segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Reflexão do dia – Bolivar Lamounier


Lula é portanto um fato eleitoral inteiramente novo no Brasil. Ele fabricou, literalmente, a candidata. Forçou-a goela abaixo ao PT. Transferiu-lhe praticamente todo o cabedal de votos que ela ora possui. E pretende concluir a obra no horário eleitoral gratuito, daqui a três semanas. Criou, portanto, o papel de um presidente super-intervencionista na política eleitoral e especificamente no processo sucessório. Se o criou para o bem ou para o mal, é cedo para dizer.



(Bolívar Lamounier, Blog do Bolivar Lamounier)

O cidadão, o cliente e os intelectuais:: Luiz Werneck Vianna

DEU NO VALOR ECONÔMICO

Perder faz parte do jogo, o que desonra é perder sem luta, sem deixar princípios para os que continuam

Será mesmo que estaríamos condenados pelo destino a avançar a pequenos solavancos, uma vez que essa seria uma marca inamovível, ancorada na forma conservadora com que nosso Estado veio ao mundo? Teria a sociedade, depois de experimentar tantas alternativas, acabado por se acomodar ao tempo lento e aos ganhos "moleculares"? Já não se ouvem vozes na Universidade - felizmente ainda isoladas, e que assim se conservem - a fazerem o elogio da modernização conservadora brasileira, forma autoritária que presidiu o nosso processo de industrialização, e que, como modalidade de mudança social esteve presente em contextos nacionais que abriram passagem para o fascismo, tal como na Alemanha, Itália e no Japão? A tentação de rendição a esse processo, no que seria um encontro com a nossa verdadeira natureza, se generaliza e não pode ser mais ignorada. Se até a pouco tempo atrás um Raimundo Faoro identificava com palavras sarcásticas um fio vermelho a vincular D. Pedro II com Vargas, hoje essa linha se esticou até Lula, passando pelo regime militar, e é saudada como benfazeja.

A sucessão em curso, a dar crédito ao discurso dos candidatos que se encontram no topo das pesquisas eleitorais, parece confirmar esse movimento, em que todos disputam quem detém as credenciais para levar adiante uma história que deu certo e que segue uma linha reta de realizações nos objetivos nacionais. Agora, mais uma volta gradual nesse parafuso estaria para ser concluída, com a exposição do Estado e de suas políticas públicas às pressões que vêm do voto e que demandam mais segurança, mais saúde e educação, mais e melhores bolsas famílias. Em cada volta, o Estado e a coalizão pluriclassista que o sustenta amplia a sua legitimação e o domínio que exerce sobre sua sociedade ao estender a sua rede de incorporação a setores até então dela excluídos. Para ele, reserva o monopólio da política, em nome de uma presumida delegação que a sociedade lhe teria conferido graças a seus bons resultados na economia e na questão social.

O despojamento político da sociedade, à falta de uma justificação na teoria democrática, recua para o campo de uma perspectiva ético-moral: a precedência da administração sobre a política se faz defender pela primazia que deve caber à questão social, pois, segundo seus termos, governar é administrar, no registro da compaixão, sobre uma massa de seres dependentes, cabendo ao Estado e às suas agências selecionarem os alvos preferenciais de suas ações. O cidadão fica submerso no cliente, cabendo a ele decifrar, na hora do voto, qual o candidato mais confiável para a realização das promessas de ocasião.

Nada disso é distante das nossas mais remotas tradições, do Império a Vargas, fincadas na precedência do Estado sobre a sociedade civil, e não à toa Oliveira Vianna, que as defendeu em sua obra produzida entre as décadas de 1920/1930, tão esquecido até recentemente, tenha se tornado um autor de referência nos estudos atuais sobre a formação do nosso pensamento social e político. Contudo, na moderna democracia de massas brasileira, já assentada sobre uma crescente economia capitalista, com a vocação e as oportunidades para uma vigorosa expansão, inclusive fora de suas fronteiras nacionais, submergir a política na questão social, como se verifica nos atuais debates sucessórios, não passa de um exercício de mistificação.

Evidente que há uma política nos atuais círculos governantes, e que conta com palpáveis possibilidades de se reproduzir no próximo governo. Ela não surgiu pronta, mas, por ensaio e erro, chegou-se a ela em meio ao segundo mandato de Lula, que, embora seu alardeado pragmatismo, foi delineando o seu contorno, na prática, inteiramente descontínua quanto ao que foi o programa libertário do PT dos movimentos sociais e da autoorganização do social. Se o chamado "protagonismo dos fatos" campeou no primeiro mandato, já são visíveis as mãos que operam no campo decisivo da alavancagem da economia, da política científica e da projeção para o exterior do capitalismo brasileiro. Só está faltando dizer que, no século XXI, o Brasil deve investir no papel da política expansionista americana de começos do século XX.

Falta, ainda, talvez até por ardil, apresentar as razões dessa política grão-burguesa, em que se assuma a defesa da sempre perigosa, para os fins da democracia, fusão entre o Estado e os grandes grupos econômicos como hoje se verifica à vista de todos. A ideologia de Estado entre nós, quando dominante, nunca se recusou a sua justificação, tal como fizeram o Visconde de Uruguai no 2º Reinado, Francisco Campos, Azevedo Amaral e Oliveira Vianna no Estado Novo, e Golbery do Couto e Silva e outros no regime militar. Ela ainda não recuperou o viço de outrora, e, quem sabe, talvez nem vingue completamente, e, por ora, mal sabemos os nomes dos intelectuais que aceitam o risco de se apresentarem como seus campeões.

Evitá-la é não lhe conceder terreno livre, evitando os atalhos que não levam a lugar algum, como se perder em discussões sobre mutirões de saúde, e não questionar a vinculação atual dos movimentos sociais e do sindicalismo ao Estado, abdicar da política e se embrenhar nos caminhos perdidos da administração. Nas competições esportivas e eleitorais, perder faz parte do jogo, o que desonra é perder sem luta, sem deixar para os que vão continuá-la o exemplo da coragem e de uma posição firme quanto a princípios.


Luiz Werneck Vianna é professor-pesquisador do Iesp-Uerj. Ex-presidente da Anpocs, membro do seu conselho institucional. Escreve às segundas-feiras

Lula e Cabral, vídeo revelador :: Carlos Alberto Di Franco

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Autor e personagem de um vídeo que tomou conta da internet, em que é chamado de otário e sacana pelo governador Sérgio Cabral, além de ouvir do presidente Lula que tênis é esporte de burguesia, o estudante Leandro dos Santos, morador de um barraco na favela Nelson Mandela, no Rio de Janeiro, não tinha ideia da repercussão da gravação. O episódio foi reproduzido por Italo Nogueira, repórter do jornal Folha de São Paulo e pode ser conferido pelo amigo leitor http://www.youtube.com/watch?v=KOKS_apCwzA. O jovem, xingado por Cabral e ironizado por Lula, desnudou as duas caras dos homens públicos: o rosto amável e as palavras medidas diante das câmeras e o desprezo debochado na vida real.

Segundo Nogueira, o estudante abordou o governador e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em dezembro do ano passado, após a inauguração de obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) em Manguinhos. Primeiro, o rapaz reclama da ausência de uma quadra de tênis no local, e Lula diz que isso é esporte da burguesia. O presidente então pergunta por que ele não nada. Ao ouvir que a piscina fica fechada, Lula se dirige a Cabral: O dia que a imprensa vier aí e vir isso fechado, o prejuízo político é infinitamente maior do que colocar dois guardas aí. O comentário de Lula é revelador. O que interessa não é o bem-estar dos pobres, mas o eventual arranhão na sua imagem.

Em seguida, Leandro reclama do barulho do Caveirão, o blindado da Polícia Militar, em sua rua. Cabral o interrompe e pergunta se lá não tem tráfico não. Quando o jovem diz que não, o governador rebate: Deixa de ser otário, está fazendo discurso de otário.

Otário, sacana e burguês. Três carimbadas no rosto de um jovem favelado que teve a coragem de exercer a cidadania e de questionar governantes carregados de arrogância e armados de ironia cruel, mas que diante dos holofotes da mídia se apresentam como paladinos da luta contra qualquer discriminação. Uma imagem grita mais que mil palavras. O vídeo está bombando na internet e causa irado constrangimento.

Nós, jornalistas, devemos refletir a respeito desse episódio. Ele revelou o que nossas pautas não costumam contar. Mostrou a face verdadeira, o rosto sem maquiagens, a alma desprovida do botox do marketing. E é exatamente isso que devemos fazer.

Dilma Rousseff, por exemplo, diz que vai fazer o trem-bala. Baita declaração. Mas é viável?

Como vai contornar a muralha da Serra das Araras? E as infinitas desapropriações? Ninguém fala disso. O que fica é o efeito: vou fazer o trem-bala. Sou contra o aborto, mas considero o aborto um problema de saúde pública. Afinal, é favor ou é contra? Quer ampliar os casos previstos na legislação ou quer deixar como está? Sou contra a censura. Beleza. Então, como explicar sua assinatura no Plano Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3)? Como explicar as sucessivas maquiagens nos seus planos de governo? Sou contra qualquer ditadura. Ótimo.

Mas como explicar as declarações de voto de Hugo Chávez para a amiga Dilma? E o José Serra, é a favor ou contra a independência do Banco Central?

Nosso papel, embora com civilidade e respeito, não é registrar, mas questionar. Willian Bonner, âncora do Jornal Nacional, fez a sua parte com notável profissionalismo. O PT errou quando insultava Sarney, Collor e Renan Calheiros ou errou depois ao se aliar a eles? Antes o PT não tinha experiência, amadureceu no governo, respondeu Dilma. A candidata, sem a blindagem imediata do marketing, mostrou sua concepção de política: um jogo pragmático e sem qualquer tipo de baliza ética. Para ela, ser maduro é juntar-se ao que há de pior.

Cobrada sobre o resultado fraco no crescimento econômico se comparado com outros emergentes, culpou a herança maldita do governo Fernando Henrique. Ainda não passou pela cabeça da candidata culpar Pedro Álvares Cabral pelo gargalo na infraestrutura. Mas chegaremos lá. O telespectador, sem contrabando opinativo, tira suas conclusões.

O jornalismo de qualidade, firme e independente, é rastreador da verdade. Não é nosso papel embalar candidatos, mas mostrar suas contradições. É preciso incomodar. Jornalismo cor-de-rosa não faz bem à democracia.

Pai Nosso:: Ricardo Noblat

DEU EM O GLOBO

Temos que manter a tranquilidade. Não podemos fazer uma campanha errática.(Sérgio Guerra, presidente do PSDB)

E no sétimo dia, Lula descansou em São Bernardo. E, relembrando fatos recentes, concluiu que foram muito bons para Dilma, a Mãe do Brasil. No prazo de uma semana, ela saltou em pesquisas do Datafolha de oito pontos de vantagem sobre José Serra para 17. A esta altura, a vantagem passou dos 20 pontos, segundo anunciará o Ibope hoje ou amanhã.

E Lula pensou assim: o que me resta fazer além de cuidar para que Dilma não fale besteiras, o PT e o PMDB não se engalfinhem desde já por conta de cargos no futuro governo, e nenhuma ação aloprada possa pôr em risco a minha obra quase perfeita? Depois de refletir, decidiu: é hora de investir nos estados, para, se possível, reduzir a oposição a pó.

Em eleições passadas, o PT e seus sócios minoritários sempre acenaram com o fantasma de uma onda vermelha. Ela varreria o país de uma ponta à outra. Era delírio. Mas não parece delírio que desta vez uma onda lulista e multicolorida remova de governos e do Congresso adversários históricos e desafetos pessoais do Grande Líder e do PT. Duvida?

O PSDB perderá o governo do Rio Grande do Sul. Perdeu o da Paraíba quando o governador foi cassado por abuso de poder econômico. Corre o risco de perder o governo de Alagoas. E de não ganhar o do Paraná, onde a vitória de Beto Richa (PSDB) já foi segura. Vencerá em São Paulo e Roraima. Deverá vencer em Goiás. Disputará o segundo turno no Pará.

Deram por falta de Minas Gerais? Lula está convencido de que será barbada a vitória de Hélio Costa (PMDB). Com a ascensão de Dilma no estado, foi pelo ralo a história de que Lula deixaria para Aécio o governo local em troca de mais votos para sua candidata. Ganhar em Minas vale bem mais do que uma missa. Compensará a provável vitória de Geraldo Alckmin (PSDB) em São Paulo.

O que será de Aécio, que em algum momento nos últimos dois anos jogou com a hipótese de se transferir para o PMDB e de ser aceito por Lula como seu candidato à sucessão presidencial? Caso não eleja Anastasia (PSDB) governador, será um senador fraco. Por estilo, não baterá de frente com o governo. Dividirá seu tempo entre incursões ao Rio e conversas que o ajudem a disputar a vaga de Dilma em 2014.

O apetite de Lula não tem limites. E são muitos os pontos frágeis da oposição. Lula atacará todos eles com a autoridade de quem obteve um terceiro mandato por meio de Dilma. Pará: Lula fará o que puder para garantir a reeleição da governadora Ana Júlia (PT). Amazonas: Lula pedirá votos para derrotar Arthur Virgílio, líder do PSDB no Senado e candidato à reeleição.O governo poderá ficar com o PMDB ou o PR.

Rio Grande do Norte: Lula almeja mais do que os 65% dos votos até aqui prometidos a Dilma. Maior, porém, é seu desejo de derrotar José Agripino Maia, líder do DEM no Senado. Pouco se lhe dá que Rosalba (DEM) se eleja governadora. Ou que Garibaldi Alves (PMDB), aliado de Agripino, volte ao Senado. O alvo é Agripino, que teve o desplante de vencer Lula há dois anos elegendo a prefeita de Natal. Pode?

O Rio de Janeiro está no bolso de Sérgio Cabral (PMDB), aliado de Lula. O de Pernambuco, no de Eduardo Campos (PSB), aspirante a candidato a vice-presidente da República quando Lula der o sinal para que ponham de novo o retrato do velho na parede em 2014 ou em 2018. Dilma não será um obstáculo nem mesmo se pegar gosto pelo cargo.Pense numa prévia dentro do PT para escolher entre ela e Lula...

Exagero? Olívio Dutra era governador do Rio Grande do Sul e planejava se candidatar à reeleição. Foi atropelado por Tarso Genro, que teve força para promover uma prévia e vencê-la.

Tarso perdeu a eleição. Você vê alguém com pinta de que despachará Dilma em 2014? Alckmin abriria mão de mais um mandato de governador? Nem pensar.

É Dilma já. E ela ou Lula depois salvo o imprevisível, que, por sua própria natureza, serve para justificar o eventual desastre de qualquer análise.

Que fazer na Campanha da Oposição? :: Vagner Gomes de Souza

Em tempos de Revolução Passiva no processo eleitoral os herdeiros da prática da política de Frente Democrática se questionam sobre o grau de despolitização dos debates em curso. Estamos num ciclo de expansão econômica das forças capitalistas onde as classes sociais não estão motivadas a pontuar seus antagonismos. Invertemos a situação estudada por E.P. Thompson de “Luta de Classes sem classes”, pois estamos num momento de “Classes sociais sem luta” o que é um indicador favorável ao continuísmo governamental.

O continuísmo governamental é beneficiado por uma campanha onde se debate estilos ao contrário de marcar politicamente as diferenças. Como já percebemos, o tema da igualdade não é hegemônico nas principais candidaturas presidenciais. Aprofundou-se a americanização da política onde a propaganda política ganha espaço na mídia e na cultura de massa na campanha. A maior vítima é a formulação de uma política. Aliás, quem faz a formulação política da candidatura da oposição?

Se o cenário nacional é alarmante, imaginem-se os limites da prática da política no Estado do Rio de Janeiro. Nesse estado, onde. saiu a candidatura do Vice-presidente da chapa de oposição, os oposicionistas estão com indicadores desfavoráveis a cada pesquisa de opinião. Por ironia do destino, a carência da aceitação da política de Frente Democrática explicaria esse indicador negativo uma vez que o chamado “palanque de oposição” é liderado por um candidato vinculado a uma ideia de Terceira Via que “patina” numa campanha de poucos recursos, ou pior, pouca unidade política.

Muito visível a ausência de articulação política diante da força da “máquina política” do Governo Estadual que aparentemente está realizando a refundação da cultura política do “chaguismo” e do “amaralismo”. A oposição fluminense, fragmentada na falta da política ao nível nacional, aprofundou essa fragmentação na pré-campanha com idas e vindas sobre nomes que fariam parte da chapa majoritária. Agora, cada grupo político atua como se fosse facção na busca de defender seu espaço político temendo se expuser num enfrentamento direto do debate da política na campanha majoritária (estadual e gradualmente a nacional).

A situação é grave, pois não há um sujeito político a disposição de fazer uma articulação do processo em nome da “Grande Política”. A campanha pulverizada em candidaturas proporcionais não acompanha a tese de um fortalecimento de um debate político que está ausente. Uma nova classe média surge sem ser formada politicamente, pois estamos no momento do “salve-se quem puder”. O tempo em política é fundamental. O tempo de reação é agora para as forças políticas de oposição desde que façam o mínimo na política que é mobilizar politicamente de forma unitária seus diversos segmentos. Afinal, há outra cultura política fluminense que não apareceu nessas eleições: “a cultura política oposicionista de votar contra todos que estão no Governo”.

Estamos aguardando apenas somar votos para quociente eleitoral? Esperamos que não. Afinal, como diz um candidato governista no TRE: “O Povo merece respeito!”


[1] Candidato a Deputado Federal pelo PPS-RJ.

TSE decide que Serra pode usar imagem de Lula

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Vannildo Mendes / BRASÍLIA

Se depender do Tribunal Superior Eleitoral, o presidenciável tucano José Serra pode, por ora, continuar usando a imagem do presidente Lula na sua campanha eleitoral, em vez de trombar com a popularidade do adversário. O ministro Henrique Neves, ao mandar arquivar duas ações movidas pela coligação que apoia a candidata petista Dilma Rousseff, sustentou que só Lula tem legitimidade para reclamar de uso indevido do seu nome. "O direito (à imagem) é personalíssimo e, como tal, somente pode ser exercido por seu titular."

Programa de TV exibido na semana passada mostrou cenas de Serra, então governador de São Paulo, ao lado do presidente. O narrador destaca que são dois "líderes experientes" e "homens de história". Os partidos da coligação de Dilma entenderam que o objetivo era confundir o eleitor, criando uma "armadilha propagandista" que liga Lula a Serra. Os próprios aliados do tucano mostraram insatisfação, mas Serra, em queda livre nas pesquisas, insiste em testar a fórmula por mais algum tempo antes de mudar o rumo da campanha.

O presidente do PT, José Eduardo Dutra, informou que a coligação vai recorrer da decisão ao plenário do tribunal.

Serra diz que não mudará campanha

DEU EM O GLOBO

Tucanos e aliados, porém, continuam pressionando por alteração de rumo e avaliam que não há mais como esperar

Sérgio Roxo e Chico de Gois

SÃO PAULO e BRASÍLIA. O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, descartou ontem mudanças no rumo da campanha depois de críticas de aliados e da divulgação de pesquisa Datafolha que mostra vantagem de 17 pontos percentuais para a petista Dilma Rousseff. Pela pesquisa, Dilma, com 47% das intenções de voto, derrotaria Serra, que tem 30%, no primeiro turno.

Não. Nós vamos seguir nosso trabalho, com muita seriedade, com muito empenho, otimismo e propostas para mostrar à população. E vamos chegar lá respondeu Serra, perguntado se haveria alteração.

O tucano, que visitou um espaço cultural em São Paulo, com o candidato a governador, Geraldo Alckmin, não comentou o pedido de aliados para que suba o tom dos ataques ao governo Lula: Não vou comentar isso. É sempre um fala uma coisa, outro fala outra, outro deixa de falar.

Sábado, o presidente do PSDB, Sérgio Guerra, disse que era preciso ter tranquilidade e que a campanha não mudaria.

Mas a pressão continua.

Tem de haver uma correção de rumo. E logo afirmou o líder do DEM na Câmara, Paulo Bornhausen (SC).

Para não criar embaraço sobretudo com o marqueteiro Luiz Gonzalez, Bornhausen disse que não daria palpite sobre o programa de TV.

Para o senador tucano Eduardo Azeredo (MG), não há como esperar mais uma semana para mudar o programa de TV. Ele disse que é preciso ser mais direto, mostrando, por exemplo, que o Bolsa Família nasceu do Bolsa Escola, que só foi possível graças ao Plano Real: A campanha não está boa.

Essa colocação da imagem de Lula foi muito controversa. Tem que mudar logo, não dá para esperar.

Não é fácil, mas (tem de) mostrar que o governo Lula foi bom, mas não foi perfeito.

O senador Heráclito Fortes (DEM-PI), que evita criticar Gonzalez, disse que a campanha tem que ser menos paulista: Lula esvaziou e quebrou os municípios, isso tem que ser abordado completou.

Comediante não perde o humor nem ao protestar

DEU EM O GLOBO

Ato contra censura durante período eleitoral arranca risadas do público em passeata na Avenida Atlântica

Chico Otávio

Era para ser um ato de protesto indignado.

A seriedade, porém, não durou mais do que sete minutos, tempo suficiente para que os comediantes ouvissem quietos atendendo a um veemente xiii, silêncio! a leitura do manifesto contra a proibição imposta ao humor no período eleitoral. Em seguida, um dos líderes do movimento, Fábio Porchat, do grupo Comédia em Pé, pegou o megafone e puxou as primeiras palavras de ordem: Um, dois, três... Quatro, cinco, seis... Sete, oito, nove... Dez, onze, doze...

Comediante jamais perde a piada, mesmo quando se sente acuado. Enquanto caminhavam ontem pela Avenida Atlântica, do Hotel Copacabana Palace ao Leme, no protesto batizado de Humor Sem Censura, e que reuniu cerca de 500 pessoas, Marcelo Madureira, Sabrina Sato, Bruno Mazzeo, Hélio de la Peña, Marcius Melhem e outros manifestantes fizeram um show de improvisação para pedir o fim do que classificam de censura da Justiça Eleitoral ao humor político.

Humorista unido, jamais será comido bradaram os comediantes, seguidos por uma legião de tietes que disparavam fotografias.

A manifestação, durante a qual foi lançado um abaixo-assinado, exigia a revogação de uma norma do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que proíbe, desde 1997, a veiculação, por rádio ou TV, de entrevistas ou montagens que degradem ou ridicularizem candidatos, partidos políticos ou coligações: Se é assim, a Justiça tem de proibir também o maior programa de comédia em exibição no Brasil, que é o horário eleitoral gratuito. É tudo muito engraçado. Se eles têm direito de fazer o seu humor, por que não podemos fazer o nosso também? indagou um inconformado Sérgio Mallandro.

Alguns metros de caminhada à frente, alguém denunciou: Iu, iu, iu... Tiririca nos traiu! A frase, repetida em coro, denunciava que Tiririca, candidato a deputado federal em São Paulo, havia traído a classe ao se debandar para o outro lado. A certa altura, a ausência de repressão foi notada: Cadê a polícia? Em uníssimo, os manifestantes passaram a cobrar: Queremos apanhar. Depois, imitaram o grito das torcidas de futebol, recheado por um sonoro palavrão, para expulsar da passeata cabos eleitorais que insistiam em infiltrar bandeiras de partidos políticos.

Naquele momento, o ato se aproximava da Avenida Princesa Isabel, inspirando Marcelo Madureira, da turma do Casseta, a fazer um convite coletivo: Vamos à Cicciolina? referindose ao inferninho perto dali.

O ato terminou em pizza na Fiorentina, tradicional restaurante do Leme, mas Fábio Porchat está convencido de que a iniciativa vai render frutos. O manifesto, que colherá assinaturas até o fim de setembro, será entregue ao presidente da Fundação Nacional das Artes (Funarte), Sérgio Mamberti, para convencer o governo federal a propor mudanças nas normas e derrubar o veto ao humor nas eleições.

Vamos fazer o mesmo caminho da campanha pela Ficha Limpa. A lei é inconstitucional. Quem está sendo censurado não é o humorista, mas a sociedade lamentou. E, desta vez, era sério.

Para não repetir velhos erros

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Não é a primeira vez que o País vive momento de euforia. Foco agora é a busca da competitividade

Raquel Landim / SÃO PAULO, Fernando Dantas / RIO

Pela primeira vez, desde a redemocratização, "consertar" uma economia doente não é a prioridade de nenhum dos candidatos a presidente. Na verdade, mesmo com as queixas de um ou outro presidenciável sobre câmbio valorizado ou déficit externo, o fato é que o desempenho econômico brasileiro, que foi o grande vilão dos debates eleitorais nas últimas décadas, tornou-se agora o herói. A discussão não é sobre como mudar o time que está ganhando, mas sim como prolongar ao máximo, e dar sustentabilidade, ao ciclo de crescimento com estabilidade, baixa inflação e criação de milhões de postos de trabalho iniciado em 2004. Ou, melhor ainda, como aumentar a competitividade, para acelerar ainda mais a economia.

O foco do debate sai, portanto, dos temas de curto prazo, como inflação e juros, já que nenhum dos principais candidatos considera mexer no tripé macroeconômico: meta de inflação, câmbio flutuante e superávit primário. Agora o holofote está - ou deveria estar - nas questões de longo prazo, como infraestrutura, papel do Estado, qualidade da força de trabalho, poupança pública, financiamento do investimento, pesquisa e inovação.

"A estabilidade alcançada pelo Brasil e consolidada na alternância de poder nos permite olhar para o futuro pela primeira vez em muito tempo", observa o economista Eduardo Giannetti da Fonseca. Mas ele alerta que é preciso saber "quais são as reais questões de longo prazo".

Incêndios. Essa preocupação esteve em segundo plano na série de eleições presidenciais desde 1989, nas quais as receitas para apagar incêndios de curtíssimo prazo quase sempre davam a tônica. Da hiperinflação em 1989 (que resultou no malfadado Plano Collor) ao debate sobre o crescimento "voo de galinha" em 2006, a premência do dia a dia sempre jogou para escanteio o debate econômico mais estrutural e profundo.

Já nestas eleições de 2010, o Brasil tornou-se um dos principais focos globais dos investidores, e a economia produz boas notícias quase diariamente. Assim, os candidatos só fugirão do debate de longo prazo se o eleitorado, entorpecido pelo bem-estar proporcionado pelo crescimento, não cobrar estratégias claras para transformar a arrancada em um longo ciclo de expansão.

Para alguns dos principais economistas do Brasil, ouvidos pelo Estado, é justamente esse risco de "complacência" a maior ameaça ao bom momento econômico do País. O consenso, porém, termina por aí. Enquanto uma ala de especialistas acha que o perigo está numa expansão excessiva do setor público - e veem no segundo mandato de Lula um ensaio dessa tendência -, um outro grupo defende justamente a ampliação e o reforço do papel do Estado.

O coordenador do grupo de indústria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), David Kupfer, por exemplo, considera fundamental a presença de um Estado "capaz de pensar o longo prazo e que tenha visão estratégica". Para o ex-ministro da Fazenda Delfim Netto, "sem um Estado indutor, não há crescimento".

Na opinião de ambos, a ação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) é fundamental para dar escala e capacidade de competição internacional às empresas brasileiras.

Já o ex-presidente do Banco Central Affonso Celso Pastore vê com preocupação a tendência de estatização dos últimos anos do governo Lula. "Como o Brasil saiu rapidamente da crise, parece que tiraram a conclusão de que essas políticas sempre produzem crescimento acelerado", ele diz, referindo-se aos estímulos fiscais (redução de tributos e aumento de despesa pública) e à ampliação do crédito dos bancos estatais na esteira da grande turbulência global.

Edmar Bacha, um dos pais do Plano Real, vai mais longe na crítica à política econômica do segundo mandato de Lula. Para ele, o governo está criando, por meio do BNDES, "um sistema estatal de compadrio", pelo qual "empresas são beneficiadas em troca de apoio financeiro aos políticos".

Agenda micro. Outro tema importante da estratégia de longo prazo de crescimento da economia, que até agora não apareceu no debate eleitoral, é a chamada "agenda microeconômica". É assim que ficou conhecida a série de reformas dos mercados de crédito e do ambiente de negócios realizada no início do governo Lula, quando o ministro da Fazenda era Antônio Palocci. Algumas dessas mudanças levaram à criação do crédito consignado, à expansão do crédito imobiliário e à redução das falências. Medidas que permitiram ao Brasil o boom de consumo dos últimos anos, que resistiu, até mesmo, à crise global (e ajudou o País a superá-la).

Para Marcos Lisboa, vice-presidente do Itaú Unibanco, e principal responsável pela agenda microeconômica da era Palocci, a principal reforma institucional para o Brasil hoje seria definir as atribuições do setor público e dos órgãos de controle, de tal forma que o investimento público não fosse obstruído por uma virtual necessidade de ser aprovado por unanimidade por todas as partes envolvidas direta ou indiretamente.

Poupança. Do ponto de vista macroeconômico, o grande problema atual do Brasil é a baixa capacidade de poupança (atribuída ao Estado "gastador" pelos mais liberais). Uma economia precisa poupar e investir o que economizou para consumir mais no futuro. A taxa de investimento brasileira está em 19% do PIB e um dos maiores desafios é elevá-la para 22% a 25%. Sem poupança interna, esse investimento será financiado por capital estrangeiro, o que equivale a produzir déficits em conta corrente - problema que atormentou o País na década de 90 e está de volta.

Segundo o presidente do Insper, Claudio Haddad, a política fiscal está "erroneamente" fora do debate eleitoral em 2010. "Por medo ou conveniência, ninguém fala. Não querem falar em reduzir aposentadoria e muito menos em cortar o Bolsa-Família. Não se metem nisso."

Mão de obra. Uma última questão de longo prazo é o capital humano, já que a falta de mão de obra qualificada é um dos gargalos do País. Só recentemente o governo conseguiu colocar todas as crianças na escola, mas a qualidade ainda é sofrível. O Brasil ocupa sistematicamente uma das piores colocações no Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa). José Márcio Camargo, professor de Economia da PUC-Rio, afirma que a educação é essencial se o País quiser exportar produtos de maior valor tecnológico. "Não dá para competir sem isso."

1989: Estabilização

O Brasil teve sua primeira eleição pós-ditadura. Sentiam-se os efeitos do endividamento deixado pela ditadura militar. No governo Sarney, o Brasil enfrentou sucessivos planos frustrados de estabilização

1994: Inflação

O Plano Real acabava de ser lançado e prometia tirar o Brasil da hiperinflação. Foi fundamental para a vitória de Fernando Henrique Cardoso (PSDB). O PT, de Lula, dizia que o Plano Real não daria certo

1998: Câmbio

A "âncora cambial" foi o tema mais quente da eleição. FHC foi acusado pela oposição de manter o real artificialmente fixo ao dólar para ganhar a eleição. Começa o debate sobre o impacto do câmbio forte no desempenho da indústria

2002: Crescimento

Com a chegada de Lula ao poder, o real sofreu forte desvalorização e a inflação ameaçou disparar. Pela primeira vez, aparece o debate sobre o crescimento. O último governo FHC enfrentou seguidas crises internacionais

2006: Crescimento sustentável

Com a estabilidade relativamente garantida pelo câmbio flutuante e o sistema de metas de inflação, o PIB teve avanços. Mas ainda persistiam temores do "voo de galinha". Como garantir a sustentabilidade do crescimento?

2010: Competitividade

É a primeira eleição com estabilidade econômica em meio a um período de crescimento. A discussão é de longo prazo. Como aumentar a taxa de investimento e de poupança da economia brasileira? Como melhorar o ambiente de negócios?

Juros e câmbio na mira de Serra

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Para Serra, combinação com a explosão de gastos correntes põe País numa "armadilha"

Patrícia Campos Mello

Com a economia crescendo a taxas chinesas e o "feel good factor" em alta, os presidenciáveis da oposição repetem religiosamente o mantra superávit fiscal, câmbio flexível e metas de inflação. Ninguém se arrisca a propor mudanças drásticas no atual modelo. O candidato tucano, José Serra (PSDB), trata de afastar suspeitas de que poderia assumir uma linha heterodoxa na condução da economia.

Em uma entrevista recente que faz parte do livro Retrato de grupo, 40 anos do Cebrap, de Flávio Moura e Paula Montero, publicado no ano passado, Serra ataca a ideia de que seu desenvolvimentismo abalaria a estabilidade macroeconômica. "O termo (desenvolvimentismo)tem sido espertamente utilizado para insinuar que os que se preocupam com o desenvolvimento o querem a qualquer preço, mesmo à custa de inflação.

Não há necessariamente esse dilema, estabilidade versus desenvolvimento."

Mas Serra não economiza munição para atacar a valorização do câmbio e os juros altos. "Em nenhum dos preceitos do Consenso de Washington figura a ideia de que para desenvolver o país você precisa megavalorizar a moeda. Isso é simplesmente um erro, não é ortodoxo nem heterodoxo", diz Serra. "O Brasil está numa armadilha, que tem três lados: os maiores juros do mundo, já há muitos anos, a taxa de câmbio talvez hoje mais valorizada do planeta; e uma explosão de gastos correntes como nunca houve em valores reais ."

Geraldo Biasoto, diretor executivo da Fundap e próximo a Serra, afirma que a valorização do câmbio e o alto custo da infraestrutura estão levando a um processo drástico de desindustrialização no Brasil. A solução, diz Biasoto, não é fazer uma maxidesvalorização. "Mas precisamos ter uma queda dos juros, que vai calibrar o câmbio", disse Biasoto ao Estado. Na campanha de Serra, Gesner Oliveira, Geraldo Biasoto e José Roberto Afonso conhecem as ideias econômicas do tucano.

Serra aventa a hipótese de ter um modelo de funcionamento do Banco Central mais parecido com o chileno, no qual o Ministério da Fazenda é consultado sobre a atuação do banco. Biasoto é cauteloso ao comentar a autonomia do BC, tema que irrita Serra. Ele fala em maior coordenação entre Fazenda e BC. "Não acho que se deva mexer na estrutura institucional, o problema é que, como não temos o resto da política econômica, tudo tem de ser feito pela taxa de juros - por exemplo, passamos o primeiro semestre inteiro com a Caixa Econômica e o BNDES explodindo de dar crédito no mercado e o BC tendo de elevar juros", afirma. "É uma questão de ter equipes da Fazenda e do BC que sejam coordenadas."

Ao contrário do atual governo, Biasoto acha que o déficit em conta corrente é preocupante, por ser muito alto, com tendência de elevação. Uma maneira de reduzi-lo seria dinamizar o comércio, com mais acordos bilaterais para abrir mercados, flexibilizando o Mercosul.

A campanha de Serra vê espaço para cortes significativos nos gastos públicos mesmo sem reformas mais abrangentes, que exigiriam difíceis negociações com os Estados. "Precisamos promover maior eficiência, um governo Serra conseguiria reduzir muitos gastos supérfluos com cortes de programas desnecessários", diz Biasoto.

Biasoto é contundente nas críticas aos rumos do BNDES no governo Lula. "Os juros subsidiados do BNDES vão gerar uma conta de US$ 8 bilhões a US$ 14 bilhões de subsídio por ano - é uma Bolsa-Família para os ricos", diz Biasoto. "A Petrobrás é uma das maiores empresas do mundo e depende do BNDES, a Vale também, elas teriam crédito onde quisessem, não precisariam do BNDES." Biasoto afirma que o BNDES deveria financiar máquinas e capacidade produtiva e não mudança patrimonial.

Na visão de Biasoto, o atual governo está criando um Estado hipertrofiado, tentando executar tarefas para as quais o setor público não está qualificado. "Deveríamos ter um Estado regulador forte."

BNDES: vilão ou herói?

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Na gestão de Luciano Coutinho, banco tornou-se peça fundamental da política econômica, mas empréstimos a grandes grupos nacionais têm gerado polêmica

Fernando Dantas / RIO

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) passou por uma mudança radical no governo Lula e tornou-se peça central da atual política econômica. Uma das principais decisões do próximo presidente, em termos de formulação de política econômica, é a de dar continuidade ou não à política de agigantamento do BNDES e ao seu papel atual de promover a consolidação e a internacionalização dos grandes grupos empresariais brasileiros.

Os números deixam claro que a grande guinada do BNDES no fim do governo Lula tem um nome: Luciano Coutinho, atual presidente e um dos economistas brasileiros mais associados à defesa de uma vigorosa política industrial, com o Estado orientando e apoiando o setor privado. Antes de Coutinho, Lula teve três presidentes do BNDES - Carlos Lessa, Guido Mantega, o atual ministro da Fazenda, e Demian Fiocca -, que não mudaram fundamentalmente o ritmo das liberações ou a forma de atuar do banco.

Foi quando Coutinho assumiu a presidência do BNDES, em maio de 2007, que o banco começou a trilhar o caminho que levaria não só ao grande salto nos desembolsos, mas também à agressiva e polêmica política em relação aos grandes grupos nacionais. Outro ponto controverso da gestão Coutinho são os empréstimos de R$ 180 bilhões do Tesouro ao BNDES, para aumentar sua capacidade de atuação.

Os desembolsos anuais do BNDES saltaram de R$ 38,2 bilhões em 2002, último ano do segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso, para R$ 137,4 bilhões em 2009. Cresceram 260%, em termos nominais, ou 130% em termos reais, isto é, descontada a inflação do IPCA. Essa arrancada, porém, ocorreu principalmente a partir de 2008, quando alcançaram R$ 92,2 bilhões, já com Coutinho no comando. Até 2007, os desembolsos de R$ 64,9 bilhões eram apenas 20% superiores ao nível de 2002, corrigindo-se pela inflação. E, em 2006, em termos reais, os desembolsos de R$ 52,3 bilhões ainda estavam no mesmo nível de 2002.

Em estudo realizado no fim de 2009, o economista Mansueto Almeida, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), mostrou que quase todas as 30 maiores multinacionais brasileiras devem ao BNDES, e muitas delas têm parcelas de capital detidas pela BNDESPar, braço de participações do banco.


Papel do estado será mantido

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Dilma e Serra, candidatos mais bem colocados, pensam tema de forma similar, apenas método de aplicação tende a ser diferente

Leandro Modé

Seja qual for o próximo presidente, um ponto é certo: o Estado terá papel forte na economia. Isso não significa que um governo Dilma Rousseff (PT) seria rigorosamente igual ao de José Serra (PSDB), para ficar apenas nos dois candidatos mais bem colocados nas pesquisas. No atacado, ou, para quem preferir, ideologicamente, os dois pensam a questão de forma parecida. Mas, no varejo, ou seja, no método, tenderiam a ser diferentes.

"Ambos têm o signo do desenvolvimento", compara o cientista político e professor do Insper Carlos Mello. "Os dois são favoráveis ao Estado indutor do crescimento, não ao Estado promotor do crescimento. Não é uma volta aos anos 70", frisa.

Em um eventual governo Dilma, dizem analistas, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e os fundos de pensão continuariam em alta, as agências reguladoras, em baixa (tendência que se iniciou já no primeiro mandato do presidente Lula), as privatizações permaneceriam adormecidas e as concessões de serviços públicos provavelmente seriam mais duras para as empresas, como já se viu nos últimos anos nos casos das hidrelétricas de Jirau, Santo Antônio e Belo Monte.

Em um governo Serra, o Estado também procuraria induzir o crescimento econômico, por meio de planejamento estratégico. Mas, em compensação, tenderia a retomar as privatizações, investiria fortemente em concessões para o setor privado (com condições mais atrativas para as empresas) e retomaria o papel original das agências reguladoras, criadas durante o governo Fernando Henrique Cardoso.

O pano de fundo para essa avaliação é composto por dois fatores, um interno e outro externo. Internamente, o Brasil encontra-se em um momento econômico no qual o investimento é o grande nó a desatar. Afinal, nos últimos anos, o País estabilizou a inflação, adotou políticas sociais que melhoraram a distribuição de renda, pôs um freio no endividamento, acumulou mais de US$ 250 bilhões de reservas e até passou a ser credor líquido internacional (ou seja, tem mais dinheiro em caixa do que dívidas a pagar).

Agora, a ordem é acelerar o crescimento, o que implica investimentos pesados. A questão é como fazer isso, pois o Estado brasileiro não tem recursos suficientes para bancar o processo na magnitude necessária - estimados em cerca de R$ 160 bilhões por ano entre 2010 e 2015, incluindo energia elétrica, portos, estradas, aeroportos, saneamento básico, etc.

Do lado externo, vive-se uma conjuntura marcada pelo fortalecimento do Estado, em reação à grave crise global detonada com a debacle das hipotecas de alto risco nos Estados Unidos. "Hoje há muita discussão em torno do limite de funcionamento dos mercados", afirma o analista Rafael Cortês, da Tendências Consultoria, lembrando, por exemplo, da recém-aprovada reforma do sistema financeiro dos EUA. "A crise de 2008 jogou pelo ralo a ideia de um Estado minúsculo", emenda Mello.

"Direita". Essa é uma das razões que, segundo os especialistas, justificam a predileção dos eleitores brasileiros por candidatos que descartam uma agenda liberalizante, como a adotada no governo Fernando Henrique - à época, contestada pelo então ministro da Saúde e hoje candidato José Serra. O presidente Lula chegou a abordar o assunto no ano passado, ao comemorar o fato de que não haveria nenhum candidato "de direita" nas eleições presidenciais de 2010. No espectro político, a direita defende a ortodoxia na economia.

O sócio da MCM Consultores Amaury Souza reconhece que, no mundo inteiro, o liberalismo econômico está na berlinda. Mas avalia que, no Brasil, a questão foi distorcida, em grande medida por culpa da linha econômica adotada no segundo mandato de Lula. "O que assistimos nos últimos tempos no Brasil é a repetição do capitalismo de Estado do governo (Ernesto) Geisel, marcado pela aliança entre Estado e empresas privadas nacionais e estrangeiras." Por isso, na contramão da maioria de seus pares de mercado, Souza acredita que Dilma e Serra fariam governos bem diferentes.

Retrato de um país que pode parar

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

O tão falado apagão logístico virou realidade e gargalos na infraestrutura põem em risco a competitividade do País

Renée Pereira

No início deste mês, a fila de navios à espera de autorização para atracar no Porto de Santos, maior da América Latina, bateu novo recorde: o congestionamento chegou a 119 navios parados, enquanto em dias normais esse número não passa de 10. No transporte aéreo, o Aeroporto de Guarulhos, o maior do Brasil, teve de fazer mutirão para liberar cargas que estavam ao relento por falta de áreas para armazenagem. Cenas como essas revelam que o alerta feito por inúmeros especialistas, vistos pelo governo como catastrofistas, não era mero achismo. O apagão logístico virou realidade no Brasil e será um dos maiores desafios para o próximo governo.

No ano passado, por causa da crise financeira mundial, os gargalos foram amenizados. Mas bastou o País reagir e crescer acima da média para os problemas voltarem com força. Na área de transporte, falta tudo. As estradas continuam em péssima qualidade, especialmente as que atendem o agronegócio, concentrado no Centro-Oeste. O mais lógico seria escoar a safra pelos portos da Região Norte. Mas grande parte dos grãos exportados sai pelos portos do Sul e do Sudeste, depois de percorrer milhares de quilômetros de estradas.

O caminho para atingir os terminais do Norte é precário, cheio de obstáculos, como é o caso da BR-163, que liga Cuiabá a Santarém. Mas, hoje, mesmo que houvesse rodovias adequadas para escoar a produção pelo Norte, os portos da região não têm capacidade para atender toda a demanda, afirma o diretor-geral da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais, Sérgio Teixeira Mendes. O resultado é que quase toda a safra vai para Santos e Paranaguá.

Apesar dos investimentos em andamento, os dois portos vivem em constante colapso. Nas últimas semanas, Santos virou um estacionamento de navios que não conseguiam atracar. Mais uma vez a culpa é de São Pedro e do aumento das exportações de açúcar. O porto não tem infraestrutura para embarcar o produto quando chove. Resultado: tudo para.

A degradação da infraestrutura do Brasil não se limita à parte logística. Um dos setores mais atrasados é o de saneamento básico. O País ainda registra números alarmantes de excluídos dos serviços públicos, considerados essenciais para o bem-estar da população. Apesar dos programas de universalização criados pelo governo, milhares de brasileiros ainda não sabem o que é ter luz e água - seja tratada ou não - dentro de casa. Telefone e coleta de esgoto são serviços que nem passam pela cabeça de muitas famílias.

O setor de energia, depois do racionamento de 2001, parece estar entrando nos eixos. Mas a tarifa cobrada do consumidor ainda é uma das maiores do mundo, alerta o diretor da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Carlos Cavalcanti.

1-PORTOS

Responsáveis por 95% do comércio exterior brasileiro, os portos viraram o grande entrave ao crescimento do País. Todo ano a história se repete: basta começar a safra de grãos para os problemas virem à tona, como as gigantescas filas de caminhões nas rodovias e de navios no mar. A situação é decorrente dos longos anos sem investimentos, que condenaram alguns terminais à estagnação e decadência.

Algumas ações tentam recuperar a capacidade dos portos, como o Programa Nacional de Dragagem (PND), mas o resultado ainda é limitado. O objetivo é atacar uma das principais deficiências dos terminais: a baixa profundidade dos canais para receber grandes embarcações. Com as novas gerações de navios, muitos portos já saíram da rota dos armadores.

O resultado foi a maior concentração de escalas no Sul e Sudeste, onde o sistema portuário já está saturado. Em Santos e Paranaguá, os maiores do País, os acessos terrestres são o maior obstáculo. Mas há também carência na infraestrutura de alguns terminais, que não conseguem operar em períodos de chuva, por exemplo.

Apesar de algumas iniciativas, a velocidade de investimentos não tem sido compatível com a demanda. A solução do problema exige atuação mais firme.

2- FERROVIAS

O renascimento da ferrovia no Brasil está diretamente ligado ao avanço do agronegócio e do setor mineral. Seu alcance, no entanto, ainda é muito limitado. A malha nacional tem apenas 28 mil quilômetros (km) de extensão e ainda não consegue atender áreas que se transformaram em grande produtoras de grãos, como Mato Grosso. Mas a ferrovia brasileira não é apenas pequena. Ela também é muito mal aproveitada. Segundo a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), apenas 10% das ferrovias (3 mil km) estão plenamente ocupadas. Outros 7 mil km estão sendo usados abaixo da capacidade e 18 mil km são subutilizados.

Além de pequena, ela atinge poucos setores da economia. Até o ano passado, apenas dez produtos, quase todos granéis para exportação, somavam 91% de tudo que era transportado. Só o carregamento de minério de ferro representou 74,37% da movimentação das ferrovias.

Para completar a lista de problemas, alguns gargalos reduzem a eficiência do transporte, pois diminuem a velocidade do trem. Um deles é a invasão da faixa de domínio, como a construção de casas à beira dos trilhos. No total, são 372 pontos, sendo 183 invasões de moradias. Outro problema são as passagens de nível (cruzamento de carros, por exemplo), que somam 12 mil em todo o País.

3- RODOVIAS

A matriz brasileira de transporte é quase toda baseada em rodovias. Hoje 60% de toda carga movimentada no País é transportada por caminhões. Teoricamente, isso implicaria ter uma malha rodoviária boa para atender à demanda, cada vez mais crescente. Mas essa não é uma realidade no Brasil, que tem apenas 11% da malha nacional pavimentada.

Hoje há estradas de terra batida que fazem parte de importantes corredores de exportação. É o caso, por exemplo, da BR-163, entre Cuiabá e Santarém. Embora pareça mais uma trilha, a rodovia é caminho para o transporte de soja exportada pelos portos do Norte. Parte da estrada está em obras. A previsão para o término é 2012.

Até o ano passado, 69% das estradas pavimentadas no Brasil eram classificadas como ruins, péssimas ou regulares, segundo a Pesquisa Rodoviária 2009, da Confederação Nacional dos Transportes (CNT). Apenas 13,5% das estradas foram considerados ótimos e 17,5%, bons.

De acordo com o estudo, a má qualidade das estradas provoca aumento médio de 28% no custo do transporte rodoviário de carga. Só em relação ao consumo de combustível, o aumento do custo de transporte pode chegar a 5%, comparado aos veículos que trafegam em rodovias com excelente pavimentação, como as de São Paulo.

4 – AEROPORTOS

O setor aéreo foi o último a integrar a lista de gargalos da infraestrutura nacional. No caso do transporte de passageiros, o aumento da demanda evidenciou a falta de planejamento do setor, que a exemplo das outras áreas da infraestrutura também padeceu durante décadas sem investimentos adequados.

Nos últimos anos, viajar de avião virou um teste de paciência para os passageiros, que nunca sabem se chegarão ao seu destino na data prevista. Se nada for feito com urgência, a tendência é piorar ainda mais. De acordo com estudos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o transporte aéreo de passageiros no Brasil deve triplicar nos próximos 20 anos.

No setor de carga, a situação não é muito diferente. Com o aumento no volume de importações (superior a 40%), os terminais entraram em colapso. Os problemas são iguais aos dos portos: faltam áreas de armazenagem, instalações (câmaras refrigeradas) para produtos especiais e mão de obra suficiente para liberar as mercadorias dentro de padrões internacionais.

Sem áreas suficientes, as cargas são armazenadas ao relento, no pátio, ao lado dos aviões. Ao ficarem expostas ao sol ou à chuva, muitas mercadorias são danificadas, o que complica ainda mais o processo de retirada do produto da área alfandegária.

Em alguns casos, os terminais demoram mais para liberar a mercadoria do que o tempo que ela gastou para sair do país de origem e chegar ao Brasil. O problema também tem afetado o embarque de produtos exportados.

5- ENERGIA

Depois de passar pelo racionamento de 2001, o setor de energia elétrica conseguiu criar uma cultura de planejamento. Pelo menos na área de geração de energia elétrica. Todos os anos, a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), estatal responsável pelos estudos de novos empreendimentos, põe à disposição projetos para serem leiloados e construídos. O lado negativo é que quando não há projetos hidrelétricos para serem concedidos, a estatal recorre às térmicas movidas a óleo diesel e óleo combustível, mais caras e poluentes. De qualquer forma, o governo tem conseguido afastar o risco de racionamento.

Mas, se na geração os riscos estão mais controlados, a distribuição tem revelado sinais de saturação. No fim do ano passado e início deste ano, os brasileiros enfrentaram uma série de blecautes localizados, além do apagão de novembro, que atingiu 18 Estados. Os desligamentos provocaram a piora na qualidade da energia entregue aos brasileiros.Em 2009, pela primeira vez desde a privatização, os indicadores superaram as metas estabelecidas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), de 17,9 horas. Na avaliação de especialistas, uma das explicações é a falta de manutenção da rede. Outro problema que atormenta os brasileiros é o preço da conta de luz, uma das mais altas do mundo por causa da elevada carga tributária.

6-SANEAMENTO

Durante muitos anos, o atraso do Brasil no setor de saneamento básico foi atribuído à falta de um marco regulatório adequado para atrair a iniciativa privada. As novas regras vieram em 2006, depois de 20 anos de atraso, mas até hoje os investimentos não deslancharam. Nos últimos anos, o governo federal reforçou o orçamento para a área por meio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

O problema, que antes era dinheiro, passou a ser a falta de projetos. Para conseguir o capital, as prefeituras precisavam apresentar o projeto das obras, mas boa parte não conseguiu cumprir o requisito. Resultado: uma parcela significativa da população continua sem os serviços básicos de saneamento.

Um exemplo disso é a capital de Rondônia, Porto Velho. Quase toda a cidade não tem esgoto tratado nem água potável. As obras apenas começaram a sair do papel por causa das hidrelétricas do Rio Madeira, Santo Antônio e Jirau, que tornaram a região mais visível no cenário nacional.

De acordo com os últimos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), referentes a 2008, apenas 52,5% da população brasileira é atendida por rede de esgoto. No caso do abastecimento de água, o número é melhor: 82% da população tem água em suas moradias.

Aumento do mínimo puxa gasto público

DEU NO VALOR ECONÔMICO

O aumento real do salário mínimo entre 2003 e 2009 explica a maior parte da elevação do gasto público durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Em proporção do Produto Interno Bruto (PIB), as despesas primárias do governo federal cresceram 2,5 pontos percentuais ao longo dos últimos sete anos. Segundo levantamento dos economistas Samuel Pessoa, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), e Mansueto Almeida, do Ipea, 80% desse total decorreu da elevação do piso salarial.

Os gastos com saúde e educação também aumentaram no governo Lula, em proporção do PIB, mas com menor intensidade, enquanto os gastos com pessoal mantiveram-se estáveis. Somente as despesas do Regime Geral de Previdência Social, mais conhecido como INSS, foram responsáveis por 47% do aumento das despesas do governo federal.

Reajustes do mínimo elevam gastos da União

Ribamar Oliveira, de Brasília

A política de valorização do salário mínimo teve forte impacto sobre o gasto público durante o governo Lula. De 2003 a 2009, as despesas primárias do governo federal (não consideram o pagamento de juros ou amortizações de dívidas) subiram 2,5 pontos percentuais do Produto Interno Bruto (PIB) e 80% desse total decorreu da elevação do piso salarial, segundo levantamento feito pelos economistas Samuel Pessoa, da Fundação Getulio Vargas (FGV), e Mansueto Almeida, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Quando se aumenta o valor do mínimo, os gastos com benefícios previdenciários e com vários programas sociais - que usam o piso como referência -, como o abono salarial e o seguro-desemprego, sobem na mesma proporção. Somente as despesas do regime geral de Previdência Social, mais conhecido como INSS, foram responsáveis por 47% da elevação das despesas do governo federal, como proporção do PIB, no período considerado.

Outro dado expressivo do levantamento feito pelos dois economistas é que 90% do aumento das despesas do governo federal de 2003 a 2009 decorreu dos benefícios previdenciários e dos programas sociais, não apenas os vinculados ao salário mínimo, mas também o Bolsa Família. Os gastos com saúde e educação aumentaram no governo Lula, em proporção do PIB, mas em menor intensidade. As despesas de custeio, no seu conceito restrito, ou seja, apenas os gastos com a máquina pública (luz, água, telefone, viagens, diárias etc.), excluídas as despesas com pessoal e o custeio com educação e saúde, caíram, como mostra a tabela abaixo.

Os gastos com pessoal e encargos sociais, por sua vez, mantiveram-se estáveis, em proporção do PIB. "O perfil das despesas públicas durante o governo Lula mostra que não houve gastança, pois não se pode dizer que transferência de renda para as famílias seja gastança", disse Pessoa.

Na avaliação de Almeida, o aumento das transferências no ritmo verificado durante o governo Lula teve um lado positivo e outro negativo. "A sociedade quis essa despesa, pois considerou que era importante uma intervenção do governo no sentido de melhorar a distribuição de renda do país e de prover serviços públicos essenciais que as pessoas mais pobres utilizam", explicou. O lado ruim, observou o economista, é que o financiamento desse gasto foi feito por uma estrutura tributária altamente regressiva, o que reduziu os efeitos sobre a distribuição de renda.

Segundo Almeida, os países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) gastam mais ou menos a mesma coisa que o Brasil em programas sociais, mas os efeitos sobre a distribuição de renda são maiores, porque o sistema tributário nesses países é menos regressivo. Os mais pobres são os que mais pagam impostos no Brasil, proporcionalmente, pois o peso dos tributos que incidem sobre o consumo é muito grande.

Nos últimos dez anos (1999 a 2009), a despesa do governo federal cresceu 4,3 pontos percentuais do PIB, o que dá uma média de 0,4 ponto percentual ao ano. Essa elevação das despesas resultou em aumento na mesma proporção da carga tributária. "A sociedade aceitou um aumento anual médio da despesa em 0,4 ponto percentual, pois tinha a expectativa da melhoria na distribuição de renda e dos serviços públicos oferecidos à população", analisou Pessoa. Ele lembrou, no entanto, que a manutenção desse contrato social requer, daqui para frente, uma carga tributária crescente.

Essa elevação da carga poderá ser feita por um aumento puro e simples dos tributos em vigor, pela criação de outro ainda inexistente ou decorrer de um aumento da formalização da economia e da eficiência da máquina arrecadadora, como tem ocorrido nos últimos anos. Há no Congresso um movimento, liderado pelos parlamentares da frente da saúde, no sentido de criação da Contribuição Social da Saúde (CSS), nos mesmos moldes da extinta Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), mas com alíquota mais reduzida, de 0,1%.

As principais lideranças do PMDB já manifestaram a concordância com a criação da CSS, que conta também com apoio do PT e dos outros partidos de esquerda. Mas é improvável que, após aprovada a CSS, o novo governo consiga manter os gastos com a saúde no patamar atual, desviando os recursos já destinados à área para outras finalidades, como ocorreu no passado. Por isso, a questão do financiamento da expansão do gasto público permanecerá, mesmo com a instituição da CSS.

Para Almeida, o futuro governo terá que ampliar os investimentos públicos, porque serão realizados no Brasil eventos de grande repercussão mundial, como a Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016. Mas ele disse que não será possível ampliar o espaço para o investimento com o corte de gastos de custeio da máquina pública. "A conta do custeio é muito pequena para fazer um choque fiscal e aumentar o investimento público", afirmou. Para aumentar os investimentos, o economista acha que o governo terá que decidir entre a elevação da carga tributária ou a redução do ritmo de alta do salário mínimo.

Os economistas fizeram o levantamento sobre a evolução dos gastos públicos no Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal (Siafi). Esses dados se referem às despesas pagas pelo Tesouro no ano. A elevação ocorrida nos gastos com saúde e educação, em proporção do PIB, resultou principalmente das transferências feitas pelo governo federal para Estados e municípios, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) e do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb).

Rombo na Previdência federal se agrava

DEU EM O GLOBO

O rombo previsto na Previdência dos servidores federais, com cerca de um milhão de aposentados e pensionistas, deverá chegar a R$ 50 bilhões em 2011. É um déficit maior do que os R$ 43 bilhões estimados para o INSS, que beneficia 27 milhões de pessoas que trabalharam na iniciativa privada. Reduzir essa conta será um desafio do sucessor ou sucessora do presidente Lula. A criação do Fundo Complementar do servidor, que amenizaria o problema, parou no Congresso.

Déficit como herança

Em 2011, rombo na Previdência de servidor deve chegar a R$ 50 bi, superando o do INSS

Cristiane Jungblut


BRASÍLIA - Tema dos mais polêmicos e sobre o qual nenhum dos principais presidenciáveis arrisca propor mudanças de olho no voto dos trabalhadores da iniciativa privada e do serviço público , a gestão da Previdência deverá ser um problema maior ainda para o sucessor do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A previsão do próprio governo indica que, em 2011, o déficit do Regime Próprio da Previdência (dos funcionários públicos) voltará a ser superior ao do INSS (que paga os benefícios previdenciários dos trabalhadores da iniciativa privada). A questão é que, do primeiro lado, há menos de 1 milhão de servidores aposentados e pensionistas, e, do outro, 27 milhões de beneficiários.

Para o ano que vem, levando-se em conta a previsão de um Produto Interno Bruto (PIB) de R$ 3,8 trilhões, o déficit no setor público ficaria em torno de R$ 50 bilhões e o do INSS, entre R$ 42 bilhões e R$ 43 bilhões.

Nos últimos anos do governo Lula, que vem executando políticas de valorização do serviço público com reajustes salariais que se estendem até 2012 e chegam aos aposentados, o déficit do regime próprio da Previdência dos funcionários tem subido.

Chegou a quase R$ 47 bilhões em 2009, incluindo servidores dos três Poderes, ou 1,49% do PIB. Em 2009, o rombo foi superior ao do INSS, que totalizou R$ 42,9 bilhões (em valores correntes), ou 1,41% do PIB.

Para 2010, os gastos com os servidores civis e militares inativos (aposentados) continuarão altos, com previsões de fechar o ano entre R$ 46 bilhões e R$ 48 bilhões, cerca de 1,3% do PIB. A área econômica prevê para este ano uma convergência entre os índices dos dois regimes, ou seja, cada um chegará a cerca de 1,3% do PIB. Para 2011, porém, o déficit do setor público voltaria, segundo previsões do próprio governo, a ser maior que o do INSS: 1,3% do PIB para o primeiro contra 1,1% para o segundo.

Pressão contra Fundo Complementar

Para tentar conter parte desse rombo, o governo conseguiu aprovar, em 2003, a contribuição previdenciária dos servidores civis inativos: eles passaram a descontar de seus benefícios 11% sobre o valor que ultrapassa a aposentadoria máxima paga pelo INSS, hoje em R$ 3,4 mil. A contribuição criticada até hoje pelos servidores, que tentam derrubá-la no Congresso rende cerca de R$ 2 bilhões ao ano aos cofres do Tesouro.

Em 2007, junto com o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o governo, em outra tentativa de conter o déficit, enviou ao Congresso um projeto criando o Fundo de Previdência Complementar para o servidor público. A ideia era adotar um fundo parecido com os da iniciativa privada.

Mas, por reação de sindicalistas e parlamentares ligados ao próprio governo, o projeto está parado. No governo também havia resistência, pois, num primeiro momento, o Tesouro teria que fazer um aporte grande.

Para o ex-ministro da Previdência José Cechin, o déficit do setor público é constantemente maior que o do INSS. Raramente fica menor. A Emenda Constitucional 41, de janeiro de 2004, acabou com a aposentadoria integral e com a paridade salarial no serviço público. Mas apenas para os servidores que ingressassem daquele momento em diante. A partir dali, o servidor passou a se aposentar com base numa média salarial o que demora anos para surtir efeito nas contas. Hoje, há um emaranhado de leis e emendas constitucionais tratando da questão do servidor.

O déficit do setor público como um todo sempre foi muito alto.

Foi, praticamente todas as vezes, maior que o do INSS. A questão é que, no INSS, a receita cresce quando a economia cresce. Já no regime público, os reajustes salariais que o governo deu desde 2009 não foram pequenos. E, quando dá para o ativo, vai automaticamente para o inativo, ou para aqueles que trabalhavam antes de 2004 disse Cechin.

Para ele, o Fundo Complementar é importante, mas só resolveria o problema a longo prazo:

É muito importante que seja aprovado, mas é para daqui a 25, 30 anos disse Cechin.

O economista Raul Velloso, especialista em contas públicas, acredita que a adoção do Fundo é fundamental, ainda que demore a surtir efeito: Por que não aprovaram o Fundo? Não fizeram porque não queriam brigar com os sindicalistas.

Segundo dados do Ministério do Planejamento, os gastos com aposentadorias e pensões do serviço público somaram R$ 65,4 bilhões em 2009, com um déficit de R$ 46,9 bilhões. Isso quer dizer que as receitas foram insuficientes, com o governo arrecadando apenas R$ 18,5 bilhões. Hoje, a União tem 939,9 mil inativos: 537 mil aposentados e 402,9 mil pensionistas.

Em 2009, o Regime Geral de Previdência Social, o INSS, registrou déficit de R$ 42,9 bilhões. Ao todo, cerca de 27 milhões recebem aposentadorias pelo INSS, entre o piso e valores acima do salário mínimo.

Também ano passado, os gastos com ativos e inativos da União (Executivo, Legislativo e Judiciário) totalizaram R$ 167 bilhões, já incluída a Contribuição Patronal para Seguridade Social do Servidor (CPSS).

Para 2010, o orçamento previu uma folha global de R$ 184,3 bilhões, incluindo a CPSS, ou R$ 170 bilhões, já descontada essa contribuição, que é feita pela União. Na Lei Orçamentária de 2010, segundo o Planejamento, o gasto com inativos está em R$ 71 bilhões, com um déficit estimado de R$ 48,6 bilhões, ou 1,38% do PIB.

Na semana passada, a Fazenda divulgou boletim confirmando que o déficit da Previdência pública ficaria em torno de 1,3%, o que daria cerca de R$ 46 bilhões. Esse é o valor do déficit previsto para o INSS. Por isso, o texto diz que os dois índices teriam comportamento convergente.

Em 2008, o déficit do setor público já ficou maior que o do INSS.

Para financiar o regime próprio da Previdência dos servidores, a União desconta a CPSS, com o dobro do índice descontado pelo servidor, que é de 11% sobre o que ultrapassar o teto do INSS.
O Planejamento prevê receita de R$ 22,9 bilhões em 2010 com a contribuição.

De saldo alto Dilma estuda aperto econômico

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Candidata discute com Lula e com auxiliares medidas na área fiscal para adotar no início de eventual gestão

Dilma Rousseff (PT) já discute com auxiliares próximos e com o presidente Lula medidas econômicas duras, sobretudo na área fiscal, para adotar no início de um eventual governo.
Uma medida seria reduzir a política de reajuste salarial para o funcionalismo.

Também se considera diminuir um pouco a meta de inflação, que hoje é de 4,5%, para a casa dos 4%.

A avaliação que o ajuste não precisará ter a intensidade do adotado por Lula em 2003, porque a situação econômica é bem melhor.

Mas é necessário dar ao mercado sinais de que a eventual gestão Dilma reduzirá o ritmo de gastos dos últimos dois anos.


Dilma quer ajuste fiscal no início de eventual governo

Ideia é repetir a estratégia do presidente Lula quando ele assumiu em 2003

Avaliação da petista é que as novas medidas poderão ter intensidade menor por causa da situação econômica

Kennedy Alencar e Valdo Cruz

DE BRASÍLIA - A candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, já discute com auxiliares e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva medidas econômicas duras, sobretudo na área fiscal, para adotar no início de um eventual governo.

Segundo a Folha apurou, a intenção é repetir a estratégia do começo do governo Lula, em 2003, quando o novo presidente fez ajuste fiscal e monetário mais duro que o esperado pelo mercado.

A avaliação de Dilma e auxiliares é que esse ajuste não precisará ter a intensidade do adotado por Lula, porque ela herdará situação econômica melhor. No entanto, serão necessárias medidas para dar sinais mais concretos ao mercado de que a eventual gestão Dilma reduzirá o ritmo de gastos dos últimos dois anos do governo Lula.

As medidas em análise se concentram na área fiscal, mas há também estudo sobre a área monetária. A Folha apurou que uma medida será reduzir drasticamente a política de reajuste salarial para o funcionalismo público.

Isso não significa que não haja reajustes, mas que, sobretudo no primeiro ano do eventual governo, eles sejam mais parcimoniosos.

Neste ano, Lula cedeu a um reajuste para o conjunto das aposentadorias maior do que o previsto inicialmente. Dilma deverá ter posição mais austera nesse assunto.

META

Será feita uma execução do Orçamento da União mais dura a fim de cumprir a meta atual de superavit primário, de 3,3% do PIB ao ano.

Com a hipótese concreta de vitória no primeiro turno, apontada pela última pesquisa Datafolha, Dilma deixará claro que manterá o tripé da atual política econômica: câmbio flutuante, meta de inflação e superavit primário. Mas vai enfatizar cada vez mais em declarações públicas que não haverá descontrole das contas públicas.

A intenção é frisar principalmente o aspecto fiscal, no qual o governo petista tem sido criticado recentemente.

Dilma tem discutido o tema com Lula e principalmente com o seu coordenador de campanha e ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci Filho e com o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa.

"TRAVESSIA DURA"

Quando Lula foi eleito pela primeira vez, em 2002, Palocci defendeu uma "travessia dura". Hoje, Lula e Palocci avaliam que parte dos êxitos econômicos dos dois governos petistas se deve a esse aperto de cintos em 2003 e 2004. Palocci defende a mesma estratégia para Dilma. Informado das discussões, Lula concorda com a estratégia, segundo a Folha apurou.

Além das medidas específicas de ajuste fiscal, há um estudo de mudança na política de metas de inflação. Seria uma alteração para dar ao país uma meta mais baixa.

Ou seja, uma redução do centro da meta de inflação para que o país passe, na segunda metade de seu eventual mandato, a conviver com taxas menores de reajuste de preços. Hoje, o centro da meta de inflação é de 4,5%, com variação de dois pontos percentuais para cima e para baixo.

A ideia é estipular uma meta para 2012 na casa dos 4%, para sinalizar que o próximo governo batalhará por uma inflação menor, hoje considerada alta para padrões mundiais. Em 2009, ela foi de 4,31%, pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), o indicador oficial da meta. Neste ano, deverá ficar em torno de 5%.

A adoção de medidas econômicas duras não significará cortar recursos dos principais programas sociais e das obras prioritárias do PAC. Além disso, auxiliares dizem que ela investirá paulatinamente em saúde, educação e segurança pública.

PT distribui cartilha com ataques a FHC

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Texto cita tucano 52 vezes e incentiva a militância petista a comparar governos para atingir candidatura Serra

Material começou a circular sexta-feira na internet e usa acusação que fez Serra chamar Dilma de "mentirosa"

Bernardo Mello Franco

DE SÃO PAULO - O PT editou uma cartilha com elogios ao governo Lula e ataques à administração de Fernando Henrique Cardoso, aliado de José Serra (PSDB) na corrida presidencial.

O objetivo é incentivar a militância petista a comparar as gestões para atingir a candidatura tucana e pedir votos em Dilma Rousseff (PT).

A estratégia repete a campanha de 2006, quando Lula usou um livreto semelhante no confronto com Geraldo Alckmin. A nova cartilha traz foto de Dilma e Lula na capa e começou a ser distribuída na sexta-feira, pela internet.

Embora o título seja "O Brasil no rumo certo: realizações do governo Lula", o foco é a comparação com FHC, ressaltando números negativos para os tucanos. O ex-presidente é citado 52 vezes em 40 páginas -uma média de 1,3 citação por página.

O material omite passagens polêmicas da gestão petista, como o mensalão, e afirma que FHC teria editado lei para proibir a criação de escolas técnicas federais, o que o PSDB nega.

A acusação levou Serra a chamar Dilma de mentirosa no debate Folha A acusação levou Serra a chamar Dilma de mentirosa no debate Folha / UOL, semana passada.

Na introdução, o presidente do PT, José Eduardo Dutra, e o líder na Câmara, Fernando Ferro (PE), dizem que o ex-presidente aumentou o desemprego e teria levado o país "à UTI" se estivesse no poder durante a crise mundial de 2008.

O material segue com comparações entre os governos em diversas áreas, como a política externa. "Graças a essa política externa consistente e autônoma, radicalmente distinta da política externa periférica do governo FHC, o Brasil é hoje a nação do momento", diz o texto.

Em outro trecho, o alvo é a política cultural dos tucanos: "No governo FHC, a cultura foi relegada a segundo plano, com poucos recursos financeiros e ações, o que deixou o setor sob o jugo da economia de mercado".

DESMONTE

A cartilha afirma ainda que o governo FHC "promoveu o desmonte do serviço público" e "reduziu a função do Estado à mera regulação do mercado", além de criticar os acordos dos tucanos com o FMI (Fundo Monetário Internacional).

O texto exibe um tom triunfalista ao contrapor os dois governos. "Ao assumir em 2003, Lula resolveu pôr um fim à precariedade generalizada das rodovias federais, totalmente abandonadas no governo FHC", diz uma passagem.

Segundo a última pesquisa rodoviária da CNT (Confederação Nacional do Transporte), o quadro não é bem assim: 66,9% da extensão das rodovias federais foi avaliada como "regular", "ruim" ou "péssima" em 2009, sétimo ano da gestão petista.
A foto usada na capa é a mesma da campanha de Dilma. No entanto, o material não segue os padrões fixados pela lei eleitoral, como a divulgação de número de urna, nome da coligação e CNPJ da gráfica responsável.

O PT alega que a cartilha foi produzida para consumo interno e será distribuída inicialmente apenas na internet. Segundo o secretário de Comunicação, André Vargas, candidatos da sigla podem imprimi-la livremente.

Além de defender a tese de que o governo petista foi melhor, o partido pretende constranger a campanha de Serra, que tem escondido FHC em discursos e na propaganda de rádio e TV. Até aqui, o ex-presidente só apareceu no programa de Aloysio Nunes Ferreira, que disputa vaga no Senado pelo PSDB de São Paulo.

Para Vargas, a tática de ressuscitar o governo passado pode minar o discurso tucano contra Dilma. "Serra diz que tem mais experiência que a nossa candidata. Então vamos mostrar de onde ele vem", provocou.

"Estamos defendendo a continuidade. Isso exige a comparação com o governo anterior, que foi o de FHC."

A cartilha do PT afirma que todos os dados usados nas comparações foram extraídos de "fontes oficiais" e podem ser reproduzidos sem autorização prévia.

Quadrilha – Carlos Drummond de Andrade

João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para o Estados Unidos, Teresa para o
convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto
Fernandes
que não tinha entrado na história.