segunda-feira, 16 de maio de 2011

Reflexão do dia – Zygmunt Bauman

Nós nos encontramos num momento de "interregno": velhas maneiras de fazer as coisas não funcionam mais, modos de vida aprendidos e herdados já não são adequados à conditio humana do presente, mas também novas maneiras de lidar com os desafios da contemporaneidade ainda não foram inventados, tampouco adotados. Não sabemos quais formas e configurações existentes precisariam ser "liquefeitas" e substituídas. Diferentemente de nossos ancestrais, não temos uma noção clara de "destinação", nem do que seria, de fato, um modelo de sociedade global, economia global, política global, jurisdição global... Estamos reagindo ao último problema que se apresenta. E tateamos no escuro. Queremos diminuir a poluição por dióxido de carbono desmantelando as termelétricas para substituí-las por usinas atômicas, em que pese o espectro de Chernobyl ou Fukushima pairando sobre nós. Admitamos: hoje mais sentimos do que sabemos. E temos dificuldade em admitir que o poder, isto é, a capacidade de fazer coisas, foi cruelmente separado da política, isto é, a capacidade de decidir quais coisas precisam ser feitas e priorizadas.

Zygmunt Bauman, sociólogo polonês, entrevista: A face humana da sociologia. Sabático/O Estado de S. Paulo, 30/4/2011.


Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO

MEC não vai recolher livro que aceita erro de português
Oposição cobra explicação de Palocci sobre imóveis

FOLHA DE S. PAULO

Aécio articula fusão de siglas de oposição para corrida de 2014
Oposição e OAB cobram Palocci sobre aumento do patrimônio

O ESTADO DE S. PAULO

Crime se infiltra para fraudar licitações, diz novo chefe da PF
Governo propõe desonerar exportações brasileiras

VALOR ECONÔMICO

'Tolerância' provoca perda de mercado na Argentina
G-20 define pacote sobre commodities

BRASIL ECONÔMICO

Restrição a importados pode provocar falta de carro no país
Aumento da renda no campo facilita negociação de crédito pelo agricultor

ESTADO DE MINAS

A festa é azul
Governo tira ONG suspeita do Programa Projovem

CORREIO BRAZILIENSE

Implosão falha duas vezes...... E o Mané resiste
Xô! Político profissional

ZERO HORA

Inter é campeão
Petistas exigem mais cargos no Estado

JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Ressurreição Tricolor

Oposição cobra explicação de Palocci sobre imóveis

Líderes da oposição cobraram ontem explicações do ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, sobre o aumento patrimonial, registrado com a compra de dois imóveis em São Paulo no total de R$ 7,4 milhões, em 2010. Em nota, o ministro disse que os bens foram comprados com recursos de sua empresa de consultoria e que tudo foi declarado à Receita.

Oposição exige explicação de Palocci sobre bens

Ministro diz que comprou imóveis de R$ 7,4 milhões com recursos de consultoria e que tudo foi declarado à Receita

Adriana Vasconcelos, Roberto Maltchik e Tatiana Farah

BRASÍLIA e SÃO PAULO. A oposição decidiu ontem cobrar explicações do chefe da Casa Civil, ministro Antonio Palocci, sobre a origem do dinheiro utilizado por ele para comprar, no fim do ano passado, um apartamento nos Jardins, em São Paulo, de R$ 6,6 milhões. Segundo o jornal “Folha de S. Paulo”, a Projeto, empresa de consultoria de Palocci, registrou a compra do imóvel de 500 metros quadrados em novembro de 2010. Pagou em duas parcelas, de R$ 3,6 milhões e R$ 3milhões. Antes, a Projeto já havia adquirido um escritório em São Paulo por R$ 882 mil. Em nota, o ministro disse que o dinheiro veio dos serviços de consultoria que prestou quando deputado, atividade permitida por lei, e que tudo foi declarado à Receita.

PSDB e DEM pediram que o ministro explique a origem dos recursos. O PPS anunciou que pedirá abertura de investigação na Corregedoria da Câmara, pois, na época da compra do imóvel, Palocci era deputado. O líder do DEM, senador Demóstenes Torres (GO), disse que dará 24 horas para que o ministro esclareça melhor como conseguiu os R$ 7,4milhões. Ambos os imóveis estão registrados em nome da Projeto, empresa de consultoria da qual Palocci possui 99,9% do capital. Com eles, o valor do patrimônio do ministro multiplicou por 20 em quatro anos. Em 2006, Palocci tinha bens no valor de R$ 375 mil.

— Se não se explicar até amanhã (hoje), terça apresento representação junto ao Ministério Público para que ele seja investigado por enriquecimento ilícito —disse Demóstenes.

Os presidentes do PSDB, deputado Sérgio Guerra (PE), e do DEM, senador José Agripino (RN), foram mais cautelosos do que Demóstenes.

—Palocci certamente vai explicar a origem desses recursos e mostrar a quem prestou consultoria — disse Guerra.

—Se pairam dúvidas sobre a evolução patrimonial do ministro, a Receita Federal deveria ser a primeira a cobrar explicações — acrescentou Agripino.

Em nota, Palocci disse que comprou o apartamento com a renda de consultoria econômico-financeira, pela Projeto, e que todos os dados sobre a empresa foram prestados à Comissão de

Ética Pública da Presidência, antes de ele assumir o posto de ministro. A Comissão de Ética tem prerrogativa de analisar o comportamento dos ministros e pode até recomendar punições à

Presidência. Hoje, a Comissão deve se reunir, pela agenda anual, e pode analisar o caso. Segundo a nota, Palocci pagou impostos pelos rendimentos obtidos com a consultoria.

As movimentações da empresa, diz, foram informadas regularmente à Receita. “Ressalta que no período de atividade a Projeto prestou serviços para clientes da iniciativa privada, tendo recolhido sobre a remuneração todos os tributos devidos. O patrimônio auferido pela empresa foi fruto desta atividade e é compatível com as receitas realizadas nos anos de exercício. (...) Todas as informações fiscais e contábeis da empresa Projeto são regularmente enviadas à Receita Federal, de acordo com as normas vigentes”, diz a nota do ministro.

Confiante de que Palocci terá as explicações necessárias, o líder do PT, senador Humberto Costa (PE), saiu em sua defesa:

— Temos total confiança na honestidade e dignidade do ministro. Não é a primeira vez em que é vítima de denúncia ou suspeita. Por isso, temos de dar oportunidade para se explicar . Não pode haver prejulgamento.

Ministro telefonou para Jorge Hage para se explicar

Ontem, Palocci telefonou ao ministro da Controladoria Geral da União (CGU), Jorge Hage, para dar explicações. Disse que forneceu todos os dados solicitados pelos órgãos competentes

—a Comissão de Ética Pública e o Departamento de Pessoal da Casa Civil — sobre a empresa. Desde dezembro de 2010, a Projeto aparece na Junta Comercial como administradora de imóveis. Palocci continua sendo o principal acionista. O ministro, diz a assessoria, não mora no apartamento de R$ 6,6 milhões, que ocupa um andar inteiro, tem quatro suítes e cinco vagas na garagem. O Planalto e a Controladoria Geral da União não se pronunciaram sobre o caso.

Para o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (SP), as explicações de Palocci são “amplamente satisfatórias”:

— Não tem o menor sentido essa ameaça do senador Demóstenes — disse Vaccarezza, afirmando que vai tentar barrar tentativas de convocação do ministro para depor no Congresso.

Já o deputado ACM Neto (DEM-BA) cobrou:

—O ministro precisa justificar a evolução patrimonial. É assunto sério. Muitos petistas tiveram enriquecimento evidente, como o ex-ministro José Dirceu e o ex-presidente Lula dando palestras milionárias. Com a mulher , Margareth, Palocci abriu a Projeto Consultoria, Planejamento e Eventos Ltda. em agosto de 2006, com R$ 2mil.

No mesmo ano, a empresa mudou para Projeto Consultoria Financeira e Econômica, coma entrada de um sócio, o economista Lucas Martins Novaes, com cota de R$ 20, segundo a Junta Comercial de São Paulo (Jucesp). Em 2009, o capital declarado à Jucesp cresceu para R$ 52 mil e, em 2010, dobrou para R$ 102 mil. Em dezembro, Palocci mudou o nome da firma para Projeto Administração de Imóveis. O economista Celso dos Santos Fonseca, diretor do Ipea no primeiro governo Lula, foi administrador da empresa. Ele foi substituído, no fim de 2010, por Rita de Cássia dos Santos.

FONTE: O GLOBO

Cresce pressão aliada por cargos

Partidos da base estão insatisfeitos com resistência de Dilma em fazer nomeações

Maria Lima e Gerson Camarotti

BRASÍLIA - Com o argumento de que é um governo de continuidade e que os partidos da base são os mesmos, a presidente Dilma Rousseff tem levado os dirigentes partidários de sua aliança à loucura ao resistir em fazer nomeações para cargos federais. Depois de quase seis meses de mandato, os aliados, cada um com uma lista interminável de cargos na mão, alegam que não há mais desculpa para não atender às demandas por milhares de cargos de segundo, terceiro e até quarto escalões em aberto nos estados. A lista mais conhecida, já nas mãos da presidente, é a do próprio PT, com mais de 120 cargos que os petistas pretendem ocupar. Os partidos, de fato, são os mesmos, mas, com a eleição do ano passado, houve mudanças na correlação de forças de líderes regionais. Os que ascenderam não se conformam em não poder nomear os seus. E os fortes que ficaram sem mandato também querem manter seus apadrinhados e garantir espaço para eles próprios. Mas Dilma anda resistindo e avisou que não vai aceitar ser pressionada. Pretende dar um freio no apetite dos aliados. Em frente ao Palácio do Planalto, nos salões e plenários do Congresso Nacional, o recado também já foi dado: a situação da base governista no Congresso não anda muito satisfatória para a presidente continuar freando as nomeações e desagradando aos aliados.

Mau resultado no 1o - teste de Dilma

O resultado catastrófico do primeiro grande teste de Dilma em uma votação importante, ado polêmico Código Florestal, foi uma prova disso. Há ameaças até mesmo do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), de desobedecer a orientação do governo e incluir na pauta do Congresso a votação do veto do ex-presidente Lula àdistribuição dos royalties do petróleo entre todos os estados. Sarney, entre outras insatisfações, teria ficado inconformado com o rebaixamento de José Antonio Muniz, deslocado da presidência da Eletrobras para uma diretoria da estatal. Parlamentares da base passaram a ser avisados pelo ministro da Casa Civil, Antonio Palocci , de que não adianta ficar cobrando a nomeação para cargos, porque as demandas já estão apresentadas e agora é preciso esperar o tempo da presidente. Dilma não gostou nada da afirmação pública do novo presidente do PT, Rui Falcão, de que o partido entregou uma lista com 120 cargos. Segundo ministros, ela não esperava esse tipo de pressão pública do próprio PT. Isso porque reabre a disputa entre aliados e aumenta as insatisfações. Ela nem recebeu o novo presidente do PT até agora. Quando passou ocargo de presidente da sigla para Falcão, José Eduardo Dutra lhe repassou uma lista com pedidos de nomeação para secretarias, delegacias esuperintendências de estatais e dos ministérios nos estados.

PT apresentou uma lista de desalojados

Com a licença médica de Dutra, coube ao secretário de Organização do PT,Paulo Frateschi, coordenar uma comissão que fez um levantamento de todos os quadros do PT que estão desalojados, e esses nomes estão sendo encaixados nos cargos pretendidos: aex-governadora do Pará Ana Júlia Carepa, aex-senadora Fátima Cleide, o ex-ministro Patrus Ananias e outros nomes de maior expressão do partido. Nesta relação, Ana Júlia pode ir tanto para a presidência do Basa (Banco da Amazônia) como para diretorias da Chesf (Companhia Hidrelétrica do Rio São Francisco) ou para a superintendência do Incra em Rondônia. “Toda vez que alguém pede um desses cargos, tem de saber que esse é um governo de continuidade e dá trabalho tirar quem está lá para substituir. Se tem alguém fora do quadro técnico, é porque alguém colocou lá. E, se for tirado, esse alguém vai aparecer”, pondera um dos negociadores do governo.

Os principais cargos do segundo escalão já foram ocupados, mas são muitos os de outros níveis de governo ainda sem solução.

—Agora que foi definido o segundo escalão, vai ser mais fácil mexer nos outros cargos. Não tem sentido ter escolhido o diretor da Funasa e não escolher as delegacias (nos estados) — afirma o secretário nacional de Comunicação do PT, deputado André Vargas (PT-PR). Presidente de honra do PT no Pará, o ex-deputado Paulo Rocha disse ainda aguardar que Dilma indique uma pessoa do governo para resolver os cargos no seu estado:

—Aqui no Pará não resolveram absolutamente nada. A promessa é de começar a processar nos próximos oito dias, para distensionar essa situação.

No PMDB, pleitos de quem não se elegeu

Depois do PT, as maiores reclamações são dos peemedebistas. Ainda durante a transição, os negociadores do PMDB, entre eles o vice-presidente Michel Temer, repassaram a lista de pleitos a Palocci e Dilma. No PMDB, há uma infinidade de pleitos. Há os reprovados nas urnas ano passado, como Hélio Costa (MG), José Maranhão (PB) e Iris Rezende (GO), além de cargos nas representações dos ministérios e estatais nos estados.

— Ainda na transição, foi entregue ao governo uma lista com os pleitos do partido. Da parte do PMDB, muito pouca coisa aconteceu — confirma o ex-deputado Elizeu Padilha, um dos assessores especiais de Temer. Outro peemedebista do Congresso desabafa:

— Dilma não gosta de discutir isso, quer manter a composição antiga para não fazer barulho. E Palocci é muito lento. Há descontentamento também nos partidos menores, como oPC-doB. Os comunistas reclamam até hoje da dificuldade de arrumar alguma vaga no governo para o ex-depu-tado Flávio Dino, que foi sacrificado no Maranhão por causa do apoio de Dilma e Lula à reeleição da governadora Roseana Sarney.

— Qual a dificuldade de acomodar uma pessoa com a competência de Flávio Dino no governo? Por que oSarney não quer? Como assim? O Palocci mantém uma linha de espatifar a base e cuidar de fortalecer o nicho dele, que é o PT —afirma a deputada Perpétua Almeida (PCdoB-AC), resumindo o clima de insatisfação no histórico aliado do PT. ■

OS SEM EMPREGO

ANA JÚLIA CAREPA (PT)

Ex-governadora do Pará, perdeu a disputa pela reeleição para o tucano Simão Jatene

IRIS REZENDE (PMDB)

Ex-prefeito de Goiânia, perdeu a eleição para o governo de Goiás para o tucano Marconi Perillo

JOSÉ MARANHÃO (PMDB)

Ex-governador da Paraíba, não conseguiu se reeleger . Perdeu para Ricardo Coutinho (PSB)

PATRUS ANANIAS (PT)

Ex-ministro do Desenvolvimento Social, perdeu em Minas como vice na chapa de Hélio Costa

HÉLIO COSTA (PMDB)

Ex-ministro das Comunicações, perdeu o governo de Minas para o tucano Antônio Anastasia

FLÁVIO DINO (PCdoB)

Ex-deputado federal, perdeu a eleição para o governo do Maranhão para Roseana Sarney

FÁTIMA CLEIDE (PT)

Ex-senadora por Rondônia, não conseguiu se reeleger nas eleições de 2010

FONTE: O GLOBO

Oposição e OAB cobram Palocci sobre aumento do patrimônio

Oposição e OAB cobram Palocci sobre patrimônio

Total de bens do ministro da Casa Civil cresceu 20 vezes de 2006 a 2010

PSDB, DEM e PPS pedem que Palocci explique a compra de apartamento de R$ 6,6 milhões e escritório de R$ 882 mil

BRASÍLIA - A Ordem dos Advogados do Brasil e os três maiores partidos de oposição cobraram ontem esclarecimentos ao ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, sobre a evolução de seu patrimônio, 20 vezes maior que o total declarado em 2006.

Ontem, a Folha revelou que o ministro adquiriu dois imóveis em área nobre de São Paulo: um apartamento de R$ 6,6 milhões e um escritório de R$ 882 mil.

Em 2006, quando foi candidato a deputado federal, Palocci declarou à Justiça Eleitoral possuir um total de R$ 375 mil em bens -em números corrigidos.

Nos quatro anos de mandato, quando se destacou na bancada do PT em debates importantes da Câmara, como o da reforma tributária, Palocci recebeu em salários R$ 974 mil, brutos.

"A notícia preocupa, e muito. Para um aumento de patrimônio em tão pouco tempo, de um homem público, exige-se explicação", declarou Ophir Cavalcante, presidente da OAB.

O DEM instou a Receita Federal a apurar o caso. "Impõe-se uma manifestação sobre o assunto. Se as justificativas não forem suficientes, tomaremos providências", disse o presidente do partido, senador Agripino Maia (RN).

"Não vamos fazer prejulgamento. Mas é melhor o ministro esclarecer qual a renda da empresa, quais os serviços prestados e qual o lucro que obteve. Como homem público, não tem razão para não dar explicações", disse o presidente do PSDB, deputado Sérgio Guerra (PE).

O PPS prometeu acionar o Conselho de Ética da Câmara. "Dinheiro não nasce no chão. Muito me estranha esses enriquecimentos tão rápidos", afirmou Roberto Freire (SP), deputado e presidente nacional da legenda.

O líder do governo na Câmara, deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), defendeu ontem o ministro. "Confio no Palocci. Ele deu uma explicação e, para mim, isso é página virada", declarou.

Os dois imóveis foram comprados por Palocci por meio da empresa Projeto, da qual ele é sócio principal, com 99,9% do capital.

Segundo o ministro, as transações, feitas diretamente com as construtoras, foram bancadas com recursos próprios da empresa.

A Projeto foi criada em 2006 como consultoria e foi transformada em administradora de imóveis em 2010.

A Folha foi duas vezes à sede da empresa -o escritório de 183 m2, comprado em 2009 por R$ 882 mil- e encontrou a sala fechada, sem placa na porta nem identificação na recepção do prédio. A única pessoa que atendeu os telefonemas diz não saber a atividade da Projeto.

O apartamento fica perto dali. Ocupa um andar inteiro do edifício e tem 502 m2 de área útil (quatro suítes e cinco vagas na garagem).

Palocci deixou o cargo de ministro da Fazenda em março de 2006, depois de se envolver no escândalo da quebra de sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa.

FOLHA DE S. PAULO

Deem-se ao respeito!:: Ricardo Noblat

“A ignorância sobre o papel da imprensa perdura nos lugares onde há voto de cabresto.” (Deputado Chico Alencar, PSOL-RJ)

Achei engraçado quando ouvi umcolega dizer que a pressão popular fora, sim, responsável pelo cancelamento da compra de uma nova frota de carros para os vereadores do Rio de Janeiro. Que pressão? A do balconista José Joel de Lima, que se acorrentou na mureta em frente à Câmara para protestar? Ou a das cem pessoas que na ocasião o apoiaram?

Aposto que nove em cada dez cariocas, se consultados, repudiariam a decisão da Câmara de gastar R$ 2,3 milhões para que todos os vereadores possam passear por aí em possantes carros novinhos em folha. Somente em duas capitais, vereadores desfrutam de tamanho luxo: Curitiba e Goiânia.

Os do Rio perderam tal mordomia há 20 anos e se ressentem disso. Mas recebem um cartão que lhes permite gastar mensalmente por conta da Câmara até mil litros de gasolina. Com mil litros poderiam percorrer 172 vezes os 58 quilômetros da Avenida Brasil. Ou dar um pulo até Manaus com direito à volta.

Onde se leu acima “pressão popular” leia-se, na verdade, “pressão da mídia”. Porque foi o barulho produzido por jornais, emissoras de rádio e de televisão que obrigou os vereadores a reverem a decisão da compra dos carros, aprovada por 41 de 43 deles, em sessão no final de abril último. Pegara mal.

Em recente encontro do seu partido, o senador José Sarney (PMDB-AP) acusou a mídia de disputar com o Congresso o papel de representar o povo. Disse: “Os deputados não sabem por que foram eleitos, e o eleitor não sabe mais por que os elegeu. A partir daí, a mídia entra ediz: Não, nós passamos a representar o povo.”

A mídia não representa o povo. Não tem delegação para isso. Caso queira, porém, corresponder ao que o povo espera dela, deve atuar em sintonia com seus sentimentos. Nem sempre a

“opinião publicada” é muito diferente da “opinião pública”. Não há diferença, por exemplo, quando se trata de cobrar seriedade no uso do nosso dinheiro.

Outro dia, o Senado anunciou que trocaria sua frota de carros próprios por carros alugados. E que assim economizaria quase R$ 6 milhões. A economia seria feita em cima dos funcionários que administram a frota atual. Só que eles não podem ser demitidos. Serão remanejados. Não haverá economia, portanto.

Sarney: os políticos são pouco respeitados porque não se dão ao respeito.

Palocci (1)

Nos últimos quatro anos como deputado federal, Antonio Palocci, chefe da Casa Civil da Presidência da República, multiplicou por 20 o valor do seu patrimônio, segundo reportagem publicada pela “Folha de S.Paulo”. O que tinha em 2006 valia R$ 375 mil. Há um ano, comprou um escritório em área nobre da capital paulista por R$ 882 mil. Pouco antes de virar ministro, e na mesma cidade, comprou umapartamento de luxo por R$ 6,6 milhões. Como deputado, em quatro anos, recebeu em salários R$ 974 mil, brutos. O que fez Palocci enriquecer tão rapidamente?

Palocci (2)

Resposta: serviços de consultoria. Quais foram seus clientes? Não diz. Quanto recebeu de cada um deles? Não diz. Qual a natureza da consultoria prestada? Não diz. Seus clientes tinham negócios com o governo? Não diz. Seus clientes passaram a ter negócios com o governo depois que ele lhes deu consultoria? Não diz. Servidor público comum é proibido de exercer cargo de administração em empresa privada. Servidor público eleito pode. Até prova em contrário, Palocci é um político honesto e, agora, rico. Mas que deve explicações ao distinto público.

FONTE: O GLOBO

Mais Estados, não: mais Ibama, sim:: Renato Janine Ribeiro

Duas semanas atrás, tivemos uma surpresa quase inacreditável: o Supremo Tribunal Federal, por unanimidade, reconheceu plenos direitos aos homossexuais. Algo que eu não imaginava possível e que dificilmente o Congresso teria a coragem de votar, ou o poder executivo de sancionar, após a baixaria que foi a manipulação da questão do aborto, na campanha eleitoral. Mas, no Brasil, é raro uma notícia boa ser servida sem uma guarnição amarga: quase na mesma hora, soubemos que o Congresso aprovara plebiscitos, a realizarem-se ainda este ano, para criar dois novos Estados que seriam desmembrados do Pará.
Se essas consultas tiverem lugar só nos municípios que viriam a constituir as novas unidades da Federação, é quase certo que vença o “sim”. Na verdade, entendo que deveriam ser consultados todos os paraenses, porque seu atual Estado perderá população, território e recursos; ou todos os brasileiros, porque deveremos financiar as eventuais unidades federadas e, além disso, mudará o perfil da Câmara e do Senado.

Mas, para a política tradicional, é um presente dos céus. Haverá mais dois governadores (um para cada Estado novo), seus vices, 48 deputados estaduais, 16 federais, seis senadores, uns vinte ou mais secretários de Estado, outro tanto de desembargadores dos Tribunais de Justiça, membros dos Tribunais de Contas, isso para ficar só no topo das máquinas políticas. Um cálculo do IPEA, mencionado no site do professor Fábio Fonseca de Castro (http://hupomnemata.blogspot.com/2011/05/os-quatro-custos-de-dividir.html), da Universidade Federal do Pará, considera que um eventual Estado do Tapajós gastaria 34% do seu PIB só para manter sua administração. Essa elevada conta não inclui os investimentos que cada Estado deveria realizar, e sem os quais não haveria sentido em criá-los.

Aos cidadãos dos possíveis Estados se venderá a ilusão de que sua vida melhorará – e aqui está o problema. A ideia de que, pela criação de novas unidades federadas, as regiões mais pobres se desenvolverão é uma grande falácia. Está presa a um modelo político superado, que supõe que, multiplicando as funções de governo, o Estado fica mais perto das pessoas e eleva os indicadores sociais.

Com a mesma argumentação, por sinal, temos hoje propostas criando um total de dezoito novos Estados. Passaríamos das atuais 27 unidades federadas para 45; o Senado subiria para 135 membros e a Câmara aumentaria em cem deputados ou mais, sem contar pelo menos 300 novos deputados estaduais. Todos esses possíveis Estados, com a exceção talvez de São Paulo do Oeste e do Triângulo Mineiro, precisariam de aportes federais para sua simples subsistência. Também por isso, seriam incapazes de realizar os investimentos sociais e econômicos que deveriam fazer. Na verdade, como o Brasil aumentaria os gastos com administração, teria menos dinheiro para a economia e a sociedade. O poder público despenderia mais com atividades-meio, à custa de suas atividades-fim.

Para sentirmos a dimensão histórica dessas propostas, basta lembrar que, nos 71 anos que foram da proclamação da República até a transferência da capital para Brasília, em 1960, não foi criado nenhum novo Estado – aliás, a conta exata é de 107 anos, desde que o Amazonas se separou do Pará (1850) e o Paraná de São Paulo (1853), só que na época essas unidades se chamavam províncias e não Estados. Já no meio século que vem desde a mudança do Distrito Federal para o Planalto, foram criados seis Estados, aos quais agora se somariam Tapajós e Carajás, a maioria deles com poucos recursos próprios.

E no entanto... Nossos Estados mais pobres, situados em especial na Amazônia, no Centro-Oeste e no Nordeste, e ainda mais suas eventuais subdivisões ora cogitadas, podem conhecer um extraordinário desenvolvimento se sairmos desse modelo de criação de Executivo, Legislativo e Judiciário próprios, para o da exploração científica da biodiversidade. É nessas regiões que se situa o todo ou a maior parte dos distintos biomas que são a Floresta Amazônica, a caatinga, o cerrado e o pantanal, sem contar trechos da Mata Atlântica. Esses complexos são bem diferentes entre si, mas são, todos, ricos. Neles há muito a descobrir, a desenvolver, a utilizar. Iniciativas de nossos cientistas, ou de empresas que utilizam plantas para a produção de cosméticos, mostram um potencial de expansão que é notável.

Além disso, esses Estados entrariam num modelo de desenvolvimento sem os vícios daquele que fez São Paulo, por exemplo, crescer – mas que levou esse Estado, hoje, a uma crise monumental, da qual terá dificuldade para sair. A unidade mais rica da Federação enfrenta problemas de moradia, trânsito, poluição e segurança que será bastante complicado – e caro – resolver. Estados hoje mais pobres, mas que escolham a via do desenvolvimento sustentável, poderão evitar os erros cometidos nas unidades atualmente mais prósperas, escapando a problemas que a cada dia se agravam.

Qual seria, então, o melhor caminho para os brasileiros dessas regiões? Não é a solução já caduca de criar cargos para políticos. É aumentar o Ibama, isso sim. É termos órgãos públicos, estatais ou não, que invistam mais e mais no conhecimento da diversidade das formas de vida, na exploração dessas riquezas pelas populações locais, no uso sustentável delas para uma produção bastante diversificada de bens que terão, além de suas qualidades próprias, a vantagem econômica que um selo verde representa cada vez mais no mercado internacional. Por isso, em vez de aumentar o número de governadores, deputados e senadores, melhor será ampliar o Ibama.

Renato Janine Ribeiro é professor titular de ética e filosofia política na Universidade de São Paulo.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

Consciência de classe :: Melchiades Filho

Nem os mais próximos acham que Aécio Neves está botando pra quebrar no Senado. Mesmo antes do caso do bafômetro, ele andou murcho. Como se pesasse nos ombros a constatação de que, enfim, depois de tanta briga dentro do PSDB, a candidatura da oposição em 2014 será mesmo a dele.

Aos poucos, porém, o ex-governador de Minas Gerais emplaca a agenda que lhe interessa, o "novo pacto federativo": estadualização de rodovias federais, compensações financeiras aos municípios, orçamento impositivo na área da segurança, redução dos mecanismos que permitem ao Planalto administrar tudo por decreto etc.

São temas de escasso apelo popular. O governador de Pernambuco até zombou. "Esse debate, sobre se a presidente pode ou não editar medidas provisórias, vai encantar alguém lá na feira de Caruaru?".

Mas são temas que soam como música para os milhares de prefeitos que marcharam a Brasília na semana passada e não arrancaram de Dilma contrapartida significativa para a queda abrupta de receitas.

Música, também, para os partidos da base aliada, atônitos com a multiplicação de cargos do PT.

Música, ainda, para um Congresso repetidamente subjugado por uma presidente que não sabe e não admite perder -como se viu na nova lei do salário mínimo e se vê na tramitação do Código Florestal.

Aécio julga difícil conquistar corações e mentes enquanto o governo estiver forte. Sabe que sua chance de vencer em 2014 depende do desgaste de Dilma e da marca PT.

Por isso adia a fusão PSDB-DEM, à espera de conjuntura que faça dessa união uma janela de infidelidade dos governistas descontentes -uma espécie de PSD às avessas.

FHC havia exortado a oposição a buscar a nova classe média, os eleitores emergentes ainda não seduzidos pelo discurso lulo-petista.

Aécio joga para outra classe média, a dos políticos, uma gente por vezes sem voz, mas com voto.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

O Fed precisa mudar sua política:: Luiz Carlos Mendonça de Barros

Os benefícios da ação ultra expansionista do Federal Reserve (Fed, banco central americano) podem estar sendo superados hoje pelos efeitos colaterais negativos de sua aplicação. Em economia, como no caso do organismo humano, ocorre com frequência esse conflito entre resultados positivos de uma terapia e seus efeitos colaterais indesejados. Por isso, a aplicação de remédios fortes precisa ser acompanhada com cuidado pelos médicos e economistas porque têm um prazo limitado de uso. E a política monetária do Fed, de juros próximos de zero e forte expansão monetária via compra maciça de títulos do governo americano, enquadra-se sem dúvida nesses casos.

Dada a dimensão e a importância relativa da economia americana, os efeitos colaterais provocados pela política do Fed estão atingindo praticamente todos os países. Aliás, foi fora dos Estados Unidos que esses primeiros sintomas negativos foram percebidos. Taxas de câmbio valorizadas, pressões inflacionárias e bolhas especulativas formam a ponta desse verdadeiro iceberg, que alguns saudosistas no Brasil estão associando ao velho imperialismo americano.

Mas o feitiço está se voltando agora contra o próprio feiticeiro, como em um filme muito antigo da Disney chamado "Fantasia". A enxurrada de dólares nos mercados, criada pela ação agressiva do Fed, jogou o valor da moeda americana para baixo e os preços das commodities para cima. O petróleo já subiu mais de 60% e o consumidor americano está pagando um custo elevado por isso, reduzindo ainda mais a sua já raquítica renda disponível.

Com juros em dólares próximos de zero, os capitais financeiros migraram, em um primeiro momento, para outras moedas na tentativa de buscar rendimentos maiores em outras plagas. Como a dimensão desses mercados é muito menor do que o volume de dólares em circulação no mundo, os investidores passaram a buscar também ativos mais especulativos, como matérias-primas e outros itens mais exóticos. O aparecimento de bolhas em vários mercados é uma decorrência natural desses desequilíbrios, sendo a mais importante delas a criada nas bolsas de futuro do petróleo e seus derivados.

Com os preços do petróleo em forte elevação, a roda da fortuna criada pelo Fed para fazer reviver a economia americana começou a falhar. O consumo dos americanos representa mais de dois terços do PIB e, sem sua participação efetiva, a tentativa de retomar o crescimento na maior economia do mundo pode fracassar. Até recentemente os juros baixos em dólares vinham provocando uma retomada dos gastos que já são hoje - em termos monetários - maiores do que antes da crise. Um sinal de que a terapia do Fed estava funcionando a contento. Mas com a alta dos preços do petróleo como um efeito secundário da política monetária americana, a renda dos consumidores começou a ser erodida e a economia voltou a patinar. Como os cães de Pavlov, os agentes econômicos passaram então a esperar uma nova rodada de afrouxamento do Fed - ou pelo menos a sua manutenção por um tempo ainda maior -realimentando a desvalorização do dólar.

Por outro lado, preços mais elevados do petróleo criaram pressões inflacionárias em economias que não sofrem do mesmo mal americano, levando os investidores a apostar em juros mais altos em vários países. Mais uma razão para pressionar o valor do dólar, realimentar as especulações com o petróleo e fechar esse círculo vicioso que estamos vivendo.

Mas creio que existe outra falha na terapia atual e que não foi ainda devidamente percebida. O Fed está buscando o retorno aos níveis de desemprego que prevaleciam antes da crise, mas partes importantes da economia americana não estão respondendo aos estímulos monetários por razões estruturais. É o caso principalmente do mercado imobiliário, que está paralisado pelos efeitos da ruptura da bolha criada a partir de 2006. Mais de 20% das casas hoje existentes estão valendo menos do que a dívida hipotecária a ela associada; o número de novas construções é hoje 75% menor do que há três anos; o estoque de imóveis à venda é monstruoso e, com os bancos arredios a novos empréstimos hipotecários, não são os juros próximos de zero que vão reviver esse setor. E sem a volta da atividade de construção de casas e imóveis comerciais aos níveis anteriores, o desemprego não vai chegar nunca aos 6% que o Fed está buscando.

Por isso me parece que o banco central americano está tentando enxugar gelo com a manutenção da política atual. Mesmo com o desemprego próximo dos 9% ele deve iniciar, ainda que de forma gradativa, a normalização dos juros. Seu primeiro passo deve ser a mudança de sua comunicação com o mercado. Com esse movimento e uma mensagem clara que vai passar a outra etapa de sua política monetária, ele interrompe a desvalorização do dólar, diminui a especulação com o petróleo e pode estabilizar novamente a renda do consumidor americano.

Nestas condições, com tempo e juros ainda baixos - mas não próximos de zero - a economia vai continuar seu processo de recuperação, voltando aos níveis anteriores de desemprego ao longo do próximo mandato presidencial.

Luiz Carlos Mendonça de Barros, engenheiro e economista, é diretor-estrategista da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

O ideário da Al-Qaeda :: Alberto Dines

Os quase 100 mortos no atentado suicida dessa sexta no Paquistão pertenciam à etnia dos pashtuns que habita há milênios a Ásia Central. Muçulmanos mas não árabes, mais próximos dos persas, não podem ser considerados estrangeiros nem hereges. E, no entanto, foram trucidados em nome da doutrina purificadora proclamada por Osama bin Laden. O movimento Al-Qaeda - o alicerce, fundamento - começou religioso e logo tornou-se político e vago. Substituiu a pregação contra a contaminação ocidental do islamismo por uma cruzada contra a presença estrangeira no território sagrado.

As fronteiras desta terra santificada, no entanto, ficaram imprecisas, nela cabendo a Indonésia no Pacífico, o Marrocos no Atlântico, a Chechênia no coração da Rússia, a Arábia e o Bangladesh no Índico. Nesta geografia indefinida, mais preconceituosa do que propriamente religiosa, inclui-se um grande número de incoerências históricas e mesmo teológicas. O profeta Maomé jamais pregou a liquidação dos judeus, ao contrário, com eles conviveu, deles absorveu o monoteísmo assim como uma porção não desprezível de preceitos e aceitou a ancestralidade de Abrahão, pai de Isaac e Ismael. Segundo os biógrafos de Bin Laden, seu antiamericanismo era mais psicológico do que ideológico: serviu aos seus interesses e empenhou-se na guerrilha antissoviética no Afeganistão. O ressentimento manifestou-se ao sentir-se usado pelos EUA no tabuleiro da Guerra Fria e se tornou obsessão quando em 1990 viu uma poderosa força multinacional comandada pelos EUA instalar-se na sagrada península arábica para expulsar Saddam Hussein do Kuwait.

A construção deste ódio assemelha-se à construção da paranoia do nazismo. Adolf Hitler não a inventou, entregou-se docilmente aos serviços anti-bolcheviques do exército alemão (no fim da Primeira Guerra Mundial) e nesta primeira missão como agente provocador enxergou a oportunidade para expurgar as suas frustrações pessoais.

Colocou num cartapácio intitulado Mein Kampf não apenas as suas convicções de segunda-mão, mas também seus objetivos e os métodos para alcançá-los. Embora não fosse um teólogo, bin Laden preferiu esconder-se atrás de alguns postulados do Corão, combinou-os nos depoimentos e proclamações com uma simplificada formulação ideológica de inspiração conservadora. A militância política de Hitler até o seu suicídio em 1945 estendeu-se por 26 anos e provocou o maior banho de sangue dos últimos 500 anos.

Utilizando a invasão do Afeganistão em 1979 como marco inicial da trajetória de Bin Laden temos 32 anos de um confronto com um menor número de vítimas (incluindo as invasões do Iraque e Afeganistão) mas com efeitos, na melhor das hipóteses, imponderáveis. A vingança da Al-Qaeda pela execução de bin Laden dirigida contra as forças armadas do Paquistão (e não contra os EUA, como seria de esperar) escancara uma guerra volátil, travada em campos de batalha imprevistos e beligerantes mutantes. Conhecer exato ideário da Al-Qaeda talvez seja mais importante e útil do que conhecer a sua estrutura.

Alberto Dines é jornalista

FONTE: JORNAL DO COMMERCIO (PE)

O futuro da energia nuclear :: José Goldemberg

Existem tecnologias que resolvem problemas importantes e vieram para ficar. Outras atravessam um "período de ouro", perdem importância ou até desaparecem.

Automóveis, por exemplo, desenvolvidos no início do século 20, mudaram a face da civilização como a conhecemos. E mesmo que as reservas mundiais de petróleo se esgotem, soluções técnicas vão ser encontradas para mantê-los circulando.

Outras tecnologias promissoras enfrentaram problemas e foram abandonadas. Um bom exemplo é o dos zepelins, enormes balões cheios de hidrogênio que abriram caminho para viagens aéreas intercontinentais na década de 1930, época em que a aviação comercial ainda engatinhava. Mas bastou o acidente com o Hindenburg, zepelim alemão que se incendiou em Nova Jersey (EUA), em 1937, para selar o destino dessa tecnologia.

A energia nuclear parece atravessar um desses períodos críticos: ela teve uma "época de ouro" entre 1970 e 1980, quando entraram em funcionamento cerca de 30 novos reatores nucleares por ano. Após o acidente nuclear de Three Mile Island, nos Estados Unidos, em 1979, e em Chernobyl, na Ucrânia, então parte da União Soviética, em 1986, o entusiasmo por essa tecnologia diminuiu muito e desde então apenas dois ou três reatores entraram em funcionamento por ano. Houve uma estagnação da expansão do uso dessa energia.

As causas dessa estagnação são complexas: por um lado, a resistência do público, preocupado com os riscos da energia nuclear; e, por outro, razões mais pragmáticas, como o seu custo elevado.

Apesar desses problemas, a produção de energia nuclear não resulta em emissões de gases responsáveis pelo aquecimento da Terra, que é o caso quando se produz energia elétrica com combustíveis fósseis, como carvão ou gás natural. As preocupações com o efeito estufa levaram vários ambientalistas a apoiar uma "renascença nuclear".

Mas eis que acontece o desastre de Fukushima, com gravidade comparável à de Chernobyl, afetando diretamente centenas de milhares de pessoas e espalhando inquietações sobre o efeito da radiação nuclear numa vasta área do Japão e de países vizinhos.

O setor nuclear tem tentado minimizar a gravidade do acidente no Japão, atribuindo-o a eventos raríssimos, como um terremoto de alta intensidade seguido por tsunami, que dificilmente ocorreriam em outros locais. Essa é uma estratégia equivocada, que pode satisfazer engenheiros nucleares, mas não os setores mais esclarecidos da população e governos de muitos países.

Reatores nucleares contêm dentro deles uma enorme quantidade de radioatividade e o problema é sempre o de evitar que ela se espalhe, como se verificou em Chernobyl. Sucede que não é preciso um terremoto e um tsunami para que isso aconteça. Bastam falhas mecânicas e erros humanos, como ocorreu em Three Mile Island. Segurança total não existe.

É possível melhorar o desempenho dos reatores e torná-los mais seguros, mas isso acarretará custos mais elevados, o que tornará a energia nuclear ainda menos competitiva do que já é em relação a outras formas de geração de eletricidade. Além disso, a grande maioria dos reatores nucleares atualmente em uso começou a funcionar 30 ou 40 anos atrás e forçosamente eles terão de ser "aposentados" em breve - os de Fukushima funcionam há mais de 40 anos. A redução da vida útil dos reatores diminuirá, certamente, sua competitividade econômica.

Mais ainda, será preciso resolver de vez o problema do armazenamento permanente dos resíduos nucleares, que se arrasta há décadas. Até hoje os elementos combustíveis usados, que são altamente radiativos, são depositados em piscinas situadas ao lado dos reatores - e um dos problemas em Fukushima foi a radioatividade liberada quando o nível da água da piscina baixou. Só nos Estados Unidos existem essas piscinas ao lado dos 104 reatores lá existentes. Em Angra dos Reis a situação é a mesma.

Finalmente, há o problema de quem pagará pelas compensações para a população atingida pelos acidentes nucleares. Os limites fixados pelos governos para cobrir esses danos são atualmente muito baixos e deverão aumentar muito.

Como resultado dessas inquietações e incertezas, está em curso uma reavaliação, em grande número de países, sobre o futuro da "renascença nuclear" e da sobrevivência da própria opção do uso de reatores nucleares para a geração de eletricidade. Alguns países já adotaram o que se chama de "estratégia de saída", pela qual novos reatores não serão construídos.

A Bélgica e a Suíça já adotaram essa política, bem como o Chile e a Alemanha. A China suspendeu a autorização para a construção de mais usinas até que seja feito um reestudo completo das suas condições de segurança. Nos Estados Unidos, acaba de ser abandonado o projeto de construção de dois reatores no Estado do Texas, os primeiros a serem iniciados após mais de 30 nos de moratória nuclear.

Outros países, provavelmente, seguirão o mesmo caminho, sobretudo os que dispõem de outras opções mais econômicas e menos perigosas para a geração de energia elétrica. Esse é, claramente, o caso do Brasil, onde existe um amplo potencial hidrelétrico a explorar, bem como a cogeração de eletricidade nas usinas de açúcar e álcool, e também a energia eólica. A Agência Internacional de Energia Atômica reduziu sua projeção de novos reatores nucleares no mundo para 2035 em 50%.

Alguns países, como a França, onde quase 75% da eletricidade tem origem nuclear, e até mesmo o Japão, que não tem muitos recursos naturais, aumentarão o uso do gás, o que, consequentemente, aumentará as emissões de carbono. Haverá, nesse caso, escolhas difíceis. Mas o aquecimento global ocorrerá num horizonte de tempo longo e prevenir novos acidentes nucleares é uma tarefa urgente.

Professor da Universidade de São Paulo (USP)

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Oposição dá prazo para ministro explicar atuação em consultoria

Líderes querem apuração na Comissão de Ética e ameaçam acionar Procuradoria-Geral, mas evitam "prejulgamento"

Eduardo Bresciani / BRASÍLIA

A oposição resolveu esperar até amanhã as explicações do ministro-chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, sobre o faturamento obtido pela empresa de consultoria aberta pelo petista em 2006. Dois imóveis de alto padrão em São Paulo foram comprados em nome da Projeto. "Vamos aguardar as explicações. Se ele não detalhar, na terça-feira vou apresentar uma representação na Procuradoria-Geral da República", disse o líder do DEM no Senado, Demóstenes Torres (GO).

Para justificar a cobrança, o senador citou o histórico do ministro. Palocci deixou o governo Lula em 2006, no episódio da quebra de sigilo do caseiro Francenildo Costa, que havia declarado ao Estado ter visto o ministro frequentando uma casa usada por lobistas - Palocci negava ter ido ao local. "Ele é um sujeito enrolado, a vida toda dele é enrolada. Vai ter essa denúncia e outras mais", afirmou Demóstenes.

O líder do PPS na Câmara, Rubens Bueno (PR), cogita levar o caso também à Comissão de Ética Pública da Presidência da República. Para ele, a denúncia sobre o patrimônio de Palocci aponta para "enriquecimento ilícito". O presidente do PPS, Roberto Freire (SP), defendeu que a Receita Federal analise a evolução patrimonial do ministro.

O líder do PSDB no Senado, Alvaro Dias (PR), afirma que Palocci precisa abrir seu sigilo fiscal. "Não vamos fazer prejulgamento, mas ele tem que esclarecer cabalmente, mostrar a declaração de renda."

Duarte Nogueira (SP), líder tucano na Câmara, prevê desdobramentos para o caso dada a relevância da função de Palocci no governo Dilma Rousseff. Para o deputado, o caso pode ser resolvido se o ministro for transparente. Nogueira disse que, como Palocci foi titular da Fazenda, é possível que tenha como justificar rendimentos à frente de uma consultoria econômica.

Para o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), não há motivo para o Congresso debater o caso. "Palocci não está sob suspeita. Eu confio 100% nele e as explicações dadas são satisfatórias."

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

A frágil lealdade da base:: O Estado de S. Paulo/Editorial

É verdade, mas não toda a verdade, que uma parcela ponderável da chamada base aliada na Câmara dos Deputados dissentiu do Planalto na tramitação do projeto do Código Florestal por descontentamento com a demora da presidente Dilma Rousseff em contemplá-la, a expensas do PT, com os ambicionados cargos do segundo escalão federal ainda a preencher. Do mesmo modo, é verdade, mas não toda a verdade, que o dissenso espelha a sujeição de bom número de deputados a interesses outros que não os do governo ao qual deveriam ser leais - no caso, aos interesses do agronegócio que ajudou a financiar as suas campanhas. Eles formam a infantaria da bancada ruralista, recrutada em praticamente todos os partidos.

A verdade maior é que a base se assenta em solo movediço. Ela é intrinsecamente frágil por ser artificial, um aglomerado unido pelos costumeiros cálculos de conveniência do estamento político, mas de todo destituído de consistência programática, para não dizer ideológica. Daí o paradoxo: um governo que se pauta em linhas gerais por uma ideologia, sem prejuízo das frequentes barretadas ao pragmatismo, depende no Congresso de uma maioria tão relativa quanto a "democracia relativa" de que falava o general-presidente Ernesto Geisel, dourando a pílula, para caracterizar o País sob a ordem autoritária. São raras as votações no Legislativo em que a ideologia é um divisor de águas. Uma questão pode ter ressonância - como o reajuste do salário mínimo -, mas não se decide no marco do que se convenciona chamar "projeto nacional".

Quando isso se dá - o que inequivocamente é o caso da polêmica sobre a reforma do Código Florestal - o resultado é um realinhamento no tabuleiro parlamentar. Na turbulenta noite de quarta-feira em plenário, nada menos de 88 deputados de legendas que participaram da coalizão eleitoral dilmista e são membros reconhecidos do seu governo de coligação viraram a casaca, dando os seus votos à fronda oposicionista empenhada em votar sem mais delongas o projeto relatado pelo deputado Aldo Rebelo, do PC do B. Contrariaram assim, expressamente, a orientação da liderança do governo para que a proposta fosse retirada da pauta. Isso acabou acontecendo porque a oposição não conseguiu as 257 adesões regimentalmente necessárias para a matéria ir a voto. (Obteve 177.)

Perguntado se o apoio de dois deputados de seu partido à demanda adversária representava uma traição, o petista Cândido Vaccarezza, líder do governo na Casa, sofismou. "Não houve traição", respondeu, "porque ainda não houve a votação." Quando houver - por enquanto o projeto foi remetido ao limbo -, é possível que os dois trânsfugas mudem de posição. Mas isso será uma nota de rodapé na história da tramitação do projeto. Calcula-se entre 110 e 140 o total de integrantes da base aliada decididos ou propensos a trair o Planalto. Normalmente, os governos contam com o colégio de líderes da maioria para conduzir as bancadas ao rumo que traçou - o colegiado, de resto, tem sido de há muito um dos principais instrumentos de controle do Congresso pelo Executivo; o que varia são os termos da negociação, caso a caso.

Mesmo assim, o risco é alto para a presidente. Dilma não tem votos para impor o seu modelo de Código Florestal, mediante um consenso que excluiria as emendas indesejáveis da oposição. Em contrapartida tem o poder de adiar o desfecho do confronto, como que tomando emprestado o clássico recurso parlamentar de obstruir votações. Foi o que ocorreu essa semana.

O tempo, de toda sorte, joga a favor do Planalto. No dia 11 de junho expira o decreto do presidente Lula que suspendeu a aplicação de multas e outras sanções a produtores rurais em situação irregular. Se as lideranças do setor não fizerem concessões que permitam a aprovação - de comum acordo e em tempo hábil - do texto do Código reescrito pelo governo, o decreto simplesmente não será prorrogado.

"Estou pedindo um armistício", apelou Vaccarezza. A exortação seria desnecessária se a presidente Dilma contasse com uma maioria parlamentar docilmente obediente às suas ordens.

MEC não vai recolher livro que aceita erro de português

Apesar das críticas de educadores e escritores, o Ministério da Educação não pretende retirar das escolas o livro com graves erros gramaticais distribuído pelo Programa Nacional do Livro Didático. Ao todo, 485 mil estudantes jovens e adultos receberam a publicação

"Por uma vida melhor", de Heloísa Ramos, que defende o usa da linguagem popular e, por isso, contém frases com graves erros como "nós pega o peixe". "Não somos o Ministério da Verdade", disse um assessor do ministro Fernando Haddad. "Não tem que se fazer livros com erros", contestou a professora Mirian Paura, da Uerj. O problema é ainda mais grave num país que tem alunos copistas.

MEC lava as mãos no caso dos livros com erros

Professores condenam distribuição da obra: ‘Mais uma vez, no lugar de ensinar , vão rebaixar tudo à ignorância’

Cássio Bruno

O Ministério da Educação informou que não se envolverá na polêmica sobreo livro com erros gramaticais distribuído pelo Programa Nacional do Livro Didático, do próprio MEC, a 485 mil estudantes jovens e adultos. Olivro “Por uma vida melhor”, da professora Heloísa Ramos, defende uma suposta supremacia da linguagem oral sobre a linguagem escrita, admitindo a troca dos conceitos “certo e errado” por “adequado ou inadequado”. A partir daí, frases com erros de português como “nós pega o peixe” poderiam ser consideradas corretas em certos contextos.

— Não somos o Ministério da Verdade. O ministro não faz análise dos livros didáticos, não interfere no conteúdo. Já pensou se tivéssemos que dizer o que écerto ou errado?

Aí, sim, o ministro seria um tirano — afirmou ontem um auxiliar do ministro Fernando Haddad, pedindo para não ser identificado.

Escritores e educadores criticaram ontem adecisão de distribuir olivro, tomada pelos responsáveis pelo Programa Nacional do LivroDidático. Para Mírian Paura, professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Uerj, as obras distribuídas pelo MEC deveriam conter a norma culta:

—Não tem que se fazer livros com erros. O professor pode falar na sala de aula que temos outra linguagem, a popular,não erudita, como se fosse um dialeto. Os livros servem para os alunos aprenderem o conhecimento erudito. Na obra “Por uma vida melhor”, da coleção “Viver ,aprender”, a autora afirma num trecho: “Posso falar ‘os livro?’ Claro que pode, mas, dependendo da situação, a pessoa pode ser vítima de preconceito linguístico.” Em outro, cita como válidas asfrases: “nós pega o peixe” e “os menino pega o peixe”. Autor de dezenas de livros infantis e sobreMachado de Assis, o escritor Luiz Antônio Aguiar também é contra a novidade:

— Está valendo tudo. Mais uma vez, no lugar de ensinar, vão rebaixar tudo à ignorância. Estão jogando a toalha. Isso demonstra falta de competência para ensinar.

Segundo ele, o que estabelece as regras é a gramática.

— Imagina um jogo de futebol sem as linhas do campo. Como vão jogar futebol sem saber se a bola vai sair ou não? O que determina as regras é a gramática. Faltam critérios. É um decréscimo da capacidade de comunicação — observou Aguiar , também professor do curso “Formação de leitores e jovens leitores”, da Secretaria municipal de Educação do Rio.

FONTE: O GLOBO

A morte::Graziela Melo

Quando será
a morte
aquela
na qual
tanto
penso?


É que
Já não
Vislumbro
Um norte


Depois
De um caminho
longo
e extenso!!!


Como
Será
A morte


Aquela
A quem
Tanto temo?


Lenta?
Mortificante?
abrupta,
horripilante,
repentina?


Ou seria
Alegre
Festiva,
Com cravos
E margarida
Salpicada
De confetes
E serpentina?


Enquanto
A morte
Não chega
Cada dia
Que amanhece
É dia de
Despedida


È o ultimo sol
A ultima lua
O ultimo pássaro
Que voa
O último chopp
O último dia
De rua
A ultima voz
Que é tua
E me despeço
Da vida!!!


Rio/04/3/2010