O desejo de retomar protagonismo no jogo político explica o empenho de Lula
na instalação da CPI do Cachoeira. Não se trata apenas de "fígado",
"sede de vingança" ou "sangue nos olhos".
Foi por determinação de Lula que a direção do PT exortou a militância a
cobrar investigações sobre os negócios do contraventor e sua ligação com
líderes da oposição. Partiu do ex-presidente, também, a ordem para o partido
fechar apoio à CPI.
Há a intenção declarada de empastelar o mensalão -denunciar os crimes da
gangue de Cachoeira como o "maior esquema de corrupção da história",
para diminuir o impacto do julgamento do principal escândalo da era Lula. Mas
não é só isso.
O sucesso de Dilma Rousseff em boa medida se deveu ao esmaecimento da
herança lulista -da "faxina" que extirpou ministros remanescentes à
guinada da política monetária, da degola de líderes no Congresso às mexidas na
Petrobras.
A CPI interrompe a desconstrução. Emancipa Lula do papel secundário de cabo
eleitoral de candidatos a prefeito, devolvendo-o a Brasília.
É sintomático que o ex-presidente faça articulações pró-CPI no hospital em
que se recupera do câncer e cuide para entregar a relatoria da comissão ao PT
paulista. Para ele, é ótimo que a teia de Cachoeira seja multipartidária: mais
legendas terão de entrar na fila do beija-mão.
Em princípio, a CPI não interessa a Dilma. Ela planejava resgatar a
"gerentona" -esquecida no primeiro ano e fazer um 2012 de
realizações. O caso Cachoeira, contudo, monopolizará o noticiário. Em vez de
discutir a queda de juros ou os novos projetos para a ciência, a imprensa se
ocupará de fraudes e propinas.
Mas Dilma tem dois alentos. O brasileiro, a despeito de tanta confusão, ou
por causa disso, gosta da presidente. E talvez não seja ruim ela ter como
contraponto, na política, logo o padrinho e confidente. De um lado é PT, do
outro também.
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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