quinta-feira, 29 de julho de 2010

Reflexão do dia - PCB, março de 1970


Cabe aqui, finalmente, uma observação especial sobre a situação das esquerdas dentro da oposição. Para essas forças, a pior conseqüência da inflexão do movimento de massas foi o rápido incremento das posições radicais. Não foram poucos os grupos revolucionários pequeno-burgueses que não souberam recuar ante o avanço da contra-revolução, passando do radicalismo verbal às posições de desespero e aventura. Iniciaram essas correntes uma série de atos que se explicam, antes de tudo, pela sua incapacidade para enfrentar a tarefa de reestruturar o movimento de massas nas condições difíceis criadas pelo avanço da repressão fascista. Os assaltos a bancos, os golpes de mão e outras formas de ação postas em prática por pequenos grupos desligados das massas, enfim, o emprego indiscriminado da violência, embora compondo objetivamente o quadro da oposição, não deixam, apesar de seu suposto caráter revolucionário, de desservir à resistência e de dificultar a organização da frente única de massas contra a ditadura. Em uma palavra, enfraquecem a oposição.


(Da Resolução Política do Comitê Estadual do PCB,da antiga Guanabara ,março de 1970)

De pai para filho:: Dora Kramer

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Obrigada a pedir demissão há dois anos da chefia da Secretaria da Igualdade Racial por causa dos gastos indevidos com o cartão corporativo a que tinha direito, Matilde Ribeiro muito provavelmente teria dificuldades para se eleger síndica de condomínio.

Mas, como segunda suplente do candidato a senador pelo PC do B de São Paulo, Netinho de Paula, com alguma sorte poderá vir ser senadora da República.

A suplência ao Senado é hoje um dos melhores negócios no mercado da política: quem tem dinheiro (muito), bom parentesco ou é bem relacionado no meio não precisa de voto para chegar ao que outrora já foi tido como a representação do Paraíso na terra.

Atualmente um tanto desmoralizado, mas ainda promete. Afora o renome, espaço na tribuna, microfones da Voz do Brasil, o salário, a verba indenizatória, passagens aéreas, carro, casa, assessoria e estrutura à disposição, há toda uma gama de benefícios tais como plano de saúde para o resto da vida caso o suplente assuma por um período de seis meses. Em mandato de oito anos, convenhamos, não é difícil.

Na atual legislatura mais ou menos 20% do Senado é ocupado por substitutos.

O suplente sempre foi, e continua sendo, um familiar, um financiador de campanha, um amigo, um funcionário, um correligionário ou um "sem tempo" como o presidente do PT, José Eduardo Dutra.

Ele é suplente do senador candidato à reeleição Antonio Carlos Valadares, do PSB de Sergipe. Dutra tem votos - ou pelo menos teve quando foi senador em legislatura anterior -, mas está sem tempo de fazer campanha porque é um dos coordenadores da campanha de Dilma Rousseff.

Antonio Palocci também é. Como Dutra desistiu da candidatura parlamentar para cuidar da presidencial, como o colega também teve oferta de ser suplente de senador. Não aceitou ou o PT não achou conveniente.

Mas, de todo modo, não trilhou esse atalho. José Eduardo Dutra encontrou uma maneira de conciliar mandato com ausência de delegação popular.

O único pré-requisito necessário é a unção do titular. Assim Edison Lobão repetirá a indicação do filho - "senador" enquanto o pai ocupou a pasta de Minas e Energia -, o ex-governador do Amazonas Eduardo Braga pôs na suplência a mulher, Sandra.

Mão Santa trocou a mulher Adalgisa pela filha Cassandra, o ex-governador da Paraíba Cássio Cunha Lima indicou o tio, o ex-governador do Tocantins Marcelo Miranda escolheu o pai e o ex-governador de Rondônia Ivo Cassol também nomeou o pai.

Os dois primeiros foram cassados pela Justiça Eleitoral e o terceiro renunciou em vias de.

Em abril de 2008 a Comissão de Constituição e Justiça do Senado aprovou emenda constitucional do senador Demóstenes Torres proibindo a indicação de parentes para a suplência. A ideia inicial era acabar com os suplentes ou fazer com que tivessem a legitimidade do voto.

O colegiado da CCJ não aceitou, manteve a figura do suplente que em caso de vacância assume até a eleição de um novo titular na eleição mais próxima. Mesmo desfigurado o projeto está na Mesa sem chance de ser votado.

Ao calejado leitor nem é preciso explicar a razão.

Prato típico. Até o fim da tarde de ontem eram oito os candidatos impedidos de concorrer às eleições pelos Tribunais Regionais Eleitorais de seus Estados, com base na Lei da Ficha Limpa.

Três são do Espírito Santo, três de Minas Gerais, um de Santa Catarina e um do Ceará.

Contrastando, o TRE do Maranhão autorizou quatro candidatos ? entre eles, José Sarney Filho ? a concorrer, argumentando que a lei não vale para condenações anteriores à sua aprovação, exatamente o oposto do que decidiu o Tribunal Superior Eleitoral.

O Ministério Público vai recorrer e, mantida a posição anterior, o TSE deve derrubar.

É de se perguntar: então para que o vexame, só para parecer que o Judiciário maranhense está submetido aos interesses do clã Sarney?

Linha justa. A política anda precisando de um Zico que chame o esquadrão aos costumes.

"Avacalhação" :: Eliane Cantanhêde

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

BRASÍLIA - De Lula, sobre a iraniana Sakineh Mohammadi Ashtiani, que já recebeu 99 chibatadas e foi condenada a ser apedrejada até a morte por adultério: "Eu, sinceramente, não acho que nenhuma mulher deveria ser apedrejada por conta de... ter, sabe, traição".

Só faltava achar que deveria...

E isso significa que ele vá atender à campanha na internet para interceder pela vida de Sakineh?

Resposta: "Um presidente da República não pode ficar na internet atendendo tudo que alguém pede de outro país. Veja, eu pedi pela francesa (...) e pelos americanos que estão lá, pedi para a Indonésia por um brasileiro, pedi para a Síria por quatro. Mas é preciso cuidado, porque as pessoas têm leis, as pessoas têm regras, as pessoas, sabe... Se começam a desobedecer as leis deles para atender o pedido de presidentes, vira uma avacalhação".

Então, entrar na contramão internacional e se meter com o regime Ahmadinejad num acordo que ninguém levou a sério, pode. Mas voltar para a mão certa e interceder a favor de uma pobre coitada ameaçada de uma morte medonha, "vira esculhambação"?

A declaração de Lula poderia ter sido só um escorregão, não fosse o precedente. Ele já desqualificou os manifestantes iranianos que denunciavam ao mundo fraudes na eleição de Ahmadinejad como "chororô de torcida de time perdedor", sem considerar que eles julgam sumariamente e matam os opositores sem dó nem piedade.

E no caso de Cuba? Não bastasse Lula às gargalhadas com os irmãos Castro no dia da morte do dissidente Orlando Zapata por greve de fome, depois ele comparou os que resistem à ditadura cubana a criminosos comuns no Brasil. Logo ele, que já foi perseguido por uma ditadura, teve amigos e companheiros presos, mortos e desaparecidos.

Nada disso combina com a emocionante biografia de Lula, muito menos com o Brasil que ele e todos nós queremos construir.

Antropofagia nas eleições proporcionais :: Maria Inês Nassif

DEU NO VALOR ECONÔMICO

O estreitamento do discurso do PSDB e do DEM, que tem falado para um eleitorado mais radical - numa aposta de que esse segmento tem o poder de propagar pânico e aumentar a rejeição à candidata Dilma Rousseff (PT) - pode ter um grande impacto na eleição proporcional não apenas do ex-PFL, mas no próprio partido do candidato José Serra. Os dois partidos são aliados e o discurso de ambos atinge o mesmo eleitor. Embora juntos nas eleições presidenciais com a dupla José Serra (PSDB)/Indio da Costa (DEM), na base, a disputa de candidatos às eleições proporcionais pode resultar numa carnificina. Antropofagia pura.

No Estado de São Paulo, o PMDB de Orestes Quércia, fora do poder federal e estadual, perdeu completamente a força e tem poucos parlamentares. O PSDB paulista, que elegeu todos os governadores do Estado desde 1998, tem um grande peso no partido nacional. A aliança do PSDB com o prefeito Gilberto Kassab (DEM) e com o PMDB de Quércia , num quadro de polarização com o PT, remete os aliados a uma situação em que um tira votos do outro - e dificilmente conseguem suprimi-los da oposição local. Afinal, eles disputam o mesmo eleitor, com o mesmo discurso. Não existem indícios de que Serra tenha uma superioridade tão grande de votos no Estado sobre Dilma que permita à aliança que o apoia crescer sobre seus adversários em São Paulo. Somente nessa hipótese o PSDB cresceria sobre inimigos e deixaria de perder para os amigos.

Kassab, para consolidar uma liderança sobre seu próprio partido, distritalizou o Estado e tem investido pessoalmente em candidatos fiéis a ele. A eleição da bancada kassabista pode tirar cadeiras do PSDB paulista na Câmara e, assim, fortalecer a liderança do prefeito de São Paulo no partido nacional. Afinal, a bancada paulista do DEM pode crescer no momento em que o partido perde votos e cadeiras no Nordeste, uma região em que o eleitorado tende massivamente à candidatura petista à Presidência. De outro lado, a aliança com o PMDB pode ter o poder de estancar a sangria do partido no Estado. A legenda de Quércia fez uma bancada de apenas três deputados em 2006 - um deles o deputado Michel Temer, candidato a vice na chapa encabeçada pela ex-ministra Dilma Rousseff.

A queda do DEM na região Nordeste já foi significativa em 2006, mas será nestas eleições que o partido de Jorge Bornhausen sofrerá o impacto da morte de Antonio Carlos Magalhães (BA) no quarto colégio eleitoral do país. Em 2006, com ACM, o PFL fez 19 dos 39 deputados baianos. Será muito difícil repetir essa façanha. De outro lado, o PSDB, como aliado, não consegue avançar sobre os votos perdidos do ex-PFL. Os tucanos no Estado sempre fizeram oposição a ACM e nessas eleições estão na contramão da onda anticarlista. Não terão como se valer da decadência pefelista no Estado.

Em Minas, segundo maior colégio eleitoral, as enormes alianças eleitorais articuladas por Aécio Neves nas eleições passadas resultaram numa estrondosa reeleição para o governo, mas também numa pulverização da bancada. O PT, com menos aliados na disputa estadual, fez 9 deputados federais em 53; o PSDB obteve 7. O PMDB fez os mesmos 7 e o PFL, 6. Nas eleições de 2002, Aécio foi consagrado eleitoralmente para um primeiro mandato de governador, mas fez apenas 8 federais, enquanto o PT fez 11.

A dificuldade de expandir bancada federal não beneficia automaticamente o PT de Dilma. Nos pleitos anteriores, o que se observou foi um crescimento de pequenos partidos, puxados por fortes candidatos ao governo do Estado ou por candidaturas alternativas a presidente da República.

A candidatura de Marina Silva (PV) está num patamar nada desprezível de 10% das intenções de voto. Em faixas de escolaridade mais alta, chega a 19%, segundo o último Datafolha. O PV pode se beneficiar da candidatura de Marina e aumentar a sua bancada de 13 deputados, eleitos em 2006. O PSB tem candidaturas fortes ao governo e grande identificação com Lula na região Nordeste e pode ainda se beneficiar disso. Os dois partidos podem incorporar votos antipetistas que perdem espaço no PSDB quando Serra radicaliza o discurso à direita.

O PT terá chances de crescer um pouco mais - essa era uma tendência contínua do partido, interrompida em 2006, no episódio mensalão. Essa está longe, contudo, de ser uma solução ótima para o quadro partidário. Os maiores partidos brasileiros, exceto o PT, perderam massa orgânica ao longo desse último período democrático. Os pequenos que crescem não têm grande correspondência com setores sociais nem uma unidade interna. A dinâmica de governo e a guinada ao centro, por sua vez, excluiu do PT - como de resto, de todo o quadro partidário - setores sociais mais à esquerda, hoje subrepresentados em partidos pequenos, que não conseguiram arregimentar todas essas dissidências petistas.

O quadro partidário que saiu da reforma partidária de 1979, com o fim do bipartidarismo da ditadura por conveniência dos próprios militares, não está apenas em crise. Está em profundo questionamento. A representatividade das atuais legendas está cada vez menor. Hoje, existem militâncias da sociedade civil que conseguem muito mais organicidade do que os partidos políticos de existência institucional, tanto à direita como à esquerda.


Maria Inês Nassif é repórter especial de Política. Escreve às quintas-feiras

As eleições presidenciais e a evolução do sistema partidário brasileiro

DEU EM O GLOBO

Márcio Grijó Vilarouca

Desde 1994, a disputa pela Presidência vem assumindo um formato bipartidário, por meio da alternância entre o PSDB e o PT. Ao mesmo tempo, é possível verificarmos a concentração da representação em cinco partidos - PMDB, PSDB, PT, DEM e PP - nos diversos tipos de pleitos. Na Câmara e no Senado, estes partidos respondem em média por 71,2% e 81,2% das cadeiras, respectivamente. Mesmo nos pleitos majoritários, esta constatação se mantém, dado que estes partidos detêm 80% dos governos estaduais e 68% das prefeituras. Mas as trajetórias eleitorais de cada um deles são bastante diferentes ao longo do período.

O PT é um caso desviante em relação aos outros, devido à sua peculiar forma de organização partidária e aos nexos que logrou construir com parcelas da sociedade civil. Estes ativos lhe possibilitaram a construção de um rótulo partidário e ideológico que serve de atalho para o eleitor, ao diminuir os custos de obtenção de informação sobre seu desempenho futuro. Nos diversos pleitos, o partido seguiu uma reta ascendente até a vitória de Lula em 2002, com um pequeno e quase imperceptível refluxo em 2006, provavelmente consequência do escândalo de corrupção em 2005.

O PSDB, por sua vez, aumentou sua bancada no Congresso quando venceu a Presidência, em 1994 e 1998, sofrendo declínio em 2002, com a vitória de Lula, mas mantendo-a quase no mesmo patamar na eleição seguinte. Nos pleitos estaduais e municipais, o partido manteve sua representação num patamar estável entre 1998 e 2006. Esta estabilidade no seu desempenho eleitoral, entretanto, contrasta com sua fraca capacidade de firmar uma imagem frente ao eleitorado, fato comprovável pelo baixo nível de identificação partidária que atrai para si. Há uma deficiência séria na construção da imagem partidária, provavelmente devido à insistência exagerada em evocar a ideia tecnocrática de competência, um termo retórico de vagos dividendos.

Pois bem, o DEM seguiu trajetória parcialmente diferente de seu principal parceiro, apresentando sistemático declínio eleitoral nos diversos pleitos, com a notável exceção de sua capacidade de ser rentável na disputa pelas cadeiras do Senado. No período mencionado, o desempenho gráfico do DEM pode ser descrito como uma curva "V" invertida com pico em 1998, e com o ponto mais baixo da trajetória em 2006. Estar fora do poder tem tido um efeito deletério na sua capacidade de reprodução eleitoral, evidência plausível de uma estratégia de sobrevivência muito dependente da patronagem. Também impressiona o declínio contínuo do PP, que em tese disputaria o mesmo espaço do espectro ideológico com o DEM. Por sua vez, o PMDB apresentava declínio substancial em sua força eleitoral até 2002, em todos os pleitos, mas foi bem-sucedido ao reverter esta tendência em 2006, fato que pode parcialmente ser creditado à sua "participação" no primeiro mandato do governo Lula. A rentabilidade da associação ao governo ajuda a explicar a quase unânime adesão do partido à candidata do PT.

Assim, resta claro que os já consolidados PSDB e PT se enfrentam numa disputa acirrada com lastro em vice-candidaturas de partidos com ativos políticos muito diferenciados, dado as tendências de longo prazo esboçadas. No entanto, a aposta mais sensível é a dos partidos mais à direita no espectro político, o DEM e o PP, que terão sua sorte muito influenciada pelo resultado das próximas eleições presidenciais. Já o PMDB estará, por certo, no próximo governo, qualquer que seja.


Márcio Grijó Vilarouca é cientista político

A opção de Serra por fortes ataques ao radicalismo da política externa

Jarbas de Holanda
Jornalista

Interpretados por alguns analistas como abandono da tática do pós-Lula – a de evitar o confronto com o presidente altamente popular, tendo apenas ou basicamente como alvo sua candidata, tática associada a Aécio Neves – os duros ataques que José Serra passou a desferir à política externa, embora de duvidoso ou improvável efeito no grande eleitorado lulista do Norte, do Nordeste e da periferia do conjunto das regiões metropolitanas, constituem certamente um apelo de significativa influência mobilizadora da opinião pública do Centro-Sul e também nos centros urbanos das demais regiões. Com bom potencial para reforçar os consistentes palanques oposicionistas no Sul, no Sudeste (com exceção dos do Rio e do Espírito Santo) e em parte do Centro-Oeste, bem como para energizar os das duas outras regiões, sufocados pelo dominante sentimento lulista. O que pode explicar em parte os números do último Datafolha: estabilidade da candidatura de Serra e parada do crescimento de Dilma, com a manutenção do empate entre os dois.

O presidente Lula – ancorado no sucesso dos indicadores econômicos e sociais, responsável por suas boas relações com vários segmentos do empresariado e pelos elevados índices de popularidade que mantém, além de facilitador básico da aliança pró-Dilma com o PMDB – avaliou que a política externa, de um lado, representaria o melhor espaço para a presença no governo do persistente ideologismo esquerdista de setores do PT, até para compensá-lo pelo pragmatismo das decisões macroeconômicas, e, de outro, seria o instrumento adequado para se construir um projeto de afirmação dele, a qualquer preço, como principal liderança dos países pobres e emergentes. Avaliação que incluiu o cálculo de nenhum ou pequeno custo político-eleitoral do radicalismo diplomático.

Mas tal projeto, ademais de não caminhar – por não interessar a atores mais importantes entre os emergentes, como os governantes chineses e indianos; pela inviabilidade da pretensão de presença permanente do Brasil no Conselho de Segurança da ONU; em face de derrotas sucessivas do Itamaraty na OMC e em outros organismos internacionais - está hoje vinculado a ações voluntaristas e desastradas como a de intervenção na política interna de Honduras ou a da tentativa de mediar o conflito em torno do programa nuclear, belicista, do Irã, rechaçada pelas cinco grandes potências, pela União Européia e pelos próprios vizinhos islâmicos do país dos ayatolás. E, ainda pior, está estreitamente associado a figuras marginais no cenário internacional, como as de Hugo Chávez, de Ahmadnejad, dos ditadores de Cuba. Tudo isso agora reavivado pela crise entre a Colômbia e a Venezuela, que coloca na ordem do dia as conhecidas relações entre o PT e o grupo narcoguerrilheiro das Farc.

Essa opção de Serra começou a ser feita com a postura ofensiva que adotou ao se manifestar sobre a polêmica declaração do vice, Índio da Costa, sobre o PT, as Farc e o narco tráfico, respaldando o essencial da declaração: as conhecidas relações entre o partido e o grupo guerrilheiro, sem subscrever apenas a denúncia de conexão direta entre os petistas e os narcotraficantes, até porque são amplamente conhecidas as relações entre os dois últimos. Além dos dividendos político-eleitorais de tal opção (o apoio da opinião pública que apontei inicialmente), ela pode propiciar outro benefício ao candidato oposicionista: afastá-lo ou reduzir o peso de críticas que tem repetido à política macroeconômica, inclusive à autonomia do Banco Central, que são habilmente aproveitadas pela campanha de Dilma para a disseminação de desconfiança dos mercados financeiros em relação a Serra. E outro dado dessa opção – a ênfase que Serra passou a atribuir às invasões e violências do MST, com base em afirmação textual do próprio líder dos sem-terra, Stédile, de que as invasões serão intensificadas num governo Dilma.

Quanto ao que tal opção configuraria de abandono da estratégia do pós-Lula, cabe assinalar já ter ficado muito claro que o presidente partirá para incisivos ataques a Serra nos dois últimos e decisivos meses da disputa sucessória no primeiro turno. Num contexto bem diverso daquele que Aécio Neves procurava criar até o final de 2009 – o de uma candidatura capaz de dividir a base governista, a partir da neutralidade ou até do apoio do PMDB.

Castañeda: inclusão reforça democracia

DEU EM O GLOBO

Em palestra no Rio, historiador mexicano fala de avanços na América Latina, mas critica política externa de Lula

José Meirelles Passos

Ao fazer um balanço da situação na América Latina nos últimos 25 anos, na noite de terça-feira, o economista, historiador e ex-ministro de Relações Exteriores do México, Jorge Castañeda, concluiu que o fator mais importante na região tem sido a consolidação de uma verdadeira democracia representativa, graças à inclusão social, política e econômica de pessoas que, até então, eram mantidas na marginalidade.

O fenômeno mais revelador desse novo perfil latino-americano, segundo Castañeda, é o crescimento da classe média baixa na maioria dos países, em especial no Brasil e no México, a ponto de ela ter se transformado "na base e sustento social da democracia".

- Essa é a grande mudança que jamais havíamos visto na América Latina. E se trata de uma mudança duradoura - disse o historiador, em palestra no Espaço Tom Jobim, no Jardim Botânico, dentro do ciclo "Diálogos do Nosso Tempo", promovido pela Casa do Saber e Fronteiras do Pensamento, com apoio do GLOBO.

Para historiador, houve uma queda da pobreza

Castañeda disse que há muito tempo não havia diferenças ideológicas e geopolíticas tão grandes - "e com tanta virulência" - como as constatadas hoje, na região. Mas esclareceu que isso se dá apenas em relação a um pequeno grupo de países (ele mencionou Venezuela, Bolívia, Equador, Nicarágua e Argentina) "que preferiram retroceder", enquanto 70 a 80% das nações latino-americanas ("Cuba nem vale a pena mencionar") vivem "uma convergência de realidades, de políticas, de consolidação democrática, de desenvolvimento econômico e de combate à pobreza".

- Trata-se de uma convergência que existe entre os países e dentro de cada um deles. Existe uma manutenção de políticas, com a sua continuidade por parte dos governos, independentemente de quem vença as eleições - disse Castañeda, destacando que, além de ter havido uma queda da pobreza nos últimos 15 anos, "começamos a ver, agora, também uma redução da desigualdade".

O historiador afirmou que o clima generalizado de democracia e liberdade serve, ironicamente, para mostrar que as elites que preferiam manter a maior parte da população excluída "tinham razão, em certo sentido" em manter essa política. Pois a inclusão passou a incomodá-la, devido às reivindicações que passaram a ser feitas pela massa:

- A democracia que estamos vivendo propiciou uma inclusão distinta. Ela é um produto das mobilizações sociais que, junto com a estabilidade econômica, incluiu as massas também ao sistema político e social.

Depois da palestra, em conversa com O GLOBO, o historiador mexicano argumentou que a classe média baixa se tornou sustentação da democracia "não por convicção ou altruísmo, mas por conveniência muito direta do acesso ao crédito, à habitação, aos celulares, a automóveis, a férias, a televisores, refrigeradores, e de alguns à educação e à saúde privada".

- Essa gente obteve grandes benefícios nos últimos 15 anos, graças à combinação de políticas públicas acertadas e a uma democracia que permite exigir essas políticas públicas acertadas. Essa gente, então, se torna numa defensora dessa democracia, porque ela lhes trouxe benefícios reais. Por isso, creio que há hoje algo que não havia antes: uma sustentação social dessa democracia em quase toda a América Latina.

DaMatta: "O que mais temo é uma virada estatizante"

Convidado para participar como debatedor - sob a coordenação da colunista Míriam Leitão, que também faria perguntas da plateia à dupla - o antropólogo Roberto DaMatta primeiro desculpou-se com os presentes, afirmando que nada entendia de política latinoamericana e que "a América Latina é um conceito que renego". Ele, no entanto, disse que concordava com a afirmação de Castañeda de que há uma grande convergência regional graças à estabilidade econômica. Mas acrescentou que anda preocupado com um outro aspecto.

- Essa grande convergência nos dá a possibilidade de diminuir a canalhice das elites e também a estadomania, a estadolatria e a estadofilia. O que eu mais temo é uma virada estatizante, porque há muitas pessoas que acham que tudo será resolvido pelo Estado. Discutimos pouco o papel do Estado, embora sustentemos a burocracia estatal, em que os ministros brasileiros são príncipes, e todo mundo fica rico fazendo política - disse ele.

Embora citasse frequentemente Brasil e México como os países que mais têm progredido, em termos de consolidação democrática, Castañeda criticou acidamente a política externa brasileira. Ele disse que o atual governo promove uma "busca de identidade brasileira no mundo", mas sem dar passos responsáveis. E acrescentou:

- É esquizofrênica uma situação em que o Brasil defende ao extremo a democracia em Honduras, mas não em Cuba; além de ser conivente com a fraude eleitoral no Irã e, ao mesmo tempo, alentar a proliferação nuclear naquele país.

Castañeda disse ainda que o Brasil "é incapaz de dizer claramente que as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) são uma organização terrorista e que têm apoio da Venezuela; além de não tomar uma posição clara em relação à Colômbia; e ter "uma postura muito pouco construtiva em relação a Cuba".

- O Brasil está numa posição internacional muito difícil, e não há boas saídas para dar fim a isso - afirmou o historiador mexicano.

Marco Aurélio diz que Serra já perdeu

DEU EM O GLOBO

Coordenador do programa de governo de Dilma afirma que ela já ganhou e que tucano encerra carreira no 1º turno

Maria Lima e Gerson Camarotti

BRASÍLIA. Na estratégia de carimbar no candidato tucano o rótulo de "direita", o coordenador do programa de governo da candidata Dilma Rousseff (PT), Marco Aurélio Garcia, engrossou ontem uma dura reação ao tucano José Serra, deixando escapar um até então escamoteado otimismo de vitória do PT no primeiro turno das eleições. Em entrevista à TV/PT, para contra-atacar críticas dos adversários à política externa brasileira, o também assessor especial do presidente Lula disse que Serra corre em direção à "direita mais raivosa" e que sua carreira terá um "final melancólico" já no primeiro turno.

- Em realidade eu fico constrangido de ver uma pessoa que teve um passado de esquerda como o José Serra ter corrido tanto na direção da direita, daquela direita mais raivosa e atrasada - disse Marco Aurélio Garcia, concluindo que ele será derrotado em outubro: - Me parece um final melancólico da sua carreira política, porque eu acho que a sua carreira política terminará no dia 3 de outubro.

As críticas de Marco Aurélio Garcia foram motivadas por declarações de Serra condenando a política brasileira de ajudar financeiramente os vizinhos Paraguai e Bolívia. Ele começou dizendo, na entrevista à TV do PT divulgada no site do partido, que essa posição mostra uma visão "muito tacanha" do tucano em relação à América do Sul. Garcia disse que Serra criticou mais especificamente o fato de o governo Lula estar fazendo "filantropia" com os vizinhos:

- Não podemos ser uma ilha de prosperidade em meio a um oceano de desigualdade. Queremos um crescimento solidário com os países da região. Isso tem não só um significado muito grande do ponto de vista dos valores, mas uma implicação do ponto de vista econômico. Estamos construindo um grande mercado de bens de consumo que beneficiaria também a economia brasileira.

Marco Aurélio disse ainda que as críticas de Serra à política externa do governo Lula revelam o que Nelson Rodrigues chamou de "complexo de vira-latas", de quem se acostumou, no passado, a ser um país acanhado, sem ambição e submisso ao grandes países.

Guerra: 'Marco Aurélio não é bom de previsão'

DEU EM O GLOBO

Maria Lima e Gerson Camarotti

BRASÍLIA. O presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), reagiu às críticas do coordenador do programa de governo da campanha presidencial de Dilma Rousseff, Marco Aurélio Garcia, desdenhando da capacidade do petista de prever resultados:

- Ele e o PT já cantaram vitória muitas outras vezes. Mas não acho que Marco Aurélio seja bom de previsão. Ele cantou vitória com Lula alcançando a paz no Oriente Médio e deu no que deu - ironizou Guerra, lembrando também a comemoração por Dilma estar dez pontos à frente de Serra, segundo sondagens, e depois ficando um ponto atrás do adversário no Datafolha.

A pesquisa Datafolha divulgada no último sábado aponta para um empate técnico entre os dois candidatos: Serra com 37% das intenções de voto, contra 36% de Dilma.

Campanha de Dilma processa revista 'Veja'

DEU EM O GLOBO

BRASÍLIA. A coligação da candidata petista à Presidência, Dilma Rousseff, e o PT entraram ontem com um pedido de direito de resposta no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) contra a revista "Veja". Na última edição, a revista publicou uma reportagem de quatro páginas repercutindo as declarações do deputado Indio da Costa (DEM-RJ) sobre suposta ligação do PT com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e o narcotráfico. A revista diz que "o episódio foi uma afobação de iniciante, mas o vice de José Serra está correto em se espantar com a ligação de membros do PT com as Farc e seus narcoterroristas".

No pedido ao TSE, a coligação e o PT querem que a revista reserve uma página para o direito de resposta. Eles alegam que a "Veja" "deu eco" para a calúnia e injúria praticadas por Indio da Costa, com nítido interesse em "estabelecer vínculo antigo entre o Partido dos Trabalhadores e narcoterroristas, ou seja, a ligação do PT com pessoas envolvidas com o tráfico de entorpecentes e ao terrorismo".

Aécio e Anastasia negam 'corpo mole'

DEU EM O GLOBO

"Não há estado onde ele (Serra) esteja tão satisfeito como em Minas", diz ex-governador

Marcelo Portela


BELO HORIZONTE. O governador de Minas Gerais, Antônio Anastasia (PSDB), está jogando parte de suas fichas no apelo que o futebol tem para os eleitores para tentar ganhar espaço na disputa com o senador Hélio Costa (PMDB) pelo governo do estado. Após receber apoio de lideranças das torcidas dos três times da capital mineira - Atlético-MG, Cruzeiro e América - no início da semana, ontem Anastasia aproveitou a visita do presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ricardo Teixeira, a Belo Horizonte para promover mais um ato de campanha.

Acompanhados do ex-governador e candidato ao Senado Aécio Neves (PSDB), eles visitaram as obras do Estádio Governador Magalhães Pinto, o Mineirão, que começou a ter seu gramado retirado como parte do projeto de adequação do espaço para a Copa do Mundo de 2014, no Brasil. Durante o evento, Anastasia e Aécio negaram que haja "corpo mole" ou falta de empenho na campanha de Serra - que dormiu em Belo Horizonte e participa de eventos com Aécio e Anastasia em Ituiutaba, no Triângulo mineiro, e Patos de Minas, no Alto Paranaíba.

- Não existe isso, é uma bobagem. Não tem nenhum estado onde Serra tem estado tanto, e acho que não há estado onde ele esteja tão satisfeito com a parceria dos seus companheiros como em Minas Gerais - declarou Aécio.

Serra diz que fez acontecer os genéricos

DEU NO JORNAL DO COMMERCIO (PE)

PALMAS - O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, admitiu anteontem à noite, em Palmas (TO), que não foi o inventor dos genéricos, mas sim o responsável por fazer acontecer a venda de medicamentos com preço inferior, porém seguindo o mesmo padrão de qualidade dos remédios com nome fantasia. Em discurso para cerca de dois mil aliados políticos e empresários na casa da senadora Kátia Abreu (DEM), o candidato tucano afirmou que o projeto foi de iniciativa do então vice-líder do governo, Ronaldo César Coelho (PSDB). Não fui eu que inventei o genérico. O genérico já existia, eu nem sabia quando eu assumi o Ministério da Saúde. No meu discurso, não tinha a palavra genérico. Um dia, Ronaldo César Coelho, que é banqueiro e amigo nosso, disse: tem esse negócio de genérico, você não quer dar uma olhada. Eu disse: boa briga, vamos em frente, contou o tucano.

Na disputa por votos na eleição deste ano, a candidata petista Dilma Rousseff tenta desconstruir a imagem de que Serra detém a paternidade sobre os genéricos. O tucano listou ainda o programa de DST/Aids como outra iniciativa de sua gestão à frente do Ministério da Saúde, porém idealizada por outras pessoas. Toquei o programa da Aids para acontecer na prática, mas não foi ideia minha. Algumas coisas eu tive ideia. Por exemplo, na Saúde, tive a ideia de fazer a vacina da gripe, de fazer mutirões (de saúde). O Instituto do Câncer, um dos melhores da América Latina, foi ideia minha, afirmou.

Senador confiante no guia e no fator Serra

DEU NO JORNAL DO COMMERCIO (PE)

O senador e candidato Jarbas Vasconcelos afirmou, ontem à noite, que o guia e as inserções da campanha de TV irão definir a eleição em Pernambuco. Depois de bem recepcionado em seis ruas do Bairro de San Martin, percorridas ao lado do candidato ao Senado Marco Maciel (DEM), Jarbas se disse confiante na campanha eletrônica e revelou acreditar em dois outros fatores: o fator José Serra, com a verticalização da campanha a partir de um crescimento do presidenciável tucano, e o fator corpo a corpo nas ruas. Há um conjunto de problemas grandes (sem as máquinas federal, estadual e do Recife, falta de recursos, etc), mas tenho confiança. Seria despreparo meu imaginar que não enfrentaria obstáculos.

Em ritmo frenético, Jarbas cumprimentava moradores casa por casa, seguido por Maciel e militantes com bandeirões. Para demonstrar a sua confiança, assinalou que se a campanha de Serra não cometer erros, o tucano irá decolar com o guia. Ele chega empatado com Dilma, e Dilma vai se desgarrar de Lula, avaliou. Perguntado, se negou a comentar a pesquisa Datafolha sobre a gestão João da Costa (PT) no Recife.

Equipes de Jarbas e Serra afinam o discurso político

DEU NO JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Coordenador nacional da campanha presidencial do tucano colhe, junto aos auxiliares de Jarbas, sugestões para o programa de governo de Serra. Aproveita para acusar o PT de copiar propostas

O coordenador nacional do programa de governo do candidato a presidente José Serra (PSDB), Xico Graziano, saiu do Recife, ontem, com as propostas do candidato ao governo de Pernambuco, senador Jarbas Vasconcelos (PMDB), anotadas. Mas pediu para que as prioridades tivessem seus custos detalhados. Entre as urgências apontadas pelo candidato ao governo estão uma Sudene voltada para o semiárido nordestino, o Canal do Sertão, a expansão da BR-232 e as chamadas Escolas em Tempo Integral da gestão Jarbas (agora, segundo jarbistas, mal-reformuladas para Escolas de Referência pelo governo do adversário Eduardo Campos). Graziano reuniu-se, ontem, no Golden Tulip Hotel, em Boa Viagem, com a equipe do programa de Jarbas, encabeçada por Cláudio Marinho.

Graziano pediu para quantificarmos os projetos com os valores. Serra é economista, criterioso, quer obras exequíveis, explicou Marinho. O coordenador de Serra foi ainda mais taxativo ao exemplificar o estilo do tucano e, ao mesmo tempo, dar uma estocada no presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT): Há (em Pernambuco) uma ideia de desviar a BR-101 e fazer um Rodoanel. Tudo bem, mas o estilo Serra é o seguinte: quanto custa? Precisa saber a viabilidade. Não vamos sair por aí prometendo ilusões, não é nosso estilo e não vamos fazer isso.

O coordenador nacional disse estar indo aos Estados para discutir, com os candidatos a governador aliados, diretrizes, propostas e viabilidade de projetos que dependem do governo federal. Exemplo: o metrô do Recife está parado, precisa comprar trem e isso depende do governo federal. É bom para o Jarbas, para a população, mas se o presidente da República não endossar não adianta nada falar que vai fazer. O senador esteve rapidamente na reunião, pois saiu para gravar para o guia eleitoral. Antes, pediu a palavra para elogiar a iniciativa de José Serra de tentar unificar a visão nacional e local. Serra mandar ouvir os Estados é uma coisa nova. Muitas vezes, prioridades do governo federal não são prioridades dos Estados, comentou Jarbas. O governo Lula não fez irrigação. O Canal do Sertão não saiu do papel,completou. O ex-deputado federal Oswaldo Coelho (DEM) estava presente e reivindicou investimentos em irrigação.

Achei muito interessante as propostas sobre o semiárido e a educação. Quando levar para o Serra, talvez ele venha conhecer o modelo de escola integral implantada na época de Jarbas, disse Graziano. O governo Eduardo é um governo de continuidade. Ele muda os nomes, mas continua nossas obras estruturadoras. Eduardo sabe que deixamos o Estado programado para aumentar as escolas em tempo integral. O que ele fez? Expandiu nosso modelo, mas sem obedecer o conceito. Ganhou quantidade e perdeu muito em qualidade.

PLÁGIO

Xico Graziano evitou dar detalhes sobre o programa de governo de Serra e disse que as propostas finais podem não ser divulgadas porque a turma da Dilma copia. O coordenador afirmou que o PT se apropriou das ideias" dos tucanos para utilizá-las na campanha de Dilma. Citou como exemplo a intenção do tucano de desonerar as empresas de saneamento básico.

Fim de 'estradas da morte' no país

DEU NO ESTADO DE MINAS

José Serra prometeu acabar com as estradas da morte no país. Criticou o governo federal pela falta de investimentos em infraestrutura e mirou no Departamento Nacional de Infraestrutura de Trasnportes (Dnit), durante a entrevista na TV, em Belo Horizonte.

(O Dnit) só serve para atrapalhar", atacou. O candidato afirmou que, apesar da alta arrecadação com a Contribuição de Intervenção sobre Domínio Econômico (Cide), conhecida como imposto dos combustíveis, o país está "cheio de estradas da morte". Se eleito, afirmou que vai iniciar obras em rodovias como a BR-381 que liga Belo Horizonte a Governador Valadares (uma das mais perigosas do estado) de imediato e que registra dezenas de mortes todos os anos.

"Vamos consertar isso. Não estou fazendo promessa nem compromisso, estou anunciando", disse, ao ser questionado sobre a BR-381. De acordo com ele, o governo precisa escolher as estradas prioritárias e tocar imediatamente.

O candidato tucano atribuiu a falta de operacionalização do sistema à ausência de planejamento técnico do Dnit. "O problema é que o Dnit está totalmente loteado entre políticos. Então, a prioridade deixa de ser o interesse público e passa a ser o político. Isso comigo vai acabar", afirmou.

De acordo como presidenciável, nos últimos oito anos, o governo federal arrecadou R$ 65 bilhões com a Cide, mas só um terço dos recursos foi investido nas rodovias. Conforme o candidato, oito em cada 10 estradas brasileiras não têm condições de operar. O tucano defendeu as concessões para melhorar as condições dos trechos e disse que em São Paulo, durante o seu governo, o método foi aprovado por 75% dos usuários e foram pelo menos evitadas 11 mil mortes.

"Minas é a principal vítima disso porque é o estado onde mais tem estradas federais, pelo tamanho e pela localização, como também foi vítima do Dnit". Serra também cogita a estadualização de parte da malha federal. "Onde o estado comanda, você tem mais flexibilidade para atuar", argumentou.

Confins sem planejamento

O candidato tucano também atacou a falta de planejamento nas intervenções feitas no aeroporto de Confins. Disse que as obras deveriam começar pela construção de pistas e terminais, mas o investimento está direcionado na ampliação do estacionamento. "Você vai fazer uma casa e constrói primeiro o estacionamento? Isso é falta de planejamento, na verdade".

Para ele, as obras devem ser feitas não só por causa da Copa do Mundo, mas também para favorecer a economia mineira e as famílias. "Confins está estrangulado", afirmou.

O ex-governador paulista afirmou que o fato de a disputa presidencial estar sendo pautada pela troca de acusações não é culpa sua e disse esperar campanhas mais propostivas daqui para frente. "É uma campanha bem disputada e espero que ela possa se basear mais em ideias daqui para diante, em teses, em propostas para o Brasil", afirmou.

Serra diz ter maior apoio em Minas

DEU NO ESTADO DE MINAS

Presidenciável do PSDB diz que seus aliados no estado são os que mais se empenham em sua campanha à Presidência e minimiza ausência de seu material entre demais candidatos tucanos

Leonardo Augusto, Alice Maciel e Juliana Cipriani

O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, afirmou ontem que Minas Gerais é o estado que mais se empenha na sua campanha ao Palácio do Planalto. Ele esteve em Belo Horizonte, Patos de Minas (Alto Paranaíba) e Ituiutaba (Triângulo Mineiro). Em rápida passagem pela capital, ele concedeu entrevista à Rede Bandeirantes acusando o governo federal de lotear cargos na área de infraestrutura de estradas.

De BH, o tucano seguiu para Patos de Minas, um dos principais polos agrícolas do estado, ao lado do governador Antonio Augusto Anastasia (PSDB), que disputa a reeleição, e do ex-governador Aécio Neves (PSDB), candidato ao Senado. O presidenciável rebateu as críticas de que seu material de campanha esteja sendo excluído nos estados. Quero dizer que a nossa campanha aqui em Minas tem tido um empenho, como em nenhum outro lugar, dos nossos dois principais líderes, disse, se referindo a Aécio e Anastasia, a quem chamou de queridíssimo e amicíssimo, respectivamente. O candidato pediu votos para Itamar Franco (PPS), que também concorre ao Senado na chapa encabeçada por Anastasia. É um homem que honrou Minas na Presidência do Brasil, afirmou.

A preocupação de Serra em dissipar dúvidas sobre o envolvimento de correligionários na campanha do PSDB à Presidência tinha fundamento em Patos de Minas. Nas paredes do auditório escolhido para os discursos dos candidatos, a maioria esmagadora do material de campanha apresentava fotos de Anastasia, Aécio e Itamar. Em apenas um, Serra aparecia ao lado dos três. Por outro lado, eram muitos os cartazes com o candidato à Presidência sozinho.

Material de campanha também foi colocado na fachada da casa da prefeita Maria Beatriz de Castro Savassi (DEM). Mas os de Serra foram acrescentados na última hora, praticamente no mesmo instante em que os candidatos passavam em frente à casa. No aeroporto, na chegada dos candidatos, que viajaram juntos, ninguém tinha foto de Serra nos botons nas camisas, mas todos ostentavam figuras de Anastasia, Aécio e Itamar.

Mais cedo, na entrevista na televisão, em BH, o tucano foi questionado sobre a exclusão de seu material de campanha entre aliados. Você acha grave isso? Eu não acho, isso se corrige com enorme facilidade, não tem importância nenhuma. O material da minha campanha ainda nem ficou pronto", afirmou.

Espinhos. Em Patos, Serra se negou a tratar de temas espinhosos em Patos de Minas. Disse que não poderia comentar o fato de ter recebido a quarta multa do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por propaganda eleitoral extemporânea. Sinceramente, não posso dizer nada.

Não tenho conhecimento. Fiquei sabendo pela imprensa", disse. A penalidade, de R$ 10 mil, foi aplicada pela veiculação de inserções partidárias divulgadas em 16 e 21 de junho.

Segundo o TSE, foram usadas imagens para promover o candidato. Com a decisão do tribunal, o valor devido por Serra à Justiça sobe para R$ 25 mil.

A eleição vai ser disputada, mas vamos ganhar, porque estamos do lado daqueles e daquelas que têm propostas para o Brasil, afirmou o tucano em discurso para lideranças regionais. O candidato disse que nas articulações políticas na região foi possível unir UDN e PSD, partidos que entraram para a história da política brasileira pela rivalidade entre si. Na região de Patos de Minas, o ex-senador Arlindo Porto, que pertencia ao PSD, e o suplente de Aécio Neves, deputado estadual Elmiro Nascimento, que era da UDN, ontem estavam no mesmo palanque, ao lado dos tucanos.

De Patos, Serra foi para Ituiutaba, quase no pontal do Triângulo, onde voltou a criticar a falta de investimentos em infraestrutura: Temos problemas em várias áreas, e como em Minas as coisas são bem feitas, temos muita esperança nesta união que vai ajudar o Brasil e todos os mineiros e mineiras. O candidato disse também que o setor agrícola foi o que mais contribuiu para a estabilização da economia. Depois de caminhada no Centro de Ituiutaba, ele destacou que, nos últimos 30 anos, os preços da cesta básica cresceram em média 5% menos que os outros produtos. "É o setor que segura a inflação que está aguentando o setor externo da economia brasileira, afirmou.

'Está cheio de estradas da morte', diz Serra

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Ao criticar modelo federal para rodovias, tucano aponta loteamento político no DNIT

Malu Delgado, enviada especial a Ituiutaba e Pato de Minas, Eduardo Kattah
Belo Horizonte - O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, criticou ontem a situação da malha rodoviária federal do País e apontou loteamento político no Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT).

O tucano se disse favorável à estadualização de BRs - com repasse integral para os Estados dos recursos arrecadados com a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide), cobrada sobre o consumo dos combustíveis.

Em entrevista ao programa Minas Urgente, da TV Bandeirantes, o candidato disse que nos últimos oito anos o governo arrecadou por meio da Cide aproximadamente R$ 65 bilhões, mas apenas um terço disso teria sido gasto nas estradas federais. Na avaliação dele, de cada dez estradas federais, oito não têm condições de operar. "Está cheio de estrada da morte por todo lugar", disse.

Para o tucano, o DNIT é um órgão que atua sem planejamento e por critérios puramente político-partidários. Segundo ele, totalmente loteado entre políticos, o órgão "serve para atrapalhar". "A prioridade deixa de ser o interesse nacional, público e passa ser o interesse político daqui ou dali. Isso comigo vai acabar", prometeu. Com10 mil quilômetros de estradas federais, Minas possui a maior malha de BRs do Brasil.

Tucanos vão usar mensalão e Lina contra Dilma

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Bastidores: Malu Delgado
Criticar diretamente propostas mais radicais do PT e recordar temas incômodos ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, como o mensalão, fazem parte da nova estratégia traçada pela direção do PSDB e pelo candidato José Serra. O objetivo é reforçar um discurso anti-Dilma e anti-PT.

Na visão dos tucanos, Lula passou o final do primeiro mandato e a maior parte do segundo mandato evitando discutir determinados assuntos que abateram o PT, sobretudo a crise do mensalão, durante a qual viveu o pior momento de seus quase oito anos no poder.Além do mensalão, outro alvo dos tucanos é o caso da ex-secretária Lina Vieira, da Receita Federal que acusou a então ministra Dilma Rousseff de tê-la pressionado a afrouxar investigações sobre empresas da família Sarney. A hoje candidata do PT nega ter feito pressão, mas o caso nunca foi plenamente esclarecido.

Para o PSDB, a crítica a Lula é improdutiva, devido à alta popularidade do presidente, restando, desta forma, o ataque ao PT e a Dilma. A estratégia foi discutida com dirigentes da sigla e do DEM nas últimas semanas.

A avaliação do comando político da campanha é que Lula não entrará numa cruzada em defesa de Dilma quando os temas trazidos à arena eleitoral forem espinhosos para ele. Entrariam nesse rol de assuntos delicados para o governo Lula, por exemplo, as relações do PT com as Farc e o MST e a proximidade do governo com o regime do venezuelano Hugo Chávez.

Essa nova estratégia explicaria o fato de Serra ter citado as relações do PT com o movimento dos sem-terra e também ter endossado as críticas de seu companheiro de chapa, Índio da Costa (DEM), ao partido de Dilma.

Encontro pago por estatal pede votos para Dilma

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Caixa, Petrobras e Banco do Nordeste bancam patrocínios de evento da Contag

Márcio Falcão

DE BRASÍLIA - Um evento patrocinado por bancos públicos e por uma estatal virou palco para manifestações em defesa do voto na candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff.

O 2º Encontro Nacional da Juventude Rural reúne até amanhã, em Brasília, cerca de 5.000 jovens que tiveram transporte, alimentação e hospedagem custeadas pela Contag (entidade sindical de trabalhadores rurais), responsável pela organização.

O patrocínio (R$ 270 mil) foi dividido entre Caixa Econômica Federal (R$ 200 mil), Petrobras (R$ 50 mil) e o Banco do Nordeste (R$ 20 mil). O tom eleitoral marcou as atividades -houve até caminhada com jovens empunhando bandeiras da petista.

As empresas dizem que o evento está inserido em suas estratégias de divulgação.

Acordo da Oi pode exigir aporte de dinheiro público

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Governo não confirma nem nega uso de recursos, mas impõe que tele continue sob controle nacional

A participação do governo federal foi fundamental na conclusão dos dois negócios que mudam o rumo das telecomunicações no país, segundo apurou a Folha.

Por R$ 8,4 bilhões, a Portugal Telecom ficará com 22,4% da Oi, que terá 100/0 da tele europeia. Por R$ 17,2 bilhões, a PT vendeu sua parte na Vivo à Telefónica.

La Fonte e Andrade Gutierrez não podem vender ações até 2015. BNDES e fundos devem injetar no futuro R$ 1,1 bilhão para manter suas participações na Oi.

O governo não confirmou nem negou o aporte. Para que a operação fosse fechada, o presidente Lula impôs que a tele continuasse "brasileira da Silva".

Acordo Oi/PT pode custar R$ 1 bi a governo

BNDES e fundos de pensão devem colocar mais capital na Oi para manter participação no bloco de controle

Lula rebate críticos de que governo interferiu no negócio, mas diz que empresa continuará a ser "brasileira da Silva"

Valdo Cruz e Simone Iglesias

DE BRASÍLIA - BNDES e fundos de pensão sócios da Oi podem entrar com R$ 1,1 bilhão nos futuros aumentos de capital da empresa para manter inalterada sua participação no bloco de controle da tele, que ontem anunciou a entrada na sociedade da Portugal Telecom.A avaliação é de analistas de mercado, com base nas informações divulgadas ontem pelas empresas oficializando as negociações. Concluídas, a Portugal Telecom terá 22,4% da Oi e investirá na empresa R$ 8,4 bilhões.

Hoje, os grupos Andrade Gutierrez e La Fonte detêm 19,33% cada um da empresa.Como contrapartida, a Oi terá 10% do capital da PT. Além disso, segundo a Folha apurou, o presidente Lula disse, em conversas com sua equipe, que o BNDES participará da operação para viabilizar a entrada da PT na Oi e, ao mesmo tempo, garantir que a empresa siga sob controle de empresas nacionais.

Essa foi, por sinal, a condição imposta por Lula nas negociações para que a operação fosse fechada. A Portugal Telecom chegou a manifestar seu desejo de comprar o controle da empresa, mas acabou aceitando entrar como minoritária diante das resistências do presidente.

Em comunicado ao mercado, a La Fonte informou que, fechada a operação com a Portugal Telecom, nem ela nem a Andrade Gutierrez poderão vender suas participações na Oi durante um prazo de cinco anos. Depois, terão de dar preferências aos atuais acionistas se decidirem sair da sociedade.

Na avaliação do governo, permitir a desnacionalização da Oi, depois de estimular sua criação sob a justificativa de formar uma grande tele brasileira, traria impactos negativos na campanha de sua candidata à sua sucessão, Dilma Rousseff.

CONTROLE NACIONAL

Ontem, governo e BNDES não confirmaram nem desmentiram que o banco entraria com capital novo na operação. Informaram apenas que tudo será feito para que seja mantida a cláusula que dá aos acionistas atuais a preferência na compra de ações da empresa.Hoje, via BNDESpar, o banco tem 16,89% do capital da Oi. Patrocinados por BB, Petrobras e Caixa, os fundos de pensão Previ, Petros e Funcef têm, respectivamente, 8,4%, 10% e 10%.Com a operação confirmada, a competição na telefonia se dará, agora, entre os mexicanos da América Móvil (Embratel, Claro e Net), os espanhóis da Telefónica (Telefónica, Vivo e TVA), os italianos da Telecom Italia (TIM e Intelig), os franceses da Vivendi (GVT) e a nova Oi (PT, Oi e Brasil Telecom). Há também a Nextel, mas ela só atua com telefonia móvel.A compra do controle da Vivo pela Telefónica, assim como a aquisição de fatia da Oi pela Portugal Telecom, precisará ser aprovada pelo Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), autoridade antitruste responsável pelo julgamento de atos de concentração.

LULA

Lula buscou ontem se defender das críticas de que interferiu no negócio. "O Brasil não pode, nem poderia ter, nenhuma influência nas negociações entre a Telefónica e a Portugal Telecom. São países soberanos que, entre eles, fizeram um negócio que, pelo que vi hoje nos jornais, é muito dinheiro."

Lula acrescentou que os sócios privados e públicos da Oi estão "negociando com a Portugal Telecom, e, da parte do governo, está sendo acompanhado pelo BNDES".

As declarações foram dadas após almoço com o presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, no Itamaraty.

Lula afirmou que a empresa não deixará de ser nacional, porque esse foi o propósito quando criada e que continuará assim.

O fato de a Portugal Telecom ter decidido participar da Oi, só posso dizer que a Oi continuará sendo brasileira da Silva (...). Vai sair uma grande tele nacional, eu espero", disse o presidente.

Petrobras pega na CEF triplo de toda verba do saneamento

DEU EM O GLOBO

Banco público cria superintendência só para tratar de créditos à estatal

A Caixa Econômica Federal (CEF) já emprestou para a Petrobras R$ 5,6 bilhões em menos de dois anos: R$ 2 bilhões no mês passado e R$ 3,6 bilhões no auge da crise financeira global, em 2008. O crédito dado à Petrobras representa praticamente três vezes todo o dinheiro da Caixa para saneamento, que não passa de R$ 1,982 bilhão. Os R$ 5,6 bi emprestados quase se igualam aos valores desembolsados no programa Minha Casa, Minha Vida, a vitrine do governo Lula para habitação popular. Como a Petrobras tornou-se o principal devedor da Caixa, envolvendo valores elevados, o banco público criou uma Superintendência Regional, no Rio, "destinada ao relacionamento institucional com a Petrobras". Para o advogado e especialista em petróleo Cláudio Araújo Pinho, falta mais transparência sobre a situação de caixa da Petrobras. No mercado financeiro, o entendimento é que o dinheiro da CEF só foi liberado porque a capitalização da Petrobras está demorando e só deve sair em setembro.

Caixa dá mais à Petrobras do que para saneamento

Crédito para estatal em apenas dois anos chega a R$5,6 bi. Valor quase se iguala ao "Minha Casa, Minha Vida"

Geralda Doca, Patricia Duarte e Ramona Ordoñez

BRASÍLIA e RIO. A Caixa Econômica Federal emprestou para a Petrobras R$5,6 bilhões em menos de dois anos, somando o crédito de R$2 bilhões concedido no mês passado. Foram R$3,6 bilhões no segundo semestre de 2008 (um de R$2 bilhões e outro de R$1,6 bilhão). Os números mostram que a dívida total da empresa equivale a quase três vezes o total da carteira de aplicações em saneamento, conforme o balanço da Caixa do primeiro trimestre de 2010, que foi de R$1,982 bilhão.

Ainda de acordo com o balanço, os recursos correspondem a 17,86% do total da carteira de crédito de pessoas jurídicas, que é de R$31,346 bilhões (balanço do primeiro trimestre de 2010). Além disso, aproxima-se do volume de contratações dentro do programa "Minha Casa, Minha Vida", que atingiu R$6,6 bilhões para financiar 96 mil empreendimentos.

Os recursos tomados da Caixa, conforme consta das explicações do balanço anual do banco, seriam pagos com vencimento de contrato em 25 meses, em parcela única, ao fim do prazo. Ou seja, está vencendo agora. No documento, a estatal aparece como o principal devedor da instituição.

Para se ter uma ideia do peso da Petrobras na carteira da Caixa, o montante de crédito direcionado às indústrias era de apenas R$1,614 milhão, segundo balanço de 2007. Em 2008, pulou para R$3,607 bilhões.

Uma superintendência só para cuidar da Petrobras

Segundo fontes ligadas à Caixa, por serem valores elevados, os empréstimos concedidos à Petrobras passaram pela aprovação da Superintendência Regional, onde o pedido foi formalizado pelos Comitê de Crédito e o Conselho de Administração do banco. A assessoria da instituição informou que não comentaria as operações de crédito realizadas com a estatal por motivo de sigilo bancário. Mas confirmou que o banco criou, há seis meses, uma Superintendência Regional (Rio) "destinada ao relacionamento institucional com a Petrobras".

Um executivo diretamente envolvido no processo de capitalização da Petrobras avalia que, às vésperas de fazer uma megacapitalização, que pode movimentar US$50 bilhões e envolverá investidores estrangeiros, a estatal teria recorrido ao banco federal para poder fechar seu caixa no curto prazo, tomar R$2 bilhões em junho na forma de Nota de Crédito à Exportação. A operação com a Caixa pode ter sido necessária porque o aumento de capital, marcado para setembro, já deveria ter ocorrido.

- Como a Petrobras está preparando a capitalização, não tem porque recorrer ao mercado externo agora, que será importante no aumento de capital. É gastar energia, porque no Brasil ela tem linhas (de crédito) abertas com todos os bancos - disse a fonte.

Para o executivo, como a estatal vai receber muito dinheiro na capitalização, ela deve ter fechado uma cláusula de adiantamento de pagamento com a CEF no empréstimo feito em junho.

- Assim que receber os recursos, a Petrobras deve quitar o empréstimo (com a CEF). Deve ser coisa de dois a três meses.

Por causa dos elevados custos de captação de recursos no mercado interno, dificilmente a Petrobras conseguiria o crédito em condições tão vantajosas quanto as da Caixa, dizem analistas do mercado. Tanto assim, que a Caixa foi a saída encontrada pelo estatal para tomar dinheiro em 2008, quando estourou a crise financeira internacional. Naquele momento, no entanto, a justificativa do governo para os empréstimos à Petrobras era a escassez das linhas de crédito internacionais.

Petrobras garante estar com boa situação de caixa

A Petrobras explicou em nota que devido ao seu crescimento e expansão dos negócios, "tem se empenhado em explorar" todas as oportunidades de financiamento oferecidas pelo mercado. Assim, a estatal justifica a obtenção do empréstimo de R$2 bilhões junto à CEF no mês passado. A Petrobras destacou que o financiamento é de longo prazo e com taxas e condições atraentes, sem revelar detalhes.

A Petrobras garantiu, contudo, estar com uma situação confortável de seu caixa, e que a operação é normal dentro de suas atividades. A estatal destacou ainda que os seus negócios rotineiros são divulgados no seu balanço trimestral e por isso a nota de ontem foi meramente informativa. Por tanto a nota não deve ser usada como base para qualquer decisão do mercado.

O especialista Gustavo Gattas do BTG Pactual considerou normal a captação. Segundo ele, a Petrobras deve ter obtido o financiamento na CEF para manter seu forte programa de investimentos, enquanto aguarda a operação de capitalização até setembro. Para Gattas, a Petrobras não está com problemas de caixa. No primeiro trimestre do ano, o fluxo de caixa da companhia era de US$17,4 bilhões:

- Não faria sentido fazer uma captação externa, que é mais complexa, a poucos meses da operação de capitalização. E não acredito que o empréstimo obtido na Caixa trará reflexos negativos à operação.

A Ciência:: Fernando Pessoa


A ciência, a ciência, a ciência...
Ah, como tudo é nulo e vão!
A pobreza da inteligência
Ante a riqueza da emoção!

Aquela mulher que trabalha
Como uma santa em sacrifício,
Com tanto esforço dado a ralha!
Contra o pensar, que é o meu vício!

A ciência! Como é pobre e nada!
Rico é o que alma dá e tem.