terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

OPINIÃO DO DIA – Alberto Goldman: Petistas envergonhados? Vê se pode...

Não somos só nós que damos nossas mancadas. Ao invés de faturar o resultado da privatização da ampliação e operação dos aeroportos, o PT sai por aí desesperado a dizer que a privatização que fizeram não é a mesma do PSDB. Ora, se não tem o pejo de privatizar o próprio Estado brasileiro, seus ministérios e suas agências reguladoras, submetidos ao assalto de entes privados, por que ficarem nessa defensiva se pelo menos, no caso, o fizeram mediante licitação pública? Já faz tempo que o petistas não são virgens."

Alberto Goldman, ex-deputado, ex-ministro e ex-governador, no Blog.

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO
Comissão de Ética Pública do Planalto investiga Pimentel
'Agora é tudo com você, Graciosa'
Especialistas: pacote não salva Grécia
Força-tarefa vai investigar aliciamento
Oposição na Venezuela quer copiar Lula

FOLHA DE S. PAULO
Após prisões, policiais suspendem greve no Rio
Serra negocia com tucanos condições para se candidatar
Comissão de Ética investigará consultorias feitas por Pimentel
Brasil planeja construir usina hidrelétrica em países vizinhos

O ESTADO DE S. PAULO
Governo vai elevar IR das aplicações atreladas à Selic
Nova dirigente da Petrobras se diz grata e fiel a Dilma
Texto de 2004 liga ministra a 'curso de aborto'

VALOR ECONÔMICO
Governo pede à China que limite vendas ao Brasil
África do Sul taxa frango brasileiro
Remuneração com ações estreia no BB

CORREIO BRAZILIENSE
Sabotagem no Metrô tem 80 investigados
Disciplina, a ordem na Petrobras
Verbas do PAC estão livres do corte no Orçamento

ESTADO DE MINAS
Mais risco, mais morte
País cassou 270 prefeitos desde 2008

ZERO HORA (RS)
Governo articula plano contra caos aéreo no Carnaval
A emoção da mulher forte da Petrobras
Unidos pela Copa
Plano anticrack deve atingir 90% do Estado

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Policiais e bombeiros do Rio acabam greve

As cidades e o sertão :: Luiz Werneck Vianna

O diabo, ouve-se dizer, mora nos detalhes. A nomeação para o Ministério das Cidades do deputado federal pela Paraíba Aguinaldo Ribeiro (PP) não se pode perder no noticiário dos faits divers da política nacional, nem tanto pela falta de credenciais do indicado para exercer os papéis na direção de uma agência estratégica como essa - cabe-lhe, como se sabe, administrar o urbano, dimensão crucial da vida contemporânea -, menos ainda por já ter respondido em seu Estado a processos por improbidade administrativa, mas, sobretudo, pela sua linhagem política, a revelar de modo contundente o que há de reacionário na forma de imposição do nosso processo de modernização.

Certamente que atos dos nossos avoengos não nos comprometem - a responsabilidade por eles é puramente individual e não se transmite às futuras gerações. Contudo a sociologia já é uma disciplina científica estabelecida e há tempos fixou como critério na investigação social operações de escrutínio dos dados referentes às origens sociais dos atores sob sua observação. Na história recente da sociologia provavelmente ninguém melhor que Pierre Bourdieu, hoje no panteão da disciplina como um dos seus maiores, contribuiu para esclarecer o lugar do chamado capital social, conceito elaborado por ele, na produção e reprodução da hierarquia social numa dada sociedade.

Na sociologia brasileira, Sergio Miceli, ex-discípulo de Bourdieu, Leôncio Martins Rodrigues e Jessé de Souza, entre tantos autores relevantes, o primeiro na sociologia da cultura, os segundos na sociologia política, têm demonstrado em seus influentes trabalhos o papel explicativo, se bem que não determinante, da origem social a fim de dotar, ou de privar, os indivíduos do capital social que lhes vai demarcar, positiva ou negativamente, seus lugares em termos de poder ou de prestígio social.

O caso do deputado Aguinaldo Ribeiro, novo ministro guindado ao vértice de nossas instituições republicanas, é exemplar não por sua trajetória pessoal, mas pelo significado, digamos, macroestrutural de que se investe. Nele, por inteiro, se põe em evidência o segredo de Polichinelo da modernização brasileira, que, desde sempre, de Vargas a JK, passando pelo regime militar e que ora se renova, conquanto de modo velado, nos governos Lula e Dilma Rousseff, se radica no pacto implícito - quando necessário, explicitado - entre as elites modernas e as tradicionais, no caso em tela, dos seus setores vinculados social e politicamente à história do exclusivo da terra e ao sistema de controle autocrático que ele impôs no hinterland.

Com efeito, o deputado Aguinaldo Ribeiro é neto - como registra oportuna matéria do jornalista Raphael Di Cunto (Valor, 3/2) - do tristemente famoso usineiro Aguinaldo Velloso Borges, chefe de baraço e cutelo do agreste paraibano, acusado de mandar matar, em 1962, João Pedro Teixeira, uma das maiores lideranças dos trabalhadores do campo, então à frente da Liga Camponesa de Sapé, quando se destacou nacionalmente pela firmeza na defesa dos direitos da sua categoria social. Em 1983, o mesmo usineiro Aguinaldo foi, mais uma vez, apontado como responsável por mais um crime político, pois era disso que se tratava, com o assassinato sob encomenda de Maria Margarida Alves, símbolo das lutas feministas no País, cultuada na Marcha das Margaridas, que desde 2000, anualmente, desfila em avenidas de Brasília.

A saga de João Pedro Teixeira e de sua família foi objeto de um documentário, Cabra Marcado Para Morrer, obra-prima de Eduardo Coutinho, na época um jovem cineasta do Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes (UNE), surpreendido, em meio à filmagem no sertão, pelo golpe de 1964, salvos, depois de muita correria, ele e o filme, que esperou quase 20 anos para ser finalizado.

A matéria do jornalista Di Cunto informa ainda que a mãe do deputado Aguinaldo é prefeita de Pilar, pequena cidade paraibana, e Fábio Fabrini, repórter do Estado, em circunstanciada notícia (4/2) sobre a projeção na política regional da rede familiar do novo ministro, revela que sua irmã, hoje deputada estadual, é candidata à prefeitura da importante cidade de Campina Grande, sem contar outros membros da sua parentela em posições de comando na vida local e até na prestigiosa Embrapa, ponta de lança da moderna agricultura brasileira.

Está aí a mais perfeita tradução da quasímoda articulação, no processo de modernização capitalista do País, entre o moderno e o atraso, ilustração viva do ensaio de José de Souza Martins A Aliança entre Capital e Propriedade da Terra: a Aliança do Atraso (in A Política do Brasil Lúmpen e Místico, São Paulo, Editora Contexto, 2011) e que se vem atualizando por meio da conversão do imenso estoque de capital social, econômico e político do latifúndio tradicional, que se processa no circuito da política e mediante favorecimento da ação estatal, em que seus herdeiros se reciclam para o exercício de papéis modernos. Para quem é renitente em não ver, este é o lado obscuro do nosso presidencialismo de coalizão, via escusa em que os porões da nossa História se maquiam e mudam para continuarem em suas posições de mando.

De fato, num país com as heterogeneidades sociais e regionais que nos são características, o andamento para a conquista do moderno nas relações sociais e políticas, num contexto de democracia institucionalizada, não pode deixar de consultar sua História e as forças da sua tradição, a fim de ajustar, interpretativamente, seu movimento a elas. Mas isso não se pode confundir com a reanimação - como a que acaba de ocorrer -, sem princípios e em nome de razões instrumentais, procedida por políticas de Estado, das sedimentações socialmente recessivas que recebemos do passado, com as quais é preciso romper.

Luiz Werneck Vianna, professor-pesquisador da PUC-Rio

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Aggio participa de conferência na Espanha sobre a democracia no Brasil e na AL

Por: Assessoria FAP

O Centro de Estudos Brasileiros promoverá, no próximo dia 17 (sexta-feira), a conferência “Os desafios da construção da democracia na América Latina”, que será proferida pelo professor Alberto Aggio, da Universidade Estadual Paulista – Unesp, campus de Franca

Dirigente do PPS e da Fundação Astrojildo Pereira, Aggio é professor titular da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Unesp e especialista em história contemporânea da América Latina. Também é estudioso das áreas de cultura, política, democracia e de obras sobre o pensamento político, como a de Gramsci. Foi professor visitante na Universidade de Valencia(Espanha), onde realizou seu pós-doutorado entre 1997 e 1998.

O Centro de Estudos Brasileiros da Universidade de Salamanca, onde acontece a conferência, fica no Palácio de Maldonado (Praça de San Benito, 1). O evento é uma iniciativa do professor visitante, ambientalista e geólogo George Gurgel de Oliveira (da Universidade Federal da Bahia), que também é dirigente do PPS e da FAP.

FONTE: PORTAL DO PPS

Michel Zaidan lança livro sobre marxismo

O livro Ensaios sobre Teoria, do professor Michel Zaidan Filho, é uma publicação do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia (NEEPD) da Universidade Federal de Pernambuco. Ele é uma espécie de prestação de contas de quem trabalhou durante muitos anos em universidades brasileiras, lecionando disciplinas de Teoria da História e Teoria Política.

A obra constitui-se numa coletânea de ensaios, artigos, resenhas e notas tratando de alguns dos principais pensadores da modernidade (Hegel, Marx, Engels, Bobbio, Benjamin, Habermas e outros) e que foram escritos em ocasiões diversas e com finalidades muito diferentes.

Os textos, em geral, procuram apresentar o marxismo numa perspectiva crítica. Buscam compreendê-lo no interior da própria da história das ideias socialistas e num diálogo permanente com outros autores marxistas brasileiros, como Octávio Brandão, Leandro Konder, Carlos Nelson Coutinho, José Paulo Netto e Marco Aurélio Nogueira.

Entre os vários temas abordados se encontram: o marxismo heterodoxo de Walter Benjamin e sua recepção no ambiente universitário brasileiro; o pensamento de Gilberto Freyre e Octávio Brandão, um Lênin que poderia ter acertado.

Michel Zaidan Filho é professor do Departamento de História da Universidade federal de Pernambuco e coordenador do NEEPD. É autor, entre outras, de importantes obras sobre a formação e primeiros anos do comunismo no Brasil: Nas origens de um marxismo nacional, O PCB e a Internacional Comunista e Os comunistas em céu aberto.

O livro pode ser adquirido através Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia (Neepd) da UFPE - endereço Avenida Prof. Moraes Rego, 1235 - Cidade Universitária, Recife - PE - CEP: 50670-901 ou do e-mail neepd@ufpe.br.

Questão de Estado:: Merval Pereira

A PEC-300, que trata da questão salarial dos policiais militares, aprovada em primeiro turno por unanimidade há um ano e meio devido à atuação do governo federal e dos partidos aliados, agora está sendo firmemente combatida pelos mesmos personagens, que de repente descobriram os malefícios de uma lei que já foi tida como virtuosa e rendeu muitos votos na eleição presidencial de 2010.

Ela passou por unanimidade no Congresso, o que indica também que os partidos de oposição não tiveram força para assumir a posição mais correta, que era votar contra a aprovação da PEC. Seguiram o arrastão governista e avalizaram uma decisão que agora se evidencia inviável.

Essa reviravolta e suas consequências — a greve de Salvador e a tentativa de levá-la a outros estados como o Rio de Janeiro, às vésperas do carnaval —, além de exibir a maneira irresponsável e populista com que certos assuntos prioritários são tratados no Congresso, mostram que o tema é uma questão de segurança nacional, e o governo federal deveria assumir a coordenação de uma política salarial para os policiais a ser adotada pelos estados.

A ideia original da PEC-300, que definia plano salarial nacional, não era factível, já que não é razoável que se queira pagar o mesmo salário a policiais do Acre e de São Paulo, que têm orçamentos tão diferentes.

Também o Distrito Federal não pode ser o parâmetro, nem mesmo para decretar um piso nacional, já que os salários são pagos com base no Orçamento da União.
Estamos nessa situação no momento, com os governadores fazendo pressão sobre suas bancadas e sobre o governo federal para que não seja colocada em votação a PEC-300 em segundo turno.

É preciso haver uma discussão mais séria sobre o assunto, a comissão que está encarregada da PEC-300 diz que somente oito dos 27 estados enviaram respostas às perguntas feitas, como, por exemplo, qual seria o piso aceitável para cada um deles.

Já os governadores, através de seus secretários de Fazenda reunidos no Confaz, dizem que o Congresso está querendo legislar sobre um tema que é estadual, no que têm razão.
Aliás, o governo federal sempre tratou a questão da segurança pública como sendo da alçada dos governos estaduais, como se pudesse se eximir de responsabilidades com argumentos burocráticos.

Essa é uma discussão em que não chegaremos a uma solução se o governo federal não assumir de vez que tem de ser o coordenador de um amplo debate nacional.
A questão permanecerá aberta, pendente como uma espada sobre a democracia brasileira. Volta e meia temos greves de PMs que criam problemas institucionais graves, seja em que estado for.

Essa é uma tarefa que deve ser prioritária para o governo federal e os estados tratarem conjuntamente, pois, quando estoura uma greve de PMs, é o governo federal que tem de enviar tropas para a repressão ao movimento ilegal. Logo, não há mais como transferir as responsabilidades unicamente para os estados.

O deputado federal Chico Alencar (PSOL-RJ), mesmo diante das gravações em que a deputada estadual de seu partido Janira Rocha aparece aconselhando os grevistas a não fazer acordo em Salvador para não esvaziar uma eventual greve dos policiais e dos bombeiros no Rio, garante que os parlamentares do PSOL "buscam mediar a urgente e necessária negociação entre os representantes dos servidores e o governo, nem substituindo aqueles nem coonestando postura intransigente destes, autoproclamados monopolizadores da lei e ordem".

A mobilização da segurança pública por melhores condições de trabalho e salário não é "um raio em céu azul", lembra Alencar, nem "orquestração" de "dirigentes interessados na agitação social".

Ele diz que, liminarmente, cabe separar vandalismo e promoção da sensação de insegurança generalizada de mobilização reivindicatória com pauta e negociação com as autoridades.
"Quem delinque, aproveitando-se da situação, é inimigo não só da população como do próprio movimento", afirma Alencar, para quem estão postas em debate "a desmilitarização e a unificação das polícias, para dar conta das novas realidades, entre as quais, os mecanismos de exercício de poder".

Ele considera "naturalíssimo" que os profissionais da área se aproveitem dos megaeventos que ocorrerão no Rio — refere-se à Copa e, sobretudo, às Olimpíadas — para fazer suas reivindicações salariais.

A necessidade da imagem exemplar a ser mostrada ao mundo tem como pilar importante, por óbvio, a segurança, como se reitera à exaustão, ressalta Alencar, para quem essa conjuntura ajuda a que os PMs se indaguem: se somos tão importantes para a segurança dos eventos, por que continuamos a receber salários tão baixos? Ele não concorda que piso nacional para essas categorias seja inviável e "quebraria o país". Argumenta que o salário mínimo é um piso nacional, e os profissionais da educação também já o têm, ainda que em implementação.

Chico Alencar acha que a PEC-300, que define um piso, sem fixar valor, e um fundo contábil para provê-lo, tem condições de ser aprovada, pois todas as definições sobre os custos serão tomadas em iniciativa posterior do Executivo, a ser enviada ao Congresso Nacional seis meses depois de promulgada a emenda constitucional.

Já o deputado federal Alfredo Sirkis, do Partido Verde, acha que o governo tem culpa no cartório, pois o PT, "por razões eleitoreiras", votou a PEC-300 em 2010 e, em 2011, "descobriu" que não tinha como pagá-la. Para ele, deveria haver um horizonte para sua aplicação gradual, mediante um fundo nacional, como o da educação, que complementasse os salários nos estados.

Seria implementada de forma escalonada, junto com a instituição da dedicação exclusiva dos policiais à segurança pública, com o fim do duplo emprego institucionalizado que temos hoje, "o mal chamado de "bico"".

"Não basta aumentar o salário ruim dos policiais", diz Sirkis. É preciso fazê-lo num contexto de melhoria da qualidade dos policiais, e, isso, ele considera incompatível com a atual rotina de trabalho descontínua, "o policial servindo à polícia duas vezes por semana e quase sempre ganhando mais na sua outra ocupação remunerada, nos dias de suposta folga".

FONTE: O GLOBO

Rumo à estação Arena:: Dora Kramer

Vista assim do alto, a questão parece simples: a direção nacional do PT quer se juntar ao prefeito Gilberto Kassab na eleição de São Paulo. Parte dos dirigentes regionais e a militância em geral rejeitam a aliança e isso põe o partido no rumo da divisão irremediável.

Até faz sentido, mas o raciocínio parte de premissa errada e, portanto, chega a uma conclusão equivocada sobre um partido cujo projeto de poder funciona como firme amálgama e o acúmulo de vitórias cura todas as feridas.

O processo que levou à eleição de Dilma Rousseff e a "escolha" de Fernando Haddad para candidato a prefeito de São Paulo à revelia inicial de significativas correntes petistas são provas materiais.

Com a ascensão ao poder nacional, o PT deixou de lado a prática, ficando apenas com a veleidade de ser de esquerda.

Desde então, navega aqui e ali a bordo do discurso de antigamente enquanto radicaliza na "flexibilização" dos parâmetros de sua política de alianças.

Com isso, abandonou a tradição da divisão esquerdista em contraposição à propagada unidade de ação das forças classificadas como de centro ou de direita, seja lá qual for o significado dessa escala hoje em dia.

Em suma, vai errar quem apostar em racha no PT, assim como se equivocam os que fazem elucubrações sobre incompatibilidades políticas entre Lula e Dilma.

O plano de ocupação de todos os espaços disponíveis, possíveis e impossíveis no espectro político não abriga indisciplinas nem considera ideologias ou coerências. É puramente pragmático.

Por isso mesmo o minueto em cartaz entre Kassab e o PT tem dimensão muito mais nacional que propriamente municipal. Sintomático que o prefeito tenha escolhido ir à festa dos 32 anos do partido em Brasília e não à comemoração feita em São Paulo.

Revelador que sido vaiado pela plateia e aplaudido pelos que estavam no palco. Os revoltados consideravam a visita um acinte, mas raciocinavam a partir dos dados do cenário municipal.
Este, de fato, tende a ser desfavorável em função da existência de um fator determinante: a opinião do público.

Na festa, quem aplaudia olhava o visitante como quem mira uma peça preciosa no jogo de expansão e consolidação de hegemonia na política nacional.

Mal comparando, conforme funcionou na velha Arena a quem todos se rendiam por força do autoritarismo, aqui substituído pelo canto da sereia do puro e simples governismo.

Se ficar muito difícil fazer a aliança para a eleição de 2012 com Gilberto Kassab, o PT não fará. Tem condições de ganhar sem a companhia do prefeito e talvez até chegue à conclusão de que a união formal seja contraproducente.

Na questão imediata, Kassab também tem outras saídas. Mas no plano nacional ambos desenvolvem um interesse mútuo.

O PT no PSD de mais de 40 deputados e "plantado" em alianças com todos os partidos e em todos os Estados. Kassab em participar da onda expansionista para garantir um lugar ao sol quando - e se - não sobrar território fora da área de influência dos atuais donos do poder.

Música e política. Sai em maio, pela Nova Fronteira, o primeiro volume de Quem foi que inventou o Brasil, resultado de uma pesquisa de mais de 15 anos feita pelo jornalista e ex-ministro Franklin Martins sobre músicas que retratam circunstâncias, fatos, períodos e movimentos políticos no Brasil entre 1902 e 2002.

São dois livros (o segundo deve ser lançado em setembro) com 700 páginas e cerca de 400 verbetes cada um, acompanhados de um DVD com as gravações das canções, todas referidas na vida política do País.

O primeiro vai do início do século - com a música As laranjas de Sabina, de Arthur Azevedo, que relata revolta de estudantes pró-República em 1889 - até 1964, com a Marcha da Quarta-Feira de Cinzas, de Vinícius de Morais e Carlos Lyra, composta em 1963 e considerada premonitória do clima que tomaria conta do Brasil com o golpe militar.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Lula e suas criaturas:: Eliane Cantanhêde

Gilberto Kassab está para José Alencar assim como Fernando Haddad está para Dilma Rousseff na eleição paulistana.

Lula viveu uma vida de disputas e de desafios, até chegar à Presidência e sair dela com estonteantes 80% de popularidade. Mas ainda quer mais. Sua nova disputa é para derrotar o PSDB no seu último grande reduto, São Paulo. Seu novo desafio é reproduzir suas criaturas Dilma e Alencar no nível municipal.

Kassab, como Alencar, começou na direita, deu um passo à frente aliando-se ao PSDB de José Serra e se transformou num parceiro suprapartidário que tem vários interesses complementares com o PT. Se a principal construção de Alencar foi a sua empresa, hoje multinacional, a de Kassab é o PSD, que já nasce como terceira bancada da Câmara.

Kassab precisa de Dilma como Alencar precisou de Lula para "subir na vida" política, mas Lula, Dilma e o PT precisam de Kassab tanto quanto precisaram de Alencar. A diferença é de proporção: uma eleição é municipal, a outra foi presidencial.

Eis o cálculo de Lula: o PT -como ele próprio- tinha um teto nacional e tem um teto paulistano. Nos dois casos, só ampliaria horizontes, financiamentos, aliados e votos compondo à direita. Danem-se as diferenças.

Uma chapa Lula-alguém da esquerda não acrescentaria nada. Já Lula-Alencar mudou tudo. Uma chapa Haddad-esquerda bate no ranço anti-PT de parte do eleitorado. Já Haddad-indicado de Kassab...

Para Alencar, o céu era o limite. Para Kassab, também. Líder patronal, Alencar virou vice do líder sindical. Ex-malufista, Kassab deve emplacar o vice do petista Haddad.

Até o "début" no PT foi igual: tanto Alencar na convenção que fechou a chapa de Lula quanto Kassab na festa dos 32 anos do partido foram o centro das atenções, vaiados pela massa, aplaudidos pela cúpula. Sei não, mas essa aliança de Lula e Dilma com Kassab ainda vai longe.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Partidos, igrejas e empresas:: Cláudio Gonçalves Couto

Em sua edição de ontem, o Valor trouxe uma interessantíssima matéria de Cristiane Agostine sobre as relações entre o Partido Republicano Brasileiro (PRB), a Rede Record e a Igreja Universal do Reino de Deus. Se já eram bem conhecidos do público os vínculos estreitos entre a Igreja Universal e a Rede Record, foram desvelados os laços entre ambos e a jovem agremiação partidária (disputou sua primeira eleição em 2006). A informação mais interessante é a assunção de posições de direção no partido por profissionais da Record.

É comum o trânsito de comunicadores para organizações políticas, já que estes se mostram eficazes na obtenção de votos - dada sua popularidade e facilidade para interagir com o eleitorado. Há os típicos comunicadores populares, como o ex-deputado Celso Russomano, que têm um pé em cada organização - a emissora de TV e o partido. Também existem os típicos religiosos midiáticos, como o bispo Antônio Bulhões - há alguns anos pregador televisivo, hoje deputado federal. Se fosse apenas isto, não teríamos nada de muito novo ou chamativo. Contudo, o que se nota no caso do PRB é algo distinto do padrão convencional, pois entre a empresa e o partido transitam também gestores organizacionais.

O partido é nada mais que um tipo de empresa

Além do presidente do partido, Marcos Pereira, ao menos quatro presidentes de diretórios ocuparam cargos de direção na Record. Apesar de, dentre estes, um ser parlamentar (o deputado federal Vitor Paulo), sua condição de dirigentes partidários parece beneficiar-se menos de seu apelo popular do que de sua experiência como gestores empresariais. Ou seja, foram indicados como dirigentes do partido porque já haviam se mostrado bons dirigentes da empresa à qual o partido se vincula, não porque eram bons de voto. Uma dúvida: de qual empresa estamos falando? Da Igreja Universal ou da Record?

A pergunta não é imprópria, pois a forma empresarial de atuação do grupo liderado por Edir Macedo não começou com a rede televisiva, mas com a organização religiosa. Foi o sucesso da empreitada religiosa que permitiu a aquisição e posterior revitalização da então combalida Rede Record. Não se trata de juízo moral sobre o sucesso dos pastores na arrecadação de fundos, como frequentemente se faz. O ponto é outro: o bem sucedido modus operandi de gestão da igreja possibilitou, rapidamente, seu crescimento - é hoje a maior denominação neopentecostal do Brasil, sendo superada, dentre os pentecostais como um todo, apenas pelas bem mais antigas Assembleia de Deus e Congregação Cristã do Brasil. Tal crescimento representou não só o arrebanhamento de um grande número de fiéis, mas de um volume de recursos que capitalizou depois outras empreitadas, como a Record.

O tino empresarial rapidamente se fez sentir na condução da TV. Poder-se-ia talvez esperar um estilo similar ao seguido pelas emissoras abertas católicas, como a Rede Vida, por exemplo. Esta se dedica quase que integralmente à pregação religiosa, deixando muito pouco espaço na programação para qualquer coisa não diretamente vinculada ao proselitismo eclesiástico; também transmite alguns jogos da segunda divisão do campeonato paulista, mas isto é, sob todos os aspectos, secundário. Mais do que ser um negócio que vise rentabilidade, a emissora católica é um instrumento privilegiado da atuação religiosa. Não é o que sucede na Record. Embora com certeza o espaço dedicado à pregação seja substancial, o grosso da programação não tem tal finalidade. E mais: na medida em que a emissora fortaleceu-se na disputa pela audiência, diminuiu o peso relativo da programação especificamente religiosa, que deu lugar àquilo que desse retorno comercial.

Seria impensável a Rede Vida, ou a Canção Nova, transmitindo um reality show como "A Fazenda", com suas mulheres semidesnudas e o apelo erótico que caracteriza tais atrações. Isto, certamente, não está ali porque ajuda a glorificar a deus, mas porque dá audiência, que atrai anunciantes, que dá lucro. Noutras palavras, é de negócios que se trata e a sua gestão deve primar pela eficiência. A abertura de espaços na programação para atrações religiosas se dá na medida em que esses também têm seu público e o acesso à mídia reforça o proselitismo da igreja - onde tudo começou -, reforçando-a.

Essa lógica da eficácia empresarial chega agora ao partido. Isto não é exatamente novidade na vida dos partidos, tanto que sociólogos políticos do início do século passado, como Max Weber e Robert Michels, já descreviam os partidos como empresas, que buscavam a maior eficiência possível na busca por votos e poder. A relativa novidade aqui está, em parte, para a Igreja Universal - que em vez de apenas lançar candidatos por diversos partidos, cria o seu próprio. E, no caso do Brasil, a novidade está em ser um partido com fortíssimos vínculos orgânicos com uma denominação religiosa particular, ao ponto de ser (embora não admitidamente) sua agremiação oficial. Entre nós, isto foi fenômeno raro. Talvez apenas o antigo Partido Democrata Cristão, de antes da ditadura militar, pudesse reclamar papel similar. E, mesmo no caso dele, era difícil imaginar exclusividade como agremiação da Igreja Católica no Brasil.

É muito provável que a mesma lógica empresarial que norteou a gestão da Rede Record se faça presente na condução do PRB. Assim, o partido dificilmente será um instrumento caudatário dos propósitos religiosos da Igreja Universal, embora certamente não contrariará suas posições fundamentais. Noutros termos, a mesma lógica de rentabilidade que vale para a emissora tende a valer para o partido - não é a toa que os executivos são os mesmos. Assim como sempre haverá um espaço para a Igreja na programação da TV, haverá um espaço para suas demandas na atuação política do partido nos parlamentos, governos e eleições. Contudo, há muito mais do que isto em jogo, o que explica a posição firme da agremiação em favor da candidatura de Dilma Rousseff em meio à guerra religiosa deflagrada pela oposição, que marcou a eleição passada.

Cláudio Gonçalves Couto é cientista político, professor da FGV-SP.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

Comissão de Ética Pública do Planalto investiga Pimentel

Pouco mais de dois meses depois de O GLOBO revelar que o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, faturou pelo menos R$ 2 milhões em consultorias desde que deixou a prefeitura de Belo Horizonte até assumir cargo no governo da amiga Dilma Rousseff, a Comissão de Ética Pública da Presidência decidiu ontem investigar o caso, aceitando denúncia do PSDB com base nas reportagens. Metade do dinheiro que Pimentel ganhou foi paga pela Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), por serviços de consultoria na elaboração de projetos na área tributária e palestras nas dez regionais da entidade. O GLOBO apurou que as palestras nunca ocorreram. No fim do ano passado, o governo conseguiu evitar que Pimentel fosse chamado ao Congresso para se explicar. O caso de Pimentel é semelhante ao do ex-ministro Antonio Palocci (Casa Civil), que continua na pauta da comissão. Ontem, os conselheiros decidiram fazer diligências e pedir mais informações a Palocci, que perdeu o cargo. Pimentel disse que só comentará o assunto quando for notificado

Pimentel na Comissão de Ética

Órgão da Presidência investigará consultorias prestadas pelo ministro em 2009 e 2010

Luiza Damé e Martha Beck

A Comissão de Ética Pública da Presidência da República decidiu ontem investigar os ganhos do ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, com consultorias em 2009 e 2010, aceitando denúncia feita pelo PSDB com base em reportagens do GLOBO, publicadas em dezembro de 2011. O conselheiro Fábio Coutinho foi designado relator e, na próxima reunião da comissão, em 12 de março, será decidido sobre a continuidade ou o arquivamento do procedimento. A decisão atinge um dos ministros mais próximos da presidente Dilma Rousseff.

Depois de sair da prefeitura de Belo Horizonte e antes de entrar no governo Dilma, Pimentel faturou pelo menos R$ 2 milhões em serviços de consultoria, inclusive no período em que atuou como um dos coordenadores da campanha da presidente. Metade do total foi pago pela Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg).

No fim de 2011, a base governista atuou no Congresso e evitou a convocação de Pimentel para explicar os trabalhos da consultoria. O episódio perdeu força com a chegada das festas de fim de ano. Na retomada dos trabalhos do Legislativo, no início de fevereiro, a oposição retomou as tentativas de aprovar a convocação do ministro, mas a maioria governista brecou.

Em dezembro, após as reportagens do GLOBO, a oposição apelou ao Ministério Público Federal e à Comissão de Ética Pública. Na representação à Comissão de Ética, o PSDB pede a avaliação da conduta do ministro "em razão da possível prática de ato atentatório contra os princípios éticos que norteiam atividades dos órgãos superiores da Presidência da República e a quebra de decoro por parte do representado".

O artigo 3, do Código de Conduta da Alta Administração Federal diz que autoridades devem se pautar por padrões da ética nas suas "atividades públicas e privadas, de modo a prevenir eventuais conflitos de interesse". O relator pode pedir informações ao ministro para elaborar seu parecer.

Caso semelhante ao de Palocci

l O caso de Pimentel é semelhante ao do ex-ministro Antonio Palocci (Casa Civil), que teve significativo aumento patrimonial graças a consultorias feitas quando foi deputado federal (2006- 2010). Num primeiro momento, a Comissão de Ética não abriu procedimento contra Palocci, porque ele se afastara da consultoria antes de assumir a Casa Civil, no dia 1, de janeiro de 2011.

Mais tarde, a decisão foi revista, mas o ministro saiu do cargo antes de uma posição da Comissão de Ética. O caso continua na pauta, e o conselheiro Fábio Coutinho também relata o procedimento contra Palocci. Ontem, a comissão decidiu fazer diligências neste caso e pedir mais informações a Palocci.

Procurado, Pimentel disse que ainda não fora notificado sobre a investigação da Comissão de Ética, mas que se pronunciará quando isso ocorrer: — Não, não fui informado. Quando isso ocorrer, darei as explicações necessárias.

O líder do PSDB no Senado, Álvaro Dias (PR), disse que a decisão da comissão é aval para que Pimentel dê explicações ao Congresso sobre as consultorias.

Dias lembrou que uma convocação de Pimentel deve ser avaliada amanhã pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado: — Espero que a bancada do governo permita que o ministro vá ao Congresso.

Líder do PT no Senado, Walter Pinheiro (BA) disse não ver necessidade: — É bobagem. Se a Comissão já está apurando, não há motivo para que o ministro seja convocado.

Também ontem, a Comissão de Ética cobrou do ex-presidente da Casa da Moeda Luiz Felipe Denucci a atualização da Declaração Confidencial de Informações, documento que tem de ser apresentado pelas autoridades federais quando entram no governo

FONTE: O GLOBO

Governo cobra apoio da base para votar fundo

Líder do governo encaminha carta a deputados e pede presença esta semana no Congresso para iniciar discussão

Cristiane Jungblut

BRASÍLIA. – Para evitar as divergências da semana passada, quando a sessão da Câmara dos Deputados foi abruptamente interrompida, o Palácio do Planalto e os líderes aliados tentaram fechar ontem uma estratégia para votar o projeto que cria o Regime de Previdência Complementar do Servidor Público da União (Funpresp).

A intenção dos líderes aliados é votar após o carnaval.

Ontem à noite, ainda estavam fechando o calendário de votação, em encontro com a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti.

A ideia do líder do governo na Câmara, deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), é votar hoje medidas provisórias e a chamada PEC da Invalidez.

Conforme o quorum, poderá ser iniciada a discussão do Funpresp.

Para tentar garantir presença dos deputados nesta semana que antecede o carnaval, Vaccarezza enviou mensagens aos deputados, cobrando o comparecimento.

Planalto quer base aliada a favor do Funpresp Para aparar as arestas, o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), e Vaccarezza conversaram ontem durante a posse da nova presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, no Rio.

A presidente Dilma Rousseff participou da posse e ficou ao lado de Maia, que, na semana passada, contrariado com o Planalto, adiou a votação do Funpresp.

A intenção dos líderes é fazer um acordo para que o Funpresp seja votado num clima menos tenso, com adesão de toda a base aliada.

Semana passada, PR e PDT ameaçavam votar contra, insatisfeitos com perdas de cargos no governo.

O Planalto quer a votação do projeto o mais rapidamente possível.

Isso deverá ser reforçado hoje pela própria Dilma, na reunião do Conselho Político.

— Vamos votar o Funpresp no dia 28.

Amanhã (hoje), quero votar duas medidas provisórias, que estão (trancando) na pauta, e a PEC da Invalidez — disse Vaccarezza.

Para o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), a votação do Funpresp será depois do carnaval.

O líder do PR, Lincoln Portela (MG), já anunciou que mudou de posição e não vai mais pedir o adiamento.

Portela apresentará emenda ao texto prevendo que o Ministério Público da União faça parte do Fundo de Previdência Complementar do Poder Judiciário, e não do Fundo do Poder Executivo, como determinaria a regra.

Segundo o líder do PR, essa é a principal reivindicação do Ministério Público da União.
O Fundo do Poder Judiciário está sendo cobiçado por várias carreiras que deveriam estar no Fundo do Poder Executivo.

Há um movimento para que todas as "carreiras jurídicas" fiquem no Fundo do Judiciário, incluindo a Defensoria Pública e a Advocacia Geral da União.

Um dos relatores do projeto, Ricardo Berzoini (PT-SP), foi procurado por todas essas categorias para tratar do assunto.

O projeto prevê a criação de até três fundos, um para cada poder: Executivo, Judiciário, e Legislativo.

Mas os servidores do Legislativo não querem ficar sozinhos, porque o volume de recursos seria pequeno.

PR vai formalizar retorno à bancada de apoio

Os dirigentes do PR não vão participar hoje da reunião do Conselho Político com Dilma, mesmo convidados.

Serão recebidos mais tarde no Palácio do Planalto, quando querem formalizar a volta do partido à base do governo no Congresso.

Quando o senador Alfredo Nascimento (PR-AM) foi demitido do Ministério dos Transportes, o PR saiu da base e assumiu a postura de independente.

Agora, quer voltar à Esplanada e à base governista.

Hoje de manhã, integrantes da da Executiva do PR se reunirão para fechar uma posição a ser levada ao Planalto.

Nos bastidores, o PR reivindica a volta ao comando de um ministério, pois não considera que o ministro Paulo Sérgio Passos (Transportes) seja da cota do partido — embora filiado à legenda, é um nome da Dilma.

FONTE: O GLOBO

Planalto sinaliza que vai compensar base governista

Emendas não liberadas contrariaram aliados

Gerson Camarotti, Regina Alvarez

BRASÍLIA. – A fim de acalmar os aliados e evitar uma saiajusta para a presidente Dilma Rousseff na reunião de hoje do Conselho Político, o Palácio do Planalto sinalizou ontem que vai compensar a base governista por não ter conseguido honrar o compromisso de empenhar (autorizar para pagamento futuro) no final do ano passado as emendas parlamentares ao Orçamento da União de 2011.

O clima de insatisfação preocupa a articulação política e pode prejudicar votações consideradas importantes e de interesse do governo neste semestre, como o projeto que cria o Fundo de Previdência dos Servidores Públicos (Funpresp), o Código Florestal e a Lei Geral da Copa.

Após os cortes no Orçamento de 2011 terem atingido fortemente as emendas, o governo fechou em dezembro um acordo com os líderes da base prometendo empenhar 50% das emendas individuais, que somavam R$ 2,6 bilhões, mas a promessa não foi cumprida, segundo aliados.

Pelos cálculos desses líderes, 34% do valor prometido (R$ 1,3 bilhão) não saíram do papel.
E sem o empenho, que equivale a um compromisso de pagamento, as emendas perderam a validade.

A execução do Orçamento de 2011, segundo dados apurados no no Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi), confirma os cálculos dos líderes governistas: se computadas apenas as emendas individuais, o empenho chega a 33,5% do total da dotação do ano.

Ou seja, foram empenhados R$ 871 milhões de uma dotação de R$ 2,6 bilhões.

Se considerados todos os tipos de emenda — individuais, genéricas, de comissões e das bancadas —, o empenho chegou a apenas 21,3% do valor aprovado pelo Congresso em 2010 para o Orçamento de 2011: de um total de R$ 19,5 bilhões, foram empenhados R$ 4,146 bilhões.

Os números foram levantados no Siafi pela Assessoria de Orçamento da liderança do DEM no Congresso.

A ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, marcou uma reunião com líderes do PT e do PMDB ontem à noite.

De forma reservada, Ideli reconheceu que os aliados têm razão ao reclamar do descumprimento do acordo, informando que o Planalto estava sensível às reivindicações.

FONTE: O GLOBO

Órgão vai pedir explicações do ex-presidente da Casa da Moeda

BRASÍLIA - A Comissão de Ética Pública decidiu ontem pedir esclarecimentos ao ex-presidente da Casa da Moeda Luiz Felipe Denucci sobre as suspeitas de que ele possa ter recebido propina de fornecedores do órgão via empresas em seu nome e no de sua filha.

"Não há processo [contra ele]. Agora, em face do noticiário, oficiamos ao próprio ex-presidente da Casa da Moeda pedido de esclarecimentos e atualização da DCI [Declaração Confidencial de Informações]", disse Pertence. O documento aponta situações que possam suscitar conflitos de interesses.

A comissão enviou ainda ofício ao novo ministro das Cidades, Aguinaldo Ribeiro (PP), solicitando a DCI. Assim que notificado, Ribeiro terá dez dias para apresentar as informações. A Folha mostrou que o ministro ocultou da Justiça Eleitoral o fato de ser dono de quatro empresas.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Cresce pressão sobre Serra no último dia para inscrição nas prévias tucanas

Carmen Munari e Raphael Di Cunto

SÃO PAULO - Termina hoje o prazo para a inscrição às prévias que vão determinar o candidato do PSDB na disputa pela Prefeitura de São Paulo. Apenas os tucanos que se inscreverem poderão disputar a escolha da militância agendada para 4 de março.

Quatro nomes estão devidamente inscritos e o suspense cabe ao ex-governador José Serra, que dizia até janeiro, por meio de interlocutores, que estará fora da corrida. Neste grupo está incluído Alberto Goldman, ex-vice-governador de SP pelo PSDB.

Essa postura não impede que correligionários defendam sua candidatura e venham conversando com ele para que mude de ideia. Serra tem ouvido o chamamento. Este é um dos principais ingredientes que leva em consideração, como em outras campanhas, segundo tucanos.

"Conversei com ele há cerca de dez dias. Só eu ele. Disse que ele deveria sair candidato. Ele ouviu com paciência e respeito", disse ao Valor o deputado Duarte Nogueira, ex-líder da bancada na Câmara. "Não emitiu opinião", completou, ou seja, não negou a proposta.

O ex-presidente do diretório paulistano do PSDB e ex-secretário de Serra, José Henrique Reis Lobo, levantou bandeira contra a realização das prévias. Publicou artigo na semana passada, tuitou 28 mensagens nesta segunda e avisa que não se importa se o identificam com Serra. "É dele a decisão, mas acho que ele deveria reconsiderar", disse Lobo.

Lobo diz não se importar se pensam que ele está a serviço de Serra, mas defende a candidatura do ex-governador como o nome capaz de dar "perspectiva de sucesso nas eleições" para o PSDB. "Serra é o nome mais competitivo, que traz perspectiva de vitória para o PSDB. É decisão dele, mas acho que ele deveria reconsiderar. Lideranças mais experientes acham isso. Ele sabe", afirmou ao Valor.

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), inclui-se o grupo que quer convencer Serra.

Duarte Nogueira, ligado a Alckmin, afirma que se Serra se candidatar em São Paulo, vai sensibilizar os quatro pré-candidatos, "levando-os a declinar". Outro argumento pró-Serra é sua capacidade de atrair a adesão do prefeito Gilberto Kassab, presidente do PSD, prestes a realizar aliança com o PT do pré-candidato Fernando Haddad.

Apesar de muito próximo de Alckmin, o deputado estadual Pedro Tobias, presidente do diretório paulista da legenda, saiu em defesa das prévias. "É o fim do mundo vir a público e ser contra as prévias. Não tem volta. Desmoraliza", disse Tobias.

Sobre a postura de Lobo, Tobias se pergunta porque o ex-dirigente não levou sua posição ao comando da sigla quando o tema foi discutido em 2011. "Onde ele estava na época?"

Concorrem às prévias o deputado federal Ricardo Tripoli e os secretários Bruno Covas (Meio Ambiente), José Aníbal (Energia) e Andrea Matarazzo (Cultura).

FONTE: VALOR ECONÔMICO

Serra negocia com tucanos condições para se candidatar

Após dizer que não seria candidato a prefeito de São Paulo, José Serra agora negocia com Alckmin condições para entrar na disputa. O tucano quer que o governador costure as alianças.

No PT, Fernando Haddad tenta viabilizar acordo com Kassab e sugere Henrique Meirelles como vice.

Serra negocia com tucanos condições para ser candidato

Aliado apresenta a Alckmin pedidos do ex-governador para entrar na campanha pela Prefeitura de São Paulo

Namoro de Kassab com o PT foi decisivo para que ex-presidenciável passasse a reavaliar candidatura a prefeito

Vera Magalhães, Daniela Lima

SÃO PAULO - O ex-governador José Serra já negocia com o governador Geraldo Alckmin condições para se candidatar a prefeito de São Paulo pelo PSDB.

Serra, que antes dizia não ter interesse em disputar novamente a prefeitura nas eleições deste ano, conversou com Alckmin na semana passada e afirmou que estava reconsiderando sua decisão.

Depois dessa conversa, o ex-vice-governador Alberto Goldman foi ao Palácio dos Bandeirantes para levar a Alckmin as condições de Serra para aceitar entrar no páreo.

O ex-presidenciável tucano quer que o governador mobilize sua tropa para "aparar as arestas" internas com os quatro pré-candidatos inscritos para a prévia do partido, marcada para 4 de março.

Quer, ainda, garantia de que o governador atuará para costurar um consistente arco de alianças que dê suporte à sua postulação.

Tucanos que acompanham as negociações acreditam que a aproximação entre o prefeito Gilberto Kassab (PSD) e o PT foi determinante para que o ex-governador passasse a avaliar a candidatura.

Há pelo menos três semanas, emissários de Alckmin e aliados do próprio Serra tentam persuadi-lo a ser o candidato do PSDB.

A avaliação no entorno de Alckmin é que a decisão de Serra tem de ser rápida, porque a realização das prévias levaria a um fato consumado, que seria difícil reverter sem desmoralizar o partido.

Um dos argumentos usados para convencer o ex-presidenciável a reavaliar a candidatura foi que o maior derrotado de uma eventual aliança entre Kassab -sucessor do tucano na prefeitura- e o PT seria o próprio Serra.

Além disso, a saída do PSD da órbita dos tucanos seria um revés importante para as pretensões que Serra ainda alimenta para a eleição presidencial de 2014.

Enquanto trabalhava para convencer Serra, Alckmin passou a atuar para garantir um arco de alianças que sustentasse outra candidatura tucana menos robusta.

Na quinta-feira, por exemplo, será anunciada a entrada do PDT no governo.

O deputado Paulinho da Força, presidente do PDT paulista e que tem se apresentado como pré-candidato, passou a não descartar apoio ao PSDB no primeiro turno.

O PSB também negocia com os tucanos, a partir da promessa de apoio do PSDB ao seu candidato em Campinas, Jonas Donizette.

Serra e Alckmin atuaram para que o PSDB desistisse de ter candidato na cidade.

A eventual reviravolta no PSDB paralisaria as negociações entre Kassab e o pré-candidato do PT, Fernando Haddad, que ganhavam corpo.

O prefeito tem reiterado que não teria como não apoiar Serra, de quem herdou a prefeitura, caso ele se candidatasse. Kassab vê a segunda semana de março como prazo-limite para que Serra tome uma decisão.

O maior entrave a um consenso pela candidatura de Serra são os quatro pré-candidatos tucanos -Andrea Matarazzo, Bruno Covas, José Aníbal e Ricardo Trípoli.

Desses, os mais resistentes a abrir mão das prévias seriam Aníbal e Trípoli. Para dissuadi-los, aliados de Serra avaliam que seria necessária ação direta de Alckmin.

Isso levaria para o governador, dizem os céticos quanto à possibilidade de acordo, o ônus de ter tratorado o partido no momento em que o processo já foi deflagrado.

Alckmin, no entanto, deu garantias de que está disposto a comandar a operação, por acreditar que Serra é, hoje, o nome mais competitivo para vencer as eleições.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

PTB pressiona Planalto

Paulo de Tarso Lyra

Depois de PDT e PR, agora é a vez do PTB ter a certeza de que está sendo perseguido pelo Palácio do Planalto. O partido reclama que todos os seus filiados estão sendo exonerados do Executivo Federal sem qualquer justificativa. O líder do PTB na Câmara, Jovair Arantes (GO), defende que o partido tenha uma reunião com a ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti. "Precisamos conversar para ver se somos ou não aliados. Até para dar tranquilidade nas próximas votações", alertou Jovair.

O líder petebista, inclusive, seria um dos que estão na mira do governo. Na semana passada, Jovair perdeu a vaga na Presidência da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), com a demissão de Evangevaldo Santos, como adiantara o Correio há duas semanas. O novo presidente da Conab é João Bona Garcia, ex-diretor financeiro da autarquia.

A vítima da vez seria o presidente da Superintendência de Seguros Privados (Susep), Luciano Portal Santanna. Segundo fontes do governo, também estaria na cota de afilhados do líder do PTB na Câmara, Jovair Arantes (GO). "É um técnico com excelentes qualidades, mas não foi indicado por mim," ressaltou. Assessores palacianos negam que o governo esteja perseguindo o PTB. A avaliação é de que a presidente Dilma Rousseff resolveu mexer definitivamente no segundo escalão e que as mudanças serão feitas com base em critérios de eficiência e não, amparados por indicações políticas.

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

Rival de Chávez quer aliança com Brasil

Vencedor das primárias da oposição diz que é possível atrair investimentos e diminuir déficit comercial da Venezuela

Lourival Sant"Anna

CARACAS - Uma eventual derrota do presidente Hugo Chávez na eleição de outubro deve introduzir uma mudança de estilo nas relações entre Brasil e Venezuela, mas não um afastamento.

Definindo-se como um "seguidor do modelo brasileiro", o candidato único da oposição, Henrique Capriles Radonski, disse ontem que pretende atrair mais investimentos brasileiros na Venezuela, tornando mais vantajosas as relações bilaterais para seu país. Capriles venceu as primárias da oposição no domingo com 1,8 milhão de votos, 62% do total.

Em entrevista coletiva, respondendo a uma pergunta do Estado, o candidato lembrou a proximidade de Chávez com o PT brasileiro, e o apoio público de Lula ao presidente venezuelano na última eleição presidencial, em 2006. "Estou seguro de que teremos as melhores relações com o Brasil", disse Capriles.

"Hoje a balança comercial é favorável ao Brasil, mas, se tivermos um país aberto, com segurança para os investidores, quanto investimento brasileiro não poderá vir à Venezuela?", questionou Capriles, advogado especializado na área comercial. "Muito, até porque o Brasil está em condições de investir em outros países. Tenho conversado com muita gente do Brasil."

Após a vitória, Capriles criticou duramente a ajuda econômica com que Chávez brinda seus aliados. Disse não ter a intenção de ser "líder do mundo" e trabalharia para tornar mais vantajosas as relações da Venezuela com outros países. No ano passado, o Brasil exportou US$ 208 milhões para a Venezuela, e importou apenas US$ 68 milhões. Os principais produtos exportados pelo Brasil são carne bovina, frango, café e polietileno. O país vizinho vende derivados de petróleo e energia elétrica para os Estados da Região Norte.

"Se digo que sou um seguidor do modelo brasileiro, já de entrada estou falando bem", defendeu-se Capriles. "Estou seguro de que também posso ter uma boa relação com o ex-presidente Lula e com a presidente Dilma Rousseff. Vou visitar muito o Brasil. Além do mais, vamos muito com a cara dos brasileiros."

Atual governador de Miranda, onde se situa Caracas, Capriles disse que implementou no Estado o Programa Fome Zero, inspirado no plano brasileiro.

Acusado de ser "de direita" por chavistas, Capriles definiu-se como "progressista" e procurou diferenciar Chávez, que alterou a Constituição para se reeleger, de Lula. "O Brasil é democrático", disse. "Lula tinha cerca de 70% de popularidade quando chegou à presidência. Não mudou a Constituição para se reeleger."

Eleito em 1998, Chávez aprovou por referendo no ano seguinte uma nova Constituição, que previa mandatos de seis anos com uma reeleição. Promoveu em 2000 nova eleição presidencial e considerou que seu mandato começava do zero, sob a nova Carta. Reelegeu-se em 2006 e em 2009 aprovou por referendo nova reforma constitucional, tornando a reeleição ilimitada.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Capriles vê 'recorde' em alta votação

CARACAS - O candidato único da oposição venezuelana a presidente, Henrique Capriles Radonski, considerou ontem um "recorde mundial, proporcionalmente ao eleitorado", o comparecimento às eleições primárias de domingo, nas quais votaram 2,9 milhões dos 18 milhões de eleitores, ou 16%. "Agora, se cada um dos que votaram conseguir outros dois, serão 9 milhões", calculou o candidato. "Já sabemos que o teto eleitoral do governo, atingido nas eleições de 2010 (para o Parlamento), não chega a 6 milhões."

A oposição, unida desde 2007 após repetidas derrotas contra Chávez, obteve 51% dos votos nas eleições para a Assembleia Nacional em 2010, mas acabou com menos cadeiras no Parlamento por causa do peso proporcional de cada Estado. O comparecimento naquelas eleições foi de 66%. Capriles, que governa o Estado de Miranda, venceu no domingo com 1,8 milhão de votos (62%), seguido pelo também governador Pablo Pérez, de Zulia, que teve 870 mil votos (30%); María Corina Machado, a deputada mais bem votada do país, teve 103 mil votos (3,5%); o diplomata Diego Arria, 35 mil votos (1%) e o ex-senador e ex-chavista Pablo Medina, 14 mil (0,5%).

Depois de divulgados os resultados das primárias, em que todos os eleitores venezuelanos podiam votar, os outros quatro candidatos foram festejar a vitória com Capriles na noite de domingo, e prometeram se manter unidos na campanha para a eleição presidencial de outubro. Capriles destacou ontem que não conta só com o apoio dos ex-presidenciáveis, mas também de 17 candidatos a governadores e os 250 candidatos a prefeitos, que foram escolhidos nas primárias de domingo e disputarão eleições em novembro. / L.S.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Crônica de uma ruína anunciada:: Clóvis Rossi

A Europa e o FMI estão impondo à Grécia muito mais do que qualquer país pode suportar

O tucano José Serra costuma dizer que o jornalismo brasileiro contemporâneo é como a Grécia: só tem colunas e ruínas.

O leitor dirá se a avaliação do jornalismo é ou não correta. A da Grécia deixou de ser: o país hoje está resumido apenas a ruínas, econômicas, políticas e, principalmente, sociais.

E mais ruínas virão ante a evidência de que o programa aplicado à Grécia "tem sido um fracasso sem paliativos", no dizer de um colunista liberal como Wolfgang Münchau ("Financial Times"), evidência que, segundo ele, começa, a invadir a mente dos políticos em "algumas capitais do Norte da Europa" (leia-se: Alemanha, Holanda, Finlândia).

Invadiu pelo menos a cabeça de Peter Bofinger, um dos membros do Conselho Alemão de Especialistas em Economia -chamados de "Os Cinco Sábios"-, órgão independente que assessora o governo em política econômica. Em entrevista a Carolina Vila-Nova, Peter Bofinger "defende o indefensável hoje na Alemanha: mais dinheiro, mais tempo e menos austeridade à Grécia", como escreveu essa excelente jornalista,

Diz Bofinger: "Qualquer engenheiro sabe que uma ponte suporta um limite de peso. Esses limites também têm de ser respeitados em política econômica". Elementar. Inacreditável é que a União Europeia desconheça completamente uma verdade tão básica e force a Grécia a amontoar ruínas sobre ruínas.

Será que nenhum dirigente europeu parou para pensar nos efeitos nefastos dos três anos de austeridade impostos à Grécia? Nefastos não apenas socialmente, coisa que pouco interessa ao resto da Europa, mas também do ponto de vista da correção dos problemas que se supõe que a austeridade deveria enfrentar.

Basta ler o blog da economista Karine Berger: "A dívida grega passou de € 263 bilhões, em 2008, a € 355 bilhões em 2011. O PIB caiu, no período, de € 233 bilhões a € 218 bilhões. E, com uma taxa de juros oficial de 32%, nem é preciso dizer que a Grécia não pode de jeito nenhum se financiar nos mercados" [o que era ou ainda é a meta última dos programas europeus].

Os novos passos dados na tragédia -a aprovação pelo Parlamento de um novo aperto e a eventual liberação de novo pacote pela "troica" União Europeia/Fundo Monetário/Banco Central Europeu- evitarão a ruína final? Não, prevê Münchau no "FT". Pode, imagina ele, haver um período de calma, mas logo "se tornará claro que os cortes nos salários e aposentadorias piorarão a depressão".

Sua sugestão, válida para a Grécia, mas também para Portugal, que está voltando a entrar na zona de desastre: "O melhor seria reconhecer o estado desolador de ambos os países, deixá-los quebrar dentro da união monetária [sem sair do euro, portanto, ao contrário do que vêm sugerindo autoridades alemãs], e utilizar, então, um fundo de resgate suficientemente incrementado para ajudá-los a se reconstruir, ao mesmo tempo em que se ergue um muro de proteção ao resto [dos países da eurozona]".

Fecha o raciocínio com outra lógica elementar: "Será muito caro, mas ignorar a realidade por mais dois anos será ruinoso".

Posto de outra forma: a Grécia não ficaria sozinha na sua ruína.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

É poder de competição, estúpido! :: Rubens Barbosa

Apesar dos níveis recordes em 2011, a preocupação sobre a evolução do comércio exterior é grande. A concentração das exportações em poucos produtos e a perda de mercados dos manufaturados aumentaram a vulnerabilidade do setor externo e mostraram os problemas do setor produtivo industrial.

O sucesso da política econômica e do comércio exterior, que quadruplicou em 10 anos, esconde os verdadeiros problemas da economia em geral e do setor externo em particular. A desindustrialização é um triste fato. A indústria, que já representou 25% do PIB, hoje está reduzida a menos de 15%. O consumo doméstico é atendido cada vez mais por importações (22,3%), fazendo desaparecer fornecedores nacionais e empregos.

O déficit na balança comercial industrial subiu a mais de US$ 90 bilhões. As exportações se reprimarizam (produtos primários representam 70% das exportações e 4 produtos, quase 50%).

"Os números de janeiro da balança comercial comprovam o descaso do governo brasileiro com o setor produtivo do país. Estamos diante de uma situação muito grave, que pode comprometer nossa capacidade de gerar riquezas e empregos. O governo não pode ficar parado e se limitar apenas ao discurso.

Há meses estamos alertando para o problema da avalanche de importados, que afeta severamente a nossa indústria. O Brasil não pode mais esperar, é preciso que as autoridades adotem imediatamente medidas eficazes que garantam a igualdade de condições para a produção nacional", afirmou dura, mas corretamente Paulo Skaf, presidente da Fiesp.

Na área da negociação externa, nos últimos dez anos, o aumento das exportações pouco teve a ver com a abertura de mercados por meio de acordos comerciais, pois somente acordos com Israel, Egito e agora com a Autoridade Palestina foram assinados, no âmbito do Mercosul. Uma nova estratégia de negociação de acordos de livre comércio é necessária.

Enquanto essa é a situação no Brasil, o presidente Obama, na mensagem anual ao Congresso ("State of the Union"), ofereceu um bom exemplo de como defender de forma vigorosa a indústria manufatureira com visão de futuro.

Procurando trazer de volta empregos para a economia, anunciou um ambicioso programa de apoio á indústria doméstica. O conjunto de medidas incluiu a aprovação de ampla reforma tributária, novos impostos para as multinacionais que se instalam no exterior e exportam empregos, e redução de tributos para as empresas de transformação e de alta tecnologia, além de programas de treinamento profissional especializado. 

Na área de comércio exterior, Obama reiterou a meta de dobrar as exportações em cinco anos, o avanço nas negociações de novos acordos de livre comércio e o reforço da promoção das exportações e da defesa comercial com a criação de uma unidade de acompanhamento da aplicação das regras comerciais, responsável pela investigação de práticas desleais de comércio em países como a China.

Por aqui, nos últimos dez anos, as medidas de apoio à indústria ignoraram a principal causa da rápida perda da competitividade da economia nacional.

O custo Brasil está tendo um efeito devastador na economia. De imediato, com a perda de mercado no setor exportador e a crescente saída de empresas brasileiras, e, a médio e longo prazos, com o aumento do desemprego e com a redução de investimentos.

A exemplo dos EUA, a desoneração tributária deveria encabeçar a agenda do governo para enfrentar a competição externa.

Defesa comercial apenas não melhora a competitividade. O custo da energia, a alta taxa de juros, a apreciação cambial que anula a proteção tarifária, as ineficiências burocráticas, a guerra de incentivos nos portos e seus altos custos operacionais, o descalabro da infraestrutura, o peso dos gastos com a corrupção e com a aplicação da legislação trabalhista poderiam, se atenuados, representar significativa redução dos mais de 35% no custo final dos produtos.

Em resumo, é a competitividade, estúpido. O setor privado já fez a sua parte com o aumento da produtividade das empresas. Se o governo não atacar de frente o custo Brasil, a reindustrialização brasileira ficará seriamente ameaçada.

Rubens Barbosa É presidente do Conselho de Comércio Exterior da Fiesp.

FONTE: O GLOBO

Interregno hegemônico :: Yoshiaki Nakano

A crise financeira de 2008, desencadeada pela crise do subprime em 2007, tem o seu foco nos EUA e na Europa. Os países emergentes e, particularmente, os Brics revelaram-se extremamente resistentes e transformaram-se hoje no polo do crescimento da economia global. É uma crise do próprio centro do sistema global de poder com todas as suas implicações. As suas consequências também deverão ser profundas e persistentes.

O que está em jogo é uma variedade de capitalismo e a globalização liberalizante que chegaram ao seu limite e a provável ascensão de um novo tipo de capitalismo e de globalização. A ascensão da plutocracia financeira ao poder com Reagan/Thatcher, desde 1980, significou a retração do Estado-nação na sua função reguladora e controladora, com domínio de doutrinas como a de "mercado eficiente", sempre em equilíbrio, e capaz de se autorregular. O mercado se transformou no princípio de organização da economia capitalista, em contraposição ao Estado-nação. Mas, se não fosse a massiva intervenção e o socorro prestado pelo Estado, o mercado financeiro desregulado teria adquirido um poder autodestrutivo tão grande que o sistema financeiro teria praticamente desaparecido. Por razões de sobrevivência do próprio capitalismo, o Estado-nação está retomando a sua função reguladora e controladora dos mercados num processo adaptativo.

A China aparece como um candidato natural para se tornar, gradualmente, o paradigma econômico dominante nas próximas décadas. Se apresenta como um novo capitalismo de Estado, em substituição modelo da liberalização global. Se isso acontecer, o mercado livre será substituído pelo Estado-nacional como princípio dominante de organização e de controle das economias nacionais, e da nova a fase da globalização. Em países em que a liberalização avançou excessivamente e em crise financeira, o Estado ampliará seu foco de regulação e controle sobre os mercados. Nos países onde o poder do Estado é o agente organizador e controlador da economia, como na China, o mercado, enquanto princípio organizador, deverá ser ampliado.

Esse processo adaptativo entre mercado e Estado será longo e complexo, pois a plutocracia financeira é ainda o poder hegemônico e resistirá ao avanço da regulação. Mas quanto maior for a resistência e quanto maior for o período de dominância do mercado livre, maior será a crise necessária para que o princípio adaptativo funcione.

Vamos viver nas próximas décadas um longo interregno, com o declínio dos Estados Unidos e Europa e ascensão da China e dos países emergentes. Tanto os Estados Unidos como a Europa terão que concentrar suas energias para recuperar e revitalizar suas economias, num contexto de crescente oposição e polarização política doméstica, abrindo espaço para a emergência de novos estados-nacionais com atores políticos, a exemplo do G-20. Somente com a ascensão de nova coalizão global de forças políticas é que será construída uma nova ordem internacional, com a imposição de um novo pensamento econômico, o que deverá levar décadas. Nesse interregno hegemônico, será perfeitamente possível que conceitos como soberania, Estado-nação e nacionalismo venham adquirir força política e movimentem as massas, pois serão alimentados pelo crescente protecionismo, em pleno andamento, e pelo fato do problema de desemprego ser sempre um problema nacional.

Há uma similaridade histórica com o que aconteceu depois da Grande Depressão de 1890 até o fim da Grande Depressão de 1929 a 1939, foi um longo interregno marcado pelo declínio da hegemonia global inglesa e a ascensão americana, que se consolidou na segunda guerra mundial. Neste interregno, assistimos ao gradual declínio da plutocracia financeira inglesa e a ascensão do poder industrial americano. Fazendo paralelo histórico, poderemos ter, desta vez, o declínio da plutocracia financeira americana e a ascensão do poder industrial asiático.

Com redistribuição de poder e liderança na economia mundial, mais o declínio de um paradigma econômico que prevaleceu nas últimas três décadas, vamos viver um longo período de vácuo de poder dominante, com degelo da sua ideologia, seu pensamento econômico e dos consensos de políticas. Novas regras do jogo deverão emergir, mas nada disso tem uma evolução continua e linear.

Um interregno abre brechas e, países como o Brasil poderão agir estrategicamente para alcançar seus objetivos. Para países dependentes e com forte herança colonial, a globalização implicou num deslocamento deliberado para o exterior do dinamismo da economia e aumento da sua importância relativa do setor externo (fluxo de capitais) vis-à-vis setor interno da economia. Esta importância relativa não se refere apenas às condições econômicas e financeiras, mas principalmente ideológicas e dominância do pensamento econômico hegemônico. Com o interregno, a autonomia com que países podem perseguir objetivos nacionais de política econômica mudará substancialmente. É nesse panorama que cabe colocar se a Grande Recessão é uma ameaça ou oportunidade para o desenvolvimento brasileiro? Que futuro podemos conjecturar para o Brasil?

Yoshiaki Nakano, ex-secretário da Fazenda do governo Mário Covas (SP), professor e diretor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas - FGV/EESP

FONTE: VALOR ECONÔMICO

Farmácias vitaminadas:: Vinícius Torres Freire

Onda de fusões e aquisições prossegue no setor, que desde 2009 fica mais concentrado e profissional

O Brasil cresce, mal ou bem, desde 2005, como não crescia fazia 30 anos. O tamanho das empresas cresce ainda mais rápido. É o que ocorre também com as farmácias, negócio ainda pulverizado em termos nacionais, mas nem tanto nos Estados.

As farmácias passaram a atrair empresas financeiras do porte de BTG e Gávea. Ontem, o braço "farmacêutico" do BTG, a Brazil Pharma, fechou uma proposta para comprar a rede baiana Sant"ana.

Farmácia não é negócio pequeno. Segundo dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (IBGE) mais recente, remédios e produtos de higiene pessoal levam quase 6% das despesas de consumo dos brasileiros (quase o dobro do gasto em educação, mais que o dobro em eletrodomésticos, mais que em vestuário).

Em 2008, a Gávea investira na Droga Raia, desde o ano passado Raia Drogasil. A empresa disputa a liderança nacional (em faturamento) com a DPSP, resultado da fusão, também em 2011, da Drogaria São Paulo com a Pacheco.

Desde 2009, sete das 15 maiores empresas do ramo se aglutinaram. Em 2004, as cinco maiores redes tinham 16% das vendas. Em 2010, 23%. No ano passado, talvez 30%. "Talvez", pois as estatísticas do setor são um tanto confusas.

Segundo dados do IBGE, o varejo de remédios, perfumaria, produtos médicos e ortopédicos cresce em média 10% ao ano desde 2005. As farmácias crescem mais que isso, segundo associações do setor.

Renda crescente, povo mais idoso, formalização do negócio (com as notas eletrônicas), tudo isso estimulou o interesse pela consolidação.

O mercado começa a ficar concentrado? Não parece, mas a medida é difícil, depende de estudos muito complexos, com lupa em mercados regionais. Mas, para começar, os dados são confusos.

O Conselho Federal de Farmácia diz que existem cerca de 82 mil farmácias. As associações comerciais falam em cerca de 62 mil. Mas há estudos desse setor de varejo que falam em 52 mil pontos de venda.

Segundo a Abrafarma, associação das redes de farmácia, suas associadas, com mais de 3.600 lojas, faturam 41% do setor. A DPSP e a Raia Drogasil teriam, cada uma, cerca de 9% do faturamento do setor estimado pela Abrafarma (R$ 42 bilhões). Mas cada rede tem em torno de 700 lojas cada uma.

Num mercado ainda amador e pulverizado como o de farmácias, a consolidação tende a ser um progresso. Ganhos de escala e gestão moderna podem tornar o negócio mais eficiente e até melhorar os preços para o consumidor.

Por outro lado, as empresas menores serão devastadas e, provavelmente, expulsas para rincões de baixa renda.

Na média, os preços de produtos farmacêuticos têm subido menos que a inflação geral (IPCA). Em 2011, a inflação dos farmacêuticos foi de 4,4%, ante 6,5% do IPCA. Desde 2005, os farmacêuticos subiram o equivalente a 61% do IPCA.

A média pode distorcer altas feias de preços em remédios importantes (PODE: não quer dizer que distorça). Além do mais, as farmácias modernizadas deixaram de ser drogarias. Podem vender mais produtos, oferecer mais serviços.

Mas o negócio de farmácias ficou vitaminado. Precisa de um "check up" da supervisão da concorrência. Por ora, só um exame de rotina.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO