terça-feira, 20 de março de 2012

OPINIÃO DO DIA – Adorno: O Poder e o Conhecimento

Entre o conhecimento e o poder existe não só a relação de servilismo, mas também de verdade. Muitos conhecimentos, embora formalmente verdadeiros, são nulos fora de toda a proporção com a repartição de poderes. Quando o médico expatriado diz- "Para mim, Adolf Hitler é um caso patológico" - o resultado clínico acabará talvez por confirmar o seu juízo, mas a desproporção deste com a desgraça objectiva que, em nome do paranóico, se espalha pelo mundo faz de tal diagnóstico, com que se incha o diagnosticador, algo ridículo. Talvez Hitler seja "em si" um caso patológico, mas certamente não "para ele". A vaidade e a pobreza de muitas manifestações do exílio contra o fascismo ligam-se a este facto. Os que expressam os seus pensamentos na forma de juízo livre, distanciado e desinteressado são os que não foram capazes de assumir nessa forma a experiência da violência, o que torna inútil tal pensamento. O problema, quase insolúvel, consiste aqui em não se deixar imbecilizar nem pelo poder dos outros nem pela impotência própria.

Theodore Adorno (1903-1969), filósofo, in "Minima Moralia"

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO
Vazamento foi causado por erro da Chevron, conclui PF
Estudante brasileiro é morto por policiais na Austrália
Propina: governos cancelam contratos
Demora para julgar mensalão
Remédios aumentam até 5,85%

FOLHA DE S. PAULO
Corregedoria vai investigar todos os juízes do TJ-SP
Brasileiro é morto por policiais na Austrália
Há mais de um ano, camisinha feminina não é distribuída no SUS
Fifa contraria Brasil e mantém Valcke na Copa-14

O ESTADO DE S. PAULO
MP diz que petroleira sabia do risco de vazamento
Juízes são acusados de liderar corrupção no TJ do Tocantins
Polícia da Austrália mata turista brasileiro
Um quinto dos produtos industriais já vem de fora
Dilma mobiliza governo para aprovar Lei da Copa

VALOR ECONÔMICO
Mínimo puxa aumento real de 3,65% dos salários
Vale recorre a Geisel para se defender
Disputa sobre Viracopos pode se arrastar
Investimentos de US$ 11 bilhões parados no Peru

CORREIO BRAZILIENSE
Senado vai acabar com o 14° e o 15°? Ninguém acredita
Remédio, tão caro, ainda subirá 5,85%
Sob pressão, UnB estuda proibir trote
Brasileiro morto na Austrália

ESTADO DE MINAS
Planos de saúde viram novo SUS

ZERO HORA (RS)
Receita aperta cerco na ponta do consumo
Não letal? Polícia australiana mata brasileiro

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Reajuste no preço dos medicamentos
Vazamento de petróleo está fora de controle
PF investiga fraudes em licitações no Rio

O PT como condutor da expansão burguesa:: Luiz Werneck Vianna - Entrevista

Dilma Rousseff é uma grande racionalizadora, uma grande administradora. “A política não é o ramo dela”, constata o sociólogo. Ao avaliar o primeiro ano do governo Dilma Rousseff, o sociólogo Luiz Werneck Vianna defende que as questões que importam para a presidente são as de estado e de economia, de gestão, de racionalização. “Ela é muito desatenta em relação a esses problemas de tornar o governo mais poroso, mais próximo dos movimentos sociais, atraindo-os para o Estado e daí exercendo sobre eles uma tutela. A ênfase do governo Dilma é economia de gestão, racionalização”.

Werneck não concebe a ideia de que Dilma traia o mandato de Lula. “Ela procura ser fiel. O problema é que não é fácil ser fiel, pois ela é diferente dele”. Na entrevista a seguir, concedida por telefone para a IHU On-Line, o professor-pesquisador da PUC-Rio aposta no ressurgimento da política nos próximos anos com muita força. “Não há mais possibilidade de segurar a sociedade com esse jogo de manter os contrários em permanente equilíbrio”.

Luiz Werneck Vianna é professor-pesquisador na PUC-Rio. Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo, é autor de, entre outros, A revolução passiva: iberismo e americanismo no Brasil (Rio de Janeiro: Revan, 1997); A judicialização da política e das relações sociais no Brasil (Rio de Janeiro: Revan, 1999); e Democracia e os três poderes no Brasil (Belo Horizonte: UFMG, 2002).

O senhor percebe a marca do chamado “coronelismo” na coalizão de governo com ministros oriundos de oligarquias?

Essa não seria uma designação adequada. O que ocorre é que os remanescentes desse sistema de controle político, que teve vigência durante décadas, estão ressurretos entre nós através da coalizão que o governo faz com os setores vinculados a práticas retardatárias e a formas de propriedade, especialmente o latifúndio, que predominaram e ainda predominam em boa parte do país, principalmente no Nordeste.

Por que o Brasil não consegue romper com as forças conservadoras e atrasadas? O senhor percebe a necessidade delas?

Não vejo como necessidade para a boa governança do país, mas isso é resultado de um cálculo. Para se dar um passo é preciso recuar dois, especialmente se olharmos para a agenda comportamental. E hoje é um dia especial (dia 8 de março, dia internacional da mulher), para pensar nas questões referentes a comportamento, a mulher mesmo e a questão do aborto. Nisso não se avança, não se discute. Não é a questão de ser ou não a favor do aborto. Pelo contrário, trata-se de uma prática de saúde pública que está levando à morte milhares de mulheres que são mal atendidas.

Como conciliar a cobrança de Dilma de postura republicana dos seus ministros num governo com figuras que se formaram politicamente em ambientes onde se pratica o patrimonialismo e o clientelismo como regras do jogo?

Essa é uma contradição. É difícil, porque são atitudes, comportamentos, expectativas republicanas que não são compatíveis com as formas como esses homens foram treinados, socializados e chegaram à política. E eles fazem política da forma mais tradicional. Não obstante, estão sendo mobilizados para realizar agendas modernas. Dilma escolhe apenas por cálculo político, para ter maioria governamental.

Há limites para a coalizão de governo?

Devem existir. As coalizões devem ser programáticas e não de oportunidade e instrumentais como são essas nossas. Na verdade, o governo acha que representa o moderno e os interesses gerais da nação e qualquer acordo que ele faça com a tradição, com o atraso, com o patrimonialismo, com o clientelismo não importa.

O PT guarda ainda alguma inovação para a política nacional ou rendeu-se ao pragmatismo?

Ele se rendeu. Mas há coisas importantes ainda no PT, que trouxe inovações, arejou e aproximou os movimentos sociais do governo, da administração, além de ter uma política muito atualizada e amável com a vida sindical. Os sindicatos têm uma participação importante ainda, não tanto no governo Dilma como tiveram no governo Lula, mas ainda têm alguns elementos característicos disso. Isso tudo são registros a serem feitos na agenda que o PT tem cumprido até aqui. O que ele perdeu foi o elã, a inspiração, o vínculo com as suas origens, com as suas grandes expectativas de produzir uma transformação no país. Na verdade, o PT se tornou uma força condutora da expansão burguesa no Brasil.

Em outras entrevistas o senhor sempre reiterou que o governo Lula havia cooptado os movimentos sociais, trazendo-os para dentro do Estado. Como está a situação levada por Dilma neste primeiro ano de governo?

Isso persiste, mas com uma atenuação, visto que com Lula esse processo avançou muito. As questões que importam para Dilma são as de estado e de economia, de gestão, de racionalização. Ela é muito desatenta em relação a esses problemas de tornar o governo mais poroso, mais próximo dos movimentos sociais, atraindo-os para o Estado e daí exercendo sobre eles uma tutela. É uma questão que existe, que continua, mas não é a ênfase do governo Dilma. A ênfase do governo Dilma é economia de gestão, racionalização.

Em que sentido podemos ver a marca da racionalização no governo Dilma?

Nesse sentido, ela vem merecendo o qualificativo de “gerentona”, a gerente do Brasil como empresa, como negócio e não como sociedade. O que traduz de forma mais incisiva é a natureza desse governo tendo como seu sistema fundamental de orientação o aprofundamento e a expansão da ordem burguesa no país. Daí os movimentos sociais estão articulados com o Estado, cooptados, os sindicatos não deixam de estar também jurisdicionados pelas políticas governamentais. A sociedade se deixa levar na medida em que a taxa de emprego está bastante razoável e os negócios prosperam. No entanto, a sociedade está órfã politicamente.

Em que medida Dilma difere de Lula em relação aos direitos humanos e aos sindicatos?

Em relação aos direitos humanos, a posição dela difere positivamente. De qualquer forma, o mundo que ela pegou é diferente do mundo de Lula. Esse era anterior à Primavera Árabe e a todos os acontecimentos depois deste grande acontecimento que ainda persiste. Dilma se aproximou de uma agenda de direitos humanos bem mais moderna e atualizada do que a de Lula. O que não quer dizer que ela tenha rompido, mas ponderou algumas ênfases do governo Lula. Em relação aos sindicatos, não é o estilo dela. Ela não veio desse mundo. Ela veio aí do Rio Grande do Sul, da administração pública. A carreira de Dilma é de gestora. Lula fez uma carreira na sociedade civil, de líder sindicalista, que sabe falar e sabe qual é a linguagem própria a ser usada. De qualquer forma, ele tinha uma proximidade forte com os pleitos sindicais e se reunia com eles quase que entre iguais. Já a Dilma delega isso. Não concebo a ideia de que Dilma trai o mandato de Lula. Ela procura ser fiel. O problema é que não é fácil ser fiel, pois ela é diferente dele.

Mas por que o senhor afirma que Dilma cada vez mais é constrangida à infidelidade?

Independentemente do sistema de valores dela, as circunstâncias atuais a obrigam a inflexões e mudanças, mesmo que elas não sejam lá muito compatíveis com o espírito e o sentido do que preponderou no governo Lula.

Como o senhor define a “cara própria” do governo Dilma?

Dilma é uma grande racionalizadora, uma grande administradora. A política não é o ramo dela.

O que marca a guinada introduzida por Dilma no presidencialismo de coalizão brasileiro? Como seria uma coalizão mais programática?

Essa guinada ela não fez nem ameaça fazer. As marcas visíveis, evidentes até então, são de que ela persiste no modelo anterior. Não é fácil erradicar, é preciso ter coragem política para erradicar. Importaria ter um programa de reformas real. Mas o que vemos é um governo dividido em todas as questões. Por exemplo, a reforma trabalhista: os empresários a querem, os sindicatos não. Tanto empresários como sindicatos estão dentro do governo.

Outro exemplo é a reforma do Código Florestal: a oposição entre o agronegócio e os ambientalistas é mortal. Os dois lados estão dentro do governo, assim como está também a estrutura da propriedade familiar. Como resolver isso? É um ministério para um, um ministério para outro, e assim vão se criando essas composições. Vejo que a reforma previdenciária, que parece que Dilma vai fazer, é algo que vai repercutir, por ser uma questão sensível e pelo fato de o PT ser um partido mais “funcionário público” do que qualquer outra coisa. A questão promete ser dolorosa. Não sei o quanto de dor, mas alguma dor isso acarretará.

A situação de Dilma também é delicada em relação à bancada evangélica no Congresso...

Isso. De um lado ela é libertária e de outro está comprometida com o que há de mais recessivo em matéria comportamental na sociedade brasileira. Para onde ela vai? Quer aprofundar o moderno ou quer fazer com que o moderno só passe? Imagino daqui para frente um quadro de muita exasperação da política. Na questão dos funcionários públicos, na questão do meio ambiente, na questão militar já há indícios disso, bem como na questão agrária e na questão sindical. A política tende a ressurgir nos próximos anos com muita força. Não há mais possibilidade de segurar a sociedade com esse jogo de manter os contrários em permanente equilíbrio. Uma hora dessas, assim como no número das varetas no circo, isso vai cair, o equilibrista perde o controle. Não estou anunciando agonias. Estou dizendo apenas que a sociedade não vai ficar com essa ausência de movimentação que hoje a tem caracterizado. Isso vai se energizar. Há indicações fortes na vida associativa de robustecimento dela, o que tende a se generalizar de forma autônoma, sem vínculos com o Estado.

O senhor aposta em iniciativas como o movimento dos indignados, ou o Ocupe Wall Street, por exemplo?

Cada forma de protesto tem a sociedade que merece. Não sei se vamos chegar a ações desse gênero. Estou falando de coisas mais tópicas, mais localizadas. Por exemplo, está muito difícil manter a força sindical dentro do governo do jeito que as coisas se encontram.

FONTE: IHU ON-LINE & GRAMSCI E O BRASIL.

Demora para julgar mensalão

Com 38 réus e 50 mil páginas, é improvável que o Supremo julgue até maio o maior escândalo do governo Lula, como esperava o relator, ministro Joaquim Barbosa. A lentidão beneficiará acusados com pretensões eleitorais

Julgamento longo para mensalão

Quase sete anos depois do escândalo, processo pode ficar apenas para o segundo semestre

Carolina Brígido

A expectativa do ministro Joaquim Barbosa de ver o processo do mensalão julgado no Supremo Tribunal Federal (STF) em maio pode ser frustrada. O relator concluiu a investigação e elaborou um relatório no ano passado. Em dezembro, enviou o caso ao revisor, o ministro Ricardo Lewandowski, que está preparando seu voto. Embora esteja se esforçando para apresentá-lo ainda neste semestre, é pouco provável que conclua o trabalho em maio. Quando concluir, caberá ao presidente do STF marcar a data do julgamento. O cargo será de Carlos Ayres Britto, que tem a intenção de incluir o caso na pauta o quanto antes.

Independentemente da data, a preparação do julgamento já está nos trilhos. E devem ser necessárias pelo menos três semanas inteiras para chegar a um veredicto. Normalmente, há julgamentos em plenário apenas duas vezes por semana. No caso do mensalão, haverá sessões diárias. Por conta do problema crônico de coluna, Barbosa sugeriu que elas ocorressem apenas no período da tarde.

Primeiro, o relator vai ler o relatório, um documento com 122 páginas. Em seguida, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, fará a acusação. Conforme a lei, ele tem direito a uma hora de sustentação oral. Como a quantidade de réus é elevada, 38, o procurador está negociando com o tribunal uma fala de pelo menos três horas em plenário. Dos 38 réus, ele acusará apenas 36 em plenário, porque já declarou que não há indícios suficientes contra dois deles: Luiz Gushiken e Jacinto Lamas.

- Se for mantida uma hora, eu vou ter só um minuto e pouco para cada réu, o que evidentemente inviabiliza a atuação do Ministério Público - argumenta o procurador.

A parte dedicada à sustentação oral dos advogados será extensa. Pela lei, cada um tem direito a uma hora. Seriam, portanto, 38 horas na tribuna divididas em uma semana. Em seguida, o relator vai ler o voto que terá, no mínimo, 500 páginas. O documento será dividido em capítulos, assim como fez em 2007, no voto que defendeu a abertura da ação penal. Haverá uma parte dedicado ao núcleo central, formado pelo ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, e o ex-deputado José Genoino (PT-SP).

Repercussão em período eleitoral

Há também o núcleo empresarial, com Marcos Valério no comando. Ele é apontado como o operador do esquema de pagamento de propina a parlamentares por parte do governo federal em troca de apoio em votações importantes. O núcleo publicitário conta com Duda Mendonça e Zilmar Fernandes, e o núcleo financeiro com a diretoria do Banco Rural, instituição usada para as várias operações do suposto esquema.

De forma silenciosa, outros ministros estão preparando seus votos, mesmo sem saber a data do julgamento. Eles estão preocupados com o volume de páginas a serem analisadas - ao todo, 50.118 distribuídas em 233 volumes e 495 apensos com documentos. As páginas estampam depoimentos com mais de 600 testemunhas, além de relatórios policiais e provas documentais. O julgamento terá ampla repercussão em outros países: jornalistas da imprensa internacional já estão se movimentando para operacionalizar a cobertura.

Todo esse movimento ocorrerá às vésperas das eleições municipais, marcadas para outubro. Aparentemente, os ministros não estão preocupados com eventuais repercussões do julgamento no processo eleitoral. Estão mais interessados em dar uma resposta rápida à sociedade sobre o maior escândalo político do governo de Luiz Inácio Lula da Silva.

- Com boa vontade, tudo se arranja. É uma coisa que o país está esperando e os ministros estão preocupados com isso. Quando decidir, o tribunal vai fazer o que tem que ser feito. Esse tipo de coisa não me abala (a proximidade das eleições). Trabalho não é problema para mim - avaliou a ministra Cármen Lúcia, que integra o STF e assumirá a presidência do TSE no próximo mês.

O inquérito do mensalão chegou ao STF em julho de 2005. Em março de 2006, o então procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, apresentou denúncia ao tribunal contra 40 acusados. Em agosto de 2007, os ministros aceitaram a denúncia e abriram ação penal contra todos. Em seguida, um dos réus, o ex-secretário-geral do PT, Silvio Pereira, fez acordo com o Ministério Público e trocou o processo pela prestação de serviços comunitários. Outro réu, o ex-deputado José Janene (PP-PR), morreu em 2010.

FONTE: O GLOBO

Declarações de Braga irritam cúpula do PMDB

Caciques do partido planejam reação à decisão da presidente de buscar novos aliados; Ideli diz não temer por votações

Gerson Camarotti, Maria Lima

BRASÍLIA. Diante do impasse com o PMDB, que começa a contaminar outros partidos aliados, o Palácio do Planalto decidiu suspender as conversas que seriam agendadas para as próximas semanas entre a presidente Dilma Rousseff e as bancadas governistas no Congresso. A cúpula do PMDB está em pé de guerra e tem se reunido com o vice-presidente Michel Temer, em busca de como administrar a decisão, anunciada pelo novo líder do governo no Senado ao GLOBO, Eduardo Braga (PMDB-AM). Ele disse que Dilma "vai enfrentar as velhas práticas políticas".

O que mais irritou os caciques do PMDB foram as declarações de Braga de que vai estender a interlocução do governo a desafetos do grupo de Renan Calheiros (PMDB-AL) e José Sarney(PMDB-AP), como o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE). Ontem, Jarbas disse ter dúvidas se Dilma conseguirá dar passos concretos nesse enfrentamento:

- Não sei se Dilma quer isso. Ela tem o pé muito atrás. Se quer conversar com os independentes, precisa promover atos concretos. Até agora, ela tem tratado o Congresso com desdém. O fato de ter trocado (Romero) Jucá por Eduardo Braga, uma pessoa de nível acima da média do Senado, não deixa de ser positivo. Mas se sair de Jucá e continuar no mesmo círculo de Renan e Sarney, é trocar seis por meia dúzia - disse.

Sobre uma conversa com Dilma, Jarbas disse que, antes, precisa saber o rumo da prosa:

- Se for para votar com o governo, alinhado, não é bem assim. Sempre voto com o governo quando acho que merece .

Apesar da intervenção do ex-presidente Lula, que chamou Sarney e Braga a São Paulo, para mostrar sua preocupação com a radicalização da crise na base, Dilma está consciente do risco de suas ações. Nas palavras de um interlocutor de Dilma, foi intencional sua decisão de mudar uma relação que é chamada no Planalto de viciada e decadente.

- Ao esticar a corda, a presidente sabe que tem riscos. Mas ela está decidida a mudar essa correlação de forças - resumiu esse interlocutor.

De forma reservada, o que se diz no Planalto é que Sarney e Renan, embora reclamando das ações de Dilma, também têm uma dívida de gratidão com Lula e o PT - o ex-presidente blindou Sarney no escândalo dos atos secretos. Também evitou a cassação de Renan, quando foi divulgado que uma empreiteira pagava mesada para a jornalista Mônica Veloso, com quem ele teve uma filha.

Ontem, Dilma se encontrou com Temer. Foi um gesto para manter aberto o canal com a cúpula do PMDB. No domingo à noite, houve um encontro de caciques do PMDB na casa de Sarney. A reunião do mesmo grupo se repetiria ontem no Palácio do Jaburu, residência oficial do vice.

A ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, disse ontem que trabalha com o tempo para reconstruir a relação com a base, sem pressa. Mas frisou que, na vida real, não há problemas de governabilidade. Até porque, disse, o governo não tem necessidades urgentes no Congresso; não há na pauta, por exemplo, nenhuma votação de emenda constitucional que exige quorum qualificado (três quintos).

Mas o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), teme pela votação da Lei Geral da Copa:

- Vou falar com a bancada que este é um compromisso dos governos Lula e Dilma. Vou tentar reverter essa resistência.

FONTE: O GLOBO

Governadores aumentam pressão para Dilma rever pacto federativo

Senado cria comissão de especialistas para tentar obter proposta consensual

Cristiane Jungblut

BRASÍLIA. Os governadores aumentaram a pressão junto à presidente Dilma Rousseff para discutir um novo pacto federativo. Em pauta, temas sensíveis que vão da partilha dos royalties do pré-sal à renegociação de dívidas com a União. Responsável por definir regras sobre endividamento dos entes federativos e operações de crédito, o Senado também decidiu agilizar essas discussões e criou uma comissão com 14 especialistas, que terá 60 dias para apresentar sugestões de mudanças no atual pacto federativo.

Esse processo representa uma verdadeira corrida contra o tempo, pois o Supremo Tribunal Federal (STF) determinou que, em 2013, entrem em vigor novas regras para a distribuição dos recursos do Fundo de Participação dos Estados (FPE), o que traz grande preocupação aos governadores.

Nelson Jobim vai presidir comissão de especialistas

A comissão de especialistas foi criada pelo presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e será presidida por Nelson Jobim, ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) e ex-ministro da Justiça e da Defesa. Hoje, Jobim se reúne com Sarney para definir o cronograma de trabalho. Também integram a comissão o economista Bernard Appy; o ex-ministro João Paulo dos Reis Velloso; o ex-secretário da Receita Everardo Maciel; o tributarista Ives Gandra da Silva Martins; e o ex-ministro da Saúde Adib Jatene, entre outros.

Um dos pontos mais sensíveis para os estados é o indexador de seus contratos de dívidas com a União. Essa correção é fixada hoje em IGP-DI mais 6% a 9%, o que estaria descolado do cenário atual, no qual a taxa básica de juros da economia está em queda. Outro elemento delicado são as novas regras de distribuição para o FPE.

Em 2010, o STF considerou inconstitucional a fórmula atual de distribuição de recursos do fundo - 85% das receitas vão para as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste e 15%, para Sul e Sudeste. O FPE é formado com recursos do Imposto de Renda e do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). Em 2011, o FPE repassou R$ 48 bilhões para os estados. Para 2012 a previsão é de R$ 55 bilhões.

Os governadores vêm se reunindo para discutir as questões. Na última quinta-feira, em Belo Horizonte, reuniram-se os governadores do Sudeste: Antonio Anastasia (Minas Gerais), Geraldo Alckmin (São Paulo), Sérgio Cabral (Rio de Janeiro) e Renato Casagrande (Espírito Santo).

Ontem, Casagrande esteve com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, para discutir outro item polêmico da pauta dos governadores: a chamada Resolução 72, que trata das alíquotas do ICMS interestadual para importações, que deverá ser nivelada em 4%.

Para os estados que perderem com essas novas regras, como Espírito Santo, Santa Catarina e Goiás, o governo promete reforçar investimentos, em infraestrutura, por exemplo. A questão do ICMS terá uma maratona de debates, hoje e amanhã, nas comissões de Constituição e Justiça e de Assuntos Econômicos do Senado, com a presença de governadores e economistas.

Para Everardo Maciel, é preciso restringir a pauta

Além de Casagrande, o governador de Santa Catarina, Raimundo Colombo, também se reuniu ontem com a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, e, depois, com Mantega. Segundo Colombo, Santa Catarina perderá R$ 1 bilhão com as novas regras.

- O processo não é tão simplista assim. Essa resolução carece de princípios legais. Nos últimos 50 anos, não foi aprovada nenhuma resolução igual a essa. Ela tem de ser feita por lei complementar - disse Colombo.

O líder do PT no Senado, Walter Pinheiro (BA), pondera que o encontro com Mantega apenas iniciou a discussão:

- Estamos iniciando uma concertação do pacto federativo e não podemos ficar divididos entre os que reclamam e os que conclamam - disse.

Para Everardo Maciel, que integrará a comissão do Senado, é preciso definir uma pauta específica, porque pacto federativo é amplo demais:

- O Supremo entendeu que, para 2013, teria que haver um novo modelo de FPE. Sem FPE, é mais ou menos a fronteira do caos. Mas discutir o pacto federativo é muito abrangente.

Colaborou Luiza Damé

FONTE: O GLOBO

Ainda é cedo para falar em crise, mas presidente terá de compartilhar o poder

João Augusto de Castro Neves

O governo Dilma sofreu duas importantes derrotas no Congresso nas últimas semanas: a rejeição da recondução do diretor da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres), Bernardo Figueiredo, e a defecção dos senadores do PR da coalizão governista. Na esteira desses acontecimentos, o governo decidiu trocar seus líderes no Senado e na Câmara, uma estratégia pouco usual a poucos meses do recesso parlamentar de meio de ano.

Apesar de sublinharem uma certa dificuldade do governo Dilma em lidar com as prerrogativas de um presidencialismo de coalizão, seria prematuro traduzir esses acontecimentos como o prenúncio de uma crise política mais profunda.

Em termos numéricos, a saída do PR pouco altera o balanço de poder entre governo e oposição no Senado. Aliás, o mais provável é que os sete senadores do PR atuem de forma independente em vez de se aliarem à oposição.

Já em relação à ANTT, deve-se notar que o PMDB, considerado o principal culpado pela derrota governista, conscientemente escolheu uma votação relativamente menos importante para manifestar sua "rebelião". Nos dois casos, os canais de diálogo com o governo continuam abertos.

A curto prazo, as tensões na base governista podem retardar o ritmo de trabalho no Congresso. Ainda assim, não há razão para acreditar que as principais propostas de reforma estejam ameaçadas.

A criação de um fundo de previdência para o setor público, a padronização do ICMS sobre produtos importados e a decisão de ampliar para outros setores industriais a desoneração da folha de pagamentos, por exemplo, são questões que transcendem a divisão governo-oposição. Se o governo decidir avançar com essas reformas, o principal obstáculo sera um calendário apertado pelas eleições municipais.

Para evitar a deflagração de uma crise política mais à frente, entretanto, o governo devera ir além da troca de lideranças no Congresso.

Com a opinião pública e os indicadores econômicos ainda a seu favor, a presidente Dilma vem se protegendo de maiores turbulências. Mas para não virar refém de sua popularidade, cedo ou tarde a presidente precisará jogar o jogo do presidencialismo de coalizão, isto é, compartilhar mais poder -e verbas.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Dilma mobiliza governo para aprovar Lei da Copa

Dilma exige prioridade à Lei Geral

Presidente reúne ministros e líderes do governo e deixa claro ser preciso tramitação rápida do projeto, que pode ser votado na Câmara ainda esta semana

Rafael Moraes Moura,

BRASÍLIA - Três dias depois de se encontrar com o presidente da Fifa, Joseph Blatter, a presidente Dilma Rousseff convocou ontem os seus principais ministros e os líderes do governo na Câmara e no Senado para afinar o discurso do Palácio do Planalto e pedir prioridade na tramitação da Lei Geral da Copa no Congresso. Apesar das tensões dentro da base aliada, o líder do governo na Câmara, deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), disse que vai tentar votar o texto ainda nesta semana.

"A questão central na visão do governo é que um país como o nosso não pode deixar de cumprir compromissos internacionais assumidos. Isso diz respeito à nação brasileira, e não a esse ou àquele governo", disse Chinaglia. Alvo de controvérsia, a venda de bebidas alcoólicas nas arenas é um dos compromissos firmados em junho de 2007 pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Um dos objetivos da viagem de Blatter foi aparar as arestas da entidade com o governo após as polêmicas declarações do secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke - e pressionar as autoridades brasileiras para aprovar a lei, que ainda precisa passar pelo plenário da Câmara e do Senado, antes de ir à sanção da presidente.

Dilma discutiu o assunto com Chinaglia e os ministros Aldo Rebelo (Esporte), Ideli Salvatti (Relações Institucionais), José Eduardo Cardozo (Justiça), Gleisi Hoffmann (Casa Civil), Gilberto Carvalho (Secretaria Geral), Aguinaldo Ribeiro (Cidades), Helena Chagas (Comunicação Social), Edison Lobão (Minas e Energia), o vice-presidente Michel Temer e o líder do governo Senado, Eduardo Braga (PMDB-AM). De acordo com Chinaglia, Dilma fez referência à Lei Geral como "um dos pontos importantes para o governo".

Questionado sobre a resistência da bancada religiosa para aprovar a liberação do álcool, Rebelo respondeu: "A bebida alcoólica está relacionada com convicções pessoais, morais, religiosas, que respeitamos. Estamos aqui tratando de compromissos assumidos pelo Estado brasileiro e que devem ser cumpridos, e nesse aspecto é que o governo faz o apelo no sentido de que esses compromissos sejam honrados."

A Lei Geral da Copa foi aprovada no início do mês pela comissão especial da Câmara com a permissão da venda de bebidas em recipientes de plástico durante as Copas das Confederações de 2013 e do Mundo de 2014. O texto original revogava a proibição expressa no Estatuto do Torcedor, o que abre a interpretação de que a Fifa teria de negociar a autorização com cada Estado. É esse texto que a bancada do PT diz que vai apoiar (leia nesta página).

Chinaglia disse que vai procurar os líderes da base do governo e da oposição para esclarecer um ou outro ponto, "especialmente aqueles onde aflorou alguma divergência de opinião". "Avalio que seja possível votarmos esta semana", afirmou.

Na semana passada, o líder do governo na Câmara foi orientado pelo Planalto a firmar acordo para impedir a venda de álcool, mas acabou voltando atrás após esclarecimentos das garantias dadas pelo Brasil à Fifa.

Governadores. Conforme o Estado informou em outubro, a venda de álcool nas arenas divide os Estados. Para a maioria dos governos estaduais, cabe ao Congresso decidir sobre o tema. Na época da reportagem, o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), manifestou-se favorável à liberação, posição contrária à dos governadores do Rio Grande do Sul, Tarso Genro (PT), e do Paraná, Beto Richa (PSDB).

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Um quinto dos produtos industriais já vem de fora

Um em cada cinco produtos industriais vendidos no Brasil já é feito no exterior

Eduardo Cucolo

BRASÍLIA - Um em cada cinco produtos industriais vendidos no Brasil em 2011 foi fabricado em outro país, segundo levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Os produtos importados responderam por 19,8% do consumo no ano passado, porcentual recorde, acima dos 17,8% de 2010.

A própria indústria nacional contribuiu para o aumentou no consumo de importados: 21,7% dos insumos utilizados pelo setor vieram de outros países, participação também recorde no levantamento. O estudo, feito em parceria com a Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex), levou em conta dados retroativos a 1996.
O levantamento também calcula a parcela da produção nacional vendida para o exterior. Coincidentemente, é o mesmo porcentual de consumo de importados. Ou seja, o Brasil exportou quase 20% da sua produção industrial e importou quase 20% do que consumiu em 2011.

Para CNI, esse "empate" não é bom para o País. Em primeiro lugar, porque as vendas para o exterior superavam com folga o consumo de importados até 2007, o que mudou a partir da crise de 2008. Além disso, enquanto a importação bate recorde, a exportação ainda está abaixo do pico de 22,9% alcançado em 2004. Por isso, a previsão é que as vendas voltem a ficar abaixo das compras externas neste ano, o que não acontece desde 2001.

Tendência. "Isso é uma combinação de câmbio valorizado e uma economia em que o consumo cresce. A tendência é continuar esse quadro, o que nos leva a esperar um crescimento mais intenso na importação do que na exportação", disse o gerente executivo da Política Econômica da CNI, Flávio Castelo Branco.

Segundo o economista, essa "coincidência" se deve ainda ao desempenho da indústria extrativa. Quando se considera apenas a indústria de transformação, a participação das vendas cai para 15% da produção, abaixo do porcentual de consumo de importados (18,5%).

A pesquisa também mostra outro resultado ruim para a indústria de transformação: caiu a diferença entre a receita de exportação e o gasto com a compra de insumos importados. Em 2004, essas empresas alcançaram um ganho líquido de 11,6% nas operações de comércio exterior. No ano passado, as vendas superaram as compras externas em apenas 3%, menor nível da série retroativa a 1997. Na indústria extrativa, que tem alto volume de exportações e compra poucos insumos, a diferença é de 72%.

Para a CNI, esses números tendem a piorar, mesmo com as medidas adotadas pelo governo para segurar o dólar e impulsionar a atividade econômica. "Se nada for feito para aumentar a competitividade dos produtos brasileiros, creio que o quadro tenda a se agravar. Vamos ter um baixo crescimento da produção e, como consequência, da economia em 2012", disse Castelo Branco.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Abaixo da crítica

O Brasil está ficando para trás. Embora a febre de consumo ainda ajude a manter nossa economia girando, motores mais potentes de crescimento têm dado sinais de exaustão. Volta a se repetir entre nós um padrão que marcou boa parte da era Lula: crescemos, mas bem menos do que poderíamos.

Aos poucos vão sendo conhecidos os desempenhos de outros países e vamos constatando que, novamente, o Brasil será o patinho feio do continente. Com a expansão de 2,7% do PIB registrada em 2011, ficaremos em último lugar na América do Sul, bem atrás, por exemplo, de Chile (6%), Argentina (8,8%) ou Equador (9%).

Desde 2006, o Brasil não perdia feio para todos os seus vizinhos sul-americanos, como mostrou a Folha de S.Paulo ontem. Em comparação com a América Latina, outro fracasso à vista. Talvez cresçamos mais, apenas, do que Guatemala e El Salvador. Desta vez até o arrasado Haiti nos superará.

A realidade é que, desde o início da gestão PT, o Brasil costuma ficar para trás nessas comparações internacionais. De 2003 a 2011, entre 20 países latino-americanos, fomos apenas o 14º que mais avançou, com crescimento acumulado de 40%, ou cerca da metade da Argentina e do Uruguai.

Na era petista, o crescimento médio do PIB per capita do Brasil foi de 2,85%; no resto da América Latina, de 4,07%. No período Fernando Henrique, a situação era distinta. Numa época de economia conflagrada em todo o mundo, e principalmente entre os emergentes, o crescimento médio per capita brasileiro foi de 1% ao ano entre 1995 e 2002, enquanto no resto da América Latina alcançou apenas 0,4%.

Por que, afinal, nosso desempenho piorou tanto quando olhamos para nossos vizinhos?

Uma das razões é que o Brasil tornou-se um país onde produzir é muito caro. Em uma palavra, estamos perdendo competitividade, à medida que mudanças mais profundas na nossa estrutura de produção deixam de ser feitas - como vem acontecendo nos últimos anos. O país está enferrujando.

Quem mais dá mostras desta fraqueza é a indústria nacional. Seu peso no PIB desabou e retornou a níveis de 50 anos atrás. Neste aspecto, talvez o PT tenha conseguido subverter o lema de Juscelino Kubitschek: encolhemos 50 anos em 9.

As fábricas penam para suportar custos em alta. Alguns exemplos: em reais, já descontada a inflação, a folha de salários na indústria aumentou 25% desde 2005, enquanto a energia elétrica industrial ficou 28% mais cara, informa hoje o Valor Econômico em manchete.

Quando se considera a variação da moeda norte-americana no período, esses e outros custos de produção ficaram ainda mais pesados. Em dólares, a energia brasileira subiu 86% e a mão de obra, 57%, já descontados os ganhos de produtividade. Quem há de resistir?

A saída natural tem sido o aeroporto, ou melhor, a importação. Para sobreviver ao encarecimento do país, empresários optam por trazer o produto acabado de fora. Fica bem mais em conta. Menos para o trabalhador, que vê oportunidades de emprego serem exportadas para a China, para a Índia, para o Japão...

O mercado de trabalho brasileiro já entrou em ritmo de desaceleração. Em fevereiro, o número de novos empregos gerados no país caiu 57% na comparação com o mesmo período do ano passado. Foi o pior resultado para o mês desde 2009. Na indústria, a queda chegou a 67% e até as contratações no comércio murcharam.

A culpa não é só do câmbio ou dos juros, como agora prefere achar a presidente Dilma Rousseff. A situação é bem mais complicada: também entram na conta do atraso o excesso de impostos, a burocracia imensa, a logística sofrível e uma lista interminável de pendências não enfrentadas. É fácil constatar: não estamos apenas abaixo dos vizinhos; estamos muito abaixo da crítica.

Fonte: Instituto Teotônio Vilela

Por prévia, Serra intensifica agenda e vai a baile funk

Daniela Lima

SÃO PAULO - A seis dias das prévias do PSDB, o ex-governador José Serra vai dobrar seu número de agendas públicas. A maratona inclui uma visita, na tarde de hoje, a um baile funk na Cidade Tiradentes, zona leste de São Paulo.

Serra disputa com o secretário estadual José Aníbal (Energia) e o deputado federal Ricardo Tripoli a candidatura à prefeito pelo PSDB. As prévias serão domingo (25).

O ex-governador, que vinha fazendo apenas uma aparição por dia, terá duas agendas hoje e três amanhã. O ritmo será mantido até sexta, quando haverá um grande evento na zona sul.

Apenas o dia de ontem, quando Serra completou 70 anos, ficou de fora do esforço concentrado.

Segundo assessores, o ex-governador passou o aniversário na capital, telefonando para militantes e, à noite, comemorou com os netos.

Na última sexta-feira, Serra debateu os detalhes da agenda dessa semana com o governador Geraldo Alckmin. Na reunião, fizeram também uma estimativa do placar das prévias e estimaram como teto da votação de Serra o índice de 70%.

Alckmin, que no dia seguinte a essa reunião declarou publicamente apoio ao ex-governador, fez questão de frisar que o importante é Serra vencer, não importa o índice. A fala foi direcionada a serristas que pregam que, sem uma vitória acachapante sobre os demais, Serra ficaria desmoralizado.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

PT decide apoiar candidato do PSB em Belo Horizonte

Paulo Peixoto

BELO HORIZONTE - O PT de Belo Horizonte deverá optar no próximo final de semana por firmar uma aliança com o prefeito Marcio Lacerda (PSB) na disputa eleitoral de outubro.

A questão é saber se a resistência de setores petistas à presença do PSDB na aliança dificultará o entendimento formalizado anteontem. O presidente do diretório, o vice-prefeito Roberto Carvalho, insiste no veto ao PSDB.

A única certeza no diretório municipal do partido é que a candidatura própria petista foi sepultada no domingo, em reunião que escolheu os delegados do partido.

Os delegados que defendem a candidatura própria serão minoria (cerca de 40%) no encontro. Entre os outros cerca de 60%, defensores da aliança com Lacerda, há muitos que defendem a aliança, mas sem o PSDB - entre eles o ex-ministro do Desenvolvimento Social Patrus Ananias.

Já o grupo do ministro Fernando Pimentel (Desenvolvimento Econômico) defende o PSDB na coligação.

Na eleição que elegeu Lacerda, em 2008, o PT foi vice na chapa, e o PSDB apoiou a aliança informalmente. Neste ano, porém, há indícios de que a rejeição à presença do PSDB na chapa diminuiu.

Após o resultado, Patrus, que condenava a aliança, afirmou que "a questão do PSDB não é dogmática". Isso não significa, porém, que o ex-ministro fará campanha ao lado do senador Aécio Neves (PSDB-MG), com quem recentemente trocou críticas.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

PT lança candidatura para disputar João Pessoa contra o PSB

Raphael Di Cunto

SÃO PAULO - No mesmo dia em que decidiu selar o acordo com o PSB em Belo Horizonte, o PT se afastou do partido em outra capital, acirrando o conflito entre os dois partidos, que já vivem um mal estar por causa da insatisfação do PSB com o governo federal. Os petistas da Paraíba decidiram no domingo que terão candidato próprio em João Pessoa, tese que recebeu o voto de 55% dos 2.723 filiados que votaram.

A candidatura própria irritou o governador Ricardo Coutinho (PSB), que apoiará a ex-secretária de Planejamento da prefeitura, Estelizabel Bezerra (PSB). "Desde 2004 nós ganhamos todas as eleições sem o apoio formal do PT", rebateu o governador, em entrevista para os jornais da Paraíba. O atual prefeito, Luciano Agra (PSB), desistiu de disputar à reeleição alegando que é um técnico, sem perfil para a política.

Apesar do desejo do governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB, Eduardo Campos - muito próxima a Coutinho -, de concorrer como vice na chapa da presidente Dilma Rousseff (PT) em 2014, a candidatura própria em João Pessoa mostra que a relação entre PT e PSB, antigos aliados, não vai bem.

Em São Paulo, ala do PSB defende o apoio ao PSDB, contra o ex-ministro da Educação, Fernando Haddad (PT). O acordo só não foi selado ainda devido à pressão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre Campos - os dois conversarão sobre isso na quinta-feira. Em Belo Horizonte, foram meses de ataques até o PT selar no domingo o apoio à reeleição do atual prefeito, Marcio Lacerda (PSB).

Em Recife, a tentativa do atual prefeito, João da Costa (PT), de tentar a reeleição enfrenta resistência dentro do próprio PT. De olho nisso, Eduardo Campos ameaça com a candidatura do ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra (PSB) - que viu influência do PT nas denúncias que quase o derrubaram do cargo na virada do ano.

A dificuldade da atual prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins (PT), em definir um candidato que agrade ao seu grupo de sustentação faz com que praticamente todas as lideranças do PSB preguem a candidatura própria, embora o governador do Ceará, Cid Gomes (PSB), resista a essa ideia.

Já em João Pessoa, depois da votação de domingo, o provável candidato do PT será o deputado estadual Luciano Cartaxo, que tem apoio do diretório estadual e dos outros dois deputados do partido na Assembleia Legislativa. Ele é do grupo que foi adversário de Coutinho em 2010, com o argumento de que o candidato do PSB estava coligado com DEM e PSDB, e apoiou o então governador José Maranhão (PMDB), que tentava se reeleger.

Nessa eleição, o PT também esteve dividido. Um grupo, liderado pelo deputado federal Luiz Couto, apoiou informalmente Coutinho, o que lhes rendeu cargos no governo e na prefeitura depois da vitória. Esse grupo saiu derrotado agora, na decisão de ter ou não candidato próprio, mas ainda pode indicar um nome para concorrer a prefeito e forçar a realização de prévias contra Cartaxo. A inscrição das candidaturas poderá ser feita do dia 26 a 29 de março, embora o governador sinalize que pode receber, de novo, o apoio informal de parte do PT.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

França e Paulinho da Força discutem terceira via em SP

Cristian Klein

SÃO PAULO - Dividido entre o PT, o qual apoia no governo federal, e o PSDB, com quem está aliado na administração Geraldo Alckmin, o PSB procura uma saída alternativa para não desagradar a tucanos e petistas na eleição municipal em São Paulo. O presidente regional do partido, o secretário estadual de Turismo Márcio França, encontrou-se ontem à noite com o deputado federal e pré-candidato do PDT à prefeitura, Paulinho da Força, para a construção de uma aliança entre as duas legendas que represente uma terceira via.

Com isso, França busca evitar um rompimento da relação com Alckmin, que apoia a candidatura do ex-governador José Serra. O secretário defende a coligação com os tucanos, mas o presidente nacional do partido, o governador de Pernambuco Eduardo Campos, prefere que seus correligionários em São Paulo apoiem o candidato do PT, o ex-ministro da Educação Fernando Haddad.

"O que eu queria saber hoje do Paulinho é se ele tinha convicção da candidatura em qualquer circunstância e ele disse que vai [disputar]. É um patamar importante da decisão porque sei que ele tem o respaldo do partido. Torna-se uma opção com boas chances de ter uma simpatia nossa por conta da relação que a gente tem e porque também acaba você não tendo que se envolver nessa polarização nacional", disse França, durante o jantar em restaurante no centro da cidade.

Na mesma mesa, Paulinho da Força mostrava a disposição de levar adiante o projeto. "Não estou nem atendendo mais telefonema", afirmou o pré-candidato, que contou ter sido procurado recentemente pelo ex-deputado e ex-presidente do PT, José Dirceu, para apoiar a candidatura de Haddad.

Em tom crítico, Paulinho lembrou que Haddad nunca o recebeu quando era ministro e, portanto, teria dificuldade de se aliar com quem ainda não lhe apertou a mão. Márcio França disse que a negociação será encaminhada a Eduardo Campos e discutida pelo diretório municipal. Entre os possíveis nomes para vice de Paulinho da Força estão o do ex-jogador Marcelinho Carioca e da deputada federal Keiko Ota.

O encontro de ontem foi sugerido por Márcio França, há dez dias, durante a cerimônia de posse do secretário estadual de Trabalho, Carlos Ortiz, que marcou a entrada do PDT no governo Alckmin.

Desde então, os presidentes municipais das duas legendas, os vereadores Claudio Prado (PDT) e Eliseu Gabriel (PSB), mantêm contato e reuniram-se para discutir a viabilidade da montagem de uma chapa única na disputa proporcional.

"A chapa do PDT já está completa; a nossa ainda não. Mas não há incompatibilidade", afirma Márcio França.

Com este movimento, o secretário estadual tenta salvar ao mesmo tempo sua própria pele - pois uma adesão ao PT poderia significar a perda de seu cargo no governo Alckmin - e as costuras já iniciadas entre PSB e PSDB em municípios do interior paulista.

É o caso de Campinas, onde o deputado federal tucano Carlos Sampaio já acertou retirar sua candidatura a prefeito em favor do também deputado Jonas Donizete (PSB).

O rompimento dessa aliança em Campinas beneficiaria o PDT, que deve lançar o prefeito Pedro Serafim. Mas Paulinho do Força reafirma a importância da sua candidatura na capital e diz que ela é inegociável. "Ou imexível, como dizia [o ex-ministro do Trabalho no governo Collor, Antônio Rogério] Magri", diz.

O deputado tem assumido posições cada vez mais críticas em relação ao PT, depois da demissão do presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, do Ministério do Trabalho, em dezembro. Ao negar apoio a Fernando Haddad, em São Paulo, Paulinho afirma que seu partido dá o mesmo tratamento que tem recebido dos petistas em Brasília.

Com essa postura, o deputado reforça a estratégia dos tucanos, que veem no lançamento de candidaturas de terceira via uma possibilidade de roubar votos de Haddad. Até agora, o ex-ministro está isolado e não conseguiu fechar nenhuma aliança com as siglas que apoiam o governo federal do PT, como PCdoB e PR e os próprios PSB e PDT.

Além do PDT, ainda estão de pé, entre os aliados que têm ministérios no governo federal, as candidaturas de Gabriel Chalita (PMDB), Celso Russomanno (PRB) e Netinho de Paula (PCdoB).

FONTE: VALOR ECONÔMICO

PE: Guerra nega ingresso na Frente Popular

Presidente do PSDB desmente rumores de que seu partido estaria ingressando na aliança governista no Estado. Em Olinda, Terezinha Nunes retira seu nome da disputa

Débora Duque

Os rumores de que o PSDB estaria próximo de oficializar seu ingresso na Frente Popular, liderada pelo governador Eduardo Campos (PSB), foram desmentidos, ontem, pelo presidente nacional do partido, Sérgio Guerra (PSDB). As articulações municipais, segundo o tucano, não se encontram vinculadas a uma eventual aliança no âmbito estadual, em que pese o fato das últimas movimentações do PSDB, em cidades como Olinda e Petrolina, favorecerem à base governista.

“Desconheço essa discussão. O líder da bancada de oposição ao governo na Assembleia é do nosso partido. O que há é uma relação de amizade e consideração com Eduardo e de colaboramos com o PSB em algumas cidades”, afirmou Guerra. As especulações a respeito da possível aliança ganharam corpo após o tensionamento da relação entre os tucanos e o PMDB, do senador Jarbas Vasconcelos, que já vinha desgastada desde a campanha de 2010. O motivo mais recente teria sido o isolamento do PSDB no Recife, diante da construção da aliança entre os peemedebistas com o DEM.

O “isolamento” tucano se repetiria em Olinda, o que motivou a retirada da candidatura majoritária de Terezinha Nunes (PSDB), só oficializada ontem. Em carta, a ex-deputada alegou a ausência de “apoio político” no campo oposicionista, num claro recado ao PMDB, que manteve a postulação de Isabel Urquisa (PMDB). Sem candidatura própria, PSDB abriu o diálogo com o prefeito Renildo Calheiros (PCdoB), visando assegurar o apoio dos comunistas à reeleição do prefeito Elias Gomes (PSDB), em Jaboatão, que estava ameaçado enquanto Terezinha mantinha a intenção de participar da disputa.

Embora o desfecho em Olinda não tenha sido completamente negativo para o lado tucano, o partido não descarta a possibilidade de “dar o troco” no PMDB em cidades como Petrolina. Apesar de o vice-prefeito, Domingos Sávio, ser filiado ao PSDB, o apoio à reeleição do prefeito Júlio Lóssio (PMDB) ainda está em aberto. Os tucanos trabalham a possibilidade de apoiar a candidatura do deputado estadual Fernando Bezerra Filho (PSB), com quem Sérgio Guerra tem um encontro marcado, em Brasília, nos próximos dias. Mesmo reconhecendo que a questão de Petrolina ainda não está fechada, o dirigente negou levar a cabo uma política de retaliação ao PMDB.

FONTE: JORNAL DO COMMERCIO (PE)

RJ: Generosa Locanty

Fernando Molica

RIO - A Locanty, uma das empresas flagradas na reportagem do ‘Fantástico’ sobre propinas, doou, na última eleição, R$ 3,420 milhões para políticos. Do total, R$ 3,320 milhões seguiram para direções e comitês financeiros dos partidos: 95,7% dos recursos foram destinados para o Estado do Rio de Janeiro.

O PMDB-RJ recebeu R$ 1,700 milhão; em segundo lugar veio o PT-RJ, com R$ 800 mil. Depois vieram o PSB-RJ (R$ 350 mil), o PSC (RJ e nacional, R$ 250 mil), o PCdoB-RJ (R$ 120 mil), o PPS-RJ (R$ 50 mil) e o PSDB nacional ( R$ 50 mil).

Outras doações

Dois candidatos receberam doações da Locanty em 2010, os hoje deputados Bebeto (PDT) e Sabino (PSC): cada um ficou com R$ 50 mil. Em 2006, a empresa destinou um total de R$ 100 mil para campanhas dos deputados do PSC Filipe Pereira e Hugo Leal.

FONTE: O DIA

TSE decide em abril tamanho do PSD neste ano

Juliano Basile

BRASÍLIA - O destino do PSD nas próximas eleições será decidido no mês que vem pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em duas ações paradigmáticas.

A primeira vai definir se o partido do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, tem direito a cotas maiores do fundo partidário. A segunda vai decidir se o PSD terá participação no horário eleitoral gratuito destinado a todos os partidos.

O resultado desses julgamentos vai indicar se o PSD terá tempo de propaganda na televisão e no rádio nas eleições municipais deste ano - algo fundamental para a formação de alianças partidárias, afinal, uma legenda com tempo de TV é mais valorizada nas coligações.

Hoje, o PSD detém apenas R$ 42 mil dos R$ 282 milhões que o fundo destina aos 20 partidos políticos com representação na Câmara.

"O partido não tem dinheiro nem para alugar um barraco em cada unidade da federação com despesas correntes simples, como água, aluguel e telefone", afirmou Admar Gonzaga, que advoga para o PSD no TSE. Ele explicou que 95% do fundo são divididos de maneira proporcional aos deputados federais eleitos. Por enquanto, o PSD está fora dessa cota e recebe apenas 5% do fundo que é repartido entre todos os partidos com registro na Justiça Eleitoral - 30 legendas.

Para piorar a situação, dos R$ 42 mil recebidos pelo PSD, a legislação retira 20% para o custeio de uma fundação destinada a formar lideranças políticas e mais 5% para a formação de um departamento feminino - outra exigência legal. Com isso, restam R$ 31,5 mil. "O partido não tem dinheiro para comprar um computador nem para contratar uma secretária pagando um salário mínimo em cada Estado em que tem representação", lamentou Gonzaga.

Segundo o advogado, essa situação é contraditória, pois o objetivo do fundo é dar uma sustentação mínima para os partidos. Sem essa sustentação, o PSD está sobrevivendo com as doações feitas por parlamentares da legenda.

Ainda não está definido se os julgamentos vão acontecer sob a presidência do ministro Ricardo Lewandowski ou da ministra Cármen Lúcia Antunes Rocha. Lewandowski deixa o comando do tribunal em 18 de abril, data em que Cármen será empossada presidente. Em julgamento realizado em setembro de 2011, ambos foram favoráveis à criação do PSD. Naquela ocasião, a discussão foi técnica: ver se o PSD tinha obtido o apoio necessário à sua criação - 491 mil assinaturas ou 0,5% dos votos para a Câmara.

Agora, a dúvida crucial que o TSE terá que responder é quanto à forma de considerar a bancada do PSD na Câmara. Hoje, o PSD tem 47 deputados, mas, para efeito de fundo e propaganda, o TSE considera os votos dados aos parlamentares nas últimas eleições, em 2010, quando ele não existia. Os pessedistas de hoje foram eleitos por outras legendas, como o DEM.

O DEM, que perdeu 40% de sua estrutura na Câmara dos Deputados, recebe bem mais do que o PSD, "O DEM ficou menor, mas tem dinheiro de partido grande", avaliou Gonzaga.

Nas contas do advogado, o PSD recebeu 5 milhões de votos. O partido tem 52 deputados, dos quais alguns saíram da Câmara para secretarias estaduais.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

Momento tenso:: Merval Pereira

A proximidade da instalação da Comissão da Verdade está mexendo com os ânimos tanto dos militantes de esquerda quanto dos militares, enquanto a presidente Dilma não revela sua composição. Pelos nomes escolhidos, saberemos qual é a intenção do governo. Por enquanto, temos posições distintas dentro do mesmo governo, o que certamente está causando essa insegurança sobre o futuro.

A posição do advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, deveria ser a do governo, e ele já dera entrevista classificando de "inadequadas" as ações do Ministério Público Federal do Pará tentando contornar a Lei de Anistia para incriminar o coronel Curió no chamado "crime continuado", que estaria fora da abrangência daquela lei.

A tese de que os desaparecimentos de guerrilheiros do Araguaia seriam sequestros ainda em andamento foi rejeitada tanto pela AGU quanto pelo juiz federal João César Otoni de Matos, de Marabá, pelas mesmas razões: viola o entendimento do Supremo Tribunal Federal sobre a Lei da Anistia, promulgada em momento de conciliação nacional.

"Pretender, depois de mais de três décadas, esquivar-se da Lei da Anistia para reabrir a discussão sobre crimes praticados no período da ditadura militar é equívoco que, além de desprovido de suporte legal, desconsidera as circunstâncias históricas que, num grande esforço de reconciliação nacional, levaram à sua edição", disse o juiz João César Matos.

Desse ponto de vista, quem está desviada da posição do governo federal e, sobretudo, da lei seria a ministra da Secretaria dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, que deu entrevistas incentivando a ação do Ministério Público Federal.

Mas suas declarações não foram desautorizadas por ninguém de direito e geraram uma crise militar que só será resolvida se for esquecida.

Os manifestos de militares com críticas ao governo começaram como coisas de militares da reserva e se transformaram em abaixo-assinados de milhares de pessoas, civis e militares, em protesto contra a ameaça de punição para seus apoiadores.

Embora os militares da reserva tenham o direito de atuação política e de expressar seus pontos de vistas, eles podem ser punidos se desrespeitarem a hierarquia, como foi interpretado pelo Palácio do Planalto e pelo Ministério da Defesa.

Eu mesmo cometi um erro ao afirmar em um comentário na rádio CBN que os militares haviam passado do ponto quando não reconheceram a autoridade do ministro Celso Amorim.
Mas esse desconhecimento não se referia ao seu papel como ministro da Defesa, e sim à sua decisão de punir os assinantes do manifesto.

Dizer que sequestros da ditadura são crimes continuados é tentar contornar a Lei da Anistia. Embora possa ser uma tentativa compreensível de parentes e amigos de incriminar eventuais culpados por torturas e outros crimes, não deveria ser a atitude de procuradores afrontar a legislação vigente.

O assunto terá que voltar ao Supremo Tribunal Federal (STF), que vai analisar a Lei da Anistia novamente, desta vez sob a ótica dos chamados "crimes continuados", pois a OAB insiste em que o STF não se pronunciou especificamente sobre essa questão.

O leitor Paulo Augusto Silva Novaes lembra que há ainda a possibilidade de enquadrar os supostos sequestradores no crime de ocultação de cadáver.

Justamente por ser presumida a morte dos então chamados subversivos (presunção iuris tantum, por depender de prova em contrário) é que o crime de ocultação de cadáveres pode ser tecnicamente interpretado como estando ainda em curso.

Se Curió se livrasse da acusação de sequestro, caso confessasse que matou os guerrilheiros do Araguaia (e não poderia ser processado, julgado e punido por isso porque está protegido pela Anistia), ele ainda estaria sujeito à acusação do crime de ocultação de cadáveres, já que até hoje não disse quando, onde e como foram mortos os guerrilheiros, e nem onde os seus corpos foram deixados ou enterrados.

Trata-se de um típica hipótese de crime permanente, portanto. Se o STF aceitar a tese da OAB, a decisão tem que ser acatada.

A pressão de organismos internacionais ligados até mesmo à Organização das Nações Unidas (ONU) e à Organização dos Estados Americanos (OEA) para que o governo brasileiro aceite julgar crimes de torturas por serem crimes hediondos, contra a Humanidade, não deve prosperar porque a Constituição brasileira de 1988 também considera "imprescritíveis" crimes como a tortura e o terrorismo, mas essa definição não existia quando da promulgação da Lei da Anistia, em 1979.

Mas, na minha opinião, será muito difícil que os ministros do Supremo aceitem a ideia e permitam o julgamento de questões como os desaparecimentos ocorridos na luta armada contra a ditadura.

Já escrevi no blog e repito que, no momento em que o governo se prepara para anunciar os componentes da Comissão da Verdade, seria preciso que as autoridades ligadas a questões como os direitos humanos ou as que envolvem os militares tivessem uma posição menos radicalizada, para que a comissão possa fazer seu trabalho dentro da legislação em vigor e sem revanchismos.

Localizar os corpos dos desaparecidos, para que suas famílias exerçam o sagrado direito de enterrá-los, e esclarecer as circunstâncias em que os fatos ocorreram devem ser o objetivo da Comissão da Verdade.

Mas a questão judicial, no que se refere ao aspecto criminal, está superada pela Lei da Anistia.

FONTE: O GLOBO

Palpite talvez infeliz:: Jânio de Freitas

Dilma Rousseff vê com calma o que, no noticiário e em muitos comentários, é uma tremenda e ameaçadora crise política -eis o que se pode saber do quase mutismo presidencial sobre questões políticas, partidárias e parlamentares. A discordância das visões vem de muitos fatores, em um lado e em outro, ambos merecedores de apreciações factuais e interpretativas talvez devidas, há tempos, ao público interessado na vida nacional.

Dê-se o nome crise, como se faz com tanta facilidade no Brasil, ou veja-se a situação com naturalidade, a realidade é a mesma. Como não tenho palpitado sobre o assunto, chegou a hora de arriscar alguma coisa. Nada de especial, claro.

A meu ver, grande parte da situação advém da coincidência, nas mesas de decisão e nos plenários, de assuntos problemáticos por natureza ou porque tratados mal lá atrás. A Lei da Copa, assunto tão limitado e efêmero, por si só seria um bom exemplo de confusões, governamentais e parlamentares, que nada valem e, no entanto, produzem um barulhão. Mas, simultaneamente, há o Código Florestal, campo de batalha de pressões por interesse ou por convicção. E fonte de confuso mas intenso material de "crise", se os ruralistas se mostram inquietos por algum risco. Aos dois assuntos junta-se o fundo de pensão dos servidores públicos, que, assim como o Código Florestal, além de seus próprios nós, serve a explorações eleitoreiras.

Por quanto tempo estes assuntos ainda vão se enrolar, uns nos outros e tanto no Congresso como no governo, importa menos do que sua fatalidade: mais para lá ou mais para cá, todos vão chegar à sua saída. E pronto. Nenhum tem potencial para devastações. De um deles, o Código, podem vir sacudidelas mais fortes por parte dos ruralistas. Mas, se eles não se têm lembrado disso, o governo conta com armas fortes, sob nomes como dívidas altíssimas de ricos produtores, exigência de investimentos próprios, verificações de propriedade (ah, Deus os acuda), crimes de desmatamentos ilegais, sonegações de impostos diversos, e não só.

A par dos assuntos conturbadores, com as visões do governo e do Congresso são forçosamente diferentes, as substituições de ministros criaram ares de hostilidade entre partidos e a Presidência. Nenhum caso passou de insatisfação. Até ocorrerem as mais surpreendentes demissões, pela presidente, dos seus líderes Cândido Vaccarezza e Romero Jucá. Este, longevo integrante de uma espécie de cúpula vaticana habituada a controlar, além do PMDB e do próprio Senado, muitas decisões e políticas presidenciais nas últimas décadas.

Esses cardeais, como os mestres romanos do seu estilo, não são de rebeliões. Ardis são possíveis, e não dependem de ser ou não aliado do governo: um deles levou Dilma Rousseff a retirar de Romero Jucá a cadeira cativa. Ardis com limites, porém. Se a resposta presidencial pode ser a concessão, na qual Lula se especializou, também pode não ser. Razão que leva o estilo vaticano a preferir formas de acomodação, ainda que ambígua.

Tudo isso se move. Nem sempre de maneira compreensível à primeira vista e, para muita gente, nas seguintes também. Neste momento, a meu ver seria mais apropriado chamar de crise a situação dos partidos, tanto os governistas -PMDB à frente- como oposicionistas. Nenhum sabe, com algum grau de clareza, como relacionar-se com os novos modos políticos da Presidência. Nem, propriamente, como são tais modos.

Nós também não sabemos.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Pecado original:: Dora Kramer

Se o líder do governo no Senado, Eduardo Braga, foi fiel às palavras de Lula, se não pretendeu só apresentar uma versão mais bem acabada do que lhe teria dito o ex-presidente sobre a necessidade de alterar os “paradigmas” da coalizão governamental, estamos diante de um profundo exercício de autocrítica.Ou da materialização do “faço o que eu digo, mas não faça o que eu faço”.

Braga foi visitar o ex-presidente na sexta-feira e diz ter ouvido dele o seguinte raciocínio: “O país vive uma nova realidade política e social, por isso é fundamental a renovação e a instituição de novos métodos e práticas políticas”.

Nova realidade, conforme o explicado, em relação à época em que o PT assumiu a Presidência. Nove anos atrás, imbuído da disposição de reinventar o Brasil.

Entre as novidades, introduziu no cenário a legitimação do aprofundamento de velhos vícios sob a justificativa de que seria essa a única maneira de se governar o país.

De lá para cá muita coisa mudou. O uso do caixa dois em campanhas eleitorais, por exemplo, virou argumento de defesa e comportamentos tidos como desviantes passaram a ser vistos explícita e assumidamente como imperativos indispensáveis ao bom andamento dos trabalhos governamentais.

Nos dois casos, alterações decorrentes da interpretação do próprio Lula sobre a vida e suas circunstâncias no poder. Quanto ao caixa dois, o "todo mundo faz" foi adotado pelo então presidente como baliza de conduta na inesquecível entrevista dada em Paris com o fito de enquadrar os crimes contidos na rubrica "mensalão" na moldura das infrações de caráter eleitoral.

A respeito dos meios e modos de funcionamento de uma base de sustentação partidária no Congresso, ele falou claro à Folha de S.Paulo em outubro de 2009.

A pergunta era sobre as críticas de Ciro Gomes à tolerância de Lula e Fernando Henrique ao uso de bens públicos como instrumentos privados na prática do fisiologismo.

Resposta do presidente: "Qualquer um que ganhar as eleições, pode ser o maior xiita ou o maior direitista, não conseguirá montar o governo fora da realidade política. Entre o que se quer e o que se pode fazer tem uma diferença do tamanho do Oceano Atlântico. Se Jesus Cristo viesse para cá e Judas tivesse a votação (sic) num partido qualquer, Jesus teria que chamar Judas para fazer coalizão".

Naquela altura já haviam transcorrido quase oito anos da posse de Lula e o que se via era a aceitação não o inconformismo com a situação posta. Desde então, passaram-se menos de três anos e o que se fala agora é na chegada de um "momento de transformação" imposto por uma "nova realidade".

É de se perguntar qual realidade nova. As únicas mudanças visíveis são as decorrentes do acúmulo de deformações resultantes dos termos do contrato desde lá atrás firmado com os partidos, e renovado não faz muito tempo pelo próprio Lula.

Seja quando da campanha para eleger Dilma ou mesmo depois, na formação do ministério feita conforme as mesmas regras. Na hora da eleição ou da distribuição inicial dos cargos, nenhuma das agremiações envolvidas foi informada sobre uma possível alteração nos mandamentos.

Compreende-se o desconforto da presidente com a sistemática da chantagem permanente, com a necessidade de reservar tempo para dar atenção aos condôminos do latifúndio que comanda, das imposições de uma arte que não lhe é familiar.

Mas não é aceitável crer que depois de oito anos no topo do governo ela não soubesse onde pisava ou não tivesse ideia do preço da construção de um edifício enorme (80% do Congresso) erigido sob os alicerces frágeis da cooptação.

Louvável, e necessário, que a presidente queira mudar as regras do jogo. Só não pode é fazer de conta que as ignorava – tanto que aceitou jogar de acordo com elas – nem tentar mudá-las na base da queda de braço com os parceiros.

Ou bem enfrenta de fato o problema mediante a reformulação clara dos termos do pacto ou mais cedo ou mais tarde terá de ceder às cláusulas do velho contrato em vigor.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

É a educação, estúpido!:: Eliane Cantanhêde

Ok, o Brasil caminha para ser a quinta economia, depois de ultrapassar a França. Mas convém conter a euforia, como mostram duas reportagens do domingo.

Folha: "Brasil é o país que menos cresce na América do Sul". O "pibinho" de 2,7% em 2011 não é só menor do que a média de toda a América Latina (em torno de 4%), mas também menor do que o crescimento do PIB na Argentina, no Chile, na Venezuela, no Peru, na Bolívia. Sem falar em outros países emergentes, particularmente China e Índia.

Entre os motivos para esse desempenho pífio, segundo os analistas, estão a questão pontual do combate à inflação e a questão estrutural da defasagem de investimentos.

Aí entra a reportagem do jornal "O Globo", comparando 17 países da região: "Brasil, um dos últimos da AL em trabalho produtivo". Ou seja, o quociente entre bens e serviços produzidos no país e o pessoal ocupado mostra que a produtividade do trabalhador brasileiro é muito baixa diante, novamente, de Argentina, Chile, Venezuela e por aí afora.

O Brasil, pois, é tratado como um sucesso, mas ainda falta muito para ser realmente um sucesso. Falta investir com energia em infraestrutura e em produtos de valor agregado e, sobretudo, falta tratar a educação como prioridade das prioridades.

Presidentes, governadores e prefeitos, todo político capricha na defesa da educação -sobretudo durante as eleições-, mas a realidade é bem diferente. E resistente.

Folha de ontem: "Gasto com servidores põe Estados em alerta". O pagamento do funcionalismo e da burocracia cresce mais do que a arrecadação em 16 Estados (e no DF) e quase tanto na maioria. E daí? Daí não sobra dinheiro para investimento e nem mesmo para um piso nacional decente para os professores.

Sem professor, não há educação. Sem educação, não há produtividade. Sem produtividade, não há crescimento. Fica só o oba-oba.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Serra está de volta ao jogo tucano:: Raymundo Costa

Serra deve ganhar com mais de 70% a prévia dos tucanos, no domingo. Nem poderia ser diferente. A esta altura, o PSDB já não tem como recuar da disputa interna. É a única maneira de o partido mostrar ao país que continua vivo. E a contagem dos votos deve ser uma demonstração de que os tucanos efetivamente confiam na força do candidato para vencer a eleição de 7 de outubro e manter São Paulo dentro do jogo político nacional. É disso que se trata.

A eleição para a Prefeitura de São Paulo não será nacionalizada, como às vezes PT e PSDB querem fazer crer. Interessa para o eleitor paulista é discutir os problemas da cidade como saúde, educação, mobilidade urbana, entre outros temas de igual ou mais apelo popular.

A eleição municipal em São Paulo, assim como em todas as outras cidades, não é uma disputa nacionalizada, mas tem caráter nacional. O senador Aécio Neves (MG) e mesmo o governador Geraldo Alckmin (SP) poderiam até não conter um sorriso de satisfação em caso de derrota de Serra. Alckmin só declarou apoio ao pré-candidato na sexta-feira. Mas o fato é que os dois precisam que ele tenha um grande desempenho e até vença e mantenha o PSDB como alternativa de poder para 2014.

Portanto, o eleitor tucano está avisado: a prévia do fim de semana será encerrada com abraços, apertos de mãos e entusiasmadas declarações dos derrotados de apoio ao vencedor. Mas ele deve entender que a prévia será apenas mais um capítulo de uma novela cujo desfecho da trama só deve ocorrer dois anos depois. Isso mesmo, nas negociações para a sucessão da presidente Dilma Rousseff, em outubro de 2014.

No paiol da direção nacional do PSDB já estão estocadas armas de destruição em massa para a hipótese de Serra querer disputar a Presidência pela quarta vez. A mais mortífera delas é a realização de eleições prévias para a escolha do candidato do PSDB a presidente logo no primeiro semestre de 2013.

A antecipação da escolha do candidato, acreditam os adversários, deixaria Serra emparedado, sem condições de largar um cargo que acabara de assumir, no caso, é claro, de vencer as eleições de outubro. É curioso: fala-se mais no PSDB que no PT sobre a possibilidade de Serra deixar a prefeitura para disputar a Presidência.

Um plano ousado e de execução difícil, sem falar que Serra tem mostrado aos "queridos companheiros" tucanos que é osso duro de roer. Ele saiu por baixo das eleições presidenciais de 2010. Era dado como morto politicamente. Como dizia a senadora Marta Suplicy, só lhe restara o Twitter. Os caciques tucanos sempre souberam que ele era a única alternativa viável para tentar manter com o partido a prefeitura da maior cidade do país, mas queriam ser credores da candidatura.

Indicado pelos caciques, poderia não haver prévia, mas Serra deveria sua candidatura aos seus adversários de dentro do PSDB. O tucano conseguiu inverter o jogo, mas não tanto quanto gostaria, talvez por ter esticado demais a corda, antes de admitir que seria candidato. A teimosia de outros dois tucanos, sobretudo José Aníbal, que decidiram não abrir mão da pré-candidatura, também lhe atrapalharam os planos.

O fato é que, agora, José Serra volta a ser um fator a ser considerado nas equações tucanas. Isso, é claro, se vencer, como se espera, a prévia e, mais do que isso, a eleição para a prefeitura. No ambiente tucano, sempre há espaço para a especulação sobre uma eventual "cristianização" do candidato. Não seria a primeira vez. Por enquanto, parece falar mais alto o instinto de sobrevivência.

O simples fato de Serra ser candidato em São Paulo possivelmente fará do PSDB o partido com o maior número de votos na eleição municipal. Assim como o Democratas (DEM) teve uma extraordinária votação em 2008, por causa da eleição de Gilberto Kassab. Isso mantém os tucanos como o partido que rivaliza com o PT em nível nacional, apesar de a tendência ser a de o Partido dos Trabalhadores eleger um número maior de prefeitos, devido à interiorização cada vez maior da sigla.

"Um balanço das duas últimas eleições municipais, ambas realizadas com o Partido dos Trabalhadores (PT) na Presidência da República, combinado com fatos da conjuntura, dá boas pistas sobre a tendência do pleito de 2012, que sinaliza para um decréscimo da oposição em relação à performance de 2008, particularmente do DEM e do PPS [Partido Popular Socialista], e um crescimento dos partidos da base, especialmente do PT e do PSB [Partido Socialista Brasileiro], cuja principal liderança é o governador de Pernambuco, Eduardo Campos", diz um estudo recente do analista político e diretor de Documentação do Diap, Antônio Augusto Queiroz.

Como nas eleições anteriores - analisa Antônio Augusto - "as grandes disputas de 2012, que poderão dar alguma dimensão nacional à disputa, acontecerão nas capitais e nas cidades com mais de 100 mil eleitores, localidades onde o PT, o PSDB e o PMDB, nesta ordem, apresentam melhor performance em relação ao percentual de prefeituras que administram". Mesmo nessas cidades, o eleitor estará mais preocupado com os problemas locais e a tendência é passar ao largo do embate nacional entre o PSDB e o PT.

No caso específico de São Paulo, "a disputa Serra versus o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-ministro Fernando Haddad. "Aliás, se insistirem na estratégia de nacionalizar o pleito em São Paulo, como uma espécie de terceiro turno da eleição presidencial, correm (PSDB e PT) o risco de deixar mais espaço para o PMDB de Gabriel Chalita", afirma o diretor do Diap, órgão de assessoria parlamentar da CUT.

Por mais previsível que seja, a prévia marcada para domingo deve fazer bem ao PSDB, um partido "cupulista" desde o nascimento. Pena que a sigla não tenha se estruturado mais profissionalmente. Calcula-se em cerca de 20 mil os filiados aptos a votar, em 8 mil os que acompanham e conhecem os candidatos e algo entre 4 mil e 6 mil o números de votantes. É pouco, para um partido que esteve duas vezes na Presidência da República.

FONTE: VALOR ECONÔMICO