sábado, 30 de março de 2013

OPINIÃO DO DIA- Fernando Gabeira: quebrar a hegemonia perversa

Lula fazia discursos contra o amoralismo do capital, a influências das empreiteiras, e aquelas frases de comício: um sonho sonhado junto não é sonho... Confesso que aplaudia e admito uma dose de romantismo incompatível com a minha idade. Muitos ídolos do rock, pelo menos, morreram de overdose. Na esquerda brasileira, passaram a trabalhar para a Delta ou viajar a soldo da Odebrecht.

O governo costuma dizer que a oposição mais consistente é a da imprensa. Essa é sua desgraça e sua sorte. O incessante turbilhão das notícias obriga a imprensa a mover-se sem parar para cobrir o que acaba de acontecer. Sobra pouco tempo para retirar esqueletos do armário e voltar aos personagens de nomes bizarros que povoam os escândalos nacionais. A única maneira de quebrar a hegemonia perversa que contribuiu para devastar moralmente o Congresso, estreitar nossa política externa, confinar a economia nos limites do consumismo é fortalecer uma oposição real. Ela não se pode ater ao horizonte de uma só eleição. Precisa trabalhar todos os dias, imediatamente após a contagem dos votos.

A única arma à nossa disposição é o voto. A ausência de uma oposição organizada e aguerrida é uma lacuna. Quando há uma base social para a oposição, dizem os historiadores, ela acaba aparecendo dentro do próprio governo. E aparece discreta, suave, como discretos e suaves são os que se lançam agora diante da milionária máquina topa-tudo do PT.

Fernando Gabeira, jornalista. ‘Deus está vivo e bem no Morro do Bumba’. Estado de S. Paulo, 29/3/2013.

Manchetes de alguns dos principais jornais do País

O GLOBO
Iphan preserva invasões no Jardim Botânico
Institutos acumulam problemas
Produção de óleo da Petrobrás cai
Corte de US$ 85 bi muda a vida nos EUA

FOLHA DE S. PAULO
'Grampo só em último caso', diz diretor da PF
Segurança mata menino que nadava em haras paulista
Recusa de PMs em socorrer jovens provoca revolta
Coreia do Norte diz estar em 'estado de guerra' com vizinha
Arquivo de SP libera 1 milhão de papéis da ditadura em site

O ESTADO DE S. PAULO
Governo vai prorrogar redução de IPI para carros
Dilma baseará campanha em tripé de energia, juros e comida
Pasta de Portos reabre apuração
China e Rússia advertem a Coréia do Norte

ESTADO DE MINAS
Onde mora o perigo
Venda de pílula terá maior rigor
Nova lei exige revisão do orçamento familiar
Líderes do PMDB e do PR sustentam Feliciano

O TEMPO (MG)
Aécio planeja choque de gestão para "profissionalizar" PSDB
Franquias descobrem terreno fértil para crescer em Minas
Papa Francisco celebra sua primeira Sexta-Feira Santa
Norte-coreanos fazem ato de apoio a ameaça aos EUA

CORREIO BRAZILIENSE
Quem segura Feliciano na comissão
Montadoras vencem: IPI de carro será congelado
O vale-tudo das tarifas bancárias

GAZETA DO POVO (PR)
Lazer consome 13% do orçamento das famílias de Curitiba
Obras serão entregues a dois meses da Copa
Proposta acaba com coligações nas eleições proporcionais
Liderança apartidária vira aposta para evitar novas eleições na Itália

ZERO HORA (RS)
Humildade franciscana

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Feliciano, agora, desafia a presidente
Países ricos têm leis específicas para domésticas

Dilma baseará campanha em tripé de energia, juros e comida

Um "tripé" de energia, comida e juros será a base da campanha da presidente Dilma Rousseff a reeleição em 2014. Esta linha já estará presente no programa de televisão do PT, a ser exibido em 9 de maio, informa Vera Rosa. Estratégia é mostrar que a desoneração da cesta básica, a queda dos juros e a diminuição do preço da energia fazem parte de um pacote para promover a distribuição de renda e transformar o Brasil em um país de classe média. Dilma avalia já ter marcas próprias para exibir na propaganda eleitoral. O pré-candidato do PSDB, Aécio Neves, disse que o governo tem muitos problemas e as bases da estabilidade "estão ameaçadas".

Juros, energia e comida serão tripé do projeto reeleitoral de Dilma em 2014

Vera Rosa

BRASILIA - A campanha da presidente Dilma Rousseff à reeleição, no ano que vem, será ancorada por um tripé de apelo popular, "traduzido" pelo Palácio do Planalto como "energia/comida/juros". A um ano e meio da disputa, o marketing eleitoral dita a agenda da presidente e vai embalar o programa do PT, a ser exibido em rede nacional de TV no dia 9 de maio.

Cortes de impostos, queda dos juros e redução da conta de luz terão destaque no cardápio petista para o segundo mandato de Dilma, se tudo correr como o script previsto pelo Planalto. A estratégia é mostrar que a desoneração dos produtos da cesta básica, a tesourada nos juros, hoje em 7,25% ao ano, e a diminuição do preço da energia elétrica fazem parte de um pacote para promover a distribuição de renda e transformar o Brasil em um país de classe média.

Dilma avalia que já tem marcas próprias de governo para exibir na propaganda eleitoral, além dos projetos herdados do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ela tem conversado com o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, sobre a evolução do modelo que, a seu ver, criou um mercado de massas a partir de um "ciclo virtuoso", com aumento dos investimentos, do emprego e do crédito.

"Esse tripé dará as condições para a consolidação da imagem de Dilma e a manutenção da vantagem dela na eleição de 2014", afirmou o deputado Paulo Teixeira (SP), secretário-geral do PT.

A última pesquisa Ibope, feita em parceria com o Estado, confirmou o resultado de sondagens encomendadas pelo marqueteiro João Santana, consultor de Dilma, e reforçou a estratégia presidencial. Realizado entre os dias 14 e 18 deste mês, o levantamento indicou que as aparições de Dilma na TV, anunciando cortes de impostos e tarifas, renderam a ela nove pontos a mais desde novembro.

Se as eleições fossem hoje, a presidente venceria no primeiro turno. Na pesquisa Ibope, ela tem 76% de potencial de voto, o que representa um eleitorado três vezes maior do que a soma de todos os seus adversários.

"O governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), não conseguiu dividir a base aliada e está piscando para a oposição", ironizou o secretário-geral do PT, numa referência ao possível rival de Dilma, em 2014. "Eu não vou entrar nesse rame-rame eleitoral agora", garantiu Campos. "Cada um tem o seu relógio."

Em conversas reservadas, o governador tem dito não confiar que o PT apoie uma candidatura sua em 2018, caso ele desista da empreitada presidencial do ano que vem. Para Campos, apesar da alta popularidade de Dilma, o que pode atrapalhar a reeleição é justamente a economia.

Transportes. Com previsão de cenário mais otimista no segundo semestre, a equipe econômica prepara novo pacote de desonerações para conter a inflação, desta vez com foco no transporte público. As medidas incluem o corte do PIS e da Cofins sobre o óleo diesel e, apesar de terem impacto municipal, estão na lista das "bondades" que o Planalto quer faturar na campanha.

A expectativa é que a diminuição desses tributos evite a alta das tarifas de ônibus em capitais como São Paulo e Rio. "Técnicos da Fazenda já avaliam que o reajuste da passagem de ônibus incide mais sobre a inflação do que o aumento da gasolina. Logo, o que se discute é a ideia de aumentar a gasolina e mandar o dinheiro para o transporte público, como forma de subsídio cruzado", disse o secretário dos Transportes de São Paulo, Jilmar Tatto.

O governo corre para que o anúncio da desoneração do PIS e da Cofins seja feito no Dia do Trabalho, quando Dilma usará o tradicional pronunciamento de 1º de Maio para comemorar a aprovação da proposta de emenda à Constituição que amplia direitos das empregadas domésticas.

No quesito transporte, o PT também aposta na modernização da infraestrutura, com obras em rodovias, ferrovias e aeroportos, para "vender" a imagem de Dilma como boa gestora, apesar das dificuldades para os projetos saírem do papel.

O programa nacional do PT, em 9 de maio, e as inserções comerciais na TV, alguns dias antes, vão representar, na prática, a largada da corrida pela reeleição no horário político.

Não foi à toa que Santana produziu o slogan "O fim da miséria é só um começo", usado pela presidente em fevereiro, quando ela anunciou que 22 milhões de brasileiros saíram da extrema pobreza. A ideia é mostrar, na campanha, que as principais ações de Dilma agem como alavanca para o crescimento e para o ingresso do Brasil no seleto mundo dos países desenvolvidos. "Com a economia andando bem, tchau para o gaiteiro", resumiu o senador Delcídio Amaral (MS), pré-candidato do PT ao governo do Mato Grosso do Sul.

Traição. A preocupação do Planalto, agora, reside na montagem dos palanques para Dilma. Por enquanto, a meta do PMDB é lançar candidatos próprios em pelo menos 20 dos 26 Estados, além do Distrito Federal. Em muitos deles, como o Rio, o PT e o PMDB estão em pé de guerra e há outras praças onde as desavenças prosperam - caso do Rio Grande do Sul, Paraná e Mato Grosso do Sul.

"Seria muita traição, depois de tudo o que Lula e Dilma fizeram por Sérgio Cabral e Eduardo Paes (governador e prefeito do Rio, respectivamente), o PMDB do Rio condicionar o apoio à presidente à retirada da minha candidatura", reagiu o senador Lindbergh Farias (PT-RJ).

Pré-candidato do PT ao governo fluminense, Lindbergh foi acusado, em reportagem da revista Época, de envolvimento em corrupção quando era prefeito de Nova Iguaçu. O material foi obtido com o PMDB. Cabral tenta emplacar a candidatura do vice-governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) e quer a desistência de Lindbergh, que nega com veemência a veracidade das denúncias. “O PMDB me jogou na oposição. Por que Geddel (Vieira Lima) pode ser candidato do PMDB na Bahia e eu não posso concorrer pelo PT no Rio?”

Para o senador Valdir Raupp (RO), presidente do PMDB, a pergunta deve ser feita no sentido inverso. “Por que o PMDB tem de apoiar o governo em todos os Estados e o PT não pode abrir mão de nada?”, devolveu Raupp. No Planalto, o comentário é que, resolvidas essas pendências do PT com os aliados, “o resto vem por gravidade”.

PONTOS-CHAVE
As bandeiras anunciadas em rede nacional
• Juros
Em 30 de abril de 2012, Dilma vai à TV cobrar a queda de juros dos bancos privados. Os bancos públicos já praticavam taxas menores. A presidente teve sucesso.
• Energia
Em 23 de janeiro deste ano, Dilma anuncia em rede nacional a queda de 18% da tarifa de energia elétrica para as residências e de até 32% para a indústria.
• Comida
Em 8 de março, Dilma volta à TV. A presidente anuncia a desoneração da cesta básica. A expectativa é que o preço dos alimentos caia cerca de 10%
• Troca em novembro
O PT vai eleger seu novo presidente em novembro. 0 deputado estadual Rui Falcão, que ocupa o cargo atualmente, é o favorito.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Para Aécio, bases da estabilidade estão‘ameaçadas’

Vera Rosa

BRASÍLIA - O senador Aécio Neves, pré-candidato do PSDB à Presidência, avalia que o cenário do ano que vem não terá o "céu de brigadeiro" da eleição de 2010 para a presidente Dilma Rous-seff porque a estabilidade econômica está "ameaçada". Apesar das dificuldades enfrentadas para unir os tucanos, Aécio diz confiar no crescimento de seu potencial de votos.

"Tem muita gente apressada, achando que a eleição é uma corrida de 100 metros, quando, na realidade, é uma maratona", afirmou o senador mineiro. "O governo tem muitos problemas em várias áreas, a começar pela economia. A gestão vai mal, a infraestrutura está empacada, a inflação de alimentos ultrapassa 30% e a safra não consegue ser escoada."

Aécio recebeu nesta semana o apoio do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, para comandar o PSDB. Alckmin cedeu depois de ouvir apelos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, mas busca manter a neutralidade na disputa entre Aécio e o ex-governador José Serra, que ameaça deixar o PSDB para ser novamente candidato ao Palácio do Planalto.

Para o senador, porém, todos os problemas no PSDB são menores do que as divisões na seara petista. "O PT sabe que a economia, em 2014, não estará como na eleição da Dilma, em 2010. Hoje temos inflação alta e um crescimento baixíssimo", disse Aécio, numa referência ao Produto interno Bruto (PIB) de 2012, que ficou em 0,9%. "E claro que Dilma tem um mote de campanha, assim como eu construirei um, mas é muito cedo para pensar nisso", desconversou. O PSDB tenta importar um dos conselheiros políticos das campanhas de Barack Obama nos Estados Unidos para ajudar o senador.

"Fracassos". Em fevereiro, Aécio ocupou a tribuna do Senado para listar o que chamou de "13 fracassos" do PT no governo. O discurso foi feito no mesmo dia em que o PT comemorava 10 anos à frente do Palácio do Planalto. De lá para cá, porém, sua popularidade não aumentou e as divergências no PSDB foram escancaradas. Além disso, uma ala do DEM flerta com a provável candidatura do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB). Na última pesquisa Ibope, em parceria com o Estado, Aécio aparece em terceiro lugar, com 9% das intenções de voto, atrás de Dilma (58%) é de Marina (sem partido), com 12%. Nesse cenário, Campos tem 3%.

No diagnóstico do presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN), a oposição pode se recuperar, se souber mostrar as fragilidades do governo Dilma. Agripino disse que o tripé da campanha de Dilma à reeleição -"traduzido" pelo Palácio do Planalto como "energia/comida/juros" começa a desmoronar.

"A queda da tarifa de energia elétrica já produziu a primeira baixa: a Eletrobrás registrou o pior resultado de sua história", afirmou o presidente do DEM, numa referência ao prejuízo de R$ 6,9 bilhões no ano passado, anunciado pela companhia. "Nem tudo o que é bom (para a população) é sustentado. Tem ser bom e permanente. A atitude tomada pelo governo é vulnerável. Vamos ver o que vai acontecer com os apagões."

Agripino avaliou como "positiva" a desoneração da cesta básica, outro mote da campanha de Dilma, mas enxergou na medida um viés eleitoral. "Por que isso acontece só agora? Por que não houve a desoneração do kit do material escolar?", perguntou, em alusão a um projeto de sua autoria, que tramita há dois anos no Congresso.

A redução dos juros no governo Dilma não é mérito do PT, na opinião de Agripino. "Se depois de dez anos de bonança econômica o governo não enfrentasse os juros na estratosfera, não haveria governo", reagiu o senador.
Em crescentes dificuldades desde que o ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab abriu uma dissidência no partido e criou o PSD, o DEM está hoje dividido sobre o apoio a Aécio ou a Campos. A tendência é a dobradinha com o tucano, mas uma ala do DEM defende a aliança com o governador de Pernambuco, caso ele seja candidato.

Nas reuniões do partido, o tema sempre provoca discussões acaloradas. Há quem avalie que, se a oposição não se unir em torno de Aécio, Dilma pode vencer no primeiro turno. "O próximo governo precisa ser de salvação nacional, para pôr o Brasil no rumo da competitividade, porque o PT, por convicção ideológica, não faz as concessões como deveria, mas faz uma faxina para inglês ver", criticou Agripino.

Sigla antecipou candidatura

A candidatura do senador Aécio Neves (PSDB-MG) à Presidência da República foi lançada em dezembro do ano passado - faltando 1 ano e dez meses para as eleições -pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Naquele mesmo dia, o presidente nacional da sigla, Sérgio Guerra, afirmou que Aécio era, sem dúvida, o nome da "grande maioria do PSDB".

Essa foi a primeira vez que o partido lançou, com tanta antecedência, um candidato ao Palácio do Planalto. Em função de disputas internas, desde a sucessão de Fernando Henrique, em i 2002, o PSDB deixava essa escolha para o ano da eleição presidencial.

Neste momento, a situação não é muito diferente. Incomodado com a ascendên- cia do mineiro, que deve assumir também a presidência da sigla, José Serra chegou a ameaçar sair do PSDB. A cúpula do partido espera agora o apoio de Serra para selar a candidatura de Aécio.

Em procissão, tucano critica criação do 39º ministério

O senador Aécio Neves (PSDB- MG) disse ontem que a recém- criada Secretaria da Micro e Pequena Empresa, com status de ministério, servirá apenas para oferecer cargos à “paquidérmica base de sustentação do governo” e, com isso, “garantir alguns segundos a mais de propaganda eleitoral para a atual presidente”. A criação do 39º ministério foi sancionada pela presidente Dilma Rousseff na quinta-feira. “Reformas ministeriais, em qualquer democracia mais avançada, pressupõe a melhoria da qualidade da prestação do serviço público e até mesmo o enxugamento da máquina. No Brasil, reforma ministerial serve para aumentar os custos do governo”, afirmou. Para o tucano, a nova pasta não resolverá o problema da pequena e micro empresa. “Elas precisam de apoio, sim, mas precisam de verbas, de um BNDES que não privilegie apenas os grandes conglomerados.” Aécio participou na noite de ontem da Procissão do Enterro em São João del Rei (MG), seguindo tradição do avô Tancredo Neves.

(Marcelo Portela, enviado especial)

Fonte: O Estado de S. Paulo

Aécio admite prévias tucanas

Senador diz ser favorável à consulta interna do partido para a escolha do candidato à Presidência da República e prega união da legenda para construir um projeto ousado

Isabella Souto

Aécio participou ontem, em São João del-Rei, da tradicional Procissão do Enterro, segurando a lanterna de prata que foi carregada pelo avô Tancredo Neves

São João del-Rei – Cotado para disputar a Presidência da República nas eleições de 2014, o senador mineiro Aécio Neves (PSDB) afirmou ontem concordar com a realização de prévias para a escolha do candidato – caso haja mais de um –, mas ressaltou que o partido só terá reais chances de ocupar o cargo hoje nas mãos da petista Dilma Rousseff se estiver unido e apresentar um nome que "represente algo novo, algo que permita às pessoas voltarem a sonhar".

As declarações foram dadas diante de afirmações do vice-presidente nacional do PSDB, Alberto Goldman, de que "não sabe" se Aécio Neves é a melhor opção do partido para as eleições do ano que vem. Goldman é aliado do ex-governador de São Paulo José Serra e defende a realização de primárias para a escolha do candidato em 2014. Serra é um dos entraves para a candidatura do senador.
"Concordo (com as prévias) e não é hora de o PSDB ter candidato. O PSDB tem que ouvir as pessoas, caminhar pelo Brasil e construir um ousado projeto", afirmou Aécio, que participou ontem à noite, em São João del-Rei, do tradicional Descendimento da Cruz e da Procissão do Enterro, segurando a lanterna de prata que foi carregada pelo avô Tancredo Neves. O evento faz parte das comemorações da Semana Santa na cidade e acontece há 302 anos.

Questionado sobre uma possibilidade de José Serra abrir mão de uma candidatura a presidente em seu benefício – assim como o senador fez em 2010, quando desistiu de disputar as prévias e concorreu ao Senado –, Aécio disse que é preciso respeitar a "inteligência e o tempo de cada um". "O importante agora é a unidade do partido para construirmos uma nova agenda", ponderou. Essa unidade ele vai buscar no comando nacional do partido, cargo que deverá ocupar em maio, quando ocorre a eleição para o diretório. A eleição é vista como uma estratégia para fortalecê-lo na disputa de 2014. Como presidente do maior partido de oposição ao governo petista, ele ganharia mais destaque.

E ontem não faltaram críticas ao governo Dilma Rousseff. Segundo o senador, o PT está usando de forma abusiva os instrumentos do governo e perdeu a capacidade de sonhar. "O PT hoje tem um projeto de poder. Não me contentaria apenas com a administração da pobreza. Quero trabalhar para a superação da pobreza", disse, em tom de candidato.

Aécio reclamou ainda da criação do Ministério da Micro e Pequena Empresa, 39º do governo federal. Para ele, essa é uma medida eleitoreira para garantir o apoio do PSD na reeleição da presidente, já que a pasta deverá ser entregue a Afiif Domingos, filiado à legenda.

Consultoria Nos bastidores do PSDB circulam informações de que Aécia estuda trazer David Axelrod, ex-alto funcionário da Casa Branca, para ajudar na construção da candidatura de Aécio. Também já foi feito contato com Antonio Villaraigosa, prefeito de Los Angeles e uma das estrelas em ascenção do partido democrata americano. O objetivo seria orientar o senador mineiro na fase pré-campanha, especialmente na internet.

Aécio já estaria com a consultoria do marqueteiro Renato Pereira, que trabalhou ano passado na campanha de Henrique Capriles, que disputou o comando da Venezuela com Hugo Chávez, morto no início deste mês. Ele ainda executou as campanhas dos peemedebistas Eduardo Paes e Sérgio Cabral à Prefeitura e governo do Rio de Janeiro, respectivamente.

Fonte Estado de Minas

Seis meses após a derrota, PT segue sem rumo

Sigla não demonstra qualquer sinal de reconciliação

Com a chegada do mês de abril, o PT pernambucano terá vivenciado seis meses de sua maior derrota eleitoral sem qualquer vestígio de uma repactuação. O partido, que chegou ao poder no Recife antes mesmo de o ex-presidente Lula (PT) iniciar seu primeiro mandato, não consegue definir as bases para a retomada da unidade. A situação é tão grave que nem mesmo com a campanha presidencial nas ruas e com um dos pré-candidatos - o governador Eduardo Campos (PSB) - se articulando de forma concreta para enfrentar a presidente Dilma nas urnas, o Partido dos Trabalhadores atenta para uma reconciliação.

Ainda que conversas pontuais entre tendências estejam ocorrendo, o grupo capitaneado pelo ex-prefeito João da Costa e o time do deputado federal João Paulo e do senador Humberto Costa continuam em fase da fustigação que corroeu a candidatura do senador à prefeitura. Se nas prévias vividas em maio passado a situação chegou a ser classificada por alguns como agressiva, o que dizer da troca de tapas na reunião que deveria ser marcada pela comemoração dos 33 anos do partido e dos 10 de poder na esfera federal, no início de março?

Desde o episódio, as negociações estão paradas. Só o grupo que esteve com João da Costa vem conversando entre si. A deputada estadual Teresa Leitão é uma das mais empenhadas em promover uma repactuação. Durante o encontro em que os militantes foram às vias de fato, ela pediu, com a voz embargada, que uma reconciliação fosse colocada em curso.

Os prefeitos do interior - apesar de o PT ter perdido no Recife, o número de gestores aumentou de oito para 13 no Estado - estão perdidos e, por diversas vezes, falaram em "abandono". Nem a visita da presidente Dilma Rousseff na última semana, quando ela anunciou R$ 3,1 bilhões de investimentos, serviu para reanimar o PT local. As lideranças penam com as confusões e os liderados amargam a ausência de comando.

Mesmo diante do evidente desconcerto, o presidente estadual da sigla, deputado federal Pedro Eugênio, tem dito que irá insistir em encontros. Contudo, o mais importante deles - destinado a fazer uma análise detalhada da derrota sofrida - ainda não ocorreu. As correntes estão tomando decisões isoladas. Uma demonstração clara da divisão interna que permanece é a posição do secretário de Habitação do Recife, Eduardo Granja, que não está alocando em sua pasta colegas de tendências adversárias.

O ex-prefeito João da Costa segue na planície desde que deixou a cadeira. Com uma administração criticada, não tem defesa por parte do PT. Os petistas pernambucanos andam em círculos enquanto o time socialista liderado por Eduardo anda em direção ao projeto nacional.

Fonte: Jornal do Commercio (PE)

Rachas na aliança PT-PMDB

Coligados no Planalto, partidos devem ter palanques diferentes em estados importantes para a reeleição de Dilma

Paulo de Tarso Lyra

Com casamento praticamente confirmado no plano nacional, PT e PMDB vivem em crise conjugal em diversos estados brasileiros. O alerta dado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em entrevista ao Valor nesta semana sinaliza a preocupação com crises graves de relacionamento no Rio de Janeiro, na Bahia e, em um grau mais administrável, no Rio Grande do Sul e em Mato Grosso do Sul. Pernambuco, cujo maior expoente peemedebista é o senador Jarbas Vasconcelos, o litígio já é antigo.

Em conversas internas com seus correligionários, Lula tem demonstrado preocupação especial com o Rio, já que o senador Lindbergh Farias (PT) lançou-se candidato ao governo contra o candidato peemedebista Luiz Eduardo Pezão (PMDB), que conta com o apoio do atual governador, Sérgio Cabral. “Resolvam isso para não chegar a um ponto no qual tenhamos que cometer a mesma violência que cometemos em 1998”, disse Lula a interlocutores, lembrando a intervenção nacional no diretório do PT fluminense para suspender a candidatura de Vladimir Palmeira, para que o partido apoiasse o então pedetista Anthony Garotinho.

O PT, por enquanto, não pensa em impedir a candidatura de Lindbergh. Até o próprio PMDB sabe disso. “Quanto maior a aprovação do governo Dilma no plano nacional, mais o PT vai sentir-se confortável para enfrentar os aliados nas disputas estaduais”, declarou ao Correio o deputado Leonardo Picciani (PMDB-RJ). “Isso é uma característica do PT, e nós consideramos um equívoco esse raciocínio”, prosseguiu o aliado de Cabral.

A situação do Rio é mais grave que a da Bahia, onde PT e PMDB estão rompidos localmente há bem mais tempo, desde que o vice-presidente da caixa econômica federal, Geddel Vieira Lima, brigou com o atual governador Jaques Wagner. A diferença é que as discussões passaram a ser políticas, sem a distribuição de dossiês com acusações de corrupção, como o que ocorreu no Rio no final de semana passado.

No Mato Grosso do Sul, dificilmente PT e PMDB estarão juntos, especialmente após as eleições para a prefeitura de Campo Grande, quando o PT aliou-se ao PP para eleger Alcides Bernal. A tendência é que as duas legendas estejam juntas no ano que vem para apoiar a candidatura de Delcídio Amaral (PT), provavelmente com Zeca do PT na vaga de senador. Por isso, sobra pouco espaço para o PMDB, comandado pelo atual governador, André Pucinelli e que, na eleição de 2010, fechou apoio ao tucano José Serra.

São Paulo

Em São Paulo, embora a situação de PT e PMDB não seja indissolúvel, provavelmente as duas legendas terão candidatos diferentes ao governo estadual. O PMDB trabalha a candidatura do presidente da Federação das Indústrias de São Paulo, Fiesp, Paulo Skaff. O PT tem um leque de opções, todos ministros da presidente: José Eduardo Cardozo (Justiça); Aloizio Mercadante (Educação); Alexandre Padilha (Saúde) e Guido Mantega (Fazenda). “Como todos são ministros, é evidente que uma decisão terá que passar pelo gabinete da presidente Dilma Rousseff”, confirmou o presidente estadual do PT de São Paulo, Edinho Silva.

Edinho concorda com Lula ao afirmar que é preciso cuidado nas alianças para impedir que problemas locais atrapalhem a reeleição de Dilma. “Não podemos ser arrogantes na conversa com possíveis aliados. Mas também não podemos esquecer que nunca tivemos chances tão claras de vitória em São Paulo”, completou Edinho.

Relação é tensa

PT e PMDB são casados oficialmente desde 2010, quando os peemedebistas indicaram o então presidente da legenda, Michel Temer, para ser vice na chapa da candidata à Presidência Dilma Rousseff. Mas é um casamento perigoso, com desconfianças de parte a parte, troca de acusações e ânimos amuados.

O namoro começou para valer em 2007, quando o PT articulou uma aliança parlamentar com o PMDB, baseado em “pontos consensuais de governo”. Mas os peemedebistas sempre reclamaram que são maltratados pelo governo, como menos cargos à disposição do que mereciam por contribuir de maneira tão explícita para a chamada governabilidade.

Em 2002, ainda durante o governo de transição para o primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, o então chefe da Casa Civil, José Dirceu, negociou com Temer a entrada do PMDB no governo petista. Tudo estava acertado mas, na madrugada da véspera do anúncio do novo ministério, Lula surpreenndeu a todos escolhendo uma desconhecida Dilma Rousseff para o ministério de Minas e Energia.

Dentro do próprio PMDB a briga é acirrada. O governador do Rio, Sérgio Cabral, vive uma relação conflituosa com Temer. Ele queria ser o vice-presidente de Dilma, mas sabe que, se Lula tentasse um novo mandato, suas chances seriam maiores.

Fonte: Correio Braziliense

Marina contrata pessoal para acelerar coleta de assinaturas

Isadora Peron

Com dificuldades para conseguir as mais de 500 mil assinaturas necessárias para criar um partido que possa disputar as eleições de 2014, o grupo capitaneado pela ex-senadora Marina Silva resolveu profissionalizar o processo e contratar pessoas para fazer esse trabalho. Até agora, as assinaturas estavam sendo recolhidas apenas por voluntários.

"A ideia é colocar essas pessoas contratadas nas ruas já a partir da semana que vem. A combinação desses dois atores, com a preponderância do voluntariado, é que vai produzir o resultado que esperamos", afirmou Cassio Martinho, um dos porta-vozes da Rede Sustentabilidade.

Para bancar esse custo extra com a contratação de pessoal, serão realizados eventos para arrecadar fundos. O primeiro deles vai ser um café da manhã, em São Paulo, na próxima quinta-feira. No dia seguinte, em Brasília, haverá um jantar. Os convites estão sendo vendidos a R$ 100. O local escolhido, um restaurante na asa norte da capital federal, tem capacidade para aproximadamente 300 pessoas.

O sentimento entre os fundadores da sigla, que foi lançada no dia 16 de fevereiro, é o de ser necessário acelerar o processo de coleta para que a Rede saia do papel dentro dos prazos legais. A Justiça Eleitoral estabelece que todas as assinaturas sejam encaminhadas e analisadas pelo Tribunal Superior Eleitoral até um ano antes das eleições, o que, no calendário eleitoral, significa a data limite de 4 de outubro.

“Os nossos mobilizadores e companheiros ativistas precisam ficar espertos, acordar, ter senso de urgência, dar um grau a mais no esforço de mobilização”, afirmou Martinho.

Segundo ele, além de intensificar o número de mutirões para a coleta de assinaturas, novas estratégias estão sendo elaboradas para alcançar a meta. No próximo fim de semana, os 6 mil voluntários cadastrados no site da Rede foram convocados a entregar, cada um, 30 assinaturas nos postos de coletas dos seus respectivos Estados. Com isso, o movimento pretende garantir 180 mil assinaturas de uma só vez.

Metáfora. Martinho, no entanto, diz considerar natural que a coleta de assinaturas ainda não tenha “engrenado” e compara o processo com a aceleração de um carro: “Um amigo usa uma metáfora que eu gosto muito para esse caso. É como um carro que começa um processo de aceleração lento e com marchas diferenciadas conforme cada estágio. Primeiro você passa a primeira, depois a segunda, até o carro atingir uma velocidade de cruzeiro. Por isso que se você fizer uma análise a partir da velocidade de um carro, você percebe que, neste momento, nós estamos mais lentos, o que é natural. O que a gente precisa conseguir é dar um empurrão na velocidade neste mês de abril”.

O deputado Walter Feldman (PSDB-SP), que já anunciou a sua migração para a Rede, também fala na necessidade de acelerar o processo, mas afirma que não há um temor de que o partido não consiga ser oficializado.

Mutirões. Nas últimas semanas, a própria Marina tem usado a sua popularidade para ir às ruas e pedir apoio para a criação do seu novo partido. A ex-ministra do Meio Ambiente conquistou quase 20 milhões de votos nas eleições presidenciais de 2010, mas nega que esteja criando o partido somente para se candidatar no ano que vem.

Há duas semanas, em São Paulo, ela participou de três eventos num mesmo dia, com direito a posar para fotos com os eleitores e tomar suco nas barracas dos dois mercados municipais que visitou. Além da capital paulista, a ex-senadora já participou de eventos no Rio, Belém, Manaus e Rio Branco.

A Rede ainda não fez um balanço oficial de quantas fichas de apoio já conseguiu. Segundo Martinho, esse número será divulgado em dez dias, já contabilizando os resultados dessa militância profissional que será contratada. A última vez que Marina falou sobre o assunto, na semana passada, disse que a sigla contava com 100 mil assinaturas.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Proposta acaba com coligações nas eleições proporcionais

Medida prevista no pacote da reforma política acaba com a possibilidade de se votar em um partido, mas eleger o candidato de outro. Mudança deve dificultar a vida das “legendas de aluguel”

Chico Marés

Uma das distorções do sistema eleitoral atual é a possibilidade de se votar, a contragosto, em um partido cuja ideologia é oposta a sua, por causa das coligações eleitorais. Exemplos não faltam: eleitores do deputado Tiririca (PR-SP) ajudaram a eleger parlamentares petistas. No Paraná, votos em petistas ajudaram a eleger secretários do atual governo Beto Richa (PSDB), como Luiz Eduardo Cheida e Luiz Cláudio Romanelli, ambos do PMDB.

Uma das propostas de emenda constitucional (PEC) da comissão de reforma política da Câmara que deve ir à votação no plenário pretende acabar com esse problema. Pela proposta, os partidos não poderão compor chapas conjuntas na eleição proporcional – para deputado e vereador.

Para o cientista políti¬co David Fleischer, da Univer¬sidade de Brasília (UnB), a medida é positiva. Ao impedir coligações para o Legislativo, o projeto força que todos os partidos apresentem chapas puras, com viabilidade eleitoral, sob o risco de ficar sem cadeiras nos parlamentos. Isso deve dificultar a vida das chamadas “legendas de aluguel” e forçar uma aproximação maior dos partidos com as bases eleitorais. “Precisamos de um sistema partidário mais consolidado. Toda hora alguém cria um partido para ser dono. Partidos não devem ter donos, e sim líderes”, afirma.

Na avaliação do cientista político da UFPR Fabrício Tomio, o fim dessas legendas não causará um efeito impactante na política nacional, uma vez que elas não podem ser consideradas siglas efetivas dentro da política brasileira – possui um número reduzido de quadros e têm pouca importância no Congresso. “Os 10 menores partidos não tem 15% do Congresso hoje”, afirma.

Segundo Tomio, uma das grandes vantagens da mudança será o fim das coligações de ocasião, quando partidos com pouca ou nenhuma afinidade política se unem sob uma mesma chapa com o único objetivo de maximizar votos. Isso dará fim a distorções na hora do voto, o que é considerado por ele um dos maiores problemas do sistema atual.

Viabilidade

Apesar de bem aceita entre os partidos grandes, a PEC que prevê fim das coligações nas eleições proporcionais pode ter dificuldades de ser aprovada. Há bastante resistência dos partidos menores, como o PR e o PCdoB, à proposta. Além disso, por ser uma PEC, a mudança exige o voto de três quintos (60%) do Congresso, a chamada maioria qualificada.

O relator da reforma, Henrique Fontana (PT-RS), considera os temores infundados. “A proposta que eu faço é equilibrada, que respeita, sim, os pequenos partidos, mas que diz a eles: vocês têm que se apresentar com uma cara própria”, disse o deputado recentemente à Agência Câmara.A promessa de Henrique Fontana é levar a medida a votação no plenário junto com outros projetos da reforma política nos dias 9 e 10 de abril.

Fim das alianças obrigará partidos a reverem estratégias

Caso seja aprovada o fim das coligações proporcionais, os partidos terão de rever suas estratégisas eleitorais. Isso vale tanto para os nanicos como para as legendas consideradas grandes. Independente do tamanho, todas as siglas se baseiam na regra das coligações na hora de definir como vão se organizar para a disputa para a Câmara de Vereadores e dos Deputados.

Nas últimas eleições, em Curitiba e no Paraná, os maiores partidos – como o PT, o PSDB e o PMDB – formaram coligações, mesmo conseguindo montar chapas sozinhos.

A intenção, obviamente, era conquistar cadeiras a mais. Isso porque, ao fechar uma chapa única, os partidos conseguem colocar apenas seus candidatos mais viáveis na disputa, deixando os concorrentes com menos votos de fora.

Dependendo da conjuntura, isso pode significar um ganho no número de cadeiras. Entretanto, há o risco de um partido menor ter o candidato recordista de voto. Devido ao quociente partidário – a divisão do número de votos do partido pelo número de votos necessários para fazer uma cadeira na Câmara –, a votação desse candidato “puxa” concorrentes da mesma legenda que não foram tão bem. Isso acaba deixando de fora nomes considerados fortes.

Para as legendas menores com um nome de potencial, se aliar com partidos fortes é a chance de eleger um representante sem precisar formar uma chapa. É o caso, por exemplo, do PRB nas eleições para vereador de Curitiba, em 2012. O partido lançou apenas três candidatos, mas contava com Pastor Valdemir, um dos parlamentares com maior potencial de votos na cidade. Com isso, elegeu seu candidato sem precisar atingir o quociente eleitoral – o mínimo de votos necessário para conquistar uma cadeira no Legislativo.

Estratégia oposta

Apesar das “vantagens” da coligação, alguns partidos considerados nanicos tiveram sucesso em Curitiba na última eleiçaõ municipal usando uma estratégia posta. Pouco influentes na política estadual e federal, o PSDC e o PSL lançaram chapas quase completas em 2012. Com o “voto de formiga” de pequenas lideranças locais, que fizeram entre 500 e mil votos, esses dois partidos conseguiram atingir o quociente eleitoral sem precisar de coligações, elegendo candidatos com menos votos que muitos suplentes de partidos mais tradicionais.

Prós e contras

Veja as vantagens e desvantagens do fim das coligações nas eleições proporcionais:

Prós
• Acaba com a distorção de se votar em um partido e eleger candidatos de outra legenda.
• Pode reduzir o número de “legendas de aluguel”, forçando a fusão ou a extinção de partidos pouco representativos no país.
• Acaba com coligações de ocasião, montadas com fins exclusivamente de estratégia eleitoral.
• Exige que partidos busquem candidatos viáveis, forçando um maior diálogo com as bases.

Contras
• Pode prejudicar partidos pequenos e candidatos que estão fora dos grandes partidos, mas tem respaldo eleitoral.
• Proposta pode ter pouca viabilidade política, já que encontra resistências nos partidos pequenos.

Fonte: Gazeta do Povo (PR)

A reforma política – Editorial / O Estado de S. Paulo

O presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Alves (PMDB-RN), reuniu os líderes das bancadas na Casa para avisar que porá em votação na primeira semana de abril a proposta de reforma política elaborada nos últimos dois anos pelo relator Henrique Fontana (PT-RS). A última tentativa de fazer uma reforma política ampla chegou ao plenário da Câmara em 2007 pelas mãos de Ronaldo Caiado (DEM-GO), mas, por falta de consenso entre as bancadas nem chegou a ser votada.

Agora Alves não vê necessidade de consenso em torno do tema, que quer resolver no voto. A grande questão, desde sempre, é se o País precisa mesmo dessa reforma política, pela qual os nobres deputados tanto anseiam. O ex-presidente Marco Maia (PT-RS) disse em 2011 que a reforma preparada pelo colega de bancada era "prioritária", cogitou pô-la em discussão de forma "fatiada”, mas a ideia não prosperou. Alves a usou como bandeira de sua eleição para o alto posto que ocupa.

Interessante é observar as coincidências dos projetos de Caiado, de direita, e Fontana, de esquerda, sobre os dois temas por ambos considerados prioritários: o financiamento público de campanha e o fim das coligações nas eleições proporcionais.

"Temos de retirar a força que o poder econômico tem hoje para decidir os rumos de uma eleição. A democracia brasileira é cada vez menos uma democracia de opiniões, de programas e projetos, e é cada vez mais uma democracia da força do dinheiro decidindo eleições. E isso tem de mudar", argumentou o relator. A julgar pela argumentação, seu partido, o PT, deve ser hoje a expressão política da burguesia endinheirada do Brasil, de vez que venceu três eleições presidenciais seguidas. O cidadão, de cujo bolso, na forma de impostos, sairia o tal financiamento público, que já banca o horário dito "gratuito" no rádio e na televisão nas campanhas eleitorais e o fundo partidário, teria de arcar sozinho com o custo crescente das campanhas políticas sem nenhuma garantia de que isso acabaria com a corrupção, ao contrário do que pregam os adeptos desta mudança. Quem disse que dinheiro público não é furtado aqui? E Fontana não explicou qual a relação entre financiamento privado e a endêmica falta de programas e ideias dos partidos.

Outro ponto comum entre o ex-relator do DEM e o atual do PT é a coincidência das eleições. A exemplo de Caiado, Fontana não aprova a realização de eleições de dois em dois anos, mas não encontra argumentos mais fortes por justificar a realização de todos os pleitos de quatro em quatro anos do que a economia dos gastos em processos eleitorais. Será que os gastos no Tribunal Regional Eleitoral em cada disputa são excessivos a ponto de justificarem a dificuldade de se votar de uma vez só em vereador, prefeito, deputado estadual, governador, deputado federal, senador e presidente? Para evitar essa questão bisonha, o relator discute a possibilidade de realização do pleito presidencial com dois meses de diferença das eleições gerais para governador, senador, deputado federal, deputado estadual, prefeito e vereador. Ou seja, sua fórmula ressuscita o lema do Chacrinha: "Não vim aqui para explicar, mas para confundir".

O fim das coligações em eleições proporcionais é também um cavalo de batalha do PT e do relator, que argumentou que, pela fórmula atual, é possível votar num candidato de um partido ambientalista e ajudar a eleger algum inimigo da ecologia. Tem razão.

Mas a proposta de Fontana atinge o auge da confusão ao propor o chamado sistema "belga", pelo qual o eleitor pode votar apenas na legenda e, com isso, eleger os candidatos a vereador, deputado estadual e deputado federal colocados no topo da lista apresentada pelo partido. Ou em seu candidato, que terá preferência. Na contagem final, se um partido tiver 80% dos votos em candidatos e 20% só na legenda, apenas uma vaga será ocupada de acordo com a ordem determinada pela cúpula partidária. Chacrinha não poria defeito nessa fórmula.

Todas essas mudanças fortalecem, como propugna o relator, os partidos e os políticos. Mas não beneficiam o cidadão. Ou seja: fingem mudar alguma coisa para, no fim, nada mudar.

Guerra federativa - Merval Pereira

Além do recurso interposto pela Mesa do Senado Federal contra a liminar concedida pela ministra Cármen Lúcia na Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) da Lei dos Royalties, três estados da Federação peticionaram requerendo a participação no feito como amicus curiae (amigos da Corte em latim), isto é, partes interessadas na causa. Dois deles, Paraíba e Alagoas, não trazem argumentos novos, mas a manifestação do Rio Grande do Sul, no entanto, introduz uma questão interessante, ainda que superficialmente, que pode ser um dado novo na discussão no Supremo.

Os gaúchos alegam que, em razão do recente julgamento pelo Supremo Tribunal Federal declarando inconstitucionais diversos dispositivos da PEC 62/2009 (a famigerada PEC do Calote), a situação do seu caixa estaria seriamente prejudicada. Por isso, não seria possível abrir mão dos recursos advindos das novas regras de repartição dos royalties do petróleo.

O STF considerou inconstitucionais dispositivos da PEC do Calote que permitiam parcelamento dos débitos em até 15 anos, realização de leilões de precatórios, correção dos títulos por índices que não recompõem a inflação do período e compensações em caso de dívida do credor com o poder público. Ou seja, indiretamente o estado do Rio Grande do Sul culpa o próprio Supremo por sua situação deficitária, na tentativa de sensibilizar os ministros quanto à questão dos royalties.

O estoque bilionário de precatórios do Rio Grande do Sul hoje perfaz a dívida de R$ 6,3 bilhões de reais. Na sua petição, o Rio Grande do Sul alega que o equilíbrio federativo ficará afetado se o Supremo, ao decidir sobre a nova divisão "mais justa" dos royalties, não levar em conta a situação financeira dos estados envolvidos.

"A relevância da matéria debatida é insofismável. Como constou da decisão que deferiu a medida cautelar na ADI 4917, proferida pela eminente ministra Cármen Lúcia, a questão tem a seriedade própria dos grandes temas federativos. Não há dúvidas de que a atuação do Supremo Tribunal Federal nessas ações se dará não apenas na qualidade de guardião e intérprete maior da Constituição, mas também na magna função de árbitro da Federação brasileira. Daí que os seus pronunciamentos provocarão efeitos diretos e penetrantes nos arranjos institucionais de absolutamente todos os entes federados (para o bem ou para o mal)".

Tais efeitos, prossegue a petição, se verificarão de forma particularmente aguda no Rio Grande do Sul, "tendo em vista suas notórias e, infelizmente, já históricas dificuldades de caixa, que se exacerbarão em pouco tempo, como resultado do julgamento proferido nas ADIs 4357 e 4425, nas quais se declarou a inconstitucionalidade de boa parte da Emenda Constitucional 62/2009. (...) O Rio Grande do Sul não pode, destarte, prescindir dos recursos financeiros advindos da nova e mais justa repartição dos royalties do petróleo positivada pela Lei 12.734/2012."

Especialistas acreditam que outros estados farão o mesmo pedido de ingresso no processo como amicus curiae, o que demonstra que a "guerra federativa" foi definitivamente deflagrada com a discussão dos royalties somada à forma de arrecadação do ICMS e à PEC do Calote. Há uma tendência no Supremo a considerar que o próprio Congresso deveria tratar desses assuntos, dentro de uma repactuação do Fundo de Participações de Estados e Municípios, mas sem ferir cláusulas pétreas da Constituição, como acontece com a mudança da Lei dos Royalties ou uma possível emenda constitucional para tentar alterar a distribuição dos royalties, caso, como se acredita, o Supremo dê ganho de causa aos estados produtores.

A incapacidade de o Congresso resolver seus próprios problemas é uma preocupação entre os ministros do Supremo, que recusam a tese de que há uma "judicialização" da política ou um ativismo do Supremo.

Fonte: O Globo

A resiliência do estado-nhonhô - Fernando Rodrigues

A emenda constitucional que ampliou os direitos de trabalhadores domésticos é uma grande medida civilizatória para o Brasil em muitas décadas.

Além do efeito positivo principal de retirar da Constituição uma classe de subempregados, a PEC das Domésticas tem um benefício educativo extra: demonstrar a milhões de brasileiros, na prática, o grau de burocracia no cotidiano de cada um.

Um empregador que gasta

R$ 1.000 de salário com um funcionário em sua casa certamente não irá à falência se vier a gastar 8% a mais por mês (R$ 80) para bancar o agora obrigatório FGTS.

Mas o que ficará evidente para todos é o universo kafkiano dos procedimentos burocráticos na vida de quem pretende seguir a lei à risca. É bom que cidadãos comuns passem a saber como é depositar o FGTS, recolher o PIS, o INSS e outras eventuais taxas locais.

Esse é o calvário de centenas de milhares de brasileiros que hoje têm pequenos empreendimentos. Gastam parte de seu tempo tratando de aspectos burocráticos. Agora, os empregadores domésticos incorporarão a mesma rotina: preencher fichas e boletos bancários mensalmente.

O novo hábito ajudará muitos a refletir: será que o FGTS é a forma correta de preservar empregos? Não seria mais útil aumentar os salários em 8%? Cada trabalhador decidiria o que fazer então com essa renda extra. Também seria o caso do PIS, vale-transporte, vale-refeição e outros?

A existência desses vales pressupõe uma inaptidão atávica do brasileiro: somos incapazes de poupar para emergências (FGTS) e nem sequer conseguimos reservar dinheiro para transporte ou refeição. Logo, o Estado-nhonhô faz uma lei para nos amparar e assumir a responsabilidade.

Esse entulho paternalista durará ainda longos anos. Mas a PEC das Domésticas estimula o debate sobre o atraso que tal burocracia representa na nossa baixa produtividade.

Fonte: Folha de S. Paulo

Impasse político italiano sem solução à vista

Presidente encerra rodada de conversas com partidos sem conseguir formação de governo

ROMA - O desentendimento entre as maiores tendências políticas na Itália, aliado ao “semestre branco” - aquele em que o presidente não pode dissolver o Parlamento - estreita as possibilidades do presidente italiano, Giorgio Napolitano. O chefe do Executivo italiano cogitaria recorrer a uma administração não política. Entre os melhores nomes considerados para encabeçar este governo tecnocrata estão Fabrizio Saccomanni, diretor-geral do Banco da Itália, e o chefe da Corte Constitucional, Franco Gallo. Nesta sexta-feira, Napolitano fracassou em uma nova rodada de negociações com os principais partidos políticos do país, em busca de uma solução para o vácuo de poder instaurado desde as últimas eleições. Para realizar uma nova eleição, ele precisaria dissolver o Parlamento, algo que o chefe do Executivo não pode fazer nos últimos seis meses do mandato, que será encerrado no dia 15 de maio. Diante da falta de definições, o presidente anunciou que refletirá por algum tempo antes de tomar uma decisão.

A solução ganha força porque promoveria reformas e medidas econômicas urgentes, como uma nova lei eleitoral, mas depende do aval de ao menos dois dos três principais blocos do Parlamento, o que hoje parece improvável. Analistas políticos acreditam que a atual legislação levaria a um impasse semelhante no próximo pleito, caso ele fosse realizado nos próximos meses. A centro-direita, porém, avalia que a atual crise aumentou seu poder e, por isso, seria a mais motivada a voltar às urnas. No entanto, se o comediante Beppe Grillo, do Movimento 5 Estrelas (M5S), mudasse seu discurso e aceitasse uma aliança com Bersani, o movimento seria o oposto. O ex-premier Silvio Berlusconi, de acordo com analistas, já estaria “cavando a sua própria tumba”, sem qualquer chance de retornar ao cenário político.

Há cerca de um mês, quando os resultados do último pleito foram divulgados, alianças entre os líderes mais bem colocados nas urnas foram propostas e rechaçadas. Durante a última semana, o líder da centro-esquerda, Pier Luigi Bersani, rejeitou a aliança com Berlusconi, que comanda a centro-direita. Os blocos liderados por Bersani e Berlusconi foram, respectivamente, primeiro e segundo colocados nas eleições, por uma pequena margem de votos. Na Câmara, os partidários de Bersani conseguiram 29,5% dos votos, contra 29,1% do ex-primeiro-ministro. No Senado, a disputa também foi apertada. A centro-esquerda obteve o apoio de 31,1% dos eleitores; e Berlusconi, 30,6%.

Para Berlusconi, que já foi primeiro-ministro em três ocasiões, o único modo de Bersani chegar ao poder seria aceitar um acordo com ele.

- Não mudamos nossa posição, e expressamos isso com absoluta clareza para o presidente - reiterou ontem o ex-premier, após encontrar-se com Napolitano.

O Povo da Liberdade (PDL), partido de Berlusconi, já manifestou seu interesse em articular com o Partido Democrático (PD), de Bersani, quem deveria substituir Napolitano. Segundo o ex-premier, “parece lógico que, formando um governo de coalizão, deve-se discutir o melhor presidente da República”.

Ao mesmo tempo em que flerta com a centro-esquerda, Berlusconi rejeita a possibilidade de apoiar um governo tecnocrata, como o conduzido pelo seu sucessor e atual primeiro-ministro demissionário, Mario Monti, o que define como uma “experiência trágica” e responsável por ter levado a Itália à recessão.

- Fomos contra o governo de Monti e, se a solução for ter outro governo deste tipo, é mil vezes melhor fazer novas eleições — assegurou Roberto Maroni, líder da Liga Norte, principal aliada de Berlusconi.

O novo aceno do ex-premier ao PD, porém, foi prontamente vetado. O líder da legenda, Luigi Zanda, considerou “muito difícil” vê-la integrada à centro-direita. Nesta sexta-feira, ao sair do encontro com Napolitano, representantes da centro-esquerda descartaram novamente qualquer aliança com Berlusconi.

- As fortes diferenças entre as tendências políticas fazem com que um governo de unidade nacional com as forças políticas tradicionais não seja ideal - ponderou o vice-secretário do partido, Enrico Letta.

O PD, segundo Letta, deve apoiar a “solução de governabilidade” que será proposta por Napolitano, após o fracasso de sua série de reuniões.

O fiel da balança poderia ser o Movimento 5 Estrelas (M5S), articulado pelo comediante Beppe Grillo, que surpreendeu a Itália ao obter 25,5% dos votos na Câmara e 23,7% no Senado. A nova força política, cuja bandeira é a indignação com os partidos tradicionais, poderia encerrar o impasse caso decidisse por um dos lados. Bersani chegou a comprometer-se com reformas urgentes, que estancariam a crise institucional italiana. Mas o apoio a qualquer tendência foi novamente repelida ontem por Grillo, em uma transmissão por vídeo em seu blog.

- Dar a elas (as principais legendas políticas) um voto de confiança? Isso é um palavrão na boca dessas pessoas - vociferou. - Elas deveriam ir para a cadeia.

Nem os jornalistas escapam do discurso de Grillo, avesso a dar entrevistas. Segundo ele, toda a imprensa, assim como a classe política, “precisa de um psiquiatra”.

O M5S considera Bersani, Berlusconi e Monti os responsáveis pela crise socioeconômica que acomete a Itália. Em seu novo pronunciamento, também rejeitou uma administração “pseudotecnocrata”. Grillo não participou da delegação de seu movimento que encontrou-se ontem com Napolitano, mas falou com ele por telefone. O humorista criticou o presidente durante a campanha, mas agora, segundo a imprensa italiana, assume uma postura mais respeitosa com o chefe do Executivo.

Segundo a deputada Roberta Lombardi e o senador Vitor Crimi, do M5S, a força política está disposta a formar o seu próprio governo.

- Lançamos novamente, diante de Napolitano, a proposta de um governo que colocaria imediatamente em marcha algumas iniciativas no Legislativo. Queremos discutir cada lei no Parlamento - afirmou Roberta. - Há vinte anos escuto as mesmas palavras e nada é feito.

Nova eleição pode manter indefinição

O impasse político leva a crescentes preocupações relacionadas à habilidade da Itália para confrontar a atual crise econômica. O país passa, há mais de um ano, por uma profunda recessão. Sua dívida pública já ultrapassou 2 trilhões de euros e o desemprego atinge índices recordes, especialmente entre os jovens.

Fonte: O Globo

Guerra negada - Celso Ming

Nem o ministro da Fazenda, Guido Mantega, voltou a denunciar os grandes bancos centrais por provocarem guerra cambial com suas fartas emissões de moeda nem a presidente Dilma Rousseff voltou a acusar os mesmos bancos centrais, pelas mesmas razões, por produzirem tsunami monetários que prejudicam os emergentes.

Só para passar um espanador na memória, a partir da eclosão da crise de 2008 os grandes bancos centrais, especialmente o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), o Banco Central Europeu (BCE) e o Banco do Japão (BoJ), injetam colossais volumes de moeda com as quais ou compram moeda estrangeira (caso do BoJ) ou adquirem títulos no mercado.

O resultado é impressionante despejo de dinheiro nos mercados onde vêm zanzando freneticamente. Um dos efeitos dessa enorme operação conjunta é a desvalorização das moedas fortes e o afluxo de capitais estrangeiros aos câmbios dos emergentes. A principal queixa de Mantega e Dilma é que a tendência à valorização relativa das moedas dos emergentes (baixa do dólar) tira competitividade ao produto nacional por encarecê-lo em moeda estrangeira. É o que, de longa data, economistas ingleses chamam de políticas que transformam o vizinho em mendigo (beggar-thy-neighbour policies).

Embora nem Mantega nem Dilma tenham insistido na condenação dos grandes bancos centrais, na quarta-feira o assunto voltou a figurar, embora sem a ênfase de antes, no comunicado dos chefes de Estado que encerraram a reunião de cúpula de Durban (África do Sul).

O fato mais relevante é que a recuperação da economia americana e certa estabilização da economia da área do euro esvaziam esse tipo de reclamação. Quase nenhum analista espera hoje que essas denúncias gerem alguma alteração nas regras de comércio exterior ou na estratégia de política monetária dos grandes bancos centrais. E, no entanto, apenas o Fed, desde 2008, injetou quase US$ 2,5 trilhões nos mercados e segue comprando títulos à proporção de US$ 85 bilhões por mês.

Em todo o caso, em conferência realizada em Londres, dia 25, o presidente do Fed, Ben Bernanke, entendeu que devesse rechaçar as teses do empobrecimento da vizinhança. Argumentou que essas enormes emissões de moeda pelos grandes bancos centrais buscam tão somente a recuperação econômica global, e não a desvalorização das moedas fortes com intuito de tirar vantagem comercial de outros países, sobretudo dos emergentes.

A principal consequência dessas políticas de afrouxamento monetário quantitativo - é esse o nome que levam hoje - é altamente benéfica para os demais países - e não o contrário, argumenta Bernanke, porque recoloca em movimento as locomotivas do mundo, a que todos aspiram.

Segue-se, no entendimento dos dirigentes dos países ricos, que trabalhar contra essas políticas, como está no comunicado dos Brics, é trabalhar contra a recuperação da economia mundial.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Reflexões sobre uma revolução

Em 'Mercadores de Cultura', que sai no País no fim de abril, John B. Thompson traça um vasto painel do mercado editorial americano e inglês; aqui ele discute o tema de forma ampla

Maria Fernanda Rodrigues

Desde a criação da imprensa, por Gutenberg, fazer um livro foi mais ou menos igual. O autor escrevia, o editor avaliava, o copidesque e o revisor liam e corrigiam, o designer fazia o projeto gráfico, ele era novamente revisado e então impresso. Mais de cinco séculos sem grandes novidades. As diferenças residiam na escolha de um papel mais confortável para a leitura, uma capa mais chamativa ou sofisticada, um produto mais barato ou mais caro - para o consumidor que só lê e passa o livro adiante, para o que lê e quer guardar ou para o colecionador.

Mas essa indústria tem sido chacoalhada desde o fim dos anos 2000, quando os e-books começaram a ter impacto no faturamento das editoras americanas e britânicas que, assim como as demais indústrias, sofriam com a recessão econômica. Foi nesse momento que o livro digital deixou de ser um assunto especulativo e passou a ser visto como o salvador das lavouras. Novos departamentos foram criados, novos modelos de negócios surgiram. Isso não quer dizer, porém, que tal descoberta tenha sido simples, tranquila e reconfortante. Há quem ainda tenha medo da novidade. E existem muitas questões a serem resolvidas.

Poucos se dedicam a estudar a evolução do mercado editorial, e essa indústria que se ocupa de empacotar todo o conhecimento produzido no mundo volta-se raramente à sua própria história, o que dificulta ainda mais o entendimento do presente e exercícios de futurologia. Com o livro Mercadores de Cultura - O Mercado Editorial no Século XXI, cuja segunda edição, revista e ampliada, foi lançada no ano passado no mercado internacional e chega no fim de abril ao Brasil pela Unesp, John B. Thompson - professor de sociologia de Cambridge e há mais de dez anos pesquisador das mudanças estruturais da cadeia do livro - tenta preencher essa lacuna. Entre 2005 e 2009, ele mergulhou na realidade editorial dos Estados Unidos e o Reino Unido, conversou com cerca de 280 executivos, publishers, diretores comerciais de pequenas editoras e de grandes corporações. Desenhou, então, o atual mapa do negócio do livro, que assim poderia ser resumido: grandes redes de livrarias destruindo as lojas de bairro, grandes corporações, quase sempre pertencentes a grupos de mídia, se apoderando de editoras independentes, e todos, incluindo os que já dominaram o mercado, amedrontados pela Amazon. Claro, passando ainda pelo crescente poder dos agentes literários, a batalha pelos best-sellers e a revolução digital.

"Estamos vivendo uma espécie de revolução, e uma das poucas coisas que se podem dizer com certeza sobre uma revolução é que quando se está no meio de uma delas, não se tem ideia de onde e quando ela terminará", diz Thompson, nascido nos Estados Unidos e radicado na Inglaterra, nesta entrevista por e-mail, em que apresenta as mudanças do mercado editorial - e o que as motivou -, comenta questões relativas à realidade brasileira, como a chegada de grandes grupos do setor ao País, e fala sobre o "futuro incerto" das livrarias, dos editores e dos livros.

A cada dia, mais pessoas aderem à autopublicação e à edição exclusivamente digital. Com essa nova realidade, editoras e editores ainda serão necessários? O que significa hoje ser um bom profissional nessa área?

O desenvolvimento de novas tecnologias vem com frequência acompanhado por temores com a desintermediação, e a publicação de livros não é exceção: nenhum dos principais atores na cadeia tradicional de suprimento de livros - editoras, agentes e livreiros - tem seu futuro garantido. Cada um precisa mostrar que é capaz de agregar valor real nas novas cadeias de suprimento que estão sendo criadas pelas tecnologias digitais. Não há dúvida de que alguns escritores prefeririam dispensar as editoras tradicionais e/ou se publicar pessoalmente ou usar um dos muitos serviços de autopublicação hoje disponíveis, mas isso não eliminaria necessariamente os editores e editoras. Há pelo menos três maneiras pelas quais editores e editoras podem continuar a agregar valor real num mundo digital. Primeiro, eles podem agregar valor editorialmente no feedback que dão a escritores e na maneira como os ajudam a desenvolver seu trabalho e sua carreira. Segundo, somente editoras podem dar adiantamentos - isso não é algo que serviços de autopublicação tendem a oferecer, e pode fazer uma verdadeira diferença para a vida dos escritores. E, terceiro, boas editoras são formadoras de mercado: elas constroem mercados para livros em vez de simplesmente os tornar disponíveis. Esse ponto é crucial: nunca foi tão fácil "publicar" no sentido de tornar um conteúdo disponível - basta colocá-lo on-line. Mas "publicar" no sentido de tornar um livro conhecido do público é hoje mais difícil do que nunca, dado o puro volume de informação disponível. Hoje, as boas editoras são formadoras de mercado em um mundo onde é a atenção e não o conteúdo que anda escasso.

A briga por best-sellers resulta em editoras produzindo o mesmo tipo de livros e perdendo um pouco de sua identidade e da capacidade de inovação, o que pode ser um risco também à bibliodiversidade. O senhor vê a questão dessa forma?

Toda editora, grande ou pequena, quer um best-seller: publicar é um negócio duro e um best-seller às vezes pode significar a diferença entre o sucesso financeiro e a ruína. As grandes editoras, que pertencem a corporações de mídia, como Random House, Penguin e HarperCollins, tendem a ser mais focadas na busca de best-sellers porque as cobranças financeiras de seus donos corporativos requerem níveis de desempenho relativamente altos; editoras independentes de pequeno e médio porte não enfrentam o mesmo tipo de cobranças. Isso não significa, porém, que as editoras percam a sua identidade ou que a diversidade da cultura do livro seja indeterminada. É importante lembrar que hoje são publicados mais livros do que em qualquer outra época: a produção de títulos nos Estados Unidos aumentou de cerca de 200 mil livros novos em 1998 para mais de 315 mil em 2010 - e isso sem incluir reimpressões e títulos impressos sob encomenda. A diversidade na produção talvez seja maior agora do nunca, e seria difícil defender que menos obras de qualidade estão sendo impressas hoje do que há 30 ou 40 anos. O problema real de agora não é tanto a diversidade da produção como a diversidade do mercado. Apesar de cada vez mais livros estarem sendo publicados, somente um número muito pequeno deles está sendo selecionado para ganhar visibilidade num mercado cada vez mais abarrotado. Qualquer um que entre em diversas livrarias e supermercados verá a mesma gama limitada de títulos expostos - Harry Potter, O Código Da Vinci, os livros de James Patterson, Stephen King, Stephanie Meyer, Stieg Larsson, Cinquenta Tons de Cinza, etc. Não é exatamente uma situação em que o vencedor leva o mercado todo, mas é o que eu chamo de um vencedor leva mais mercado.

As editoras não estão pagando muito por livros em leilões? Esse dinheiro retornará algum dia?

Dada a importância dos best-sellers para as editoras, muitas estão dispostas a pagar um preço exorbitante pelos livros que acham que vão dar muito certo. As grandes editoras que pertencem a corporações de mídia podem e querem fazer isso mais que as independentes, simplesmente porque podem explorar os bolsos cheios de seus donos corporativos para pagar altos adiantamentos: isso dá às editoras de corporações de mídia uma vantagem-chave na competição por conteúdo novo. Em muitos casos, elas dão baixa contábil de uma proporção substancial desses adiantamentos - isto é, não pagarão royalties sobre eles. Isso não quer dizer que a editora perderá dinheiro com esses livros: se o livro vender bem, ele pode ser lucrativo para a editora mesmo que o adiantamento não seja coberto pelos ganhos futuros, e a proporção do adiantamento que foi lançada como passivo for tratada como um custo comercial. Mas essa é uma prática arriscada, pois há uma grande imponderabilidade na publicação comercial: ninguém sabe realmente que desempenho terão no mercado muitos livros novos publicados por editoras. Uma proporção significativa não conseguirá preencher as expectativas das editoras e se revelará deficitária. No ramo anglo-americano de publicação, cerca da metade dos novos livros de capa dura publicados a cada ano dá prejuízo, e somente um em cada dez se revela muito bem-sucedido e faz uma real diferença para a receita e lucratividade da editora. Pagar adiantamentos altos por livros que as editoras esperam que se tornem best-sellers é um negócio intrinsecamente arriscado: às vezes se ganha, mas, com mais frequência, não.

Com uma economia em crise, grandes editoras se voltam para novos mercados, especialmente os países emergentes. O Brasil é enorme e poderia ser um foco interessante para esses grupos internacionais. Porém, o índice de leitura é baixíssimo - quatro livros por ano, contando a leitura escolar. O que torna, então, o Brasil atraente para editoras como a Penguin, que comprou 45% da Companhia das Letras, ou para a Hachette, que teve fusão frustrada com a Escala, mas que esteve aqui recentemente sondando editoras para possíveis parcerias?

Todas as grandes editoras comerciais dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha precisam crescer de ano para ano e apresentar uma boa taxa de lucratividade para seus donos corporativos, mas o mercado de livros nos Estados Unidos e no Reino Unido está, em grande parte, estagnado. Portanto, todas as grandes editoras enfrentam o que eu chamo de "o enigma do crescimento": como crescer num mercado estagnado? Há várias maneiras de tentar resolver esse impasse, entre eles, concentrar mais esforços na aquisição de livros que eles acreditem ter potencial para se tornar best-sellers e cortar os chamados títulos "de meio de catálogo" (com expectativas medianas de vendas). Mas expandir as operações fora do mercado anglo-americano é uma parte importante de sua estratégia para lidar com o enigma do crescimento. Essa é uma das razões porque a Penguin tentou expandir suas operações no Brasil comprando uma participação substancial da Companhia das Letras. A expansão internacional há muito vem sendo também uma parte fundamental da estratégia de negócios da Hachette: de sua base na França - onde ela é a maior editora e onde sua capacidade de crescer é muito limitada -, a Hachette se expandiu agressivamente para a Grã-Bretanha (onde também é hoje a maior editora de livros), os Estados Unidos (onde adquiriu o Time Warner Book Group em 2006 e hoje figura como a quinta maior editora de livros) e Espanha (onde é a segunda maior editora); sua entrada no México e no Brasil é uma continuação dessa estratégia de crescimento de longo prazo via a expansão internacional.

Quando essas corporações globais compram editoras locais, elas acabam imprimindo o seu modelo de negócio. Por exemplo, a Companhia das Letras, respeitada pelos autores e livros de seu catálogo, trabalha hoje para consolidar um selo comercial que edita, entre outros, a best-seller Sylvia Day. Como o senhor vê essa nova onda de fusões? Elas trazem às ex-editoras independentes a oportunidade de crescimento ou o risco de perderem seu capital intelectual e identidade?

Evidentemente, há riscos em qualquer investimento desse gênero, em especial quando uma grande corporação assume uma participação substancial numa empresa como a Companhia das Letras, que é bem conhecida e largamente admirada por sua independência e a qualidade de seu catálogo. Há vários exemplos em que a aquisição de uma editora por uma organização maior destruiu a qualidade e particularidade do catálogo: o fim da editora The Free Press - que já foi uma grande editora americana de ciências sociais e hoje é uma marca da Simon and Schuster e uma pálida sombra do que foi - é um testemunho vívido dos perigos. Mas fusões e aquisições nem sempre levam à perda de qualidade e de identidade: editoras como Knopf e Farrar, Straus & Giroux continuam sendo grandes, apesar de há muito terem deixado de ser independentes e de serem efetivamente marcas das grandes corporações que as possuem. Não há uma regra simples aqui, portanto: certamente há riscos quando uma grande corporação adquire uma participação substancial numa editora independente, mas uma editoria com uma forte tradição de qualidade pode manter sua independência editorial, contanto que tenha tido o cuidado de proteger sua independência nos termos do acordo. O perigo real a longo prazo pode ter menos a ver com os termos formais do acordo do que com a cultura de expectativas em relação a crescimento e lucratividade, que pode levar uma companhia antes independente a investir cada vez mais nos tipos de publicação capazes de dar altos retornos.

A estreia da Amazon nos Estados Unidos foi como livraria on-line. Para iniciar sua expansão global, ela comprou, no Reino Unido e na Alemanha, operações locais de livros. No Brasil, a gigante americana tentou repetir a fórmula, mas não conseguiu. Então, para começar a operar aqui, em dezembro passado, ela fez parceria com uma pequena rede de livrarias físicas, com uma varejista on-line e abriu quiosques em shoppings. Foi um movimento natural? Ainda: livreiros e editores devem ter medo da Amazon?

Sim, é um desenvolvimento natural porque a Amazon há muito está orientada para a expansão internacional como parte de sua estratégia de crescimento. Para leitores e compradores de livros, a Amazon presta um grande serviço: é mais fácil do que nunca comprar livros, que são entregues rapidamente, sem tarifas postais e, amiúde, com preços reduzidos, e a gama de títulos disponíveis da Amazon é muito maior do que a seleção oferecida até pelas maiores livrarias físicas. Mas para as livrarias físicas e as cadeias de distribuição, a Amazon é sua nêmese. O fato de a Amazon ser uma das maiores varejistas de livros físicos dos EUA e do Reino Unido, e ser o player dominante no mercado emergente de e-books, coloca-a numa posição extremamente forte, não só em relação às outras varejistas, mas em relação a editoras também. E a Amazon pode usar seu poder de mercado para pressionar editoras quando se trata de negociar termos comerciais - nós sabemos do conflito entre a Amazon e a MacMillan, em 2010, ????sobre o acordo de agência, que a Amazon não tem medo de usar seu poder. Não há dúvida de que muitas editoras temem o poder crescente da Amazon no negócio do livro, e a maioria das editoras gostaria de ver outros varejistas e empresas de tecnologia abocanhando uma parcela crescente no mercado de e-book, como a Apple com seu iBookstore e a Barnes and Noble com seu Nook. Para as editoras, nada seria mais perigoso do que um mercado dominado por uma única varejista que é sua maior consumidora de livros físicos e que controla uma grande proporção das vendas totais de e-book. A morte de livrarias físicas também tornaria muito mais difícil para as editoras terem seus livros notados por leitores, já que eliminaria os espaços e vitrines onde livros são expostos e onde leitores podem folhear e descobrir livros que não conheciam quando entravam na loja.

Como devem ser as livrarias em dez anos?

O setor de varejo sofreu uma mudança tremenda nos últimos 40 anos e continuará a mudar numa velocidade vertiginosa. A ascensão das cadeias de megalojas de livros - como Barnes and Noble e Borders, nos Estados Unidos, e Waterstones, na Grã-Bretanha - causou um impacto devastador nas pequenas livrarias independentes, que não poderiam competir com a escala das megalojas e o serviço por elas oferecido. Milhares de livrarias independentes foram levadas à bancarrota. Agora, porém, as próprias cadeias de megalojas de livros estão lutando pela sua sobrevivência: a Borders fechou em 2011 e tanto a Barnes and Noble como a Waterstones enfrentam dificuldades. Elas estão sofrendo uma pressão tremenda de duas fontes: a força crescente da Amazon, que é agora a cliente mais importante de muitas editoras, e o crescimento das vendas de e-books. Ainda não está claro, a esta altura, como as cadeias de varejo enfrentarão esses desafios. Nos próximos anos, podemos esperar o crescimento contínuo da Amazon como um canal de varejo, enquanto as livrarias físicas se veem cada vez mais espremidas, conduzindo a mais fechamento de livrarias e enxugamento de cadeias. As margens de lucro das livrarias físicas já estão muito apertadas, de modo que não devemos nos surpreender se as virmos vendendo uma gama mais ampla de produtos na qual possam ter uma margem mais alta - artigos de papelaria, jogos, chocolates, etc. - em sua luta para manter a lucratividade no contexto do declínio da venda de livros. A bancarrota da Borders marcou o fim de uma era. A era dominada pelas grandes cadeias de varejo, espalhando suas megalojas por todos os Estados Unidos, terminou. Estamos entrando em uma nova fase, em que as cadeias de varejo que restam encontram-se numa posição bem mais fraca e na qual a Amazon se tornou a principal força de varejo a considerar.

Em seu livro, o senhor diz que "esta é uma indústria de futuro incerto". É, porém, otimista ou pessimista com relação a esse futuro? O que consegue vislumbrar? E qual deve ser o futuro do livro impresso?

No meu entender, estamos num momento crítico na longa história do livro: por mais de 500 anos, os princípios e práticas da publicação de livros permaneceram em grande parte inalterados, mas hoje o negócio do livro se vê às voltas com uma mudança tumultuosa, lutando para lidar com o impacto de uma revolução tecnológica que está ameaçando solapar sua maneira tradicional de fazer as coisas. Isso é tanto empolgante quanto perturbador para os que trabalham no ramo, e muitos temem pelo seu futuro. É fácil entender por que: basta olhar a indústria fonográfica para ver o colapso que sofreu com a revolução digital. Não creio que alguém possa prever como esta revolução se desenrolará no setor da publicação de livros nos próximos anos e décadas: a mudança de 2008 para cá foi enorme, mas ninguém sabe se o crescimento do e-book que foi testemunhado nos Estados Unidos e no Reino Unido continuará no mesmo ritmo, desacelerará ou mesmo se inverterá. Estamos vivendo uma espécie de revolução, e uma das poucas coisas que se podem dizer com certeza sobre uma revolução é que, quando se está no meio de uma delas, não se tem ideia de onde e quando ela terminará. Minha visão pessoal é de que não veremos uma migração de mão única do impresso para o digital no mundo do livro: veremos antes o surgimento de uma economia mista de impresso e digital, com alguns tipos de publicações - como ficção popular e comercial - mudando fortemente para vendas digitais, enquanto outros tipos de publicações, até alguns tipos de livros de não ficção e pesadamente ilustrados (incluindo livros infantis), continuarão a ser vendidos na forma impressa. O livro impresso tem algumas vantagens sobre os e-books, pelo menos no estágio atual de desenvolvimento, e muitos leitores continuarão a preferir comprar e ler livros numa forma física - especialmente os livros que lhes interessam. As editoras mais bem-sucedidas serão aquelas capazes de estruturar seus negócios de modo a tirar plena vantagem das vendas tanto de livros impressos como digitais. Mas esses são processos imprevisíveis por natureza, dependentes de fatores incalculáveis de inovações ainda desconhecidas para os hábitos e gostos de leitores, e ninguém sabe com certeza como esses processos se desenrolarão nos próximos anos. / Tradução de Celso Paciornik


MERCADORES DE CULTURA - O MERCADO EDITORIAL NO SÉCULO XXI
Autor: John B. Thompson
Tradução: Alzira Allegro
Editora: Unesp

Fonte: O Estado de S. Paulo