sábado, 8 de outubro de 2011

Opinião do dia – Fernando Henrique Cardoso: o lulismo

O lulismo pode ser chamado de uma ideologia?
Não. É um estado de espírito, um sentimento. Não é ideologia. Não está propondo nada.

O que o sr. diz da direita?

Quem defende a direita no Brasil? Ninguém. Mas na prática ela existe - mas a nossa direita é muito mais o atraso, o clientelismo, fisiologismo, esse tipo de questão, do que a defesa dos valores intrínsecos da propriedade, da hierarquia. Não tem muito essa defesa.

E como o PT conseguiu aliança com o clientelismo mantendo a imagem de partido de esquerda?

Isso foi a grande pirueta que o PT fez. Como ele nasceu como partido dos trabalhadores, com uma luta assentada nisso, na inclusão social, ele se deitou no berço esplêndido da política tradicional. Se houve uma metamorfose importante, foi exatamente isso, porque o Lula simboliza isso. Ninguém foi capaz de reviver tantas forças do tradicionalismo e se sentir cômodo nelas como o próprio Lula. E ainda dar-se bem eleitoralmente.

Fernando Henrique Cardoso, entrevista em O Estado de S. Paulo, 6/10/2011.

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO
Máfias internacionais se aliaram ao bicho no Rio
Meta de inflação ainda mais sob ameaça
Copa: relator da Lei pede ajuda à CBF
Àreas protegidas estão na mira do Congresso
PSD coopta Meirelles e 600 prefeitos

FOLHA DE S. PAULO
Inflação chega a 7,3% ao ano e é a maior desde 2005
Meirelles, ex-BC, adere a novo partido de Kassab
Meta do governo depende cada vez mais de crise global
Procuradoria pede cassação de TV que mostrou estupro


O ESTADO DE S. PAULO
Meirelles entra no PSD e pode disputar a Prefeitura de SP
PF prende 13 ligados à máfia israelense no Brasil
Fifa estima perda de US$ 1 bi se País driblar exigências da Copa

CORREIO BRAZILIENSE
Saúde investiga mortes e tenta conter bactéria
Custo de vida não dá trégua aos brasileiros
Meirelles pega Lula e Serra de surpresa

ESTADO DE MINAS
Não é brinquedo, não!

ZERO HORA (RS)
Com o apoio do Rei
Sob pressão: Inflação já é a mais alta em seis anos

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Inflação se afasta da meta
Lotéricas ficam lotadas com a greve nos bancos

Inflação chega a 7,3% ao ano e é a maior desde 2005

Apesar dos sinais de desaquecimento da economia brasileira, os preços continuaram subindo em setembro (0,53%) e o IPCA acumulado em 12 meses bateu em 7,3% -maior marca desde maio de 2005, quando atingiu o valor de 8,05%. O índice contrariou as expectativas do BC, que no início do ano previa que a inflação em 12 meses teria um pico em agosto e começaria a recuar em setembro.

Inflação volta a subir e realimenta dúvidas sobre Banco Central

Preços medidos pelo IPCA sobem 7,31% em 12 meses, taxa mais elevada verificada pelo IBGE em seis anos

Aposta do BC é que a crise externa ajudará a esfriar economia e reaproximar a inflação da meta do governo

Leila Coimbra, Denise Menchen e Mariana Schreiber

RIO/SÃO PAULO - Os preços continuaram subindo com força em setembro, realimentando dúvidas dos economistas sobre a estratégia adotada pelo Banco Central para controlar a inflação e mantê-la dentro da meta estabelecida pelo governo.

O IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), principal índice de preços do país, subiu 0,53% em setembro, segundo o IBGE. A variação foi maior do que a registrada em agosto, 0,37%.

Nos 12 meses até setembro, a inflação acumulou alta de 7,31%, maior taxa observada pelo IBGE desde maio de 2005, quando o índice acumulou 8,05% em 12 meses.

A aceleração da alta de preços contrariou as expectativas do BC, que no começo do ano imaginava que ela atingiria um pico em agosto e começaria a ceder em setembro. Agora o BC diz que esse processo só terá início neste mês.

Faltando menos de três meses para acabar o ano, economistas acham que será muito difícil para o BC cumprir a meta fixada pelo governo para este ano, de 4,5%, com tolerância até 6,5%.

Apesar da aceleração dos preços, o BC começou em agosto a baixar a taxa básica de juros da economia, o principal instrumento de que dispõe para controlar a inflação.

A instituição aposta que os efeitos da crise global, que contribuirão para esfriar a economia brasileira neste ano, ajudarão a segurar a inflação sem a necessidade de taxas de juros mais elevadas.

O professor de economia do Ibmec Reginaldo Nogueira acha que o BC foi muito otimista ao calcular os efeitos do agravamento da crise externa. "O cenário é de inflação generalizada", afirmou.

Embora a indústria tenha perdido fôlego, o mercado de trabalho continua muito aquecido no Brasil, observa a economista Tatiana Teixeira, do banco Santander. Isso reforça a demanda por serviços como transporte aéreo, o que realimenta a inflação.

As passagens aéreas subiram 23,4% em setembro. Segundo o IBGE, a alta foi influenciada especialmente pelo Rock in Rio, o festival de música que atraiu cerca de 100 mil pessoas por noite.

Também pressionaram a inflação preços de alimentos, vestuário e combustíveis. Mesmo quando efeitos passageiros como os do Rock in Rio são excluídos da conta, a inflação continua em patamares elevados, nota o economista Thiago Curado, da consultoria Tendências.

A expectativa dos economistas é que a inflação acumulada em 12 meses recuará a partir de outubro, mas em ritmo mais lento do que o BC espera, continuando acima do centro da meta em 2012.

Mesmo assim, o mercado espera que o BC continuará reduzindo os juros para evitar que a economia esfrie demais. As apostas se dividem entre um novo corte de 0,5 ponto percentual ou de 0,75 ponto em outubro.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Negociação de bancário com banqueiro trava

Felipe Vanini

A negociação entre bancários e bancos continua travada. Nenhuma proposta foi apresentada por parte dos bancos nem pelos bancários e não há reunião agendada entre as partes. A greve já dura 12 dias.

Segundo o Sindicato de São Paulo e Região, 793 agências ficaram fechadas ontem em sua base de atuação.

No país, foram 8.951 agências fechadas.

Ontem, cerca de 37 mil bancários estavam parados em São Paulo, o maior número desde o início do movimento.

O Procon-SP disse ter recebido consultas de consumidores com relação a como proceder com a greve dos bancários. De acordo com o órgão, não houve registro de queixas.

No site Reclame Aqui, há dezenas de queixas de problemas decorrentes da greve, como o cancelamento de linhas de crédito.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Correios: mais uma proposta rejeitada

Na 2ª feira, asssembleias vão avaliar a oferta da estatal com abono de R$800

Geralda Doca, Wagner Gomes

BRASÍLIA e SÃO PAULO. O comando nacional de greve transferiu aos 35 sindicatos dos trabalhadores dos Correios a decisão de aceitar, ou não, os termos da proposta de reajuste apresentada ontem pelo Tribunal Superior do Trabalho (TST) ou deixar que a Justiça defina o o aumento à revelia, o que pode frustrar os interesses da categoria, alertou o presidente do TST, João Dalazen. As entidades farão assembleias na próxima segunda-feira e, se a categoria rejeitar a proposta, no dia seguinte ocorrerá a sessão para julgar o dissídio coletivo.

Acuado, após a rejeição unânime dos sindicatos da categoria ao acordo que fechara anteriormente na Justiça, o comando de greve recusou ontem, na segunda audiência de conciliação, a proposta apresentada pelo TST e aprovada pela estatal. Os termos são a reposição da inflação (6,87%), a incorporação de R$60 aos salários de forma linear a partir de janeiro e o pagamento de um abono de R$800 imediatamente, o que não estava previsto no acordo anterior.

Sem negociação, bancários completam 11 dias de greve

Pela proposta, haverá o desconto de seis dias parados, entre janeiro e dezembro, na proporção de meio dia por mês. E o restante seria compensado nos fins de semana até maio.

Logo depois da tentativa fracassada de conciliação de ontem, membros do comando dispararam telefonemas para todos os presidentes dos sindicatos locais. A jurisprudência do Tribunal tem dado apenas reposição da inflação e desconto dos dias parados.

- Os dirigentes dos sindicatos locais têm que ler os riscos do julgamento do TST para os trabalhadores. A corda já esticou demais e as lideranças sindicais têm que ser responsáveis - disse o secretário-geral da Federação Nacional dos Trabalhadores dos Correios (Fentect), José Rivaldo da Silva.

Apesar do acirramento, a expectativa da estatal, segundo fontes, é que a proposta do TST seja aprovada pela maioria das assembleias. A avaliação é de que o abono de R$800 pesará na decisão. Se o conflito for arbitrado pelo TST, dificilmente o valor será concedido.

Durante a audiência, o presidente do TST alertou sobre os riscos do julgamento, sobretudo o desconto dos dias parados:

- Se o TST seguir a jurisprudência firmada da matéria, poderá haver o desconto dos dias parados e não ser de forma parcelada.

Apesar da decisão do ministro de fixar um efetivo mínimo de 40% por unidade, das 7.486 agências, 430 não cumpriram a determinação, segundo a estatal.

Também continua o impasse entre bancos e bancários. A greve dos bancários completou ontem 11 dias sem qualquer avanço nas negociações.. A Federação Nacional dos Bancos (Fenaban) condiciona a retomada do diálogo à apresentação de uma nova proposta dos sindicatos. Exigência idêntica à feita pela Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf) para voltar à mesa de negociação.

FONTE: O GLOBO

Greves: Impacto de ganho real dos salários divide especialistas

Ronaldo D'Ercole

SÃO PAULO - A disposição de bancários e funcionários dos Correios de brigar por ganhos reais de salários, com greves que se arrastam há semanas, divide economistas quanto aos efeitos que reajustes muito elevados para grandes categorias podem ter sobre a inflação. Se tiverem êxito, as duas categorias se juntarão aos metalúrgicos de montadoras, que, no mês passado, obtiveram correções entre 10% e 11% nos salários.

- Esses reajustes alimentam a inflação por meio de dois canais: o da demanda, resultante da renda maior, e pela alta dos custos das empresas - diz Thiago Curado, da consultoria Tendências.

José Dari Krein, coordenador do Centro de Estudos Sindicais e Economia do Trabalho da Unicamp, reconhece que a alta do salário eleva poder de compra. Mas esse ganho é relativo num ambiente de economia em queda e inflação ainda alta, como ocorre agora. Na outra ponta, os salários são parte dos custos e seu impacto depende da evolução da produtividade dos diferentes setores.

- É preciso atenuar a tese de que os salários são o problema (da inflação). Primeiro, porque em bens mais sofisticados, como eletroletrônicos, a mão de obra tem peso pequeno no preço final do bem. Outro aspecto é a produtividade, se a alta do salário for menor que o ganho de produtividade, não há impacto nos preços - diz Dari.

A política do governo de correção do salário mínimo, combinando reposição da inflação com a variação do PIB (que resultará numa alta de 14% no mínimo em 2012), concordam os especialistas, influencia a determinação dos sindicatos em obter ganhos reais. Mas um outro componente pode trazer alívio a eventuais pressões da recuperação da renda sobre os preços ano que vem.

FONTE: O GLOBO

Meirelles pega Lula e Serra de surpresa

Filiação do ex-presidente do Banco Central ao PSD de São Paulo, conforme antecipou o Correio, surpreende PT e PSDB e pode provocar reviravolta na eleição à prefeitura paulistana. Cartada que pegou caciques como Lula e Serra no contrapé evidencia habilidade de Kassab como articulador político.

O nó que Kassab deu em Lula e Temer

Filiação de Henrique Meirelles ao PSD em São Paulo pega legendas adversárias no contrapé, isola o PMDB, e pressiona PT e PSDB a definirem candidatos

Denise Rothenburg

Antecipada ontem pelo Correio, a filiação do ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles ao PSD de São Paulo provocou um nó no PT e no PMDB e surpreendeu os tucanos. Todos agora se preparam para reajustar os movimentos, já que o economista faz sombra como pré-candidato a prefeito da maior cidade do país. Na tarde de sexta-feira, o PT acelerava o passo no sentido de tentar evitar uma prévia entre os vários pretendentes. Ao mesmo tempo, Meirelles chegava ao cartório da 1ª Zona Eleitoral paulistana para formalizar a transferência do domicílio de Goiás para São Paulo e pegar o novo título. No PMDB, a ideia é reforçar a busca de aliados para não deixar partidos pequenos expostos ao assédio de Gilberto Kassab — hoje mais respeitado como articulador político hábil e interessadíssimo em conquistar tempo de tevê para seu partido na sucessão paulista. O PSDB avalia o novo quadro.

O que tornou Gilberto Kassab um articulador dos bons aos olhos de adversários e aliados foi o silêncio com que agiu nos últimos dias. A estratégia evitou o vazamento de informações sobre os movimentos políticos do prefeito até aos caciques do PSD. Os petistas, também surpreendidos, não tiveram tempo de acionar Lula para tentar abortar a operação. "O Meirelles será um candidato forte, ajudou muito o nosso governo, tem competência. Se for mesmo candidato, é da democracia. Mas o Haddad é daqui de São Paulo e tem história. Se conseguirmos evitar a prévia será melhor", afirma o deputado Devanir Ribeiro (PT-SP). Ontem, a barca de Haddad ganhou como integrante outro parlamentar, Arlindo Chinaglia (PT-SP), do Movimento PT.

Dentro do PMDB, a informação chegou à cúpula na quinta-feira apenas porque o presidente do PMDB de Anápolis, Air Ganzarolli, estava almoçando com a deputada Íris de Araújo (PMDB-GO), quando o advogado de Henrique Meirelles telefonou pedindo a assinatura na ficha de desfiliação. Mas, em São Paulo, não houve o cuidado sequer de avisar os partidários do deputado Gabriel Chalita. O pré-candidato peemedebista tinha Meirelles no figurino de colaborador do programa de governo para 2012. Agora, o economista vestiu o de potencial adversário pela prefeitura.

Contra-ataque

No PSDB, José Serra, amigo de Kassab, também foi surpreendido. "Meirelles tem o título em São Paulo?!", reagiu ele, em notícias postadas na internet no mesmo momento em que Meirelles saía do cartório. A aposta de muitos tucanos é a de que, a partir de agora, haverá uma pressão para que Serra seja candidato de forma a ajudar a neutralizar o jogo de Kassab. Mas o ex-governador não quer disputar a prefeitura e há um grupo considerável no partido que acha mais natural a legenda investir na renovação e nas prévias. A avaliação é de que isso movimentaria o PSDB paulistano a apresentar novidades capazes de competir com outros novos, como Henrique Meirelles e Fernando Haddad.

Um dos trunfos do ex-presidente do Banco Central é ter sido tão ministro do governo Lula quanto Haddad. Há farto material gravado de Lula com elogios a ele. Pelas qualidades e a simpatia que nutre no mercado financeiro, o PSD comemorou a filiação. O contato inicial entre Kassab e Meirelles se deu há dois meses, quando, antes do convite formal para filiação ao PSD, o prefeito reeditou o movimento Viva o Centro de São Paulo, do qual o neo-pessedista havia sido cofundador há 20 anos. As honrarias foram tantas que Meirelles e Kassab marcaram novas conversas. O convite oficial, com vista inclusive à prefeitura, foi formalizado há 15 dias. O ex-presidente do BC ficou de pensar e deu a resposta na quinta-feira, colocando os advogados numa maratona a fim de cumprir o prazo legal para filiação e transferência.

Meirelles é gato escaldado. Nômade político, ingressou em 2001 no PSDB, com a perspectiva de se tornar candidato ao Senado ou ao governo estadual. Terminou eleito deputado federal. Não chegou a assumir o posto, desfiliando-se do partido para tomar posse no BC. Em 2009, ingressou no PMDB pronto para ser vice na chapa de Dilma Rousseff ou candidato a governador. Não conseguiu nem uma coisa nem outra. 

Quando a presidente montou a sua equipe, o PMDB nem sequer colocou o nome de Meirelles entre os ministeriáveis. A cúpula peemedebista, aliás, nunca o tratou como um dos seus. Kassab, entretanto, tenta dar a certeza de que no PSD tudo será diferente: "Uma pessoa como Meirelles não chega para ficar no banco", comenta o secretário-geral do PSD, Saulo Queiroz.

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

O arrastão do PSD

DANÇA DAS CADEIRAS

HENRIQUE MEIRELLES: filiação ao PSD faz dele possível candidato à prefeitura de SP

Adriana Vasconcelos

Além de obter uma robusta bancada na Câmara, que poderá chegar a 55 deputados e desbancar o PSDB (53) do terceiro lugar, o PSD se empenhou nos últimos dias em ampliar sua estrutura partidária para o máximo de municípios, com o objetivo de assegurar sua sobrevivência, ainda que eventualmente seja aberta, antes de 2014, uma "janela de infidelidade" dando início a novo troca-troca partidário.

Ainda sem o balanço final das filiações, o secretário-geral do PSD, o ex-deputado Saulo Queiroz, estimou que o número de prefeitos filiados ao partido chegará a 600, e o de vereadores poderia ultrapassar seis mil. No próximo ano, a expectativa é que o PSD lance 12 mil candidatos a vereador e entre 1.300 e 1.400 candidatos a prefeito.

Prefeitos e vereadores são a base dos partidos, e sem uma estrutura consolidada em todo o país as legendas têm dificuldade de sobreviver. Adversários do PSD apostam na fragilidade da base da nova legenda para esvaziá-lo se houver uma nova "janela de infidelidade". Alegam que, diante de nova oportunidade de troca de legenda, muitos dos que hoje estão se filiando ao PSD vão procurar partidos mais bem estruturados. A mudança para um partido novo não implica infidelidade partidária.

DEM perdeu muitos nomes para o PSD

Ontem, na reta final do prazo de filiações para os que vão disputar as eleições no ano que vem, a procura pelo PSD ficou bem acima das expectativas iniciais. A coroação desse processo foi a adesão do ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles ao novo partido, acompanhada de sua decisão de transferir seu domicílio eleitoral de Goiás, seu estado natal, para São Paulo, onde mora.

- Chegamos ao prazo final das filiações com uma musculatura muito maior do que esperávamos. A correria para vir para o partido, nesta reta final, foi muito grande. E, no último dia, ainda garantimos a filiação de um craque: Meirelles, que já desponta como um candidato fortíssimo à prefeitura de São Paulo e que pode nos ajudar a ampliar ainda mais nossa bancada na Câmara - comemorou Saulo Queiroz.

O PSD cresceu muito em cima justamente do DEM, que minguou no Congresso e também nos estados. O novo partido está mais forte em Santa Catarina e Amazonas, onde conquistou os dois governadores. Em Santa Catarina, por exemplo, todos os prefeitos do DEM, sem exceção, seguiram os passos do governador Raimundo Colombo e do ex-deputado Paulo Bornhausen, e migraram para o PSD. A legenda previa fechar o dia, ontem, com pelo menos 80 prefeitos e cerca de 500 vereadores em SC. No Amazonas, dos 70 prefeitos, a expectativa era que pelo menos 30 se filiariam ao partido.

Embora o DEM tenha sido uma das legendas mais afetadas, o presidente do partido, senador José Agripino (RN), minimizou as perdas do partido, que passou a ter 27 deputados federais (perdeu 17) e só não diminuiu mais no Senado (cinco senadores) graças à posse do suplente do senador João Alberto (PMDB-MA), que se licenciou do mandato e deve disputar as eleições municipais do próximo ano.

- Ainda não fechamos a contabilidade sobre as perdas nos municípios. Mas nossa preocupação não é com o número de prefeitos com que ficamos, mas com os que serão eleitos no próximo ano - disse Agripino.

Em Chapecó, o presidente da República em exercício, Michel Temer, minimizou as perdas do PMDB:

- A democracia permite a formação de novos partidos políticos.

Em São Paulo, nos últimos dez dias, o número de prefeitos filiados ao PSD subiu de quatro para 40. No Rio, a expectativa maior do PSD é em relação às bancadas federal e estadual, já que o DEM já vinha mal das pernas, o que acabou limitando em oito o número de prefeitos filiados ao PSD no estado.

Mesmo assim, o presidente estadual do partido, o ex-deputado Indio da Costa, anunciou que a legenda estará presente nos 92 municípios do Rio nas eleições municipais, seja apoiando aliados ou sendo apoiado. Por enquanto, a estimativa é que sejam lançados pelo menos 14 candidatos próprios a prefeito no estado do Rio.

- O número de adesões nos surpreendeu. Hoje podemos dizer que o PSD nasceu em todos os municípios do Rio, ao contrário do DEM, que, mesmo tendo sido oriundo do PFL, até hoje não atingiu esta meta e está presente apenas em 50 municípios - disse Indio.

O fim do prazo para as filiações de candidatos às eleições municipais levou ontem pelo menos dois deputados tucanos a se filiar ao PSD: Manuel Salviano, que será candidato a prefeito de Juazeiro do Norte (CE); e Hélio dos Santos (MA), que tentará ser prefeito de Açailândia (MA).

No dia 28, termina o prazo de 30 dias, após a criação do novo partido, dado pela Justiça Eleitoral para as trocas sem risco de perda do mandato por infidelidade partidária.

Colaborou: Edu Vial, especial para O GLOBO, de Chapecó (SC)

FONTE: O GLOBO

No Rio, PR e PSDB sofrem mais com as perdas para PSD de Kassab

DANÇA DAS CADEIRAS

Três prefeitos deixaram o partido de Garotinho, e dois, a legenda tucana

Cássio Bruno e Juliana Castro

O PR e o PSDB foram os principais prejudicados no estado do Rio com a criação do PSD e podem sofrer as consequências nas eleições de 2012. Dos quatro prefeitos do PR, apenas a prefeita de Campos, Rosinha Garotinho, permaneceu no partido. O restante tentará a reeleição pela legenda presidida por Gilberto Kassab, prefeito de São Paulo. Já os tucanos perderam pelo menos dois chefes do Executivo para o PSD, e ambos disputarão novamente os cargos. Na dança das cadeiras, DEM e PPS também sofreram baixas depois das saídas de vereadores para PMDB e PSOL.

Na Assembleia Legislativa (Alerj), a situação é mais grave. O PR perdeu quatro dos nove deputados estaduais. Assim, o PSD ficou com 11 parlamentares. Desses, quatro vão disputar a prefeitura no ano que vem. Além disso, a única deputada do DEM, Graça Pereira, também aterrissou no PSD. O mesmo ocorreu com Claise Maria Zito, que deixou o PSDB. Claise é ex-mulher do prefeito de Duque de Caxias, José Camilo Zito dos Santos, ex-tucano e, agora, no PP. A filha de Zito, no entanto, a deputada federal Andreia Zito, continua no PSDB.

O PR perdeu os prefeitos das cidades de Rio Claro (Raul Machado), Cambuci (Oswaldo Botelho) e Mangaratiba (Evandro Capixaba). Enquanto isso, o PSDB não terá mais o comando em Natividade (Marcos Antônio da Silva Toledo, o Taninho) e Japeri (Ivaldo Barbosa dos Santos, o Timor).

Na Alerj, os deputados Iranildo Campos, Fábio Silva, Samuel Malafaia e Roberto Henriques deixaram o PR, do deputado federal e ex-governador do Rio Anthony Garotinho, para seguirem em direção ao PSD. Ex-aliado da família Garotinho, Henriques será um dos adversários de Rosinha, mulher do parlamentar, na disputa em Campos.

- Em 2012, teremos candidatos a prefeito em 70 municípios. Em outros 13, seremos vice na chapa. Algumas perdas são boas porque dão mais qualidade ao partido - afirmou o presidente regional do PR, Fernando Peregrino.

PT nega filiação a prefeito de Nova Friburgo

Na Câmara, o PSDB perdeu dois dos quatro vereadores, um deles para o PT, Marcelo Arar. Patrícia Amorim, presidente do Flamengo, decidiu se filiar ao PMDB. Para puxar a legenda, os tucanos decidiram lançar a vereador o estreante Tadeu Amorim Júnior, filho da deputada estadual Lúcia do Amaral, a Lucinha, a vereadora mais votada nas eleições de 2008.

O DEM perdeu a metade dos vereadores: de oito, caiu para quatro - Rosa Fernandes, Jorginho da SOS, João Cabral e Aloisio Freitas migraram para o PMDB. O prefeito de Resende, José Rechuan Júnior, também abandonou o DEM e está no PP. O PPS, por sua vez, ficará sem representantes na Câmara. Paulo Pinheiro foi para o PSOL e Carlinhos Mecânico migrou para o PSD.

- Perdemos apenas na quantidade. Todos que saíram votavam sempre a favor do governo. No ponto de vista ideológico, o PSDB não perdeu - ressaltou a vereadora Teresa Bergher, líder dos tucanos na Câmara.

- Os vereadores que deixaram o DEM estão do lado de todos os governos. Nunca foram de oposição. Mas a decisão deles era sabida desde maio. O importante não são os números, mas o compromisso com as ideias do partido - afirmou o deputado federal Rodrigo Maia.

Enquanto isso, o PT negou o pedido de filiação do prefeito de Nova Friburgo, Dermeval Barboza Moreira Neto, do PMDB. Segundo o presidente regional do partido, Jorge Florêncio, a rejeição ocorreu por conta dos indícios de irregularidades apontados pelo Tribunal de Contas da União (TCU) em contratos sem licitação no município, em obras de reconstrução da cidade após a tragédia das chuvas na Região Serrana em janeiro deste ano.

FONTE: O GLOBO

Brasileiro se vira:: Merval Pereira

Em tempos de classe C emergente e Estado provedor, o cientista político Alberto Carlos de Almeida, conhecido pelo best-seller em que analisa a "cabeça do brasileiro", tira de uma pesquisa nacional de seu Instituto Análise uma conclusão: apesar das dificuldades e das incertezas, o brasileiro é empreendedor.

Segundo ele, "o Brasil é um país entre a Europa e os Estados Unidos. A gente tem essa matriz europeia, ibérica, meio estatizante, mas por outro lado temos uma população, especialmente a de mais baixa renda, muito dinâmica e que tem uma visão de que tem que se virar por conta própria".

Almeida explica que o brasileiro não é ideológico como o cidadão dos EUA, onde há uma doutrina contra impostos, a favor do self-made man, valores aos quais o brasileiro é até simpático, "mas de uma maneira muito pragmática".

O raciocínio médio seria o seguinte, tirado de pesquisas qualitativas onde pesquisados de diversas classes dão seu depoimento sobre o tema proposto: "A maneira que tenho para melhorar de vida, dado que não tem emprego nem carteira assinada, é abrir meu próprio negócio. Então ele vai."

É verdade que a parcela dos brasileiros que ainda depositam no governo sua garantia de emprego ou seu futuro, com a aposentadoria ou as bolsas assistenciais, continua sendo majoritária, basta ver o aumento da procura por concursos públicos. Na parte da pesquisa que tenta decifrar as alternativas preferidas para melhorar de vida, a vasta maioria, cerca de 70% dos entrevistados em todas as classes, ainda prefere uma renda fixa constante, pequena, como bolsa ou algo parecido, a um negócio próprio.

Mas cerca de 30% já escolhem ter o próprio negócio como a melhor alternativa, e Alberto Carlos de Almeida diz que essa atitude vem mudando no decorrer dos anos.

"As respostas têm muito a ver com o indivíduo olhar o ambiente econômico instável e precisar de alguma coisa para que se sinta protegido." Mas, ressalta, mesmo num ambiente instável, ter uma média entre 25% a 30% de empreendedores potenciais "é muita coisa", já que sabemos ser muito difícil vender, ter um negócio próprio, não apenas pela situação econômica, mas também pela burocracia brasileira. Empresas gastam 2,6 mil horas de trabalho por ano para pagar impostos. O Brasil aparece em 127º lugar num ranking que avalia a facilidade de fazer negócios em 183 países, elaborado pelo Banco Mundial.

Se essa é a maneira que eu tenho para me salvar, não tenho problema com isso, raciocina a média dos que buscam a alternativa do negócio próprio. "A carteira assinada e renda fixa mensal acabam sendo privilégios", analisa Almeida.

O economista Marcelo Neri, da Fundação Getulio Vargas, criador do termo e maior estudioso da "nova classe média", explica que a designação reflete "o sentido positivo e prospectivo daquele que realizou - e continua a realizar - o sonho de subir na vida. Mais importante do que de onde você veio ou está é aonde vai chegar". Ele rejeita a tese de que definição de classes é baseada no consumo: "Mais do que assíduos frequentadores de templos de consumo, o que caracteriza a nova classe média é o lado do produtor. A carteira de trabalho é seu principal símbolo. É o que chamamos de lado brilhante dos pobres."

Para exemplificar, Neri lembra que, no período de 2001 a 2009, houve crescimento de renda para os 10% dos mais pobres de 550% acima do crescimento dos 10% mais ricos. "O dado é inédito na série estatística. Isso mostra que o Brasil realmente vive a inclusão. Esse fator está ocorrendo de forma acelerada no país."

Em recente palestra, Neri admitiu que 2/3 dos empreendedores têm dificuldade com a falta de mercado, cliente e demanda. Para ele, o desafio às autoridades é oferecer assessoria mercadológica e capacitação profissional para esse público. "Nos últimos anos demos pobres aos mercados consumidores, é preciso ir além e dar mercados aos pobres."

Alberto Carlos de Almeida considera que o empreendedorismo do brasileiro é não ideológico, e a tendência é aumentar. "Se as pessoas começarem a achar que existe um ambiente mais estável, vão fazer menos questão de ter carteira assinada", especula. A pesquisa do Instituto Análise mostra que a maioria acha que mesmo com carteira assinada corre o risco de perder o emprego. "O Brasil estabilizou a moeda há pouco tempo, o cidadão tem que se sentir num ambiente favorável para empreender, mas não há essa segurança de que a vida estará boa mesmo sem uma carteira assinada".

A tendência é crescer o número de empreendedores à medida que a economia se torne mais pujante. Para Almeida, há perspectiva distinta de empreendedorismo, que não é o dos 20 sujeitos que tiveram sucesso e ficaram milionários, mas o do cidadão que vende pipoca ou cachorro-quente na rua, que representa centenas ou milhares de pessoas que cuidam do seu dia a dia.

O ex-ministro Mangabeira Unger achava "decisivo para qualquer orientação transformadora do Brasil hoje o surgimento de uma nova classe média e uma nova cultura de emergentes, esse pessoal que estuda à noite, luta para abrir um negócio, ser profissional independente, que está construindo uma nova cultura de autoajuda e de iniciativa, e está no comando do imaginário nacional". Dentro desse contexto, ele considerava que o movimento evangélico precisava ser visto "como um elemento entre muitos dessa nova base social. São dezenas de milhões de brasileiros organizados". Mangabeira desenvolveu a tese de que evangélicos brasileiros têm semelhança com pioneiros que fundaram os EUA e tinham o espírito empreendedor que faria a diferença para o desenvolvimento do Brasil.

Almeida discorda, dizendo que a classe média americana tem outros valores, mas a meta final é a mesma: a busca de melhorar de vida pelo empenho individual. Para ele, no Brasil o protestantismo entrou formatado pela matriz católica. "O nosso protestante é muito mais parecido com o nosso católico, e o católico americano é mais parecido com o protestante, a matriz enquadra todo mundo, é herança histórica."

Essa nova classe C, segundo ele, tem mais a ver com salário mínimo, o movimento econômico no interior do país que a Bolsa Família e outros auxílios provocam, "mas a geração que virá depois deve ter mais estímulo para o empreendedorismo. Essa primeira geração ainda se vê muito dependente de um governo de sucesso, e menos dependente dela, mas os filhos desse pessoal vão ter perspectiva diferente".

FONTE: O GLOBO

Steve Jobs e o Brasil :: Fernando Rodrigues

Steve Jobs morreu e tudo o que poderia ser dito sobre ele já o foi. Macmaníaco convicto, ouso escrever algo mais sobre o empreendedorismo do criador da Apple e como seu exemplo pode (e deve) servir de reflexão ao Brasil.

Para começar, quantos Steve Jobs o Brasil tem produzido? Se serve de consolo, poucos países no planeta produzem gênios em série. Não por acaso, grandes inovadores do século 20 surgiram nos Estados Unidos, um país que tem muitos defeitos, mas menos o de inibir quem deseja criar algo novo e ganhar dinheiro com essa invenção.

Quem usa produtos da Apple no Brasil sabe como tudo aqui é mais difícil. Quer comprar uma música via iTunes? O caminho é tortuoso. A loja virtual idealizada por Steve Jobs não funciona de maneira integral no webespaço brasileiro.

Agora acabou de sair um novo iPhone. Deseja adquiri-lo? Terá de esperar. O Brasil não está na lista de países escolhidos para ter o lançamento com o do mercado norte-americano.

À primeira vista, essas parecem observações só de cunho consumista. Não são. O acesso a tecnologias é vital para milhares de brasileiros interessados em criar algo novo.

O Brasil avançou na consolidação da democracia e na abertura de seu mercado, mas persistem bolsões isolacionistas que remetem à mentalidade da reserva de mercado de informática criada durante a ditadura militar -sistema que condenou uma geração ao mundo analógico e atrasado.

Se Jobs e seu colega Steve Wozniak vivessem no Brasil em 1976, jamais teriam tido acesso aos componentes eletrônicos usados na montagem dos primeiros computadores Apple em uma garagem. De lá para cá, houve alguma melhora. Um avanço tímido. O Brasil ainda está longe de oferecer um ambiente amigável para quem tem ideias e deseja ganhar dinheiro com elas.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Os acrobatas da Copa :: Fernando Gabeira

Primeiro foi a ministra Míriam Belchior admitindo que a mobilidade urbana não estará resolvida na Copa e que a solução seria decretar feriado no dia de jogos.

Agora é o prefeito do Rio, Eduardo Paes, que sugere uma acrobacia para resolver o problema do meio ingresso para idosos e estudantes: o governo paga a outra metade.

Entre os estudantes que querem o meio ingresso e a FIFA que quer todo o dinheiro, Eduardo Paes achou uma terceira via: as pessoas que pagam imposto, logo todo mundo.

As improvisações têm sentido único: difiultar a vida do cidadão. A corda sempre arrebenta do lado mais fraco. E o lado mais fraco escolhido é exatamente a sociedade.

Quem a protege no Parlamento? Quem levantará a voz por ela? A resposta é ninguém. Se o lado mais forte continuar a se comportar como o mais fraco, os acrobatas continuarão se exercitando, protegidos pela rede da indiferença.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

A força da inflação:: Celso Ming

Basta que a inflação neste mês de outubro seja inferior a 0,75% para que a próxima medição em 12 meses seja menor que os 7,31% registrados em setembro - nível mais alto desde maio de 2005. E basta que, na média, a inflação mensal do último trimestre não seja superior a 0,48% para que a evolução do IPCA no ano fique dentro do teto da meta (6,5%).

O compromisso do Banco Central não é mais garantir inflação dentro da meta (4,5%) neste ano, mas obter a convergência em 2012. É objetivo muito ambicioso, levando-se em conta a distância entre os pressupostos definidos para que isso aconteça e o que, de fato, vai se concretizando.

O Banco Central trabalha com duas apostas: (1) o mergulho da atividade econômica global produzir desinflação externa em proporção tal que seja transmitida, também, para a economia brasileira; e (2) a austeridade orçamentária do governo federal ser suficientemente robusta para que atue a favor da contenção dos preços e, ao mesmo tempo, abra espaço para a baixa dos juros básicos (Selic), hoje, nos 12% ao ano.

Não é nem um pouco certo que a economia mundial entrará em recessão. Ao contrário, a tendência, apontada quase unanimemente pelos organismos encarregados de prever os movimentos da economia mundial, é de que haverá, sim, um crescimento mais baixo da produção e do consumo nas economias maduras, mas não uma recessão. A criação de 103 mil postos de trabalho em setembro nos Estados Unidos, como ontem foi divulgado, parece comprovar essa expectativa.

E ainda que essa lenta retomada global produza desinflação - o que não está nem um pouco evidente -, nada certifica que essa queda dos preços seja transferida para a economia brasileira.

O superávit primário de 3,1% nas contas públicas deve ser elogiado e é um bom passo na direção do controle da inflação, mas sinaliza ser insuficiente para isso. Há o sempre lembrado fator salário mínimo, cujo reajuste de 14%, a vigorar em janeiro, já está contratado. Ele será, por si só, uma força que esticará as despesas correntes dos governos, especialmente, estaduais e municipais, com o grande número de funcionários públicos e aposentados que o recebem. E há o período eleitoral, quando as autoridades, normalmente, têm mais dificuldades para controlar a boca do cofre.

A alta da inflação no Brasil continua bastante generalizada (índice de difusão de 61,5%) e concentrada nos serviços (9,04% em 12 meses). É um indicador que reforça o diagnóstico de que permanece em curso uma forte inflação de demanda (consumo maior do que a capacidade de oferta da economia), a ser combatida com dinheiro curto.

A próxima reunião do Copom está agendada para o dia 19. Caso o Banco Central insista em sua disposição de provocar a convergência da inflação para a meta de 4,5%, não poderá cumprir efetivamente uma política de meta de juros, como transparece em inúmeras declarações da equipe econômica.

Na prática, isso significa que não poderia seguir cortando os juros em meio ponto porcentual por mais quatro ou cinco reuniões do Copom, como demonstra ser a sua intenção.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Lados da moeda:: Míriam Leitão

A desvalorização do real ajuda a indústria a exportar, mas encarece a importação de matérias-primas, componentes e bens de capital da própria indústria. Torna mais caros ao consumidor produtos de consumo diário, como pão francês, café e carne. Empresas que pegaram empréstimo em dólar viram a dívida disparar em um mês. Hospitais terão mais dificuldade de comprar equipamentos de ponta.

A visão binária que às vezes aparece em declarações de autoridades e líderes empresariais - como a de que se o dólar subir é bom para a indústria e o emprego; se cair, é ruim - é simplória. Há outros problemas que precisam ser enfrentados, como impostos altos, infraestrutura deficiente, mão de obra pouco qualificada, pouco investimento das empresas em inovação.

Culpar o câmbio é mais fácil do que lidar com problemas crônicos. A moeda americana subiu 18% em setembro, caiu 5,1% este mês, mas o que a indústria viu mesmo aumentar foram custos e dívidas. Durante o período do real forte, as empresas se acostumaram a importar equipamentos e insumos baratos e tomaram empréstimos em dólares. Pelos cálculos da Economática - já divulgados nesta coluna - a dívida subiu pelo menos R$15 bilhões no terceiro trimestre entre companhias que possuem capital aberto e divulgam balanços.

José Augusto de Castro, da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil) calcula que o dólar teria que ir R$2,20 para compensar o alto custo de se produzir no Brasil.

- Na faixa de R$2,00, a moeda beneficia cerca de 70% dos exportadores. A R$1,80, beneficia no máximo 30%. Os custos em reais têm subido internamente, esse é o grande problemas de setores como calçados e confecções, então a ajuda no câmbio precisa ser muito forte para compensar isso - disse Castro.

O problema é se o câmbio deve "compensar" tudo. Nem mesmo em outros momentos de desvalorização mais intensa a indústria exportadora reagiu de forma rápida. Em 2001, por exemplo, o dólar começou valendo R$1,94, passou a maior parte do ano acima de R$2,00, bateu em R$2,93 em setembro e ainda fechou em R$2,34. As exportações naquele ano cresceram 5,7% sobre o ano anterior, mas não puxadas pela indústria de manufaturados, que exportou 1,1% a mais, mas sim pelos produtos básicos, que subiram 22,1%.

Luis Afonso Lima, presidente da Sobeet, lembra também do ano de 1999, quando o real passou a flutuar livremente. As exportações precisaram de pelo menos um ano para reagir. Ele acha que agora o benefício será mais lento porque os países ricos estão em crise:

- O contexto hoje é pior do que 1999. Naquele ano, o real se desvalorizou em um mundo pujante. Hoje, é o contrário. Se naquela época demorou um ano, a tendência é que agora demore mais porque os grandes compradores como Estados Unidos e Europa estão em crise. Com o real fraco, o empresário terá insumos e investimentos mais caros e encontrará demanda exterior fraca.

O economista Alex Agostini, da Austin Ratings, acha que a queda do real favorece uma pequena parte da sociedade, os exportadores, em detrimento da ampla maioria, em especial os mais pobres que não conseguem se defender da alta dos preços:

- Para a economia como um todo, a desvalorização cambial tem um ônus muito maior que o bônus, certamente. Com a desvalorização, há aumento muito forte de alimentos que estão no café da manhã do brasileiro, que são trigo e café. Há também influência nos preços da soja, óleo de soja, milho, que fazem parte da ração para a carne animal. O preço da carne tende a subir. Nessa hora, a população de baixa renda é a mais afetada, e ela é a maior parcela da sociedade.

A crise internacional derrubou os preços das commodities, mas a desvalorização do real foi mais intensa. Isso vai dificultar a tarefa do Banco Central de deixar o IPCA abaixo do teto da meta este ano. Esta semana, o BC divulgou o índice IC-Br, que mede os preços das matérias-primas aqui dentro, e ele subiu 7,83% em setembro. A elevação foi puxada pelas commodities agropecuárias (carne de boi, algodão, óleo de soja, trigo, açúcar, milho, café e carne de porco), que tiveram alta de 8,80%.

A área de saúde sofrerá porque muitos remédios, insumos e equipamentos para exames são importados. A tendência é que os hospitais façam menos investimentos e se modernizem menos, com um câmbio mais fraco. O superintendente da Federação Brasileira de Hospitais (FBH), Luiz Fernando Silva, diz que os hospitais não estão preparados para lidar com a mudança. Ele diz que setores como de neurologia, ortopedia e cardiologia usam muitos equipamentos modernos e importados:

- A alta do dólar com certeza afeta a rede de saúde brasileira. Se o real se desvaloriza, há estagnação dos investimentos. O custo não poderá ser repassado, então a atitude mais natural será deixar de investir. O período do real forte foi aproveitado para comprar equipamentos. Para a rede hospitalar o real desvalorizado é prejuízo. Muitos aparelhos usam tecnologia importada e não há para onde fugir porque não são fabricados no Brasil.

É sempre múltiplo o efeito do câmbio, seja para onde ele for. Nunca foi panaceia.

FONTE: O GLOBO

Meta do governo depende cada vez mais de crise global

O BC depende, cada vez mais, de uma deterioração da economia global forte o bastante para derrubar a inflação doméstica para a meta de 4,5% em 2012.

Estratégia do BC depende cada vez mais da deterioração do cenário internacional

Érica Fraga

SÃO PAULO - O que era uma aposta vai se tornando um imperativo. O Banco Central depende, cada vez mais, de uma deterioração da economia global forte o bastante para derrubar a inflação doméstica para a meta perseguida de 4,5% em 2012.

Quando reduziu a taxa de juros de 12,5% para 12% no fim de agosto, o BC apontou uma esperada piora do cenário internacional como motivo para sua expectativa de queda da inflação no país.

Acertou que a crise lá fora se tornaria mais feia. Depois disso, os problemas na Europa se acentuaram e a recuperação nos EUA dá sinais de que continuará anêmica.

A própria economia brasileira revela indicadores de fadiga. A indústria está às voltas com estoques altos que têm contribuído para a queda no ritmo de produção.

E o consumo, até então bastião da fortaleza da economia, também começa a se desacelerar.

Ontem, a FecomercioSP divulgou uma nota cujo título era "Dia das Crianças não será de festa". A explicação: a federação espera que, na melhor das hipóteses, o varejo vá faturar 2% a mais do que em 2010. O ganho é modesto se comparado às altas taxas dos últimos anos.

Mas, mesmo nesse contexto, a inflação continua elevada. Isso se explica, em parte, porque o mercado de trabalho segue aquecido.

Pode não estar se expandindo no ritmo acelerado de meses anteriores, mas ainda cresce. Falta mão de obra qualificada no país, o que faz empresários pensarem duas vezes antes de demitir.

Além disso, o aumento do salário mínimo contratado para 2012 pode ajudar a dar um impulso ao consumo.

Tudo indica que a economia continuará em desaceleração, mas o BC parece depender de uma freada mais forte para que a inflação recue para a meta

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Mais um acrobata: Agnelo abre mão de meia-entrada para atender à Fifa

Rafael Moraes Moura

BRASÍLIA - O governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), disse hoje que o Distrito Federal vai cumprir "todas as exigências da Fifa", inclusive abrir mão do direito de meia-entrada a estudantes durante a Copa do Mundo de 2014, garantido por lei distrital.

"O Brasil tem um compromisso internacional assumido e cabe a cada região se adaptar ao compromisso que o Brasil assumiu, isso não tem bicho de sete cabeças. Estamos tratando de um evento, não de uma modificação definitiva, então acho que as conversas que a nossa presidente está tendo com a Fifa, ela já sinalizou nesse sentido que será resolvido plenamente essa questão", disse Agnelo, após participar de audiência no Palácio do Planalto com a ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffman. "No DF, cumpriremos todas as exigências da Fifa", afirmou.

Questionado se o governo local abria mão inclusive do direito à meia-entrada para estudantes e idosos, o governador respondeu: "É, inclusive. O idoso é lei federal, não temos governabilidade sobre uma lei federal. O estudante, sim. Temos condições de, no período da Copa, fazer o ajuste necessário para poder resolver essa questão e cumprir o acordo que o Brasil fez internacionalmente".

Brasília é uma das 12 cidades-sede da Copa do Mundo e reivindica a abertura do Mundial, ao lado de São Paulo, Salvador e Belo Horizonte

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

A paz é feminina

NOBEL DAS MULHERES

Presidente e ativista da Libéria e ícone da revolta do Iêmen dividem o prêmio

Ellen Johnson-Sirleaf, a Dama de Ferro da Libéria, desafiou militares, reduziu a dívida do país e ganha ponto na véspera de eleição

Leyman Gbowee, pacifista que usou greve de sexo como arma para o fim da guerra, vê no prêmio uma plataforma global.

Primeira mulher árabe a receber o prêmio, Tawakkul Karman prega vitória pacífica da revolução contra o regime do ditador do Iêmen

Essa avó baixinha, de 72 anos e roupas coloridas, parece, à primeira vista, uma figura frágil. Mas o apelido que ganhou nos 30 anos de carreira política na Libéria não dá margem à dúvida: a presidente Ellen Johnson-Sirleaf é conhecida como a Dama de Ferro. Um episódio no convulsionado passado do país ilustra bem isso. Quando o general Samuel Doe tomou o poder num golpe na década de 1980, Sirleaf foi presa e ameaçada de morte. Ela encarou os soldados e disparou:

- Vocês não podem fazer isso. Pensem em suas mães.

Foi nessa época que a economista virou ativista política, depois de estudar em Harvard e ser vice-presidente do Citybank. Foi presa duas vezes, uma delas por chamar os soldados de idiotas, e por duas vezes se exilou nos EUA. Voltou, perdeu uma eleição e ganhou outra. Agora, a primeira mulher eleita presidente no continente é vista no exterior como "o símbolo da nova África", algo que parece se concretizar na escolha para o Nobel pelo esforço na pacificação da Libéria.

- Isso reforça o meu compromisso em trabalhar pela reconciliação - disse Sirleaf em sua casa, em Monróvia, ao saber do resultado. - Os liberianos devem ficar orgulhosos.

O prêmio encheu as ruas da capital de festa e de polêmica. Elogiada por simpatizantes por mudar a imagem de um país marcado pela guerra civil que matou mais de 200 mil pessoas e criticada por opositores por não conseguir recuperar a infraestrutura, ela disputará a reeleição na próxima terça-feira.

O anúncio, a quatro dias do pleito, irritou opositores, como Winston Tubman, seu principal adversário. As críticas refletem também o fato de a presidente ter uma imagem melhor no exterior do que em casa. O Nobel, agora, não só aumenta suas chances de ganhar, como de evitar o segundo turno.

- Eu fiz mais para parar a guerra. Ela era a favor de sua continuação - protestou Tubman.

Divorciada, Sirleaf tem quatro filhos e oito netos. Pesa no seu passado ter apoiado os rebeldes de Charles Taylor (hoje julgado por crimes de guerra), antes de se voltar contra ele e ser processada por traição em seu governo. Depois de perder a disputa presidencial para Taylor em 1997, ela foi eleita em 2005. Desde então, reduziu a dívida do país, ao mesmo tempo em que manteve a estabilidade. Não conseguiu, no entanto, diminuir a criminalidade e o desemprego, em 85%.

Passeatas e orações foram alguns dos meios dos quais a liberiana Leymah Gbowee lançou mão para buscar a paz em seu país e defender a participação da mulher na política. Mas sua estratégia mais famosa foi uma greve de sexo. Em 2002, Leymah persuadiu mulheres de combatentes a suspenderem as relações sexuais até que os companheiros concordassem em se sentar à mesa de negociações. A campanha bem-sucedida foi inspirada em "Lisístrata", personagem do grego Aristophanes que numa peça usa a mesma artimanha na Guerra do Peloponeso.

Nove anos depois, o avião de Leymah havia acabado de pousar em Nova York quando chegou a mensagem de um amigo no celular: "Nobel, Nobel, Nobel." Leymah começou a chorar, não resistiu e cutucou o passageiro ao lado:

- Quando você recebe uma boa notícia, quer compartilhar. Eu tinha ficado sentada ao lado do sujeito por cinco horas no voo, sem trocar uma palavra. Mas eu tinha que cutucá-lo e dizer: "Senhor, eu acabei de ganhar o Nobel da Paz!"

Aos 39 anos e mãe de seis filhos, Leymah está em Nova York para divulgar seu livro de memórias "Mighty Be Our Powers" ("Maiores são nossos poderes", em tradução livre). Alguns em seu país chegam a dizer que não haveria uma Ellen Johnson-Sirleaf se não existisse uma Leymah. À frente de mulheres de vestidas de branco, ela foi às ruas contra a guerra que assolou a Libéria de 1989 a 2003. Cantou e rezou com outras integrantes do movimento Mulheres pela Paz e estimulou o voto feminino, numa campanha que culminou com a vitória da atual presidente.

Amigos a descrevem como "uma guerreira ousada" - o que ficou evidente em 2003, quando liderou centenas de manifestantes pelas ruas de Monróvia para pedir o desarmamento de combatentes que estupravam mulheres e meninas.

- Não permitiremos mais ser estupradas, aleijadas e mortas - disse na ocasião.

Isso foi três meses antes de o acordo de paz ser assinado. Ele, no entanto, não acabou com os problemas ou a violência. Leymah hoje trabalha em Gana, como diretora Rede de Paz e Segurança para Mulheres na África e diz que o Nobel lhe dá mais energias e uma plataforma global para sua causa.

- Vou continuar o que faço de melhor: defender os direitos das mulheres e um mundo mais seguro - disse.

Conhecida como "a mãe da revolução no Iêmen", a jornalista e defensora de direitos humanos Tawakkul Karman descobriu que havia se tornado uma das ganhadoras do Nobel da Paz em sua tenda azul, no acampamento de manifestantes contrários ao ditador Ali Abdullah Saleh, onde vive desde fevereiro. Com um véu florido sobre a cabeça, a mãe de três filhos exclamou: "Eu não esperava". Em janeiro, a prisão temporária da ativista de 32 anos - em um país onde raramente as mulheres são detidas - impulsionou o levante contra o regime do ditador, há 33 anos no poder. Tawakkul defende manifestações pacíficas pela democracia mesmo diante da escalada de violência que transformou em zonas de guerra os combates entre forças do governo e dissidentes militares. Primeira mulher árabe a conquistar o Nobel da Paz, ela dedicou o prêmio à juventude e ao povo iemenita.

- É uma vitória para a nossa revolução e para nossos jovens que elegeram a via pacífica. Porque nossa revolução começou e acabará de forma pacífica. Reconstruiremos nosso país sobre a paz - disse, oferecendo o Nobel às mulheres do mundo árabe. Apesar da popularidade, ela não é uma unanimidade no país. Muitos a consideram uma islamista radical.

Tawakkul nasceu em Taiz, cidade no sul do Iêmen conhecida pela classe média proeminente, pela presença de intelectuais na universidade e pela oposição ao regime de Saleh. Ontem, o presidente evitou comentar a vitória da compatriota. O engajamento de Tawakkul na defesa dos direitos humanos começou bem antes da Primavera Árabe - a explosão de frustração contra os governos de regimes ditatoriais instalados há décadas em países que viviam os efeitos de graves disparidades econômicas. Desde 2007, ela faz parte de manifestações na Praça da Mudança, local de protestos antigoverno. Tawakkul integra o Partido Islah, de oposição fundamentalista islâmica.

A jornalista preside a organização Mulheres Jornalistas Sem Correntes, voltada para a defesa da liberdade de expressão. Ela já chegou a receber ameaças por telefone por se recusar a aceitar a rejeição do governo aos pedidos para iniciar legalmente as atividades de um jornal e de uma estação de rádio.

- O Islã tem sido sempre associado ao terrorismo radical e à intolerância. Conceder o prêmio a uma mulher islâmica? Isso significa uma reavaliação. Significa que o Islã não é contra a paz e nem contra as mulheres - resumiu.

FONTE: O GLOBO

Símbolos que ainda fazem falta :: Berna González Harbour

Poderíamos dizer que cada uma das mulheres premiadas merece o seu próprio Nobel, assim como a maioria dos homens premiados anteriormente.

Mas hoje isto não importa. A mensagem que o Comitê do Nobel acaba de enviar é que é importante: é preciso recuperar o tempo perdido, é preciso reafirmar a convicção de que, enfim, começa a se estender nas grandes instituições, apesar do atraso que elas sofrem em relação à sociedade real. E a mensagem é que as mulheres não são apenas iguais, elas devem ser reconhecidas e tornadas visíveis.

Já tínhamos conhecimento de que a mulher havia ingressado na universidade em países árabes, alcançado cargos cada vez mais ativos na América Latina ou mesmo na Ásia, e aprendido a traçar uma barreira diante da violência machista na Europa.

Elas são maioria em boa parte das faculdades árabes e começam a superar os homens em áreas como Direito e Medicina na Espanha. A representação em altos cargos e a visibilidade no poder é, no entanto, um dos assuntos mais importantes e ainda pendentes do século.

Muito ainda está por se fazer, mas boas notícias começam a semear esperança em parte do mundo, partes que abraçam a modernidade sem se importar com gênero, que querem ver ícones que funcionem como espelhos da sociedade real. E os grandes marcos parecem não estar mais isolados: a chegada de Dilma Rousseff à Presidência do Brasil é uma das conquistas mais recentes; a ascensão de Christine Lagarde ao comando do Fundo Monetário Internacional (FMI) é outra; e a nomeação, pela primeira vez, de uma mulher, Jill Abramson, para a direção do "New York Times", a meca do jornalismo ocidental, também traz esperanças.

A União Europeia deu um ano para que os governos do bloco adotem medidas mais que dissuasivas para favorecer a igualdade nas chefias de empresas. A Noruega já as impôs com sucesso. A ação da UE pode ser outro símbolo.

Hoje, portanto, podemos dizer, as vitórias começam a se aglomerar num sinal incômodo para aqueles que ainda não se renderam a elas. O Nobel que premia o papel das mulheres nas mudanças políticas e na transformação do mundo é mais uma dessas conquistas. Quem sabe, mais cedo do que pensávamos, mulheres em posições iguais às de homens vão deixar de ser notícia.

Mas, por hoje, os marcos ainda nos fazem falta.

Berna González Harbour é subdiretora e colunista do jornal espanhol "El País"

FONTE: O GLOBO

A Copa e a Fifa :: Edson Kober

Tenho visto coisas difíceis de entender no que tange à realização da Copa do Mundo no Brasil. Por exemplo, por que para realizar os jogos de uma Copa do Mundo é preciso tantas exigências com a segurança dos estádios. Quer dizer que os estádios brasileiros são inseguros; e, se não fosse a Copa, iriam continuar da mesma forma? Aí, não teria problema?

Fico procurando entender por que um país com tantas mazelas sociais vai fazer um investimento enorme para atender às exigências da Fifa para realizar esse evento. Ou seja, as exigências da Fifa se cumprem; o clamor popular fica sempre para depois.

Não sei por que a construção e reforma de tantos estádios. Na Copa dos Estados Unidos, não foi levantado sequer um estádio. Após o evento, fica a herança de verdadeiros elefantes brancos, onde fortunas foram gastas para construí-los. Na África do Sul, sede da última Copa, os estádios construídos não têm praticamente mais utilidade.

Parece que estamos indo pelo mesmo caminho. Vejamos o exemplo de Manaus, que, para sediar um dos grupos da competição, está gastando muito dinheiro para construir um estádio novinho em folha. Vale a pena? Qual a utilização que será dada ao estádio após a realização da Copa? Qual a relevância que tem o futebol de Manaus, que nem clube disputando a segunda divisão do brasileiro tem?

Mas uma coisa parece certa: a Fifa não perde, só ganha com a Copa. Na última, os ganhos com a venda de transmissão dos jogos e receitas de marketing ultrapassaram US$ 4 bilhões. A Fifa só arrecada, não gasta. Na verdade quem realmente põe a mão no bolso para pagar as obras exigidas da entidade é o poder público. E haja dinheiro. Aqui no Brasil, BNDES e CEF estão bancando a parada.

Por ocasião da escolha do Brasil como país-sede, o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, afirmou que esta seria uma Copa da iniciativa privada. Onde está esse dinheiro? Até agora, o que temos visto é a iniciativa privada ganhar muito dinheiro público para tocar as obras.

Olha, há muito o futebol deixou de ser uma prática esportiva saudável. No lugar do espírito esportivo, foi imposta uma série de interesses econômicos e políticos. Futebol virou mercadoria, e a sua finalidade, embora mascarada, é o lucro.

Infelizmente, com tantas crianças no mundo passando fome, tanta gente passando necessidade, sem moradia, sem escola, estamos dando prioridade para um evento que não tem a ver com as reais necessidades do nosso povo. Com o dinheiro que se está gastando, quantos hospitais, escolas ou universidades poderiam ser construídos? A pergunta para nós, cidadãos que trabalhamos e pagamos impostos, é: vale a pena gastar tantos recursos públicos em um evento que dura apenas um mês?

*Advogado, presidente da OAB – Lajeado/RS

FONTE: ZERO HORA (RS)