segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Reflexão do dia – em defesa da democracia

É um insulto à República que o Poder Legislativo seja tratado como mera extensão do Executivo, explicitando o intento de encabrestar o Senado. É deplorável que o mesmo presidente lamente publicamente o fato de ter de se submeter às decisões do Poder Judiciário.

Cumpre-nos, pois, combater essa visão regressiva do processo político, que supõe que o poder conquistado nas urnas ou a popularidade de um líder lhe conferem licença para ignorar a Constituição e as leis. Propomos uma firme mobilização em favor de sua preservação, repudiando a ação daqueles que hoje usam de subterfúgios para solapá-las. É preciso brecar essa marcha para o autoritarismo.

Brasileiros erguem sua voz em defesa da Constituição, das instituições e da legalidade.

Não precisamos de soberanos com pretensões paternas, mas de democratas convictos.
"


(do Manifesto em defesa da democracia www.defesadademocracia.com.br)

A caveira de burro e a democracia:: Luiz Werneck Vianna

DEU NO VALOR ECONÔMICO

Consta, nos velhos anais do futebol, que um grande time do Rio de Janeiro, apesar de contar com um bom elenco de jogadores, nitidamente superior ao dos seus adversários, vinha acumulando, anos a fio, fracassos nas competições esportivas. Desenganando-se de explicações racionais para os seus insucessos, registram aqueles anais, teria, então, recorrido a pesquisar o sobrenatural, uma vez que só nele poderia estar escondida a causa inexplicável dos seus males.

A hipótese, que ganhou a imaginação de alguns dos seus aficionados, foi a de que torcedores malévolos de um time rival teriam enterrado uma caveira de burro sob uma das balizas do campo da sua agremiação. Voltar aos tempos de suas antigas glórias demandava localizar a mandinga nefasta, afinal encontrada depois de muita escavação. Conta-se que, pouco tempo depois, o clube malsinado conquistou o campeonato.

Lenda ou não, já dá para desconfiar, no caso da história brasileira, de que esteja escondida, em algum ponto entre o Oiapoque e o Chuí, a caveira de burro que impede a democracia brasileira de se afirmar como um experimento novo, desembaraçando-se do seu passado - não necessariamente rompendo com ele - a fim de arremeter inovadoramente rumo ao futuro. Com efeito, na passagem da monarquia à república, lá estava ela conspirando para que o largo movimento da opinião pública em favor do abolicionismo, com a agenda de reformas sociais e políticas de publicistas como Joaquim Nabuco e André Rebouças, se perdesse no novo regime, como certificaria a guerra contra Canudos, um vilarejo de deserdados da terra no sertão brasileiro.

Nos anos 1920, talvez os anos dourados no processo de emergência da sociedade civil brasileira, mais uma vez lá está ela, com sua presença aziaga, a fechar os caminhos. Recuperemos apenas um ano, o de 1922: é nele que se funda o Partido Comunista, de extração genuinamente operária, criado por quadros atuantes nas greves de 1917/19 em torno de reivindicações por direitos sociais e políticos; presença moderna, pois, dos interesses dos setores subalternos no sentido de ampliar o demos, a fim de se garantir nele com voz e voto.

Nesse mesmo ano, sobrevém a rebelião da juventude militar, com o inaudito do levante do Forte de Copacabana contra as forças do Estado, em nome de exigências democráticas pela verdade do voto contra a corrupção e a fraude no processo eleitoral; na esteira desse movimento, que encontra respaldo e ressonância na opinião pública, seguem-se, em 1924, a rebelião em armas do tenentismo em São Paulo, e a chamada Coluna Prestes, que, sempre em nome de ideais da sociedade civil da época e com amplo apoio dela, lutam por abrir passagem ao moderno no país.

Entre os intelectuais, o movimento do modernismo traz à cena a presença da nossa paisagem social e física, em uma ida ao povo que vai amadurecer na obra, entre tantos, de um Mario de Andrade, Tarsila, Anita Malfatti, Di Cavalcante, talvez sobretudo em Villalobos. Embora tênue, há comunicação entre esses mundos, que o decurso do tempo prometia incrementar. Astrojildo Pereira, o líder dos comunistas, frequenta os tenentes, frequentados também por intelectuais modernistas, alguns deles, poucos anos mais tarde, como Oswald de Andrade e Pagu, terão fortes ligações com os comunistas.

Além disso, em particular na música popular, surgem manifestações de intelectuais formados no convívio com o mundo popular, o exemplo mais poderoso é o de Noel Rosa, que não à toa celebrou como uma de suas musas uma operária de uma fábrica de tecidos, que, aliás, era indiferente à buzina do seu carro. De empresários, como na ação social do capitão de indústria têxtil de São Paulo, Jorge Street, provinham igualmente sinais de mudanças.

A chamada revolução de 1930 reverteu esse processo tendencialmente virtuoso para os fins de se instituir uma república democrática. Sob a inspiração do racionalismo positivista, que medrara no Rio Grande do Sul, a agenda do moderno é capturada pelo Estado, que traz para si a administração da questão social - o Ministério do Trabalho, recém-criado, é denominado o Ministério da Revolução -, dando partida a uma legislação trabalhista que, a par de institucionalizar direitos, vai impor uma rígida tutela do Estado sobre a vida sindical.

O Estado se põe à frente do projeto de modernização do país, que ingressa no modelo corporativo, então em moda em países de capitalismo retardatário, como no caso da Itália fascista, cuja Carta del Lavoro servirá de inspiração para nossa legislação sindical, e se apresenta, diante de sua sociedade, como mais moderno que ela. A República se amplia, incorporando a ela novos setores sociais, ao alto preço, porém, da perda de autonomia da sua sociedade.

Essa precedência do Estado sobre a sua sociedade - conforme a conjuntura, em graus variados -, varou décadas de vida republicana, afiançando, salvo o curto interregno dos anos 1961/1964, o predomínio dos interesses conservadores e da sua expressão política, com o que se preservou, em um país que se modernizava rapidamente, a estrutura agrária de propriedade latifundiária.

Se vale o que está escrito, essa sombria tradição teria sido interrompida com a democratização do país, em 1985, que teve na valorização da sociedade civil um dos seus conceitos-chave, e, como tal, encontrou consagração institucional na Carta de 1988, endereçada à criação de uma república democrática entre nós.

Esqueceu-se, no entanto, em meio a tantos esforços para realizar esse generoso programa, de remover a caveira de burro que, com seus sortilégios, atenta contra a nossa sorte. E eis que ressurgem, pelas mãos de um governo, cujas origens partidárias estão fincadas no terreno da sociedade civil, as velhas assombrações da república autoritária brasileira, como o nacional-estatismo, o corporativismo, o viés anti-republicano em nome de imperativos da democracia substantiva, e, pior, os ideais grão-burgueses de potência mundial. Só pode ser a caveira de burro.


Luiz Werneck Vianna é professor-pesquisador do Iesp-Uerj. Ex-presidente da Anpocs, integra seu comitê institucional. Escreve às segundas-feiras

Como foi mesmo esse maior negócio do mundo? :: Marco Antonio Rocha

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Tendo o presidente Lula proclamado que a capitalização da Petrobrás foi "o maior negócio da história do capitalismo mundial", é obrigatório que a gente se debruce sobre o assunto. Ele deve saber o que diz, pois, como ex-sindicalista, conhece profundamente a história do capitalismo, apesar de sabermos da sua conhecida tendência de hiperdimensionar quase tudo o que ocorre no seu governo e subdimensionar quase tudo o que ocorreu nos governos dos outros - desde a invenção da República moderna.

É necessário, por isso, ir atrás de detalhes de acontecimento tão importante para a maioria dos brasileiros, principalmente para os que são, ou pretendem ser, acionistas da "segunda maior petroleira do mundo", conforme trombetearam jornais com base nos R$ 120 bilhões alegadamente arrecadados na oferta de ações da gigantesca financiadora da propaganda de si mesma e do governo nos canais de televisão, nas rádios e na imprensa em geral. Aliás, é sempre oportuno lembrar que, se a Petrobrás reduzisse um pouco esses gastos não tão necessários - uma vez que não tem nenhum competidor no Brasil -, talvez pudesse vender um pouco mais barato seus combustíveis e insumos, em benefício do conjunto da economia. Mas esse é um tema para outra ocasião.

No momento o grande esforço de qualquer jornalista deve ser no sentido de explicar em linguagem inteligível a formidável capitalização da Petrobrás.

É o seguinte: dos R$ 120 bilhões, um pouco mais de R$ 74 bilhões vieram, ou virão, do setor público (Tesouro, BNDES, Caixa, Banco do Brasil, fundos de pensão de funcionários, etc.). O restante, que de fato representa dinheiro em caixa, sai do setor privado (nacional ou estrangeiro, bancos, fundos, empresas, pessoas físicas, etc.).

Aqueles R$ 74 bilhões do setor público equivalem à "cessão onerosa de 5 bilhões de barris de petróleo" que a União, maior acionista da Petrobrás, detém como dona de uma parcela do petróleo descoberto pela empresa, no pré-sal ou fora dele. Então, a União como que empresta para a Petrobrás os 5 bilhões de barris da sua parte no petróleo, que passam a integrar o capital da Petrobrás. Com o capital assim aumentado, a relação dívida/patrimônio da empresa - que já estava mais ou menos no limite, dificultando que a Petrobrás tomasse empréstimos para explorar o pré-sal - melhora, elevando o potencial de endividamento de empresa.

Mas esse empréstimo virtual, de 5 bilhões de barris de petróleo que estão no fundo do poço, se materializa num empréstimo real de R$ 74 bilhões em títulos do governo, que a Petrobrás pagará ao longo dos anos, à medida que for vendendo os barris de petróleo ou apurando mais lucros do que hoje em dia.

Bom, essa é a operação em si, contada pelo governo e pelos jornais. E, caros leitores, é uma história que decorei para contar aos leitores - repetindo o que diz meu colega Rolf Kuntz. Mas ficarei embaraçado se me perguntarem se entendi.

Sim, porque há coisas que não estão explicadas direito ou só poderão ser explicadas quando forem desvendadas e exploradas as tais reservas do pré-sal.

Uma delas é como foi que se chegou à conclusão de que os 5 bilhões de barris da tal "cessão onerosa" valem R$ 74 bilhões. Firmas de consultoria estimaram o preço dos barris entre US$ 5 e US$ 12, o que na média dá US$ 8,5 - que, multiplicado por 5 bilhões, dá US$ 42,5 bilhões ou mais ou menos os tais R$ 74 bilhões, com o dólar, digamos, a R$ 1,74. Mas houve um outro cálculo que levou em conta a quantidade e os preços do petróleo que haveria em cada uma das seis áreas a serem exploradas e cuja média ponderada daria US$ 8,51 o barril, curiosamente, quase a mesma coisa da estimativa feita pela média aritmética simples. Mas tanto num caso quanto no outro o preço é pura ficção.

É que nas sete áreas de reservas marítimas que justificaram a gigantesca engenharia financeira só foi feito um furo até agora, cabendo então perguntar: qual a garantia de que dali se poderá extrair os 5 bilhões de barris que a Petrobrás "comprou" da União na operação, mais os que serão propriedade dela?

Finalmente, há que mencionar as nebulosas condições de exploração do pré-sal: quem disse que tirar petróleo de 8 mil metros de profundidade terá custos suportáveis pelos preços por que se consegue vendê-lo? Quem disse que os desafios tecnológicos já estão todos resolvidos, mesmo que a Petrobrás seja especialista em águas profundas? Quem disse que os riscos do empreendimento são previsíveis, depois do que aconteceu no Golfo do México? Quem disse que vai ser fácil e barato encontrar seguradoras para arcar com esses riscos?

Tantas incertezas deveriam afastar, e não atrair, investidores privados. Mas é que não são investidores. São jogadores do cassino financeiro moderno. E, no momento, só estava aberta no salão a "mesa" Petrobrás. Amanhã irão para outra.

Quanto ao maior negócio da história do capitalismo mundial, foi o dinheirinho de fretamento do Mayflower, o navio que levou um punhado de ingleses para a Nova Inglaterra, nos EUA, e que deu, de "lucro", a mais pujante economia do planeta.

Jornalista

Necessidade de uma política externa madura:: Jorge G. Castañeda

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Solidariedade descuidada limita influência global do Brasil

O primeiro turno das eleições presidenciais do Brasil, no dia 3, pode se revelar o único. Isso porque a sucessora escolhida a dedo pelo presidente Luis Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff, está muito perto de conquistar uma maioria absoluta dos votos.

O principal adversário de Dilma, o governador do Estado de São Paulo, José Serra, não ganhou tração junto ao eleitorado por causa de suas posições inconstantes - que variam de críticas ásperas à política externa de Lula ao total apoio a suas políticas sociais. Segundo algumas sondagens de opinião, Serra está mais de 20 pontos atrás.

Lula deixa o cargo com uma popularidade espantosa para um presidente latino-americano em segundo mandato. A economia está crescendo a uma taxa de dois dígitos, e a Copa do Mundo de Futebol de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016 estão no horizonte.

Sob o comando de Lula, milhões de brasileiros saíram da pobreza, e a classe média tornou-se uma maioria - não obstante pequena. O Brasil adquiriu uma estatura internacional digna de seu tamanho e sucesso, embora, talvez, não de sua ambição. Sua democracia é próspera e vibrante, mas nem sempre efetiva ou livre de corrupção.

Mas, há motivos para algum ceticismo sobre o legado de Lula, e o fato de eles raramente serem mencionados não diminui o seu significado.

Primeiro, o crescimento econômico continua tendo como base, fundamentalmente, o consumo doméstico e a exportação de commodities. Não há nada de errado nisso desde que eles sejam sustentáveis no médio prazo e viáveis no longo prazo.

O problema é que a taxa de investimento total do Brasil permanece em torno de 16% do Produto Interno Bruto (PIB), bem abaixo do México ou da média da América Latina, para não mencionar a China (40%). Com essa taxa, a infraestrutura e a competitividade do País inevitavelmente declinarão.

A solução de Dilma é o investimento estatal em massa, financiado pelo Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), em setores econômicos-chave (petróleo, carne processada, construção). Mas essa estratégia mais provavelmente reforçará a corrupção, que tem sido um apêndice da política brasileira há décadas - e melhorou pouco sob Lula.

Uma segunda questão é o muito alardeado programa Bolsa Família, que começou com o antecessor de Lula como Bolsa Escola, e foi idealizado originalmente pelo economista Santiago Levy no governo do presidente mexicano Ernesto Zedillo. Essas "transferências condicionais de dinheiro" tinham a intenção inicial de barrar a pobreza intergeracional, ajudando a assegurar que as crianças fossem corretamente alimentadas, escolarizadas e mantidas saudáveis. Mas, com Lula (e com Vicente Fox e Felipe Calderón no México, aliás) elas viraram um programa antipobreza direto, voltado para a atual geração de pobres.

Ninguém questiona a generosidade dessa mutação, mas não está nada claro que os quase 15 milhões de famílias que recebem o Bolsa Família conservarão seu nível de renda atual quando o benefício desaparecer, ou que ele possa ser sustentado indefinidamente. O Bolsa Família tem sido um espantoso sucesso eleitoral e, certamente, aumentou o consumo na base da pirâmide no Brasil. No entanto, persistem dúvidas sobre o que o programa pode conseguir no longo prazo para erradicar a pobreza.

Terceiro, as origens e a retórica de militante de esquerda de Dilma alimentam dúvidas sobre se ela dará prosseguimento às políticas econômicas e sociais centristas, pragmáticas, de Lula.

Preocupações. Suas credenciais democráticas são tão sólidas quanto as dele, mas há preocupações sobre seu aparente entusiasmo pela intervenção do Estado na economia - ela parece acreditar nas virtudes permanentes do estímulo fiscal keynesiano - bem como sua habilidade para controlar o Partido dos Trabalhadores, como Lula controlou.

A política externa tem sido o aspecto mais criticado do mandato de Lula, e Dilma mais provavelmente agravara as coisas.

Como adversário da ditadura militar que governou seu país anos atrás, Lula defendeu o respeito aos direitos humanos, eleições livres e limpas, e a democracia representativa. Mas deu pouca atenção a essas questões depois de assumir o cargo, depreciando preocupações sobre direitos humanos e democracia por toda a região e além, particularmente em Cuba, Venezuela e Irã.

Lula acentuou a atitude brasileira tradicional de não se imiscuir em assuntos cubanos, ao ponto de viajar a Havana pouco depois que um dissidente em greve de fome morreu na prisão naquele país. Quando lhe perguntaram o que ele achava, Lula praticamente culpou o grevista pela própria morte.

Ele também recebeu o presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad em Brasília e São Paulo quase como um herói meros três meses após Ahmadinejad ter vencido de maneira fraudulenta a eleição presidencial no Irã em 2009, o que resultou numa onda de repressão violenta. E, um ano depois da eleição, Lula viajou ao Irã.

O presidente brasileiro também fez vista grossa para a mão cada vez mais pesada de Hugo Chávez na Venezuela, jamais protestando ou questionando a prisão de adversários do líder venezuelano, suas repressões à imprensa, sindicatos e estudantes, ou a manipulação do sistema eleitoral.

Corporações brasileiras, especialmente construtoras, têm investimentos e contratos enormes na Venezuela, e Lula usou sua amizade com os irmãos Castro e Chávez para aplacar a ala esquerda de seu partido, que nunca ficou confortável com suas políticas econômicas ortodoxas.

A posição ambígua do Brasil sobre direitos humanos e democracia sob Lula caminha de mãos dadas com sua atitude ante a proliferação nuclear.

Um signatário nos anos 60 do Tratado de Tlatelolco - que baniu as armas nucleares da América Latina -, o Brasil desmantelou seu processo de enriquecimento e suas instalações de pesquisa durante os anos 90 e ratificou o Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP) em 1998.

Acordo com o Irã. No entanto, em maio deste ano, Lula uniu-se à Turquia na proposta de um acordo com o Irã sobre seu programa nuclear (de troca de urânio por combustível para um reator de pesquisas médicas), que Teerã aceitou nominalmente, mas o restante do mundo não.

Enquanto Brasil e Turquia afirmavam que o acordo fora aceito pelos Estados Unidos e a Europa, Washington pediu - e obtive com o apoio de países europeus - novas e mais fortes sanções do Conselho de Segurança das Nações Unidas, às quais só o Brasil e a Turquia se opuseram.

O Brasil está no limiar de um crescimento sustentável, de uma estatura internacional superior, e da consolidação de seu status de classe média. Mas, até ele desenvolver uma política externa madura que esteja adequada a suas aspirações econômicas - uma política externa com base numa liderança com princípios, e não numa solidariedade descuidada ao Terceiro Mundo - sua influência global será limitada. (Tradução de Celso M. Paciornik)


É ex-Chanceler do México (2000-2003) e professor de Política e Estudos Latino-americanos na Universidade de Nova York

(artigo publicado em 26/9/2010)

Melhor esquecer:: Ricardo Noblat

DEU EM O GLOBO

"A democracia é exatamente isso : cada um fala o que quer , escreve o que quer, e o povo faz o grande julgamento" (Lula)

Droga de campanha, esta. Fora do controle do seu marqueteiro, Dilma revelou-se incapaz de dissertar sobre qualquer coisa com começo, meio e fim. A racionalidade excessiva de Serra embotou todo tipo de emoção que ele pudesse transmitir. Marina arrancou lágrimas de empresários em pequenas auditórios, mas saiu-se mal nos debates de televisão.

Alguém sabe citar de cor as principais promessas feitas pelos candidatos? Lembro das seis mil creches e das não sei quantas Unidades de Pronto Atendimento de Dilma, do salário mínimo de R$ 600,00 e do reajuste dos aposentados de Serra, e do governar com os melhores de Marina. Em suma: promessas pontuais ou genéricas.

Um projeto para o país? Algo ambicioso, mas necessário para quem se preocupa com o futuro? Os candidatos ficaram devendo. Ou porque não têm projeto, ou porque acham que projeto não atrai votos. Dilma fala em dar continuidade ao governo Lula. Serra diz que o Brasil pode mais. Marina atesta: é possível crescer respeitando o meio ambiente.

Dilma mimetizou Lula de tal maneira que usou em várias ocasiões expressões que são dele. Deu com o rosto na porta quem imaginou que o governo de Lula foi de Lula. Não foi. Foi de Lula e de Dilma, a se acreditar na propaganda bem cuidada da candidata. Os dois governaram juntos o país nos últimos sete anos e poucos meses.

Serra mimetizou Serra de tal forma que deu a impressão de estar de volta a 2002 quando era ministro da Saúde. Ou quando era candidato a presidente da República recém-saído do Ministério da Saúde. Marina não mimetizou ninguém. Apenas pareceu esquecida de que trocou o PT por outro partido. Perderá feio no Acre porque lá ela ainda é PT.

E o confronto de idéias entre os candidatos? Não houve. Dilma fugiu da maioria dos debates. E as regras dos debates impediram o confronto tão desejável. Votará em Dilma quem gostaria de votar em Lula e não se incomoda em lhe passar um cheque em branco. Em Serra, quem não vota em Lula e no PT de jeito nenhum. E em Marina, os sonhadores.

Na ausência de idéias e de debates, as pesquisas de intenção de voto pautaram o comportamento dos candidatos, ocuparam generoso espaço na mídia e serviram para animar discussões exacerbadas na internet. Os responsáveis pelos institutos de pesquisas ganharam uma importância que não tiveram em eleições anteriores.

Montenegro, do Ibope, previu a eleição de Serra com mais de um ano de antecedência. Foi obrigado mais recentemente a pedir desculpas pelo seu erro. O sempre discreto Marcos Coimbra, do Vox Populi, escreveu artigos semanais para jornais, revistas e blogs explicando por que Dilma deverá se eleger no primeiro turno.

É, de fato, o que por ora está escrito nas estrelas - a eleição de Dilma no próximo domingo. José Roberto Toledo, analista de pesquisas do jornal O Estado de S. Paulo, observa que o contingente de eleitores indecisos está perto de se esgotar como fator de crescimento dos candidatos Serra e Marina.

Para que haja segundo turno, a estarem certas as pesquisas, é preciso que Serra e Marina tomem eleitores de Dilma. Não será uma tarefa fácil, adverte Toledo. Dilma tem algo como 10 milhões de votos a mais do que Serra e Marina somados. Do último sábado até o dia da eleição, Serra e Marina teriam de subtrair de Dilma 625 mil votos por dia.

Só um fato devastador para a reputação de Lula poderia provocar uma migração de votos tão grande e tão rápida. Mesmo assim, o PT receia a convergência de causas mais prosaicas - entre elas, uma abstenção elevada no Norte e Nordeste e a regra que só permite o voto dos que exibam o título de eleitor e outro documento de identificação.

É razoável a aflição do PT. Faltam apenas seis dias para que Lula consiga por meio de Dilma o que não foi possível em 2002 e 2006 - a eleição no primeiro turno. Em seis dias tudo pode acontecer - inclusive nada. O mais provável é que nada aconteça.

Qual oposição? :: Denis Lerrer Rosenfield

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Em recente evento no Secovi-SP, seu presidente, João Crestana, numa mesa-redonda, colocou a seguinte questão: "Qual o papel da oposição num mais que provável governo Dilma Rousseff?" De minha parte, respondi: "Qual oposição? Não consigo bem entender a pergunta!"

A questão provocou uma indagação relativa ao que tem sido o exercício das oposições e, mais particularmente, dos tucanos na campanha presidencial. Com efeito, a oposição não agiu enquanto tal, salvo, agora, de forma atabalhoada, quando a derrota se vislumbra no horizonte imediato. Uma oposição digna desse nome deveria ter apresentado propostas, mostrado o seu contraste com o governo, expondo o que fez no passado e sugerindo medidas alternativas. Não deveria ter-se escondido enquanto oposição, fingindo ser uma outra forma da situação.

A oposição tucana alçou Lula a um pedestal, como se ele estivesse acima do bem e do mal. Colocou-se, numa espécie de servidão voluntária, na posição de continuação do atual governo, interditando-se qualquer crítica ao atual mandatário. A chiadeira atual de que ele está ameaçando as instituições nada mais é do que o resultado de sua incompetência, o fruto desse reconhecimento preliminar de que a condenação do atual governo não deveria fazer parte de sua agenda política. É o estertor de uma política que não deu certo!

Nesse sentido, foi forjada a ideia de que Lula não é o PT. Logo, se ele não é o PT, como sua criatura seria a representante mesma do partido? Ela deveria ser "lulista", e não "petista", se essa distinção fizesse sentido. Em certo sentido, porém, ela faz sentido, porque Lula se mostrou maior do que o PT. Entretanto, em outro sentido, Lula é também o partido, sendo seu fundador e seu mais eminente representante. O fato de ele se ter afastado das posições mais radicais do seu partido não o faz um não membro partidário. Lula não existiria sem o PT.

Não deveria, pois, surpreender a declaração do ex-ministro José Dirceu de que a diferença principal entre Lula e Dilma reside em que o primeiro é "duas vezes o tamanho do PT", enquanto a segunda é menor do que o partido. O que disse foi simplesmente uma verdade. A celeuma, nessa perspectiva, não tem nenhuma razão de ser, na medida em que pode ser constatada por qualquer pessoa preocupada em compreender a realidade tal como ela é. Outra pessoa tivesse dito a mesma coisa, a controvérsia nem se teria estabelecido nem os juízos de valor sobre a pessoa que a enunciou.

A propaganda eleitoral tucana que trata o ex-ministro como um representante do "mal" é só uma forma de continuar preservando a figura de Lula como encarnando o "bem", procurando dessa maneira atingir a candidata Dilma. Não dá para entender. Fica-se com a impressão de que Dirceu é ainda ministro da Casa Civil, ou mesmo candidato, ou, ainda, que Dilma é sua criatura. A confusão é total. O ex-ministro foi, mesmo, utilizado como bode expiatório do próprio Lula, que assim se preservou. Em linguagem lulista, uma vez tendo entregue à execração o seu ministro mais importante, dedicou-se depois a reescrever a história, apresentando o mensalão como uma "tentativa de golpe". E a oposição o que fez? Vociferou sem muita convicção e caiu no jogo - jogo esse que mostra agora seu desfecho.

Consequentemente, o PT tende a ter maior protagonismo no governo Dilma. Nada mais normal para um partido que vence a eleição. Qualquer partido vencedor tende a assumir essa posição. A questão, porém, não reside aqui, mas no que significa o PT novamente no poder. Formadores de opinião e setores do empresariado contentaram-se com os dois mandatos de Lula por ter este se afastado das posições mais radicais do seu partido. Festejaram a ruptura que não houve, embora tivesse sido anunciada.

Criou-se, assim, a ficção de que Lula não é o PT e que as posições mais revolucionárias do partido estariam descartadas. Não o foram, pois elas continuam animando boa parte de suas tendências. Acontece que o PT não é um bloco, que pensa de maneira uniforme. Ele só o é em período eleitoral, porque o objetivo maior, a conquista do poder, se torna um forte fator de coesão interna. Suas distintas alas se congregam desse modo, embora essa coesão seja também passageira, pois logo dará lugar às divergências explícitas entre suas várias correntes. Trata-se de algo difícil de compreender para os tucanos, que não conseguem unir-se nem em período eleitoral, expondo suas divergências até em público.

O período que se abre num mais que provável governo Dilma é o de como o PT vai resolver suas contradições internas. O que se convencionou chamar de "lulismo", e outros chamam de "pragmatismo" petista, expressa a predominância de correntes internas que optaram por abandonar a ruptura com o capitalismo, visando à instauração de uma sociedade socialista autoritária no Brasil. Apesar de o discurso ideológico não ter essa clareza, por causa precisamente das disputas internas, o embate que se anuncia é o de se o PT vai perseverar na gestão responsável do capitalismo, numa via social-democrata de inclusão social, ou se optará por voltar à suas políticas irresponsáveis de antanho.

O PMDB, não esqueçamos, faz parte da aliança governamental e pelas boas e más razões não embarcará numa aventura revolucionária. Quanto mais não seja, para não perder os benefícios que extrai do status quo. A atual situação é-lhe mais que favorável e tudo fará para que não se altere. Ele continuará compartilhando o "pão", talvez com mais voracidade. Há um novo jogo aqui, o das disputas internas do PT, que se tornará mais complexo com a atuação do PMDB, procurando ocupar os mesmos espaços. As oposições, que sairão derrotadas deste pleito, serão, num primeiro momento, meras espectadoras. Terão, preliminarmente, de responder à pergunta "qual oposição?", se pretenderem, num segundo momento, um papel de protagonismo.

O eleitorado traído :: Carlos Alberto Sardenberg

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Não sei se ainda está no ar, mas outro dia ouvi uma propaganda de rádio da campanha de Dilma Rousseff que bem poderia ser o ponto de partida de um discurso, digamos, liberal.

Liberal? Posso imaginar o tamanho da surpresa de leitores e leitoras.

Expliquemos: a propaganda, no rádio, trazia o depoimento de um eleitor de Brasília que declarava voto em Dilma porque estava muito feliz com sua vida, com seu progresso nos últimos anos. Contava, então, que havia conseguido montar sua empresa - uma panificadora em Brasília - e que agora podia "pagar um plano de saúde para a filha".

Temos, portanto, um pequeno empreendedor, iniciativa privada. E um cidadão que, ganhando um pouco mais, logo tomou a providência de comprar um plano de saúde privado, para escapar do serviço público de saúde.

Poderia perfeitamente sair daí um programa liberal. Sabe-se que a alma da economia de mercado está exatamente na capacidade empreendedora das pessoas. Sabe-se também que abrir uma empresa no Brasil não é coisa simples nem barata.

Na pesquisa do Banco Mundial Fazendo Negócios, que avalia se o ambiente de negócios é hostil ou amigável ao empreendedor privado, o Brasil obtém uma classificação miserável. Vai lá para o fim da tabela e consegue ser o pior em alguns quesitos, como no caso do sistema tributário.

Não se trata nem da (elevada) carga tributária. Trata-se de quanto tempo, quanto dinheiro e quanta energia uma empresa gasta para manter em dia suas obrigações com o Fisco.

Ora, apresentando aquele depoimento, a candidata poderia derivar daí um programa de reformas institucionais de modo a facilitar a vida de quem faz negócios honestamente neste país. Entre essas reformas estariam, certamente, a da legislação trabalhista, de modo a tornar a contratação mais flexível e menos cara.

Mas os eleitores não viram nada disso na propaganda de Dilma.

Por outro lado, a satisfação do eleitor com a compra de um plano de saúde poderia ser a dica para um programa que estimulasse o setor privado de saúde, que, aliás, foi bastante cerceado no governo Lula.

Em vez disso, porém, a candidata está prometendo mais dinheiro para o Sistema Único de Saúde (SUS), setor público. E não poucas vezes seu padrinho, o presidente Lula, diz que o governo continua precisando da CPMF.

Por que, então, os marqueteiros colocaram aquele depoimento do pequeno empreendedor brasiliense? Só para ilustração, para agradar pela emoção.

E toda uma parte do eleitorado fica de fora. Por toda a sociedade se encontram pessoas querendo tomar conta de suas vidas, montar seus negócios, tocar sua profissão livremente, escolher e pagar seus planos de saúde, colocar os filhos numa escola particular boa, investir em ações, comprar planos de previdência privada.

Essas pessoas não estão representadas no quadro político.

Também não aparecem como personagens na campanha do principal opositor, José Serra. Às vezes surge alguma coisa na fala de Marina Silva.

Serra, por exemplo, faz apostas amplas em programas que exigem pesado aumento do gasto público, a começar pela promessa de aumentar para R$ 600 o salário mínimo (e as pensões) e conceder 10% para as aposentadorias acima do mínimo.

Sabem qual o impacto disso no orçamento da Previdência no ano que vem? Nada menos do que R$ 47 bilhões. Isso equivale a cerca de 1,5% do Produto Interno Bruto e praticamente dobra o déficit da Previdência previsto para este ano.

Nem uma palavra sobre como administrar esse déficit.

E entretanto, todo mundo, pensando seriamente por um minuto que seja, sabe que os brasileiros pagam impostos absurdos e que a Previdência, incluindo aqui o INSS e a pública, precisa de uma reforma.

Alguém ouviu alguma ideia dos candidatos mais fortes sobre esses temas? Eles falam em aumento do gasto público, mas ninguém diz, por exemplo, que vai aumentar impostos para financiar essas despesas. Porque, sem aumento de impostos, os programas prometidos simplesmente não fecham a conta. Ah, sim, falam em reforma tributária, mas sem dizer se é para reduzir ou aumentar impostos.

A campanha de Marina é a que avança mais corretamente nesses temas. Sua proposta de fixar uma meta de redução da dívida pública ataca o coração do problema econômico brasileiro de hoje. A redução da dívida abriria espaço para uma redução dos juros, com os enormes efeitos positivos disso. Pena que esse tema aparece, assim, en passant.

No geral, aceita-se por aqui que campanha é uma coisa e governo é outra. De certo modo, é um pouco assim no mundo todo. (Campanha é poesia, governo é prosa, li em algum lugar.) Mas é só um pouco assim.

Nos Estados Unidos, por exemplo, Obama disse, debaixo de uma saraivada de críticas, que ia aumentar o imposto das famílias que ganham mais de US$ 250 mil ao ano - e é justamente o que está fazendo.

Já na França, o presidente Sarkozy não disse que ia aumentar a idade mínima de aposentadoria. Quando precisou fazer isso, o eleitorado reagiu, com razão.

Aqui, o presidente Lula, na sua primeira eleição, não disse que ia fazer reforma previdenciária, mas fez. Por necessidade do momento, apresentou e aprovou um projeto de reforma da aposentadoria dos servidores públicos. Mas, para entrar em vigor, a mudança dependia de legislação complementar. Antes que esta fosse votada a situação econômica melhorou, a receita do governo aumentou e o presidente Lula simplesmente mandou arquivar o tema.

Mas para o Brasil organizar as finanças públicas e crescer de modo mais vigoroso as reformas continuam sendo necessárias. E serão cruciais se o ambiente econômico piorar um pouco que seja.

E aí o eleitorado será traído. De certo modo, sempre é.

Brasil profundo:: Fernando Rodrigues

DEU ENA FOLHA DE S. PAULO

BRASÍLIA - Ao defender a eleição de Dilma Rousseff (PT) num artigo ontem na Folha, o chefe de gabinete da Presidência da República, Gilberto Carvalho, traçou um cenário róseo. Conclui afirmando que a petista virá "para o bem da democracia plena e verdadeira" e "para o bem da paz social, do respeito aos direitos de todos e para a queda de tantos muros que até aqui separam irmãos".

Pois em um rincão do Brasil o PT patrocina neste momento uma democracia de araque, desrespeita os direitos de todos se informarem e ajuda a construir muros que separam vários irmãos. Trata-se do cenário em Tocantins, Estado com 0,6% da população do país e quase sempre invisível no noticiário nas regiões mais desenvolvidas.

Em Tocantins, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff apoiam a reeleição do governador Carlos Gaguim (PMDB). Na semana passada, tornou-se pública uma investigação do Ministério Público de São Paulo sobre uma quadrilha na cidade de Campinas. Há nessa apuração indícios de que Gaguim teria participado de um desvio de R$ 615 milhões.

O político tocantinense nega culpa. É a praxe nesses casos. Não contente, Gaguim foi além. Pediu à Justiça que proibisse na imprensa local a publicação de reportagens sobre a investigação. Foi atendido pelo desembargador Liberato Póvoa na última sexta-feira.

No sábado, o telejornal da TV Anhanguera, em Palmas, leu a notícia sobre a censura. Terminou de forma melancólica, em silêncio.

A coligação de Gaguim com o PT foi batizada de Força do Povo. Ironia da política. Essa é a mesma expressão usada por Lula para se reeleger em 2006. A "força" agora está no projeto da eleição de Dilma Rousseff. Em Tocantins, representa uma face do Brasil profundo no qual toda a mídia é censurada previamente. É um pedaço do país distante da argumentação edulcorada do artigo de Gilberto Carvalho.

Entrevista da 2ª SANDRA CUREAU:: Lula quer eleger a sua sucessora a qualquer custo

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

SANDRA CUREAU, VICE-PROCURADORA-GERAL ELEITORAL, DIZ NUNCA TER VISTO UMA ELEIÇÃO COMO A DESTE ANO E CRITICA A PARTICIPAÇÃO DO PRESIDENTE NA CAMPANHA DE DILMA ROUSSEFF

Eliane Cantanhêde Colunista da FOLHA

A menos de dez dias do primeiro turno, a vice-procuradora-geral eleitoral Sandra Cureau diz que nunca viu uma eleição como a de 2010 e critica a participação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva: "Eu acho que ele quer, a qualquer custo, fazer a sua sucessora".

Gaúcha, 63, ela acrescenta: "É por isso que, como dizem no manifesto [de intelectuais pela democracia], ele [Lula] misturou o homem de partido com o presidente. A impressão que tenho é a de que ele faz mais campanha do que a própria candidata. É quase como se fosse uma coisa de vida ou morte". Veja os principais trechos da entrevista à Folha.

Folha - Qual o efeito do empate no STF sobre a validade da Lei da Ficha Limpa?

Sandra Cureau - Vai interferir muito no processo eleitoral, porque colocou uma quantidade enorme de candidatos no limbo. O que vai acontecer? Ninguém sabe.

Isso favorece os fichas-sujas?

Não sei, porque pode ocorrer um fenômeno como o que já vinha ocorrendo aqui no DF, onde um candidato ao governo [Joaquim Roriz, do PSC] teve seu registro impugnado desde o início e foi caindo nas pesquisas.

Processo contra poderosos não dá em nada, nem na Justiça Penal nem na Eleitoral?

Quem tem condições de pagar bons advogados recorre, recorre e recorre. Se o Congresso quer mesmo expulsar os fichas-sujas, vai ter de votar uma legislação que torne mais ágil o processo eleitoral e o processo em geral.

Como vê a troca de Roriz pela mulher dele como candidata?

Ele nunca teve uma decisão positiva. O TRE-DF indeferiu o registro, o TSE manteve o indeferimento e o ministro Carlos Ayres Britto negou o efeito suspensivo no STF. Ou seja: ele perdeu todas. Há um dispositivo na lei dizendo que candidato "sub judice" pode continuar fazendo campanha. Só que, na minha interpretação, Roriz sempre esteve com a candidatura indeferida, e isso não é estar "sub judice". Quanto à possibilidade de colocar a mulher dele, isso pode. Até na véspera você pode substituir, como quando o candidato falece.

Não é frustrante?

Mais do que frustrante. O candidato sai, mas a foto dele fica na urna. É interessante porque, no regimento do Supremo, existe um dispositivo dizendo que, quando há empate, prevalece a decisão que já existe. Teria de prevalecer, então, a decisão do TSE pela inelegibilidade [de Roriz].

Qual o balanço que a sra. faz das eleições de 2010?

Foi uma das eleições mais complicadas de que eu participei. Talvez tenha alguma coisa com o fato de eu ser mulher, mas acho que têm acontecido coisas incríveis. Pessoas se negam a dar informações que têm de dar, agressões e verdadeiras baixarias, principalmente em blogs. Fico pensando: será que, se fosse um homem, fariam a mesma coisa, tão à vontade? Há certa desobediência às decisões do TSE, certo desprezo pelo Ministério Público Eleitoral por parte de algumas autoridades.

Qual o papel do presidente da República nisso, já que ele desdenha das multas e se referiu à senhora como "uma procuradora qualquer"?

Quando ele diz que eu sou "uma procuradora qualquer por aí", ele reduz a instituição Ministério Público Eleitoral a alguma coisa qualquer. Por isso, houve reação tão veemente por parte da OAB e das entidades de magistrado e de Ministério Público. A reação foi geral. Aliás, a própria manifestação de São Paulo é consequência do que se está vivendo nesta eleição.

A sra. se refere ao "Manifesto pela Democracia", assinado por dom Paulo Evaristo Arns, ex-ministros da Justiça, outros juristas e intelectuais?

Exatamente

Eles dizem ser "constrangedor o presidente não compreender que o cargo tem de ser exercido na plenitude e não existe o "depois do expediente'". A sra. concorda?

É, e é complicado, porque a gente nunca teve esse tipo de problema antes. Não porque os presidentes não fizessem campanha para seus candidatos, mas eles faziam tendo presente que eram chefes da nação. Era de uma maneira mais republicana, ou mais democrática, não sei que palavra usar.

Como a sra. avalia a participação de Lula nesta eleição?

Eu acho que ele quer, a qualquer custo, fazer a sua sucessora. É por isso que, como dizem no manifesto, ele misturou o homem de partido com o presidente. Aquela coisa de não aceitar a possibilidade de não fazer a sucessora. A impressão que eu tenho é a de que ele faz mais campanha do que a própria candidata. Nunca vi isso, é quase como se fosse uma coisa de vida ou morte para ele.

Como a sra. reage à posição do presidente, que recebe uma multa, duas, três e...


...não está nem aí. Isso faz parte de todo um quadro, e não é uma multa que vai parar isso, ainda mais que são multas baixas.

A oposição também não comete excessos o tempo todo?

Por isso também foi multada. No caso da candidata Marina Silva [PV], foram poucas representações. Com relação ao candidato José Serra [PSDB], entrei com 26 representações, e 29 contra a candidata Dilma Rousseff [PT] e o presidente.

A sra. considera absurdo analisarem que isso possa evoluir para um nível de tensão próximo ao da Venezuela?

Por enquanto, não vejo isso, mas me preocupa muito a tentativa de desqualificar as instituições. Quando se começa a não ter respeito pelas instituições e se incentiva inclusive isso, pode levar a um caminho em que não haja autoridade, ou que a autoridade seja única. Todos os Poderes são legítimos. Um não pode se sobrepor aos outros.

No escândalo da ex-ministra Erenice Guerra, houve partidarismo da imprensa?

A imprensa prestou um serviço não só ao povo brasileiro, que paga impostos que estavam sendo usados naquelas negociações, ou negociatas, sei lá, como prestou um serviço ao presidente.

E a acusação de que há um complô da imprensa a favor de um candidato?

Não vejo, até por uma razão muito simples. Se houvesse um complô a favor de um candidato ou contra o outro, ele estaria lá nas alturas.

De olho no segundo turno, Marina ataca Dilma e Serra

DEU EM O GLOBO

Petista e tucano trocam acusações sobre aparelhamento do Estado

Numa tentativa de chegar ao segundo turno, a candidata do PV, Marina Silva, subiu o tom das críticas no penúltimo debate entre os quatro principais candidatos ã Presidência, ontem pela Record. Ela criticou fortemente a candidata petista, Dilma Rousseff, e o tucano José Serra, tentando evitar a polarização entre os dois adversários, que, segundo pesquisas, estão à sua frente na disputa. O candidato do PSDB, José Serra, foi cobrado por Marina e Dilma sobre falta de servidores de carreira no governo federal. Serra, por sua vez, acusou o atual governo de aparelhar as agências reguladoras com indicações políticas. Plínio de Arruda Sampaio foi o mais incisivo nas críticas; chegando a atacar diretamente a candidata do PV, a quem de chamou de "ecocapitalista".

Subindo o tom

Numa tentativa de chegar ao 2º turno, Marina ataca Dilma Rousseff e José Serra

Henrique Gomes Batista, Fábio Vasconcellos e Natanael Damasceno

No penúltimo debate entre os quatro principais candidatos à Presidência, realizado ontem pela Record, a candidata Marina Silva (PV), numa estratégia de tentar chegar ao segundo turno, criticou fortemente a petista Dilma Rousseff e o tucano José Serra, tentando evitar a polarização entre os dois adversários que, segundo às pesquisas, estão a sua frente na disputa. Logo no início, dirigindo-se a Serra, a verde afirmou que o PSDB e o DEM haviam criticado o Bolsa Família, e quis saber se o tucano tinha proposta para ampliar os programas sociais. Em resposta, Serra não citou as antigas críticas e afirmou que o Bolsa Família é fruto de políticas sociais iniciadas no governo Fernando Henrique:

- Tenho um projeto para fazer da economia brasileira, uma economia forte. Do ponto de vista diretamente social, o meu propósito é fortalecer o Bolsa Família - disse Serra, que também citou sua gestão no governo de São Paulo, dizendo que realizou 110 mil concursos públicos - Nenhum estado gastou no Brasil tanto na área do social quanto nós.

Para Dilma, Marina perguntou à petista porque nada foi feito para evitar que se repetissem denúncias de corrupção na Casa Civil, numa referência ao escândalo do tráfico de influência que levou à queda de Erenice Guerra, sucessora da candidata petista na pasta. Marina afirmou que a Casa Civil é o "ministério mais importante e todos e tão próximo do presidente". Dilma reagiu e disse que não houve caso de corrupção na Casa Civil que ela tenha tomado conhecimento que não tenha sido investigado. Antes, Dilma já dissera que, se for eleita, os escândalos da quebra de sigilos fiscais na Receita e do tráfico de influência na Casa Civil serão apurados "até o fim". Marina voltou a carga:

-- Uma pessoa entrou em um cargo de livre provimento, de sua confiança e tudo se repetiu novamente. É lamentável que isso tenha ocorrido ali, bem próximo do presidente da República. O que a senhora fez para que isso não se repetisse?

Dilma respondeu de forma dura:

-- Fiz a mesma coisa feita por você nas várias vezes em que seu ministério teve processos similares, ou seja, pessoas de cargo de chefia acusadas na compra e na venda de madeira que era madeira de desmatamento. Tomei as mesmas providências tomadas por você quando ministra eu tomei. Você sabe que esses acasos ocorreram algumas vezes. Temos que assegurar é que a instituição melhora, fiscalize e puna.

Serra centrou críticas na forma como o governo federal - muitas vezes chamado por ele de "governo Dilma" - foram loteadas e citou o caso da Agência Nacional de Vigilância Sanitária e da Agência Nacional de Saúde:

- A Anvisa foi totalmente loteada. Tem grupo de senadores que indica diretor da Anvisa. Sabe qual é o resultado? O tempo de aprovação de um genérico triplicou com relação ao período em que eu era ministro da Saúde. É uma coisa incrível. O que é isso? É vender dificuldade ou criar dificuldade para vender facilidade?

Dilma afirmou que era favorável à meritocracia em todos os órgãos do governo, e aproveitou para atacar a gestão Fernando Henrique:

- Eu quero dizer que eu compartilho da avaliação da Marina (que afirmara que o Ibama havia sido sucateado no governo FH). Cheguei no Ministério de Minas e Energia e tinha um engenheiro e 24 motoristas. Além disso, as agências tinham um papel bastante complicado. No caso da área de Minas e Energia, as agências estavam bastante precárias. Elas não tinham carreira (funcionários concursados). Quem criou uma estrutura de cargos e salários com concurso público fomos nós.

O candidato do PSOL, Plínio de Arruda Sampaio, posicionou-se como franco atirador. Chamou Marina de ecocapitalista e fujona, por propor plebiscitos para decidir sobre temas polêmicos, como o aborto. Disse ainda que a posição de Serra, de criticar a política de direito humanos do governo Lula por suas relações com o Irã, era hipócrita. Segundo Plínio, ninguém desrespeitou mais os direitos humanos que os Estados Unidos. E também atacou Dilma por sua relação com a ex-ministra Erenice Guerra:

- No último debate, você (Dilma) ficou muito nervosa com o meu comentário sobre o escândalo Erenice. A verdade que a corrupção bateu na sala ao lado. Ou você é conivente, ou você é competente. Você vai ter que escolher muita gente. Você tem competência ou vai escolher Erenices?

Dilma afirmou que o governo está investigando o caso.

- Nenhuma uma coisa, nem outra. Acredito que todas as acusações e as denúncias devem ser apuradas de forma rigorosa. Na verdade, é que não se deixa nada sem apurar. Eu te asseguro que eu irei investigá-lo até o fim. Eu tenho 25 anos de vida pública.

Ao voltar a mirar em Serra, Marina citou dados do governo do estado de São Paulo, que teria, segundo a candidata, cortado recursos da área Social

- No ano passado, no seu governo, foram cortados os recursos da área social. Tivemos um aumento maior para a comunicação do que nas políticas sociais. Enquanto para a comunicação foram R$243 milhões, na área social fomos para R$217 milhões, com cortes no Programas como Ação Jovem e a Renda Cidadã.

Serra respondeu afirmando que a área social inclui ainda a saúde e educação e disse que o governo de São Paulo foi o que mais fez transferência de renda e realizou cem mil concursos públicos. E aproveitou a resposta para criticar a política de gestão de pessoal atual da Petrobras:

- Aliás, tem um fenômeno hoje no Brasil de terceirização, de precarização das relações de trabalho muito importante e significativo que é feito na Petrobras. Eu vejo reclamações de sindicalistas que mostram dados impressionantes para o número de empregos precários na Petrobras.

Marina, na réplica, acusou o governo FH de ter poucos funcionários no Ministério do Meio Ambiente:

- Quando eu entrei no Ministério do Meio Ambiente em 2003, o setor de licenciamento do Ibama, que é um dos mais importantes porque licencia obras de bilhões de reais, contava com apenas sete servidores de carreira. Uma situação precária.

Dilma e Serra põem Lula e FH no debate

DEU EM O GLOBO

Tucano é cobrado pela ausência do ex-presidente em programa, e critica presença do presidente na campanha

A ausência do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso na campanha do PSDB e a presença maciça do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na campanha abriram as discussões no segundo bloco do debate de presidenciáveis na TV Record, quando três jornalistas dirigiram perguntas aos candidatos. Perguntado pela jornalista Ana Paula Padrão, o candidato tucano, José Serra, negou estar escondendo Fernando Henrique. Ao longo do bloco, ele e o candidato do PSOL, Plínio de Arruda Sampaio, acusaram Dilma de ter sido fabricada por Lula.

"Não fui patrocinado por ninguém", diz tucano

Serra afirmou que sua participação no governo Fernando Henrique Cardoso, nos ministérios do Planejamento e da Saúde, tem sido lembrada ao longo da campanha. Ele disse ainda que sua relação com o Fernando Henrique tem sido mal interpretada:

- Em geral quando se faz essas análises se tem em mente a comparação com outras condidaturas. Eu não fui patrocinado por ninguém especificamente. Não tive um patrocinador. Ninguém que apontou o dedo e disse: vai ser o Serra o candidato do partido. Sou o candidato do PSDB escolhido em função da minha historia da minha biografia, do que eu fiz no governo FHC.

Dilma acusou Serra de omitir sua posição no governo de Fernando Henrique Cardoso:

- Acho que tem uma atitude muito diferente do candidato em relação ao governo federal ao qual ele serviu. Ele sistematicamente esconde o presidente, que inclusive é uma liderança do partido. Eu não. Eu tenho imenso orgulho de ter participado do governo Lula e reivindico o governo Lula como uma grande realização na minha vida. Acho estranho que o Serra use imagem do Lula à noite e de dia faça cristicas sistemátricas ao governo, porque fizeram uma oposição raivosa a este mesmo governo.

Serra alegou que as circunstâncias o levaram a usar a imagem de Lula na campanha.

- O Lula não é meu inimigo. Ele não foi posto no programa por três segundos para receber algum elogio. Foi porque era uma circustância de argumentação que, no caso, cabia. Ele, sendo presidente da República, estando o tempo todo na mídia, participando de campanhas, foi citado. Não trato adversários como inimigos a serem extirpados, aliás, como o próprio PT costuma fazer.
Serra acusou o PT de não reconhecer o legado deixado pelo governo anterior:

- Vocês tem tem uma atitude de muita ingratidão contra o governo do Fernando Henrique Cardoso. Ele fez o plano Real, e vocês foram contra. A Lei de Responsabilidade Fiscal, e vocês foram contra. O Fundef, que representava mais dinheiro para educação no Nordeste, e vocês votaram contra. Uma providência que evitou uma crise financeira, chamada Proer, vocês votaram contra. Depois, no governo, vocês aproveitaram tudo isso. Então, é um esquema de ingratidão e um pouco de negação de que o passado contribuiu para o presente, como o presente vai contribuir para o futuro. Eu tenho uma posição diferente. Para mim, o Brasil vai se construindo governo após governo, inclusive corrigindo os erros de cada governo. No caso do seu, o atraso na saúde, na segurança, na educação, nos investimentos. É assim que a vida vai - afirmou o candidato.

Dono de firma contratada pela Secom punido por fraude

DEU EM O GLOBO

Flávio Silveira e diretora da Meta foram condenados a um ano de prisão por apresentar documentos falsos em licitação

Carolina Benevides e Maiá Menezes

Integrantes da diretoria da Meta Instituto de Pesquisa, que hoje tem contrato de R$5 milhões com a Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom), Flávio Eduardo Silveira, dono da empresa, e Jalcira Elizabeth das Virgens foram condenados, este ano, em segunda instância, a um ano de prisão em regime aberto e a multa. Motivo: falsificação de documentos que integravam a proposta técnica para participar de licitação, em 2004, junto à Prefeitura de Porto Alegre. A documentação foi entregue à Comissão de Licitação em 23 de março de 2004, e os contratos simulavam vínculo empregatício entre pesquisadores e a Meta. Procurada pelo GLOBO, a Secom enviou os nomes das cinco pessoas apontadas pela Meta como responsáveis pelas pesquisas do contrato que está vigente. Entre eles estão os de Flávio e Jalcira.

Nos autos do processo, que correu na 10ª Vara Criminal de Porto Alegre, ficou comprovado que as assinaturas de sete pesquisadores eram falsas. Eles seriam responsáveis até pela coordenação da pesquisa. Todos afirmaram, em juízo, que nunca colaboraram com a Meta.

Ao se defenderem no processo, Flávio e Jalcira acusaram a estagiária Lucia Lisângela Dias Ferreira pelo "erro". Foi a mesma justificativa que Jalcira deu ao GLOBO. Segundo ela, a estagiária era responsável por elaborar a documentação. Em depoimento à Justiça gaúcha, a estagiária negou o crime e acusou Jalcira de ter falsificado assinaturas para outros processos, como para a participação de uma licitação na Infraero. De acordo com Jalcira, Flávio está fora do país e não poderia dar entrevista.

A Meta, desde 2009, presta serviço à Secom, para quem realizou pesquisas sobre o alcance de programas-chave para o governo, entre eles o PAC, o Bolsa Família e o Minha Casa, Minha Vida.

Em 2008, uma denúncia de direcionamento de licitação levou a Presidência a suspender a concorrência que contrataria o instituto. O Tribunal de Contas da União (TCU) chegou a questionar o edital, mas liberou a licitação, depois da apresentação de documentos pela Meta.

'Jamais assinei qualquer contrato', diz pesquisador

Meta tem fundação do PT e sindicatos entre os clientes

Entre os clientes da Meta estão a Fundação Perseu Abramo, do PT, sindicatos e órgãos públicos gaúchos. Flávio Eduardo Silveira é integrante do PT, deu aula na UFRGS, na PUC/RS e na Unisinos. De acordo com Jalcira das Virgens, diretora da empresa, o contrato com a Secom permitia contratar até R$5 milhões em pesquisas no ano. Mas o valor efetivamente realizado referente ao contrato de 2009 foi de R$2.776.010,44 e, no contrato de 2010, de R$711.277,07.

Reportagem do jornal "Folha de S. Paulo", há duas semanas, mostrou que a empresa foi contratada em 1992 pela Federação de Economia e Estatística, na gestão da hoje candidata à Presidência Dilma Rousseff. De acordo com a reportagem, os auditores do Tribunal de Contas do Estado constataram que a fundação presidida por Dilma favoreceu a Meta, segundo eles criada seis meses antes para vencer um contrato de R$1,8 milhão (valor corrigido). A empresa gaúcha foi a única a participar da concorrência devido à complexidade e falta de publicidade do edital. O TCE aprovou, no entanto, as gestões de Dilma à frente da Fundação.

Diretora da Meta não explica como pesquisa é feita

De acordo com Jalcira, a falsificação de documentos "não deveria ter acontecido e causou prejuízo para nós". Estudante do 4º período de Ciências Sociais da PUC/RS, ela é identificada em documentação enviada à Secom para o contrato em vigência como diretora-administrativa. Perguntada sobre a estrutura da pesquisa, capaz de colher 12 mil questionários pelo país, ela diz não saber precisar o número de coordenadores "freelancers" que o instituto tem pelo país:

- São vários coordenadores nos estados. Nem sempre são os mesmos. Mas não me sinto à vontade para dizer os nomes.

No mercado desde 1991, a Meta atua nas áreas de "diagnósticos sociais, empresariais e eleitorais". Ligados à vida acadêmica, pesquisadores que foram à Justiça contam que nunca prestaram serviços para a empresa.

- Jamais assinei qualquer contrato. Acredito que meus dados foram conseguidos na plataforma Lattes, do CNPq, e também graças uma senha que só pessoas ligadas à vida acadêmica têm. No material entregue à prefeitura havia até informações sobre outras pesquisas que tínhamos feito para a Meta - diz um dos sete que tiveram a assinatura falsificada e pediu para não ser identificado.

Justiça censura imprensa em TO

DEU EM O GLOBO

O corregedor eleitoral de Tocantins, desembargador Liberato Póvoa, proibiu a imprensa de publicar notícias sobre uma investigação de superfaturamento que envolve o governador Carlos Gaguim (PMDB), candidato à reeleição. A ANJ e a Abert condenaram a decisão de Póvoa.

Desembargador do TO censura imprensa

Corregedor eleitoral proíbe divulgação de notícias de escândalo envolvendo governador Carlos Gaguim (PMDB)

Chico de Gois

BRASÍLIA. O corregedor-geral eleitoral do Tribunal Regional Eleitoral de Tocantins, desembargador Liberato Póvoa, proibiu 84 veículos de comunicação de publicarem qualquer notícia referente a um escândalo que atinge diretamente o governador Carlos Gaguim (PMDB). A medida atinge até veículos que não são de Tocantins, como o jornal "O Estado de S. Paulo". A medida foi determinada por liminar em favor da coligação Força do Povo, que apoia a reeleição de Gaguim.

Gaguim e o procurador-geral do estado, Haroldo Rastoldo, foram citados em conversas telefônicas interceptadas pela Polícia Federal, com autorização judicial, numa investigação sobre superfaturamento de preços na prestação de serviços de limpeza por empresas pertencentes a José Carlos Cepera.

"O governador disse que vamos fazer R$1 bilhão"

Por intermédio de Maurício Manduca, amigo de Gaguim, e que está preso, o grupo de Cepera obteve um contrato de R$332 milhões com a Secretaria de Educação do Tocantins, e planejava conseguir outros. Embora Gaguim e o procurador não fossem o alvo principal da investigação, conduzida em Campinas (SP), os dois apareceram nas ligações telefônicas de Manduca e Cepera. Num destes telefonemas, é informado que o governador foi presenteado por Cepera com um fim de semana em São Paulo, num hotel de luxo, com direito a churrasco, helicóptero e acompanhante. Num outro trecho, Manduca afirma que "o governador disse que vamos fazer R$1 bilhão".

O suposto envolvimento do governador agitou as eleições no estado, onde a disputa está equilibrada - Gaguim tem 44% das intenções de voto e Siqueira Campos (PSDB), 42%, de acordo com pesquisa Ibope divulgada no último dia 21. O tucano apresentou, em seu horário eleitoral, reportagem sobre o escândalo.

O desembargador considerou que as notícias sobre o caso não poderiam ser divulgadas porque a investigação está sob sigilo judicial, e as informações teriam sido retiradas de um computador roubado do Ministério Público de Campinas, que apresentou a denúncia. "Tenho como levianas as divulgações difamatórias e atentatórias ao candidato e a toda sua coligação, manchando, mais uma vez, este estado com acusações infundadas, ilegais e que visam tão só promover a balbúrdia eleitoral no estado", escreveu Póvoa na liminar. A assessoria de imprensa do TRE-TO divulgou nota informando que a decisão era estritamente do desembargador. "Não se trata de decisão do Colegiado do TRE", diz a nota.

ANJ e Abert condenam decisão de desembargador

A Associação Nacional de Jornais (ANJ) e a Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) condenaram a decisão de Póvoa. "A proibição é uma afronta à Constituição brasileira, que veda qualquer tipo de censura prévia. A censura fere o direito dos cidadãos de serem livremente informados, especialmente nesse período que antecede as eleições. A ANJ espera que a própria Justiça revogue a proibição, em respeito aos princípios democráticos da Constituição", diz a nota da ANJ.

- Essas decisões de juízes de primeira instância são bastante preocupantes. Ferem os artigos 5 e 220 da Constituição. Com decisões desse tipo, a população fica privada de uma série de informações num momento importante que o país vive. A população precisa estar informada - disse o diretor-geral da Abert, Roberto Antonik.

Notícia sobre falcatruas no TO põe 'Estado' sob censura

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

O Estado e outros 83 veículos de imprensa estão proibidos de divulgar qualquer informação sobre investigações do Ministério Público de São Paulo que citam o governador Carlos Gaguim (PMDB) como integrante de organização criminosa para fraudar licitações. A decisão de censura aos veículos é do desembargador Liberato Póvoa, do Tribunal Regional Eleitoral do Tocantins, que acolheu pedido da coligação Força do Povo, que apoia Gaguim e é formada por 11 partidos, inclusive o PT. A candidata Dilma Rousseff e o próprio presidente Lula têm frequentado o palanque de Gaguim, que luta pela reeleição no Tocantins. Quem não cumprir a decisão judicial fica sujeito a multa diária no valor de R$ 10 mil. O desembargador veta, ainda, publicação de dados sobre o lobista Maurício Manduca, aliado e amigo de Gaguim, preso há 10 dias. Em janeiro, o governador nomeou para um cargo de "assessoramento superior" a mulher do desembargador que determinou a censura.

Juiz do Tocantins censura "Estado" em caso de fraude que cita governador

Decisão proíbe divulgação de qualquer dado sobre investigação a respeito de participação de Carlos Gaguim em grupo criminoso

Fausto Macedo e Bruno Tavares

O desembargador Liberato Póvoa, do Tribunal Regional Eleitoral do Tocantins (TRE-TO), decretou censura ao Estado e a outros 83 veículos de imprensa, proibindo-os liminarmente de divulgar qualquer informação a respeito de investigação do Ministério Público de São Paulo que cita o governador Carlos Gaguim (PMDB) como integrante de organização criminosa para fraudes em licitações.

A mordaça, em 9 páginas, foi imposta sexta-feira e acolhe pedido em ação de investigação judicial eleitoral da coligação Força do Povo, formada por 11 partidos, inclusive o PT, que apoia Gaguim. Na campanha pela reeleição, Gaguim tem recebido no palanque a companhia do presidente Lula e da candidata petista à Presidência, Dilma Rousseff.

O desembargador arbitrou "para o caso de descumprimento desta decisão" multa diária no valor de R$ 10 mil. Ele veta, ainda, publicação de dados sobre o lobista Maurício Manduca. Aliado e amigo do governador, Manduca está preso há 10 dias. A censura atinge 8 jornais, 11 emissoras de TV, 5 sites, 40 rádios comunitárias e 20 comerciais.

O diretor de Conteúdo do Grupo Estado, Ricardo Gandour, considera um "absurdo a decisão judicial de censurar jornais". Ele ressalta que a medida, "além de afrontar a Constituição, se revela mais uma tentativa de impedir a imprensa de cumprir seu papel histórico de fiscalizar a gestão pública".

O gerente jurídico do Estado, Olavo Torrano, disse que a decisão "causa preocupação e perplexidade". O jornal vai recorrer.

A ação foi proposta contra a coligação Tocantins Levado a Sério, de Siqueira Campos (PSDB), opositor de Gaguim, que estaria veiculando "material ofensivo, inverídico e calunioso". O ponto crucial do despacho de Póvoa é o furto de um computador do Ministério Público paulista em Campinas. Os promotores investigam empresários por fraudes de R$ 615 milhões em licitações dirigidas em 11 prefeituras de São Paulo e no Tocantins.

Na madrugada de quinta-feira, uma sala da promotoria foi arrombada. O único item levado foi a CPU que armazenava arquivos da operação que revela os movimentos e negócios do lobista e sua aliança com Gaguim.

O desembargador assinala que a investigação corre sob segredo de Justiça e sustenta que os dados sobre o governador foram publicados a partir do roubo do computador - desde sábado, 18, cinco dias antes do roubo, o Estado vem noticiando o caso.

O desembargador reputa "levianas as divulgações difamatórias e atentatórias" a Gaguim. Segundo ele, "o que se veicula maliciosamente é fruto de informação obtida por meio ilícito que, por si só, deveria ser rechaçado pela mídia". "A liberdade de expressão não autoriza a veiculação de propaganda irresponsável, que não se saiba a origem, a fonte. Tudo fora disso fere a Constituição e atinge profundamente o Estado Democrático."

"Por essas razões tenho que essa balbúrdia deve cessar", afirma. "Determino que todos os meios de comunicação abstenham-se da utilização, de qualquer forma, direta ou indireta, ou publicação dos dados relativos ao candidato (Gaguim) ou qualquer membro de sua equipe de governo, quanto aos fatos investigados."

No governo Lula, Presidência concentrou poderes e multiplicou cargos e verbas

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Orçamento aumentou, em valores já corrigidos, de R$ 3,7 bi no final do governo FHC para R$ 8,3 bi neste ano

Quadro de pessoal da Presidência aumentou pelo menos 150% nos 8 anos de gestão petista no Palácio do Planalto

Gustavo Patu

DE BRASÍLIA - Ao longo de seus oito anos de mandato, Luiz Inácio Lula da Silva promoveu uma multiplicação sem precedentes de estruturas, cargos, verbas e poderes da Presidência da República, o que também ajuda a explicar por que escândalos se concentraram no Palácio do Planalto.

O orçamento da Presidência e dos órgãos sob seu comando direto somava, em valores já corrigidos pela inflação, R$ 3,7 bilhões no final do governo FHC. No final da administração petista, são R$ 8,3 bilhões -ou R$ 9,2 bilhões se contabilizado o Ministério da Pesca, que tem orçamento separado, mas é vinculado à Presidência.

A expansão, de 126% no cálculo mais comedido, superou com folga a do restante da máquina federal -de lá para cá, as verbas de ministérios, autarquias, fundações, Legislativo e Judiciário tiveram juntas aumento de 70%.

Mas é na distribuição interna dos recursos que estão os exemplos mais eloquentes da superpresidência de Lula.Só o gabinete presidencial teve seus recursos multiplicados por cinco. Na classificação orçamentária, é onde está o núcleo central do poder palaciano, incluindo a Casa Civil da qual saíram José Dirceu, acusado de comandar o mensalão, Dilma Rousseff, para a campanha, e Erenice Guerra, após a revelação de que havia um esquema de facilitação de interesses privados no ministério.

É ainda onde foram concentradas todas as verbas da publicidade oficial, antes distribuídas entre os ministérios e hoje a cargo da Secretaria de Comunicação Social, entregue em 2007 ao jornalista Franklin Martins, que ganhou status de ministro.

Naquele ano foi criada uma estatal subordinada a Franklin, a Empresa Brasil de Comunicação, que substituiu a Radiobrás e tem hoje orçamento -separado do gabinete presidencial- equivalente a quase o quádruplo do contabilizado em 2002.

A cargo da secretaria e da empresa está o programa "Democratização do acesso à informação jornalística, educacional e cultural". Trata-se, principalmente, da produção e distribuição de reportagens sobre o governo.

Além de mais dinheiro, há mais gente no entorno presidencial. Sob Lula, o quadro de pessoal da Presidência aumentou acima dos 250%, enquanto no restante do Executivo civil a taxa foi de 13%.

É verdade que a maior parte desse aumento se deve à Advocacia-Geral da União, que, além de contratar novos funcionários por concursos, absorveu procuradores antes distribuídos em outros órgãos. Desconsiderada a AGU, o contingente cresceu 150%, para 7.856 pessoas em maio.

No gabinete do presidente, a grande maioria ocupa cargos e funções de confiança, sejam os de livre nomeação, sejam os reservados a servidores requisitados de outros órgãos -eram os casos, respectivamente, de Vinícius Castro e Stevan Knezevic, que deixaram a Casa Civil na esteira do caso Erenice.

A Presidência também cresceu com a criação de novas estruturas e a absorção de órgãos que anteriormente estavam em ministérios. No governo Lula, o Planalto passou a incluir as secretarias especiais de Portos, Direitos Humanos, Políticas para as Mulheres e Igualdade Racial.

A Controladoria-Geral da União ganhou orçamento próprio. O Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) saiu do Planejamento, teve mais verbas e fez o maior concurso de sua história.

Expansão foi mais veloz no 2º mandato

DE BRASÍLIA - A expansão da Presidência no governo Lula acompanhou a escalada da popularidade do presidente e a derrocada dos ministros fortes, como Antonio Palocci, da Fazenda.

Verbas e cargos do Planalto proliferaram mais rapidamente no segundo mandato, quando não havia mais sombras no governo ou no PT à autoridade presidencial. Não por acaso, Lula escolheu sozinho no núcleo palaciano sua principal ministra e candidata à sucessora.

Dilma Rousseff passou a coordenar o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), prioridade da segunda administração petista, e a ter voz em quase todas as principais iniciativas do Executivo.

Sob novo comando, o Ipea produziu trabalhos sobre teses caras ao governo, como a defesa da ampliação do Estado.

Atualmente, há 13 ministros diretamente vinculados ao Planalto, mais de um terço dos 37 existentes na Esplanada.
(GP)

Governistas conseguem 94 cadeiras e ficam sem maioria absoluta na Venezuela

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

DE SÃO PAULO - Com quase todas as urnas contabilizadas, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela divulgou um novo balanço das eleições legislativas deste domingo, que dá ainda maior vantagem aos governistas do PSUV, mas os mantém longe da maioria absoluta de dois terços da Assembleia Nacional --o que permitiria ao presidente Hugo Chávez avançar sem obstáculos em sua revolução bolivariana.

Segundo o novo balanço, o Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV, governista) tem ao menos 94 deputados, contra 60 da coligação da oposição Mesa da Unidade Democrática e outros dois da esquerda dissidente do chavismo Patria Para Todos (PPT).

Uma maioria simples, de até 109 das 165 vagas no Parlamento, força o governo Chávez a negociar com a oposição para a aprovação de leis orgânicas e de novos integrantes dos demais poderes públicos, como o Supremo Tribunal, a Procuradoria e o CNE, além de convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte.

A grande margem, contudo, foi recebida como uma vitória pelo presidente, que transformou as eleições deste domingo em um plebiscito de sua popularidade e um termômetro para sua disputa à reeleição em 2012.

"Bom, meus queridos compatriotas, foi uma grande jornada e conseguimos uma sólida vitória. Suficiente para continuar aprofundando o socialismo bolivariano e democrático. Devemos continuar fortalecendo a revolução!", afirmou Chávez na rede social Twitter, sem aparecer em público após a divulgação dos resultados.

O nome de Chávez, que foi eleito presidente pela primeira vez em 1998, não estava na cédula eleitoral, mas a personalidade fortíssima de Chávez dominou a campanha --e expôs uma acentuada divisão política em um país com vastas riquezas geradas pelo petróleo e por minerais e com forte desigualdade entre ricos e pobres.

O ex-soldado paraquedista postou inúmeras mensagens de Twitter ao longo da noite, antes da abertura das urnas, às 6h, incitando seus correligionários a irem às urnas depositar seus votos.

Aqueles que apoiam Chávez vêem-no como um defensor dos muitos pobres da Venezuela, mas críticos acusam-no de ser um ditador vulgar. Sua popularidade oscila em média entre 40% e 50%, muito abaixo do pico atingido há alguns anos.

A participação dos eleitores foi de 66,45%, uma das mais altas da história para eleições legislativas.

Mas não se sabe, contudo, o total de votos recebidos por cada força política, mas segundo a oposição os candidatos contrários a Chávez receberam 52% dos votos.

Se este número for confirmado, a mensagem para Chávez seria preocupante, já que se a votação de domingo na Venezuela fosse para presidente, o chefe de Estado, que tem altos índices de popularidade, teria sido derrotado. Mas no momento, em virtude de uma polêmica lei eleitoral de proporcionalidade, aprovada há poucos meses, a oposição pode ganhar no número de votos mas perder no número de deputados, o que cria uma situação inédita no país.

A lei determina que os Estados com população menor, onde o governo de Chávez é mais popular, tenham uma representação no Parlamento similar a dos Estados com maior população, que atualmente são governados pela oposição.

O porta-voz da coligação opositora MUD, Ramón Guillermo Aveledo, disse que o eleitorado opositor "deverá crescer" nos próximos dois anos, antecipando a disputa para as eleições presidenciais de 2012. "O que ficou demonstrado é que o país tem uma alternativa que se formou graças à convergência e à unidade de gente muito diferente", afirmou.

A oposição não possuía representação no Parlamento venezuelano desde 2005, quando decidiu retirar suas candidaturas na última hora e optou por não concorrer às eleições, alegando supostas irregularidades no processo eleitoral, que não foram comprovadas posteriormente. Desde então, a Assembleia Nacional é governada por maioria governista qualificada.

Com agências internacionais

Meu povo, meu poema:: Ferreira Gullar

Meu povo e meu poema crescem juntos
como cresce no fruto
a árvore nova

No povo meu poema vai nascendo
como no canavial
nasce verde o açúcar

No povo meu poema está maduro
como o sol
na garganta do futuro

Meu povo em meu poema
se reflete
como a espiga se funde em terra fértil

Ao povo seu poema aqui devolvo
menos como quem canta
do que planta

- ouça a narração do poema na voz de Ferreira Gullar em WindowsMedia