quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

OPINIÃO DO DIA – Roberto Freire: Pinheirinho

"O que está acontecendo lá é absurdo, porque estas famílias não surgiram lá de repente. O problema da ocupação não é recente, portanto não se pode expulsar estas pessoas estabelecidas há quase 10 anos. A prefeitura teve tempo suficiente para regularizar a área, resolver isso de outra forma e nada fez. Este não é um problema que se resolve do dia para a noite [...] O correto seria desapropriar o terreno e regularizar a ocupação. Existe possibilidade de diálogo entre poder público (União, Estado e Município) para resolver de forma pacífica e coerente a questão. Somos contrários à expulsão das cerca de 6 mil pessoas que vivem no local e, mais ainda, contra a ação policial. Está é a posição do PPS."

Roberto Freire, deputado federal e presidente do PPS, no site oficial www.robertofreire.org.br, dia 24 de janeiro de 2011.

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO
Dilma decide demitir chefe do Dnocs, mas vai esperar PMDB
Yoani diz que se sente como Dilma
Remessas de lucros bateram recorde em 2011
No Sudeste, TJ do Rio é o que mais gasta com pessoal

FOLHA DE S. PAULO
90% apoiam internação involuntária de viciados
Justiça suspende liminar que dava a alunos acesso à redação do Enem
Dinheiro para emergentes será menor em 2012, alerta entidade
Dilma decide apertar controle de gastos extras do governo
Saída de Sergio Gabrielli da Petrobras irrita cúpula do PT

O ESTADO DE S. PAULO
Investimento no País cobre rombo recorde nas contas externas
Volta em grande estilo
Peemedebista salva obra superfaturada
"Falta de juiz" justifica altos salários no Rio
Gates: "Brasil tem de ajudar países pobres"

VALOR ECONÔMICO
Produtor banca safras recorde no Mato Grosso
Transporte chega atrasado à Copa
Cai o volume de derivativos na BM&F
Audiências agora são filmadas
Pessimismo é maior entre os brasileiros
Fraude virtual prospera no Norte e Nordeste

CORREIO BRAZILIENSE
E a festa virou palanque...
Dnocs sob domínio do líder do PMDB
Versão de hospital é desmontada por vídeo
Inflação ganha fôlego e assusta
Silicone: ANS ameaça multar planos

ESTADO DE MINAS
Lula lá no Planalto...e de olho em São Paulo

ZERO HORA (RS)
Chuva ameniza perdas na soja
Davos encara protestos globais

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
RMR liderou criação de empregos em 2011
Fera do Enem perde direito de ver provas
Titular do Dnocs é demitido após denúncias
Planalto

Mais segurança pessoal, menos desigualdade::Fernando Henrique Cardoso

Fernando Henrique Cardoso, entrevista a The Economist online, 19/01/12

Em 12 de janeiro o chefe da nossa sucursal em São Paulo entrevistou Fernando Henrique Cardoso, presidente do Brasil de 1995-2002, no Instituto FHC. Eles discutiram os desafios do Brasil e seu poderio global crescente. Você pode clicar abaixo [no site da revista] para ouvir a conversa, ou ler a transcrição completa a seguir.

The Economist: Podemos começar pela maneira como a posição do Brasil no mundo está mudando? O Brasil parece estar tentando criar um novo tipo de poder mundial – um “soft power”.

Cardoso: No século passado a economia do Brasil cresceu muito consistentemente até 1980. Só o Japão cresceu mais depressa em termos per-capita. Daí em diante o Brasil tem sempre procurado novos papéis. Na cabeça do povo brasileiro, somos um gigante. Mas nosso tamanho, por muito tempo, foi uma ilusão. Nós ainda não temos capacidade de desempenhar um papel importante. Ficamos o tempo todo imaginando o que poderíamos vir a ser.

O Brasil aspirava ser parte do grupo central da Liga das Nações; depois da Segunda Guerra Mundial o Brasil levantou essa possibilidade de novo [durante a criação das Nações Unidas]. Churchill vetou, dizendo que as Américas não poderiam falar com duas vozes. Churchill errou. Assim, nós sempre aspiramos a um papel importante.

No século XIX, por causa do confronto entre Espanha e Portugal, nós nos envolvemos em guerras no Sul, e o império brasileiro foi percebido por nossos vizinhos como uma ameaça. Depois o eixo deslocou-se para os Estdos Unidos e o Brasil virou uma República e muito mais acomodado – e novamente hesitou. Até que ponto deveríamos desempenhar um papel hegemônico na região? Nunca assumimos esse papel. Preferimos ser amados a ser temidos.

No fim do século passado, a economia recuperou o vigor, estabelecemos tradições democráticas e redescobrimos nossas peculiaridades culturais. Isso nos deu uma sensação de que talvez pudéssemos desempenhar um papel na área da “soft politics”: não apenas por sermos economicamente fortes, mas também por causa da nossa capacidade de aceitar os outros, de sermos tolerantes. Nós gostamos de nos considerar sem preconceitos, como uma democracia racial. Não é inteiramente verdade, mas é uma aspiração com alguns ingredientes de realidade. Porque de fato nós somos mais tolerantes do que vários outros países.

Compare os Estados Unidos e o Brasil. Ambos são países construídos com base na imigração, nas no Brasil os imigrantes se integraram mais, e o que é mais impressionante é que as culturas se fundiram. Não temos uma cultura negra no Brasil, e uma cultura branca. Não tem sentido no Brasil falar de cultura negra: ela é a nossa cultura.

E nós aceitamos a variedade religiosa. Não somos intolerantes – os brasileiros são sincretistas, não fundamentalistas. E porque somos um país de imigrantes, temos contato com diferentes partes do mundo. Muitos brasileiros são japoneses e talvez mais de 10 milhões são árabes. Mais que isso são alemães. Não há outro país no mundo com mais italianos, em números absolutos. E tudo isso se fundiu. Nós nunca sabemos exatamente qual é nossa ascendência.

O Brasil sempre foi a favor do multilateralismo, em vez de relações bilaterais, e de tentar negociar, lançar pontes. A diplomacia brasileira se baseia nisso. Nós precisamos olhar para o Sul, para a bacia do Rio da Prata, e para os Estados Unidos; relacionarmo-nos tanto com os Estados Unidos quanto com o Sul.

Há elementos de flexibilidade na cultura brasileira que têm origem em Portugal, não só no Brasil. Se você comparar os portugueses e os holandeses na África, é bem diferente. Os portugueses sempre tiveram relações sexuais com os nativos.Há uma frase que eu gosto de repetir quando estou na Espanha. No século XVIII, o Marques de Pombal [Sebastião José de Carvalho e Melo, o primeiro ministro do Reino de 1750 a 1777] escreveu uma carta para seu irmão, o vice-rei do Norte do Brasil, dizendo: temos que estimular os portugueses a se casar com mulheres indígenas, porque é melhor ter meio português do que um espanhol! Eles estavam enfrentando os espanhóis e se preocupavam com a questão demográfica. Sentiam que essas crianças eram, de algum modo, portuguesas. Isso não é comum no mundo hispânico, eles se mantinham mais separados.

Então, no Brasil, a classe dominante em geral tentava disfarçar o fato de que a desigualdade era tão grande. Uma das maneiras de disfarçar as diferenças é tratar as pessoas como se elas fossem mais próximas do que realmente são, falar como se fôssemos iguais. Até certo ponto, isso é um engodo, mesmo que as pessoas não se dêem conta; é uma maneira de manter as diferenças sem provocar uma reação forte. A parte tradicional da classe dominante no Brasil será sempre amena, gentil, pedindo sempre “por favor”, em vez de mandar. Com a nova burguesia não é assim: eles são muito mais arrogantes do que os grupos da elite tradicional do Brasil. São diferentes – mais capitalistas.

The Economist: Vamos falar das mudanças sociais. O Brasil mudou muito nos últimos anos.

Cardoso: O divisor de águas foi a nova Constituição. O começo foi a luta contra o regime militar e as greves. A nova Constituição foi o batismo de uma nova sociedade.

The Economist: Ainda está mudando. Esta República é jovem; a Constituição foi escrita apenas em 1988. Vocês ainda estão ajustando suas instituições. Você participou do processo de construção de instituições, possivelmente o mais importante agente desse processo.

Cardoso: O sentido institucional sempre foi muito presente no Brasil, em comparação com outras partes do Novo Mundo. A monarquia portuguesa era estável, e somos herdeiros da coroa portuguesa. Todas as instituições chegaram aqui com o rei de Portugal e o Rio [de Janeiro] tornou-se a capital do Império português. Ao mesmo tempo, esta é uma sociedade altamente desorganizada! É difícil combinar estes fatos: que temos instituições e ao mesmo tempo estamos sempre dispostos a desobedecê-las. É a flexibilidade – o “jeitinho”. Isso é bom e ruim. Em certos aspectos nossa legislação é ótima mas a prática é um desastre. Por exemplo, temos regras muito estritas sobre a conduta dos funcionários públicos e políticos, e sobre o dinheiro público. E apesar disso a corrupção está aí.

The Economist: A corrupção está aumentando?

Cardoso: Sempre tivemos algum grau de corrupção, aqui e ali, mas o sistema não era corrupto. Agora o sistema permite a corrupção como um ingrediente normal. Todos sabem que quando você organiza um governo você tem que partilhar poder com os partidos. Mas você não está partilhando poder, você está partilhando oportunidades de ter bons contratos.

The Economist: Não foi esse o caso para você?

Cardoso: Não, não, não. Talvez num ou outro caso, mas agora o sistema inteiro está baseado nisso. Isto é novo. É uma evolução muito ruim. Na cultura política, a flexibilidade tornou-se, não flexibilidade, mas tolerância com o crime. Você tem instituições, tem tribunais, mas ninguém está na cadeia.

The Economist: Você vê algum sinal de movimento por mudanças na sociedade?

Cardoso: Alguns indivíduos têm muita raiva. O ponto é que, nos últimos 15 anos, a sensação de bem-estar tem sido tão óbvia, e melhora a cada ano. A população talvez saiba que há alguma coisa errada, mas fica nisso. Não agem contra, não protestam. Algumas pessoas, sim, a “velha” classe média.

The Economist: Agora o Brasil tem duas classes médias.

Cardoso: A nova classe média talvez venha a protestar no futuro, porque ela não e um produto da corrupção, mas dos mercados. Ela está ascendendo na escala social pelo trabalho, por seu próprio esforço. Então eu espero que com o tempo ela reaja. Mas isso vai depender da situação geral. Porque hoje ninguém se importa. As pessoas, são contra a corrupção, aqui e ali, mas não se mobilizam, porque a situação esta ok, elas estão ascendendo.

The Economist: Essas pessoas são eleitores naturais do PSDB? Pessoas que estão trabalhando duro e querem manter o que é seu, em outros países votam em partidos que economicamente são de centro-direita. (Nota: o PSDB, ou Partido da Social Democracia Brasileira, foi fundado por Cardoso e outros no bojo do movimento de oposição à ditadura militar, em 1988. O PT, ou Partido dos Trabalhadores, ao qual pertencem a atual presidente, Dilma Rousseff, e o presidente anterior, Luiz Inácio Lula da Silva, foi fundado mais ou menos na mesma época.)

Cardoso: Mas não há sentido de esquerda e direita no Brasil. É estranho. Não temos uma direita no Brasil. O PSDB começou de centro-esquerda e agora na prática é de centro. Mas o que isso significa?

Qual a diferença entre o PSDB e o PT? No começo era muito claro. O PT tinha muito mais ligação com os sindicatos, era muito mais próximo a setores da igreja e tinha uma vaga ideia de socialismo – não socialismo tradicional, não comunismo, mas socialismo no sentido de que não apostavam no estado para mudar a sociedade, mas, ao contrário, que a sociedade civil mudaria o estado. O PSDB sempre foi mais próximo da classe média do que dos sindicatos e nunca teve uma aspiração socialista tão nítida. Era mais social-democrático que socialista, mas, de novo, apoiava a ideia de que o importante não era expandir apenas o estado mas criar sociedade civil.

Agora creio que o PT descartou a sociedade civil. Ele acreditam no partido e no estado.

The Economist: Qual o papel da oposição num país onde o governo é tão grande? Dentro do governo está todo mundo, dos comunistas à direita, passando pelos latifundiários. Não há ideologia.

Cardoso: Isto é uma certa confusão, mais acentuada sob Lula, porque Lula virou o pai dos pobres – e dos ricos também. Em nome da governabilidade. Lula nunca teve um sentido de luta de classes, apesar de ser um líder sindical. Para ele o importante é negociar. Negociação, mais o enorme ímpeto vindo dos mercado, significou que não há mais diferença entre direita e esquerda.

Sob o regime autoritário tivemos uma direita mais nítida porque havia uma esquerda mais nítida, por causa da Guerra Fria. Com o fim da Guerra Fria e o enorme progresso econômico do Brasil, os grupos mais direitistas no Brasil não são mais direitistas, são conservadores. Em certo sentido, são clientelistas: gostam de estar junto do governo. Se você observar a composição do Congresso, vai ver as mesmas pessoas apoiando [José] Sarney, [Fernando] Collor, [Itamar] Franco, eu mesmo, depois Lula [Luis Inácio Lula da Silva] e agra Dilma [Rousseff]. Não quero pegar um nome específico, mas, só para dar um exemplo, um amigo meu, ministro de Minas e Energia, foi parte disso tudo. Sarney é a mesma coisa: ele foi chefe do grupo do Congresso que apoiou o regime militar e está no governo até hoje.

The Economist: O que faz a oposição não sistema como esse?

Cardoso: Hoje a oposição está numa espécie de armadilha. Nossos partidos tornaram-se cada vez mais partidos congressuais. A oposição é muito ativa no Congresso, faz discursos, protesta, quer organizar uma CPI, uma audiência. E para o povo isso não é nada. A sociedade simplesmente não liga para o Congresso. Os partidos não têm contato com a sociedade. O PSDB tem sido forte em São Paulo há muito tempo, sim, mas a população presta atenção no Executivo, não no Legislativo. Na cabeça dos brasileiros não há contradição entre votar em Lula para presidente e no PSDB para governador do estado.

Contudo, você pode encontrar elementos de racionalidade. Se for ver onde o PSDB é mais forte do que o PT, a tendência é clara: é nas partes do Brasil que são mais desenvolvidas economicamente, mas orientadas para o mercado, ou seja, no meio da “nova classe média”. Não era assim, porque o PT era muito forte nas classes populares urbanas em São Paulo. Mas o PT foi perdendo terreno em São Paulo e se fortalecendo no Nordeste do Brasil, onde em alguma medida substituiu os velhos partidos clientelistas, porque agora é o PT a chave para o dinheiro público.

Isto não é absoluto: há governadores do PT no Sul e governadores do PSDB no Nordeste. Mas se olhar no nível das prefeituras o PSDB está principalmente nas partes economicamente mais progressistas do Brasil: áreas onde o mercado é mais forte e as pessoas são menos dependentes do governo.

Se o PT está no governo, ele consegue todos os aliados em Brasília [onde está baseado o Congresso brasileiro]. Por isso é tão difícil entender isso numa perspectiva européia. Em alguma medida, mas não exatamente, nossos partidos são mais parecidos com os americanos – uma espécie de máquina de produzir votos. Mas nós com certeza não temos o espectro ideológico que você tem na Europa.

The Economist: Na Europa os partidos de esquerda conseguiram achar um novo papel para si mesmos desde o fim da Guerra Fria: algo como justiça, ou equidade, ou aparar as arestas do mercado. Suponho que hoje no Brasil não existe a sensação de que o mercado tem arestas tão duras!

Cardoso: Se eu penso numa oposição mais forte no Brasil, ela provavelmente se baseará em ideias não-econômicas: justiça, segurança pessoa; republicanismo em contraposição à corrupção; respeito pela lei; qualidade de vida.

Se você olha a vida cotidiana, o que está ganhando espaço no Brasil é o mercado. O governo é muito forte e importante, mas o espírito do mercado também está permeando o governo. Veja, por exemplo, a Petrobras ou o Banco do Brasil: eles atuam como empresas privadas.

É importante enfatizar que o espírito de empresa tmbém está ganhando espaço no Brasil. Veja o sistema bancário. Ele se baseava em emprestar dinheiro para o governo a juros muito altos. Mas agora estamos chegando num ponto em que não dá para sustentar esses juros altos, de modo que os bancos terão de se adaptar. O acesso a banco era muito restrito no Brasil; agora está se expandindo. A ideia de crédito é muito nova porque com a inflação isso era impossível.

Em comparação com alguns outros países latino-americanos o sistema bancário no Brasil tem certas vantagens. Temos um sistema financeiro misto, 50% estatal, 25% controlado por famílias brasileiras e 25% por bancos internacionais. Então e altamente diversificado. Segundo, a dívida interna está nas mãos de brasileiros. Sempre tivemos um sistema financeiro enraizado na sociedade brasileira.

Seria impossível fazer aqui o que foi feito na Argentina. O dólar nunca foi nossa moeda, ao contrário da Argentina. Ao logo de todo o período inflacionário nossa poupança se manteve em moeda local, porque tínhamos um sistema de indexação para ajustá-la. Nunca tivemos “currency board”. Eu mesmo tive uma tremenda discussão com o FMI na crise de 1999 [quando o custo do financiamento da dívida pública brasileira de um pulo e o país acabou desvalorizando sua moeda]. [Stanley] Fischer, que hoje é presidente do Banco Central de Israel, disse: Vocês têm que fazer o que a Argentina fez. Nós resistimos. Nunca aceitamos amarrar nossa moeda ao dólar, porque sabíamos da importância de podermos desvalorizar nossa moeda, por causa das nossas exportações. Na Argentina, mesmo hoje, estão mandando dinheiro para o exterior. Não temos esse problema: temos um sistema financeiro muito forte e a poupança está em moeda nacional.

The Economist: Agora está entrando dinheiro e há o problema oposto: o real está incrivelmente forte.

Cardoso: É um problemão. Agora não temos alternativa a não ser aumentar a produtividade. Mas o problema com a produtividade agora não está dentro das empresas, está fora. É o governo; são as estradas; é a tributação. O que tem que ser feito é uma longa história, mas o governo precisa racionalizar, fazer algumas reformas. Algumas são muito difíceis de realizar – como a reforma tributária – mas são necessárias. Veja a carga tributária: subiu a mais de 36% do PIB. Nosso PIB hoje é mais de US$2 trilhões. Trinta e seis por cento de US$2 trilhões e muito dinheiro. Mas o governo está expandindo a burocracia; super-expandindo sem levar em conta a necessidade de renovar a infraestrutura e se concentrar na educação. A população vai reagir contra ainda mais aumento de impostos. Isto tem que forçar o governo a ser muito mais racional no uso desse dinheiro.

The Economist: Você vê algum sinal disso acontecer?

Cardoso: Não sei… Talvez por causa da presidente Dilma Rousseff. Ela é muito mais aberta para entender os números.

The Economist: Você tem uma relação muito interessante com a presidente. Vocês dois parecem ter criado um novo relacionamento entre ex-presidente e presidente.

Cardoso: Porque Lula perdeu a oportunidade de fazer isso. Eu tinha uma relação pessoal antiga com Lula. Fomos muito próximos. Ele passou férias na minha casa de praia com sua família. Mas não tivemos relação institucional, porque essa foi a decisão do PT. Mas isso foi por causa da política eleitoral. Dilma é diferente. Ela não tem ligação pessoal comigo, é um relacionamento muito mais superficial do que foi com Lula. Talvez ela ainda não se veja – pelo menos até agora – como candidata, de modo que ela não encara outras pessoas como inimigos. Não sei, mas ela tem sido sempre muito correta comigo.

Por coincidência, tive um sonho na noita passada, em que nós – Lula e eu – propunhamos juntos um consenso nacional. [risos] É tão óbvio que o Brasil precisa se concentrar em algumas coisas fundamentais. Que fazer com a energia? Que fazer com a educação? Como criar melhores oportunidades para nossa infraestrutura, com o governo e o setor privado trabalhando juntos? Como chegar a um consenso sobre o meio ambiente? É tão óbvio. Essas não são questões partidárias, mas nacionais.

The Economist: Consensos nacional tende a acontecer em tempos de crise…

Cardoso: É por isso que não acontece. Por outro lado, há uma espécie de acordo não-explícito. Quando Lula assumiu a presidência o mundo acreditou que ele destruiria tudo o que eu tinha feito. E ele não destruiu – sem ser explícito. Quando eu vivi no Chile [durante o período da ditadura militar no Brasil] os democratas-cristão e socialistas eram adversários, os socialistas muito mais à esquerda e os democratas-cristãos muito mais conservadores. Depois eles convergiram para criar uma força unida, a Concertación. Nós não fizemos assim. Mas na prática estamos fazendo a mesma coisa, em alguma medida. O discurso eleitoral é diferente, claro, porque você tem que sinalizar que é diferente. Mas na prática não é – o que dificulta a oposição.

The Economist: Sobre o tema da oposição, vou dizer francamente que achei a campanha do PSDB para presidente em 2010 muito fraca. O partido vai ser mais combativo e 2014 e apresentar um candidato em torno do qual possa se unir? Ele tem uma estratégia clara? Ou vai apenas brigar internamente e rachar?

Cardoso: Na última campanha o PSDB teve equívocos enormes. No começo o favorito era nosso candidato ]José Serra], disparado. E em vez de organizar alianças – porque é mais fácil criar alianças quando se está por cima, porque os partidos querem estar junto com o vencedor, como eu disse antes – nós não fizemos isso. Nosso candidato ficou isolado, até internamente.

The Economist: Ficou isolado ou isolou-se? Ele afastou os outros?

Cardoso: Sim. E isso foi muito ruim. E apesar disso, Dilma foi para o segundo turno. E Serra teve 44%.

The Economist: Só 44% contra alguém que nunca tinha sido cogitada para presidente antes…

Cardoso: Com Lula por trás. Seja como for, o que estou tentando dizer é que seria possível ganhar. Foi falha nossa.

The Economist: Com o mesmo candidato?

Cardoso: Bem… talvez não.

The Economist: Como o PSDB vai se unir ao redor de um candidato?

Cardoso: Tem que buscar a unidade interna. Eu diria que agora o PSDB está mais consciente da necessidade de se unir. Não é simples, porque o senso de coesão baseada em valores é menos forte que no passado. É mais uma questão de personalidades agora. E o mesmo se aplica ao outro lado. A última campanha deles foi nada, zero; as questões reais nunca foram levantadas. Foi um simulacro de campanha, com marqueteiros desempenhando o papel de atores principais, em vez de serem submetidos a alguma liderança.

Agora há vários pontos de interrogação. Qual será o papel de Lula? Eu diria que ninguém sabe, nem ele mesmo. Por causa da sua saúde [Lula tem câncer na garganta, com um bom prognóstico], mas não só por isso. Diria que normalmente Lula tentaria concorrer: ee é um animal muito competitivo, um animal político. E provavelmente a presidente Dilma não tem respaldo interno [em seu partido e nos parceiros de coalizão]. Se ele também tiver a mesma aspiração – não tenho certeza – será difícil para ela. Uma coisa é concorrer com Lula, outra é concorrer com outra pessoa, mesmo a presidente Dilma.

No caso do PSDB, o ex-governador Serra desempenha o papel de Lula: ele tem fibra, gosta de competir. Não sei até que ponto ele estará mais convencido que não é a vez dele, para dar espaço a outros.

The Economist: Quem seria o candidato óbvio?

Cardoso: Aécio Neves.

The Economist: Aécio pode ganhar?

Cardoso: Aécio é de uma cultura política brasileira mais tradicional, mais capaz de estabelecer alianças. Ele tem apoio em Minas Gerais [seu estado]. São Paulo não é assim, sempre se divide, é muito grande. As coisas vão ficar mais claras depois das eleições municipais [em outubro de 2012]. Provavelmente vamos ver uma forte luta interna no PSDB, entre Serra e Aécio.

The Economist: Geraldo Alckmin [atual governador de São Paulo e candidato presidencial do PSDB em 2006] também está no jogo?

Cardoso: Não, eu acho que não.

Tenho alguma responsabilidade no caso do PSDB. Para botar as cartas na mesa, meu sucessor natural morrer, um ex-governador de São Paulo, Mario Covas. Eu fui presidente por oito anos, fiz parte do governo antes disso, e estava com 71 anos. Já chegava. Decidi que era hora de abrir espaço para outros, não só por generosidade, mas também porque estava cansado de exercer a liderança política. E Covas morreu. Assim, nenhum líder inconteste me substituiu. Foi uma tensão permanente entre três ou quatro possíveis candidatos, e no fim Serra saiu candidato, mas sem convencer os outros que ele era realmente o homem. E agora de novo não está claro. No caso do PT foi diferente porque Lula nunca se afastou da luta, e impôs Dilma. Vamos precisar de algum tempo para reorganizar a hierarquia da liderança. E é muito tarde para mim – estou com 80 anos – para aspirar isso.

The Economist: Você ainda é uma das vozes mais importantes dentro do seu partido.

Cardoso: Certo, mas não por minha causa, e sim por falta de outros! Acho que isso é ruim para o Brasil. E o mesmo se aplica ao outro lado: é só Lula. Deixe-me dizer de modo impessoal: nos últimos 20 anos, só dois líderes. Não é saudável para um país, um país grande. Eu tomei minha decisão: abrir espaço. Esse espaço ainda está aberto.

Temos algumas pessoas de uma nova geração. Depois da minha geração há Serra e o ex-governador do Ceará, Tasso Jereissati. Depois vem Aécio; o governador do Pará, Simão Jatene; o governador de Goiás, Marconi Perillo. Olhando objetivamente, há outo governador, do Partido Socialista, Eduardo Campos, de Pernambuco, que poderia virar líder – ele tem algumas das características. Ele poderia ser capaz, mas ainda não. É uma possibilidade.

Então, há possibilidade. É uma questão de tempo. Provavelmente se Lula não se envolver – o mesmo vale para mim – seria melhor. Para deixar acontecer naturalmente.

The Economist: Desde que deixou a Presidencia, você tem falado publicamente de vários assuntos delicados, notadamente a futilidade da guerra às drogas e a necessidade de tratar o abuso de drogas como um assunto de saúde pública, não criminal.

Cardoso: No meu livro mais recente, “A soma e o resto”, falo francamente sobre vários assuntos, sem levar em conta que sou um ex-professor de sociologia e ex-presidente. Falo como uma pessoa. É difícil, mas em todo caso eu tentei. Incluí o que eu penso sobre drogas. É hora daqueles que realizaram alguma coisa tomar a palavra, porque o que está minando o prestígio dos políticos na sociedade é que os políticos preferem não assumir posições. Porque causa problemas. Porque às vezes o custo de ser franco é muito alto.

No livro eu falo de coisas menos comuns, como a minha espiritualidade, por exemplo, porque nos bastidores as pessoas sempre discutiram até que ponto eu sou ou não uma pessoa de fé. Também sobre o que penso da abordagem tradicional da vida política: o sistema partidário. Ele está completamente ultrapassado com você tem novas formas de conexão, como a internet. Na minha cabeça não está claro o que pode ser feito pelas mídias sociais, internet, smartphones e assim por diante. Que eles podem mobilizar as pessoas está bem claro, estão fazendo isso. Mas, assim sendo, como se conectar com as instituições políticas? Creio que este é um ponto de interrogação para o mundo todo.

Tradução: Eduardo Graeff

Aécio agradece a FH, e Serra discorda do 'amigo'

Senador, apontado pelo ex-presidente como nome "óbvio" para 2014, se diz honrado, enquanto Serra diverge "sem polemizar"

Christiane Samarco

BRASÍLIA - Após ter sido citado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso como o "candidato óbvio" do PSDB à Presidência em 2014, o senador Aécio Neves (MG) divulgou nota ontem em que agradece pelos elogios e valoriza o próprio perfil "agregador". "Temos que trabalhar agora pelo fortalecimento partidário e para ampliar o alcance do nosso discurso", afirmou. Já José Serra, que não desistiu da disputa ao Planalto, preferiu evitar a polêmica com o ex-presidente: "São opiniões dele. Não estou de acordo com algumas delas, mas não vou polemizar com um amigo".

Na mesma entrevista, publicacada na seção Americas view do site da revista britânica The Economist, FHC criticou "erros enormes" da campanha de Serra a presidente em 2010 e disse que o ex-governador paulista poderá abrir caminhos para novas lideranças daqui pra frente. Para FHC, Serra "não formou alianças e ficou isolado mesmo internamente" durante a campanha.

O g0vernador Geraldo Alckmin optou pela neutralidade diante da polêmica. "Temos grandes nomes no PSDB preparados para essa responsabilidade. É um tema a ser amadurecido. Mas está longe ainda", afirmou ontem.

O líder do PSDB na Câmara, Duarte Nogueira (SP), admitiu ontem, "com muita serenidade", que fora de São Paulo, onde, segundo ele, Serra é o presidenciável natural, "há uma preferência neste momento por um nome novo, em função das derrotas de 2006 e 2010". E concluiu: "Esse nome novo é o do Aécio." Duarte Nogueira observou apenas que a política é dinâmica e amanhã o cenário pode mudar.

Mas na avaliação do presidente do PSDB mineiro, deputado Marcus Pestana, o futuro já tem nome na percepção hegemônica do partido: "Nove entre dez tucanos que olham para 2014 hoje veem a cara do Aécio". Ele entende que FHC apenas "jogou luzes sobre o cenário futuro com um diagnóstico preciso dos erros do passado" e tem autoridade política e intelectual para fazê-lo.

Aécio fez questão de destacar que o momento para definir o "melhor nome, entre os vários de que dispõe o partido" será depois das disputas municipais de outubro deste ano. "No momento certo, independentemente de quem será o nome, o PSDB estará em condições de apresentar um projeto ao País que faça o contraponto ao modelo de governança representado hoje pelo PT", disse na nota de oito linhas.

Paulistas. Vice de Serra no governo de São Paulo, Alberto Goldman contestou FHC, afirmando que "o importante na escolha do próximo presidente não é só a capacidade de fazer alianças, mas de enfrentar os grandes problemas que o País ainda tem e de dar ao desenvolvimento um ritmo compatível com o potencial do Brasil".

Colaboraram Lucas de Abreu Maia e Felipe Frazão

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Austeridade versus empregos:: Merval Pereira

Não é por acaso que a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, abrirá o Fórum Econômico Mundial aqui em Davos. A Europa está no centro das discussões sobre como sair da crise atual, e enquanto os Estados Unidos parecem estar encaminhando uma lenta recuperação, a zona do euro não encontrou um consenso sobre como tratar o assunto de maneira conjunta.

O risco improvável, mas possível, de uma quebradeira europeia — como salientou o crítico do "Financial Times" Martin Wolff — faz com que seja imprescindível que a zona do euro chegue a um consenso sobre o que fazer, antes que uma piora da situação contamine a frágil recuperação americana e jogue o mundo em uma crise mais profunda.

Nos diversos painéis que discutirão a situação atual da crise econômica, um dos pontos mais fundamentais é a posição da Alemanha, que vem exigindo restrições fiscais cada vez mais rígidas dos outros membros da zona do euro, o que só faz aprofundar o clima de recessão previsto para este ano.

O que está em discussão é como promover o retorno do crescimento econômico sem sacrificá-lo pelo excesso de austeridade.

Como o país de economia mais forte e organizada da região do euro, a Alemanha está sendo instada a admitir que a esta altura da crise uma política de austeridade excessiva não ajudará a criar um clima propício para o surgimento de novos empregos.

A reação está vindo de diversos lados, inclusive do presidente da França, Nicolas Sarkozy, empenhado em uma difícil campanha de reeleição.

Atrás nas pesquisas, Sarkozy viu no domingo o candidato socialista François Hollande lançar as linhas gerais do que seria um programa de seu eventual governo anunciando, por exemplo, que seu "verdadeiro adversário" é o mundo das finanças, ou que criará uma nova alíquota de 45% do imposto de renda sobre os ganhos acima de 150 mil euros, "que não são da classe média", ironizou.

Mesmo com discurso classificado de "prudente", François Hollande demarcou algumas posições de esquerda, e o atual presidente francês joga com possibilidade de que a crise econômica possa fazer com que a maioria do eleitorado tenda a mantê-lo no cargo, com receio de mudanças bruscas num momento de fragilidade econômica.

Mas para isso precisa apresentar um plano que não seja apenas de austeridade, mas de perspectiva de criação de novos empregos, especialmente para os jovens, os mais atingidos pela crise.

Ele está pressionando Angela Merkel para não esquecer a carta do crescimento econômico sempre que falar sobre a necessidade de controle dos gastos públicos, e está anunciando a criação de um banco público de investimentos na indústria. Seu adversário François Hollande apossou-se da ideia, e deu nome a ela: criará o "banco da indústria".

Também o primeiro-ministro da Itália Mario Monti, homem de confiança das instituições financeiras, começa a se inquietar com a falta de perspectiva para a criação de empregos, e já anunciou medidas que vão além da simples contenção de gastos. Vai promover investimentos em obras de infraestrutura a fim de abrir mais empregos.

A preocupação com as exigências do mercado financeiro é tamanha que haverá uma mesa redonda com o tema "Bancos, cura ou maldição", com a presença do presidente do banco de investimentos Goldman Sachs, Gary Cohn, e o economista Nouriel Roubini, que continua advertindo para a possibilidade de o mundo entrar em uma recessão novamente.

Apesar de o banqueiro Vikran Pandit do Citigroup ter o papel de copresidente da reunião de Davos neste ano, e de alguns banqueiros importantes estarem presentes, como Urs Rohn, presidente do Credit Suisse e Brian Moynihan, do Bank of America — os três participarão de um painel —, vários banqueiros, especialmente europeus, não comparecerão, alguns alegando problemas urgentes para resolver em casa, como o novo comandante do BNP Paribas ou o do Lloyd´s, mas a maior parte temerosa de um clima, se não hostil, pelo menos questionador nos debates aqui em Davos.

O presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, por exemplo, será questionado por seu papel na crise, diferente do exercido pelo Federal Reserve, o Banco Central dos Estados Unidos, que não tem poupado esforços para colocar mais dinheiro no sistema bancário, para revitalizar a economia.

A rigidez do Banco Central Europeu, que evita emprestar dinheiro diretamente a países e se mostra pouco flexível no trato da política monetária, é considerada uma das causas de o ambiente econômico europeu não ter dado sinais mínimos de recuperação.

A excessiva austeridade imposta pela Alemanha, e a inflexibilidade do Banco Central Europeu seria uma mistura explosiva no momento em que o mais importante seria estimular a criação de empregos.

A grande dúvida, que também paralisa os países da zona do Euro, é que quanto maiores forem os estímulos para o crescimento, mais aumentará a dívida dos países, reduzindo a perspectiva de resolver a crise.

Mas a já chamada "armadilha de austeridade" também não propõe uma solução, pois é impensável que países europeus admitam permanecer em recessão pelos próximos anos, eles que estão entrando em recessão pela segunda vez em três anos.

FONTE: O GLOBO

Antes tarde:: Dora Kramer

Muito boa a providência anunciada pela presidente Dilma Rousseff na primeira reunião ministerial de 2012: lá para meados do ano vai começar a acompanhar "de perto" tudo o que acontece no governo.

Cada pasta será obrigada a manter sistemas atualizados de informações "online" para que a Presidência, sob coordenação da Casa Civil, possa monitorar todas as ações, os gastos, o cumprimento das metas e cobrar resultados na hora, sem postergação.

Não obstante seja positiva a demonstração de ativismo, o anúncio não traz novidade alguma a não ser a confissão de que o governo iniciado há nove anos - considerando a continuidade da gestão Luiz Inácio da Silva - não vem cumprindo obrigações básicas.

Não atende aos pressupostos de transparência, eficácia e de intransigência no tocante a desvios e desmandos, visto que acaba de anunciá-los como regras a entrarem em vigor mediante preparação especial de cada um dos 38 ministérios.

Nem com toda boa vontade do mundo é possível aceitar que o objetivo de prestar "melhores serviços à população", conforme explicou o porta-voz, Thomas Traumann, seja, como disse a presidente em seu discurso, "um projeto revolucionário, progressista e indispensável", à reforma do Estado.

Com perdão da constatação acaciana, é o mínimo que se espera do poder público. Onde a revolução? Ao que se saiba, há um sistema de acompanhamento da execução do Orçamento em funcionamento desde 1987. Há portais que deveriam abrigar todas as informações relativas a cada uma das pastas.

Convenhamos, o acompanhamento "online" do que quer que seja não se constituiu exatamente numa inovação. Muito menos pode ser visto como método revolucionário.

Além disso, há (ou deveria haver) a sistemática tradicional de contato permanente da presidente da República com seus auxiliares diretos. Mas o gigantismo e as idiossincrasias talvez atrapalhem o andamento dos trabalhos e favoreçam a inércia agora confessada.

Situação difícil de ser superada sem a proposição de reforma de fato, sem enfrentar embates com aliados, votações difíceis, pressão de lobbies, sem criar atritos com servidores ou quaisquer outros setores, sem perdas nem dores.

Só na base do anúncio da disposição de fazer o que já deveria estar sendo feito há muito tempo.

No triturador. Fernando Henrique Cardoso disse à revista inglesa The Economist o mesmo que circula sem reservas no PSDB e adjacências.

Não falou nada de novo além do fato de fazê-lo publicamente em ato de extrema frieza para com José Serra, amigo de 40 anos, o mais próximo quando da morte de Ruth Cardoso.

Aécio Neves é o "candidato óbvio" dos tucanos para 2014? Evidentemente.

Serra cometeu erros na campanha eleitoral? Muitos e enormes, embora não os tenha cometido sozinho.

Está isolado no partido que já presidiu, ajudou a fundar e pelo qual concorreu duas vezes à Presidência da República, foi prefeito e governador de São Paulo? Não resta a menor dúvida.

Dele, seus correligionários só querem hoje que vá ao sacrifício de disputar uma eleição que não deseja, para tentar salvar a Prefeitura do favoritismo que se avizinha para o PT.

Fora isso, os tucanos preferem tê-lo na condição de desistente.

Logo, o momento é pessoalmente difícil para quem tenta se reinserir na cena com ação contundente, e solitária, de oposição (até numa revisão do comportamento como candidato em 2010) - seja para voltar a se candidatar a presidente, seja para dar combate a um governo do qual discorda.

Não obstante seja tido como homem de altas qualidades públicas, atrai ódios internos e externos. Alguns justificados, outros desproporcionais.

As verdades de FH não desvendam mistério, não mudam tendências, sequer consolidam situações, pois nunca se deve desconsiderar o fator mola no fundo do poço. Soam apenas ferinas. E fratricidas na lógica de que um novo caminho só se abre ao custo da interdição de outro. Palavras muito abaixo do padrão de qualidade do autor e representativas de uma atuação partidária que privilegia a exclusão em prejuízo da união.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

O primeiro ato :: Igor Gielow

A cena no Planalto ontem era toda simbolismo, um mar de poderosos e acólitos em concentração há muito não vista em Brasília.

Sob tratamento contra o câncer, Lula jogou no sacrifício e abriu ala sob ovação, incorporando uma versão tropicalizada do Marlon Brando sendo adulado em "O Poderoso Chefão". Dilma resignou-se por um momento ao antigo papel de sombra.

A saída de Fernando Haddad e a posse de Aloizio Mercadante marcaram mais do que uma transição no Ministério da Educação. Transmutaram-se no primeiro ato público da pretensa etapa final do projeto lulista de hegemonia política: conquistar, enfim, São Paulo, capital e Estado.

Lula inventou uma candidatura viável para Haddad, que, no mínimo, irá se tornar conhecido. Terá Dilma a defendê-lo como ontem e falta-lhe oposição hoje, mas a ausência de Marta Suplicy na posse é reveladora do que o espera em casa.

Mas Mercadante chama mais atenção. Após anos como boi de piranha do lulismo, parece que finalmente a sorte lhe sorriu. Será? Sua nova estatura é capaz de vitaminar uma nova candidatura a governador em 2014, ainda mais se a capital voltar para o PT.

Repete assim o tucano José Serra, que também sempre quis comandar a economia sob FHC e se viu catapultado a uma forte pasta social visando um projeto eleitoral. Não deu certo, mas isso é outra história.

Em sua autoimportância, aliás, Mercadante sempre foi uma espécie de Serra do PT. Sua tese de doutorado, que em plural majestático enaltecia os anos Lula, é nota cômica disso -para não lembrar da "renúncia irrevogável" de um dia de 2009.

O plano está dado e terá de enfrentar a realidade em São Paulo, ao menos em nível estadual, um reduto tucano. Mercadante terá de lidar também com a nova geração lulista (Haddad e Alexandre Padilha), além de consertar os erros em série na aplicação do Enem. Não é pouco.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Por que só olhamos a metade vazia do copo?:: Carlos Pereira

A democracia brasileira está prestes a completar a sua maioridade sem que nenhum ator político se atreva a jogar fora das regras democráticas. O Brasil foi capaz de alcançar equilíbrio macroeconômico, diminuir a pobreza e a desigualdade, adquirir credibilidade internacional, diminuir o desemprego, alcançar o posto de sexta economia do mundo etc. Alcançar tal desempenho em um curto intervalo de tempo não é uma tarefa trivial. Por que então continuamos com a sensação de que as coisas não funcionam bem? Por que o sistema político brasileiro é sempre responsabilizado pela metade vazia do copo?

Até muito pouco tempo atrás a combinação de presidencialismo e multipartidarismo era vista como improvável. Impasses frequentes e paralisia decisória predominavam em função da suposta dificuldade de presidentes minoritários em costurar coalizões sustentáveis em um ambiente fragmentado. Preponderava a interpretação de que democracias com este desenho institucional seriam um desastre. Para os mais otimistas, seriam difíceis e "caras" de serem gerenciadas. Para os alarmistas, um convite a "trocas escusas" entre elites políticas. Diante disso, reformas políticas de todas as matizes foram imaginadas. A alternativa tida como "superior" seria o sistema majoritário bipartidário, que supostamente ofereceria mais transparência e responsabilização de governantes.

Entretanto, contrariamente à expectativa negativa generalizada, a "difícil" combinação de presidencialismo e fragmentação tem funcionado relativamente bem. Na realidade, o modelo que antes era interpretado como caos governativo, polarização ideológica, falta de cooperação e propenso a instabilidade se transformou no padrão a ser emulado pelas novas democracias, não apenas na America Latina.

A viabilidade e a funcionalidade, até certo ponto inesperadas, do presidencialismo multipartidário demandam uma explicação. Este arranjo institucional pertence a uma classe especial de modelo constitucional que não opera como o presidencialismo bipartidário americano, nem tão pouco como regimes parlamentaristas multipartidários europeus. Há três elementos necessários para a boa governança em presidencialismo com fragmentação partidária.

Primeiro, o presidente necessita concentrar poderes legislativos e de agenda delegados pelo Congresso. Aqui, entretanto, uma distinção se faz necessária: onde presidentes concentram poderes unilateralmente não se tem delegação legítima de poderes constitucionais, mas usurpação de direitos civis e abuso de poder como, por exemplo, tem sido o caso da Venezuela. No caso brasileiro, contudo, a maioria dos legisladores constituintes perceberam que um presidente fraco não teria capacidade de governar em um ambiente partidário altamente fragmentado. A saída encontrada foi delegar uma série de poderes para que o presidente funcionasse como uma espécie de coordenador do jogo com o Legislativo.

Segundo, a existência de moedas de troca (ministérios, emendas no orçamento, cargos na burocracia, concessões políticas etc.) institucionalizadas capazes de atrair o apoio intertemporal de partidos e legisladores para a coalizão do presidente. Em ambientes institucionais fragmentados, a lealdade partidária, a ideologia, ou mesmo os poderes de agenda do presidente não são suficientes para determinar o apoio de parlamentares no Congresso. Ou seja, a provisão institucionalizada de moedas de troca é crucial para a funcionalidade e fluidez de coalizões, na maioria das vezes ideologicamente heterogêneas e com muitos partidos.

O terceiro elemento é a presença de uma rede de instituições de "checks and balances" independentes (Judiciário, Ministério Público, tribunais de contas, Polícia Federal, mídia etc.) capaz de checar potenciais desvios do Executivo. Ou seja, um presidente poderoso não significa necessariamente um "cheque em branco" para as ações desse Executivo. Muito pelo contrário! Para que um presidente forte seja capaz de coordenar uma democracia fragmentada de forma competitiva e virtuosa, instituições de controle e accountability independentes e robustas têm que estar presente constrangendo as ações do próprio Executivo. Competição política e fragmentação partidária também funcionam como restrições as ações do presidente. Daí porque diminuir a fragmentação partidária seria contraproducente nesse contexto de dominância do Executivo.

O Brasil possui esses três elementos em seu presidencialismo multipartidário. Para se ter uma ideia da eficiência desse modelo, a maioria dos presidentes brasileiros pós-redemocratização foram capazes de construir e de sustentar coalizões majoritárias. Em que pese a dominância do Executivo no jogo político, a rede de instituições de controle e "accountability" tem exercido um papel fundamental monitorando as ações do Executivo e restringindo os seus desvios. Os escândalos de corrupção que levaram à demissão de seis ministros do governo Dilma em seu primeiro ano de governo são exemplos recentes do grande ativismo das estruturas de "checks and balances", em que pese o pessimismo que muitos alimentem dessas instituições de controle.

Presidencialismo multipartidário não deve ser interpretado como um sistema ideal ou que não precise de ajustes. De fato, ainda padecemos de uma série de problemas graves tais como desigualdade, corrupção ou falta de transparência. Ainda assim, as regras do nosso sistema político têm gerado equilíbrio e cooperação com um resultado líquido positivo. Reconhecer os aspectos positivos do presidencialismo multipartidário pode nos ajudar a perceber não apenas a metade vazia, mas também a metade cheia do nosso copo.

Carlos Pereira é professor titular na Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas (Ebape) da Fundação Getulio Vargas (FGV), professor visitante da Brookings Institution.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

PT leva disputa paulista ao Planalto e Lula atua como cabo eleitoral de Haddad

Ex-presidente foi a Brasília, ainda em tratamento contra câncer, para prestigiar cerimônia de despedida do ministro da Educação, que será o candidato à Prefeitura de São Paulo

Tânia Monteiro, Rafael Moraes Moura e Vera Rosa

BRASÍLIA - Para não deixar dúvidas da disposição do PT de eleger Fernando Haddad e derrotar o PSDB na corrida pela Prefeitura de São Paulo, o Palácio do Planalto transformou uma cerimônia de troca de ministros normalmente burocrática numa avant-première da campanha eleitoral, antecipando o papel dos protagonistas da disputa: a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Convidado por Dilma para a solenidade de despedida de Haddad do Ministério da Educação, o ex-presidente saiu de uma sessão de radioterapia para combater um câncer na laringe e desembarcou ontem em Brasília. Foi recebido aos gritos de "olê, olê, olê, olá, Lula, Lula" e, mesmo sem discursar, mostrou que dará o tom da disputa.

A presença de Lula na cerimônia evidenciou a disposição do Planalto e do PT de usar o principal cabo eleitoral do partido na campanha pela sucessão do prefeito Gilberto Kassab (PSD), para a qual o comando petista quer dar contornos nacionais. Embora a substituição de Haddad seja a oitava mudança ocorrida no primeiro escalão do governo Dilma, foi a única que contou com a presença do ex-presidente.

Sentada ao lado de Lula, Dilma chamou Haddad de "grande ministro", defendeu o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) das críticas dos adversários e elogiou a capacidade de gestão do pré-candidato do PT, que nunca disputou uma eleição.

"Nenhum de nós é soberbo de achar que um projeto que se faz nasce perfeito. Precisa do teste da realidade, da tentativa e erro", disse a presidente, numa referência ao Enem. "Agora, (...) para um processo que abrange milhões de pessoas, é inevitável que, nos primeiros tempos, haja alguns desvios. E os desvios nós temos a humildade de reconhecer e de corrigir. Quem não é capaz de fazer isso, não faz uma boa gestão e quero reconhecer que o Fernando é capaz de fazer isso."

Emocionado, Haddad negou que a concorrida e longa cerimônia tenha servido como palanque para sua campanha. "O presidente Lula é muito querido e o momento ainda não é esse. É uma honra ele ter prestigiado a posse dos novos ministros", comentou ele, tentando descaracterizar a estratégia montada pelo Planalto.

Marta. O pré-candidato do PT minimizou a ausência da senadora Marta Suplicy (PT-SP) na cerimônia. Marta foi pressionada por Lula e Dilma a desistir da candidatura em favor de Haddad e não esconde ter ficado frustrada. "É uma ilusão imaginar que a Marta estará ausente da campanha. Quem a conhece sabe que, no devido momento, ela vai mergulhar de cabeça. É uma pessoa que sabe da importância do nosso projeto de reconquistar a Prefeitura, inclusive para resgatar bandeiras caras à sua administração", disse Haddad.

Ao contrário de Marta, o PMDB prestigiou o petista. Estavam lá o vice-presidente Michel Temer e o presidente do Senado, José Sarney. O PMDB lançou o deputado Gabriel Chalita como candidato à Prefeitura. Lula, porém, tenta convencer o partido a pôr Chalita de vice na chapa do PT.

O sucessor de Haddad na Educação, Aloizio Mercadante, também o elogiou. "Não vejo como seu nome não possa estar entre os grandes ministros da Educação da história do Brasil", insistiu. Apesar do tratamento vip, Dilma trocou, mais uma vez, o nome do petista e o chamou de Paulo Haddad.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Yoani diz que se sente como Dilma

A blogueira Yoani Sánchez comparou sua atual situação em Cuba à vivida pela presidente Dilma Rousseff durante a ditadura: "Vi a foto de Dilma jovem sentada no banco dos acusados, e eu me sinto assim mesmo, agora." Ela não consegue permissão do governo cubano para viajar

Yoani Sánchez: "Eu me sinto como Dilma"

Blogueira cubana compara foto de presidente durante a ditadura militar com seu atual impedimento de deixar o país

Chico de Gois

BRASÍLIA. A blogueira Yoani Sánchez, uma das mais conhecidas vozes dissidentes em Cuba, comparou sua situação à da presidente Dilma Rousseff quando esta estava presa no início da década de 70. Em seu Twitter, Yoani lembrou da foto na qual Dilma aparece altiva, com um ar rebelde, aos 22 anos, durante depoimento na Primeira Auditoria Militar do Rio, em novembro de 1970. Ao fundo, os militares responsáveis pelo julgamento cobrem o rosto para não serem identificados. A imagem foi tornada pública no ano passado, no livro "A vida quer é coragem", do jornalista Ricardo Batista Amaral, que conta a trajetória da "terrorista" que chegou à Presidência.

"Vi foto de Dilma jovem sentada no banco dos acusados e julgada por homens com a cara tapada. Eu me sinto assim mesmo agora", escreveu a blogueira, que na sexta-feira passada entregou oficialmente uma carta na Embaixada do Brasil em Havana pedindo para que a presidente interceda a seu favor para que ela possa viajar ao Brasil para participar da exibição do documentário "Conexão Cuba-Honduras", na Bahia, no mês que vem. O filme, dirigido por Dado Galvão, trata da liberdade de imprensa em Cuba e no Brasil. Yoani é uma das entrevistadas.

A blogueira também fez outro protesto no Twitter ontem. "Cada dia que me impedem de viajar trato de fazer mais pela informação e pelos direitos humanos em Cuba. Pior para os que não me permitem sair", escreveu. Ela já tentou obter autorização para deixar a ilha em outras 20 ocasiões, mas sempre teve a permissão negada.

Ontem, por telefone, de Havana, Yoani disse que a embaixada brasileira informou que sua carta foi enviada ao Brasil - fato confirmado pelo Itamaraty. Porém, não lhe disseram que posição o governo brasileiro adotará.

- Continuo esperando - afirmou ela.

Ontem, a União Progresso e Democracia (UPD, partido centrista), da Espanha, enviou carta ao comitê norueguês do Prêmio Nobel indicando Yoani e Oswaldo Payá para o prêmio Nobel da Paz deste ano. Na avaliação da UPD, se os dois obtiverem a distinção, significaria um reconhecimento "extraordinário" de todos os que não têm voz por conta de regimes autoritários. Payá é um militante católico cubano, que já foi recebido pelo então papa João Paulo II no Vaticano.

Presidência ainda não decidiu sobre encontro

Yoani disse que, desde a morte de Wilman Villar Mendoza, na semana passada, depois de uma greve de fome de 50 dias, a polícia tem intensificado a repressão contra os dissidentes.

- Ontem (segunda-feira), meu marido (o jornalista Reinaldo Escobar) foi detido. Mas depois foi liberado - informou.

Além da solicitação de Yoani, a presidente Dilma terá de lidar com outra situação constrangedora do ponto de vista diplomático. Representantes de organizações de direitos humanos querem encontrá-la para falar da situação vivida na ilha sob o regime dos Castro. Elizardo Sánchez, da Comissão de Direitos Humanos e Reconciliação Nacional, disse ao GLOBO, por telefone, que as entidades também apresentaram um pedido formal, na embaixada brasileira, com essa finalidade.

- Queremos conversar com Dilma ou alguém da comitiva - disse Sánchez.

No Palácio do Planalto, o assunto da visita de Dilma a Cuba está sendo tratado com cuidado. Um assessor próximo à presidente disse que a questão do encontro de Yoani e dos dissidentes está sendo discutida, mas, por ora, ainda não há uma definição sobre o que fazer.

FONTE: O GLOBO

Dilma e um beau geste:: Zuenir Ventura

Dois episódios recentes fazem lembrar um velho filme de muito sucesso nos anos 40 e que se chamava "Beau Geste", estrelado por Gary Cooper, Ray Milland e Robert Preston. A expressão francesa, que significa belo ou nobre gesto, saltou das telas para acompanhar uma época, sendo uma espécie de precursora do politicamente correto. Dizia-se "fulano é beau geste" de alguém com um comportamento político e moral edificante. Como me esqueci do final, recorri ao Google, que me recontou a história dos três irmãos que se alistam na famosa Legião Estrangeira para expiar a culpa de um roubo que não cometeram. Só que o site se recusa a entregar o desfecho.

Portanto, me restrinjo aos espisódios. Um se passa na Itália e ficou por demais conhecido, envolvendo o acidente com um navio e a reação de dois comandantes, aquele que por seu gesto se tornou herói e o que, por omissão, virou vilão. O segundo episódio acontece em Cuba e seu protagonista, um dissidente político, teve o destino trágico de um mártir. A analogia simbólica dos personagens com seus países é óbvia, quase um clichê. O capitão Schetino abandonando o Costa Concordia que afundava foi comparado ao Berlusconi que quase afundou a Itália. Já o Capitão De Falco, com sua enérgica ordem ao fujão - "Volte a bordo, caralho!" - passou a encarnar a consciência do dever que falta aos políticos italianos. "Um nos humilha, o outro nos redime", estampou o "Corriere della Sera".

Quanto a Villar Mendoza, de 31 anos, morto em consequência de uma greve de fome de 50 dias, será enterrado às vésperas da chegada de Dilma a Cuba. As Damas de Branco, que lutam pacificamente pelas liberdades, gostariam de se reunir com ela para denunciar a violação dos direitos humanos na Ilha. Elas acreditam que a ex-dissidente, ex-prisioneira e ex-torturada Dilma seja mais sensível do que Lula em situação parecida. Em 2010, o então presidente chegou a Havana pouco depois que outro dissidente, Orlando Zapata Tamayo, falecia de inanição numa greve de 85 dias por melhores condições para os 200 presos políticos do regime. Em vez de criticar a violência do governo, Lula minimizou o drama e ironizou a vítima, lamentando que "uma pessoa se deixe morrer por uma greve de fome".

Será uma viagem problemática, porque, além do pedido das Damas de Branco, há o apelo já oficializado da incômoda blogueira Yoani Sánchez, que quer vir ao Brasil e pede à nossa presidente para interceder por ela. Em compensação, Dilma acaba de ser contemplada com uma crítica que, na verdade, é um elogio. O porta-voz do presidente do Irã queixou-se: "A presidente golpeou tudo o que Lula havia feito, destruindo anos de bom relacionamento." Agora, os dissidentes cubanos estão dando a Dilma a chance de outro beau geste: questionar o "bom relacionamento" com os irmãos Castro.

FONTE: O GLOBO

Saída de Sergio Gabrielli da Petrobras irrita cúpula do PT

Saída de Gabrielli opõe presidente à cúpula petista

Maria Clara Cabral

BRASÍLIA - A saída de José Sergio Gabrielli da presidência da Petrobras irritou a cúpula do PT.
O alerta também foi ligado para as mudanças em diretorias da companhia. O temor é que Graça Foster opte por ter subordinados técnicos, tirando indicados políticos.

Almir Barbassa, diretor financeiro indicado por petistas, por exemplo, deve ser o próximo a sair. João Carlos Ferraz, presidente da Sete Brasil -empresa responsável pelos contratos para construção das sondas de perfuração-, foi sondado para o seu lugar. Guilherme Estrella, diretor da área de Exploração e Produção, também deve sair. Todos são ligados ao partido.

As prováveis mudanças evidenciam a principal reclamação dos petistas: o fato de a presidente Dilma Rousseff, cada vez mais, deixar de levar em conta quadros do PT na hora de montar a equipe.

Reclamação parecida aconteceu durante a escolha do novo ministro de Ciência e Tecnologia, Marco Antônio Raupp. Enquanto integrantes do PT trabalharam para que o deputado Newton Lima (SP) assumisse o cargo deixado por Aloizio Mercadante, Dilma optou pelo técnico Raupp, ex-presidente da Agência Espacial Brasileira.

Ontem, deputados e senadores aliados ironizavam que ser um quadro político atualmente pesa contra qualquer indicação para postos de comando. Alguns chegaram a dizer que estavam "indignados" com a atitude de Dilma.

A substituição na presidência da Petrobras já era cogitada desde o ano passado, mas aliados de Gabrielli trabalharam para mantê-lo no cargo por mais algum tempo.

Gabrielli é uma aposta do PT para o governo da Bahia em 2014. A avaliação agora é que sua ida para uma secretaria do Estado não cairá bem, já que o cargo terá de ser "achado" pelo governador Jaques Wagner.

O jeito da presidente Dilma também incomoda o PMDB. Há o temor de que o presidente da Transpetro, Sérgio Machado, indicado pelos peemedebistas, seja substituído.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Insatisfação com a saúde sobe 11 pontos em um ano

Datafolha aponta que 39% das pessoas consideram setor o mais problemático

Atuação na educação é a mais bem avaliada; desemprego, no topo das reclamações no passado, é 3ª pior área

Tathiana Barbar

SÃO PAULO - Apesar de ter encerrado o primeiro ano de governo com aprovação recorde de 59%, a presidente Dilma Rousseff obteve um resultado negativo na pesquisa Datafolha realizada na semana passada.

Desde o final da gestão de Lula, aumentou em 11 pontos percentuais o número de brasileiros que consideram a saúde como o principal problema do país.

O levantamento indica ainda que a área em que numericamente o governo aparece com maior aprovação é a educação, com 11%, índice similar ao verificado após três meses de gestão (10%) e no final do governo Lula (9%).

A percepção de que a saúde é o principal problema do Brasil vem desde 2008.

No final de 2010, 28% dos entrevistados apontavam o setor como o mais preocupante. Após três meses da gestão Dilma, o número foi a 31%, e agora chega a 39%.

Em anos anteriores, o desemprego era, disparado, a principal preocupação. Hoje, está em 3º (9%).

Emenda

A percepção negativa sobre a saúde envolve não só a gestão federal, mas a de Estados e municípios.

O tema foi um dos pontos centrais de discussão entre Planalto e Congresso no ano passado, resultando na sanção neste mês de regulamentação da emenda que impede governadores e prefeitos de usar artifícios para reduzir gastos com saúde.

Apesar disso, algumas promessas eleitorais de Dilma para o setor empacaram no primeiro ano, devido aos cortes de investimentos, entre outros fatores. Os gastos para a construção de 8.600 Unidades Básicas de Saúde, por exemplo, não chegaram a 10% do disponível.

Entre os compromissos cumpridos está o acesso gratuito a medicamentos para diabéticos e hipertensos.

O Datafolha ouviu 2.575 pessoas nos dias 18 e 19, com margem de erro de dois pontos para mais ou para menos.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Recife: Oposições entre aguardar ou não o rumo do PT

Partidos intensificam articulações para definição de uma estratégia eleitoral, mas há divergência sobre o “tempo” da decisão

Ayrton Maciel

Com janeiro terminando, Carnaval chegando, março beirando à porta, o PT em ebulição e a Frente Popular dispersa, as oposições resolveram intensificar as conversas sobre o melhor caminho – estratégico e tático – para derrotar o candidato ou os candidatos da aliança governista no Recife, nas eleições de outubro. O bloco de oposições formado pelo PMDB, DEM, PPS e PMN – o PSDB está excluído por já ter apresentado o deputado estadual Daniel Coelho como seu candidato –, vai multiplicar as negociações para tentar superar diferenças e consolidar uma posição, que pode ser a candidatura única ou dois candidatos. Para aparar as diferenças, o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB) vai entrar como moderador das negociações, após o Carnaval.

Com três pré-candidatos colocados há algum tempo – os deputados federais Mendonça Filho (DEM) e Raul Henry (PMDB) e o ex-deputado Raul Jungmann (PPS) –, o primeiro passo da nova fase será conseguir conciliar o time das oposições que definirá se vão atacar em bloco ou por um único front. Ontem, Henry e Jungmann defenderam que o bloco busque a construção de uma unidade de ação, mas deixe a definição sobre um ou dois candidatos - mais o do PSDB - para depois que o PT e a Frente Popular decidirem se sairão com uma ou múltiplas candidaturas. Mendonça Filho concorda em esperar, mas não em atrelar o tempo das oposições ao tempo dos governistas.

“Queremos construir um caminho conjunto. A oposição e o governo podem ter um ritmo de decisão semelhante, porém, a oposição não pode ficar a reboque de João da Costa (prefeito, PT) e seus aliados. O saco de gatos é grande por lá. Quando será o desfecho? Pode-se aguardar, mas não condicionar nossa posição a isso”, pregou o democrata. Estrategicamente, a opinião conflita com a dos aliados. “Não haverá definição do lado da oposição. Vamos esperar o candidato do PT/governo. Depois que eles decidirem, a gente decide o nosso. Não temos prazo. Jarbas será o articulador e moderador da escolha”, pondera Jungmann. “Existe a possibilidade de chegarmos a uma candidatura única, mas podem ser duas ou três. Do outro lado tem as máquinas (governos municipal, estadual e federal), o ex-presidente Lula. Nossa percepção é que será João da Costa (o candidato). A definição fica para depois. Jarbas terá um papel importante”, reforçou Henry.

Depois de um 2011 marcado pelo marasmo, que a Mesa da Unidade (tentativa de gerar fatos e colocar na berlinda a gestão João da Costa) não conseguiu colocar para o povo as oposições como porta-voz de mudanças, os partidos querem demonstrar que as diferenças não são razões para impedir a unidade. Animados pela pesquisa Instituto Maurício de Nassau/JC, publicada no último domingo, a ideia é propagar a cidade como prioridade. “Há um clima bom. Cada partido tem seu projeto, mas não há conflito”, disse Henry. “Vejo a chance de uma unidade por um nome. Temos conversado com espíritos desarmados”, moderou Mendonça.

FONTE: JORNAL DO COMMERCIO (PE)

BH: Mobilização popular será permanente

O fracassado reajuste para os vereadores de Belo Horizonte deixou como herança eleitores mais mobilizados, que prometem "ocupar" permanentemente a Câmara Municipal. Além do Veta, Lacerda, movimento que foi às ruas pedir a negativa do prefeito ao reajuste, as redes sociais criaram o Ocupe a Câmara. Ontem, responsáveis pela iniciativa lançaram um cadastro de interessados em se revezar nas galerias do Legislativo Municipal para acompanhar as votações.

A ideia é nunca deixar os vereadores sozinhos no plenário, para evitar "surpresas" nas votações. Ao se inscrever, a pessoa informa sua disponibilidade de acompanhamento das sessões, e os horários de rodízio serão definidos pelos moderadores do grupo no Facebook. Eles consideram que a pressão popular foi fundamental para impedir o reajuste de 61,8% no salário dos vereadores.

Não faltou barulho da população na tentativa de derrubar o aumento votado pelos próprio vereadores no apagar das luzes de 2011. Estudantes e trabalhadores foram para a porta da prefeitura com apitos, instrumento de percussão e as próprias vozes, que chamaram à responsabilidade o prefeito Marcio Lacerda. Com cartazes, eles orquestraram buzinaços e pararam o trânsito na Avenida Afonso Pena, em frente à sede do Executivo.

Pelas redes sociais, os manifestantes divulgaram fotos e currículos dos vereadores, ameaçando vetá-los nas urnas em outubro, quando a maioria vai tentar a reeleição. O estudante de ciências socioambientais da UFMG Evandro Graton, participante do Veta, Lacerda, comemorou a decisão do prefeito, mas disse que a turma continua mobilizada. "Ainda que a Mesa tenha dito que não vai derrubar veto, eles podem propor outro aumento, e R$ 9 mil de salário já basta. Vamos motivar a população a ficar de olho e lembrar que eles tinham o interesse deles quando aprovaram o aumento", afirmou

FONTE: ESTADO DE MINAS

E a festa virou palanque...

Despedida de Haddad do Ministério da Educação conta até com a presença de Lula, que está em tratamento contra o câncer, e ganha ares de campanha. O ex-ministro, que no discurso procurou demonstrar intimidade com o ex-presidente, será candidato em São Paulo

Festa com jeito de campanha

Na despedida de Haddad da Educação para concorrer à prefeitura de São Paulo, presença de Lula e discursos em defesa do Enem antecipam clima de pleito municipal

Juliana Braga, Paula Filizola, Denise Rothenburg

Festa e discursos lapidados à feição da campanha eleitoral pela prefeitura de São Paulo deram a tônica da despedida de Fernando Haddad do cargo de ministro da Educação. O esforço para capitalizar a cerimônia em favor do projeto político teve até a exigência, pela presidente Dilma Rousseff, da presença de todos os ministros da Esplanada — os que não puderam comparecer mandaram representantes. Governadores e prefeitos também foram convocados. Até o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva interrompeu o tratamento contra o câncer na laringe para participar da festa armada para Haddad.

O ex-ministro, que afirmou não estar lendo um discurso escrito e sim falando de coração, treinou a verve política e tentou, a cada frase, mostrar sua relação próxima e emotiva com Lula, lembrando dos seis anos em que foi subordinado a ele na Esplanada. "Foi uma honra iniciar os trabalhos na Educação pelas mãos de um metalúrgico", disse. "Tenho lembranças muito boas de um período muito importante de resgate de propostas de educação", destacou o ex-ministro.

A presença de Lula na cerimônia palaciana foi muito celebrada por Haddad. Segundo o ex-ministro, ele não achava que o líder petista conseguiria ir à festa, por causa do tratamento contra o tumor. "Eu posso imaginar o incômodo dele em vir até aqui. Por isso, até eu chegar na garagem do Palácio do Planalto e ver todo mundo reunido, inclusive a presidenta Dilma, eu não acreditava que ele viesse", contou. A presidente, que chegou a cobrar Haddad pelas reiteradas falhas no Enem, tratou de elogiar o ex-ministro relativizando as falhas no exame. "Nenhum de nós é soberbo de achar que um projeto nasce perfeito", sustentou. "Há de se reconhecer que, em um processo que abrange milhões de pessoas, é inevitável que nos primeiros anos você tenha alguns desvios. E esses desvios nós temos a humildade de reconhecer e de corrigir", disse a presidente.

Recepção calorosa

Apesar de não ter discursado, Lula cumpriu à risca o papel de "mentor" de Haddad e deu uma pausa no tratamento contra o câncer para vir a Brasília. O ex-presidente passou a manhã de ontem no Hospital Sírio-Libanês, onde passa por radioterapia, e retornou ontem mesmo, às 17h30, para a sessão do tratamento marcada para hoje. Confirmando o ditado de que quem já foi rei nunca perde a majestade, o retorno festivo de Lula ao Planalto teve ares de feriado. Afinal, ele não pisava no Palácio desde 30 de março do ano passado, quando participou do velório do ex-vice-presidente José Alencar.

Por volta das 15h, já estava tudo preparado para recebê-lo. A guarda presidencial devidamente colocada na garagem do Planalto e as passa-fitas da segurança separando o caminho por onde ele deveria passar. Todo o planejamento foi por água abaixo quando a presidente Dilma Rousseff apareceu para pegar Lula na entrada do Planalto. "Vamos todos recebê-lo", disse ela, chamando os servidores para a frente do carro.

O Planalto parou para recepcioná-lo. O saguão da garagem, onde cabem cerca de 50 pessoas, ficou lotado. Ele desceu do carro e todos foram em sua direção, liderados pela presidente Dilma. Uma comitiva de sete ministros, além de servidores do Planalto, aguardavam para bater fotos e cumprimentá-lo. "A casa é sua", disse Dilma. Em meio a tanta gente e dezenas de abraços, não houve tempo para conversas mais alentadas. Os dois trocaram poucas palavras. Depois da solenidade, ele seguiu para o gabinete da sucessora, onde conversaram por mais tempo.

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

Lá vem o Patto !::Urbano Patto

Diálogo de surdos e sem linguagem de sinais...

Vimos nessa semana a reintegração de posse pela Polícia Militar, cumprindo mandato judicial, do chamado “Pinheirinho” na cidade de São José dos Campos. Milhares de pessoas foram expulsas de uma área particular invadida há quase uma década, com cobertura intensa da mídia e imagens fortes e a aparição repentina de inúmeros “defensores” dos fracos e oprimidos e engenheiros de obras prontas.

Imediatamente antes da reintegração de posse houve a intervenção de alguns políticos que supostamente haviam obtido na Justiça uma trégua de 15 dias para encontrar uma também suposta solução. Era só espuma, e como ficou sabido depois, não havia nada que gerasse efeitos jurídicos e/ou práticos. Se bem de que valeriam 15 dias para um problema que se arrasta há sete anos?

Imediatamente depois da reintegração de posse vimos o Secretário Geral da Presidência da República dizer que poderia haver uma “saída negociada e humana, sem a necessidade da praça de guerra”. E onde estiveram, ele e sua toda poderosa secretaria, nos últimos sete anos?

Imaginamos que se a Secretaria Geral da Presidência da República houvesse participado, proativamente, há mais tempo, negociando e humanizando o árduo processo, saídas poderiam ter sido encontradas. Por exemplo: a desapropriação da área, linhas de crédito federais diretas para os ocupantes da área para construção ou aquisição de moradias, regularização fundiária etc etc etc

Também, como está ficando cada vez mais repetitivo e transparente, vê-se a Justiça tardando e falhando, e nesse caso em especial, dividindo-se. A Justiça Federal discordando da Justiça Estadual e vice-versa, e nenhuma resolvendo a embromação da massa falida proprietária da área invadida, cujo processo de falência corre, ou melhor, arrasta-se, há mais de 30 anos.

O pior é que cada uma das instituições envolvidas - Prefeitura, Estado, União, Justiça Federal, Justiça Federal, OAB, partidos, ONGs - parece tratar do assunto como se a solução fosse responsabilidade da outra, além de haver uma certa simbiose e cumplicidade entre elas na não ação. Vale mais ouvir o próprio discurso e olhar o próprio umbigo.

No limite, parece prevalecer uma certa acomodação política, parte dos defensores da ocupação, sem uma solução objetiva, baseiam sua plataforma e seu crescimento no desgaste dos poderes constituídos que segundo eles somente representam “as elites” e, por sua vez, alguns dos que propugnam pela remoção fazem reverberar, e com isso captar a simpatia popular, que a invasão e a ocupação seriam unicamente obra de “baderneiros”.

Sem solução - antes, agora e depois - o que restou e resta, na área ocupada ou fora dela, é o mesmo impasse: boa parte dos diretamente atingidos são pessoas e famílias com poucas condições de resolver autonomamente sua situação de fragilidade econômica e social, revelada e amplificada nesse caso pela questão habitacional, que provavelmente não se resolveria totalmente nem mesmo com regularização da área e muito menos o será com a reintegração de posse em andamento.

Urbano Patto é Arquiteto-Urbanista, Mestre em Gestão e Desenvolvimento Regional, Secretário do Partido Popular Socialista - PPS - de Taubaté e membro Conselho Fiscal do PPS do Estado de São Paulo. Comentários, sugestões e críticas para urbanopatto@hotmail.com