Mais uma vez o governo Lula usa de seus métodos esdrúxulos para atribuir às vítimas a culpa de seus mal feitos.
Não bastasse a ação nebulosa de militantes do PT, que atuando na Receita Federal foram responsáveis pela quebra do sigilo fiscal de pessoas ligadas ao candidato da oposição, José Serra, e de milhares de outros cidadãos e cidadãs, temos, mais uma vez, denúncias de que a Casa Civil continua, em sua gestão, abrigo de negócios escusos, envolvendo agora diretamente a sua ministra chefe, senhorita Erenice Guerra, até recentemente reconhecida como "braço direito" da candidata do governo, Dilma Rousseff. Diante de fatos de tamanha gravidade, a resposta do governo, no entanto, é sempre a mesma: trata-se de um "factoide" da oposição, "desesperada" ante a possibilidade da derrota eleitoral. Ou, nos termos usados pelo presidente, de uma "baixaria da oposição".
Em nenhum momento, ao que se percebe, agiu o presidente da República como se espera de alguém que ocupa a representação máxima da sociedade, com a necessária isenção e disposição de apurar tais ilícitos para que continue representando os valores republicanos de impessoalidade que o cargo lhe exige.
Ao contrário, comporta-se como "chefe de uma facção", como muito bem definiu o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, extrapolando de forma sistemática sua função, vociferando contra as vítimas da ação de seus comandados.
A formidável operação de despiste montada pelo Planalto para desqualificar as denúncias do mais novo escândalo, no próprio núcleo da estrutura governamental, torna-o não apenas cúmplice desses crimes, que atingem o próprio Estado Democrático de Direito, mas também seu oculto incentivador.
O fato concreto é que essas sistemáticas e reiteradas violações da legalidade democrática é uma prática permanente do PT, que ao longo dos anos tem aperfeiçoado seus mecanismos de burla à vigência democrática, qualquer que seja o espaço que eventualmente ocupe, desde centros acadêmicos e sindicatos até prefeituras e governos estaduais, culminando agora com a presidência da República.
Assim, entende-se a vocação totalitária de Lula e de seu partido. Haja visto o desejo confesso do presidente de querer "extirpar o DEM" do cenário político nacional, e a crítica aberta do representante maior da "alma do PT", José Dirceu, ao reclamar do "excesso de liberdade" que goza a imprensa no país como claros sinais do incômodo que lhes causam o Estado de Direito, que vige desde 1988, graças à Constituição que, não por acaso, como sabem todos, não foi chancelada pelo PT.
O momento por que passa o processo democrático, pois, é de ameaça às conquistas da cidadania tão duramente conquistadas na luta contra a ditadura, por conta de um governo que busca colocar-se acima das leis e assim alavancar seu projeto de poder, à revelia de qualquer procedimento legal e usando o próprio Estado para atingir objetivos particulares. Como, aliás, já deixou muito claro José Dirceu recentemente.
Roberto Freire é presidente do PPS