domingo, 4 de julho de 2010

Reflexão do dia – Marco Aurélio Nogueira

Donde a sensação de que as disputas eleitorais transcorrem sem muita nitidez, como se expressassem mais do mesmo. Há concordâncias categóricas quanto ao que se considera “fundamental” -- a estabilidade financeira, a responsabilidade fiscal, a necessidade de um novo ciclo de desenvolvimento. Como nada é aprofundado, fica difícil saber onde estão as diferenças.

PT e PSDB encontram-se em transição, obrigados a decifrar e traduzir uma sociedade complicada, num momento complicado do mundo. O cenário da política não lhes é propriamente favorável. Sequer está claro que tipo de partido pode cumprir uma função decisiva hoje.



(Marco Aurélio Nogueira, no artigo, ‘Partidos em transição’ em O Estado de S. Paulo, sábado, 26/6/2010)

Eleição sem maquiagem :: Fernando Henrique Cardoso

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

O mundo continua se contorcendo sem encontrar caminhos seguros para superar as consequências da crise desencadeada no sistema financeiro. Até a ideia (que eu defendi nos anos 1990 e parecia uma heresia) de impor taxas à movimentação financeira reapareceu na voz dos mais ortodoxos defensores do rigor dos bancos centrais e da intocabilidade das leis de mercado. No afã de estancar a sangria produzida pelas exacerbações irracionais dos mercados, outros tantos ortodoxos passaram a usar e até a abusar de incentivos fiscais e benesses de todo tipo para salvar os bancos e o consumo.

Paul Krugman, mais recentemente, lamentou a resistência europeia à frouxidão fiscal. Ele pensa que o corte aos estímulos pode levar a economia mundial a algo semelhante ao que ocorreu em 1929. Quando a crise parecia acalmada, em 1933, suspenderam-se estímulos e medidas facilitadoras do crédito, devolvendo a recessão ao mundo. Será isso mesmo? É cedo para saber. Mas, barbas de molho, as notícias que vêm do exterior, e não só da Europa, mas também da zigue-zagueante economia americana e da letárgica economia japonesa, afora as dúvidas sobre a economia chinesa, não são sinais de uma retomada alentadora.

Enquanto isso, vive-se no Brasil oficial como se nos tivéssemos transformado numa Noruega tropical, na feliz ironia deste jornal em editorial recente. E em tão curto intervalo que estamos todos atônitos com tanto dinheiro e tantas realizações. Basta ler o último artigo presidencial no Financial Times. A pobreza existia na época da "estagnação". Agora assistimos ao espetáculo do crescimento, sem travas, dispensando reformas e desautorizando preocupações. Se no governo Geisel se dizia que éramos uma ilha de prosperidade num mundo em crise, hoje a retórica oficial nos dá a impressão de que somos um mundo de prosperidade e o mundo, uma distante ilha em crise. Baixo investimento em infraestrutura? Ora, o PAC resolve. Receio com o aumento do endividamento público e o crescente déficit previdenciário? Ora, preocupação com isso é lá na Europa. Aqui, não. Afinal, Deus é brasileiro.

Só que a realidade existe. A prosperidade de uns depende da de outros no mundo globalizado. Por mais que estejamos relativamente bem em comparação com os países de economia mais madura, se estes estagnarem ou crescerem a taxas baixas, haverá problemas. A queda nos preços das matérias-primas prejudicará as nossas exportações, grande parte delas composta de commodities. A ausência de crescimento complicará a solução dos desequilíbrios monetários e fiscais dos países ricos e isso significará menos recursos disponíveis para o Brasil no mercado financeiro global. Não devemos ser pessimistas, mas não nos podemos deixar embalar em devaneios quase infantis, que nos distraem de discutir os verdadeiros desafios do País.

Infelizmente, estamos às voltas com distrações. Um cântico de louvor às nossas grandezas, de uma falta de realismo assustador. Embarcamos na antiga tese do Brasil potência e, sem olhar em volta, propomo-nos a dar saltos sem saber com que recursos: trem-bala de custos desconhecidos, pré-sal sem atenção ao impacto do desastre no Golfo do México sobre os custos futuros da extração do petróleo, capitalização da Petrobrás de proporções gigantescas, uma Petro-Sal de propósitos incertos e tamanho imprevisível. Tudo grandioso. Fala-se mais do que se faz. E o que se faz é graças a transferências maciças do bolso dos contribuintes para o caixa das grandes empresas amigas do Estado, por meio de empréstimos subsidiados do BNDES, que de quebra engordam a dívida bruta do Tesouro.

A encenação para a eleição de outubro já está pronta. Como numa fábula, a candidata do governo, bem penteada e rosada, quase uma princesinha nórdica, dirá tudo o que se espera que diga, especialmente o que o "mercado" e os parceiros internacionais querem ouvir. Mas a própria candidata já alertou: não é um poste. E não é mesmo, espero. Tem uma história, que não bate com o que se quer que ela diga. Cumprirá o que disse?

No México do PRI, cujo domínio durou décadas, o presidente apontava sozinho o candidato a suceder-lhe, num processo vedado ao olhar e às influências da opinião pública. No entanto, quando a escolha era revelada ao público - "el destape del tapado" -, o escolhido via-se obrigado a dizer o que pensava. Aqui, o "dedazo" de Lula apontou a candidata. Só que ela não pode dizer o que pensa para não pôr em risco a eleição. Estamos diante de uma personagem a ser moldada pelos marqueteiros. Antigamente, no linguajar que já foi da candidata, se chamava isso de "alienação".

Esconde-se, assim, o que realmente está em jogo. Queremos aperfeiçoar nossa democracia ou aceitaremos como normais os grandes delitos de aloprados e as pequenas infrações sistemáticas, como as de um presidente que dá de ombros diante de seis multas a ele aplicadas por desrespeito à legislação eleitoral? Queremos um Estado partidariamente neutro ou capturado por interesses partidários? Que dialogue com a sociedade ou se feche para tomar decisões baseadas em pretensa superioridade estratégica para escolher o que é melhor para o País? Que confunda a Nação com o Estado e o Estado com empresas e corporações estatais, em aliança com poucos grandes grupos privados, ou saiba distinguir uma coisa da outra em nome do interesse público? Que aposte no desenvolvimento das capacidades de cada indivíduo, para a cidadania e para o trabalho, ou veja o povo como massa e a si próprio como benfeitor? Que enxergue no meio ambiente uma dimensão essencial ou um obstáculo ao desenvolvimento?

Está na hora de cada candidato, com a alma aberta e a cara lavada, dizer ao País o que pensa.


Sociólogo, foi Presidente da República

Infraestrutura :: Merval Pereira

DEU EM O GLOBO

As deficiências do setor de transporte nacional são um dos principais responsáveis pela perda de competitividade do Brasil, reduzindo a produtividade e aumentando os custos de transação de pessoas, produtos e serviços.

Essa é uma das conclusões de um estudo que a consultoria Macroplan, Prospectiva, Estratégia e Gestão, do economista Claudio Porto, está distribuindo a seus clientes com uma análise da educação e da infra-estrutura no país, setores que se tornaram os principais gargalos estruturais no crescimento brasileiro.

Na educação, traçando um cenário otimista com a universalização do ensino fundamental e intensificação do esforço de melhoria das condições de ensino, a Macroplan considera que o Brasil alcançará o atual nível de escolaridade das nações mais desenvolvidas reunidas na OCDE ( Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) em 2030.

Com relação à infra-estrutura, diz o documento que há uma forte demanda de investimentos para a recuperação, melhoria e expansão da infra-estrutura de transportes nas quatro modalidades: rodoviário, ferroviário, portuário e aeroviário, demanda que se intensifica em proporção direta do crescimento econômico.

Retardar novos investimentos não somente acentuará os gargalos existentes como, no médio prazo, comprometerá a competitividade do país e a sustentabilidade do crescimento, adverte o estudo da Macroplan.

O maior desafio é acelerar e mudar a escala desses investimentos, e para tanto não faltam recursos, seja pelo aumento da arrecadação, seja pela grande abundância de recursos financeiros no mundo à procura de oportunidades atrativas e seguras.

A grande restrição, destaca a análise dos técnicos da Macroplan, reside na baixa capacidade do setor público (governos federal, estaduais e municipais) em planejar, projetar e gerir investimentos.

Os principais problemas gerados são atrasos nos prazos, freqüentes e substanciais aumentos nos custos de execução de obras, legislação relativa a licitações e execução de investimentos rígidas e inadequadas, falta de projetos e deficiências técnicas e gerenciais na área pública.

A experiência brasileira neste campo mostra, segundo a Macroplan, que a participação do setor privado em investimentos de infra-estrutura tem um saldo muito positivo, e é cada vez mais parte da solução. Os bons exemplos das áreas de telecomunicações e energia precisam ser disseminados.

No transporte rodoviário, os custos logísticos no Brasil são equivalentes a 11,6% do PIB, ou seja, mais de R$ 220 bilhões. O item de maior representatividade é o transporte, com 7% do PIB. Desse montante, o transporte rodoviário é o de maior custo e corresponde a mais de 80%, sendo a maior parte referente às atividades de aquisição, operação e manutenção. O estudo destaca que nos EUA, os custos logísticos equivalem a 8,7% do valor do PIB, sendo 5,4% referente a transporte.

Apenas 31% das rodovias estão em boas ou ótimas condições. O custo do transporte de carga por rodovias, no Brasil, é, em média, 28% mais caro do que seria se as estradas apresentassem condições ideais de pavimentação.

Construído com orientação principal para a exportação, o sistema ferroviário brasileiro possui forte concentração em minério de ferro, que representa aproximadamente 75% de sua carga. A malha atual é de somente de 28.500 km.

Um dos grandes desafios, diz a Macroplan, é o aumento das cargas domésticas e regionais. Nos EUA, 70% dos veículos são distribuídos pelo modal ferroviário.

Com 8 mil km de costa e 40 mil km de rios navegáveis, o sistema portuário do Brasil é composto de 34 portos públicos relevantes, de 131 terminais de uso privado, em 2010, além de 27 em solicitação de novas outorgas.

O estudo da Macroplan vê a gestão dos portos públicos como um grande desafio: o baixo nível de eficiência gerencial das administrações portuárias públicas requer ações de mudança, como a flexibilização na contratação da mão de obra nos portos públicos.

A Infraero controla 67 aeroportos e 97% do tráfego aéreo do País. A movimentação nos aeroportos da Infraero entre 2003 e 2009 teve um crescimento de cerca de 30% na quantidade de aeronaves e de 80% na de passageiros transportados.

A pergunta que não quer calar, segundo o estudo, é quando será o novo apagão. Para a Macroplan, com um crescimento anual de dois dígitos no número de passageiros, e com a aproximação Copa do Mundo e Olimpíadas, e as fragilidades que foram expostas no apagão, além da ainda baixa capacidade de gestão da operação dos aeroportos, de carga ou de passageiros por parte da Infraero, a grande incerteza do setor reside na evolução de marco regulatório que viabilize investimentos privados e/ou da capacidade do governo realizar os investimentos necessários em tempo hábil e a custos razoáveis.

O estudo da Macroplan aponta para a seguinte agenda:

(1) modernizar a legislação referente a licitações de projetos e obras públicas;

(2) Inovar nos métodos de formulação, modelagem e gerenciamento de projetos;

(3) intensificar, em todos os níveis de governo, a concessão privada para investimentos em rodovias;

(4) ampliar os investimentos públicos na expansão das grandes malhas ferroviárias nacionais;

(5) no futuro, revisar e aprimorar o modelo regulatório do setor ferroviário de forma a estimular a competição (uma espécie de desverticalização das concessões ferroviárias);

(6) multiplicar, no menor prazo possível, as concessões de aeroportos à iniciativa privada; e

(7) dar um ‘choque de gestão’ nos projetos de investimento público, com o emprego das melhores práticas e métodos de gerenciamento existentes.

República sem número romano :: Wilson Figueiredo

DEU NO JORNAL DO BRASIL

Transcorridos 25 anos de continuidade política, o brasileiro que se limita a pagar impostos invisíveis e a votar por hábito, sem se convencer de que há alternativa ao seu dispor, ainda espera por uma explicação menos enfeitada de desculpas esfarrapadas sobre o malogro dos três maiores partidos políticos brasileiros. PMDB, PSDB e PT tiveram tudo para dar certo e erraram a mão ao desenhar o novo perfil democrático na Constituinte de 1986/88. Da efervescência geral resultou um quadro inacabado, de que nem se fala mais. Faltou um empurrão por falta de coragem para completar as reformas implícitas e não explicitadas na complementação legal.

O PMDB e o PSDB, nascidos ambos da tradicional costela republicana, foram os herdeiros presuntivos da transição da velha à nova República, enquanto o PT ficou apenas esboçado com matéria-prima diferente, mas sem o cuidado de se benzer contra as maldições universais que recaem sobre a esquerda. Criou-se o petismo de laboratório, que sobreviveu graças ao sumo sacerdote Lula, em cujas mãos ficaram sua presidência e a do Brasil na última rodada, sem que se saiba com que resultado final uma e outra podem contar.

O PT continua a acreditar que veio ao mundo para reinventar a roda, enquanto o Brasil ainda terá de esperar as consequências atribuídas ao baixo teor ético, que a esquerda não subscreve mas que estão soltas por aí. O fato é que se edificaria mais do que se vê, e a reconstrução constitucional recaiu nos padrões tradicionais, sem maior criatividade. A vida pública é, abertamente, uma licença para aproveitar e até para enriquecer a quem se arrisca por petisco. O desrespeito pela pluralidade política não se restringe, afinal de contas, a erros de concordância gramatical, e mistura ideias para fazer coquetel. A Nova República envelheceu rapidamente pela sobrevivência de caracteres genéticos e pela acintosa multiplicação de práticas que desacreditaram a atmosfera de faz de conta, que não passou disso. E tratou de dar férias ao adjetivo que não ficou bem a uma velha centenária.

O Brasil perdeu a conta das repúblicas tentadas e desistiu de se valer de algarismos romanos para distinguir uma das outras Graças ao que de pior tiveram em comum as anteriores, até se apresentar a atual, depois de muita confusão, a República é única e exclusiva. Lula fez a sua parte, e o julgamento virá a seu tempo. Enquanto espera, o petismo se enrasca nas premissas da social-democracia, que, por sua vez, se vestiu de neoliberal para comparecer ao festival de desenvolvimento nacional. A saída, onde está mesmo?

Perdeu o “já ganhou” :: Alberto Dines

DEU NO JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Silenciados os 190 milhões de técnicos de futebol, hora de convocar psicanalistas, psiquiatras, antropólogos e filósofos para devassar as fragilidades da alma humana nos momentos supremos e horas estelares.

Culpadas pelo fiasco no gramado não foram as obsessões, os rígidos esquemas táticos ou as fantasias guerreiras engendradas pelo técnico Dunga. Não foram os laranjas os responsáveis pelo retorno prematuro da seleção, os holandeses jogaram como sempre – efetivamente – quem fez as malas da seleção brasileira foi um coquetel altamente corrosivo que atende pelo nome "fogo de palha", composto de arrogância e negligência, egocentrismo e descaso.

O tal "grupo" que vestiu a camisa azul jogou sem levar em conta que havia outros onze em campo igualmente dotados de vontades. Minimizar adversários é o primeiro passo para entregar-lhes os louros. Um time de futebol (ou de políticos), de empresários (ou tecnocratas), militares (ou civis), artistas (ou cientistas) que se exibe com tanta competência na primeira parte de um confronto não pode desnortear-se e desfibrar-se com tanta facilidade quando o adversário retorna determinado.

Um gol acidental (como o foi o do empate), não pode emascular uma equipe que até então se comportava com galhardia, a não ser que esta galhardia seja clonada e seu estofo, falso.

Impossível jogar de salto alto, os deuses que costumam observar as disputas abominam triunfalistas, incapazes de perceber que os ventos podem mudar de direção e a sorte, de lado. Toureiros longevos sempre souberam que na hora da verdade o touro extenuado pode levantar a cabeça e escapar da espada que o pegaria pela nuca.

O trágico mata-mata que dizimou os guerreiros da Brahma na África do Sul obriga às legiões de seguidores a confrontar-se com o único fantasma que devem temer em todas as competições: o quase-quase, filho dileto do oba-oba.

Pior do que amargar vexames é carregar a fama de insuficiente, secundário. Nessa sexta-feira negra a maioria dos comentaristas de futebol despediu-se apontando para o calendário e o Mundial de 2014. Recurso óbvio, enganador. O próximo quadriênio será um desafio e não apenas em matéria de futebol. O país inteiro terá que engajar-se numa Copa de Capacitação que até o momento não foi assimilada e sequer visualizada.

Não se trata apenas de construir um novo estádio em São Paulo, tarefa relativamente fácil e preparar as demais facilidades desportivas pelo País afora.

Desafio maior, impalpável, deve estender-se além dos canteiros de obras e terá que ser encarado com pachorra, humildade e persistência ao longo de 1.460 dias e noites para construir uma imagem nacional de seriedade, probidade, firmeza e convicção.

Pela lei das compensações esta penosa Copa deveria servir para alguma coisa. A melhor reparação seria o fim do calvário do autoengano e do "já ganhou".


» Alberto Dines é jornalista

Votos, sim. Dinheiro, não

DEU NO JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Municípios que decretaram estado de calamidade por conta das chuvas deram a Lula, em 2006, expressiva votação para presidente. E quase nada receberam de verbas para se proteger de catástrofes

Evandro Éboli
Agência O Globo

BRASÍLIA – O que faltou em recursos do governo para prevenção de desastres naturais em Pernambuco e Alagoas, sobrou em votos para o petista Luiz Inácio Lula da Silva nas regiões dos dois Estados atingidos pelas chuvas no Nordeste. Nas 58 cidades que decretaram estado de calamidade pública e situação de emergência, Lula teria sido eleito ainda no primeiro turno na eleição de 2006, com 74% dos votos dos 39 municípios de Pernambuco e 53,5% das 19 cidades de Alagoas, quase todas hoje destruídas. No País, Lula terminou o primeiro turno com 48,6% dos votos (46,6 milhões).

O desempenho de Lula no segundo turno disparou nas duas regiões vítimas das enchentes. O petista recebeu 74% dos votos válidos (930.025) dos eleitores desses 58 municípios. Nas cidades pernambucanas, Lula recebeu 80,4% (796.333) da votação na disputa final contra Geraldo Alckmin (PSDB). Nos 19 municípios de Alagoas, Lula conseguiu 67,4% (133.692) dos votos válidos. São números que superam os 60,8% de todo o País, que garantiram a reeleição do candidato do PT.

Em 2010, Alagoas não recebeu um centavo sequer do Programa de Prevenção a Desastres, do Ministério da Integração Nacional. Pernambuco foi contemplado com R$ 172 mil, que representam apenas 0,24% do total de R$ 70,5 milhões repassados pela União para essa rubrica. A Bahia, do ex-ministro da Integração Nacional e um dos candidatos do governo à sucessão estadual, Geddel Vieira Lima (PMDB), abocanhou mais da metade desse montante e levou R$ 40,1 milhões.

Lula venceu em 18 desses 19 municípios de Alagoas no segundo turno. Foi derrotado apenas na localidade de Satuba, pela apertada diferença de 51 votos. Em outras três cidades alagoanas, Alckmin virou o primeiro turno na frente, mas, como ocorreu no resto do País, foi ultrapassado por Lula no segundo round da disputa.

Em Pernambuco, Lula deu um banho. O então candidato do PT ganharia no primeiro turno em todas as 39 cidades devastadas pelas chuvas. Os votos que obteve nesses locais (731.953) representaram um quarto dos 2,9 milhões que recebeu nos 184 municípios de Pernambuco. Lula ficou com 78,4% dos votos totais do Estado, no segundo turno.

Entre as 39 cidades pernambucanas, a que deu maior votação a Lula, no segundo turno, foi Palmeirina: 91,8% dos votos (3.788). Das 19 alagoanas, Quebrangulo chegou na frente, com 81,2% dos seus votos (5.344) dados ao petista.

No ranking dos Estados que proporcionalmente deram mais votos a Lula em 2006, no segundo turno, Pernambuco aparece em quarto lugar (78,4%) e Alagoas (61,4%), em 14º.

Candidatos vão às ruas a partir de terça, com início oficial da campanha

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Serra prepara corpo a corpo no Sudeste; Dilma aposta no horário eleitoral gratuito e Marina se arma para compensar pouco tempo na TV

Passadas as convenções e os debates pré-campanha, e já sem a "concorrência" da Copa do Mundo, da qual o Brasil está eliminado, começam oficialmente, na terça-feira, as campanhas eleitorais - ainda sem o horário no rádio e na TV, que só vale a partir de 17 de agosto -, mas com os comícios e a propaganda legal nas ruas.

As estratégias estão definidas. Enquanto o tucano José Serra se organiza para um intenso corpo a corpo na região Sudeste, onde as pesquisas apontam uma certa queda de sua liderança, a candidata Marina Silva, do PV, empenha-se na preparação para os debates diretos - sua grande arma, já que seu tempo em rádio e TV será de apenas 72 segundos. E para Dilma Rousseff (PT), a prioridade são as cenas e falas para preencher os seus longos 10min25s no horário gratuito.

"Vamos intensificar a campanha em São Paulo", avisa o senador Sérgio Guerra, presidente do PSDB, embora sua campanha comece por Curitiba. Serra não deverá aceitar os pedidos de ser mais agressivo contra o governo. "Não devemos mudar o tom", reage Roberto Freire, presidente do PPS e assessor da campanha.

Nas hostes do governo, o clima é de otimismo. Dilma parece "mais disciplinada", capaz de suportar melhor as provocações. "Ela tomou gosto pela campanha", diz o secretário-geral José Eduardo Martins Cardozo.

Para Paulo de Tarso, marqueteiro de Marina Silva, o desafio é bem diferente. Ele já considera a senadora "a pessoa mais bem preparada" entre os três. Assim, o objetivo "é apenas melhorar seu desempenho".

Serra busca ampliar a vantagem no Sudeste

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Além de querer discutir propostas com Dilma, ele vai intensificar o corpo a corpo na região mais populosa do País

Julia Duailibi

Depois da crise em torno da definição do candidato a vice-presidente na chapa de José Serra, o PSDB começa oficialmente a campanha nesta semana com dois objetivos: emplacar debates diretos com a adversária, Dilma Rousseff (PT), e aumentar a vantagem eleitoral no Sudeste.

Com a campanha oficialmente na rua, os tucanos querem intensificar o corpo a corpo na região mais populosa do País, onde a vantagem do candidato do PSDB chegou a diminuir em maio.

A agenda contemplará mais visitas a São Paulo, Rio e Minas. A ideia é que até o início do horário eleitoral gratuito na TV, em agosto, o candidato participe de carreatas e caminhadas com o eleitor. "Vamos intensificar a campanha em São Paulo", afirmou o presidente do PSDB, Sérgio Guerra. Apesar disso, a previsão é de que o início oficial da campanha se dê em Curitiba - os tucanos haviam proposto o senador Álvaro Dias como vice para ampliar a vantagem no Paraná, mas acabaram acatando o indicado do DEM, Índio da Costa.

"Agora, a agenda é outra. Vamos intensificar visitas a esses Estados nas semanas anteriores à TV", disse a senadora Marisa Serrano (MS). A coordenação da campanha diz que a agenda do candidato será aprimorada após reclamações internas. "Temos que ter mais eficiência na agenda", afirmou Guerra.

Assim como já ocorria na fase de pré-campanha, equipes acompanharão Serra para colher imagens para o programa de TV. A exemplo de trechos gravados na Bahia e em Pernambuco, serão produzidas imagens em, pelo menos, outros dez Estados.

Embora haja cobranças para que o tom seja mais agressivo, a tendência é que Serra não aumente as críticas ao governo. "Nossa estratégia mostrou-se correta", afirmou Jutahy Júnior (BA), ao citar as pesquisas recentes."Não devemos mudar o tom. Mas vamos melhorar a coordenação para não haver curto-circuito na comunicação", disse o presidente do PPS, Roberto Freire.

Ibope confirma Serra e Dilma empatados às vésperas da largada

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Sucessão. Ambos tem 39% das intenções de voto, segundo sondagem encomendada pela Associação Comercial de SP; números, praticamente iguais aos do Datafolha, vêm após tucano ganhar destaque em anúncios exibidos em rede nacional de rádio e TV

Daniel Bramatti

Às vésperas do início oficial das campanhas eleitorais, a petista Dilma Rousseff e o tucano José Serra aparecem empatados na corrida presidencial. Ambos têm 39% das intenções de voto, segundo pesquisa Ibope encomendada pela Associação Comercial de São Paulo.

A pesquisa, feita após Serra ganhar destaque em 20 anúncios de 30 segundos do PSDB, exibidos em rede nacional de rádio e televisão, confirma o cenário captado nos últimos dias pelo instituto Datafolha, que também apontou um empate técnico entre os presidenciáveis: Serra com 39% e Dilma com 38%.

Há pouco mais de uma semana, o Ibope havia divulgado a primeira pesquisa em que a candidata do PT aparecia como líder isolada, com cinco pontos porcentuais de vantagem em relação ao adversário. Desde então, o tucano subiu quatro pontos porcentuais e Dilma oscilou negativamente um ponto. A candidata do PV, Marina Silva, apenas oscilou de 9% para 10%.

O empate entre os dois principais candidatos à Presidência persiste na simulação de segundo turno - ambos aparecem com 43% das intenções de voto.

Dilma está à frente, porém, no quesito expectativa de vitória. Para 45% dos entrevistados, ela será a próxima presidente da República. Outros 34% preveem que Serra será o vencedor.

Gêneros e regiões. O candidato do PSDB voltou a se distanciar de Dilma no eleitorado feminino ? nesse segmento, o tucano lidera por 46% a 39%. A pesquisa Ibope realizada entre os dias 18 e 21 de junho mostrava, pela primeira vez, um empate entre os dois principais adversários entre as mulheres. Entre os homens, é a petista quem leva vantagem, por 48% a 39%.

O tucano também se descolou da adversária na região Sudeste, onde voltou a ocupar a liderança isolada, com 41% a 34%.

No Norte/Centro-Oeste, Serra virou o jogo: perdia por 40% a 34% e agora lidera por 43% a 35%. Na Região Sul, o tucano vence por 45% a 37%.

Dilma está à frente apenas no Nordeste (50% a 30%). Oscilações significativas nos resultados regionais não são incomuns. Como o número de entrevistas é relativamente pequeno em cada região, as margens de erro nesse quesito são grandes.

Palanque eletrônico. O Ibope mediu o impacto da propaganda partidária exibida recentemente, que foi utilizada pelos candidatos como plataforma para se promover.

Um terço dos entrevistados lembrou ter visto propagandas do candidato tucano nas duas semanas anteriores ao levantamento. No caso de Dilma, esse índice foi de 27%.

Todos os dados se referem ao cenário em que são apresentados aos entrevistados apenas os nomes dos três principais concorrentes à eleição. Quando os chamados "nanicos" são incluídos no levantamento, Serra e Dilma empatam em 36% e Marina fica com 8%.

A pesquisa ainda incluiu os nomes de Ciro Moura (PTC) e Mário de Oliveira (PT do B), que desistiram de concorrer às vésperas do prazo final para as convenções partidárias. Ontem, o PSL anunciou que Américo de Souza também não será mais candidato, o que reduziu o número de presidenciáveis para dez.

Na pesquisa espontânea, aquela em que os eleitores manifestam asua preferência antes de ler a lista de candidatos, Dilma lidera com 22% das intenções de voto. Serra vem a seguir, com 17%. Ainda há 12% de eleitores que citam o presidente Luiz Inácio Lula da Silva como o seu nome favorito, apesar de ele não ser candidato para o próximo pleito.

A três meses do primeiro turno, pouco mais da metade da população afirma ter "muito interesse" ou "interesse médio" pelas eleições. Nada menos que 44% admitem ter pouco ou nenhum interesse pela questão.

Índice do tucano mantém eleição polarizada :: João Bosco Rabello

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Os especialistas sempre terão explicações para as flutuações das pesquisas, como vem ocorrendo nesta disputa presidencial. Mas o fato é que o resultado do Ibope, confirmando praticamente todos os índices do Datafolha, e na sequência de duas pesquisas imediatamente anteriores, comprova que o País está dividido eleitoralmente, clima que deverá prevalecer na campanha.

Os 39% de José Serra registrados pelo Datafolha e confirmados pelo Ibope, indicam que o candidato do PSDB tem uma votação sólida e um eleitorado fiel, o que o mantém nesse patamar desde antes do lançamento formal de sua candidatura. Ele registra pequenas oscilações, para cima e para baixo, que não alteram essa performance de intenção de voto.

O que reforça a solidez da candidatura é também o fato de a pesquisa ter sido feita no momento mais negativo da campanha do PSDB, quando a crise do vice foi o melhor retrato. E enfrentando três poderosas máquinas - do PT, do PMDB e do governo, cujo cabo eleitoral, Lula, ostenta índice recorde de popularidade, na casa dos 80%.

A ascensão da candidata Dilma Rousseff e a permanência de Marina Silva na faixa dos 10% eram previstos. O que deixou de ser dúvida é a capacidade de o presidente Lula transferir votos numa proporção capaz de consolidar uma candidata sem nenhum recall político.

Lula levou Dilma ao patamar de Serra e agora a disputa é pelo eleitor que não se decidiu ainda. É quando ganham importância os debates que a candidata do PT-PMDB tem evitado por estratégia de seus marqueteiros.

As pesquisas são parte importante de qualquer processo eleitoral, funcionam como termômetro indispensável para avaliar situações regionais, monitorar votos de segmentos específicos, orientar ajustes naturais de campanha. Mas, no contexto de um eleitorado polarizado, como as próprias pesquisas vêm mostrando, não servem para autorizar avaliações de tendência em favor de um dos dois candidatos principais.

Serra reforça base regional

Feito o acordo, o PSDB prepara a fatura política a ser apresentada ao DEM. Com vice definido e com as pesquisas reafirmando sua competitividade, o candidato José Serra vai cobrar engajamento do principal aliado em todo o País, em busca de mais organicidade na campanha.

Nesse contexto, a palavra-chave é militância, no lugar do apoio meramente formal e burocrático que vinha caracterizando o comportamento do aliado.

Serra foi aconselhado a criar comitês estaduais que garantam recursos e suporte político à base da aliança, reduzindo o risco de ter candidatos dosando o empenho na crítica ao governo federal.

A providência facilitaria a administração de uma política pragmática que submeta as conveniências regionais ao projeto nacional, aspecto em que a aliança PT-PMDB exibe notória dianteira.

A dificuldade de encontrar um discurso crítico que , sem negar a bonança econômica, convença o eleitor da necessidade de mudança, é extensiva aos candidatos estaduais, cujo instinto de sobrevivência fala mais alto.

O PSDB avalia que, até aqui, o excesso de cuidado com Lula transformou-se em reverência. Não se deve fazer uma campanha anti-Lula, mas daí a adotar um discurso inócuo de oposição vai uma grande distância, resume um integrante da campanha.

Essa estratégia exige administração direta do candidato, ou da cúpula partidária, e os comitês seriam o instrumento dessa proximidade permanente.

"Não tinha jeito, ou a gente aderia, ou fazia oposição"

(José Eduardo Dutra, presidente do PT, sobre o drama do partido ante o sucesso do Plano Real)

"Ininquadrável"

Com o fim das convenções, e definida a geografia política das campanhas, o conselho político de Dilma Rousseff (PT) reúne-se amanhã para definir sua presença nos palanques e nas gravações para aliados no rádio e na TV. Ela vai fazer tudo o que puder, "mas o presidente Lula é ininquadrável", diz José Eduardo Dutra, presidente do PT. E avisa: "Lula só vai colocar sua popularidade a favor de quem ele quiser."

Oposição ao êxito

Ainda do presidente do PT, ao comentar o momento da campanha de José Serra: "A situação deles hoje é um pouco como a nossa em 1994. Temos um governo muito bem avaliado, como era o de Fernando Henrique Cardoso, no auge do Plano Real. Não tinha jeito, ou a gente aderia, ou fazia oposição."

A Carta de Serra

José Serra terá a sua Carta aos Brasileiros, em defesa das conquistas sociais de FHC e de Lula. É o antídoto contra a campanha do PT que lhe atribui a intenção de revogá-las.

Nem tão amigos

A versão do PSDB para a troca de Álvaro Dias por Índio da Costa como vice de Serra é de que o primeiro saiu porque seu irmão, Osmar, o traiu e ao partido, inviabilizando a estratégia tucana no Paraná ; e que seu sucessor foi escolha pessoal de Serra, à revelia da família Maia - Cesar e o filho Rodrigo, presidente do DEM - que estariam rompidos com o deputado.

Sem vice

Com a filiação suspensa pela direção nacional, o presidente do PMDB de Santa Catarina, Eduardo Pinho Moreira, manteve a candidatura a vice na chapa do senador Raimundo Colombo (DEM), para reeditar a tríplice aliança DEM, PSDB e PMDB que comanda o Estado há anos. Amanhã, o TRE decide se nega o registro de Moreira, como pede o PMDB, hipótese que deixaria o DEM sem vice.

É DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Ibope mostra Serra e Dilma empatados com 39%

DEU EM O GLOBO

RIO - De acordo com a pesquisa Ibope sobre a intenção de voto para presidente da República, encomendada pela Associação Comercial de São Paulo e divulgada na noite deste sábado, os candidatos José Serra (PSDB) e Dilma Rousseff (PT) estão empatados com 39%. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.

Há dois meses, o candidato tucano aparecia com 40% e na prévia de maio para junho, despencou 3 pontos e ficou com 37% e logo depois chegou aos 35%. Agora está com 39% e, com margem de erro, pode variar entre 37% e 41%. Já a candidata petista surgiu com 32%, foi a 37%, chegou a 40% e agora aparece com 39%. Com a margem de erro, pode variar entre 37% e 41%.

A candidata Marina Silva, do PV, que estava estacionada com 9% nas três pesquisas desde abril, subiu um ponto e está com 10%. Com a margem de erro, entre 8% e 12%. Os votos brancos e nulos somaram 6%, enquanto que os indecisos, 7%.

Numa simulação de segundo turno, a pesquisa mostrou que Serra e Dilma continuariam empatados, com 43% das intenções de voto cada, enquanto brancos ou nulos somaram 8% e indecisos, 7%.

A pesquisa Ibope mediu também o grau de aprovação do governo Lula: 76% dos eleitores consideraram ótimo ou bom, 19%, regular, 4%, ruim e péssimo e 1% não soube ou não quis opinar.

Em Maceió, José Serra diz que não comenta resultado de pesquisas

DEU EM O GLOBO

" O Brasil tem que estar em alerta através de radares meteorológicos para que em três horas as pessoas sejam retiradas das áreas de risco "

" Esta dívida faz uma cócega no Governo Federal. Mas, ela representa muito para Alagoas "

Odilon Rios

MACEIÓ - Questionado a respeito da pesquisa Ibope divulgada na noite deste sábado, que mostra empate entre os candidatos José Serra (PSDB) e Dilma Rousseff (PT), com 39% das intenções de voto, o tucano respondeu que não comenta resultados de pesquisas. Em troca, o candidato preferiu continuar listando promessas em visita às cidades atingidas pelas enchentes dos rios Mundaú e Paraíba, onde, entre outras coisas, disse que vai criar uma Defesa Civil Nacional especializada na área de desastres naturais. A proposta é que policiais sejam treinados e existam estudos e radares meteorológicos para se prever, em três horas, estes desastres.

- Não há uma organização para uma ação deste porte no Brasil. Temos que criar esta Defesa Civil Nacional com homens próprios, tropa permanente, com técnicos próprios. O Brasil tem que estar em alerta através de radares meteorológicos para que em três horas as pessoas sejam retiradas das áreas de risco. Tem que haver um levantamento geológico no Brasil inteiro - disse Serra, listando que o Governo de São Paulo enviou ajuda, tanto em técnicos como em mantimentos para auxiliar vítimas e ajudar na busca de corpos, além de reconstrução das cidades atingidas. Quinze municípios estão em situação de calamidade. As chuvas mataram 39 pessoas no Estado e 69 continuam desaparecidas.

Serra sobrevoou as cidades atingidas pelas chuvas. Antes, parou em São José da Tapera, cidade do sertão alagoano conhecida como o case tucano, na época do então presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), para a criação do Bolsa Escola, hoje Bolsa Família. Naquela época, São José da Tapera era a cidade mais pobre do Brasil. Ele gravou o programa eleitoral na cidade.

Com três horas de atraso, ele veio a Maceió, onde concedeu uma entrevista coletiva. E listou mais promessas: vai criar um Prouni na área técnica, chamado por ele de Protec. O Prouni é um programa do Ministério da Educação que oferece bolsas a estudantes de baixa renda para faculdades ou universidades privadas. São vagas públicas criadas nestas universidades.

No Estado que praticamente tem toda a sua economia movimentada por verbas federais, como Bolsa Família e Previdência Social, Serra prometeu fundir o Bolsa Família com o Programa Saúde da Família (PSF). Quer ainda que as famílias com filhos no Bolsa possam ser incentivadas a fazer cursos técnicos. "É preciso ensinar a trabalhar".

A respeito da indicação do vice, o deputado federal Índio da Costa (DEM/RJ) o candidato descartou ter recebido pressão e que "poderia ter escolhido um do PSDB ou do DEM. Ele é um dos 10 parlamentares mais atuantes", completou.

Sobre os problemas que enfrenta no palanque em Alagoas- o PTB alagoano vota em Dilma Rousseff (PT) - Serra minimizou: "Normal, o Brasil é um país homogêneo".

Serra voltou a chamar os candidatos a presidente da República para debates, afirmou que se as pesquisas apontarem vantagem favorável a ele, vai continuar a participar de encontros para discussões com outros candidatos. E em um dos estados mais pobres do Brasil, Alagoas, com uma dívida pública duas vezes maior que o Programa Interno Bruto- o PIB, a soma de todas as riquezas de um lugar, durante um ano- o candidato prometeu transformar o repasse de R$ 40 milhões por mês- para pagamento dos juros da dívida pública, hoje em R$ 7 bilhões- em investimento no Estado em saúde e educação.

- Esta dívida faz uma cócega no Governo Federal. Mas, ela representa muito para Alagoas. Por isso, o problema de Alagoas vai ser resolvido - afirmou.

A dívida pública alagoana saltou de R$ 500 milhões para R$ 7 bilhões na era FHC, depois de dois empréstimos fracassados, dos juros e a rolagem de títulos das Letras Financeiras do Tesouro Nacional, invalidadas pela Justiça. Os empréstimos foram aprovados pelo Senado Federal. O governador de Alagoas, Teotonio Vilela Filho (PSDB), admitiu que a dívida é considerada "impagável".

De táticas e vacilos:: Valdo Cruz

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

BRASÍLIA - Dependesse apenas da vontade do brasileiro, ele ainda teria mais uma semana de fantasia, sonhando com o Brasil na final da Copa, no próximo domingo.

Só que a seleção foi mandada mais cedo para casa, e o eleitor terá de cair na real e seguir outro jogo: o da campanha eleitoral, que começa oficialmente na terça.

Após a fase de preparação, a partida está empatada entre Serra e Dilma. Daqui em diante, o que pode definir são detalhes ou vacilos, tais como os que a seleção brasileira cometeu no jogo contra a Holanda.

Os tucanos iniciam o jogo aliviados. Diante das últimas trapalhadas, o empate tem até certo gosto de vitória. Os petistas se dizem satisfeitos, mas não escondem que esperavam um placar melhor.

Presidente do PT, José Eduardo Dutra desconversa. Lembra que, no ano passado, apostava que o campeonato começaria com os dois candidatos empatados. Bingo.

Agora, prevê que a petista Dilma termine o primeiro turno na frente do tucano. Ganha sem prorrogação?

Depende do desempenho de Marina Silva. Se ela repetir o caminho de Heloisa Helena, que começou com 12% e terminou com 6% em 2006, dá pra ganhar.

O fato é que os dois times entram no gramado com táticas diferentes. Dilma acredita ser possível e vai trabalhar para liquidar a partida no primeiro turno. Por quê?

Porque ainda há eleitores que desejam votar no candidato de Lula e não conhecem Dilma, sem falar nos que aprovam o seu governo e optam pelo tucano. Ou seja, há espaço em campo para a petista ocupar.

Basta adotar a tática certa.

O time de Serra admite que vencer no primeiro turno é tarefa difícil. Talvez se o "imponderável" entrar em campo ou o adversário vacilar. Daí que a missão é levar a eleição para a prorrogação.

Depois, contar que o craque do jogo, o presidente Lula, não esteja num dia bom e só receba bola quadrada de sua pupila. Enfim, preparem suas vuvuzelas.

A maldição do lulismo:: José Augusto Guilhon Albuquerque

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

À medida que se difundiu para fora do "entourage" presidencial e para fora do PT, o crescimento de Dilma foi tendencialmente menor

Para os adeptos da dialética estatística, as eleições são um livro aberto, repleto de grandes números: 73% sabem que Dilma é a candidata de Lula, com 80% de aprovação; 50% votariam na candidata do presidente, 70% dos quais votariam nela se a eleição fosse hoje.

Mas as eleições não são hoje. E a estatística não é dialética. Se bastasse ser reconhecida por 73% do eleitorado como candidata de Lula, que tem 80% de aprovação, Dilma deveria ter hoje 58% das intenções de voto. Mas não tem.

Dados recentes da pesquisa Ibope, publicados no jornal "O Estado de S. Paulo" (26/6/10), mostram que o apoio de Lula explicaria mais de 80% dos 40% de preferência por Dilma, de um total de 48% do eleitorado que diz votar no candidato de Lula. Mas uma parte desses fiéis lulistas (11% do eleitorado total) não prefere votar em Dilma.

Isso nos deixa com 37 pontos percentuais (p.p.) (48% -11%), uma boa estimativa da transferência real de Lula. Dilma colhe 3 p.p. adicionais no Ibope e, no Datafolha de 2 de julho, 2 p.p., atribuíveis a erro estatístico.

E tudo o que seu mentor logrou, em quase oito anos de governo e dois anos de campanha aberta e diuturna, foi dividir o eleitorado em dois blocos equivalentes e excludentes, 48% que querem votar em quem ele mandar e 47% que não querem.

E, por iniciativa do próprio Lula, seu eleitorado está polarizado com o eleitorado não lulista, já ocupado política e eleitoralmente pelas candidaturas de Marina e, especialmente, de Serra.

Mais grave é o fato de que o eleitorado lulista está em queda, de 53% que preferiam votar no candidato de Lula em março, para 48% em junho, perda de 5 pontos.

À contrapelo da opinião corrente, a curva do reconhecimento de Dilma como candidata oficial (mais 20 p.p. entre março e junho) é inversamente proporcional à da inclinação para votar na candidatura oficial (menos 5 p.p. no mesmo período) que, por sua vez, é inversamente proporcional ao crescimento das intenções de voto na candidata (mais 7 pontos percentuais).

Enquanto se difundiu a partir do próprio Lula e seus acólitos, o aumento do reconhecimento de Dilma como candidata oficial beirou os 100%. À medida que se difundiu para fora do "entourage" presidencial e para fora do PT, o crescimento foi tendencialmente menor.

À medida que seu reconhecimento alcança taxa muito elevada na sociedade, o nível de adesão à sua candidatura cai, pois passa a competir, cada vez mais, com os adversários e os que os apoiam.
Se a queda de 53% a 48% -na inclinação para seguir o que Lula mandar- se repetir nos próximos três meses, persistindo também os 11 p.p. que dizem votar em quem Lula apoiar, mas de fato não preferem Dilma, a transferência real de Lula se reduzirá a 32 p.p. do eleitorado da petista, que, para crescer, dependerá de seus próprios méritos e talentos.

Tarefa demasiado árdua.

Seu espaço para crescer está virtualmente esgotado e eu não me surpreenderia se ela andasse... para trás. A bênção do lulismo transforma-se em maldição. A síntese dialética só poderá vir das urnas...


José Augusto Guilhon Albuquerque, 69, é professor titular de Ciência Política e Relações Internacionais da USP.

Em "carta", Serra chancela Bolsa Família

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Como "vacina" a rumor de que extinguiria programa caso eleito, tucano formaliza na terça promessa de mantê-lo

Documento escrito por aliados do candidato reivindica para o PSDB a paternidade das ações sociais do governo Lula

Catia Seabra

DE SÃO PAULO - O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, assina na terça-feira uma carta em que se compromete a manter o Bolsa Família.

Trata-se de uma vacina para os rumores difundidos pelo PT de que, se eleito, extinguiria os programas de transferência de renda.

Na carta, elaborada por um grupo de simpatizantes de Serra, o PSDB lista ações do governo FHC, como Bolsa Alimentação, Vale Gás e cadastro único dos programas sociais, para reivindicar a paternidade do Bolsa Família.

"É preciso fazer um recorte temporal e localizar o nascedouro dos programas, projetos e serviços socioassistenciais de nosso país para dizer que o Brasil pode mais na assistência social, com Serra presidente", diz o texto.

Os tucanos dizem ainda que têm "história" na área social. "Para não dizer que o "carro-chefe" dos programas sociais do presente governo, o Bolsa Família, preexistia no governo Fernando Henrique, como Bolsa Escola, Vale Gás e Proteção Alimentar dispensado pela Saúde".

O documento está sendo comparado à "Carta ao Povo Brasileiro", apresentada pelo hoje presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante a disputa de 2002, para descartar reviravolta na economia.

ANTÍDOTOS

"Ela [a carta] reafirma que fomos nós que criamos a rede de proteção social, e portanto, inexiste qualquer razão para se acreditar nessa maledicência petista de que o Serra venha a extinguir o Bolsa Família", disse o coordenador do programa de governo de Serra, Xico Graziano.

Responsável pela organização do encontro, Graziano afirma ter sido procurado por um grupo de militantes da área de assistência social "que acusa o PT de manipular politicamente a agenda social do país, como se fossem "donos" dos pobres".

Daí, a ideia de redação de uma carta aberta a Serra. Segundo colaboradores do tucano, o documento trará um compromisso genérico de aprofundamento do Bolsa Família, já feito no programa partidário do PSDB.

O Estado escolhido - o Paraná - traz outro antídoto: contra o impacto eleitoral da substituição do senador Álvaro Dias (PSDB-PR) pelo deputado Índio da Costa (DEM-RJ) na vice de Serra.Além do medo de perda de voto com a troca, Fernanda Richa, mulher do candidato ao governo, Beto Richa, é uma das organizadoras do encontro de Curitiba.

Diminui potencial de transferência de votos de Lula

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Taxa, que caiu de 11% para 8%, inclui quem afirma votar no candidato do presidente, mas não declara voto em Dilma

Detalhamento do perfil desse grupo revela que são pessoas pobres, com baixa escolaridade e que moram no Nordeste


Uirá Machado

DE SÃO PAULO - O potencial de transferência de votos de Lula diminuiu. O presidente da República, que em dezembro tinha 14 pontos percentuais para passar à sua candidata, agora tem 8.

A taxa, calculada pelo Datafolha desde dezembro, é composta pelos eleitores que afirmam que votariam "com certeza" no candidato indicado por Lula, mas não declaram voto em Dilma Rousseff (PT) nem sabem que ela é apoiada pelo presidente.

Entre as duas últimas pesquisas Datafolha, o potencial caiu de 11% para 8%. A candidata petista, no entanto, apenas oscilou de 37% para 38% das intenções de voto.

É difícil afirmar se a falta de correspondência entre a votação de Dilma e a diminuição do potencial se deve a alguma "falha" na transferência ou se a petista recebeu os votos do presidente, mas perdeu outros eleitores e manteve saldo estável.

O cientista político Amaury de Souza afirma ser "ilusório achar que pessoas desinformadas vão de repente ter a informação "correta" e passar a votar em Dilma".

Para ele, "a informação simplesmente não chega à fatia mais pobre e desinformada do eleitorado e, se chega, o faz de várias maneiras".

Segundo Souza, a possibilidade de que esses eleitores descubram que Dilma é a preferida de Lula é tão plausível quanto a de que identifiquem José Serra (PSDB) como candidato do presidente.

O detalhamento do perfil dos eleitores potenciais revela que são pessoas pobres, com baixa escolaridade e concentradas no Nordeste.

Embora apoiem o candidato de Lula, declaram voto em Serra. Representam hoje 17% das intenções de voto do tucano -cerca de sete pontos percentuais.

Na mais recente pesquisa Datafolha, Serra tinha 39% das intenções de voto.

MÍDIA

Hoje empatados tecnicamente, Serra e Dilma já tiveram entre si uma diferença de 14 pontos percentuais. Em levantamento realizado em dezembro de 2009, o tucano tinha 40% das intenções de voto, e a petista, 26%.

O crescimento de Dilma se deu em dois momentos. Entre dezembro e fevereiro, quando saltou de 26% para 31%, e entre abril e maio, quando foi de 30% para 37%.

Nos dois casos em que cresceu, Dilma teve forte exposição na mídia. Após isso, manteve-se no novo patamar. Primeiro foi o lançamento de sua candidatura. Depois, a propaganda na TV.

Olá!, prazer, adeus :: Sergio Augusto

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO/SABÁTICO

Quando, daqui a sete semanas, fizer 70 anos do assassinato de Trotsky, todos se lembrarão de Stalin e Mercader, quase certamente de Rivera e Frida, quem sabe até de Richard Burton, que encarnou o mais célebre exilado soviético naquele docudrama medíocre de Joseph Losey. Mas quantos irão se lembrar de Saul Bellow?

Recém-casado com uma ativista de esquerda, o jovem socialista Bellow agendara uma entrevista com a nêmesis de Stalin, no bunker de Coyoacán, para o dia 20 de agosto de 1940. Por questão de horas não o pegou ainda vivo. Tomado por um jornalista americano, Bellow conseguiu entrar no necrotério da Cidade do México e ver de perto o corpo ensanguentado de Trotsky, recolhido a um caixão. O episódio marcaria para sempre o futuro escritor. “Foi ali que me dei conta de como os déspotas podem o aparentemente impossível e quão frágil também é a vida dos inexpugnáveis”, comentaria, décadas adiante, já bem apartado de suas ilusões juvenis—a bem dizer, nos seus antípodas.

Muita gente mais capacitada do que eu já deve ter sonhado escrever algo sobre encontros entre personalidades políticas e artísticas, de preferência surgidos ao acaso ou em circunstâncias adversas, como o de Bellow com Trotsky, particularmente intrigante pela desigualdade de condições: a única celebridade naquele encontro era o defunto; Bellow, que só dali a quatro anos publicaria seu primeiro romance, era então um ilustre desconhecido. Mas o jovem americano ao menos viu Trotsky, que, por motivos óbvios, não pôde notar a presença do admirador.

Tinha outra embocadura aquele álbum sobre encontros memoráveis, produzido por Nancy Caldwell Sorel e ilustrado por Edward Sorel, que a José Olympio traduziu na década passada. Memoráveis, mas nem todos inesperados ou inimagináveis como o de Orson Welles com William Randolph Hearst (num elevador!) e o de Isak Dinesen com Marilyn Monroe (que dançaram juntas no apartamento de Carson McCullers, em cima de uma mesa de mármore preto). Nele não caberia o de Bellow com Trotsky, por exemplo. Em “Primeiros Encontros”, Trotsky encontra-se com Lenin, em Londres, nos prolegômenos da revolução bolchevique.

No meu livro imaginário não poderia faltar o emocionante encontro de Astrojildo Pereira com Machado de Assis, similar ao de Bellow e Trotsky. Nem o de Bernard Shaw com Rainer Maria Rilke (no estúdio de Rodin, para quem, na época, o poeta checo trabalhava como secretário). Nem o de James Joyce com seu aluno Italo Svevo, em Trieste. Nem o do maestro Leopold Stokowski com o virtuoso canadense Glenn Gould, durante uma viagem de trem entre Amsterdam e Viena, em 1957. Nem o de..., bem, estou aberto a contribuições.

A maioria das confluências acima mencionadas data do início do século passado. Por ordem cronológica, a precedência é do encontro de Shaw com Rilke. Foi em 1906, quando o irlandês passou duas semanas em Paris, posando para um busto esculpido por Rodin. Pouco conversou com Rilke, cuja obra poética, incipiente ainda, desconhecia por completo. Este, porém, não tirou os olhos do dramaturgo. “Ele se orgulha de seu trabalho, mas sem presunção, um pouco como um cão se orgulha de seu dono”, observou o secretário de Rodin, que, meses depois, trocaria de emprego, mas não de influência. Rodin jamais se ausentou da obra do poeta.

Joyce e Svevo conheceram-se em 1909. Svevo, nascido Ettore Schmitz e empresário bem-sucedido, já escrevera dois romances (“Una Vita” e “Senilità”) e queria aperfeiçoar seu inglês. Joyce, 27 anos, alguns artigos e três contos publicados e mais nada, vivia de dar aulas a italianos. Encontrou em Svevo mais que um interlocutor, um confidente, e um modelo para Leopold Bloom. A amizade só terminou em 1928, quando o italiano morreu num acidente de carro, aos 66 anos. Foi graças a Joyce que “A Consciência de Zeno”, a magnum opus de Svevo, ganhou tradução em francês, em 1925, seu passaporte para a consagração mundial.

Meses antes da troca de “piaceres” entre Joyce e Svevo, mais precisamente em 28 de setembro de 1908, um rapazola de 18 anos atravessou de barca a baía de Guanabara com a firme determinação de visitar Machado de Assis em seu leito de morte. Tenso, o futuro líder comunista e crítico literário Astrojildo Pereira bateu à porta do casarão do Cosme Velho, identificou-se apenas como “um grande admirador do escritor” e pediu para vê-lo de perto. Contra a vontade dos amigos (Euclides da Cunha, Coelho Neto, José Verissimo, Raimundo Corrêa, Graça Aranha, Rodrigo Otávio), que o velavam na sala de estar, Machado permitiu que Astrojildo entrasse em seu quarto e, ajoelhado ao lado da cama, lhe beijasse a mão. Anônimo como entrara, o rapaz se foi. Machado morreria na madrugada seguinte.

Bela história, sobremodo enriquecida pelo mistério em torno da identidade do inopinado visitante, que só seria revelada 28 anos mais tarde. Euclides comoveu-se tanto com sua aparição que, no artigo que publicou no Jornal do Commercio, dois dias depois da morte de Machado, escreveu: “Naquele meio segundo em que ele estreitou o peito moribundo de Machado de Assis, aquele menino foi o maior homem de sua terra”. Arriscando, em seguida, um vaticínio (“Qualquer que seja o destino desta criança, ela nunca mais subirá tanto na vida”), afinal desmentido pelos fatos, mas não, provavelmente, pelo próprio Astrojildo, que amava Machado acima de todos e tudo.

Os ombros suportam o mundo:: Carlos Drummond de Andrade


Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.
Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.
Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.