quinta-feira, 12 de julho de 2012

OPINIÃO DO DIA – Fernando Henrique Cardoso: ‘vocação nacional’

Não dá para avaliar o que vai acontecer em termos de alianças futuras com base no que está sendo feito agora. Agora cada um vai buscar maximizar suas chances eleitorais, sem se preocupar muito com o que vai acontecer depois. E menos ainda se há choques nas visões dos partidos, inclusive porque essas visões estão se diluindo de maneira, para mim, preocupante. Os partidos estão crescentemente sendo siglas. Qual é a posição que está por trás, o conteúdo programático, a visão real? Vai ter, em certos momentos, mas muitas vezes o partido não expressa isso mais.

Fernando Henrique Cardoso, sociólogo e ex- presidente da República, O Globo, 11/7/2012

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO
Senador que pôs o mandato a serviço de bicheiro é cassado
Brasil chega a seu juro mais baixo
Calote do brasileiro cresceu 19% este ano

FOLHA DE S. PAULO
Senadores cassam Demóstenes
BC reduz juros, e Selic tem novo recorde de baixa
Suborno a Teixeira e a Havelange foi de R$ 46 mi, diz Suíça

O ESTADO DE S. PAULO
Demóstenes perde mandato e diz que recorre ao Supremo
BC baixa juros em dia de indicadores negativos
Posição ameaçada no Brics
Contra a OEA, Patriota insiste em punições ao Paraguai

VALOR ECONÔMICO
GM fecha mais uma linha e esvazia fábrica de São José
Varejo esfria e ações do setor perdem brilho
Exército agora faz até projetos de aeroporto
Eleição agita a 'capital' do pré-sal
Depois de Demóstenes, o fim da CPI

BRASIL ECONÔMICO
Consumo perde fôlego e BC corta juros pela oitava vez consecutiva
S&P eleva nota de oito bancos
Demóstenes é cassado e seu suplente já deve explicações

CORREIO BRAZILIENSE
Aprovado reajuste a 938 mil servidores
Demóstenes vai ao STF tentar salvar mandato
Para estimular o crescimento, BC reduz Selic pela oitava vez
Brasileiro compra menos em maio e assusta mercados

ESTADO DE MINAS
Com a corda no pescoço
Senadores cassam o mandato de Demóstenes

ZERO HORA (RS)
Cassado
Em 10 meses: Reação lenta leva BC a oitavo corte do juro

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Brasileiros devem demais
Juros caem e poupança deve seguir atrativa
Cassado
EUA e Brasil podem extinguir visto de turista

Otimista demais, atrasado demais

Até o governo já se convenceu de que este ano está praticamente perdido para a economia brasileira. É certo que a reversão das expectativas no mundo todo foi mais profunda do que se imaginava. Mas um dos aspectos que pesam para o mau desempenho brasileiro é que, aqui, as atitudes corretas demoram tempo demais para ser tomadas. É o que acontece com as concessões.

Ao mesmo tempo em que revê suas previsões para o crescimento do PIB neste ano, o governo Dilma Rousseff anuncia agora que irá lançar, no próximo mês, uma nova fornada de privatizações de obras e serviços de infraestrutura. Na lista, constam portos, aeroportos, rodovias e ferrovias. Com o atraso que lhe é peculiar, a gestão petista endireita - neste particular, pelo menos.

O PT perdeu anos negando o óbvio: em vastíssima área da economia, o Estado é muito pior empreendedor do que o agente privado. O dogma fez Luiz Inácio Lula da Silva passar todo o seu governo execrando as privatizações, enquanto as condições de competitividade do país iam, literalmente, buraco abaixo.

Dilma elegeu-se em cima da mesma crença, mas vai abandonando-a aos poucos. Melhor seria renegá-la de vez. Sem a participação da iniciativa privada na reconstrução e na expansão de sua infraestrutura, o país não tem a menor chance de avançar. Não dá para perder mais tempo defendendo o indefensável.

Foi apenas no início de 2011 que o PT recolocou as privatizações de vez no radar, embora de maneira envergonhada. Na gestão Lula, apenas alguns trechos de rodovias foram concedidos, mesmo assim por meio de um modelo em que as melhorias custam a chegar aos usuários, quando chegam. Aos pedágios baratinhos correspondem estradas ordinárias.

Por volta de abril do ano passado, Dilma anunciou que finalmente se convertera às privatizações para fazer os aeroportos brasileiros decolar. Os leilões de três terminais - Guarulhos, Viracopos e Brasília - ocorreram há cinco meses, mas até hoje as obras não começaram. Com o PT, a distância entre decisão e ação se conta em milhas aéreas. Já se teme pelo que irá acontecer na Copa de 2014...

Também foi preciso a situação chegar à antessala do caos para que o governo resolvesse agir em outras áreas, como os portos. Há R$ 19 bilhões em investimentos em suspense à espera que se resolvam pendengas regulatórios do setor, mostrou o Valor Econômico na semana passada. Há tempos, travadas por medidas tomadas no governo do PT, as melhorias não acontecem, e as filas de caminhões na entrada dos terminais se avolumam.

Ao longo dos últimos nove anos, o total dos investimentos no setor portuário correspondeu a somente 0,07% do PIB. Nesse ritmo, o país levará 19 anos para sanar as restrições já identificadas nos seus portos - isto sem considerar as novas necessidades oriundas do próprio crescimento econômico.

O atraso de obras também em outros modais mais adequados ao transporte de cargas, como ferrovias e hidrovias, encarece bastante o frete praticado no país e retira um naco considerável do poder de competição de nossos produtos frente à concorrência externa. Na logística, se vão US$ 80 bilhões ao ano, ou 4% do nosso PIB.

Para fazer frente a isso, no pacote que prevê anunciar em agosto o governo promete incluir novas regras para o uso das ferrovias brasileiras. A malha nacional demanda investimento de R$ 151 bilhões, de acordo com a CNT. Mas o setor segue em ritmo de maria-fumaça: o valor equivale a seis vezes o que foi aplicado no modal desde 1997, quando a malha foi privatizada.

O mesmo atraso que assola as obras de infraestrutura viária também se abate sobre o setor elétrico. A exatos 36 meses para a data de vencimento dos contratos de concessão, o governo petista ainda não decidiu oficialmente o que fará com elas. Por esta razão, empresas do segmento não estão mais conseguindo financiar-se e estão suspendendo investimentos. Faça-se luz.

Em sua revisão do PIB, o governo Dilma mantém uma previsão para lá de otimista para este ano. Ninguém mais crê que seja possível alcançar sequer os 2,7% de 2011, com o pibizinho se aproximando de ser uma piada. Mas, se a intenção é não jogar fora também o ano de 2013, a atual gestão tem de fazer com as concessões privadas tudo o que o PT não fez em quase dez anos de poder: agir a tempo e a hora, para não perder mais um bonde.

Fonte: Instituto Teotônio Vilela

Batalha de Minas contra Aécio - a grande prioridade de Dilma:: Jarbas de Holanda

A entrada de José Serra na disputa da prefeitura de São Paulo – surpreendendo o ex-presidente Lula, privando-o da aliança com o prefeito Gilberto Kassab como melhor instrumento para a quebra das limitações esquerdistas do PT no eleitorado da capital paulista e, assim, complicando seriamente o uso dessa disputa como etapa para conquistar o governo do estado com uma derrota de Geraldo Alckmin em 2014, mas não o levando a desistir do objetivo imediato e do posterior, ao contrário buscando reforçá-los a qualquer custo, como o da composição com Paulo Maluf – a perspectiva da polarização entre Serra e o lulista Fernando Haddad constituiu a novidade mais significativa do desencadeamento no começo do ano das articulações políticas para as eleições municipais de 2012. Configurando o pleito paulistano como o de dimensão mais nacionalizada em face do confronto direto e central do ex-presidente com a maior cidadela dos tucanos.

Essa configuração sofreu uma mudança expressiva ao longo da semana passada com a ruptura havida em Belo Horizonte entre o PT e o prefeito do PSB e candidato à reeleição, Márcio Lacerda. Seguida pelo lançamento da candidatura do petista Patrus Ananias, ex-prefeito e ex-ministro. Que foi promovida pessoalmente pela presidente Dilma Roussef. E gerou um realinhamento partidário que a colocou frente à frente com seu provável adversário no pleito presidencial de 2014 – o ex-governador de Minas e senador do PSDB, Aécio Neves. 

Tal alinhamento implicou a renúncia do candidato do PMDB, Leonardo Quintão (que quatro anos atrás disputou o 2º turno com Márcio Lacerda) para apoio dos peemedebistas ao candidato do PT. Negociação da qual participou o presidente do partido, Michel Temer, e pode ter incluído a promessa de um ministério para peemedebista mineiro. E que envolveu também o deslocamento de um polo a outro do ultrapragmático PSD, cuja direção estadual, estreitamente vinculada ao prefeito Lacerda e ao governador tucano Antônio Anastasia, sofreu fulminante intervenção determinada pelo seu presidente nacional, Gilberto Kassab (atendendo a pedido da presidente Dilma), sob veementes protestos da 1ª vice-presidente, senadora de Mato Grosso Katia Abreu, e do 2º vice, o mineiro Roberto Brant, que se desfiliou da legenda. No novo quadro, Márcio Lacerda e Aécio Neves terão de enfrentar na campanha, além de uma aliança que vai do PMDB ao PC do B, a forte presença da presidente Dilma (que, no final de junho, participando de eventos em Belo Horizonte classificou Lacerda como “o melhor prefeito do Brasil”).

Por outro lado, a relevante dimensão nacional ganha pela disputa em Belo Horizonte foi facilitada por um similar e antecedente processo de realinhamento político ocorrido no Nordeste: o fim da aliança entre o PSB e o PT em torno de candidatos deste a prefeitos do Recife e Fortaleza. Num contexto em que os governadores de Pernambuco, Eduardo Campos, presidente pessebista, e Cid Gomes, do Ceará, tomaram as decisões de lançar candidaturas próprias do partido, rejeitando subordinação ao radicalismo da luta interna entre correntes petistas para a escolha dos candidatos (que no Recife culminou numa intervenção do diretório nacional). Decisões justificadas, ademais, pelo desgaste de precárias administrações realizadas pelos prefeitos do PT e pela avaliação da conveniência de afirmação da identidade e da independência do PSB em relação ao petismo.

Avaliação que certamente levou também em conta os crescentes problemas da economia e possível cálculo do desgaste que o julgamento do mensalão poderá provocar em alianças encabeçadas por petistas nas capitais e maiores cidades do país. Confrontados por agressivas reações dos dirigentes locais e nacionais do PT, os dois governadores resolveram respaldar o correligionário prefeito de Belo Horizonte em sua postura de não aceitar o controle da campanha e de provável segundo mandato pelos petistas, bem como na decisão dele de reforço dos laços com Aécio Neves.

O conjunto das posturas assumidas por esses atores políticos do Nordeste e de Minas pode ademais indicar uma reavaliação – para alguns graus abaixo da feita no início deste ano – do peso do lulopetismo e do governo federal nas eleições municipais à frente.

Jarbas de Holanda é jornalista

Em BH, cautela diante dos números

Isabella Souto e Leonardo Augusto

Os dois principais candidatos à Prefeitura de Belo Horizonte – Marcio Lacerda (PSB) e Patrus Ananias (PT) – preferiram a cautela ao comentar ontem o resultado da primeira pesquisa realizada pelo Instituto EMData, que mostrou uma disputa apertada na capital mineira. E adotaram discurso semelhante: os números revelam um momento. O levantamento feito com 600 pessoas entre os dias 8 e 10 apontou que 34% dos entrevistados pretendem votar no atual prefeito, enquanto 29% preferem o petista. A margem de erro foi de quatro pontos percentuais para mais ou para menos e o registro no Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais (TRE-MG) recebeu o número MG00136/2012.

Marcio Lacerda creditou o percentual de votos obtidos na pesquisa pelo seu adversário a uma intensa exposição na mídia nos últimos dias. Isso porque somente no dia 30 o PT decidiu ter candidato próprio para a Prefeitura de Belo Horizonte. Em convenção, foi aprovada a indicação do atual vice-prefeito, Roberto Carvalho, mas já no dia seguinte o nome de Patrus começou a ser defendido pela direção estadual e nacional da legenda. Na quinta-feira passada Roberto Carvalho, que já havia protocolado o pedido de registro de candidatura do TRE-MG, oficializou sua desistência em benefício do colega de partido. As articulações políticas em torno do assunto ganharam várias páginas dos jornais.

"Nosso espírito é sempre começar do zero, e nosso oponente teve uma exposição muito grande nos meios de comunicação nos últimos dias. Confiamos muito é nos altos índices de aprovação que nós temos", afirmou. A pesquisa EMData mostrou que 63% dos entrevistados aprovam a gestão de Marcio Lacerda, que é desaprovada por 25% e indiferente para outros 11%. De acordo com o prefeito, a propaganda eleitoral de rádio e televisão será o melhor espaço para mostrar aos eleitores tudo o que foi feito durante os três anos e meio que está à frente da prefeitura. "Não temos agenda oculta e caixas-pretas. Somos uma gestão transparente", argumentou.

Patrus Ananias preferiu manter certo distanciamento do resultado do levantamento divulgado na edição de ontem do Estado de Minas. "A esta altura (da vida pública) tenho experiência razoável em campanhas eleitorais. Pesquisas mostram momento, mas não as valorizo além da importância que têm. Há uma caminhada longa pela frente. É importante consolidar, ampliar a nossa campanha. Pesquisas podem mudar", afirmou. Ao mesmo tempo, comentou o que acredita serem os motivos que o levaram a alcançar o resultado positivo na pesquisa. "Mostra nossa presença em Belo Horizonte, política, social, humana, e a presença das forças políticas e sociais que nos apoiam", disse.

FONTE: ESTADO DE MINAS

'Tempo dirá' se aliança em Minas foi certa, afirma Kassab

Prefeito rebateu com elogios as críticas da senadora Kátia Abreu (PSD) sobre intervenção em Belo Horizonte

Artur Rodrigues

Acusado de autoritarismo pela senadora Kátia Abreu (PSD-TO) por ter imposto a aliança com o ex-ministro Patrus Ananias (PT) na disputa em Belo Horizonte, o prefeito de São Paulo e presidente nacional da sigla, Gilberto Kassab , afirmou que "o tempo vai dizer se ela está certa ou o partido estava certo".

A senadora afirmou que Kassab cometeu "abuso de poder" e "abandonou qualquer resquício de lealdade e respeito devido aos dirigentes". Kassab respondeu com elogios. "Ela já antecipadamente declarou que seria contra a intervenção. Foi feita intervenção a pedido da direção de Minas Gerais e também de Belo Horizonte, que acho correta. A divergência não diminui em nada a admiração e o respeito que eu tenho por ela."

Kassab determinou na semana passada que o PSD abandonasse a coligação pela reeleição de Marcio Lacerda (PSB) para apoiar Patrus. "Nossa convenção definiu apoio ao Lacerda, que era então apoiado pelo PT e pelo PSDB. Só que depois PT e PSDB não caminharam juntos", justificou-se. "Nós entendíamos que houve uma nacionalização do processo e não era o momento de dar apoio ao candidato que desfez uma aliança."

Kassab sustentou que a decisão foi apoiada pela sigla em Minas. "Foi uma intervenção a pedido", afirmou o prefeito.

Baixa. Após a ação, o partido perdeu seu segundo vice-presidente, Robert Brant (MG). Kassab desejou "felicidades" a ele. "É um direito dele, é da democracia. Ele entendeu que este deveria ser o seu caminho."

Ontem, Kátia Abreu foi procurada pelo vice-presidente da República, Michel Temer. Durante o almoço, ele a convidou a deixar o PSD e filiar-se ao PMDB.

No dia anterior, a senadora divulgou carta enviada a Kassab em que manifestava "indignação e repúdio à intervenção arbitrária e clandestina". Agora, um grupo de dissidentes quer de Kassab o "compromisso moral" de que a intervenção "à la Belo Horizonte" não se repetirá.

Kátia Abreu afirmou que uma decisão como essa não se decide "trancado em quarto de hotel". "Se fosse em cima de mim no Tocantins, me obrigando a coligar com o PT, seria a desmoralização total", disse.

Não é a primeira vez que a senadora ataca Kassab. Em março, Kátia Abreu criticou a aliança com o então pré-candidato à Prefeitura José Serra (PSDB). "O importante é que as divergências sejam claras. Ela discordou de uma posição aqui em São Paulo, quando do apoio ao candidato Serra e agora em relação à intervenção. Mas ela fez com muita autenticidade, muita transparência", disse Kassab.

Polêmica. Após emplacar Alexandre Schneider como vice da chapa, o poder de Kassab na campanha de José Serra (PSDB) também tem causado descontentamento nos bastidores. Tucanos especulavam que o coordenador da campanha, Edson Aparecido, poderia largar o posto. O candidato, porém, negou os boatos e fez caminhada com Aparecido.

Questionado sobre o assunto, Kassab elogiou o coordenador da campanha, classificando-o como "experiente" e "conciliador". "O Edson Aparecido é fundamental", disse.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Intervenção de prefeito em BH fere estatuto do PSD

Christiane Samarco

A intervenção do presidente nacional do PSD e prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, no diretório de Belo Horizonte contraria o estatuto do partido. Para retirar o apoio à reeleição de Marcio Lacerda (PSB) e decretar a aliança com o PT, Kassab ouviu os seis deputados da bancada de Minas - quatro o apoiaram. O artigo 60 do estatuto diz que "compete à Executiva Nacional suspender ou cancelar a realização de Convenções Municipais e Estaduais (...), bem como anular as realizadas, quando assim determinar o interesse partidário". E atribui à executiva a tarefa de "designar comissões provisórias e interventoras estaduais e municipais".

Ou seja, Kassab deveria ter convocado os 25 dirigentes nacionais do PSD. Participariam da reunião a 1ª vice-presidente, senadora Kátia Abreu (TO), que redigiu carta contra a medida "truculenta, desleal e desrespeitosa com os demais dirigentes", e o 2º vice Roberto Brant (MG), que deixou o posto após a intervenção.

Em conversa com os deputados em Brasília, Kassab alegou que o apoio a Lacerda teria de ser revisto a pedido da presidente Dilma Rousseff. Disse que não queria fazer uma opção agora, mas não havia outro jeito, pois a disputa estaria nacionalizada.

"Pedi para discutirmos com mais cautela, mas não fui ouvido", disse o deputado Marcos Montes (PSD-MG), um dos votos contrários da bancada e aliado do tucano Aécio Neves. "Ninguém quer implodir o partido, mas vamos ter que administrar isso. A intervenção é ilegal."

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Irritada com o PSB, Dilma afaga PMDB de Temer

Ao lado de Rui Falcão, ela disse ao vice que seu aliado preferencial é o PMDB

Presidente reafirmou seu apoio à eleição de um peemedebista à presidência da Câmara dos Deputados em 2013

Catia Seabra

BRASÍLIA - Um dia depois do jantar de reconciliação com os governadores Eduardo Campos (Pernambuco) e Cid Gomes (Ceará), ambos do PSB, a presidente Dilma Rousseff afirmou ao vice-presidente, Michel Temer, que seu aliado preferencial é o PMDB.

O aceno tem duas finalidades. Além de uma demonstração de agradecimento pela rápida adesão do PMDB à candidatura do PT em Belo Horizonte, serve como antídoto contra a desconfiança de que ela poderá privilegiar o PSB numa eventual aliança por sua reeleição, em 2014.

Na presença do presidente do PT, Rui Falcão, Dilma reafirmou a Temer o compromisso com a eleição de um peemedebista para a presidência da Câmara em 2013. O escolhido do PMDB é Henrique Eduardo Alves (RN).

Os três discutiram como PT e PMDB podem atuar de forma complementar. Realizada no Palácio do Planalto, a reunião evidencia que o mal-estar entre PT e PSB persiste.

Ainda é grande a irritação de Dilma com o PSB mineiro, que, para satisfazer o senador Aécio Neves (PSDB-MG), alijou o PT da chapa pela releição do prefeito Márcio Lacerda (PSB). Outro fator de desgaste é o inconformismo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com a aliança de Campos com o ex-governador de Pernambuco Jarbas Vasconcelos, caso raro de peemedebista oposicionista.

No PT, consolida-se a tese de que o PMDB apresenta-se hoje como parceiro mais fiel.

Enquanto Dilma traçava planos com Temer e Falcão, a ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais) apelava, no Congresso, para que petistas se unam em Pernambuco para derrotar o candidato de Campos à Prefeitura de Recife.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Temer tenta unir PMDB e PT no Estado, diz deputado

Felipe Frazão

O presidente do PMDB paulista, deputado estadual Baleia Rossi, admitiu em entrevista à TV Estadão que o partido estará alinhado a candidaturas do PT nas cidades de São Paulo, por "respeito à aliança nacional", embora os dois partidos tenham candidatuas próprias na capital.

Baleia afirmou que o vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB), deu liberdade ao diretório estadual para intervir em comandos municipais que avaliavam estar enfraquecidos. "É uma aliança vitoriosa nacional com o PT e onde pudemos fazer foi feita. (Foi) melhor."

Para o deputado, a executiva estadual respeitou os grupos políticos de cada cidade ao costurar acordos. Ele ressaltou que também teve entendimentos com o PSDB. E cobrou empenho de prefeitos e vereadores peemedebistas em 2014, avaliando que eles não teriam trabalhado pelo partido em eleições passadas, nas quais a sigla teve "desempenho pífio". "Nossa ótica: o PMDB precisa crescer. Não dá mais para ter bancada estadual e federal diminuída."

No Estado, o PMDB registrou 216 candidatos a prefeito e 197 a vice. Baleia vai se dedicar a acompanhar as campanhas no interior, ao lado do presidente da Federação de Indústrias do Estado (Fiesp), Paulo Skaf. Ambos têm planos para 2014: Baleia quer ser eleito deputado federal e Skaf pretende disputar o governo.
O PT também quer conquistar a capital paulista e o Palácio dos Bandeirantes - e tirá-los da órbita tucana. Mas Baleia não vê conflito de interesse entre petistas e peemedebistas.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Serra recicla promessas da atual gestão

Tucano cita em programa de governo e em reuniões itens pendentes do plano de metas de Kassab, sob justificativa de continuidade

Bruno Boghossian

O candidato do PSDB à Prefeitura de São Paulo, José Serra, adotou em sua campanha uma série de projetos que já haviam sido anunciados pelo atual prefeito, Gilberto Kassab (PSD), mas não serão concluídos até o fim do mandato. Entre as propostas citadas pelo tucano em seu programa de governo e em reuniões com líderes comunitários, estão seis itens do plano de metas de Kassab - que o prefeito havia se comprometido a cumprir.

Serra é aliado de Kassab, tem o apoio do prefeito na disputa e defende as realizações da Prefeitura nos últimos anos. O argumento é o de que o próprio Kassab já havia dado continuidade a projetos de Serra quando assumiu o cargo, em 2006, depois que o tucano renunciou para disputar o governo do Estado. Agora, Serra passou a encampar projetos que a atual gestão deixará pendentes.

Parte das metas é frequentemente classificada como prioritárias pelo tucano. É o caso dos parques tecnológicos do Jaguaré, ainda em fase de estudo, e de Itaquera, cujo projeto está em elaboração. As duas obras constam no programa de governo apresentado por Serra. A proposta de criar o polo do Jaguaré foi lançada em novembro de 2006, quando Kassab estava em seu primeiro mandato. Após sua reeleição, incluiu o projeto em seu plano de metas, com o compromisso de concluir a obra até o fim de 2012.

Projetos pendentes. A equipe de Serra afirma que o tucano está comprometido com os projetos pendentes, mas ressalta que novas propostas serão apresentadas ao longo da campanha. O tucano costuma dizer que só pretende citar projetos específicos na propaganda eleitoral da TV, para evitar que os adversários o copiem. No programa de governo que foi entregue à Justiça Eleitoral na semana passada, Serra também apresenta como propostas a finalização da Praça das Artes (complexo cultural na região do Anhangabaú) e a instalação da Operação Urbana Rio Verde-Jacu Pêssego (política de incentivo ao desenvolvimento econômico na zona leste). Os dois projetos integram o plano de metas de Kassab e deveriam ser concluídos até dezembro.

Ideias. Serra também apresenta, com destaque, propostas que já foram anunciadas pela gestão Kassab nos últimos anos, após a elaboração do plano de metas.

Anteontem, em uma visita à região do Jaraguá, destacou o projeto de construção do Centro de Exposições de Pirituba, na zona oeste da capital. "Um dos principais pontos do meu programa para São Paulo (...) é o centro de eventos de Pirituba. Com ele, vamos disputar (a vaga de) sede da Exposição Mundial de 2020."

A proposta havia sido apresentada em dezembro de 2010. Na ocasião, Kassab visitou o terreno da obra e apresentou croquis do projeto em uma cerimônia com a participação do então governador Alberto Goldman (PSDB), que sucedeu Serra no comando do Estado.

O candidato tucano também incluiu em seu programa de governo a criação de corredores de ônibus em M"Boi Mirim, zona sul, e na Radial Leste. Kassab abriu uma consulta pública para a instalação dessas faixas em abril deste ano. Também é citada no documento a criação de uma rede de Centros Culturais da Juventude (promessa da campanha de Kassab em 2008)

Ontem, Serra prometeu a moradores da Vila Sônia (zona sul), a criação de um parque no terreno da Chácara do Jockey. O projeto já está sendo tocado pela equipe de Kassab.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Paes: 'Não me escondo em gabinete'

Procurador acusou prefeito de uso da máquina; Freixo entra com representação

O prefeito Eduardo Paes (PMDB), candidato à reeleição, afirmou ontem em evento de campanha com representantes da Associação Comercial e Industrial de Jacarepaguá que não ficará preso ao gabinete.

- Seria desrespeitoso de minha parte, nesse momento da eleição, me esconder dentro do gabinete. Sou um prefeito atuante - afirmou o candidato.

Na segunda-feira, ele foi criticado pelo procurador eleitoral Maurício da Rocha por ter posado para fotos com o jogador Clarence Seedorf, do Botafogo, no Palácio da Cidade. Rocha viu na atitude abuso eleitoral e uso da máquina administrativa. Questionado se sua declaração ontem era uma resposta às críticas da procuradoria, Paes foi breve:

- Só falei que não posso ficar preso dentro do meu gabinete - insistiu.

O procurador, Maurício da Rocha Ribeiro, por sua vez, demonstrou irritação.

- Estou só exercendo minhas funções. Não é nada pessoal. Ele não tem que se sentir incomodado e responder a toda hora. Tenho de defender eleições com igualdade de condições entre os candidatos - observou.

Ontem, o candidato do PSOL à Prefeitura, Marcelo Freixo, entrou com uma representação contra Paes argumentando que o prefeito utilizou o contracheque do mês de julho dos servidores para promover seus feitos aos seus funcionários.

- Só essa prefeitura podia começar o ano com notícias tão boas para você! Primeiro, a prefeitura antecipou o pagamento do Acordo de Resultados, superando as metas que você ajudou a conquistar. Um reconhecimento que pode chegar até ao 14º ou 15º salário - diz um trecho do texto no contracheque.

A prefeitura contestou a informação dizendo que desde 2011 utiliza o contracheque de seus funcionários para prestar esclarecimentos e que a mensagem citada refere-se à "comunicação institucional" enviada no contracheque referente a janeiro de 2012. "Portanto, anterior à campanha e ao período sob a égide da legislação eleitoral", informou por meio de nota.

FONTE: O GLOBO

Mistura – Opinião/ O Globo

EM POUCOS dias de campanha, o prefeito Eduardo Paes já é alvo da Justiça Eleitoral.

DE FATO, levar Seedorf para ser apresentado no Palácio da Cidade é flagrante manipulação eleitoreira do futebol, e num imóvel público.

UMA MISTURA nada benéfica, porque degrada à política e não ajuda o esporte. E num endereço errado.

Dilma sinaliza nova base, dizem petistas

Caio Junqueira

BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff afirmou ontem em jantar de "confraternização petista", na residência do presidente da Câmara dos Deputados, Marco Maia (PT-RS), que a bancada do PT é a principal "infantaria" dela no Congresso.

Para os deputados petistas, as conversas paralelas de Dilma durante o jantar sinalizaram que ela avalia fazer uma reorganização da base governista na Casa, pois teria dúvidas se vale mais uma base "ampla e solta a uma mais restrita e fiel". Dilma não discursou, mas tirou fotos e teve conversas "sociais" com os deputados. Perguntou a cada um sobre o cenário eleitoral em suas bases e, segundo parlamentares, elogiou a atuação da Câmara por ter votado todos os projetos por ela encaminhados.

O clima de entendimento entre Dilma e Marco Maia gerou rumores de que o presidente da Câmara teria conseguido indicar um vice-presidente para o Banco do Brasil. A única vice-presidência vaga é a de Varejo, Distribuição e Operações. A assessoria do BB informou que o cargo ainda não foi preenchido. Há uma semana, Marco Maia pôs na pauta de votação da Câmara projetos que desagradam o Executivo.

Ministros do PT também estiveram no jantar, como Alexandre Padilha (Saúde), Ideli Salvatti (Relações Institucionais), Gleisi Hoffmann (Casa Civil), Miriam Belchior (Planejamento) e Paulo Bernardo (Comunicações). A presidente falou ainda sobre a saúde do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Disse que os médicos pediram para não procurá-lo tanto em razão da recuperação de sua voz. "Foi um gesto simpático dela. Estava fazendo falta um "carinho da mamãe". Isso dá prestígio e repercurte dentro no governo", disse um dos presentes.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

PT montará estúdio para Lula fazer campanha

Objetivo é evitar desgaste com deslocamentos para gravações de apoio a aliados. São Paulo, Recife e BH são prioridades

Gustavo Uribe

SÃO PAULO . Com receio de ter o seu principal cabo eleitoral impedido de participar das campanhas municipais, sobretudo devido às sequelas do tratamento contra o câncer, o PT decidiu criar um estúdio para que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva marque presença nas propagandas eleitorais dos candidatos do partido. A estrutura, que incluirá câmera, iluminação e cromaqui (técnica de efeito visual), será instalada na sede do Instituto Lula, local onde o dirigente petista despacha, atualmente. O principal objetivo é evitar o desgaste físico de Lula no deslocamento a estúdios de produtoras.

Com uma irritação na garganta, o ex-presidente petista não compareceu, segunda-feira, ao 11º Congresso da Central Única dos Trabalhadores (CUT), o que acendeu um sinal vermelho na cúpula do partido. Um problema na perna esquerda, que está parcialmente sem mobilidade, levou Lula a tirar duas semanas de recuperação, período em que se prepara melhor para a disputa municipal.

Os detalhes finais sobre o aparato de vídeo e os custos do novo estúdio serão decididos na penúltima semana deste mês, quando o dirigente do partido voltará do descanso.

A direção do PT já recebeu, entre formais e informais, mais de cem pedidos de gravação com o ex-presidente petista. As solicitações foram feitas tanto por candidatos da sigla como de outras legendas coligadas ao PT. As gravações, que serão iniciadas em agosto, ficarão sob a responsabilidade do marqueteiro João Santana, que esteve à frente das campanhas da sigla para as sucessões presidenciais em 2006 e 2010.

Com a ajuda da direção do partido, o ex-presidente petista decidiu que sua participação será prioritária nas campanhas eleitorais de São Paulo, Belo Horizonte e Recife, disputas municipais que, na avaliação de lideranças da sigla, podem interferir no cenário eleitoral de 2014. Em março, quando esteve no Hospital Sírio-Libanês, o ex-presidente aceitou a convocação do prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, que o visitava, para subir em seu palanque durante a campanha à reeleição.

- Nós vamos instalar um equipamento, um estúdio, no Instituto Lula para que o ex-presidente não tenha de se deslocar para a produtora quando quiser gravar uma mensagem. Nós vamos pensar tudo para a comodidade dele - explicou o candidato do PT à prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad.

Em caminhada ontem, na Zona Sul da capital paulista, o ex-ministro petista informou que estuda promover carreatas para possibilitar a participação do ex-presidente em sua campanha eleitoral. Ele disse acreditar que a presidente Dilma Rousseff contribuirá com a sua campanha eleitoral já no primeiro turno.

FONTE: O GLOBO

Supremo grava íntegra da defesa de réus do mensalão

Juliano Basile

BRASÍLIA - Ao receber advogados de defesa dos réus do mensalão, ontem, a ministra Cármen Lúcia Antunes Rocha filmou-os.

O objetivo, segundo a assessoria da ministra, foi o de não perder a integridade das explicações dos advogados e de garantir que todos os seus argumentos ficassem devidamente registrados.

As filmagens no gabinete de Cármen Lúcia seguem uma prática iniciada pelo ministro Luiz Fux, que passou a gravar o áudio das conversas com os advogados dos réus do mensalão. A prática não é comum no tribunal, mas passou a ser utilizada nesse caso por causa da complexidade do processo. Ao todo, o mensalão tem mais de 50 mil páginas.

Para preparar os seus votos, ministros do STF destacaram grupos de assessores que os auxiliam. No caso de Cármen Lúcia, enquanto os advogados apresentavam a defesa, dois assessores faziam anotações constantes. A própria ministra tomou notas.

O presidente do STF, ministro Carlos Ayres Britto, também destacou dois assessores e um juiz auxiliar para ajudá-lo no processo do mensalão. Além de preparar o seu voto, Ayres Britto também está trabalhando para organizar o julgamento da melhor forma possível.

Nessa semana, o ministro determinou que cada um dos 38 réus do mensalão vai ter direito a um assento acrescido de mais três para os seus defensores. Ele qualificou a medida como de "operacionalização da logística de suporte às sessões". Com ela, 152 dos 246 assentos do plenário vão ser destinados para os réus e seus advogados.

Os advogados dos réus também vão ter crachás específicos para entrar no tribunal. Eles devem se credenciar entre 25 e 31 de julho, quando também vão receber uma cópia impressa do relatório da ação penal do mensalão, além de um folheto com as instruções definidas pelo STF para o julgamento.

A Corte também recebeu pedidos de advogados para utilizar programas como o "power point" na apresentação de suas defesas - algo inédito na história do Supremo.

A tendência de Ayres Britto é a de negar o pedido. A assessoria do ministro verificou que o regimento interno do STF fala que o advogado pode fazer sustentação oral para seu cliente, mas não diz nada sobre sustentação audiovisual.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

Favorecimento a governistas obstrui LDO

Caio Junqueira

BRASÍLIA - Um desacerto na condução da articulação política do governo e consequente manutenção da obstrução no plenário, pela oposição, impediu ontem a apreciação de medidas provisórias na Câmara dos Deputados e do projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) na Comissão Mista do Orçamento.

Após mais de 12 horas de obstrução, um longo plantão na liderança do governo da Câmara por parte da ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, e várias tentativas de acordo, coube ao DEM manter sua posição inicial e se recusar a votar qualquer matéria.

Eram quase 22h quando os oposicionistas PSDB e PPS e o "independente" PR aceitaram o acordo proposto pelo presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS): aprovar a LDO na Comissão de Orçamento ontem à noite e na manhã de hoje em sessão no Congresso, e deixar as MPs para a primeira semana de agosto. Faltava o DEM. Indecisos, seus correligionários consultaram, por telefone, o líder da bancada, ACM Neto (BA), que recusou a promessa de Maia de se mobilizar para que o acordo fosse cumprido.

Efetuado em uma reunião na semana passada entre o líder do governo, Arlindo Chinaglia (PT-SP), ACM Neto, e o líder do PSDB, Bruno Araújo (PE), o acordo oferecido pelo governo propunha a liberação de R$ 1,5 milhão em emendas parlamentares de diversos ministérios e mais R$ 1 milhão oriundos especificamente da Saúde, além de pagamento de restos a pagar.

Com isso, diminuiria-se a discrepância entre o que foi pago neste ano em emendas a aliados e à oposição, que ficou com apenas 0,58% do valor total dos convênios assinados pelo governo com os municípios. Mas o governo apenas aumentou alguns limites do que pode vir a ser liberado por algumas Pastas, sem identificar quais parlamentares serão beneficiados e sem qualquer alusão aos recursos da Saúde.

Foi o que deflagrou o protesto da oposição, com ajuda do PR. Desde cedo, eles se declararam em obstrução e impediram a votação de importantes MPs, como a que institui o Programa Brasil Maior, que desonera a folha de pagamentos de setores da indústria manufatureira.

Informada do cenário político desfavorável, Ideli foi ao Congresso para fechar um acordo. À essa altura, Chinaglia não mais se encontrava em Brasília, o que desagradou a ministra e surpreendeu alguns deputados. Para auxiliar nas negociações, Marco Maia foi chamado, assim como o líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN), e o vice-líder do governo, José Guimarães (PT-CE).

Mas não houve acordo. Segundo petistas, Chinaglia tinha viagem marcada para os Estados Unidos e havia avisado Ideli desse compromisso. Outros correligionários, porém, disseram que ele se irritou pelo fato de o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, não ter cumprido sua parte no acordo e liberado os recursos de sua área para a oposição.

Procurado, Chinaglia confirmou que viajaria e que Ideli já havia sido informada. Ele disse também ter participado de todas as reuniões e que quem efetivou o acordo para que as votações desta semana fossem realizadas foi ele. "O acordo foi feito na semana passada, mas acabou não sendo cumprido por questões burocráticas." A LDO precisa ser votada até terça-feira para o Congresso entrar em recesso. Se isso não ocorrer, a chance de a MP do Brasil Maior perder validade é grande.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

CNI prevê PIB de 2,1%

Rosana Hessel

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) acompanhou o mercado e anunciou ontem corte na projeção de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto, soma de toda a produção de riquezas) neste ano. O agravamento da crise na Europa e a ineficácia das recentes medidas do governo para estimular a economia por meio do aumento do consumo fizeram a entidade reduzir a estimativa de 3%, projetada em março, para 2,1% no informe conjuntural relativo ao segundo trimestre, divulgado ontem. O PIB da indústria, segundo a instituição, crescerá menos ainda: 1,6% em vez dos 2% previstos no relatório anterior.

"Essas estimativas estão mais realistas e mostram que as recentes medidas adotadas pelo governo não serão suficientes para ajudar a economia a retomar o crescimento e aumentar a competitividade da indústria", disse o economista-chefe da CNI, Flávio Castelo Branco. "Temos problemas de demanda, crédito e tributação, além da crise global. As ações que o governo vem tomando são corretas, mas de curto prazo. Elas precisam ser complementadas por iniciativas que reduzam os custos de produção", completou.

Nesse sentido, o economista vê com bons olhos os estudos do governo para reduzir os custos da energia para o setor produtivo. "Será uma medida de longo prazo, com efeitos significativos. A energia é um custo extremamente relevante para a indústria, mas, em função da tributação, é uma das mais caras do mundo. Isso prejudica a competitividade dos produtos nacionais", afirmou Castelo Branco. Cerca de 50% da conta de luz são de encargos e impostos, e a redução desse ônus é uma das reivindicações frequentes de industriais à presidente Dilma Rousseff.

Pelo menos três desses encargos podem ser extintos pelo pacote que deverá ser anunciado pela presidente no próximo encontro com empresários, provavelmente em 7 de agosto. Outra providência será a revisão dos contratos de concessão de hidrelétricas que devem ser renovados partir de 2014, visando ao barateamento das tarifas de energia.

No relatório divulgado ontem, a CNI elevou a previsão de taxa de câmbio para dezembro de R$ 1,80 para R$ 1,94. Apesar do dólar mais valorizado desde o início do ano, a entidade reduziu a estimativa de exportação de US$ 275,4 bilhões para US$ 263,2 milhões, ou seja, apenas 2,7% acima do valor embarcado em 2011.

Brasil ameaçado no Brics

Criador do termo Brics, que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, o presidente do Goldman Sachs Asset Management, Jim O"Neill, disse ontem que a posição do país no grupo pode ser questionada se o seu crescimento econômico não acelerar nos próximos anos. "O que acontecerá em 2012, em termos de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto), não é tão crucial. Mas, nesta década, o Brasil precisa recuperar uma taxa de crescimento mais forte rapidamente. Se isso não acontecer, então o poder do B no termo Brics começaria a parecer um pouco questionável", disse. Ele acredita que, mesmo com a desaceleração da atividade neste ano — o avanço deverá ser de, no máximo, 2% —, o crescimento médio da economia brasileira nesta década deverá ficar entre 4,5% e 5%.

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

Inadimplência cresce 19,1%

Convencidos a consumir para salvar a economia durante os governos Lula, em 2008, e Dilma, em 2011, os brasileiros enfrentam agora as consequências de ter assumido mais despesas do que tinham condições de pagar. Números divulgados ontem pela empresa de análise de crédito Serasa Experian mostram que a inadimplência no comércio acumula alta de 19,1% nos primeiros seis meses do ano, na comparação com o primeiro semestre de 2011.

Segundo divulgou a empresa, de cada 10 consumidores inadimplentes, seis acumulam dívidas superiores à renda familiar disponível. O efeito disso é que uma simples dívida em atraso pode desencadear uma série de novos calotes. "O que temos percebido é que o inadimplente tem em média quatro dívidas não honradas", disse o economista da Serasa Carlos Henrique de Almeida. Entre os tipos de débitos mais comuns acumulados pelos consumidores, os bancários foram os que mais pressionaram o orçamento: nesse item, a inadimplência cresceu 22,1%. Em segundo lugar, aparece a categoria "outras dívidas", que inclui despesas como água e luz, além de transações realizadas no crediário e nos cartões de crédito — aumento de 21,6%.

Endividamento

Os dois subgrupos compõem 90% do índice divulgado pela Serasa. Como consequência, essas dívidas acabam influenciando no endividamento das famílias. "Hoje, o comprometimento da renda do consumidor corresponde a 22% dos seus vencimentos", explica Almeida. O economista menciona que em países mais desenvolvidos, como Estados Unidos e nações europeias, esse montante chega a ser o dobro do brasileiro, mas pontua que, apesar disso, o custo desses consumidores com suas dívidas acaba sendo menor que no Brasil. "É preciso levar em conta que nossos prazos para financiar as dívidas são menores, e o custo dos juros para pagá-las, muito maior", ressaltou. (DB)

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

Morte política:: Merval Pereira

O ex-senador Demóstenes Torres já chegou nessa condição à tribuna do Senado quando fez sua defesa final antes da votação. O erro do site do Senado, que antecipou em algumas horas a cassação do senador, é um dos mais comuns em jornalismo, mas desta vez traduzia uma certeza interna.

Prepara-se uma matéria com o resultado mais provável e aguarda-se o momento certo para divulgá-la, bastando para isso apertar um botão. É a competição da notícia em tempo real que faz com que erros como esse aconteçam com certa frequência depois da chegada da internet.

O que impressionou na sessão de ontem do Senado foi o clima de expiação que a cercou, o que levou um político não identificado a defini-la como "o velório de quem já estava morto politicamente".

E não era apenas Demóstenes Torres o morto político, mas o próprio Senado Federal, mesmo tendo tomado a decisão que coincidiu com o anseio da opinião pública, como vários senadores ressaltaram, na tentativa imediata de recuperação de imagem.

A fala rude do senador Mario Couto pode não ter sido a mais bonita, nem a mais apropriada para um momento de constrangimento generalizado, mas tocou na ferida, refletindo o sentimento no Senado. "Não há moralidade nesta Casa", apontou o senador, que, aliás, já confessara, no decorrer do processo, que trabalhou para um bicheiro antes de entrar na política.

Cassar o senador Demóstenes Torres foi apenas o cumprimento de uma obrigação dolorosa para alguns, mas também a oportunidade de muitos se vingarem do "falso moralista", que ontem, pateticamente, pediu perdão pelo "dedo em riste" de ontem.

Mas não devolverá ao Congresso a respeitabilidade perdida em muitas manobras corporativas, em inúmeras maracutaias e, sobretudo, na impossibilidade de se impor como parte fundamental do xadrez político. Quando o faz, quase nunca está defendendo conceitos, programas, teses, mas interesses classistas ou medidas populistas, que podem ser trocados por favores palacianos.

Houve indiscutível progresso com a sessão de ontem sendo transmitida ao vivo pela TV Senado, e aberta ao público nas galerias, ao contrário do que aconteceu em 2007, quando o senador Renan Calheiros foi absolvido em uma votação apertada: 40 a 35, com seis abstenções.

Naquela ocasião, numa decisão arbitrária, a presidência do Senado usou o fato de a votação ser secreta para fechar a sessão aos olhos da opinião pública.

O senador Demóstenes Torres, em plena vigência de sua "persona" de defensor da moral e da ética na política, abriu seu voto a favor da cassação de Calheiros, que ontem acompanhou seu discurso de tentativa de defesa em pé no plenário.

Desta vez, não apenas a sessão foi completamente aberta como se realizou sob a égide do fim do voto secreto, que está sendo decidido no Congresso.

Há, aparentemente, o entendimento no Senado de que os limites da imoralidade estão sendo atingidos, o que faz com que o Congresso como um todo seja mal visto pela opinião pública.

Vários foram os senadores que defenderam o voto aberto para as cassações de mandatos, e outros usaram as redes sociais, como o Twitter, para abrir seus votos.

A defesa do senador Demóstenes Torres variou de tom, entre o técnico e o emocional, em alguns momentos ainda beirando a arrogância, sem encontrar o ponto certo desde o primeiro instante em que foi flagrado em conversas comprometedoras com o bicheiro Carlinhos Cachoeira.
Quando subiu à tribuna para explicar os presentes que recebera do bicheiro pelo seu casamento - um fogão e uma geladeira - o senador Demóstenes garantiu a seus pares que não havia mais nada ligando ele a Cachoeira.

Os presentes, diante do que se ouviu, parecem hoje brincadeira de criança, assim como o rádio Nextel. Mas, enquanto os presentes poderiam refletir uma relação de amizade questionável, mas não necessariamente criminosa, o rádio registrado em Miami é a prova de que sua relação com o bicheiro era mais do que uma simples amizade descompromissada.

O que se comprovou com a gravação do dia 22 de abril de 2009, quando Demóstenes e Cachoeira conversam sobre a tramitação de um projeto que criminaliza o jogo ilegal, mas que, segundo o contraventor, daria margem também à legalização das loterias estaduais.

Em 2002, o então senador Maguito Vilela apresentara o projeto de lei, que foi aprovado por voto de liderança no Senado e, àquela altura, estava tramitando na Câmara.

Cachoeira pede que Demóstenes se empenhe junto ao então presidente da Câmara, Michel Temer, para pôr em votação o projeto, que classifica de "interessantíssimo". Uma semana depois, a 29 de abril, os dois voltam a conversar sobre o mesmo tema, e Demóstenes pergunta: "Que importância tem a aprovação disso?" Cachoeira: "É bom demais, mas aí também regulamenta as estaduais."

O senador explica ao contraventor que o projeto de lei não regulamenta nada, que essa será uma segunda etapa, depois de o projeto ser aprovado. E adverte Cachoeira de um problema: "O que tá aprovado lá é o seguinte: transforma em crime qualquer jogo que não tenha autorização. Então inclusive te pega, né ?"

Nesse simples diálogo, estão provadas duas das mais graves acusações contra o agora ex-senador Demóstenes: que ele pôs seu mandato a serviço do bicheiro, e que ele sabia, sim, que Cachoeira continuava na contravenção.

A cassação de Demóstenes Torres, além de ser a decisão justa diante da opinião pública, representa apenas um primeiro e tímido passo do Congresso na busca da credibilidade perdida.

FONTE: O GLOBO

De rei a cão sarnento :: Eliane Cantanhêde

"Cai o rei de espadas, cai o rei de ouros, cai o rei de paus, não fica nada", dizia Ivan Lins nos anos 1970, repetiu ontem Demóstenes Torres, o segundo senador cassado pelos seus pares em 188 anos.

Estava sendo contraditório. Se ele é "bode expiatório", como diz, não vai cair mais nenhum rei, nem de ouros nem de paus. Tudo como dantes.

Ontem mesmo, a Câmara começou a inocentar os deputados envolvidos de alguma forma nesse esquemão do Cachoeira que inundava o Centro-Oeste e respingava em toda parte. Só sobrou o tucano Carlos Alberto Lereia para contar a história - e ser julgado pelo Conselho de Ética.

Demóstenes, porém, não é só um rei a mais no castelo de cartas que começou a ruir em 29 de fevereiro, com a prisão de Cachoeira e a profusão de fitas. É um rei muito especial. Quanto mais alto, maior é o tombo. Demóstenes desabou do trono.

Como procurador, foi presidente do Conselho Nacional dos Procuradores Gerais de Justiça. Como senador, presidiu a poderosa Comissão de Constituição e Justiça. Filiado ao DEM, era líder do partido no Senado e potencial candidato a vice-presidente da República.

E, como arauto da ética e da moralidade, conquistou respeito e simpatia até mesmo no Supremo e na imprensa. Mas, ao ser cassado, era um ser absolutamente solitário -"cão sarnento". Tudo tinha, nada tem.

Se Renan, Sarney, ACM e Jader tiveram suas tropas de choque, Demóstenes morreu só e seu enterro foi sem choro nem vela. Nem ira nem comemoração, só silêncio. Desolador.

Demóstenes se vai e a CPI tende a ir atrás da campanha municipal, de palanques e holofotes, já que "a justiça foi feita" e o bode já expiou sua culpa. O resto? Deixa a polícia fazer. Reis, rainhas, cavalos e torres vão continuar deslizando em segurança no tabuleiro, até surgirem outros Demóstenes, outros Luiz Estêvão. Vai demorar. Caiu uma peça, vem o suplente aí. E o jogo continua.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Léguas a percorrer:: Dora Kramer

A cassação do mandato de Demóstenes Torres obviamente não piora, mas também não melhora a imagem do Senado que encerrou a carreira política de um de seus pares sem, contudo, quitar a imensa dívida que acumula com a sociedade.

Em pé, de braços cruzados, acompanhando a sessão com um quase imperceptível sorriso no rosto, Renan Calheiros era a materialização de uma evidência: Demóstenes não caiu em decorrência do rigor ético dos senadores, mas por um conjunto de circunstâncias para ele adversas.

Se o critério predominante fosse o zelo ao decoro parlamentar, Calheiros não teria assistido à cena em posição tão privilegiada

Assistiu porque foi absolvido a despeito de ter tido contas particulares (a pensão da filha) pagas por um lobista de empreiteira, de ter mentido apresentando a seus pares documentos falsos na hora da defesa.

Descontados os detalhes, na essência comportamento tão indecoroso quanto o de Demóstenes, cuja situação se diferenciou basicamente por dois fatores: ausência da rede de proteção – no caso de Renan extensiva do Palácio do Planalto à sustentação de um partido de peso imenso (PMDB) passando pelo receio reverencial de senadores intimidados – e a contradição entre o personagem que encarnava e as ações ocultas que executava.

Ativos importantes com os quais não contou o agora ex-senador. Disso, aliás, deu notícia em seu pronunciamento final recheado de sofismas. Numa desassombrada conversão à lei não escrita da boa convivência na Casa assumiu o que na visão dele foi seu "único erro". Qual? Ser "intolerante" com os demais, perceber que não vale a pena "buscar a fama" em cima do defeito alheio. Pediu perdão aos que "levianamente" ofendeu e a todos aconselhou: "Não entrem por esse caminho".

Como legado do processo deixa uma lição. A austeridade, ainda que estudada e presumida, não compensa.

Certamente não foi essa a intenção, mas quando se viu perdido por um Demóstenes Torres perdeu-se por mil, confessando que seu rigor ético era mesmo artificial, que almejava com ele notoriedade e que deveria ter-se preocupado menos com as causas que defendeu ao encarnar doutor Jekyll e mais com a tessitura dos laços de amizade que garantiriam proteção à sua face mister Hyde.

Foi-se Demóstenes, mas ficou o Senado às voltas com seu passivo. Suas excelências têm desde já uma chance de escolher se o aumentam ou o reduzem na decisão sobre o que fazer com o suplente do senador cassado.

Se valer o critério aplicado ao suplente de Joaquim Roriz, Gim Argelo, Wilder Pedro de Morais será recebido de braços abertos, não obstante seja acusado de ocultação de patrimônio à Justiça Eleitoral e tenha relações notórias com Carlos vulgo Cachoeira.

Calendas. Se já era difícil a Câmara dar continuidade ao trabalho do Senado que aprovou o fim do voto secreto, a cassação de Demóstenes Torres torna a hipótese ainda mais remota.

Saciados os apetites, arrefecerão as pressões e prevalecerá a alegação de que o voto sigiloso, afinal, não foi obstáculo para a cassação.

Lacuna. Lula, CUT, UNE e os demais sócios da versão de que em 2005 não houve um escândalo que revelou a existência de um esquema de cooptação de partidos e desvio de dinheiro público, mas um golpe "das elites" para derrubar o então presidente, todos incorrem em falha grave de roteiro.

Se não houve fatos, por que não denunciaram a conspiração? Lula, por exemplo, pediu desculpas. Isso antes de ir à televisão propagar a história de que o PT fez o "que todo mundo faz" e de usar a autoridade presidencial para defender o crime eleitoral como atividade corriqueira perfeitamente aceitável.

Daí a extemporaneidade das ameaças de manifestações contrárias ao curso (sem que se saiba qual será) do julgamento do processo do mensalão no Supremo Tribunal Federal.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Com quantas cabeças se faz um partido:: Cristian Klein

A intervenção feita pelo presidente nacional do PSD, o prefeito de São Paulo Gilberto Kassab, no comando da legenda em Belo Horizonte provocou esta semana o primeiro racha público da recém-criada sigla e expôs a face do autoritarismo sempre citado mas pouco combatido nos partidos brasileiros.

Em apoio a dois amigos mineiros revoltados - o ex-ministro e agora ex-segundo vice-presidente nacional do PSD, Roberto Brant, e o deputado federal Marcos Montes - a senadora Kátia Abreu (TO), primeira vice-presidente do partido, abriu dissidência contra Kassab, que vem reinando de forma praticamente absoluta no PSD, sem contestação.

Kassab montou o partido à sua imagem e semelhança e amarrou o balaio de meia centena de deputados federais e suas bases de prefeitos e vereadores como manda a prática: dá-lhes comissões provisórias.

Kassab montou o PSD à sua imagem e semelhança

Como se sabe, as comissões provisórias são o modo mais frágil de organização partidária. Podem ser dissolvidas pela instância superior ao menor sinal de rebelião. O PSD em Belo Horizonte estava organizado assim. Com a resistência do secretário-geral na capital mineira, o secretário estadual de Gestão Metropolitana, Alexandre Silveira, em mudar de lado e apoiar o candidato do PT, o ex-ministro Patrus Ananias, Kassab não titubeou. Derrubou a direção e nomeou uma comissão interventora, com amplos poderes de atuação por 60 dias.

Silveira é ligado ao grupo do governador Antonio Anastasia e de seu padrinho político, o senador Aécio Neves, que apoiam a reeleição do prefeito Marcio Lacerda (PSB). O secretário protocolou no cartório eleitoral a ata da convenção do PSD que decidiu, no dia 23, pela coligação com Lacerda. A comissão interventora, dirigida pelo presidente estadual do partido, Paulo Simão, registrou o apoio ao petista Patrus Ananias. Como são dois documentos, cabe agora ao juiz eleitoral determinar o que valerá em BH, aumentando as feridas abertas.

"A Justiça eleitoral entende que dentro do período convencional [de 10 a 30 de junho, quando são realizadas as convenções partidárias para homologar as candidaturas] não cabe intervenção. Se não cabe neste período, muito menos no período de registro, quando as decisões já foram tomadas", afirma Alexandre Silveira, que se disse surpreso com a mudança de opinião de Paulo Simão.

Ele conta que na segunda-feira, 2, logo após o rompimento entre PT e PSB na capital mineira, o presidente estadual do PSD também estava no grupo de deputados que foram ao gabinete do prefeito "hipotecar" o apoio a Lacerda.

"Paulo Simão não disputa voto, não tem mandato. Quando ele foi apontado como o presidente do partido no Estado, nós deputados fizemos gentilmente uma concessão, que agora me questiono se foi correta", diz Silveira.

Presidente da Câmara Brasileira da Construção Civil (CBIC), Paulo Safady Simão não é político profissional, mas está entre os homens de confiança de Gilberto Kassab. Nos Estados, o prefeito de São Paulo concedeu a seus escolhidos o direito de formarem o partido por meio de uma organização mais sólida. É o que Roberto Brant caracterizou em entrevista ao Valor como "regime de baronato". Das 27 unidades da federação, 23 delas - à exceção de Amapá, Maranhão, Pará e Rio Grande do Sul - estão constituídas como diretórios.

Nos municípios, no entanto, os diretórios são uma raridade e correspondem a apenas 10% do total de quase 4.700 cidades onde o PSD está presente. É um índice que afasta em muito o partido das siglas maiores, como PT e PMDB - que chegam a ter mais de 72% de diretórios municipais - e o PSDB, que tem 55%, de acordo com levantamento já publicado pelo Valor.

As comissões provisórias são previstas pela legislação como modo de organização para os partidos começarem a se estruturar. Mas acabam por se tornar permanentes e dão um bom indicador da maior ou menor democracia interna. Legendas mais antigas, como PTB (81%), PR e PV (ambas com 98%), ainda se constituem essencialmente por comissões provisórias. Não à toa, são presididas por políticos tidos como "donos" destas siglas, como o ex-deputado cassado no escândalo do mensalão Roberto Jefferson (PTB), o deputado e réu no mesmo escândalo Valdemar Costa Neto (PR) e o deputado José Luiz Penna, do PV, de onde saiu a ex-senadora Marina Silva, por falta de espaço político, mesmo depois de obter quase 20 milhões de votos na eleição presidencial de 2010.

É o grupo ao qual se junta agora o PSD de Kassab, com 90% de comissões provisórias.

Há quem considere que este tipo de organização é uma necessidade das siglas menores, pois centraliza e favorece a coordenação estratégica na negociação com os maiores partidos.

Se for assim, é possível que o destino do PSD - que já nasceu como quarta maior legenda brasileira - seja dar liberdade a suas instâncias locais e voz a uma gama maior de líderes. Esse é o significado do grito dos mineiros e de Kátia Abreu. Partido grande não tem como ficar confinado ao arbítrio de um único operador. Ou corre o risco de atrofiar.

Brant e Kátia Abreu criticaram Kassab por não ter convocado a direção nacional uma única vez em mais de um ano. O PSDB reúne sua executiva nacional a cada dois meses, de acordo com seu presidente, o deputado Sérgio Guerra (PE); a cúpula do PMDB encontra-se mensalmente; e a do PT, que tem 20 dirigentes, chega a se reunir até semanalmente, em períodos eleitorais, com uma descentralização que procura agendar cerca da metade dos encontros em São Paulo e o restante em outras capitais. A frequência do diretório nacional, que tem 84 integrantes, é trimestral.

É fato que, em termos de centralização, o PT deu uma inflexão neste ano. Aprovou uma resolução que concedeu à executiva o direito de homologar as candidaturas em cidades com mais de 200 mil eleitores. Foi isso que permitiu tirar da disputa o prefeito do Recife, João da Costa. E deu no que deu. Questionado sobre a medida, o líder do partido na Câmara, Jilmar Tatto, afirmou que a executiva do PT sempre exerceu a função de um Leviatã, cuja soberania agora foi sacramentada. Mas um cacique com 20 ou 84 cabeças será sempre mais democrático que a de um único iluminado.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

Engasgou:: Celso Ming

O tombo inesperado do consumo nacional em maio, conjugado com a forte expansão do calote, parece mostrar que a atual estratégia de política econômica do governo, baseada no estímulo ao consumo, está fracassando. O problema é que a opção é puxar pelo investimento, algo que o governo não vem conseguindo fazer.

O consumo em maio – um dos meses nobres para as vendas de varejo, por incluir o Dia das Mães – caiu 0,8% em relação a abril, um mês carregado de feriados e, portanto, em princípio, comercialmente mais fraco.

Ainda é cedo para concluir que esse desempenho ruim aponta para uma tendência firme de desempenho também medíocre no segmento que até agora vinha bem. No entanto, esse recuo vem acompanhado de prolongada estagnação da indústria. E, agora se sabe, o indicador da Serasa Experian indica uma alta na inadimplência de nada menos que 19,1% no primeiro semestre deste ano em relação ao primeiro semestre do ano passado.

Na média, analisa a Serasa, "cada inadimplente carrega quatro dívidas não honradas e 60% dos inadimplentes têm dívidas acima de 100% da renda".

Essas agravantes sugerem que a expansão do crédito, instrumento fortemente acionado pelo governo para empurrar o consumo nessa conjuntura de crise global, esbarra em pronunciadas limitações técnicas. O governo Dilma já se deu conta de que os nove pacotes anticíclicos, destinados a estimular as vendas, não vêm reativando a produção e podem já não ter capacidade para puxar a demanda. Por isso, entendeu que devesse atuar na ponta dos investimentos. A Petrobrás está sendo cobrada para tocar mais agressivamente seu programa de negócios e o próprio governo, informa a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, se prepara para acionar os investimentos.

O problema é que esta administração vem dando demonstrações seguidas de deficiência gerencial. Como o jornalista Rolf Kuntz mostrou na sua coluna desta quarta-feira no Estado, os desembolsos do Tesouro no primeiro semestre deste ano corresponderam a apenas 21% do total previsto no Orçamento.

O PAC continua empacado, excessivamente concentrado em programas habitacionais. E a Petrobrás, de quem se esperam investimentos de US$ 236,5 bilhões nos próximos quatro anos, reconhecidamente vem se apresentando como contumaz furadora de cronogramas. Afora isso, o governo vem sendo incapaz de dar agilidade à concessão de licenciamentos ambientais.

Esses e tantos outros indicadores mostram que sobram dúvidas sobre a eficiência de uma provável mudança de ênfase nas políticas de estímulo, do consumo para o investimento.

O biólogo francês do século 19 Jean Lamarck se notabilizou por enunciar a tese evolucionista segundo a qual "a necessidade cria o órgão". Pois o governo Dilma enfrenta inadiável necessidade de mostrar serviço na área econômica e ainda tem tempo de virar o jogo adverso. Quem sabe essa cobrança possa ajudar a mudar a direção e, sobretudo, a qualidade de sua administração.

Confira

Os juros básicos (Selic) de 8,0% ao ano constituem o novo piso histórico. O gráfico mostra a trajetória da política monetária, incluído o corte de 0,5 ponto porcentual, decidido nesta quarta-feira.

Sem surpresa. Nenhuma surpresa no passo dado nesta quarta pelo Copom. Se o consumo baquear, como os novos números do IBGE podem indicar, o Banco Central poderá afrouxar ainda mais sua política monetária. O comunicado oficial no início da noite não deu indicações de mudanças futuras de ritmo. É preciso esperar para a divulgação da Ata do Copom, na próxima quinta-feira, para ter melhor indicação.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Novo pibinho:: Míriam Leitão

A economia está bem fraquinha. O novo corte de juros de 0,5 ponto percentual, decidido ontem pelo Banco Central, era necessário, mas não é suficiente para garantir um resultado maior. A redução que o governo deve fazer na previsão de crescimento do PIB nos próximos dias - para um nível de 2,7% a 3% - é considerada irrealista pelo mercado. O mais provável é um resultado este ano menor do que o do ano passado. Por isso, a previsão é de novos cortes nos juros.

A inflação também está em forte queda. Isso justifica a redução dos juros para 8%, decidida ontem, e abre espaço para novas diminuições da taxa Selic. Ao fim da reunião do Copom em maio, a aposta mais comum era de que havia pouco espaço para novas quedas. Poucos acreditavam que os juros pudessem ficar abaixo de 8%. Até pela insistente palavra "parcimônia" que começou a aparecer sem nenhuma parcimônia nos comunicados do Banco Central.

Depois da redução da inflação, que chegou a 0,08% no último índice divulgado, acredita-se que os juros possam chegar a 7%. Neste ponto é um excelente quadro: juros em recorde histórico de baixa e inflação caminhando para o centro da meta.

O que atrapalha a boa notícia é o crescimento. Ele está baixo e emagrece a cada nova revisão dos dados. O Banco Central já avisou que trabalha com o cenário de 2,5%. A pesquisa feita pelo BC no mercado indica um pessimismo maior, a média está em torno de 2%. Mas várias instituições estão revisando o número para um patamar abaixo disso. É o caso da consultoria Tendências, que prevê 1,9%.

A conta feita pelo economista Juan Jensen é simples: como o país teve um resultado muito fraco no primeiro trimestre (de 0,2%) e pode ter apenas 0,5% no segundo trimestre, terá que crescer numa média de 1,3% no segundo semestre, para chegar ao número previsto. O Brasil tem que acelerar no fim do ano para compensar o resultado baixo do começo. O diretor da Tendências, Gustavo Loyola, acha que parte desse resultado fraco é consequência de fatores internos.

- Nem tudo é resultado da crise internacional. O Brasil está com dificuldade de crescimento mesmo. O investimento público não está sendo realizado e o privado tem sido adiado ou cancelado.

O crescimento induzido por pacotes de reduções de impostos e por incentivo ao endividamento tem dado sinais de esgotamento. Isso é o que todo mundo acha, menos o governo.

O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, em entrevista à "Folha de S.Paulo" neste fim de semana criticou o pessimismo do empresário - mais especificamente a sua ciclotimia - pelo baixo crescimento. Por que será que ele está pessimista?

Não há uma agenda de modernização em curso; não há conversa com empresário da qual não surja uma história surrealista sobre a demora e a falta de lógica dos trâmites burocráticos no Brasil.

Esta semana, numa conversa com a presidente da Boeing do Brasil, Donna Hrinak, quis saber por que as empresas de transporte aéreo de passageiros reclamam de resultados ruins, se o movimento aumentou muito. Ela respondeu que um dos motivos é que o custo de reposição é alto demais. A importação de peças é tão burocrática que as companhias têm, às vezes, que ficar uma semana com avião no solo, o que é um custo gigantesco. Para resolver isso, elas têm que ter estoque de peças, o que também é irracional no mundo do "just in time". Bom, não explica tudo, mas é um exemplo de como o Brasil está precisando buscar a eficiência.

O próprio Coutinho fez uma lista do que é necessário para o país crescer mais que tem pontos indispensáveis, como investimento em inovação. Resta a dúvida sobre o que há de inovador em certas apostas bilionárias feitas pelo BNDES.

O "Financial Times" publicou esta semana uma reportagem sobre o Brasil falando exatamente do peso estatal na economia - a carga tributária brasileira é dez pontos percentuais mais alta do que a da Coreia do Sul - e de como é baixo o índice de aumento de produtividade. Tudo isso tem tirado fôlego da economia. Nada disso se resolve com os pacotes curativos feitos em série pelo governo.

O grande problema não é, portanto, o fato de o Brasil crescer pouco em 2012. Isso está dado. O resultado será fraco. Mas o país tem chances de ir virando o jogo até o fim do ano e, mesmo com um resultado estatístico ruim, estar num ritmo de crescimento de 4% no fim de 2012. A dúvida é se conseguirá manter esse nível por muito tempo.

O ministro Guido Mantega disse, recentemente, em tom de autoelogio, que o país mudou de modelo de crescimento. Agora é câmbio desvalorizado, uma meta de juros e incentivos ao crédito e a alguns setores empresariais. Esse modelo, se é que se pode chamar assim, deixa solta a ponta da inflação. Passa a ser derivada de outras metas do Banco Central. O índice ficou baixo este ano, porque o país cresceu pouco. Mas o ideal é ter inflação baixa com crescimento alto.

O teste dessas mudanças passa a ser 2013, quando se espera que o país tenha um ritmo maior do que o dos anos de 2011 e 2012, que será um biênio de resultado pífio.

A crise externa atrapalhou bastante o Brasil, mas virou uma espécie de grande desculpa do governo para o seu desempenho. A crise explica metade do resultado ruim do ano. Falta explicar a outra metade.

FONTE: O GLOBO

Contra a OEA, Patriota insiste em punições ao Paraguai

O ministro Antonio Patriota (Relações Exteriores) defendeu sanções ao Paraguai na OEA e declarou que o secretário-geral, Miguel Insulza, não fala pela organização ao se declarar contra qualquer punição ao país. Ao tratar do assunto em audiência pública no Senado, Patriota afirmou que o governo brasileiro está trabalhando na OEA em conjunto com os outros países da Unasul e levará para a reunião, na quarta-feira, a mesma posição adotada em junho, quando foi decidida a suspensão do Paraguai do bloco

Patriota diz que Insulza não fala pela OEA e defende punições ao Paraguai

Lisandra Paraguassu

BRASÍLIA - O chanceler brasileiro, Antonio Patriota, defendeu ontem sanções ao Paraguai na Organização dos Estados Americanos (OEA) e disse que o secretário-geral, José Miguel Insulza, não fala pelos países da região ao se declarar contra uma punição a Assunção.

Ao tratar do assunto ontem no Senado, Patriota afirmou que o governo brasileiro trabalha na OEA em conjunto com os países da União das Nações Sul-americanas (Unasul) e levará para a reunião no dia 18 a mesma posição adotada em junho, quando suspendeu o Paraguai do Mercosul.

"As opiniões de Insulza não constituem uma posição da OEA. É a posição do secretário-geral", afirmou o chanceler. "Entre os países membros ainda estamos em fase deliberativa. O Brasil trabalha com os países da Unasul, cuja coordenação está a cargo do Peru nesse momento, e mantém as mesmas posições."

A Unasul também suspendeu o Paraguai no dia 29, em reunião realizada na Argentina. Uma eventual suspensão na OEA seria o último ato de isolamento do Paraguai depois do impeachment do presidente Fernando Lugo, no dia 22.

Insulza, que esteve em Assunção na semana passada, apresentou ontem seu relatório aos membros da OEA e defendeu que não haja sanções. O secretário-geral afirmou que suspender o Paraguai não contribuiria para o fortalecimento da democracia e traria problemas econômicos ao país. "Não nos esqueçamos que há uma situação de normalidade política, social e econômica, que é conveniente preservar", afirmou Insulza.

Apesar de considerar que a rapidez do impeachment levanta dúvidas, o secretário-geral avalia que o processo foi legal. Mesmo que os 11 membros da Unasul mantenham a posição unânime de suspender o Paraguai, a medida tem poucas chances de prosperar na OEA. Qualquer decisão desse tipo precisa ser tomada por consenso e, apesar do apoio de outros países, como Haiti, República Dominicana e Panamá, dificilmente a suspensão será aceita por todos os 34 membros da OEA.

Anteontem, após a apresentação de Insulza, a única decisão tomada foi a de deliberar sobre o caso no dia 18. Patriota, mesmo criticado por vários senadores, voltou a defender a suspensão do Paraguai do Mercosul e da Unasul. Ele lembrou que não foi uma decisão isolada do Brasil, mas sim dividida entre países de perfis ideológicos distintos, como Chile e Colômbia. "Era preciso defender o compromisso democrático. Na região, não há mais espaço para aventuras antidemocráticas", disse.

O chanceler não se mostrou tão seguro, porém, ao defender a entrada da Venezuela no Mercosul. Criticado até por senadores da base aliada, Patriota disse que há tempos se discutia a entrada de Caracas, mas ele não explicou por que Brasil, Argentina e Uruguai aproveitaram a suspensão do Paraguai para aprovar a adesão venezuelana.

Dilma se irritou com instituição

As relações entre o governo Dilma Rousseff e a Organização dos Estados Americanos (OEA) são tensas desde que a instituição hemisférica solicitou, em abril de 2011, a "imediata suspensão" da construção da Usina de Belo Monte. O pedido foi feito pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos, órgão de defesa das liberdades civis e políticas no continente. À época, o Itamaraty disse ter ficado "perplexo" com a decisão. Desde então, o governo Dilma não tem embaixador na OEA.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO