sábado, 16 de junho de 2012

OPINIÃO DO DIA - Álvaro Dias: CPI nos trilhos

É preciso recolocar a CPI nos trilhos da investigação para valer, valorizando o essencial, que é o desvio do dinheiro público, por meio das operações da Delta tendo Cachoeira como principal traficante de influência.

Senador Álvaro Dias (PSDB-PR), O Globo, 16/6/2012

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO
Dilma apela a líderes mundiais para superar impasse no Rio
CPI discute afastar membros
Pacote de R$ 20 bi turbina os estados

FOLHA DE S. PAULO
PF prende alunos da Unifesp após protestos em SP
Após ganhar cargo federal, Maluf deve se aliar ao PT em SP
Dilma diz que economia está em processo de 'esquentamento'.
Cachoeira tem habeas corpus, mas ainda não sairá da prisão

O ESTADO DE S. PAULO
Governo libera R$ 20 bi para investimentos dos Estados
Juiz cassa um dos decretos de prisão contra Cachoeira
Com Erundina de vice, PT se alia a Maluf
Brasil promete firmeza para Rio+20 avançar

CORREIO BRAZILIENSE
Justiça do DF evita que o bicheiro saia da Papuda
Deputado tem pressa contra a mordomia
Rio+20 adia os relatórios

ESTADO DE MINAS
Meia vitória de Cachoeira
Ajuda aos Estados: PPPs ficam mais baratas com pacote

ZERO HORA (RS)
RS terá 475 milhões do pacote anticrise de Dilma

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Eduardo ganha apoio amplo da Frente Popular
Estado decide anular contratos com a Delta
Rio+20 tem o desafio de destravar questões polêmicas

CPI discute afastar membros

Os senadores Álvaro Dias (PSDB-PR) e Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) defenderam ontem o afastamento dos parlamentares da CPI do caso Cachoeira que se encontraram com Fernando Cavendish, dono da Delta, em Paris.

CPI discute saída de amigos de Cavendish

Permanência de parlamentares que estiveram com ex-presidente da Delta em Paris é questionada

Chico de Gois

BRASÍLIA - Depois que veio a público a informação de que parlamentares que integram a CPI do Cachoeira se encontraram com Fernando Cavendish, ex-presidente da construtora Delta, em Paris, na Semana Santa, num almoço em um sofisticado restaurante na Avenida Montaigne, membros da comissão passaram a defender que eles se afastem das investigações. Além do senador Ciro Nogueira (PP-PI) e do deputado Maurício Quintella Lessa (PR-AL), também esteve no almoço a mulher do senador, a deputada Iracema Portela (PP-PI), que é suplente na CPI e tem direito a voz e a voto. Ontem, Lessa distribuiu nota dizendo que não conhecia Cavendish e que apenas Nogueira foi cumprimentá-lo.

Ida de empresário ganha força

O senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) afirmou que é incompatível a permanência deles na CPI.

- Isso dá margem ao afastamento, porque é incompatível um membro da comissão ter um relacionamento próximo ao investigado - declarou, observando, porém, que o regimento do Congresso não é taxativo sobre o assunto: - Lamentavelmente, o regimento comum é muito aberto sobre isso.

O líder do PSDB no Senado, Álvaro Dias (PR), avaliou que a CPI está "sob orientação política suspeita". Ele defendeu que os parlamentares peçam o afastamento das investigações e que a CPI recupere seu foco.

- É preciso recolocar a CPI nos trilhos da investigação para valer, valorizando o essencial, que é o desvio do dinheiro público, por meio das operações da Delta tendo Cachoeira como principal traficante de influência - afirmou.

Para o deputado Miro Teixeira (PDT-RJ), que anteontem causou uma confusão na CPI quando disse que era preciso investigar a "tropa do cheque" na comissão, a revelação de que parlamentares se encontraram com Cavendish em Paris poderá ajudar na aprovação do requerimento que convoca o empresário a prestar depoimento.

Anteontem, a requisição foi derrotada por 16 votos a 13. Foi Miro quem disse que havia informações de que parlamentares haviam se encontrado com o empreiteiro depois de uma viagem à África. Entre os dias 30 de março e 5 de abril, eles participaram da 126 Assembleia Geral da União Interparlamentar, em Kampala, Uganda.

- Isso tem que ser tratado com delicadeza, porque pode ensejar a convocação do Cavendish. A pequena diferença na votação está superada com o conhecimento deste fato - afirmou o deputado.

Lessa informou, em nota, que não conhece Cavendish e que sua postura na CPI tem "sido firme e independente em relação a qualquer investigado". Ele observou que foi um dos autores do requerimento da convocação de Cavendish e declarou que não estava na sessão de anteontem porque acompanhava o governador Teotônio Vilela, de Alagoas, em um evento no Estado contra o crime.

FONTE: O GLOBO

Comissão avança pouco por temor das consequências, dizem 'independentes'

Trabalho de investigação será interrompido por uma semana por conta da Rio+20

Jailton de Carvalho

BRASÍLIA. Um dia depois da recusa à convocação de Fernando Cavendish, ex-presidente da Delta, o presidente da CPI do Cachoeira, Vital do Rêgo (PMDB-PB), anunciou ontem a suspensão das sessões na próxima semana devido à Rio+20. A folga poderá atrasar mais os trabalhos da comissão. Criada em abril, a CPI tem sido prejudicada pelas brigas entre partidos e pela falta de documentos importantes que só nos últimos dias começaram a chegar.

Para o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), a CPI sabe o que deveria fazer para aprofundar as investigações sobre os negócios do bicheiro Carlinhos Cachoeira com a Delta. Mas não quer ir adiante porque tem receio das consequências.

- A CPI sabe qual é o rumo que deve seguir, mas não quer chegar lá. É como uma pessoa que vai para o aeroporto pegar um avião, mas não desce do carro porque tem medo de voar - afirma Randolfe.

O senador integra o bloco dos "independentes", no qual perfilam os deputados Miro Teixeira (PDT-RJ) e Rubens Bueno (PPS-PR) e o senador Pedro Taques (PDT-MT). Mas o grupo é minoritário e não tem votos suficientes para mudar o curso da comissão. Segundo Randolfe, a estratégia de agora em diante será fazer propostas importantes e deixar que o bloco anti-investigação se desgaste, como aconteceu na recusa às convocações de Cavendish e do ex-diretor do Dnit Luiz Antônio Pagot.

- Os documentos estão chegando. Alguns foram divulgados e geraram requerimentos. Na análise dos sigilos bancário, fiscal e telefônico, a comissão vai encontrando o seu caminho - afirmou Rubens Bueno.

FONTE: O GLOBO

Eleição na Paraíba pode influenciar na CPI

Petistas de Campina Grande decidem apoiar candidatura do PP à prefeitura e entram em choque com senador Vital do Rêgo

Maria Lima, Júnia Gama

BRASÍLIA . Pelo apoio do PP à pré-candidatura de Fernando Haddad em São Paulo, o PT nacional resolveu comprar briga com o presidente da CPI do Cachoeira, o senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), o que pode trazer dor de cabeça para o governo e o próprio partido na CPI. Segundo pessoas do comando do PT nacional, o partido resolveu romper a aliança com o PMDB em Campina Grande, na Paraíba, comandado por Vital e seu irmão, o atual prefeito Veneziano do Rêgo.

O rompimento deixou o presidente da CPI furioso e agora ele ameaça, nos bastidores, unir-se ao PSDB e oposição nas votações da CPI, criando problemas para o governo.

Em detrimento da aliança com o PMDB na cidade, o PT decidiu que o vereador petista Peron Japiassu será candidato a vice-prefeito na chapa de Daniella Ribeiro, irmã do ministro das Cidades, Aguinaldo Ribeiro, responsável pela ida do seu partido para a campanha de Haddad em São Paulo.

Segundo amigos de Vital do Rêgo, ele mandou recados até para a presidente Dilma Rousseff e para o ex-presidente Lula, pedindo a intervenção dos dois. Vital teria dado um prazo para que houvesse uma intervenção da Executiva Nacional do PT em Campina Grande, como aconteceu em Recife.

Mas a interferência veio justamente para reforçar a aliança com o PP. Agora, as relações do PMDB e PT, que já estavam ruins na CPI, podem azedar ainda mais.

- Já está decidido. O PT vai apoiar a candidatura de Daniella Ribeiro em Campina Grande, mesmo com a rebelião de Vital do Rêgo. O ministro Aguinaldo Ribeiro teve um papel muito importante no anúncio do apoio do PP à candidatura de Haddad - confirmou ao GLOBO um integrante da cúpula do PT nacional.

Pessoas próximas a Vital do Rêgo dizem que, no início, ele resistiu em aceitar a presidência da CPI, mas decidiu encarar a tarefa acreditando que aumentaria seu poder de pressão sobre o PT justamente nos meses que antecedem as eleições municipais. Procurado ontem pelo GLOBO, o senador não respondeu aos pedidos de entrevista. Desde o início dos trabalhos da CPI, Vital tem se reunido frequentemente com a ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, para tratar da crise da aliança em Campina Grande.

Veneziano do Rêgo, o irmão de Vital, elegeu-se para dois mandatos com o apoio do PT, que participou da administração durante os oito anos de sua gestão. O acordo firmado entre os dois partidos consistia na ajuda petista para que Veneziano fizesse seu sucessor este ano e, assim, aumentasse suas chances ao governo do estado em 2014, também com auxílio do PT.

No entanto, desde que Agnaldo Ribeiro assumiu o Ministério das Cidades, um grupo de petistas articula o apoio à sua irmã. Pouco antes de a CPI ser instalada, o diretório municipal petista se rebelou e decidiu, pelo voto, apoiar a candidata do PP e dar as costas à pré-candidata lançada por Veneziano, sua secretária de Saúde, Tatiana Medeiros.

Vital passou a atuar junto ao PT nacional para um acordo. Ele já avisou que, se o problema não for resolvido, o governo não poderá contar com sua ajuda na CPI do Cachoeira.

Desde que a crise se instalou em Campina Grande, Veneziano tem circulado pelo Congresso semanalmente e também já foi recebido por Ideli algumas vezes. Ele esteve em Brasília quarta-feira, mas não conseguiu reverter a situação.

FONTE: O GLOBO

Após ganhar cargo federal, Maluf deve se aliar ao PT em SP

Após receber do governo federal um posto-chave no Ministério das Cidades, Paulo Maluf (PP) prepara sua adesão à campanha de Fernando Haddad (PT) à Prefeitura de São Paulo, que deve ser anunciada em breve.

O apoio do ex-prefeito, que representa quase dois minutos no programa de TV, também é disputado por José Serra (PSDB).

Maluf ganha cargo federal e prepara adesão a Haddad

"Estou fazendo uma aliança com o PP", diz petista sobre união com rival histórico

Ex-prefeito faz leilão por tempo de TV e se afasta de Serra após revés em negociação com Geraldo Alckmin

Bernardo Mello Franco, Daniela Lima, Diógenes Campanha e Andréia Sadi

SÃO PAULO, BRASÍLIA - O governo federal entregou ontem um posto-chave do Ministério das Cidades a um afilhado do deputado Paulo Maluf (PP-SP) para afastá-lo do pré-candidato José Serra (PSDB) e atrair o apoio de seu partido a Fernando Haddad (PT) na disputa pela Prefeitura de São Paulo.

O ex-prefeito virou alvo de disputa por causa do tempo de TV: é dono de 1min43s nos blocos de propaganda eleitoral. Ele já havia negociado adesão aos tucanos, mas recuou e prometeu anunciar sua decisão na segunda-feira. Ontem, no entanto, os petistas já tratavam como certo que ele apoiará Haddad.

"Estou fazendo uma aliança com o PP", disse o pré-candidato após apresentar sua vice, Luiza Erundina (PSB).

Haddad evitou citar o nome de Maluf, que deixou a prefeitura sob acusações de corrupção -que ele nega- e hoje está na lista de procurados da Interpol, sob risco de ser preso se tentar sair do país. Ao ser questionado se aceitaria dividir palanque com ele, o petista não respondeu.

O pré-candidato disse buscar apoio de todos os partidos que sustentam o governo Dilma Rousseff e admitiu a possibilidade de, se eleito, dar novos cargos a Maluf e ao PP. "Vamos ver quais são os quadros que eles têm", disse.

Adversária histórica de Maluf, Erundina deixou claro que não concorda com a aliança, mas prometeu não criar problemas. "Isso é uma questão que os dirigentes partidários devem examinar. Isso não passa pela minha decisão pessoal", afirmou.

Sobre a participação de Maluf num eventual governo de Haddad, disse: "Ele não vai fazer gestão nenhuma. Ele não vai ser prefeito nem vice-prefeito. Quem vai governar conosco é o povo."

Se confirmado, o acerto com Maluf dará a Haddad o maior tempo de exposição no horário eleitoral. Serra, que tinha a liderança, ficará com cerca de um minuto a menos.

A operação petista para atrair o ex-prefeito foi combinada há cerca de 20 dias entre o ministro das Cidades, Aguinaldo Ribeiro (PP), o ex-presidente Lula e a presidente Dilma Rousseff.

Eles aproveitaram a insatisfação do deputado com o PSDB paulista para oferecer espaço no governo federal em troca do apoio a Haddad.

Maluf havia dado certeza de que apoiaria Serra há duas semanas, depois de o tucano prometer, se eleito, cargos na Secretaria Municipal de Habitação e na Cohab.

No entanto, o ex-prefeito não foi atendido ao pedir mais espaço no governo de Geraldo Alckmin (PSDB), que já havia entregue a ele o comando da CDHU, a companhia estadual de habitação.

Agora, Maluf exigiu também o comando da Secretaria de Habitação, dirigida pelo tucano Silvio Torres. Alckmin pediu tempo, e o ex-prefeito ficou irritado após ser avisado sobre uma reunião sobre os rumos da pasta para a qual não foi convidado.

Recompensa

Ao intermediar sua mudança de lado, o ministro das Cidades obteve a adesão do PT à sua irmã, Danielle Ribeiro, que disputará a Prefeitura de Campina Grande (PB).

Apesar da história de oposição a Maluf, petistas defenderam ontem o acordo.

"O PP é da base aliada, e o Maluf já apoia o governo Dilma", afirmou o deputado José Mentor (PT-SP).

"O PP será muito bem-vindo na campanha. O apoio será do partido, não do Maluf", disse o vereador José Américo (PT), coordenador de comunicação de Haddad.

Questionado sobre como explicar a aliança ao eleitorado petista, o deputado Paulo Teixeira (PT-SP) foi objetivo: "A explicação é uma questão de tempo... tempo de TV!"

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Em Recife, Eduardo ganha apoio amplo da Frente Popular

Adesões reforçam proposta do governador de lançar candidato independente da decisão do PT.

PSB empurra Frente Popular contra o PT

14 das 18 siglas da aliança dão aval ao "projeto PSB"

Sheila BorgesEm apenas uma semana, o governador Eduardo Campos (PSB) conseguiu o que, à primeira vista, parecia impossível: reunir a maioria dos partidos da Frente Popular em torno de uma candidatura "alternativa" à Prefeitura do Recife. Este foi o objetivo perseguido, sem sucesso, pelo PT durante quase todo o mandato do atual prefeito João da Costa. Por isso, o chefe do Executivo estadual não tem mais dúvidas: o nome do PSB que disputará a PCR em outubro – Geraldo Júlio ou Danilo Cabral – não representará só um projeto dos socialistas, mas a replicação de um modelo de gestão apoiado pelas siglas da Frente que estão alinhadas ao Palácio.

Das 18 legendas que formaram a coligação que reelegeu Eduardo em 2010, 14 decidiram delegar ao governador a responsabilidade pela condução do processo sucessório do Recife. Nos bastidores, o Palácio já contabiliza a adesão do PV, PTN, PP, PTB, PSD, PR, PRB, PSL, PSC, PSDC, PHS, PTC, PRP e PTdoB. Agora, não é uma questão exclusiva do PSB, mas da Frente, e ganhou outra dimensão. Além do PT, ainda estão de fora desse arranjo o PDT e o PCdoB. Uma ala pedetista coloca a pré-candidatura do deputado federal Paulo Rubem com o respaldo da cúpula nacional. Mas o prefeito de Caruaru, José Queiroz, que é presidente regional, e o vice-governador João Lyra Neto querem caminhar com o PSB. Já os dirigentes do PCdoB tomam uma posição neste fim de semana e podem também apoiar Eduardo.

Com esse argumento, o governador voltará a conversar com o senador Humberto Costa, pré-candidato do PT, até amanhã, no Recife, já que a reunião ocorrida entre os dois em Brasília, quinta-feira (14), não teria sido conclusiva. Na ocasião, o PT ainda esperava que o governador cedesse aos apelos do ex-presidente Lula em favor de Humberto, mesmo que os petistas entrassem na campanha fraturados internamente. O PSB, por sua vez, tinha a expectativa de que o PT, diante da crise interna e da impossibilidade de unir a Frente, pudesse ocupar a vaga destinada ao vice-prefeito na chapa do socialista, invertendo a atual dobradinha.

As possibilidades para a montagem de um mesmo palanque que reúna PSB e PT estão, contudo, cada vez mais reduzidas. O clima entre os dois partidos está tenso e pesado. Tanto que, no evento de ontem, em São Paulo, quando Eduardo esteve ao lado de líderes nacionais do PT para o lançamento da Fernando Haddad (PT)-Luiza Erundina (PSB) à Prefeitura da capital paulista, a situação do Recife não foi debatida. Lula deve conversar com o governador sobre esse quadro no início da próxima semana. Todos os nuances do episódio já foram relatados por Eduardo à presidente Dilma Rousseff ontem em Brasília, logicamente com a versão dele dos fatos.

FONTE: JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Alckmin defende união de PSDB a aliados na chapa de vereadores

Governador age para emplacar proposta de Serra; grupo de tucanos prepara reunião para barrar coligação

Denise Chrispim Marin

O governador Geraldo Alckmin atendeu aos apelos da equipe de campanha de José Serra à Prefeitura e defendeu publicamente, pela primeira vez, a formação de uma chapa única de vereadores entre o PSDB e os partidos aliados nas eleições de São Paulo. Serra prometeu ceder espaço na coligação para as siglas que o apoiam, mas a proposta é rejeitada por parte dos tucanos. Eles temem que, com isso, o partido perca vagas na Câmara Municipal.

A equipe de Serra recorreu a Alckmin para tentar convencer os tucanos de que os partidos aliados podem desembarcar da campanha caso não sejam contemplados com espaços na eleição para vereador.

"Claro que eu quero a coligação proporcional, mas isso é resultado sempre de conversa partidária", disse Alckmin ao Estado, em Washington.

Na coligação proporcional, o número de vereadores eleitos por chapa é calculado a partir da soma dos votos recebidos pelos partidos que a integram. PSD, DEM e PR querem uma coligação com os tucanos, pois elegeriam mais vereadores se compartilhassem os votos do PSDB.

O debate sobre a aliança na eleição legislativa provocou uma crise no PSDB e irritou Serra. Integrantes do diretório municipal tucano se articulam para impedir a formação da chapa única. Eles querem impedir que o partido apresente na convenção do dia 24 uma proposta única de coligação - que valha tanto para Serra quanto para os vereadores.

O grupo protocolou ontem um documento assinado, por 45 dos 71 integrantes do diretório, convocando uma reunião para tentar aprovar uma moção contra a chapa.

É a quarta vez no ano que o governador se manifesta para evitar divisões no partido devido a embates com o grupo de Serra. Alckmin agiu para alterar a data da prévia do partido após a entrada do pré-candidato na disputa e para impedir que ele tivesse um resultado negativo na votação.

Serra vai propor cem temas em cem dias

Pré-candidato do PSDB à Prefeitura de São Paulo, José Serra pretende debater cem temas relacionados à cidade em um período de cem dias de campanha, numa estratégia definida esta semana. Os tucanos também preparam uma marca a ser usada como identidade visual. "Parti de dois conceitos concretos: São Paulo é uma cidade global e Serra representa o caminho certo para a cidade avançar, ascender", afirmou o designer Valdir Bianchi.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Dom Sebastião voltou :: Marco Antonio Villa

Luiz Inácio Lula da Silva tem como princípio não ter princípio, tanto moral, ético ou político. O importante, para ele, é obter algum tipo de vantagem. Construiu a sua carreira sindical e política dessa forma. E, pior, deu certo. Claro que isso só foi possível porque o Brasil não teve - e não tem - uma cultura política democrática. Somente quem não conhece a carreira do ex-presidente pode ter ficado surpreso com suas últimas ações. Ele é, ao longo dos últimos 40 anos, useiro e vezeiro destas formas, vamos dizer, pouco republicanas de fazer política.

Quando apareceu para a vida sindical, em 1975, ao assumir a presidência do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, desprezou todo o passado de lutas operárias do ABC. Nos discursos e nas entrevistas, reforçou a falácia de que tudo tinha começado com ele. Antes dele, nada havia. E, se algo existiu, não teve importância. Ignorou (e humilhou) a memória dos operários que corajosamente enfrentaram - só para ficar na Primeira República - os patrões e a violência arbitrária do Estado em 1905, 1906, 1917 e 1919, entre tantas greves, e que tiveram muitos dos seus líderes deportados do País.

No campo propriamente da política, a eleição, em 1947, de Armando Mazzo, comunista, prefeito de Santo André, foi irrelevante. Isso porque teria sido Lula o primeiro dirigente autêntico dos trabalhadores e o seu partido também seria o que genuinamente representava os trabalhadores, sem nenhum predecessor. Transformou a si próprio - com o precioso auxílio de intelectuais que reforçaram a construção e divulgação das bazófias - em elemento divisor da História do Brasil. A nossa história passaria a ser datada tendo como ponto inicial sua posse no sindicato. 1975 seria o ano 1.

Durante décadas isso foi propagado nas universidades, nos debates políticos, na imprensa, e a repetição acabou dando graus de verossimilhança às falácias. Tudo nele era perfeito. Lula via o que nós não víamos, pensava muito à frente do que qualquer cidadão e tinha a solução para os problemas nacionais - graças não à reflexão, ao estudo exaustivo e ao exercício de cargos administrativos, mas à sua história de vida.

Num país marcado pelo sebastianismo, sempre à espera de um salvador, Lula foi a sua mais perfeita criação. Um dos seus "apóstolos", Frei Betto, chegou a escrever, em 2002, uma pequena biografia de Lula. No prólogo, fez uma homenagem à mãe do futuro presidente. Concluiu dizendo que - vejam a semelhança com a Ave Maria - "o Brasil merece este fruto de seu ventre: Luiz Inácio Lula da Silva". Era um bendito fruto, era o Messias! E ele adorou desempenhar durante décadas esse papel.

Como um sebastianista, sempre desprezou a política. Se ele era o salvador, para que política? Seus áulicos - quase todos egressos de pequenos e politicamente inexpressivos grupos de esquerda -, diversamente dele, eram politizados e aproveitaram a carona histórica para chegar ao poder, pois quem detinha os votos populares era Lula. Tiveram de cortejá-lo, adulá-lo, elogiar suas falas desconexas, suas alianças e escolhas políticas. Os mais altivos, para o padrão dos seus seguidores, no máximo ruminaram baixinho suas críticas. E a vida foi seguindo.

Ele cresceu de importância não pelas suas qualidades. Não, absolutamente não. Mas pela decadência da política e do debate. Se aplica a ele o que Euclides da Cunha escreveu sobre Floriano Peixoto: "Subiu, sem se elevar - porque se lhe operara em torno uma depressão profunda. Destacou-se à frente de um país sem avançar - porque era o Brasil quem recuava, abandonando o traçado superior das suas tradições...".

Levou para o seu governo os mesmos - e eficazes - instrumentos de propaganda usados durante um quarto de século. Assim como no sindicalismo e na política partidária, também o seu governo seria o marco inicial de um novo momento da nossa história. E, por incrível que possa parecer, deu certo. Claro que desta vez contando com a preciosa ajuda da oposição, que, medrosa, sem ideias e sem disposição de luta, deixou o campo aberto para o fanfarrão.

Sabedor do seu poder, desqualificou todo o passado recente, considerado pelo salvador, claro, como impuro. Pouco ou nada fez de original. Retrabalhou o passado, negando-o somente no discurso.

Sonhou em permanecer no poder. Namorou o terceiro mandato. Mas o custo político seria alto e ele nunca foi de enfrentar uma disputa acirrada. Buscou um caminho mais fácil. Um terceiro mandato oculto, típica criação macunaímica. Dessa forma teria as mãos livres e longe, muito longe, da odiosa - para ele - rotina administrativa, que estaria atribuída a sua disciplinada discípula. É um tipo de presidência dual, um "milagre" do salvador. Assim, ele poderia dispor de todo o seu tempo para fazer política do seu jeito, sempre usando a primeira pessoa do singular, como manda a tradição sebastianista.

Coagir ministros da Suprema Corte, atacar de forma vil seus adversários, desprezar a legislação eleitoral, tudo isso, como seria dito num botequim de São Bernardo, é "troco de pinga".

Ele continua achando que tudo pode. E vai seguir avançando e pisando na Constituição - que ele e seus companheiros do PT, é bom lembrar, votaram contra. E o delírio sebastianista segue crescendo, alimentado pelos salamaleques do grande capital (de olho sempre nos generosos empréstimos do BNDES), pelos títulos de doutor honoris causa (?) e, agora, até por um museu a ser construído na cracolândia paulistana louvando seus feitos.

E Ele (logo teremos de nos referir a Lula dessa forma) já disse que não admite que a oposição chegue ao poder em 2014. Falou que não vai deixar. Como se o Brasil fosse um brinquedo nas suas mãos. Mas não será?

Marco Antonio Villa, historiador, é professor da Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR)

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Destruição criadora:: Merval Pereira

A crise financeira que devastou o mundo a partir de 2008, cujas consequências perduram até hoje, trouxe à tona a necessidade de rever atitudes e procedimentos para que o capitalismo continue sendo o melhor sistema econômico disponível, privilegiando a produção e não a especulação financeira, prestando melhores serviços à sociedade.

A disputa entre os defensores de ações do Estado para superá-la e os que se batem pela redução da ação do Estado nestes anos pós-crise atualizou uma disputa mais antiga, entre o austríaco liberal Hayek e o inglês intervencionista John Maynard Keynes, a tal ponto que diversas simulações de um debate entre os dois foram promovidas em várias partes do mundo, inclusive aqui no Brasil, em novembro do ano passado, patrocinado pelo Ibmec.

A estudante Virgínia Barbosa teve a ideia de replicar um debate realizado meses antes pela BBC de Londres. Desta vez, para discutir os novos rumos do capitalismo, a mesma Virgínia, com o apoio do Ibmec e do Instituto Millenium, promoveu um debate, realizado na quarta-feira passada no auditório da Academia Brasileira de Letras, que eu intermediei, entre os economistas André Lara Resende e Gustavo Franco, dois dos criadores do Plano Real.

Ambos valeram-se não de Hayek ou Keynes para analisar a crise econômica global, mas de Joseph Schumpeter, um dos mais importantes economistas da primeira metade do século XX , autor da teoria da "destruição criativa" do capitalismo.

Lara Resende lembrou que, evitando um grande colapso à custa de um aumento expressivo da dívida pública e do passivo dos bancos centrais, "ao se controlar artificialmente as forças cíclicas naturais do capitalismo, se pode ter esclerosado grande parte de suas virtudes, de sua força criativa e renovadora".

Foi aí que lembrou Schumpeter, "defensor entusiasmado do capitalismo e da fecundidade do espírito empresarial", enfatizou a importância da "destruição criadora" do capitalismo, "como mola propulsora dos avanços em todas as esferas da sociedade".

Já Gustavo Franco começou sua fala afirmando que tinha otimismo "sobre o capitalismo e sobre Brasil, e também, sobretudo, sobre o casamento entre um e outro, essencialmente um empreendimento de destruição criadora".

Para ele, destruição criadora, instabilidade "são partes necessárias dessa paisagem, não existe capitalismo sem isso". Talvez porque, analisou, "o capitalismo é um sistema de arquitetura aberta, por isso se adaptará, emergirá mais forte" da crise.

André Lara Resende acha, no entanto, que "a possibilidade de que estejamos próximos de duas restrições, que eram ainda distantes nos anos 30, exige efetivamente repensar os rumos do capitalismo".

A primeira seria "o limite do tolerável - no sentido de não vir a se tornar disfuncional - da participação do Estado na economia". Ele lembrou que em toda parte, "até mesmo onde o capitalismo nunca foi seriamente questionado, como nos EUA", houve, ao longo de todo o século XX, "sistemático aumento da carga fiscal e da participação do Estado na renda nacional".

As respostas, tanto para a crítica econômica - da instabilidade intrínseca - quanto para a crítica social - da desigualdade crônica - ao capitalismo, levaram ao aumento da participação do Estado na economia.

A segunda nova restrição seria "a proximidade dos limites físicos do planeta", assunto que ele vem abordando ultimamente em vários artigos. "É evidente que não será possível continuar indefinidamente com a série de ciclos de expansão do consumo material, alimentado pela turbina do crédito, até uma nova crise, que só se resolve com mais crescimento", analisou Lara Resende, para ressalvar: "A menos que haja uma radical mudança tecnológica, será preciso encontrar a fórmula do aumento do bem-estar numa economia estacionária."

Para ele, a mudança tecnológica "não parece provável", pois a questão do meio ambiente seria um caso clássico "de bens públicos, que o mercado não precifica de forma correta".

Uma crítica à esquerda ao capitalismo, quanto ao risco do consumismo, está sendo retomada depois da crise econômica de 2008, lembra Lara Resende: "A tese da alienação consumista permeia a crítica cultural do capitalismo de massas, desde a Escola de Frankfurt até os novos teóricos da sociedade do espetáculo."

Para ele, "ao transformar todas as esferas da vida numa questão de cálculo financeiro, ganhamos capacidade de criar riqueza, mas em contrapartida nos tornamos insaciáveis".

André Lara Resende diz, ecoando vários autores, que "a busca desenfreada por crescimento econômico, por mais consumo material, nos levou a esquecer de por que queremos mais. Mais consumo material tornou-se um objetivo em si mesmo".

Para ele, "será preciso superar o fosso profundo do preconceito ideológico" para encontrar respostas para "as duas grandes questões de nosso tempo": como reduzir a disparidade dos padrões de vida, sem aumentar a intermediação do Estado e restringir as liberdades individuais. E como reverter o consumismo, a insaciabilidade material, sem reduzir a percepção de bem-estar.

"São grandes desafios, sem dúvida", admite André Lara Resende, para quem a competição capitalista parece "imprescindível" para que seja possível encontrar as respostas aos problemas criados pelo sucesso do capitalismo.

"Só a pluralidade das ideias, que foi capaz de desmistificar todo tipo de autoritarismo, seja o religioso, o fundamentalista ou o ideológico, e criar a cultura da autonomia do indivíduo, será capaz de fazer revisão cultural que a circunstâncias exigem, sem sacrificar as conquistas do Iluminismo."

(Continua amanhã.)

FONTE: O GLOBO

Um mês de Lei de Acesso :: Fernando Rodrigues

A Lei de Acesso à Informação completa hoje um mês de vigência. A implantação é um copo que está meio cheio e meio vazio.

Governo e panglossianos em geral exaltam a parte cheia do copo. Céticos, como eu, acham que as coisas poderiam estar melhores. Há argumentos objetivos dos dois lados.

Entre os otimistas está a revista britânica "The Economist", que nesta semana publicou uma reportagem sobre um dos benefícios mais visíveis da Lei de Acesso, como forçar a divulgação dos "gordos salários de políticos e burocratas".

Parece absurdo, mas, em pleno século 21, o Brasil ainda enfrenta bolsões de resistência na hora de divulgar o valor dos salários de seus servidores públicos. Quem entra no site da Casa Branca (whitehouse.gov) encontra os vencimentos de todos os que trabalham ali. Além da lista completa de quem entra no prédio, com a hora de chegada e a de saída, data e o nome da pessoa ou do departamento visitado.

Com essa comparação, chega-se à parte meio vazia do copo aqui no Brasil. No caso dos salários, as coisas estão andando -devagar, mas no rumo. Só que tudo fica nebuloso quando se trata de saber com quem os agentes públicos se encontram durante o período de trabalho.

Vários ministros e a presidente da República já divulgam suas agendas. Mas é algo genérico e sem utilidade como ferramenta de fiscalização. Não adianta anunciar a audiência com um empresário ou dirigente de uma multinacional sem dizer quem estava junto na sala. E, no tempo devido, divulgar as anotações resultantes do encontro -tal informação pode ser reservada, mas algum dia precisa ser conhecida.

Em algum momento Dilma Rousseff perguntará à sua equipe sobre como anda a Lei de Acesso. Aumentar a transparência das agendas do governo terá de ser um item marcado em vermelho, indicando a necessidade de ampla melhora.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Governo libera R$ 20 bi para investimentos dos Estados

Além da linha de crédito, serão estimuladas PPPs e endividamento poderá ser elevado; objetivo é reanimar economia

O governo anunciou medidas para estimular o investimento nos Estados e reanimar a economia, que ficou praticamente estagnada no início do ano. A principal medida é a criação de uma linha de crédito do BNDES, no valor de R$ 20 bilhões, para projetos de infraestrutura, com juros de 7,1%. Nessas operações, os Estados contarão com o governo federal como avalista. Com dispensa do aval, a taxa será de 8,1%. Também serão estimuladas as Parcerias Público-Privadas (PPP) nos Estados e municípios, e o Tesouro Nacional autorizará os governos estaduais a elevar seu endividamento. “É uma ação anticíclica que nos deixará imunes ou, pelo menos, menos expostos”, disse o ministro Guido Mantega (Fazenda), que apresentou as medidas ao lado da presidente Dilma Rousseff.

Com economia travada, governo libera R$ 20 bi para investimento nos Estados

Linha de crédito do BNDES vai financiar projetos de infraestrutura; governo decidiu também estimular as Parcerias Público-Privadas

Lu Aiko Otta

BRASÍLIA – Assustado com a profundidade da crise global, o governo anunciou ontem um pacote com três medidas para estimular o investimento pelos Estados e assim reanimar a economia, que ficou praticamente estagnada no início do ano. "É uma ação anticíclica que nos deixará imunes ou, pelo menos, menos expostos", disse o ministro da Fazenda, Guido Mantega, após reunir-se, ao lado da presidente Dilma Rousseff, com os governadores.

A principal medida foi a criação de uma linha de crédito no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) no valor de R$ 20 bilhões, para financiar projetos de infraestrutura. O governo também decidiu estimular as Parcerias Público-Privadas (PPP) nos Estados e municípios, barateando seu custo. O Tesouro autorizará ainda os governadores a elevar o nível de endividamento.

"Já melhora o clima", disse o governador de Santa Catarina, Raimundo Colombo (PSD), questionado sobre a possibilidade de iniciar investimentos ainda este ano. Ele elogiou o fato de o empréstimo ter juro baixo, de 7,1%. Nessas operações, os Estados terão o governo federal como avalista. Caso queiram acelerar os trâmites e dispensar o aval, a taxa sobe para 8,1%.

O prazo é de 20 anos para pagar, com um de carência. Os projetos terão de ser aprovados até 31 de janeiro de 2013. O governo ainda vai definir os critérios para dividir os recursos, que serão fixados pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) no fim do mês.

"Vai dar tempo", assegurou o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB). Ele informou que já possui projetos prontos na área de mobilidade urbana e rodovias, e espera acessar até R$ 500 milhões. O governador de Sergipe, Marcelo Déda (PT), também afirmou que tem projetos prontos e só aguarda a definição de qual será a cota destinada a seu Estado.

A medida agradou até à oposição. "Não há dúvida de que terá um impacto muito positivo, porque ele vai permitir investimentos importantes em todos os Estados", comentou o governador de Minas Gerais, Antonio Anastasia (PSDB).

PIB. Apesar da expectativa de gerar efeitos ainda este ano, o próprio ministro Mantega reconheceu que isso pode acabar ficando para 2013. "Os Estados podem sacar até o fim do ano, mas eles têm de ter projetos. Depende da rapidez dos projetos. De qualquer forma, se não for este ano, será no início do próximo."

Para economistas, o pacote ajuda a impulsionar a economia. Porém, eles duvidam de efeitos no curto prazo. "Não é algo que acontece em 2, 3 meses, pois precisa de processo licitatório, licença ambiental, há sempre contestação judicial", disse Mansueto Almeida, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

O governo decidiu também dar um impulso às PPPs, que não decolaram na área federal mas vêm sendo realizadas por Estados e municípios. Nelas, o setor público torna-se sócio de uma empresa privada para um empreendimento, como estádios, redes de saneamento e rodovias, por exemplo. Uma empresa privada constrói e explora, mas a receita que ela arrecada não é suficiente para cobrir os gastos, por isso ela recebe uma complementação do setor público, a chamada contraprestação.

Mantega anunciou ontem que as contraprestações pagas pelo setor público não serão mais consideradas receita da empresa. Elas serão contabilizadas como aporte de capital. Por isso, deixarão de recolher tributos como Imposto de Renda e PIS/Cofins. Isso deverá baratear o custo das PPPs. Além disso, os Estados foram autorizados a aumentar, de 3% para 5%, a fatia de sua receita corrente líquida comprometida com o pagamento desses gastos.

Os Estados serão autorizados a tomar novos empréstimos, após a análise das contas pelo Tesouro. No ano passado, o governo autorizou empréstimos novos, no total de R$ 40 bilhões.

Embora a assessoria tivesse preparado um material sobre reforma tributária, o assunto não foi tratado em detalhes na reunião de ontem. / Colaboraram Tânia Monteiro e Iuri Dantas

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

O custo dos bancos:: Míriam Leitão

O sistema financeiro brasileiro é sólido, mas muitos fatos têm acontecido e a conjuntura não é tão favorável quanto antes. Ao todo, R$ 9 bilhões foram usados pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC) para cobrir rombos e fraudes em cinco bancos: PanAmericano, Morada, Schahin, Matone e Cruzeiro do Sul. A conta do Cruzeiro do Sul está em aberto porque o banco tem R$ 1,5 bi de dinheiro de fundos de pensão e pode não ter como honrar.

Foram acontecimentos demais. O Morada foi liquidado com um buraco de R$ 100 milhões. O PanAmericano recebeu R$ 4,3 bilhões de empréstimos para cobrir as fraudes. O rombo no Cruzeiro do Sul está até agora em R$ 1,3 bilhão. O banco Schahin foi absorvido pelo BMG, mas com a ajuda de um empréstimo de R$ 1,5 bilhão do FGC. O Banco Original, do grupo JBS, absorveu o Matone com um crédito de R$ 1,8 bi.

Pouco antes da quebra, a Caixa havia investido quase R$ 800 milhões na compra de 49% do capital votante do PanAmericano. Agora ela está capitalizando o banco. Portanto, o custo real de todos esses abalos não se sabe ainda. Mas é maior do que os R$ 9 bilhões acima. Os empréstimos são todos facilitados, o que significa que se pagará apenas uma parte pequena do que foi emprestado aos compradores.

É preciso atenção redobrada porque muita coisa mudou recentemente na economia: o crescimento minguou, os juros caíram, a inadimplência subiu, as famílias se endividaram, as empresas reduziram investimentos, o real se desvalorizou, e os episódios citados acima estão dificultando o acesso dos bancos médios ao interbancário.

Os bancos estão sendo afetados de diversas maneiras pela virada na economia brasileira e a piora da crise na Europa. As ações do setor financeiro têm o terceiro pior resultado da bolsa, no ano, com queda de 3,2%. Mas, de março pra cá a queda é maior. O Banco do Brasil perdeu 34% do seu valor em bolsa nesse período; o Itaú, 21%; e o Bradesco, 8,6%, só para ficar entre os maiores bancos. A queda reflete a expectativa dos investidores de rentabilidade e lucro menores pela frente.

Incapaz de executar investimentos federais previstos no Orçamento, o governo estimula o crescimento via consumo. Ontem, incentivou os estados a investir, via endividamento de R$ 20 bilhões. No caso do consumo, depois de mais de três anos de expansão forte do crédito, que acelerou a partir de 2009, a tendência dos bancos privados é ser mais rigoroso na concessão e garantir liquidez.

O crédito como proporção do PIB saltou de 40,5% para 49,6% de janeiro de 2009 a abril de 2012. O saldo de recursos emprestados cresceu a uma velocidade que oscilou de 15% a 21% de 2010 para cá. O crédito direcionado chegou a crescer 30% num período de 12 meses.

O estoque de crédito inadimplente subiu 35% nos 12 meses até abril. A provisão que os bancos têm que fazer para o crédito podre, que está inadimplente há mais de 180 dias, disparou 24% no período. O comprometimento mensal da renda das famílias chegou a 22%, isso sem contar financiamentos feitos via crediários em lojas, que não são contabilizados pelo Banco Central. A inadimplência das pessoas físicas chegou a 7,6% em abril. Ontem, a Serasa Experien mostrou mais uma elevação.

O analista da Austin Rating Luis Miguel Santacreu, que acompanha atentamente o que acontece com os bancos, é enfático em dizer que não há problemas no sistema financeiro brasileiro, mas admite que a conjuntura mudou, o humor piorou na Europa e no resto do mundo.

- O cenário não é mais o céu de brigadeiro. Temos a Europa com problemas, grandes empresas no Brasil adiando investimentos, o governo não consegue investir, a inadimplência da pessoa física subiu, o endividamento das famílias está elevado - disse.

Ele diz que o consignado tem sido um problema para bancos pequenos e médios.

- Embora a inadimplência seja baixa, o retorno sobre o capital é menor e de longo prazo. É preciso captação constante por parte dos bancos para girar essas carteiras. A crise na Europa diminuiu a liquidez; as fraudes em carteiras de consignado elevaram a desconfiança - explicou Santacreu.

O problema com o PanAmericano, no final de 2010, colocou na berlinda o Banco Central. Ele se viu obrigado a dar uma resposta sobre fiscalização e vigilância no sistema financeiro. Isso é bom porque há mais rigor sobre a situação dos bancos, mas os bancos, ao fazerem mais provisão, estão com menor capacidade de emprestar.

A situação no financiamento de veículos é um sinal de alerta. A inadimplência cresce há 16 meses. Saiu de 2,5% do total de operações para 5,9% dos empréstimos concedidos. A redução do imposto derrubou o preço dos carros novos. Com isso caiu também o do carro usado. Quando o banco tenta recuperar o ativo inadimplente ele recebe menos do que havia previsto.

As crises nos Estados Unidos e na Europa são lições suficientes para se ter cautela quando o assunto é crédito. O sistema financeiro brasileiro é muito concentrado, os seis maiores bancos detêm 91% de todos os ativos financeiros. Os bancos médios são necessários. Seria ruim se continuasse aumentando a concentração.

FONTE: O GLOBO

Não precisamos de educação:: Paul Krugman

Os conservadores adoram fingir que existem vastos exércitos de burocratas governamentais

A esperança é a última que morre. Por algumas horas, estava disposto a elogiar Mitt Romney por falar honestamente sobre o que significa o seu apelo por um governo menor.

Não importa. O candidato não demorou a voltar ao normal, negando ter dito o que disse e oferecendo diversas desculpas contraditórias.

Em declarações que depois tentou negar, Romney criticou Obama: "Ele diz que precisamos de mais bombeiros, mais policiais, mais professores. É hora de reduzir o governo e ajudar o povo americano".

Por uma vez, Romney admitiu o que ele e seus aliados querem dizer quando falam em reduzir o governo. Os conservadores adoram fingir que existem vastos exércitos de burocratas governamentais fazendo sabe-se lá o quê. Na verdade, a maioria dos funcionários do governo oferecem educação ou proteção pública.

Alguns republicanos prefeririam que os americanos tivessem menos educação -vocês se lembram de Rick Santorum e de sua descrição das universidades como "usinas de doutrinação"? Mas a questão mais relevante no momento é determinar se os cortes de empregos públicos que Romney defende são bons ou ruins para a economia.

Antes de tudo, temos nossa experiência pessoal. Os conservadores querem que acreditemos que nosso desempenho econômico decepcionante foi de alguma forma causado por gastos governamentais excessivos, que dificultam a criação de empregos pelo setor privado.

Mas a realidade é que a criação de empregos pelo setor privado mais ou menos acompanhou o ritmo de recuperação, nas duas últimas recessões; a grande diferença, agora, é a grande queda nos empregos públicos; seu total hoje fica 1,4 milhão de postos de trabalho abaixo do que teria atingido caso o ritmo de crescimento vigente no governo de George W. Bush tivesse sido mantido. E, se esses empregos adicionais existissem, o desemprego seria inferior ao que é -cerca de 7,3% ante 8,2%.

Mas as provas verdadeiramente decisivas vêm da Europa. Considere a Irlanda, onde o número de funcionários públicos caiu em 28 mil de 2008 para cá.

As demissões foram elogiadas pelos conservadores, que previram excelentes resultados. Mas a recuperação não veio. O desemprego supera os 14%. A experiência irlandesa demonstra que austeridade, diante de uma economia deprimida, é um erro terrível.

É desnecessário dizer que isso representa um mau presságio, caso Romney vença em novembro. Sua ideia de uma política inteligente é redobrar os cortes de gastos que prejudicaram a recuperação aqui e colocaram a Europa em queda livre.

Tradução de Paulo Migliacci

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Rio+20 e Mundo+50 :: Cristovam Buarque

A Rio+20 começa sob o risco de ser apenas um evento comemorativo da Rio 92, e com a chance de ser um marco para o Mundo+50. Para o Rio ser uma cidade marcante, divisor de águas na história mundial, como Bretton Woods, será necessário que a Rio+20 seja não apenas um evento comemorativo do passado, mas uma reunião que traga propostas alternativas capazes de reorientar os destinos da Humanidade e construir um futuro diferente da continuação do passado.

Será preciso que os chefes de Estado e de governo afirmem que a civilização está doente, mostrem os riscos que enfrentamos e proponham caminhos para os próximos 50 anos, com a reorientação do atual modelo de desenvolvimento.

Devem deixar claro que a sinergia histórica entre a democracia política, o crescimento econômico, a inovação técnica e o bem-estar social foi quebrada. O progresso baseado no crescimento econômico está esgotado devido ao surgimento de alguns novos fatores na realidade sociopolítico-econômica: os limites ecológicos, apresentando custos e riscos ao aumento da produção; a independência como o sistema financeiro funciona sem vínculos com o setor produtivo e sem controle de fronteiras; a megaconcentração de renda e de patrimônio em mãos de poucas pessoas do mundo; a revolução científica e tecnológica que começa a fazer desnecessário o emprego; o esgotamento da capacidade de financiamento público para o sistema de bem-estar social; o endividamento dos governos, mesmo em países desenvolvidos. Soma-se a isso a legítima, mas impossível, exigência de grandes contingentes populacionais à voracidade do consumo.

Na definição de novos rumos para o mundo global em marcha, chefes de Estado e de governo devem levar em conta esses fatores que limitam o crescimento e oferecer alternativas sociopolítico-econômicas diferentes do progresso. Precisam reconhecer o esgotamento do projeto civilizatório baseado no crescimento da produção; deixar claro que a solução para o futuro não está apenas em usar insumos verdes; continuar atendendo à mesma voracidade do consumo graças ao aumento desenfreado da produção.

Muito mais do que se reunir para definir como continuar o mesmo progresso, apenas substituindo a energia fóssil por economia verde e definindo mecanismos para pequenas distribuições de renda aos mais pobres, será preciso acenar para um novo conceito de progresso: valorizar o bem-estar e mesmo a felicidade mais do que o nível de renda, produção e consumo; submeter o crescimento econômico ao equilíbrio ecológico e à manutenção da diversidade; modificar o PIB de maneira a valorizar o tempo livre e as atividades culturais; reorientar a primazia do consumo de bens privados para o uso de bens públicos; parar de considerar a produção de armas como avanço civilizatório.

Se a Conferência quer ser mais do que um evento de alguns dias comemorativos do passado, se quer durar décadas, deve formular um Programa Mundial para a Reorientação do Avanço da Humanidade. Agora, o caminho não é a reconstrução industrial, como foi concebido em Bretton Woods pelo Plano Marshall. Desta vez, o caminho está em transformar a própria mentalidade do desenvolvimento desigual e insustentável, mesmo usando economia verde, para um desenvolvimento harmônico, entre os seres humanos e deles com a Natureza.

O caminho para isso estaria em uma espécie de Plano Mundo+50, que defina regras mundiais para o controle internacional do uso dos patrimônios da Humanidade de cada país; determine uma política fiscal internacional para penalizar ou incentivar a produção, conforme seu impacto ecológico; ofereça acesso aos povos aos benefícios da ciência e tecnologia; assegure um fundo mundial que possa oferecer recursos para financiar programas de transferência de renda condicionada à educação; e garanta a formação e a remuneração de professores, a construção e a aquisição de equipamentos para as escolas. Deveria também adotar as medidas para implantar um Tribunal Internacional para Julgar os Crimes Contra o Futuro da Humanidade, a fim de combater a destruição do meio ambiente, o empobrecimento de populações, a destruição da diversidade biológica e cultural.

Esse seria o caminho para reorientar o progresso, redefinindo-o, e não apenas mudando os insumos usados na produção. Isto faria da Rio+20, assim batizada pelo passado, um Mundo+50, olhando o futuro.

Cristovam Buarque é senador (PDT-DF).

FONTE: O GLOBO

País já começou o segundo trimestre estagnado

Gabriela Valente

BRASÍLIA — O Brasil cresceu 0,22% em abril na comparação com março. O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), divulgado na sexta-feira, veio dentro do esperado pelos analistas do mercado financeiro e foi o primeiro resultado mensal que apontou um leve crescimento da economia neste ano, mas ainda assim não contribuiu para melhorar as expectativas em relação ao futuro da economia. Ao contrário, alguns economistas já admitem que o crescimento pode ficar abaixo de 2% neste ano. O IBC-Br é uma prévia do comportamento do Produto Interno Bruto (PIB) que o BC usa para tomar as suas decisões. O BC ainda revisou para baixo o dado de março. A queda foi quase o dobro do que foi anunciado no mês passado: 0,61% de retração da atividade em vez de uma queda de 0,35%.

Para Nilson Teixeira, economista-chefe do Credit Suisse, os indicadores disponíveis do segundo trimestre não apontam para uma forte aceleração da atividade no futuro:

— Acreditamos na perspectiva de um declínio na produção industrial e no IBC-Br de maio. Isso aumenta significativamente o risco de crescimento no segundo trimestre menor do que a nossa projeção de 0,8% e, portanto, de uma expansão em 2012 também menor que a nossa previsão atual de 2%.

Na opinião do economista-chefe do Itaú, Ilan Golfajn, a crise pode se estender e fazer o Brasil crescer menos por um período maior que o previsto com consequências para a economia real:

— Baixo crescimento aumenta o risco de o mercado de trabalho se enfraquecer.

Nos últimos 12 meses, o IBC-Br acumula alta de 1,55%. O governo aposta que a economia vai reagir no segundo semestre. O economista-chefe do Bradesco, Octavio de Barros, tem a mesma opinião.

— O resultado positivo de abril, sustentado pelo bom desempenho do consumo das famílias, conforme apontado pelas vendas no varejo, reforça nossa expectativa de uma retomada gradual mais à frente da atividade econômica — afirma, em relatório do banco.

Já o analista da Corretora Votorantim Roberto Padovani afirmou que o impacto da crise já está sendo sentido e é mais forte do que se imaginava e enfraquece qualquer previsão.

— Ninguém sabe ao certo o impacto porque ninguém consegue traçar com clareza o cenário externo e nem mesmo como a crise vai afetar a confiança das pessoas.

Já a inadimplência do consumidor, outro freio ao consumo, subiu 21,4% em maio frente ao mesmo período do ano passado, segundo o Serasa Experian. Na comparação com abril, que teve dois dias úteis a menos, a inadimplência foi 6,2%, na terceira alta seguida.

FONTE: O GLOBO

O cão sem plumas:: João Cabral de Melo Neto

II. Paisagem do Capibaribe

Entre a paisagem
o rio fluía
como uma espada de líquido espesso.
Como um cão
humilde e espesso.

Entre a paisagem
(fluía)
de homens plantados na lama;
de casas de lama
plantadas em ilhas
coaguladas na lama;
paisagem de anfíbios
de lama e lama.

Como o rio
aqueles homens
são como cães sem plumas
(um cão sem plumas
é mais
que um cão saqueado;
é mais
que um cão assassinado.

Um cão sem plumas
é quando uma árvore sem voz.
É quando de um pássaro
suas raízes no ar.
É quando a alguma coisa
roem tão fundo
até o que não tem).

O rio sabia
daqueles homens sem plumas.
Sabia
de suas barbas expostas,
de seu doloroso cabelo
de camarão e estopa.

Ele sabia também
dos grandes galpões da beira dos cais
(onde tudo
é uma imensa porta
sem portas)
escancarados
aos horizontes que cheiram a gasolina.

E sabia
da magra cidade de rolha,
onde homens ossudos,
onde pontes, sobrados ossudos
(vão todos
vestidos de brim)
secam
até sua mais funda caliça.

Mas ele conhecia melhor
os homens sem pluma.
Estes
secam
ainda mais além
de sua caliça extrema;
ainda mais além
de sua palha;
mais além
da palha de seu chapéu;
mais além
até
da camisa que não têm;
muito mais além do nome
mesmo escrito na folha
do papel mais seco.

Porque é na água do rio
que eles se perdem
(lentamente
e sem dente).
Ali se perdem
(como uma agulha não se perde).
Ali se perdem
(como um relógio não se quebra).

Ali se perdem
como um espelho não se quebra.
Ali se perdem
como se perde a água derramada:
sem o dente seco
com que de repente
num homem se rompe
o fio de homem.

Na água do rio,
lentamente,
se vão perdendo
em lama; numa lama
que pouco a pouco
também não pode falar:
que pouco a pouco
ganha os gestos defuntos
da lama;
o sangue de goma,
o olho paralítico
da lama.

Na paisagem do rio
difícil é saber
onde começa o rio;
onde a lama
começa do rio;
onde a terra
começa da lama;
onde o homem,
onde a pele
começa da lama;
onde começa o homem
naquele homem.

Difícil é saber
se aquele homem
já não está
mais aquém do homem;
mais aquém do homem
ao menos capaz de roer
os ossos do ofício;
capaz de sangrar
na praça;
capaz de gritar
se a moenda lhe mastiga o braço;
capaz
de ter a vida mastigada
e não apenas
dissolvida
(naquela água macia
que amolece seus ossos
como amoleceu as pedras).