasileiro precisa "enfrentar" essa questão. Depois do programa, quando questionado por jornalistas, Serra afirmou ainda que o governo boliviano faz "corpo mole" ao deixar que "de 80% a 90% da cocaína que entra no Brasil venha "via Bolívia".
O ministro da Presidência de Evo Morales, Oscar Coca, reagiu às declarações. "Ele não tem nada que falar. Se possui provas, que as mostre, senão o cúmplice é ele", afirmou o boliviano. O pré-candidato disse que não fez uma acusação, mas "uma análise" sobre a suposta conivência do governo do país vizinho com o tráfico. Segundo ele, a sua fala não suscita motivo para um incidente diplomático.Serra defendeu maior atuação da União na área da segurança, atualmente uma tarefa dos Estados.

Governo Evo é "cúmplice" do narcotráfico, diz Serra

Para tucano, Bolívia faz "corpo mole" no combate à exportação de cocaína

Ministro boliviano reage às declarações e desafia pré-candidato a mostrar provas do que sabe e fazer denúncia formal


Sergio Torres
DO RIO

O pré-candidato à Presidência da República pelo PSDB, José Serra, disse ontem no Rio que o governo da Bolívia é "cúmplice" do tráfico de cocaína para o Brasil.

Serra disse isso em entrevista ao programa "Se Liga, Brasil", de Roberto Canázio, na rádio Globo, quando falava sobre a ideia de criar um Ministério da Segurança Pública caso ele seja eleito sucessor do presidente Lula.

"A cocaína vem de 80% a 90% da Bolívia, que é um governo amigo, não é? Você acha que a Bolívia iria exportar 90% da cocaína consumida no Brasil sem que o governo de lá fosse cúmplice? Impossível. O governo boliviano é cúmplice disso. Quem tem que enfrentar essa questão? O governo federal."

Depois do programa, questionado pelos jornalistas, o pré-candidato do PSDB afirmou que o governo boliviano faz "corpo mole" ao permitir que, "de 80%, 90%" da cocaína que entra no Brasil venha "via Bolívia".

CORPO MOLE

"Você acha que poderia entrar toda essa cocaína no Brasil sem que o governo boliviano fizesse, pelo menos, corpo mole? Eu acho que não", disse Serra, que definiu a afirmação sobre a suposta conivência do governo de Evo Morales com o tráfico de drogas como "uma análise", não uma acusação.

Para Serra, o que afirmou sobre a Bolívia não é motivo para um incidente diplomático: "Por quê? A melhor coisa diplomática é o governo da Bolívia passar a combater ativamente a entrada de cocaína no Brasil, não apenas o Brasil combater", afirmou.

A necessidade de o Brasil combater o narcotráfico nas fronteiras foi citada pelo tucano como uma das razões para criar um ministério para a área de segurança. "Estou falando de coisas que nós podemos fazer. Com relação ao governo boliviano, nós não podemos obrigar. Estou apenas registrando isso", disse.

O ministro da Presidência da Bolívia, Oscar Coca Antezana, reagiu às declarações. "Isso não me parece correto, cabível. Se ele [Serra] sabe algo, que diga o que sabe e siga os trâmites legais para fazer a denúncia. Se não fizer, ele é que é o cúmplice", afirmou o ministro boliviano.

"Em nossas cadeias há narcotraficantes brasileiros. Mas eu vou opinar sobre isso?", disse.

CONSTITUIÇÃO

Serra disse que, caso eleito, poderá propor mudanças na Constituição para que a União amplie sua responsabilidade na área de segurança, hoje tarefa dos Estados. "Se for necessário, a gente altera a Constituição e põe como responsabilidade compartilhada. Para a família brasileira quais são as duas coisas mais importantes para a vida: a segurança e a saúde.

Não acredito que alguém se oponha a isso", declarou. Após a entrevista, o ex-governador tucano circulou pelo centro do Rio, abraçou pedestres, apertou mãos e ouviu aplausos e gritos com os nomes das adversárias na sucessão Dilma Rousseff (PT) e Marina Silva (PV).

De metrô, partiu da estação Largo do Machado e voltou para a Glória, onde conversou com o cardeal dom Orani Tempesta por 40 minutos, na Arquidiocese do Rio.

Colaborou FLÁVIA MARREIRO, de Bogotá

Tucano faz crítica calculada para se opor a Dilma

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Eliane Cantanhêde

Ao contrário do que ocorreu quando falou atabalhoadamente contra o Mercosul, o tucano José Serra não cometeu uma gafe ao criticar o governo Evo Morales na Bolívia. Foi um ato calculado.

Certo ou errado, Serra seguiu uma estratégia de campanha e mirou tanto o eleitorado interno quanto o público internacional ao classificar o governo boliviano de "cúmplice" do tráfico de cocaína no Brasil.

Passou do ponto, mas foi uma contraposição à política externa de Lula e aos regimes "esquerdistas" da América do Sul, como os de Morales e de Rafael Correa (Equador) e de Hugo Chávez (Venezuela).

Isso, aliás, não é novidade. Em 2002, quando estava em busca de eleitores refratários à esquerda e perdeu a eleição para Lula, Serra já considerava Chávez "um retrocesso", como agora compara o iraniano Mahmoud Ahmadinejad a Hitler e Stálin.

Naquela eleição, a Embaixada da Venezuela reagiu à "campanha sistemática" do tucano contra Chávez. Desta vez, é improvável que a da Bolívia fique calada. O que abre a seguinte questão: e se Serra vencer, como serão as relações com os vizinhos?

Serra, porém, não está raciocinando diplomaticamente, mas sim eleitoralmente. Coloca-se ao lado do novo presidente do Chile, o empresário de centro-direita Sebastián Piñera, e estimula a simpatia de Chávez e Morales por Dilma Rousseff, do PT, com tudo o que significam.

Muito diferente, portanto, do escorregão ao expor sua birra contra o Mercosul, que considera "uma farsa" e "barreira" para acordos comerciais bilaterais do Brasil.

É o que ele acha, mas candidatos raramente podem ou devem dizer exatamente o que acham.
Tanto que, depois, tentou dar o dito pelo não dito. Tarde demais. A Argentina, principal sócio no Mercosul, chiou. De um em um, o risco de Serra é virar uma ilha na América do Sul.


Serra e o mingau quente de Lula :: Vinicius Torres Freire

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Serra critica governo pelas bordas, sem enfrentar Lula em seu altar "pop". Mas tucano ainda não tem mote

Saúde e segurança são as "duas coisas mais importantes para a família brasileira", disse ontem José Serra após cutucar o governo da Bolívia, de Evo Morales, agregado de Lula. O candidato tucano a presidente praticamente afirmou que o governo boliviano é conivente com o tráfico de cocaína para o Brasil. Anteontem, Serra chamara de ditador outro colega de Lula, Mahmoud Ahmadinejad, presidente do Irã.

Não é provável que Serra se ocupe de fazer de política externa um assunto de campanha.

Aliás, é difícil imaginar qual assunto será de fato tema de debate nesta campanha vazia. Mas Bolívia, Venezuela e Irã podem ser oportunidades de avacalhar um pouco Lula sem ter de enfrentá-lo no campo em que, segundo o eleitorado, o presidente é imbatível -o "social" e a economia. Serra procura comer o mingau quente de Lula pelas bordas que sobraram.

Não é por acaso que Serra mencionou saúde e segurança. Pelo menos desde o final dos anos 1990, as pesquisas de opinião mostram que as principais preocupações do eleitorado são emprego, saúde e segurança. Quando a economia vai um pouco melhor, a preocupação com o emprego cai para terceiro lugar. Quando não há uma onda de violência ou de "comoção popular" com um crime, a saúde vai para o topo das preocupações, como agora.

Lula não tem medalhas para mostrar no caso da saúde, área em que as melhorias têm sido incrementais e resultado do fato de que não se buliu muito em algumas políticas corretas e de longo prazo. Várias delas, aliás, incentivadas por Serra quando ministro da Saúde. Pouca gente vai lembrar disso. Mas há uma ruela de campanha aberta aí.

Apesar da queda do número de assassinatos, os mais pobres continuam sitiados por assassinos, ladrões, comandos, milícias, grupos de extermínio etc. O assunto é, basicamente, estadual. Mas Serra disse que se pode mudar a Constituição para que o governo federal tenha mais atribuições no setor.

O tucano ainda tem batido em temas como corrupção, aparelhamento petista, politização de agências reguladoras e escassez de investimentos federais. Vai colar?

Falar de agências reguladoras é um aceno para empresários. O eleitorado não tem noção do que se trate. Se os tucanos insistirem no assunto, o petismo lembrará que no governo FHC houve intervenção branca na Aneel, durante o desastroso apagão. Não vai pegar bem.

Corrupção? Ok, mas os tucanos e o DEM têm seus mensaleiros, para nem mencionar que o PTB de Roberto Jefferson, um sultão do suíngue do mensalão, aderiu a Serra.

Tratar da escassez de investimentos federais seria um assunto sério. Mas ainda abstrato. A campanha de Dilma Rousseff pode mostrar montes de imagens de refinarias, estaleiros e portos em construção. Não vai dizer nada de sério, mas faz efeito. Como chantili nesse bolo, dirá que tanto houve investimento que "foram gerados" 12 milhões de empregos nos anos Lula.

O candidato tucano, pois, morde o mingau de Lula apenas pelas bordas. Tem caminhos alternativos de campanha, trilhas não exploradas pelo governo Lula, como saúde e segurança. No caso da educação, é imenso o telhado de vidro de 16 anos de governo tucano em São Paulo.

Mas Serra ainda não tem nem mote nem marca na mídia eleitoral.

Inadimplência cai, mas juro ao consumidor sobe

DEU EM O GLOBO

Taxa média subiu para 41,1% ao ano, influenciada por alta na Selic. Atraso em pagamentos recuou para 6,8%

Patrícia Duarte

BRASÍLIA. A queda da inadimplência não evitou que os juros praticados pelo sistema financeiro continuassem em alta. A taxa média cobrada das famílias passou de 41% para 41,1% ao ano em abril, movimento que se acentuou em maio, informou ontem o Banco Central (BC). Até o último dia 13, subiu para 41,6%. Para as empresas, o cenário se repete, com os juros médios cobrados estáveis em 26,3% em abril, mas já em 26,8% na primeira metade deste mês.

A retomada do aumento da Taxa Selic em abril quando o Comitê de Política Monetária elevou os juros básicos de 8,75% para 9,50% ao ano contribuiu para o ajuste. Isso porque influencia o custo de captação atual e dos próximos meses dos bancos e sua expectativa sobre a evolução futura da inadimplência.

Além disso, o BC avalia que pode estar havendo um incremento, no momento, das operações em modalidades de crédito mais caras, como cheque especial e cartão de crédito. A taxa média de juros é fortemente influenciada pelo volume.

BC vê procura maior por linhas de crédito mais caras Para o chefe do departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, o mercado de juros no país mostra hoje apenas uma pequena elevação: Houve uma procura pelas modalidades mais caras afirmou Lopes.

O aposentado Geraldo Guimarães, de 67 anos, desistiu de tomar um financiamento quando consultou a taxa de juros. Já endividado, ele foi ontem a uma financeira do Centro do Rio em busca de um novo empréstimo: O corretor calculou que, se eu pegasse R$ 5 mil emprestados, pagaria quase o dobro no final das prestações. Desisti.

Não dá nem para tentar em outra financeira, os juros são abusivos em todas. O funcionário me disse que seriam juros de 12% ao ano. Já estou com a corda na garganta, não posso me enforcar ainda mais.

Pelo sexto mês seguido, houve queda n inadimplência (atraso de pagamento superior a 90 dias), que chegou em abril a 6,8% para o consumidor final, ainda muito longe do patamar mínimo, de 5% do total emprestado, atingido em janeiro de 2001.

Já os spreads diferença entre quanto o dinheiro custa para os bancos e quanto as instituições cobram do tomador final para pessoas físicas caíram, passando de 29,7 para 29,5 pontos percentuais em abril, o menor patamar histórico. Na prévia de maio, permaneciam no mesmo nível.

Temos ainda mais espaço para reduções na inadimplência ponderou Lopes.

O mercado, porém, é cético.

O economista da consultoria Tendências Alexandre Andrade lembra que o movimento da Selic é de alta até o fim do ano (a média dos analistas prevê taxa a 11,75% em dezembro), o que acaba alimentando as incertezas dos bancos sobre a inadimplência, uma vez que os empréstimos vão ficando cada vez mais caros. Quando sobe o risco de calote, aumentam os spreads.

Num contexto de aumento de juros, é normal que haja incertezas nas condições de pagamento das pessoas. Esse movimento de redução dos spreads deve ser revertido até meados do ano afirmou Andrade.

Taxa do cheque especial subiu para 161,3% ao ano Por conta dos juros altos, o auxiliar de escritório Luís Fernando de Castro, de 33 anos, não conseguiu se livrar de uma dívida de R$ 300 no cartão de crédito. Ele tentou parcelar em três vezes, mas o total pago chegaria a quase R$ 400: Os juros são abusivos.

Não sei o que fazer.

Segundo o BC, a taxa de juros média do cheque especial foi a que mais cresceu em abril, passando de 160,3% para 161,3% ao ano, enquanto os juros do crédito direto ao consumidor (CDC) para bens duráveis caíram 0,5 ponto percentual, para 49,7%. Já os juros médios cobrados nos empréstimos consignados, com desconto em folha de pagamento, atingiram o piso histórico, de 26,9% ao ano, em abril.

Lopes, do BC, lembrou que as recentes medidas tomadas para regular o desconto em folha que cria uma senha para os aposentados do setor público, a fim de evitar que extrapolem o valor da parcela do salário (30%) que pode ficar comprometida podem frear um pouco a expansão da modalidade.

Mas ainda há espaço para crescer na esfera privada acrescentou ele.

O volume de crédito consignado, em abril sobre março, teve expansão de 2,3% no setor público, chegando a 4,7% no segmento privado. Já o volume de crédito total do país fechou o mês passado em R$ 1,468 trilhão, com crescimento de 1,1% no mês. Este número equivale a 45,2% do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos pelo país ao longo de um ano).

Azar do futuro:: Miriam Leitão

DEU EM O GLOBO

A França anunciou ontem o aumento da idade mínima de aposentadoria, que era 60 anos. A Inglaterra, Estados Unidos e Alemanha, que são países ricos, estão elevando a idade mínima. O Brasil não tem esse piso; aqui aposenta-se contando o tempo de serviço. E na prática estará reduzindo a idade se não for vetado o fim do fator previdenciário.

Em apenas quatro anos a previsão do IBGE sobre os idosos de 2050 aumentou 20%. Parece longe 2050, mas em previdência é assim que se trabalha. Essa mudança da projeção mostra como é dinâmica a demografia brasileira.

O Brasil está mudando mais rápido do que os especialistas previam. Isso torna a questão previdenciária mais aguda e urgente.

Para quem acha que 2050 é um tempo remoto, basta lembrar, como fez Joaquim Levy, que é a mesma distância que existe entre 2010 e 1970. Ou seja, é um problema das crianças e jovens de hoje. Em 1970, o Brasil tinha uma população que crescia a 3% ao ano, daqui em diante o crescimento médio será de 0,3%. Ou seja, mudamos radicalmente e isso contratou dilemas reais para o futuro.

No livro que acaba de ser lançado, Demografia, a ameaça invisível, os autores Fábio Giambiagi e Paulo Tafner levantam dados que mostram a insensatez de se adiar indefinidamente o enfrentamento desse problema. Nos próximos 15 a 20 anos o percentual de população idosa deve crescer a uma proporção de 4% ao ano. Já a população de 15 a 59 anos deve permanecer a mesma. A revisão da tabela do IBGE mostra que esse grupo etário deve ter crescimento nulo. Como a população idosa terá aumentado, ela terá que ser sustentada por um percentual menor de pessoas. Em 2010, para cada 100 pessoas de 15 a 64 anos, há 10 pessoas com 65 anos ou mais. Em 2050, serão 36.

Uma das propostas mais frequentes é que as aposentadorias sejam corrigidas de acordo com o crescimento do PIB. Como haverá nos próximos anos o aumento vegetativo do número de aposentados, pelo envelhecimento da população, o custo do INSS sairia dos atuais 7,1% do PIB para 15,6% do PIB em 20 anos, consumiria quase a metade da carga tributária. E isso sem falar na caríssima previdência do setor público e nos gastos nababescos com a contribuição para os fundos de pensão das estatais. O INSS, cuja conta é tão alta, é o que tem o menor custo per capita. Alta mesmo é a aposentadoria do setor público, que o governo Lula alegou que queria reformar e depois se esqueceu de regulamentar a mudança.

Um amigo que fiz na Dinamarca, quando estive lá, me conta que o país está propondo uma ampliação da jornada de trabalho e tem uma idade mínima de aposentadoria de 65 anos.

Quem quiser se aposentar aos 60 terá que pagar um extra de contribuição previdenciária.

A Alemanha, país com maior capacidade de exportar do mundo, aumentou recentemente a jornada de trabalho. Ninguém está brincando com o assunto competitividade e previdência. Só o Brasil.

Não deveríamos. Ainda temos que incluir quase metade dos trabalhadores no mercado formal e a redução da jornada é a falsa solução para este problema. Tudo o que ela vai conseguir é dar mais horas extras para quem já está trabalhando.

No caso da Previdência é claro que o Brasil está na contramão do mundo e de si mesmo. Há uma excelente notícia no país: o brasileiro vive cada vez mais. A cada nova estatística populacional do IBGE, vem uma notícia de que ampliamos a expectativa de vida. Isso é resultado dos nossos acertos.

Mas tem um custo: mais brasileiros dependerão por mais tempo do dinheiro da Previdência. E a conta não vai fechar. Na Alemanha, homens e mulheres se aposentam aos 65 anos, mas a idade está indo para 67 anos. No Reino Unido, o Partido Conservador ganhou a eleição propondo que a idade hoje em 65 anos vá para 66 anos. Nos Estados Unidos, ambos os sexos com 67 anos. Pode-se argumentar que esses países são desenvolvidos e a população vive mais. Veja-se o caso do México, com o qual nos comparamos em vários indicadores.

Lá, a idade para se aposentar é 65 anos para homens e mulheres. Não há a diferenciação que existe no Brasil. Aliás, essa diferenciação está acabando pelo simples fato de que as mulheres vivem mais. Só cinco países do mundo não têm idade mínima de aposentadoria.

Estamos em espantosa minoria.

Esse é um assunto difícil de tratar porque há sempre uma chuva de críticas sobre quem ousa tocar no tema.

Um argumento é que a Previdência nem é deficitária na verdade, é apenas uma forma errada de fazer as contas.

Que ela só tem rombo porque foram incluídas pessoas que não contribuíram, como os trabalhadores do setor rural. O que se queria? Que eles não fossem incluídos? Outro argumento é que a pessoa contribuiu para um valor em salário mínimo e hoje ganha menos salários mínimos do que recebia quando se aposentou. Também é verdade, mas porque o salário mínimo teve um forte aumento real desde a estabilização.

Na orelha que escrevi no livro de Giambiagi e Tafner, eu disse que deve ser bom acreditar que mudança climática é invenção de cientista e que rombo previdenciário é invenção de economista neoliberal. Infelizmente, são problemas reais.

É preciso enfrentá-lo.

Na Inglaterra, o Partido Conservador ganhou a eleição dizendo que elevaria a idade de aposentadoria e cortaria gastos. Mas o Brasil em plena temporada da demagogia prefere aprovar o fim do único instrumento que reduziu o ritmo de crescimento das despesas, poupando os cofres públicos de R$ 40 bilhões de gastos nos anos da vigência do fator previdenciário. E os políticos fazem isso pensando em capturar votos. Devem pensar assim: azar do futuro

O filho do século :: Murilo Mendes


Nunca mais andarei de bicicleta
Nem conversarei no portão
Com meninas de cabelos cacheados
Adeus valsa "Danúbio Azul"
Adeus tardes preguiçosas
Adeus cheiros do mundo sambas
Adeus puro amor
Atirei ao fogo a medalhinha da Virgem
Não tenho forças para gritar um grande grito
Cairei no chão do século vinte
Aguardem-me lá fora
As multidões famintas justiceiras
Sujeitos com gases venenosos
É a hora das barricadas
É a hora da fuzilamento, da raiva maior
Os vivos pedem vingança
Os mortos minerais vegetais pedem vingança
É a hora do protesto geral
É a hora dos vôos destruidores
É a hora das barricadas, dos fuzilamentos
Fomes desejos ânsias sonhos perdidos,
Misérias de todos os países uni-vos
Fogem a galope os anjos-aviões
Carregando o cálice da esperança
Tempo espaço firmes porque me abandonastes.