sexta-feira, 25 de junho de 2010

Reflexão do dia – Roberto Freire


Razão tinha Celso Furtado, que defendia com tanto afinco uma política de desenvolvimento para o Nordeste. Se o país tivesse apostado nessa proposta, não estariam os nordestinos zanzando sem casa, comida, remédios...


(Roberto Freire, no artigo, Uma tragédia anunciada, no jornal Brasil Econômico, hoje.)

Perdendo terreno:: Merval Pereira

DEU EM O GLOBO

O resultado mais negativo para a campanha oposicionista na pesquisa do Ibope foi a reviravolta na Região Sudeste, que corresponde a mais de 40% dos eleitores brasileiros, com os estados de São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro.

Se a candidata governista está vencendo inclusive na região do país onde se concentra a grande força política da oposição, pois domina os governos dos dois maiores colégios eleitorais, São Paulo e Minas, aí a situação estará mesmo periclitante para a candidatura tucana.

Na última pesquisa do Ibope, que dera empate de 37%, José Serra vencia Dilma no Sudeste por 41% a 33%, e nesta última a candidata oficial conseguiu ficar à frente, revertendo a situação para um empate técnico de 37% a 36%.

Isso significa que o ex-governador paulista José Serra não está conseguindo tirar de seu estado uma diferença de votos capaz de equilibrar a situação de desvantagem em Minas e Rio de Janeiro.

E também que o ex-governador Aécio Neves ainda não conseguiu reverter a vantagem que o presidente Lula vem tendo em Minas, onde venceu as duas últimas eleições presidenciais — apesar da força eleitoral de Aécio no estado — por uma diferença de um milhão de votos.

Para se ter uma ideia do que isso significa para os tucanos, na eleição de 2006 o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, mesmo perdendo no primeiro turno para Lula, venceu-o na Região Sudeste por cerca de 600 mil votos, de 45,2% a 43,3%.

Essa vitória ele conseguiu superando Lula em São Paulo por 3,8 milhões de votos, já que perdeu nos outros estados do Sudeste.

A única vez em que Lula venceu na Região Sudeste foi em 2002, e por uma diferença exuberante: 46,5% a 22,7%.

Ganhou por larga margem em Minas, Rio de Janeiro e Espírito Santo e também em São Paulo, com uma diferença de cerca de 3,5 milhões de votos sobre Serra.

O plano de José Serra era sair de São Paulo com 5 a 6 milhões de votos de diferença para Dilma, coisa que não está acontecendo.

A pesquisa nacional que as direções do DEM e do PSDB têm, feita pelo Instituto GPP, dá uma vitória a Serra de 4 pontos percentuais, e a diferença está justamente no Sudeste, onde o tucano vence por 37% a 31%.

É previsível que, a partir dos números ruins da pesquisa do Ibope, o comando da campanha tucana vá concentrar sua atuação nas regiões onde poderia garantir uma boa vantagem, o Sul e o Sudeste.

Mas o impacto da pesquisa é inevitável, e pode desmanchar em poucos dias os arranjos que estavam sendo amarrados em estados chaves como os do Sul.

O PP, que a partir das regionais sulistas conseguira manter a neutralidade mesmo com a maioria disposta a apoiar a candidatura de Dilma Rousseff, já se inclina para um “apoio político informal”, com o presidente do partido, senador Francisco Dornelles, que um dia já esteve com um pé no posto de vice de Serra, se comprometendo a trabalhar para a candidata oficial.

A subida de Dilma pode também estimular a decisão do senador Osmar Dias pelo bloco governista, a não ser que o senador Álvaro Dias, seu irmão, seja o escolhido para formar a chapa puro sangue do PSDB com Serra.

É bobagem de militante considerar que a fatura está liquidada, mas é bom os tucanos se convencerem de que está ficando cada vez mais difícil o que consideravam “uma barbada”.

O fato é que Lula, surpreendentemente, está conseguindo transferir sua popularidade para Dilma, coisa em que a maioria da direção tucana não acreditava, pelo menos nesse volume todo.

É verdade que a propaganda eleitoral vai dar chance ao PSDB de tentar desconstruir a candidata Dilma, mas é um passo perigoso, por que toda crítica ao governo passa a ser vista como antipatriótica, e no caso de uma mulher, é mais delicado ainda.

Mas há sempre a possibilidade de um erro do adversário, como no caso dos aloprados em 2006 que impediu que Lula vencesse no primeiro turno e alavancou a votação de Alckmin, fenômeno não captado pelas pesquisas de opinião na ocasião.

O problema da candidatura de Serra é que cada vez mais suas chances estão num erro do adversário, e cada vez menos na sua campanha propriamente dita.

O PT também conta com os erros de Serra, como sua irritabilidade e seus comentários sobre temas polêmicos, como a necessidade de controlar o Banco Central, que são explorados como sinais de perigo para a estabilidade econômica do país.

Ele alega que as perguntas geralmente são feitas ou de maneira maliciosa ou superficialmente, o que o impede de explicar direito suas idéias a respeito de temas tão complexos e delicados.

Esse, na verdade, é um dos problemas de Serra.

Quase todas as questões que podem ser criticadas no governo Lula são muito técnicas e não se prestam a uma campanha eleitoral onde o emocional vale mais do que o racional.

Assim é que, quando Serra tenta analisar o crescimento econômico do país nos últimos anos, ponderando que ele não é tão fabuloso como vende o governo, corre o risco de ser acusado pela adversária de ser “contra o país”.

A candidata Dilma Rousseff terá uma propaganda eleitoral com mais tempo na televisão e tão competente ou mais tecnologicamente falando do que a da oposição.

E, sobretudo, estará protegida de possíveis erros que ainda surgem quando se apresenta sem quem cuide de sua imagem ou edite suas frases truncadas.

O que parecia ser uma oportunidade para as críticas da oposição está sendo muito bem controlado pelo comando da equipe da candidatura oficial.

É inegável que o processo de reconstrução por que passa Dilma, tanto física quanto na parte de contato com o público (o chamado mídia training), está tendo bons resultados, reduzindo as chances de um tropeço que possa ser fatal à candidatura

O quebra-cabeça do trabalho e renda :: Washington Novaes

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Em meados de maio, Jacques Diouf, o secretário-geral da Organização para a Alimentação e a Agricultura (FAO), órgão da ONU, lançou o manifesto 1billionhungry (1 bilhão de famintos) e pediu que todas as pessoas no mundo o assinem, para mobilizar governos e instituições e forçá-los a assumir programas que pelo menos reduzam esse "quadro vergonhoso" e levem ao cumprimento dos Objetivos do Milênio. E um deles é exatamente até 2015 reduzir à metade aquele número. Mas é muito pouco provável que a meta seja atingida, não só porque o contingente de pobres no mundo tende a aumentar com a crise econômica e o crescimento da população (mais 2 bilhões a 2,5 bilhões de pessoas até 2050), como porque a própria FAO prevê que o preço dos alimentos, principalmente trigo, outros cereais, produtos lácteos e azeites, tende a crescer entre 15% e 45% nesta década ? e os pobres não terão recursos para acompanhar a alta.

Na verdade, o problema não está só na quantidade de alimentos ? hoje já há produção suficiente para todas as pessoas, mas não há poder de compra equivalente (de qualquer forma, estima a FAO que a produção precisará aumentar 70% até 2050). As estatísticas globais comprovam isso. Segundo pesquisa do Boston Consulting Group (Estado, 11/6), a parcela mais pobre da população mundial, que é a imensa maioria, respondeu por apenas 38% do movimento econômico global de US$ 1,33 trilhão/ano, quando apenas 127 mil famílias, todas com patrimônio acima de US$ 1 milhão em 2009, responderam por 44% do movimento. As famílias milionárias (11,2 milhões), diz a pesquisa, embora sejam apenas 0,0016% da população mundial, detêm 55% da riqueza mundial. E 4,7 milhões delas estão nos Estados Unidos.

As questões do trabalho, pobreza e renda estão hoje no centro dos debates no Brasil, principalmente nas discussões sobre as eleições. E qual será a nossa situação? Diz a Fundação Getúlio Vargas que entre 2003 e 2009 a pobreza no País caiu 43%, porque 31,9 milhões de pessoas ascenderam às classes A, B e C. Para tanto contribuíram melhoras na renda do trabalho (67%), "progressos sociais" (17%) e "benefícios previdenciários" (15,5%). No atual governo federal, o número de pobres reduziu-se em 19,4 milhões. Mas ainda são pobres 29,9 milhões (16% da população), membros de famílias em que a renda per capita está abaixo de R$ 137 mensais; 67,7% das pessoas que trabalham recebem, no máximo, dois salários mínimos mensais (R$ 1.020).

Para o sociólogo Jessé Souza, da Universidade Federal de Juiz de Fora (Folha de S.Paulo, 24/5), autor de A Ralé Brasileira, "a desigualdade no Brasil é abissal", tendo em vista a parcela da população que "vive como subgente". E é uma situação que, a seu ver, "o Bolsa-Família, sozinho, não tem como reverter", embora beneficie 12,4 milhões de famílias, que somam quase 50 milhões de pessoas. No Nordeste, por exemplo, os benefícios do programa não superam R$ 70 mensais, em média. E no Norte não é diferente. Nessas regiões, a renda média é de R$ 65,29, na última, e R$ 66,20 na primeira ? e ainda assim o programa aumentou em 48,74% a renda em toda a região. Mas, reconhece o próprio Ministério do Desenvolvimento Social, 2 milhões dos 12,4 milhões de famílias que recebem o benefício "são extremamente pobres".

O economista Márcio Pochmann, do Ipea, acrescenta mais um complicador: o desemprego no Brasil "é jovem", porque um em dois desempregados tem menos de 25 anos; e 80% dos desempregados (7 milhões de pessoas nas seis maiores regiões metropolitanas) não têm experiência profissional, são de "baixa qualificação". Não por acaso, o ministro Carlos Lupi, do Trabalho e Emprego, acha que é preciso qualificar 4,5 milhões de pessoas por ano para evitar um "apagão da mão de obra" que se prenuncia na retomada econômica. Mas também aí há avanços, porque pela primeira vez o IBGE registra que nas áreas metropolitanas 50% das pessoas que trabalham têm carteira assinada. Provavelmente é uma das razões que levaram a renda média das famílias a aumentar 10% em 2009 e chegar a R$ 1.285 (pouco mais de US$ 700).

Há visões diferenciadas, como a que expõe Plínio de Arruda Sampaio na revista Problemas Brasileiros (maio/junho 2010), da Federação do Comércio do Estado de São Paulo. Com longa atuação na política ? foi deputado federal em 1962, exilado político, membro do PT a partir de 1980, coordenador do Plano Nacional de Reforma Agrária (2003), em 2005 ajudou a fundar o PSOL e por esse partido é candidato à Presidência da República ?, faz críticas duras aos governantes. Na sua visão, o País tem dois problemas centrais: dependência externa e "a miséria do povo", que não é apenas econômica, mas também "física, intelectual e cultural". Mas, ainda assim, "o povo está contente", graças, principalmente, a 50 milhões de pessoas que "recebem um pequeno auxílio" (o Bolsa-Família), "com o qual fingem que comem". Admite, porém, uma mudança: "Pelo menos fingem que comem; antes, nem fingiam." A eles se somam, a seu ver, outros 20 milhões "que ascenderam a um tipo de consumo que era considerado dos ricos, que é o da linha branca de eletrodomésticos".

Arruda Sampaio vê um paradoxo. Suas pesquisas dizem que "todos acham que está melhor", mas "em termos individuais a resposta é negativa". A aparente melhora, na sua opinião, é uma "realidade superficial", porque, na verdade, "a burguesia está nadando de braçada. Ela encontrou o socialista que pediu a Deus, que é Lula, porque ele traz o povo tranquilo e segue a política econômica que interessa à burguesia". Por isso, "o homem do povo não admite, não pensa em alternativa, é incapaz de imaginar outras possibilidade de organizar a vida brasileira". O ex-petista, em síntese, quer "reinventar o socialismo".

É mais uma visão desse complexo quadro político-econômico-social que antecede as eleições de outubro. E que desafia a cabeça dos planejadores de campanhas.

Uma tragédia anunciada:: Roberto Freire

DEU NO BRASIL ECONÔMICO

É imoral a situação que leva nossos irmãos brasileiros do Nordeste - como já ocorreu também com os do Sul - ao desespero de perder família, casa, enfim, tudo o que tinham.

Esse tudo na maioria das vezes era muito pouco, porque a tragédia das enchentes, como a da seca, golpeia aqueles que menos têm, a quem sobra os espaços mais insalubres e perigosos nas periferias das cidades.

O caráter perverso do drama que estão enfrentando alagoanos e pernambucanos é que dinheiro não deveria faltar para evitar que desastres como o que enfrentam com a chegada das chuvas ocorressem.

Nem para acudi-los com presteza e garantindo-lhes dignidade e agilidade no socorro. No entanto, lá estão eles em meio a escombros de cidades devastadas.

Os últimos números dão conta de que 600 pessoas estão desaparecidas, 44 já morreram!

Mas, em vez de aumentar, os recursos destinados "Prevenção e Preparação para Desastres" minguam expressivamente todos os anos. Um levantamento da Secretaria de Defesa Civil do governo federal mostra que, neste ano, apenas R$ 99 milhões dessa rubrica, segundo dados do Siaf, figuravam no Orçamento.

Pior é que até o dia de hoje nenhum centavo havia sido gasto, apesar de todos os desastres que o país teve de enfrentar. Municípios de Santa Catarina ainda esperam recursos da tragédia do ano passado.

Em 2008, esse orçamento foi de R$ 722 milhões aprovados pelo Congresso. Absurdamente, apenas R$ 54 milhões foram usados. O restante engordou o caixa do superávit primário.

No ano de 2009, o diapasão continuou o mesmo. Dos R$ 369 milhões previstos para situações de "desastres, flagelos e inundações", menos de 6% foram utilizados!

Esse é o país das iniquidades. Mas na televisão existe outro, muito diferente... Aquele com o qual o governo não tem medida para gastar.

O Brasil perfeito, que sai das agências de propaganda para consumo de eleitores. Neste ano eleitoral, os gastos com propaganda subiram 63%.

Só nos primeiros quatro meses de 2010, o governo gastou nada menos que R$ 240 milhões! A previsão orçamentária é de uma despesa de R$ 700 milhões para o ano todo.

Aqueles comerciais de casinhas coloridas que sequer saíram do papel, de estradas e outros equipamentos de infraestrutura perfeitos que só existem no computador e que todos os dias estão na TV, no rádio, jornais e revistas é nossa colaboração, como contribuintes, para a campanha eleitoral da candidata do governo. Involuntária, obviamente, mas compulsória.

Enquanto esse Brasil desfila na mídia, o Brasil de verdade está à espera do governo nas enchentes, nos barrancos desabados, nos escombros de sua própria vida.

Razão tinha Celso Furtado, que defendia com tanto afinco uma política de desenvolvimento para o Nordeste. Se o país tivesse apostado nessa proposta, não estariam os nordestinos zanzando sem casa, comida, remédios...

Mais uma vez dependendo da caridade e daqueles políticos que apenas se utilizam do voto deles, como que comprados com os serviços que o Estado lhes deve.

O coronel apenas mudou. Passou a ser o Estado. A perversidade continua a mesma.


Roberto Freire é presidente do PPS

Lula e o Antigo Regime :: Fernando de Barros e Silva

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

SÃO PAULO - Veja como é a vida: há pouco mais de um ano, Patrus Ananias, o ministro do Bolsa Família, ainda era cogitado como possível candidato à sucessão de Lula. Ontem, depois de pedir a bênção à sua mãe, como fez questão de anunciar, disse que aceita, sim, ser vice na chapa de Hélio Costa ao governo de Minas. O petista católico, vinculado ao programa social mais simbólico do governo, ajoelhou e vai rezar pelo PMDB em seu Estado.

Ainda em Minas, Clésio Andrade, presidente do PR e da Confederação Nacional dos Transportes, deve ficar com a cobiçada vaga de suplente de Fernando Pimentel, candidato ao Senado e ministro quase certo caso Dilma Rousseff vença. Há uma ironia: Clésio hoje já é suplente, mas do senador Eliseu Resende, do DEM. Cansado da fila, decidiu comprar outro bilhete.

Vê-se, neste rápido passeio, como é fácil unir as pontas entre PT e DEM, passando por PMDB e PR. Este é só um exemplo de como se organiza o jogo político pelo país.

O responsável pelos milagres tem barba branca e é adorado por quase toda a população. Mas deixe Deus de lado. Seu nome é Lula.

Ele é o grande protagonista da eleição e o agente catalisador de um consórcio de poder em que tudo cabe. No Maranhão, fez o PT apoiar Roseana Sarney, herdeira da oligarquia mais longeva do país.

Sustentando forças do atraso ou sustentada por elas, a carruagem de Dilma carrega consigo um Antigo Regime, a quem oferece sobrevida.

Isso, a rigor, tem sido assim desde que o PSDB se aliou ao PFL, em 1994. Como FHC gosta de dizer, petistas e tucanos disputam para saber quem conduz o atraso, do qual dependem para governar o país.

Sim, mas, pela primeira vez, o artífice do cenário e o inventor dos personagens não será o diretor do espetáculo. Dilma pode se tornar presidente, mas Deus a criou do nada. Não seria estranho se estivesse agora, como Patrus, pedindo a bênção para apoiar algum aliado da velha ordem em nome do progresso.

Em meio ao drama

DEU EM O GLOBO

Lula visita áreas atingidas pelas chuvas e promete ajuda; Dilma culpa governos passados

Letícia Lins PALMARES (PE) e ARACAJU

Uma semana depois do começo das chuvas no Nordeste, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva visitou ontem Palmares (PE) e Rio Largo (AL), municípios devastados pelas enchentes. O número de mortos em Pernambuco e Alagoas, que também teve cidades destruídas pelas chuvas, já chega a 50. Há mais de 152 mil pessoas desabrigadas ou desalojadas nos dois estados.

Lula fez um apelo às autoridades para que derrotem a burocracia e prometeu que não haverá limite de recursos para atender as vítimas da tragédia. E até alertou os governadores Eduardo Campos (PSB) e Teotônio Vilela (PSDB) e os prefeitos das áreas atingidas para que não façam uso político do dinheiro que, segundo o governo federal, foi depositado ontem para os dois estados.

Ontem, Lula discursou: — Não permitam que a eleição interfira no trabalho de vocês (governadores e prefeitos). A eleição é passageira. Esse povo precisa viver — disse ele, que anunciou a liberação de R$ 550 milhões para os dois estados.

Reportagem de anteontem no GLOBO mostrou, porém, com base em levantamento do site Contas Abertas, que o governo federal não mandara um centavo sequer para Alagoas, governada pelo PSDB, da verba destinada à prevenção de enchentes do Ministério da Integração Nacional.

E Pernambuco recebera apenas 0,24% do total, enquanto a Bahia, reduto do então ministro e agora candidato a governador Geddel Vieira Lima (PMDB), ficou com mais da metade (56,8%) de toda a verba da pasta para prevenção de enchentes.

PTB exibe Serra em seu programa na TV

DEU EM O GLOBO

Candidato usa tempo do partido aliado para fazer promessas de campanha e é exaltado por Roberto Jefferson

Leila Suwwan


SÃO PAULO. Assim como ocorreu no caso dos programas partidários do DEM e do PPS, José Serra (PSDB) utilizou o tempo de rádio e televisão do aliado PTB, que foi ao ar ontem à noite, para promover sua candidatura a presidente da República.

O tucano priorizou quatro assuntos — trabalhadores, saúde, segurança e educação — e listou uma série de promessas: da criação de bolsas de estudos para alunos em escolas técnicas particulares à distribuição gratuita de remédios.

No programa, o presidente do PTB, Roberto Jefferson — que teve o mandato cassado no escândalo do mensalão do PT —, exaltou o tucano por combater a ditadura militar “pela via legal” — um contraponto indireto ao passado da candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, que aderiu à luta armada na época e acabou presa.

Boa parte do programa de dez minutos foi dedicado a reproduzir o discurso de Serra na convenção do PTB, realizada no último fim de semana, em São Paulo. Nela, Serra discursou ao lado de Jefferson e Campos Machado, presidente estadual do PTB. O tucano foi apresentado como idealizador do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) e prometeu realizar treinamentos para todos os trabalhadores no país.

— Vamos criar também o ProUni do ensino técnico do Brasil: o ProTec. É uma bolsa para que um aluno, numa determinada região que não tem escola pública, ou que não conseguiu entrar, possa ir para uma escola particular de ensino técnico com bolsa do governo federal — prometeu Serra, sob aplausos.

Dilma promete um caminho diferente para suprir essa demanda: criar novas escolas técnicas pelo país, com custeio bancado pelo governo federal.

Jefferson lembrou que Serra presidia a UNE em 1964, ano do golpe militar: — O Serra, no momento da ditadura militar, como presidente da UNE, enfrentou pela via legal a ditadura militar. E por isso foi punido e foi morar como exilado no exterior. José Serra é a síntese dos valores em que cremos.

Cremos na lei, cremos na justiça, cremos na democracia — disse Jefferson, no programa, sem citar Dilma.

Para PSDB, é hora de ajustar agenda e afinar discurso

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Surpresos com pesquisa, líderes reclamam de falta de organização na campanha e centralização das decisões a cargo do candidato

Ana Paula Scinocca, Christiane Samarco

BRASÍLIA – A vantagem de Dilma Rousseff (PT) em relação a José Serra acendeu o sinal amarelo no PSDB. Um dia após a pesquisa CNI/Ibope ter registrado vantagem de 5 pontos porcentuais para a petista - 40% a 35% -, líderes do PSDB reclamaram de desorganização na campanha e de centralização das decisões nas mãos de Serra.

Nos bastidores, defenderam ajustes na agenda e a necessidade de harmonizar o discurso. Na avaliação de um parlamentar tucano, é preciso parar de ter medo do candidato e aderir de fato à campanha. Segundo ele, a campanha não é de Serra, mas do PSDB e o que está em jogo é o futuro do País e da oposição.

Em outra linha de interpretação, um dos estrategistas da campanha, deputado Jutahy Júnior (PSDB-BA), admitiu que o resultado da pesquisa foi "uma surpresa" e que todo levantamento em que o candidato aparece atrás gera estresse na campanha.

Jutahy advertiu, no entanto, que não se muda o rumo por conta de uma pesquisa, sobretudo quando os levantamentos internos dizem que o candidato vai bem. "O maior erro que uma campanha pode cometer é não ter clareza de suas convicções nem capacidade para manter os rumos. Vamos lidar com números voláteis a campanha inteira", justificou.

Para o deputado baiano, a luta do PSDB não mudou e é uma só: "Precisamos tirar Dilma da toca." Disse estar seguro da estratégia de comparar Serra a Dilma e forçar a adversária a se expor e ir para o debate. "Campanha é comparação e, para isso, haverá debates e entrevistas sem teleprompter. A campanha só começa em 5 de julho." Segundo ele, o que pode explicar o crescimento de Dilma é que ela está se tornando conhecida no Brasil inteiro como candidata do presidente.

Presidente do PSDB e coordenador da campanha de Serra, o senador Sérgio Guerra (PE) afirmou que a pesquisa não vai alterar os rumos da campanha, mas reconheceu que uma avaliação ampla deveria ser feita pelo partido. Ele viajou para São Paulo a fim de se reunir com Serra no início da noite. Entre os assuntos a ser discutidos, além da pesquisa, estavam a finalização de palanques regionais e a escolha do vice na chapa. "Não vamos mudar o rumo até porque esse levantamento difere bastante das nossas pesquisas, mas é preciso que sejam feitas avaliações", avisou.

Ajuste. Políticos do partido chegaram a advertir sobre a necessidade do que chamaram de "ajuste fino" no marketing e na comunicação da campanha. Outro importante líder do PSDB disse que os tucanos não vão se conformar com a tese de que a pesquisa foi ruim para Serra porque o volume de propaganda do governo foi maior se comparado ao programa partidário.

No núcleo de comunicação da campanha, a pesquisa não foi motivo de alarme. As medições internas, segundo integrantes do grupo, dão vantagem a Serra. Eventual mudança só será colocada em curso com a orientação do comando da campanha - argumento mencionado também pelo presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ). "Precisamos encerrar de vez a montagem dos palanques regionais e a definição do vice para começar a campanha para valer. Nosso desafio é estruturar campanha em todos os municípios", afirmou.

"Nosso discurso não é fácil", prosseguiu. "Temos de convencer o eleitor de que os ganhos dos últimos anos estarão garantidos e projetar um futuro melhor. O Serra tem de falar em melhora futura, sem gerar insegurança no presente. O desafio da Dilma é não mexer no que está dando certo e o nosso é projetar futuro melhor a partir do que existe hoje. As estratégias estão todas no limite", avaliou.

Indicadores. Diante da indicação da pesquisa CNI/Ibope de que houve uma queda nas intenções de voto do tucano no Sudeste, Jutahy diz que "é obvio" que o PSDB tem de estar atento. Segundo ele, é preciso procurar saber o que está de fato ocorrendo na região em que o partido é mais forte e tem o governo dos dois principais Estados: São Paulo e Minas. "Se houve uma queda no nosso ponto forte, onde há um público mais identificado com nossa administração e somos bem avaliados, temos de analisar o porquê. Não podemos descuidar dessa região, que é fundamental para a nossa vitória."

Com a experiência de quem participou de quatro campanhas presidenciais, o ex-presidente do DEM Jorge Bornhausen advertiu que é preciso encerrar o período de montagem dos palanques estaduais e definição do vice para avaliar melhor as candidaturas.

"Isso tudo toma tempo e deixa o candidato paralisado", avaliou. Ele reconheceu que a briga em seu próprio Estado - Santa Catarina - não permite uma visita de Serra. "A partir da próxima quinta-feira, tudo estará resolvido e o candidato poderá vir aqui quando e quantas vezes quiser", disse. Apesar do resultado ruim da pesquisa, Bornhausen disse que não jogou a toalha. "Não perdi a esperança nem a vontade de ganhar. Tenho confiança nesta vitória."

PPS realiza convenção neste sábado com expectativa de Serra anunciar nome do vice

DEU NO PORTAL DO PPS

Evento deve reunir mais de 500 pessoas.


William Passos


Candidato a presidente participa da convenção eleitoral que acontece a partir das 17 horas no Hotel Guanabara, no Rio de Janeiro. Evento será transmitido ao vivo.

O Partido Popular Socialista espera reunir neste sábado (26), no Rio, mais de 500 pessoas durante sua Convenção Nacional que irá formalizar o apoio a José Serra (PSDB) para a disputa pela Presidência da República. A expectativa é a de que durante o evento Serra anuncie o nome do seu vice. Quarta-feira (23), o candidato tucano afirmou que esta decisão sairá até o próximo domingo.

Para o presidente nacional do PPS, o momento não poderia ser melhor para o partido, caso o aliado resolvesse mostrar ao país, durante este encontro, quem será o companheiro de chapa na corrida ao Palácio do Planalto.

“Seria bom se ele (Serra) pudesse até revelar (o nome do vice) na convenção do PPS. Não sei se ele vai fazer, mas se é até domingo o prazo quem sabe ele não adiante. Mas isso não é algo problematico, não”, disse.

Confirmaram presença, além do candidato José Serra, os presidentes dos partidos aliados: Sérgio Guerra (PSDB) e Rodrigo Maia (DEM). O candidato ao governo do Rio de Janeiro pelo PV, Fernando Gabeira, também participará da Convenção.

O PPS, durante sua convenção, também oficializará a aliança nacional que é composta também por PTB e PSC.

O presidente do PPS disse que o que será anunciado no encontro é fruto da decisão tomada pelo Congresso Nacional do partido em agosto de 2009, quando os filiados optaram pela aliança com o candidato do PSDB.

“É o reencontro da história: a Social Democracia, uma bandeira empunhada por Serra, com o Socialismo do velho partidão. Agora, é partir para o embate e conquistar a opinião pública para ganhar a eleição”, acrescentou Freire.

Local

O evento, que reunirá dirigentes do partido em todo o país, terá início às 17 horas, no Hotel Guanabara, que fica na Avenida Presidente Vargas, 392 - Centro.

Transmissão ao vivo

Como tem sido usual, o PPS transmitirá, ao vivo pela internet, as imagens e o aúdio da Convenção. (clique aqui para assistir o evento a partir das 17 horas deste sábado)

Pesquisa faz Serra acelerar escolha do vice

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Um dia após o Ibope mostrar Dilma Rousseff (PT) pela primeira vez à frente de José Serra, o PSDB acelerou as articulações para escolha do vice. Líderes reclamam de desorganização na campanha.

Sob impacto do Ibope, Serra discute indicação de Patrícia Amorim para vice

PSDB não descarta outros nomes e DEM aposta na vice-presidente do partido para ocupar a vaga; nadadora de 41 anos, que foi campeã brasileira 28 vezes e preside o Clube de Regatas Flamengo, abriria espaço para o tucano junto a eleitores esportistas

Christiane Samarco / BRASÍLIA

Um dia após a divulgação da pesquisa CNI/Ibope que o mostrou pela primeira vez atrás da rival do PT, Dilma Rousseff, o candidato do PSDB à Presidência, José Serra, passou o dia ao telefone consultando os líderes mais influentes do partido tentando definir o vice de sua chapa. Serra discute, entre outros nomes, a escolha de Patrícia Filler Amorim para o posto.

Patrícia, de 41 anos, é ex-atleta e presidente do Clube de Regatas do Flamengo. Em telefonemas a vários interlocutores, entre os quais o ex-governador de Minas Aécio Neves e o senador Tasso Jereissati (CE), Serra diz que está recolhendo opiniões e ouvindo. Ao mesmo tempo, porém, não esconde seu entusiasmo pessoal com a possibilidade de escolha da nadadora que foi 28 vezes campeã brasileira e estabeleceu recordes nos Jogos Olímpicos de Seul, em 1988.

A cúpula do DEM também trabalha nos bastidores para emplacar um nome de suas fileiras na dobradinha com o tucano. Ontem, o comando de campanha de Serra e líderes de partidos aliados - como o próprio DEM - decidiram fazer uma reunião para tratar da questão do vice e discutir os rumos da campanha. O encontro foi no QG do comando da campanha, o antigo Edifício Joelma, em São Paulo, onde funciona o Diretório Municipal da legenda.

Algo novo. A vários tucanos, Serra disse que ainda estava querendo saber melhor quem é Patrícia e que também faz questão de ouvir todo mundo para tomar a decisão. Mas adiantou que ela pode ser algo novo na campanha tucana.

Antes de se tornar a primeira mulher a presidir o Flamengo, Patrícia foi eleita por três vezes vereadora pelo PSDB do Rio. Em 2008, assim como nas outras ocasiões, ela sempre defendeu a bandeira do esporte.

Embora alguns tucanos experientes ponderem que se trata de uma opção ousada e de eficácia eleitoral duvidosa, um dirigente do PSDB sustenta a tese de que o Flamengo equivale a um Bolsa-Família, com potencial para fazer com que o nome de Serra chegue a camadas mais populares do eleitorado. A aposta dos mais otimistas é que a escolha pode repercutir além das divisas do Rio, o que já não seria pouco, considerando que se trata do terceiro maior colégio eleitoral, com 10,9 milhões de eleitores.

O raciocínio nesse caso é que ter a presidente de um clube de futebol na chapa abre um espaço novo para Serra levar sua candidatura a conhecimento de quem não gosta nem acompanha o noticiário político. O tucanato acredita que ter o nome do candidato do partido no noticiário esportivo seria positivo.

Opções. Apesar de a balança tucana pender para Patrícia Amorim, até a noite outras opções do partido não estavam totalmente descartadas. Reforçando a ideia de ter uma vice mulher, a exemplo do que ocorreu em 2002, quando o PMDB entrou na chapa com a deputada Rita Camata (ES), o próprio Serra colocou o nome da senadora Marisa Serrano (PSDB-MT) como opção.

Na lista de vices tucanos também figura o nome do senador Álvaro Dias, como alternativa para fechar uma composição mais ampla com o PDT do senador Osmar Dias em um Estado importante como o Paraná. Alguns dirigentes avaliam que é preciso agregar mais votos no Sul para alargar a vantagem de Serra na região.

O presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ), e seu antecessor Jorge Bornhausen têm insistido em fincar o pé na chapa presidencial com um vice do partido. Nos bastidores, líderes do DEM dizem que a presidente do Flamengo pode até levar 40 % da torcida do clube com ela, mas, nesse caso, o tucano poderá enfrentar a oposição de 60% dos cariocas que torcem para outros times. Eles afirmam que a escolha tem de passar pelos partidos aliados, e não pelo perfil de pessoas.

De qualquer forma, o DEM também já escalou sua lista de opções de vice para se contrapor a qualquer critério que os tucanos venham a usar como justificativa na escolha final. Para fazer frente à alternativa Patrícia Amorim, por exemplo, sugerem a vice-presidente nacional do partido, Valéria Pires Franco, 41 anos, que já foi vice-governadora do Pará.

Argumentam que ela tem boa presença na televisão - foi apresentadora do telejornal local da TV Globo - e a simpatia de 12% do eleitorado paraense. Os tucanos rebatem, dizendo que ela mesma já mandou recados de que prefere disputar uma vaga no Senado, pois tem 46% das intenções de voto para o posto, segundo pesquisas internas. No embalo dos elogios públicos feitos pelo próprio Serra, a opção nordestina do DEM para concorrer com Sérgio Guerra é o deputado José Carlos Aleluia (BA).

A reeducação de Dilma Rousseff :: Rogério L. F. Werneck

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Em entrevista à Veja de 16 de junho, Dilma Rousseff afirmou que não existe mais risco Brasil. "Nós nos destacamos no cenário mundial como uma nação que tem rumo, e esse rumo é correto, com crescimento econômico, estabilidade, instituições sólidas e democracia." Foi-lhe então perguntado se concordava com a ideia de que os alicerces dessa robustez tinham sido lançados por FHC. A resposta foi estarrecedora. "Discordo. Hoje nós temos estabilidade macroeconômica. Nós recebemos um governo sem estabilidade, com apenas US$ 36 bilhões de reservas. O endividamento do Brasil crescendo, a inflação ameaçando sair do controle, uma fragilidade externa monumental que a gente não podia nem mexer, o câmbio a R$ 4. Qual é o alicerce?"

Nunca é demais relembrar o que de fato ocorreu em 2002. Nas eleições municipais do final de 2000, o PT havia patrocinado um tresloucado plebiscito nacional que indagava se o governo deveria pagar suas dívidas interna e externa. Não foi surpreendente que, cerca de 18 meses depois, em meados de 2002, a perspectiva da vitória de Lula desencadeasse avassaladora desestabilização da economia, à medida que investidores, empresas e famílias tentavam se proteger contra perdas financeiras. Para que a normalidade pudesse ser restaurada, Lula teve de renegar de público as ideias que o PT vinha defendendo e, já no governo, em 2003, mostrar que estava de fato disposto a adotar uma política econômica sensata.

A resposta de Dilma à Veja chama a atenção para as limitações da suposta metamorfose por que a candidata estaria passando, sob a influência de Antonio Palocci. Há poucas semanas Palocci conseguiu que, diante de uma plateia de investidores em Nova York, Dilma recitasse um discurso que nunca foi seu. Instado pelo presidente Lula a atuar como preceptor da candidata, o ex-ministro tem-se empenhado em convencer o empresariado de que, em pouco tempo, o discurso econômico de Dilma pode ficar tão respeitável quanto o dele.

O desafio um tanto farsesco com que se defronta Palocci traz à mente a aposta de Pygmalion, famosa sátira de Bernard Shaw, escrita há quase 100 anos e popularizada pelo filme My Fair Lady, de 1964, dirigido por George Cukor, estrelado por Audrey Hepburn e Rex Harrison e agraciado com nada menos que oito Oscars. O enredo é bem conhecido. Henry Higgins, um professor de fonética, aposta com outro estudioso da matéria que, se devidamente reeducada, Eliza Doolittle, uma rude florista londrina, com forte sotaque cockney, passaria em pouco tempo a ter um linguajar tão impecável que poderia se passar por duquesa. Mas é bom conter a fantasia e não alimentar ilusões. Palocci não é Rex Harrison, Dilma não é Audrey Hepburn e Brasília não é Hollywood. Por mais que seu novo preceptor se esforce, Dilma não vai passar a ter o discurso de Palocci. Não vai deixar de lado as ideias econômicas que defendeu com chocante clareza nos últimos sete anos e meio, em franca oposição ao próprio Palocci.

Mudanças tão radicais, quando se tem mais de 60 anos, são inverossímeis. Mais ainda no caso de uma pessoa tão intransigente como Dilma Rousseff. Palocci jamais teria dito o que Dilma afirmou na entrevista à Veja. Desde 2002, o ex-ministro não vem tendo qualquer problema em reconhecer, com todas as letras, o mérito dos governos anteriores no longo esforço de estabilização macroeconômica empreendido pelo País nas últimas duas décadas. Mas o sectarismo de Dilma não lhe permite sequer uma visão minimamente razoável e equânime de como o País avançou nesse extraordinário esforço, ao qual o PT só veio se juntar, tardiamente, em 2003.

Dilma parece convencida de que o discurso de Palocci lhe pode ajudar a ganhar a eleição. Mas, como mostra a resposta à Veja, tem enfrentado grande dificuldade para manter a encenação sem deixar que suas próprias convicções acabem aflorando. Lidar com a tensão entre os dois discursos não lhe tem sido fácil. E é isso que talvez explique seus prolongados silêncios em entrevistas e sua propensão a se esquivar de debates.


Economista, doutor pela Universidade Harvard, é professor titular do departamento de economia da PUC-RIO

Inflação em alta faz renda ter primeira queda no ano

DEU EM O GLOBO

Perda real em maio foi de 0,9%, mas desemprego é o menor desde 2002

A renda do trabalhador nas seis principais regiões metropolitanas do país recuou 0,9% em maio, pela primeira vez no ano. O número, divulgado ontem pelo IBGE, mostra que a inflação em alta já começa a corroer o poder de compra do brasileiro. A boa noticia é que o desemprego ficou em 7,5%, a menor taxa em oito anos para um mês de maio. No ano passado, ficara em 8,8%. Em abril, recuara para 7,3%, Segundo o próprio IBGE e especialistas, foi justamente a recuperação da economia que fez com que mais brasileiros saíssem em busca de trabalho, pressionando ligeiramente a taxa na virada de abril para maio. "O mercado de trabalho está com uma taxa de desocupação muito baixa para padrões históricos", resumiu o economista e professor da PUC José Márcio Camargo.

Inflação "come" renda do trabalho

Ganho real cai 0,9% em maio, após 4 altas seguidas. Desemprego fica em 7,5%, menor taxa em 8 anos

Clarice Spitz

Sob impacto da inflação, a renda do trabalhador nas seis principais regiões do país recuou pela primeira vez no ano. O poder de compra caiu 0,9% na passagem de abril para maio, interrompendo uma trajetória de quatro altas consecutivas, informou ontem o IBGE.

A piora na renda veio acompanhada de uma ligeira alta no desemprego, que subiu de 7,3% em abril para 7,5% em maio. Mesmo assim, a taxa de desocupação do mês passado foi a menor para maio desde o início da atual Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE, em 2002. Em maio do ano passado, a taxa estava em 8,8%.

E, para os especialistas, os números mostram ainda um cenário muito favorável para os trabalhadores.

— O mercado de trabalho está com uma taxa de desemprego muito baixa para padrões históricos. Ela subiu neste mês, mas não espero que vá haver aumento de desemprego sistemático — afirma José Márcio Camargo, professor da PUC-RJ e consultor da Opus Gestão de Recursos.

Desemprego sobe com maior busca por vagas

A alta no desemprego surpreendeu os analistas que, depois da queda na desocupação em abril, esperavam uma taxa em torno de 7% no mês passado.

Mas, segundo o IBGE, o desemprego subiu ligeiramente em maio principalmente porque, diante de uma economia aquecida, mais trabalhadores foram em busca de vagas.

— Como as pessoas escutam que o mercado de trabalho está melhor, que o cenário econômico está mais favorável, isso acaba gerando uma busca maior. As pessoas que estão na inatividade acreditam que vão conseguir emprego — explica o coordenador da pesquisa do IBGE, Cimar Azeredo.

Apesar da perda de renda de abril para maio, o ganho médio dos trabalhadores das seis maiores regiões metropolitanas do país, de R$ 1.417,30, é 2,5% maior do que um ano atrás.

— A inflação no período teve efeito corrosivo sobre os ganhos dos trabalhadores. Foi o primeiro ponto e temos que ficar em alerta e acompanhar — disse Azeredo.

Na opinião do economista João Saboia, diretor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, a explicação para as perdas nos rendimentos pode estar no próprio aquecimento do mercado de trabalho. Isso porque a tendência é que os novos contratados, normalmente jovens ou pessoas sem experiência, sejam incorporados com salários menores.

— O mercado de trabalho continua absorvendo muitas pessoas e é possível que, por conta disso, o rendimento médio esteja caindo, associado, é claro, a uma inflação que veio num ritmo mais acelerado, mas que deve desacelerar daqui para frente — afirmou.

Os especialistas destacam ainda que o mercado de trabalho está mais dinâmico nas cidades menores, que não são investigadas na pesquisa mensal do IBGE. As estatísticas do Ministério do Trabalho, que dizem respeito apenas ao emprego com carteira assinada, mas são de abrangência nacional, mostraram uma criação recorde de vagas em maio, quando 298 mil novos postos formais foram abertos no país, o melhor resultado para este mês desde 1992.

A pesquisa do IBGE constatou uma alta de 1,1% nas vagas com carteira assinada em maio, frente ao mesmo mês do ano passado. Para Azeredo, do IBGE, as boas perspectivas para o mercado de trabalho brasileiro continuam.

— Existem outros indicadores como melhora na qualidade de emprego e formalização que continuam a mostrar o dinamismo do mercado de trabalho — frisou.

Economista pró-Serra ataca juro, baixo investimento público e carga tributária

DEU NO VALOR ECONÔMICO

Ana Paula Grabois, de São Paulo

Gesner Oliveira, economista que participa da formulação do programa de governo do candidato à Presidência da República do PSDB, José Serra, atacou ontem a política econômica em curso. Em evento na Câmara Americana de Comércio, Oliveira criticou o patamar da taxa real de juro, a carga tributária e o reduzido nível de investimento público no país. Disse, contudo, que falava como acadêmico e que as suas opiniões eram "absolutamente pessoais". Para Oliveira, o ambiente econômico é desfavorável ao investimento de longo prazo das empresas. Na sua avaliação, o investimento público, de 1,5% em relação ao PIB, é muito baixo quando se compara com o peso das despesas correntes nos gastos do governo.

Também presidente da Sabesp (companhia estadual de saneamento de São Paulo), Gesner Oliveira vê "enorme avanço na economia" nos últimos 25 anos, especialmente devido à estabilidade de preços, mas ressalta haver "algo errado com a economia brasileira". "Quando medimos a febre, mesmo da macroeconomia, há algo errado. É uma economia com uma taxa de juros real extremamente elevada. Não vamos discutir aqui as razões disso, mas não é possível dizer que a macroeconomia vai bem e vamos cuidar da microeconomia. Nosso check-up médico mostra que há anomalias bastante graves", afirmou a uma plateia formada por empresários.

O economista do programa de Serra destacou o nível de tributos e citou estudo do Banco Mundial que mostra que os impostos correspondem a 69,2% do lucro das empresas no Brasil. Segundo Oliveira, o país tem a maior carga tributária das economias em desenvolvimento, o que as prejudica para que alcancem o necessário patamar de investimento privado para sustentar um crescimento equilibrado no longo prazo. "O Brasil tem essa carga tributária, é campeão de taxa real de juros e tem investimento público tão baixo e que não mobiliza o investimento privado, tem algo bastante sério. Isso precisa ser atacado", disse.

Também listou outros entraves ao investimento privado, como a falta de qualificação profissional na força de trabalho, a baixa qualidade do sistema de ensino, a instabilidade de regras, o excesso de burocracia e o fraco estímulo governamental à inovação. "Dadas as circunstâncias macroeconômicas e a verdadeira maratona microeconômica que empresário que quer investir no longo prazo deve enfrentar, na verdade, a antropologia deveria dedicar um estudo para entender porque as pessoas ainda investem diante de tantas dificuldades", disse Oliveira, lembrando ainda do enfraquecimento das agências reguladoras no governo Luiz Inácio Lula da Silva.

O economista Bernard Appy, que já foi da equipe econômica do governo Lula desde os tempos que Antonio Palocci era ministro da Fazenda e hoje ocupa diretoria na BM&F, fez a defesa da política do governo. Para Appy, a situação econômica hoje é "sólida e consistente". "Quando a macroeconomia está em ordem, permite e amplia o crescimento. Quando está em desordem, impede o crescimento. Isso não significa que não há desafios na área macroeconômica do crescimento", disse. Entre os desafios, citou o baixo nível de poupança doméstica, a carga tributária e a carência de uma reforma na Previdência. Nos temas eficiência e produtividade, avalia ser preciso melhorar a infraestrutura, a gestão do setor público e deixar a estrutura tributária menos complexa, evitando, por exemplo, as distorções causadas pela guerra fiscal entre os Estados.

No seminário, o economista Delfim Netto avaliou ser necessário aprimorar a política econômica, como melhorar a qualidade do gasto público, com menos despesa de custeio e mais investimento. "O funcionalismo público e os sindicatos se apropriaram do governo", disse.

Na área macroeconômica, as prioridades são, segundo Delfim, ter taxa real de juro em linha com a taxa mundial, câmbio estável e competitivo e mais investimentos em infraestrutura. O ex-ministro da Fazenda vê o pré-sal como um "bônus" que pode resolver a necessidade de energia elétrica e, ao mesmo tempo, os desequilíbrios em conta corrente.

Para escapar da armadilha :: Yoshiaki Nakano

DEU NO VALOR ECONÔMICO

Não há como não ser repetitivo no Brasil pois cometemos os mesmos erros repetidamente. Entramos novamente na armadilha que bloqueia a transição da economia brasileira para um processo de crescimento mais acelerado e estável. Antes da taxa de investimento chegar à casa dos 20% do PIB, para poder acelerar o crescimento do PIB potencial, surge a ameaça de inflação e do déficit excessivo nas transações correntes. Daí, ao invés de contermos os gastos correntes do governo aumentamos a taxa de juros. Aí está o erro. A inflação pode ser contida, em grande parte em função da apreciação da taxa de câmbio, mas o déficit em transações corrente dispara anunciando dificuldades ou crise no médio prazo. Se as autoridades decidirem evitar antecipadamente a crise terão que frear ainda mais o crescimento e depreciar a taxa de câmbio.

Vivenciamos esse erro de 1995 a 1999 e tivemos a crise cambial. Novamente em 2008, enquanto o Banco Central aumentava a taxa de juros a partir do mês de abril, o governo praticava política fiscal fortemente expansionista. Nesse caso o script final mudou por que fomos atropelados no último trimestre pela forte contração de crédito pelos bancos brasileiros em função do pânico gerado nos Estados Unidos com a quebra do Lehman " s Brothers. Este ano, mal iniciamos a recuperação dos investimentos o Banco Central novamente iniciou a elevação da taxa de juros em função do aumento da expectativa de inflação. A política fiscal expansionista plenamente justificável no final de 2008 e primeiro semestre de 2009, pois foi uma ação contracíclica, não se justifica há muito tempo. Deveríamos ter uma coordenação entre a política fiscal e monetária de forma que neste ano a política fiscal deveria ser contracionista para conter o excesso de demanda e conter tanto déficit em transações correntes quando eliminar a ameaça de inflação. Nesse caso a política monetária poderia ser passiva de forma a não bloquear o aumento na taxa de investimento. Assim a expansão do produto potencial decorrente poderia acompanhar o crescimento da demanda agregada, mais moderada em função da política fiscal contracionista.

O efeito perverso da atual elevação da taxa de juros é que ao atrair fluxo de capitais do exterior e gerar novas pressões para apreciar a taxa de câmbio, agrava ainda mais o crescente déficit em transações corrente. Basta lembrar que o volume de importações cresceram 41,5% até maio deste ano, comparado ao mesmo período de 2009. Neste mesmo período o volume de importações de bens duráveis aumentou 77,1%.

É verdade que temos hoje quase US$ 250 bilhões de reservas cambiais, mas o estoque de ativos líquidos no Brasil é muito maior de forma que uma vez instalada a desconfiança de que a taxa de câmbio deverá depreciar, a probabilidade de interrompe-las será muito pequena. Só os recursos aplicados no overnight e nas operações com compromisso de recompra pelo Banco Central podem esgotar com as reservas cambiais. Pior, como nesses casos há sempre um "overshooting" o impacto sobre a taxa de câmbio deverá ser desnecessariamente forte.

O resultado desse processo é um crescimento médio moderado com fortes instabilidades tanto no produto como na taxa de inflação, na melhor das hipóteses. No longo prazo deverá resultar num crescimento medíocre quando finalmente a economia brasileira adquirir dinamismo e puder voltar a crescer aceleradamente como fizemos de 1940 a 1980 quando crescemos uma média anual de 7%. Para perceber as nossas possibilidades basta lembrar que apesar da taxa de câmbio apreciada, a indústria de transformação voltou a liderar o crescimento alimentada por um crescimento doméstico da demanda, por sua vez sustentada pelo aumento da massa real de salário que deverá ser superior a 5,5% este ano. É fundamental lembrar que este aumento vem acompanhado de aumento maior da produtividade do trabalho de forma que o custo unitário do trabalho está caindo. Portanto, a redução do desemprego e o aumento de salário real não exercem pressão inflacionária.

Como este é um ano eleitoral a questão fica para o próximo presidente: se quisermos transitar para um crescimento mais acelerado e estável não há outra saída senão reduzir relativamente ao PIB a despesa corrente do governo de forma a abrir espaço no PIB para que a taxa de investimento aumente para mais do que 25% do PIB. Isso não significa que a despesa corrente tenha que ser reduzida em termos absolutos, ela tem que crescer menos do que o PIB ao longo de anos. Não há outra opção pois a soma dos componentes da demanda agregada não pode ser maior do que o PIB. Para ampliar o investimento privado concomitantemente com a redução da despesa, a carga tributária terá que ser reduzida devolvendo renda a este setor. Nesse processo o déficit público deverá ser eliminado de forma que a taxa de juros possa convergir para níveis internacionais e a taxa de câmbio possa ser mantida mais competitiva. Essa transição para o crescimento mais rápido pode ser feito ao longo do primeiro mandato e o próximo Presidente ser reeleito, ou mais lentamente, com redução da probabilidade de ser reeleito.


Yoshiaki Nakano, ex-secretário da Fazenda do governo Mário Covas (SP), professor e diretor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas - FGV/EESP.

Para os mais pobres, despesas com habitação levam 37% do orçamento

DEU EM O GLOBO

Moradia é item que mais pesa para brasileiros, mas classe média gasta só 25%

Liana Melo

O brasileiro gasta muito com habitação e ainda assim, mora mal. Os gastos com habitação são, de longe, os quem mais pesam nas despesas. E o pior é que, para os mais pobres, esse peso é ainda maior. Segundo da Pesquisa de Orçamentos Familiares ( POF) , 2008/2009, divulgada pelo IBGE anteontem, entre a parcela da população que ganha até dois salários mínimos (R$ 830, pelo valor do piso em 2009), o gasto com moradia consome 37,2% do orçamento familiar.

Já entre a classe média, com salários que oscilam entre 15 e 25 salários mínimos (de R$ 6.225 a R$ 10.375), o peso cai para 25,1%.

Para o economista Heron do Carmo, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP), é a desigualdade social que explica porque os brasileiros da base da pirâmide social gastam com habitação, proporcionalmente, 1,48 vez mais que a classe média. É que, diz ele, os pobres costumam sempre gastar mais com bens essenciais que os mais ricos. O mesmo ocorre com as despesas com alimentação, que, entre os pobres, respondem por 27,8%, enquanto entre a classe média, representa bem menos: 11,7%.

— Para explicar a composição dos gastos das famílias brasileiras nada melhor do que a má distribuição de renda, que é o principal fator a alimentar a desigualdade social — comenta Carmo.

Para ricos, gasto com moradia caiu. Para pobres, subiu Entre os mais pobres, os gastos com habitação são os que mais pesam no orçamento das famílias, enquanto entre os mais ricos, o transporte é, depois das despesas com habitação, o item que mais consome os recursos das famílias.

— A classe média gasta 19,8% com transporte, enquanto os pobres, apenas 9,7% — constata Edilson Nascimento, gerente da POF, explicando que esta diferença é basicamente alimentada pelo fato de os pobres usarem preferencialmente transporte público, enquanto a classe média gasta muito com transporte individual. — Isto sem falar no fato de que muitas vezes uma única família tem mais de um carro.

Este perfil de comportamento não muda, tanto assim que a POF 2002/2003 já tinha detectado a diferença. Mas, desde então, os mais ricos passaram a gastar ainda menos com habitação: 25,1%, contra 26,76% em 2002/2003. Para os pobres, as despesas com moradia subiram ligeiramente, de 37,15% para 37,2%.

Dívida federal sobe com capitalização do BNDES

DEU EM O GLOBO

Emissão de títulos para injetar recursos no banco fez débito crescer 1,85% em maio

Martha Beck

BRASÍLIA. Uma emissão de R$ 5,8 bilhões em títulos para completar a capitalização do BNDES foi um dos principais responsáveis pelo aumento da dívida pública federal em maio. O estoque teve crescimento de 1,85% e atingiu R$ 1,614 trilhão. Segundo dados divulgados ontem pelo Tesouro Nacional, as emissões líquidas do mês somaram R$ 10,29 bilhões. Houve ainda uma incorporação de juros no valor de R$ 19,05 bilhões.

O Tesouro já havia colocado no mercado R$ 74,2 bilhões em abril para capitalizar o BNDES.

Com a operação de maio, o banco de fomento já recebeu um total de R$ 80 bilhões.

Além de ter crescido, a dívida ficou mais cara para o governo.

Seu custo médio acumulado em 12 meses subiu de 9,55% ao ano, em abril, para 10,42% ao ano, em maio. Isso se deve, principalmente, à elevação dos índices de preços, que corrigem 27,23% do estoque. Já o prazo médio de vencimento da dívida ficou menor, passando de 3,57 anos para 3,51 anos entre abril e maio.

Segundo o coordenador-geral de Operações da Dívida Pública, Fernando Garrido, o apetite dos investidores estrangeiros pelos papéis brasileiros aumentou. Esse grupo respondia por 8,63% (R$ 126,4 bilhões) do estoque da dívida mobiliária federal interna em abril. Em maio, subiu para 8,95% (R$ 133 bilhões).

Maior participação na série histórica do Tesouro Essa foi a maior participação já registrada na série histórica do Tesouro, iniciada em janeiro de 2006. O percentual, porém, está longe daquele do Leste da Europa, por exemplo, que chega a 30%.

— Podemos atribuir esse resultado à solidez da economia brasileira. O Brasil tem grau de investimento, e os títulos do país têm permanecido estáveis em relação aos de outras economias, mesmo durante turbulências — disse Garrido.

O coordenador-geral de Planejamento Estratégico da Dívida, Otávio Ladeira, disse que a tendência é que seja mantida a trajetória de aumento da participação dos estrangeiros na dívida pública.

As privatizações de PT e PSDB:: Vinicius Torres Freire

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

PT quer colar em Serra rótulo de privatista; tucano rebate com a "privatização" de dinheiro público sob Lula

Sabe-se lá o que o grosso do eleitorado entende por "privatização". Pesquisas indicam que o termo é associado a bandalheira e dilapidação do patrimônio "do povo", entre outros palavrões de uma nuvem de significados vaga mas politicamente intragável. O PT sabe disso. Em 2006, Lula acabou de fazer picadinho do tucano Geraldo Alckmin ao lhe pespegar o rótulo de privatista.

O lulismo-petismo já começou a cruzar essa bola na área da campanha de José Serra. Não se sabe se a jogada terá o mesmo efeito de 2006, mas é difícil defender esse "ataque".

Na entrevista que deu segunda-feira ao programa "Roda Viva", da TV Cultura, Serra rebateu essa bola de modo inteligente. Mas seu argumento talvez ainda seja elaborado demais para pegar em campanhas.

Serra afirmou que o governo privatiza o dinheiro público por meio dos empréstimos do BNDES para negócios de fusões e aquisições.

De 2009 a 2010, o BNDES terá recebido até R$ 180 bilhões do Tesouro, dinheiro que o governo toma emprestado na praça a uma certa taxa de juros, mais ou menos a Selic, bem superior à taxa pela qual o BNDES empresta a grandes empresas. Logo, o governo federal, via BNDES, subsidia grandes empresas.

Trata-se de uma privatização, de certo modo, embora não esteja diretamente em jogo a transferência da propriedade. Diretamente, ressalte-se.

Parte desse dinheiro foi dirigida a novos projetos de investimento, para os quais não há financiamento viável de longo prazo. Outra parte financiou fusões e aquisições, diretamente ou por meio do barateamento do custo de capital das empresas que estavam em processo de comprar ou de se juntar a outras.

Com dinheiro do BNDES e/ou com seu dedo político, o governo federal ajudou a concentrar o negócio de carnes nas mãos do JBS e da Perdigão-Sadia, Sadia falida na brincadeira cambial de 2008. Aglomerou parte do negócio da telefonia na Oi. O negócio da celulose na Votorantim-Aracruz, outras participantes da ciranda cambial. Colocou a petroquímica sob o chapéu da Odebrecht (Braskem)-Petrobras. Etc.

Mas o grosso do eleitorado entenderá o modo pelo qual juros subsidiados barateiam o custo de capital de grandes empresas e facilitam a criação de conglomerados e oligopólios? Entenderia como os juros subsidiados do BNDES afetam a taxa média de juros da economia, impedindo que ela seja menor?

Quererá saber dos juros subsidiados para a agricultura e para imóveis?

Em suma, FHC privatizou, Lula conglomerou. Os dois governos tiveram papel fundamental na reorganização da propriedade da grande empresa. Houve, em mais um aspecto, continuidade entre os dois governos, agora na refundação da "aliança Estado-empresa". De resto, Lula retomou a política de concessões de serviços públicos, como no caso de estradas e, em menor grau, energia.

Serra defendia privatizações de empresas já nos anos 1980, mas não é "privatista". Defendeu, de resto, a quebra de direitos de propriedade, como o das patentes de remédios caros demais. É a favor do SUS, que fortaleceu. Jamais foi contra coisas como Bolsa Família ou aumentos do salário mínimo, pelo contrário. As diferenças atuais e práticas entre o PSDB serrista e o PT no governo são, pois, pequenas.

Vai ser mesmo difícil Serra achar uma brecha para fazer a diferença na campanha.

A dor e o ódio :: Graziela Melo


Rotunda
é a dor
que se avizinha
dos que perderão
seus filhos
na guerra.

Triste,
mas real
constatação:
é o ódio
que se alastra
sobre a Terra...


(do livro Crônicas, contos e poemas, pág. 101- Fundação Astrojildo Pereira, Brasília, 2008)