sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Prejuízos públicos e privados:: Vinicius Torres Freire

Apesar do risco político, expansão da banca pública no Brasil deu certo na reação à crise de 2008/09

Faz algum tempo deixou de haver discussões renhidas a respeito do avanço dos bancos públicos. O relativo sucesso do aumento do crédito nos estatais (emprestaram mais e não perderam dinheiro) ajudou a calar críticos mais rudimentares. As evidências do relativo sucesso recente da banca aparecem em alguns dados Relatório de Economia Bancária e Crédito de 2010, divulgado ontem pelo Banco Central.

O "Relatório" mostra também como tem caído o "spread" bancário -a diferença entre a taxa de aplicação dos bancos e o custo de captação de recursos: a diferença entre comprar e vender dinheiro.

A queda dos juros básicos e a redução de custos administrativos dos bancos ajudaram a baratear o custo do dinheiro, assim como a redução de alguns custos regulatórios. Impostos e alta margem de lucro dos bancos ainda são um problema.

Dados do "Relatório" mostram equívocos dos cacarejos mais ideológicos a respeito da expansão do crédito nos bancos estatais entre 2008 e 2010. Entre meados de 2009 e de 2010, a banca pública chegou a ser responsável por 80% do aumento do estoque de crédito. Como se recorda, diante da seca de crédito global e da ameaça de recessão feia no Brasil, o governo Lula fez com que os bancos públicos emprestassem mais. 

De quebra, fez dívida pública de centenas de bilhões de reais a fim de reforçar o caixa do BNDES e, assim, expandir os empréstimos do bancão.

A crítica ao ativismo da banca pública baseava-se no péssimo histórico dos estatais, que no passado emprestavam de qualquer jeito a qualquer um, muita vez a amigos do poder, levando prejuízos colossais que, enfim, eram cobertos pelo dinheiro dos impostos. Ainda nos anos FHC, o governo federal, nós, cobríamos bilhões desses rombos. Ainda se empresta aos amigos. As perdas com calotes é que são menores.

Os dados mostram que a inadimplência não cresceu nos estatais. Aliás, dado o aumento do peso do BNDES no bolo dos empréstimos, a inadimplência média até caiu (o calote no BNDES é baixíssimo).

Os críticos da ação da banca estatal diziam também que: 1) como são impulsionados pelo governo, empréstimos da banca estatal tendem a ser menos eficientes: não são decisões de mercado, pautadas pelo cálculo de risco e retorno; 2) os bancos estatais tendem a ser menos cautelosos, pois a propriedade do banco não é privada e as perdas podem ser cobertas pelo governo; 3) enfim, a expansão da banca estatal coloca mais dinheiro subsidiado à disposição de empresas privadas; 4) houve excesso nos estatais, o que ajudou a turbinar a inflação: é fato.

Parece quase tudo verdade, mas:

1) a banca estatal foi bem-sucedida, até porque melhoraram os controles internos, os bancos se tornaram mais profissionais e há mais controles democráticos de possíveis lambanças estatais;

2) se os bancos estatais tivessem se retraído tanto quando os privados, é possível que a recessão tivesse sido bem mais feia no Brasil. Assim, as perdas dos bancos privados com inadimplência seriam maiores;

3) como já ocorreu muita vez no Brasil e tem ocorrido de forma torrencial no mundo, os prejuízos e os erros da banca privada também são cobertos pelos governos, isso quando não arrebentam indiretamente todo o sistema econômico.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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