segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Zé tinha razão:: Ricardo Noblat

DEU EM O GLOBO

"O partido que ajuda a ganhar também ajuda a governar". (Senador Valdir Raupp, presidente em exercício do PMDB)

Por ora, tudo indica que Zé tinha razão. O Zé, aí, é José Dirceu, ex-ministro da Casa Civil do primeiro governo Lula. Em setembro último, durante palestra em Salvador para cerca de 100 sindicalistas, ele profetizou: “A eleição de Dilma émais importante do que a de Lula porque é a eleição do projeto político. Porque Dilma nos representa”.

Não ficou só nisso. Sucedido na Casa Civil pela “querida companheira de armas”, Dirceu ainda ensinou aos sindicalistas: “Se queremos aprofundar as mudanças, temos que cuidar do partido, da organização popular. Temos que cuidar da consciência política. Temos de fazer a reforma política e nos trans- formar em maioria.”

Lula recusou-se a pagar o preço pedido pelo PMDB para governarjunto com ele entre 2003 e 2006. Aí estourou o escândalo domensalão. De 2007 a 2010, Lula pagou o preço entregando ao PMDB seis ministérios e centenas de cargos. Aí governou mais ou menos em paz e ainda conseguiu fazer o seu sucessor.O PT não gostou nem um pouco.

Agora, está gostando. “Vamos perdendo de goleada até aqui”, choraminga uma cabeça coroada do PMDB. “O PT faz conosco o que o PSDB imaginou fazer no início do governo de Fernando Henrique e depois desistiu”. No primeirosemestre de 1995, Sérgio Motta, então ministro das Comunicações, tomou uns tragos a mais e desabafou: — Vamos comer o PMDB pelas bordas. Nosso projeto de poder é de 20 anos.

O do ex-presidente Fernando Collor era também de 20 anos. Acabou em três. O do PT éde mais de 20. Oito já se passaram com Lula. Dilma tem quatropela frente. Poderá ter mais quatro. Ou então se convoca logo Lula e ele garante pelo menos mais oito. Até lá, o PT terá tido tempo suficiente para suceder oPMDB como omaior partido do país.

É o que está nas pranchetas de quem conduz os destinos do PT.Resta combinar com os brasileiros e o destino. Dilma parece fazer muito bem oque lhe cabe. Reduziu o número de ministérios do PMDB de seis para quatro. Deu 17 para o PT. Extraiu dos quatrodo PMDB as fatias, digamos assim, mais suculentas. Endinheiradas — pronto, disse.

O mais notável gesto de hostilidade ao PMDB foi protagonizado por Fernando Bezerra Coelho, do PSB, que assumiu o ministério da Integração Nacional avisando em voz alta a quem interessar possa: “Recebi ordens para tirar daqui gente ligada ao PMDB e ao ex- ministro Geddel Vieira Lima”. Geddel preferiu se fingir de surdo.

O PMDB está atordoado — essa éque éa verdade. O PT ocupa todos os espaços possíveis no primeiroeno segundo escalões do governo —eé ele, o PMDB, no entanto, quem fica com a fama de fisiológico, inimigo númeroum da moral e dos bons costumes na administração pública. Não é justo, convenhamos. Eos outros? Cadê?

Para sair das cordas, o PMDB só terá mesmo um jeito: aprontar em breve alguma surpresa desagradável para a nova presidente. É o que está sendo amadurecido.

Sabor de pizza

Exatas 25 pessoas protestaram no último sábado defronte da embaixada do Brasil, em Roma, contra a concessão de refúgio ao ex-terrorista italiano Cesare Battisti. O assunto esfriou nos jornais. Giorgio Napolitano, de 85 anos, o presidente da Itália, disse que seu país falhou ao não explicar direito a países amigos a natureza da sua política antiterror. O caso Battisti deverá provocar algum barulho no Congresso. E ir parar na Corte de Haia, se o Supremo Tribunal Federal confirmar a decisão de Lula favorável ao refúgio. Mas é só. A Itália assinou um acordo de sete bilhões de euros para construir navios destinados à Marinha brasileira. Sabe como é...

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