sábado, 28 de janeiro de 2012

Hora de baixar as armas no PMDB

Líderes do partido na Câmara entendem que o momento, após as demissões no Dnocs, é de evitar uma tensão com o Planalto que possa atrapalhar a nomeação dos substitutos e até mesmo a sucessão no Congresso

Erich Decat, Paulo de Tarso Lyra

O Palácio do Planalto não vai comprar uma briga política com o principal aliado da Esplanada nem humilhar publicamente o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN). Mas deixou claro, no episódio envolvendo a demissão do diretor-geral do Departamento Nacional de Obras de Contra as Secas (Dnocs), quem manda nessa relação. Apesar dos gritos de Henrique, o afilhado político dele acabou exonerado. A presidente Dilma Rousseff deu a ele a prerrogativa de indicar o substituto, o que passa a falsa impressão de prestígio. "O substituto terá de ter um perfil técnico qualificado e um currículo de probidade administrativa. Se ele conseguir encontrar um nome com esse perfil, tudo bem. Senão, Dilma vai colocar um nome que ela própria escolher, como fez em outros momentos", disse um aliado da presidente.

Enquanto não existe essa definição, a presidente mantém Ramon Flávio Gomes Rodrigues como interino. Essa tática já foi utilizada por Dilma nos Transportes, quando o PR esperneou mas Paulo Sérgio Passos segue no cargo até hoje. E com o próprio PMDB, no caso do Ministério do Turismo, quando a bancada entregou uma lista tríplice para o governo, Dilma não gostou de nenhum nome e sacou da cartola o nome de Gastão Vieira, mais ligado à bancada do Senado do que aos deputados.

As lideranças do PMDB na Câmara entenderam que o momento é desfavorável. A ordem é "baixar a bola" e "recolher as armas" para que o desgaste não se perpetue e torne a situação ainda mais delicada entre os dois lados. Mas o partido sabe que o Planalto não pode arrasar Henrique, já que ele é líder da bancada reeleito por unanimidade e o governo precisa dos votos peemedebistas na Casa. "O Planalto já mostrou quem manda, respondeu o enfrentamento. Não vai querer matá-lo politicamente e deixá-lo acuado", avalia um peemedebista.

Apesar dessa análise, alguns integrantes da legenda reconhecem que Henrique Eduardo Alves saiu em campo por uma "causa ruim" ao defender Elias, alvo de denúncia da Controladoria-Geral da União (CGU). Segundo relatório da instituição, publicado no fim do ano passado, durante a gestão de Elias, houve irregularidades estimadas em R$ 312 milhões. Outro problema apontado foi comprar briga num momento em que a presidente Dilma Rousseff surfa em índices de alta popularidade. Apesar da tentativa de mostrar que em público a relação permanecerá estável e que tudo não passou de um mal-entendido, o sentimento de que o partido merece um melhor tratamento deve permanecer internamente.

No Senado

Os gestos de Henrique também ressuscitaram a cizânia com a bancada do Senado. Os senadores atribuem ao destempero verbal dele os boatos, desmentidos ontem pelo ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, da saída de Sérgio Machado da presidência da Transpetro. "Ele queria proteger um afilhado e veio mexer no terreiro dos outros, como se não soubesse que o PT está doido para nos varrer do mapa", ironizou um peemedebista do Senado. "Já nos avisaram que o Jorge Zelada (diretor da área internacional da Petrobras) está na mira. Mas o Machado, não", declarou um parlamentar do partido.

A briga de Alves com o Planalto acendeu ainda um sinal de alerta com relação à sua candidatura à presidência da Câmara para o biênio de 2013-2014. Ficou no ar o receio de que como presidente da Casa, e tendo o domínio da agenda de votação dos projetos de interesse do governo, Henrique pode se tornar uma verdadeira pedra no sapato do Planalto. Diante dessa possibilidade, para alguns parlamentares do partido, há — em fase embrionária — movimentos contra a candidatura de Henrique, mesmo que de maneira velada, por parte de alguns setores do PT. "Eles estão sedentos para romper o acordo", confirmou uma fonte palaciana.

Os embates

Confira os conflitos que ocorreram entre o líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves, e o Palácio do Planalto

Trocas em Furnas

» Henrique Alves não aceitou a troca do comando nas estatais para desalojar os apadrinhados de Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Ameaçou entregar os cargos do PMDB. "Entrega", limitou-se a dizer o então chefe da Casa Civil, Antonio Palocci. Henrique perdeu a disputa.

Código Florestal

» O PMDB contrariou o Planalto ao propor uma emenda anistiando os desmatadores. O líder do PMDB fez um discurso duro na tribuna defendendo a visão do agronegócio. A emenda foi aprovada na Câmara e no Senado. A matéria está de volta à Câmara. Henrique venceu a disputa.

Código Civil

» O líder do PMDB contrariou mais uma vez o governo e comprou briga com a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) ao insistir na indicação de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) para a relatoria do novo Código de Processo Civil. Henrique perdeu a disputa.

Ministério do Turismo

Henrique Alves insistiu na manutenção de Pedro Novais no Ministério do Turismo. Com a queda do ministro, apresentou opções de substitutos que desagradaram o Planalto. Dilma acabou escolhendo Gastão Vieira (MA), ligado ao senador José Sarney (PMDB-AP). Henrique perdeu a disputa.

Dnocs

» Henrique elevou o tom para defender seu afilhado político, Elias Neto, na direção-geral do Dnocs, apesar de relatório da CGU apontando irregularidades. Duvidou que a presidente compraria uma briga com o PMDB. Elias Neto foi demitido. Henrique perdeu a disputa.

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

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