domingo, 3 de novembro de 2013

OPINIÃO DO DIA José Serra: Lula pode ser candidato?

Parece-me que sim. Quando você pega avaliações de governo, em geral não dá uma diferença grande entre a taxa de aprovação e desaprovação [do governo]. E acima de tudo, qualquer pesquisa mostra desejo de mudança. O indicador de que a disputa vai ser acirrada é o fato de que o pessoal quer mudança.

O PT não quer perder o poder de jeito nenhum. Sabe por quê? Porque se misturaram com o poder. O PT se apossou do governo e deixou uma parte para os aliados. Toda a máquina está confundida com o governo. É questão de sobrevivência. Vão fazer tudo para ganhar. Se os dados apontarem que Dilma não será capaz de ganhar no primeiro turno, o PT não vai correr o risco. Um segundo turno para ela é arriscadíssimo.

José Serra, “Se Aécio for o candidato do PSDB, vou trabalhar por ele”. Entrevista na Folha de S. Paulo, 2 de novembro de 2013.

Dilma reconquista só parte de popularidade após protestos

Apesar de ter intensificado sua atuação política nos últimos quatro meses, a presidente Dilma Rousseff não concretizou a previsão do marqueteiro João Santana de que até novembro recuperaria a popularidade perdida na onda de protestos iniciada em junho, informa o repórter Daniel Bramatti. A recuperação foi parcial e está parada há dois meses. Diferentes segmentos da sociedade - em especial os mais jovens, os mais escolarizados, os de renda mais alta e os moradores de municípios médios e grandes - nunca tiveram tantas divergências em relação à atuação da presidente

Sem reconquistar eleitor jovem, Dilma vê ‘profecia’ de marqueteiro se desfazer

Daniel Bramatti

Nos últimos quatro meses, a presidente Dilma Rousseff lançou novos programas, viajou mais pelo País, denunciou a espionagem dos Estados Unidos em discurso na ONU, distribuiu máquinas a centenas de prefeitos e fez três pronunciamentos em rede nacional de televisão - mas nem assim concretizou a previsão de seu marqueteiro, João Santana, de que até novembro recuperaria a popularidade perdida na onda de protestos de junho.

A recuperação de Dilma foi parcial e está empacada há dois meses - depois que a avaliação positiva do governo desabou, entre junho e julho, houve uma leve melhora, em agosto, mas desde então nada mudou. Além disso, houve um acirramento de posições: diferentes segmentos da sociedade - jovens e velhos, ricos e pobres - nunca divergiram tanto sobre a gestão da presidente.

Pesquisa lbope feita na primeira quinzena de junho, antes que os protestos contra aumentos nas tarifas de ônibus ganhassem caráter nacional, mostrou que 55% dos brasileiros consideravam o governo bom ou ótimo. Um mês depois, a taxa caiu para 31%. Em termos absolutos, o número de eleitores satisfeitos com a gestão passou de 77 milhões para 43,5 milhões - uma queda de 33,5 milhões em 30 dias.

Em agosto, depois de Dilma responder à pressão das ruas com o lançamento de "cinco pactos afavor do Brasil", a avaliação positiva do governo subiu sete pontos porcentuais - é como se 10 milhões de brasileiros recuassem de sua postura de animosidade.Mas 23,5 milhões não voltaram para o ninho governista -nem em agosto, nem em setembro, nem em outubro.

Nesse contingente que não se deixou convencer pelas políticas de Dilma e pelo marketing de João Santana, há eleitores de todos os tipos, mas alguns segmentos se destacam: os maisjo-vens, os mais escolarizados, os de renda mais alta e os moradores de municípios médios e grandes.

Questão de idade. Em junho, a taxa de aprovação ao governo era quase igual entre os eleitores de até 24 anos (57%) e os de mais de 55 anos (58%). Os protestos de rua acabaram com essa sintonia. A pesquisa Ibope de outubro mostrou aprovação de 45% entre os mais idosos e de apenas 32% entre os maisjovens. Ouseja, Dilma perdeu quase metade de seus simpatizantes entre os mais novos, e um quinto do apoio entre os mais velhos.

Laís Santos, de 18 anos, disse que já teve "simpatia" pelo governo, mas participou dos protestos de rua e hoje se alinha aos críticos de Dilma Rousseff. Estudante universitária e moradora de Guaíba, na região metropolitana de Porto Alegre, ela se enquadra em todos os segmentos mais propensos a resistir ao cortejo governista.

Apesar de ressalvar que tem poucas referências em relação ao passado, Laís acha que "as condições de vida melhoraram nos últimos anos", o que não a impede de apontar problemas na condução do País. A universitária afirma que a corrupção na administração pública chama a atenção: "Os escândalos estão enraizados e podem ser maiores do que os que aparecem na mídia". E reclama do transporte público, que passou a usar com frequência para ir e voltar da faculdade.

No caso da estudante, o afastamento em relação ao governo não significa alinhamento à oposição. "Se eu disser que não estou contente (com o governo), pode parecer que esteja contente com a oposição, mas não gostaria que ela assumisse."

Bolso. A divisão do eleitorado por renda mostra que Dilma se recuperou apenas nas faixas mais pobres. Em junho,a presidente era avaliada positivamente por 13,7 milhões de brasileiros que ganham até um salário mínimo. Em julho, esse número havia caído para menos da metade, mas, até outubro, passou para 12 milhões (88% do patamar inicial).

No segmento que recebe de um a dois salários mínimos, Dilma colhe outro bom resultado: já é aprovada por 75% do contingente que, em junho, via o governo como "bom ou ótimo". Mas o quadro é outro nas faixas de renda acima de dois salários mínimos - nelas, a aprovação a Dilma continua a cair, em vez de se recuperar.

Outro público que se afastou de Dilma e não mostra disposição para "reatar" com a petista é o que tem curso superior. A presidente perdeu metade do apoio que tinha nesse segmento: em junho, era de 48%, e em outubro chegou a 25%.

A recuperação da presidente tem ritmos distintos segundo a região pesquisada. No Nordeste, o porcentual que considerava o governo ótimo e bom era de 53% em outubro, 13 pontos porcentuais abaixo do resultado de junho.No Nordeste/Centro-Oeste, Dilma ainda está 23 pontos abaixo do que tinha antes da onda de protestos.

A previsão de que o governo levaria quatro meses para se recupera foi feita pelo marqueteiro João Santana, em e-mail enviado no fim de junho a integrantes do governo e do PT. Santana foi procurado pelo Estado para analisar as últimas pesquisas, mas não respondeu às tentativas de contato.

Colaboraram Valmar Hupsel Filho e Elder Ogliari

Fonte: O Estado de S. Paulo

Comitê eleitoral 1: O “é agora ou nunca” de Dilma

A presidente passou o feriado reunida com 15 ministros com o objetivo de “destravar” o país e preparar o cenário da reeleição. Pastas das áreas sociais e de infraestrutura foram as mais cobradas. Obras tocadas pelo Exército se tornam modelo de eficiência e baixo custo

Feriado de muitas broncas e promessas

Após sete horas de reunião com 15 ministros, ontem, no Palácio da Alvorada, Dilma Rousseff mostrou sua
preocupação com atrasos e riscos em torno de projetos. Ela questionou andamentos e cobrou resultados

Rosana Hessel, Leandro Kleber

A presidente Dilma Rousseff se reuniu ontem por sete horas com 15 ministros das áreas social e de infraestrutura para cobrar deles resultados e recolher informações a fim montar uma agenda de anúncios para os próximos dois meses, como os leilões dos aeroportos de Confins (MG) e Galeão (RJ) e de mais duas rodovias federais. A chefe do Executivo promete continuar mantendo essa rotina de encontros com a sua equipe para evitar a continuidade de resultados frustrantes.

Em pleno feriado de Finados, sua intenção relevada em três postagens no Twitter antes da reunião era montar “um cronograma de entregas de obras federais pelo país”, tentando descartar o caráter extraordinário da convocação. Apesar disso, não há sinais de progressos. O encontro foi marcado por broncas da presidente em auxiliares, aos quais endereçou perguntas específicas sobre as principais políticas de cada área. Ela cobrou o desenvolvimento das ações e dos programas.

Alguns ministros ouviram mais reclamações do que outros. A pasta de transportes, uma das principais do governo, não “apanhou tanto”. O mesmo não ocorreu com o primeiro a falar depois que a presidente abriu o encontro: o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, recebeu uma enxurrada de questionamentos da presidente. Ela perguntou a ele como estava o andamento do Programa Mais Médicos, se os profissionais estão chegando e onde são hospedados. Um a um, todos os ministros falaram sobre as suas respectivas áreas, com seguidos questionamentos dela.

A estratégia de Dilma é pavimentar o caminho para a reeleição em 2014, fazendo balanços e cobranças, e exigindo de seus ministros celeridade no andamentodos projetos. “Temos uma agenda, enfim, de entrega de várias obras que vão ser executadas, sobretudo, neste fim de ano. Devemos prestar contas à população. Afinal, a presidente lançou uma série de programas, fez compromissos e agora está na hora das entregas do governo”, explicou a ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffman, ao sair da reunião no Palácio da Alvorada.

Ela citou que há várias entregas na área social, como em educação e saúde e no Programa Brasil sem Miséria. Para a infraestrutura, Gleisi destacou estradas e portos. “Foi um dia bastante produtivo”, resumiu, sem detalhar qual será o cronograma. A ministra foi ao encontro em um carro particular, conduzido pelo marido, o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo.

Dilma mostrou preocupação com as obras da transposição do Rio São Francisco, que caminham a passos lentíssimos. “Ela perguntou ao ministro (da Integração, Francisco Teixeira) sobre a transposição”, contou Bernardo. O chefe das Comunicações informou que outros temas de interesse parados no Congresso também fizeram parte das discussões, como o Marco Civil da Internet, que está trancando a pauta da Câmara dos Deputados. Dilma reforçou que o governo é a favor da neutralidade da rede e do armazenamento dos dados no país. “Estamos dialogando com os deputados”, acrescentou Bernardo.

“A presidente tem compromisso com todos os programas lançados e pediu empenho dos ministros de todas as áreas que estavam aqui”, completou Gleisi, destacando que as prioridades de Dilma estão “diretamente relacionadas com as necessidades da população, principalmente em saúde e educação. “Esse é o grande compromisso da presidente”, pontuou ela. O porta-voz da Presidência, Thomas Traumman, informou que a chefe do Executivo planeja encontros semanais sobre pastas específicas do governo. As próximas vão tratar dos grandes eventos esportivos (Copa do Mundo e Olimpíada) e da agricultura. Também é esperado um dia apenas para tratar de infraestrutura.

Segundo tempo
Alguns nomes que deveriam participar da reunião de ontem acabaram ficando para um segundo momento, em razão de uma missão especial à China liderada pelo vice-presidente da República, Michel Temer, com ministros de Estado e secretários executivos de ministérios, além de técnicos de governo e empresários. Eles embarcaram na noite de sexta-feira para cumprir uma agenda de encontros bilaterais de alto nível. Os investimentos chineses no Brasil e a abertura de mercados a produtos nacionais figuravam como os primeiros itens da pauta da delegação. Há nela ainda parcerias nas áreas de ciência, tecnologia e educação. O grupo passará por Macau, Cantão e Pequim. Os chineses estão presentes no único consórcio vencedor do leilão do Campo de Libra.

Quando retornarem da viagem, a conversa com Dilma de ontem prosseguirá com os titulares da Agricultura, Antônio Andrade, da Secretaria de Aviação Civil (SAC), Wellington Moreira Franco, e da Ciência e Tecnologia, Marco Antonio Raupp. A data ainda não foi definida. Mas o tom será o mesmo: de cobranças.

Lista de convocados

Ministros presentes ontem no Alvorada

Nome Pasta
Aguinaldo Ribeiro - Cidades
Alexandre Padilha - Saúde
Aloísio Mercadante - Educação
Antônio Henrique Pinheiro - Secretaria de Portos
César Borges - Transportes
Edison Lobão - Minas e Energia
Eleonora Menicucci - Secretaria das Mulheres
Francisco Teixeira - Integração Nacional
Gleisi Hoffmann - Casa Civil
Ideli Salvatti - Relações Institucionais
Izabella Teixeira - Meio Ambiente
Miriam Belchior - Planejamento
Paulo Bernardo - Comunicações
Pepe Vargas - Desenvolvimento Agrário
Tereza Campello - Desenvolvimento Social

Fonte: Presidência da República

Fonte: Correio Braziliense

Comitê eleitoral 2: Dilma reúne 15 ministros e cobra vitrine

Presidente na ofensiva para concluir obras

2014. De olho na reeleição, Dilma Rousseff cobra de 15 ministros a entrega de intervenções consideradas vitrines para o governo

BRASÍLIA - De olho na eleição de 2014, a presidente Dilma Rousseff cobrou ontem de 15 dos seus 39 ministros a conclusão de obras consideradas vitrines para o governo federal na campanha à reeleição. Dilma pediu que as benfeitorias sejam aceleradas para que, até o final do ano, parte delas seja entregue à população.

A presidente se reuniu com os ministros por sete horas no Palácio da Alvorada para discutir o cronograma de obras nas áreas de Saúde, Educação e Infraestrutura. Ao negar que o objetivo do encontro tenha sido alavancar a campanha eleitoral de Dilma, a ministra Gleisi Hoffmann (Casa Civil) disse que a presidente fez compromissos à população e, agora, chegou a hora de o governo implementá-los.

"Isso tem a ver com resultado de governo. Um governo é eleito, organiza os seus programas, faz compromissos com a população e tem que prestar contas. Estamos no momento de prestação de contas e de entregas", afirmou Gleisi Hoffmann. "São várias entregas que a presidente cobrou dos ministros para que agilizassem, inclusive, alguns resultados e que nós pudéssemos prestar contas à população", completou a ministra.

Dilma pediu que cada ministro fizesse um balanço das obras vinculadas à sua pasta e disse que vai repetir o encontro com aqueles que não estiveram presentes ontem - para discutir outros setores, como Agricultura e Esportes, às vésperas da Copa de 2014.

Entre as obras que Dilma pretende inaugurar, Gleisi citou unidades básicas de saúde, aumento de profissionais do programa Mais Médicos, residências do Minha Casa, Minha Vida, além do Pronatec. Ainda segundo a ministra da Casa Civil, as datas de inaugurações serão definidas de acordo com as agendas da presidente e dos ministros ligados às obras.

"São (cobranças) naturais do processo de monitoramento que temos feito sempre. A presidente vai marcar outras reuniões", afirmou a ministra.

Campanha
A estratégia do Planalto é acelerar as obras para que Dilma tenha o que mostrar na sua campanha à reeleição. Nos últimos meses, a questão eleitoral ganhou força com a união da ex-senadora Marina Silva com o governador Eduardo Campos (PSB), antigos aliados e que devem se candidatar em 2014.

O senador Aécio Neves (PSDB-MG), provável adversário da presidente, também começou a fazer viagens pelo País, com acusações de paralisia do governo em diversos setores - especialmente na área de infraestrutura.

O ministro Paulo Bernardo (Comunicações) disse que a reunião, em pleno feriado, não foi emergencial - mas de cobrança para que as ações do governo sejam agilizadas. "Ela só quer que as coisas aconteçam, está preocupada, perguntou especificamente de alguns programas, como o Mais Médicos, se os médicos estão chegando, vão ser alocados nos lugares onde precisa e a população vai ser atendida. Foi nessa linha", disse.

Fonte: Jornal do Commercio (PE)

PSDB lançará plano com diretrizes econômicas

Entre os 12 pontos do documento está a recuperação da credibilidade perdida pelo Brasil entre investidores

Cristinae Jungblut, Junia Gama

Disposto a entrar no debate sobre os rumos da economia depois da piora do desempenho das contas públicas, o PSDB lançará na primeira semana de dezembro um plano com as diretrizes da política tucana focado em pelo menos 12 pontos. O plano será uma prévia da diretriz econômica do programa de governo do presidenciável Aécio Neves (MG), senador e presidente do PSDB. O documento terá forte teor econômico e vai criticar o governo Dilma Rousseff devido às ações na área econômica entre investidores e no plano internacional.

E terá como linha geral fugir do modelo do simples “Estado assistencialista” ou “Estado grande” — ou, na expressão de um dos colaboradores, “nadar em uma raia que não é do PT”. Segundo formuladores do documento, o texto será um delimitador dos valores da plataforma do PSDB. Entre os 12 pontos estão principalmente: recuperar a credibilidade perdida na área econômica; melhoria do ambiente de investimentos, para aumentar a entrada de recursos privados; e Pacto Federativo, com defesa de uma volta de uma maior autonomia de estados e municípios.

O texto ainda está na primeira etapa de formulação e discussão, podendo ter mais ou menos pontos. Uma das preocupações dos colaboradores de Aécio é adotar uma linguagem adequada, para não alimentar o discurso dos petistas de que o PSDB quer tirar benefícios dos mais pobres. Para vacinar o partido contra possíveis críticas, Aécio se antecipou durante a semana e apresentou o projeto que inclui o Bolsa Família na Lei Orgânica da Assistência Social (Loas).

Os tucanos queriam ter lançado esta ideia um dia antes da comemoração dos dez anos do Bolsa Família. Mas Aécio acabou divulgando a proposta no mesmo dia como resposta às críticas do ex-presidente Lula. Para os formuladores do plano, o desenvolvimento social e o desenvolvimento econômico devem ter pesos equivalentes na plataforma do PSDB.

O programa abordará pontos como a competitividade do Brasil no cenário internacional; infraestrutura deficiente; baixo crescimento econômico em relação aos demais países emergentes; e a manutenção, com responsabilidade, do chamado tripé da política macroeconômica, composto pelo regime de metas de inflação, superávits primários (economia para o pagamento de juros da dívida pública) robustos e câmbio flutuante, estabelecido no governo Fernando Henrique Cardoso.

Dentro da estratégia de evitar que Aécio perca espaço para o presidenciável e governador Eduardo Campos (PSB) na corrida sucessória, a ordem dos marqueteiros é produzir um documento que não seja retórico, característica considerada negativa pelos tucanos nos textos da ex-senadora Marina Silva, por exemplo.

Fonte: O Globo

Para tucanos, Dilma mudou rumos dados por Lula

PSDB centrará discurso em quem quer mais que assistencialismo

A ideia é começar com uma crítica aos rumos da economia no governo Dilma. A estratégia, segundo o ex-prefeito Luiz Paulo Vellozo Lucas, envolvido na elaboração do plano, é mostrar que a presidente mudou o receituário do governo Lula. Dilma implantou uma política econômica da cabeça dela e que está dando errado. Há uma perda de confiança no cenário internacional. Ela desorganizou o setor do petróleo — disse Vellozo Lucas, ressaltando que o documento está em formulação por um grupo com integrantes como Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central.

O governo central (Tesouro, Previdência e Banco Central) registrou déficit de R$ 10,5 bilhões em setembro, o pior resultado desde o início da série histórica, em 1997. A meta de superávit do governo central já está em 2,3% do PIB, mas deverá ser adotada a chamada contabilidade criativa para alcançar os resultados (3,2%). — Os resultados do governo são muito ruins na política econômica. O principal indicador da saúde de uma economia é a confiança, é o ambiente de negócios.

O ano de 2010 foi o único no qual o Brasil cresceu mais do que o restante da América Latina — disse Vellozo Lucas, assessor de Aécio no Senado. Com uma pesquisa em mãos, informando que cerca de metade do eleitorado quer mais que assistencialismo, quer condições para que as pessoas se desenvolvam, o PSDB vai centrar o discurso nesta parcela da população. Os marqueteiros tucanos detectaram que a demanda não é ainda vocalizada por políticos e querem se antecipar a Eduardo Campos e Marina Silva.

O programa contará com a opinião do ex-presidente Fernando Henrique, com quem Aécio jantou recentemente e se encontrará nos próximos dias novamente. Além de FH e Armínio Fraga, Samuel Pessoa, da FGV, Vellozo Lucas e Mansueto Almeida são pensadores consultados para a elaboração do programa.

Aécio evita dar detalhes, só ressaltando que seguirá “tendências históricas” do partido: — Ainda estamos formulando o texto, mas certamente haverá um foco na gestão mais ortodoxa, mais dura na questão fiscal, no combate à inflação, que são marcas desde sempre do PSDB — disse o tucano.

Outro cuidado que o partido terá na apresentação do documento será o tratamento dado à questão da privatização. Ainda não há consenso a respeito da presença do tema no programa, mas, se constar, será de forma menos enfática do que a defendida pelo presidente do PSDB em recente discurso em Nova York, para investidores e representantes de grandes empresas. Mais uma vez, a intenção é não virar alvo de ataques antiprivatistas..

Fonte: O Globo

Por 2014, Serra faz cruzada espartana

Ex-governador enfrenta carência de estrutura e recursos para se manter como opção no PSDB

Depois de conquistar duas vezes a indicação do PSDB para disputar a Presidência contando com apoio e reverência da maioria do partido, o ex-governador José Serra está vivendo pela primeira vez a experiência de correr por fora para se viabilizar. Sua cruzada para se manter no jogo de 2014 tem sido solitária e espartana.

Enquanto o senador mineiro Aécio Neves circula pelo Brasil a bordo de um jatinho alugado pela legenda e leva na aeronave as principais lideranças tucanas do Congresso, Serra viaja acompanhado apenas de um ajudante de ordens e enfrenta filas nos aeroportos antes de embarcar em voos de carreira.

Por ter sido governador de São Paulo, ele tem direito a usar um veículo blindado com motorista em seus deslocamentos, além de um segurança e um ajudante de ordens. O "privilégio" dura só até o fim do ano que vem. Quando chega às cidades, é geralmente recebido por um grupo reduzido de dirigentes locais e precisa improvisar para garantir presença no noticiário do dia seguinte.

Como não conta com assessores de imprensa, a divulgação e o roteiro são feitos pelas entidades ou organizações que o recebem. A estratégia tem sido fazer uma agenda "espelho" com a do correligionário mineiro para dividir com ele - ou superá-lo -nas manchetes de política do dia seguinte. Em alguns casos, a tática tem dado certo.

Convite a si mesmo. Na última semana de outubro, Serra ficou sabendo por meio de Ieda Areias, sua única aliada na executiva do diretório do PSDB paulista, que Aécio visitaria algumas cidades na região de São José do Rio Preto, no interior. O ponto alto seria o encerramento de um congresso com prefeitos em Olímpia. O ex-governador antecipou-se e desembarcou de surpresa na cidade.

Na segunda-feira passada, ele ligou para a diretoria da Fiesp e, segundo a assessoria da entidade, se convidou para participar da reunião quinzenal da diretoria. Na próxima sexta-feira, Serra será a estrela de um evento da Juventude do PSDB-SP no mesmo dia em que Aécio desembarcará com seu séquito para um grande evento em Manaus.

Solitário. Essa movimentação paralela e solitária tem irritado os "aecistas". "Ela é equivocada e preocupa a bancada do PSDB no Congresso. Parece que ele não faz parte de um time", diz o deputado federal Carlos Sampaio, líder tucano na Câmara. Não por acaso, o senador mineiro já cogita antecipar para o fim deste mês ou o começo de dezembro o lançamento oficial de seu nome para o Planalto.

Apesar de se apresentar pré-candidato, Serra tem agido à margem da máquina partidária do PSDB. Cada vez mais exíguo, o grupo "serrista" perdeu para Aécio alguns de seus principais expoentes. Embora ainda mantenha laços de amizade com o ex-governador, o senador Aloysio Nunes Ferreira está engajado no projeto presidencial de Aécio Neves e tem sido presença constante nas viagens do mineiro pelo Brasil.

Outro convertido ao "aecismo" é o deputado Antonio Carlos Mendes Thame. Indicado por Serra para o cargo de secretário-geral do PSDB, ele se tornou um dos principais articuladores do mineiro nos diretórios estaduais tucanos.

"O Aloysio e o Thame, que são dois dos mais expressivos aliados do Serra,estão absolutamente integrados ao projeto do Aécio. O ex-governador Alberto Goldman, que também é muito próximo, está coordenando a parte programática do PSDB", diz o deputado Marcus Pestana, presidente do PSDB mineiro e braço direito de Aécio.

Hoje, o staff informal do ex-governador tem apenas quatro antigos auxiliares: o presidente do Sebrae-SP, Bruno Caetano, Luís Sobral (tesoureiro de sua campanha em 2010),Ieda Areias (ex-secretaria particular) e a jornalista Paula Santamaria, que o assessorou por 15 anos. No fim, a situação dos últimos meses acabou por dar vida a uma antiga máxima de Serra: "Eu não tenho interlocutores".

Fonte: O Estado de S. Paulo

Partidos grandes se esforçam para ter controle dos Estados

PT, PSDB, PMDB e PSB traçam estratégias para aumentar o atual número de governadores eleitos

Lucas Pavanelli

Os três partidos que governam o maior número de Estados hoje e que vão disputar a Presidência da República, no ano que vem, pretendem lançar entre 10 e 11 candidatos aos governos estaduais. Há oito meses para as definições das chapas, caciques do PSDB, do PSB e PT admitem que o cenário pode mudar, mas tentam viabilizar candidaturas competitivas para o pleito do ano que vem.

O secretário geral do PSDB, deputado federal Mendes Thame, afirma que nem todos os postulantes irão, de fato, se candidatar no ano que vem.

“A regra é termos candidato à reeleição ou nome forte nos Estados onde já estamos. Nos outros locais, ter pré-candidato é um pressuposto que nos dá poder de barganha”. Hoje, o PSDB governa os Estados de Minas, São Paulo, Paraná, Alagoas, Tocantins, Pará, Roraima e Goiás. Desses governadores, metade pode se reeleger: Geraldo Alckmin (SP), Marconi Perillo (GO), Simão Jatene (PA) e Beto Richa (PR).

No PSB, a pré-candidatura do governador de Pernambuco, Eduardo Campos à Presidência turbinou as pretensões do partido. “A candidatura presidencial estimula. É é um vetor importante para as candidaturas a governo de Estado”, afirmou o secretário nacional do partido, Carlos Siqueira.

No PT, a meta é aumentar o número de governadores. Os petistas estão, hoje, no Acre, na Bahia, no Distrito Federal, no Rio Grande do Sul e em Sergipe. Podem se reeleger, Tião Viana (AC), Agnelo Queiroz (DF) e Tarso Genro (RS). O governador do Sergipe, Marcelo Déda, reeleito em 2010, trata de um câncer e não deve liderar a sua sucessão, o que é considerado uma perda.

Pelas contas do vice-presidente do PT, o senador Humberto Costa, de Pernambuco, o partido no Nordeste será cabeça de chapa na Bahia, no Piauí e, talvez, em Pernambuco, onde a legenda admite a compor para sair ao Senado. Costa rechaça um cenário de dificuldade no Nordeste. “Eu acho que a situação não é ruim, pelo contrário. Dilma e Lula é que são os grande puxadores de voto no Nordeste. Onde não tivermos candidaturas, teremos palanques fortes com os aliados”, explica.

Em pelo menos três Estados – Minas, Goiás e Bahia – PT, PSDB e PSB podem ter confronto direto. Para o Palácio Tiradentes, a briga se desenha para um confronto entre o ex-ministro Pimenta da Veiga (PSDB), o atual ministro do Desenvolvimento Econômico, Fernando Pimentel (PT) e o prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda (PSB), que tem a preferência dentro do partido.

Em Goiás, o governador tucano Marconi Perillo tenta a reeleição e pode enfrentar o prefeito de Goiânia, Paulo Garcia, ou o de Anápolis, Antônio Gomide (ambos petistas). O presidente estadual do PSB, Vanderlan Cardoso é nome certo na disputa.

Na Bahia, o PT do governador Jaques Wagner deve indicar o ex-presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli para sua sucessão. Os petistas devem enfrentar o tucano Antônio Imbassahy e a senadora Lídice da Mata (PSB).

Fonte: O Tempo (MG)

No Rio, disputa pelo governo inclui obras e promessa de cargos

Candidatos oferecem vagas de vice para conquistar apoio de novos partidos

Marcelo Remigio

Ainda cercada por indefinições, a corrida eleitoral para o Palácio Guanabara inclui a negociação de obras nos próximos meses e cargos em eventuais governos. Atrair aliados nos novos partidos — PROS e Solidariedade— é também um desafio para os pré-candidatos Luiz Fernando Pezão (PMDB), Lindbergh Farias (PT), Anthony Garotinho (PR) e Marcelo Crivella (PRB). Os adversários do vice-governador Luiz Fernando Pezão procuram levar vantagem nesta queda de braço.

De olho nas alianças, eles assediam integrantes dos partidos recém-criados PROS e Solidariedade com vagas de vice nas chapas ao governo do estado. No Rio, as duas legendas foram formadas, quase majoritariamente, por descontentes com o governo Sérgio Cabral, após serem preteridos no atendimento a pedidos para seus redutos eleitorais. Obras são uma arma para Pezão e o senador Lindbergh Farias. Enquanto Pezão ataca com seu carro-chefe na vice- governadoria, o programa Bairro Novo, o petista vende as obras previstas pelo PAC-2, um dos carros-chefes da presidente Dilma Rousseff.

O programa do governo do Rio beneficiará, em sua fase inicial, 123 bairros de 19 municípios da Região Metropolitana e Baixada Fluminense. Já o governo federal publicou no último dia 24 no Diário Oficial da União investimentos em nove cidades das regiões Metropolitana, Serrana e Sul, além da Baixada.

Disputa por apoio de Cardoso
Entre os critérios de ambos os programas para a escolha dos municípios beneficiados está a densidade demográfica. Na lista está Duque de Caxias, cidade com terceiro maior colégio eleitoral fluminense e segundo maior orçamento do estado. Lindbergh leva ligeira vantagem em relação a valores sobre Pezão: serão gastos pelo PAC-2 na cidade R$ 146 milhões em obras de saneamento e pavimentação, contra obras de urbanização do Bairro Novo orçadas em 124 milhões. Tanto Pezão como Lindbergh, além de Cabral, têm dívidas de apoio político com o prefeito, Alexandre Cardoso, que deixou o PSB por declarar apoio ao candidato do PMDB, mas não fechou as portas para o amigo petista.

Lindbergh tem prometido obras e vendido o discurso de “governar para camadas mais pobres”. Em suas andanças pelo estado, o petista apresenta mapas de investimento do governo Cabral em áreas de maior poder aquisitivo, em detrimento de áreas menos favorecidas, segundo o senador. O petista ainda promove eleitoralmente o PAC-2 sem autorização oficial de seu partido, que negocia a manutenção nacional com o PMDB.

Fonte: O Globo

Entrevista do vice-governador de Minas: É hora de convergência

Para o vice-governador, candidatura de Aécio Neves terá reflexo nas disputas estaduais

Baptista Chagas Almeida

Vice-governador de Minas, Alberto Pinto Coelho (PP) não quer passar o carro na frente dos bois, não admite, mas certamente assumirá o governo do estado em abril do ano que vem. Sobre as eleições, ele destaca a necessidade de união em torno da candidatura presidencial do senador Aécio Neves (PSDB-MG), que acredita terá reflexo também nas disputas estaduais. E resume a estratégia: "A hora é de contribuir com a convergência, agir com altruísmo em busca do melhor caminho para Minas e o Brasil".

O senhor assume o cargo, fica os nove meses ou ainda tem alguma possibilidade de concorrer à reeleição?
A primeira colocação que eu faço é que essa decisão depende, certamente, de uma decisão do próprio governador Antonio Anastasia (PSDB), que vem recebendo os apelos públicos em relação à importância da sua presença no Senado. Mas nós temos que aguardar, porque na vida pública nós não somos donatários do destino, e o governador é visto por todos como homem público qualificado e credenciado para ser uma voz de Minas no Senado. A presença dele como candidato é importante para o processo eleitoral do nosso campo em Minas e também para a candidatura do senador Aécio Neves à Presidência.

Pois é, era o que eu iria perguntar. Toda a política mineira, do PSDB, do PP e dos demais partidos aliados, passa pela candidatura do Aécio à Presidência, não?

Sim, eu diria que essa singularidade da eleição em 2014 tem a regência de um mineiro e é candidato à Presidência da República: o senador Aécio. Isso amplia os contornos da importância do processo em Minas de buscar manter essa ampla aliança e, mais do que isso, vamos criar um grande movimento para intensificar o sentimento mineiro, da importância de Minas voltar ao Planalto Central.

E o PP?

O PP, como na realidade de todos os partidos, é um partido que tem federação de realidades regionais. Isso tanto é verdade que eu diria que esse dispositivo da verticalização, hoje constitucional, vem retratar o contexto de uma realidade partidária. Essa realidade levou o partido na última eleição para presidente a não emprestar a sua coligação a nenhum dos candidatos em nível nacional, dando liberdade aos estados de se posicionarem dentro do contexto regional.

O senhor acha que isso tende a se repetir?

Se eu for olhar a realidade partidária, eu diria que sim, embora a maioria dos nomes do PP colocados como pré-candidatos estará em palanques nos estados contra candidaturas do PT. Essa realidade começa no Rio Grande do Sul, com a senadora Ana Amélia. Em Santa Catarina com Ângela Amin, Espiridião Amin e com o senador do PSDB Paulo Roberto Bauer, no sentido de formar uma chapa. No Paraná, o ex-deputado Ricardo Barros foi candidato ao Senado com o governador Beto Richa (PSDB), é secretário do estado e certamente apoiará a reeleição de Richa. Minas Gerais é nuclear. Em Goiás, o vice-governador que era do DEM, se filiou ao PP, ao lado do governador Marconi Perillo (PSDB), que deve buscar a reeleição. Temos uma candidata no Amazonas, que é a deputada Rebecca Garcia, e tudo caminha para que ela tenha o apoio do prefeito de Manaus, Artur Virgílio (PSDB). Temos candidato em Alagoas, o senador Benedito de Lyra, aliado ao governador Teotônio Vilella (PSDB).

Mas tem gente também ao lado do PT, não?

Na Paraíba, que é o estado do ministro (Aguinaldo Ribeiro, das Cidades), não existe a tradição de aliar-se com o PT, mas poderá caminhar com o PT. Também se prenuncia acordo no Piauí entre o PT e o PP do senador Ciro Nogueira. Na Bahia, desde a eleição passada, se aliou com o PT, do governador Jaques Wagner. Não citei São Paulo, mas há uma perspectiva de alinhamento com a reeleição do governador Alckmin (PSDB). No Sudeste e no Sul há uma tendência muito forte de o PP caminhar com o PSDB.

E o quadro em Minas Gerais, como o senhor o imagina?

Nós temos trabalhado, pela posição de vice-governador, com o governador Anastasia, com o senador Aécio Neves, com os companheiros do PP e dos demais partidos, no sentido de buscar a unidade em torno da composição majoritária no estado. Para que isso ocorra é preciso haver despojamento daqueles que têm seus nomes cogitados no sentido de uma convergência. É da minha tradição, da minha prática política, da minha história política, sempre posicionar para contribuir para essa convergência.

A candidatura de Aécio à Presidência da República influi nas decisões, não?

Nesse cenário de uma candidatura mineira à Presidência da República, nossa responsabilidade está ampliada. Entendo que tem de haver altruísmo. Em política também os gestos são importantes para contribuir nessa composição e têm de ser compreendidos, porque muitas vezes retratam o cenário nacional. Neste sentido, eu coloco que o caminho leva, e a mídia percebe e retrata isso de maneira muito cristalina, que se prenuncia uma composição que terá o PSDB na candidatura ao governo e numa composição, no meu caso, como presidente do PP, defendendo a presença do partido.

Em resumo, a chapa está pronta: Pimenta da Veiga com Dinis Pinheiro de vice para o governo e o governador Anastasia para Senado...

Isso eu não posso falar. A hora é de contribuir com a convergência, agir com altruísmo em busca do melhor caminho para Minas e o Brasil. É importante destacar, por exemplo, que as pesquisas indicam que a candidatura do governador Antonio Anastasia ao Senado tem uma perspectiva de votação histórica. Isso de um lado favorece o nosso campo político porque as suplências passam também a ser cobiçadas e podem ensejar acomodação da composição do nosso lado. E do outro lado ela gera um efeito contrário, no sentido de que, tirando a posição de governador e vice, ninguém vai querer. Dificulta de um lado e amplia de outro.

Fonte: Estado de Minas

Sem complacência - Fernando Henrique Cardoso

Temos assistido ultimamente ao encolhimento do Estado diante da fúria de vândalos, aos quais aderem agora facções do crime organizado

As notícias da semana que terminou não foram auspiciosas, nem no plano internacional nem no local. Uma decisão da Corte Suprema da Argentina, sob forte pressão do governo, sancionou uma lei que regula a concessão de meios de comunicação. Em tese, nada de extraordinário haveria em fazê-lo. No caso, entretanto, trata-se de medida tomada especificamente contra o grupo que controla o jornal “El Clarín”, ferrenho adversário do kirchnerismo. Cerceou um grupo de comunicação opositor ao governo sob pretexto de assegurar pluralidade nas normas de concessão. Há, contudo, tratamento privilegiado para o Estado e para as empresas amigas do governo.

Da Venezuela, vem-nos uma patuscada incrível: as cidades do país apareceram cobertas de cartazes contra a “trilogia do mal”, ou seja, os principais líderes opositores, aos quais se debitam as falências do governo! Seria por causa deles que há desabastecimento, falta de energia e crise de divisas, além da inflação. Tudo para incitar ódio popular aos adversários políticos do governo, apresentando-os como inimigos do povo.

O lamentável é que os governos democráticos da região assistem a tudo isso como se fosse normal e como se as eleições majoritárias, ainda que com acusações de fraudes, fossem suficientes para dar o passaporte democrático a regimes que são coveiros das liberdades.

No Brasil, também há sinais preocupantes. Às manifestações espontâneas de junho se têm seguido demonstrações de violência, desconectadas dos anseios populares, que paralisam a vida de milhões de pessoas nas grandes cidades. A estas se somam às vezes atos violentos da própria polícia. Com isso, deixa-se de ressaltar que nem toda ação coercitiva da polícia ultrapassa as regras da democracia. Pelo contrário, se nas democracias não houver autoridade legítima que coíba os abusos, estes minam a crença do povo na eficácia do regime e preparam o terreno para aventuras demagógicas de tipo autoritário.

Temos assistido ao encolhimento do Estado diante da fúria de vândalos, aos quais aderem agora facções do crime organizado. Por isso, é de lamentar que o secretário-geral da Presidência se lamurie pedindo mais “diálogo” com os black blocs, como se eles ecoassem as reivindicações populares. Não: eles expressam explosões de violência anárquica desconectadas de valores democráticos, uma espécie de magma de direita, ao estilo dos movimentos que existiram no passado no Japão e na Alemanha pós-nazista.

Esses atos vandálicos dão vazão de modo irracional ao mal-estar que se encontra disseminado, principalmente nas grandes cidades, como produto da insensatez da ocupação do espaço urbano com pouca ou nenhuma infraestrutura e baixa qualidade de vida para uma aglomeração de pessoas em rápido crescimento. O acesso caótico aos transportes, o abastecimento de água deficiente e a rede de serviços (educação, saúde e segurança) insuficiente não atendem às crescentes demandas da população. Sem mencionar que a corrupção escancarada irrita o povo. Não é de estranhar que, conectados aos meios de comunicação, que tudo informam, os cidadãos queiram dispor de serviços de países avançados ou de padrão Fifa, como dizem. Sendo assim, mesmo que a situação de emprego e salário não seja ruim, a qualidade de vida é insatisfatória. Quando, ainda por cima, a propaganda do governo apresenta um mundo de conto da Carochinha, e o cotidiano é outro, muito mais pesado, explicam-se as manifestações, mas não se justificam os vandalismos.

Menos ainda quando o crime organizado se aproveita desse clima para esparramar terror e coagir as autoridades a não fazer o que deve ser feito. Estas precisam assumir suas responsabilidades e atuar construtivamente. É necessário dialogar com as manifestações espontâneas, conectadas pela internet, e dar respostas às questões de fundo que dão motivos aos protestos. A percepção de onde o calo aperta pode sair do diálogo, mas as soluções dependem da seriedade, da competência técnica, do apoio político e da visão dos agentes públicos.

Os governos petistas puseram em marcha uma estratégia de alto rendimento econômico e político imediato, mas com pernas curtas e efeitos colaterais negativos a prazo mais longo. O futuro chegou, na esteira da falta de investimento em infraestrutura, do estímulo à compra de carros, do incentivo ao consumo de gasolina, em detrimento do etanol, e do gasto das famílias via crédito fácil, empurrado pela Caixa Econômica Federal. Os reflexos aparecem nas grandes cidades pelo país afora: congestionamentos, transporte público deficiente, aumento do nível de poluição atmosférica etc.

De repente caiu a ficha do governo: tudo pela infraestrutura, na base da improvisação e da irresponsabilidade fiscal. Primeiro, o governo federal subtraiu receitas de estados e municípios para cobrir de incentivos a produção e compra de carros. Depois, em vista do “caos urbano” e da proximidade das eleições, afagou governadores e prefeitos, permitindo-lhes a contratação de novos empréstimos, sobretudo para gastos em infraestrutura. A mão que os afaga é a mesma que apedreja a Lei de Responsabilidade Fiscal, ferida gravemente pela destruição de uma de suas cláusulas pétreas: a vedação ao refinanciamento de dívidas dentro do setor público. Mais uma medida, esta especialmente funesta, que alegra o presente e compromete o futuro.

Não haverá solução isolada e pontual para os problemas que o país atravessa e as grandes cidades sentem mais do que quaisquer outras. Os problemas estão interconectados, assim como as manifestações e demandas. Não basta melhor infraestrutura se o crime organizado continua a campear, nem ter mais hospitais e escolas se a qualidade da Saúde e da Educação não melhora. As soluções terão de ser iluminadas por uma visão nova do que queremos para o Brasil. Precisamos propor um futuro não apenas materialmente mais rico, mas mais decente e de melhor qualidade humana. Quem sabe assim possamos devolver aos jovens e a todos nós causas dignas de serem aceitas, que sirvam como antídoto aos impulsos vândalos e à complacência com eles.

Fonte: O Globo

Nem black nem bloc – Marco Aurélio Nogueira

Muitos dos que quebram e destroem são jovens revoltados com a vida infame da periferia, ou outros que procuram algum futuro além do shopping Center

A ação é tão caótica e contundente que é como se somente eles estivessem nas ruas. Além da polícia, claro, seu alter ego. São tão performáticos e agressivos, tão sem agenda e voz coletiva que geram a sensação de que as massas não existem. A violência que praticam não gera comunidade ou democracia, mas seu oposto. Ataca o sistema e seus ícones, mas não os põe em xeque, antes os reforça. Empurra as pessoas de volta para casa, longe das ruas politizadas por junho de 2013.

Nunca se falou tanto em black bloc, essa “tática” clonada da Europa que parece tomar conta das grandes metrópoles brasileiras de uns meses para cá. Não sabemos quase nada do fenômeno. Há duas versões típicas na praça. Uma faz a crítica do movimento como hostil à democracia, desmobilizador e desagregador. Outra faz seu elogio, escancarado ou dissimulado. Afirma que a violência black bloc é fundamental para tirar as massas da letargia, chamar às falas os partidos de esquerda e revelar a face brutal do Estado, ou que é expressão da iniquidade social, uma reação defensiva que protege as massas.

A estética black bloc adere na vida que temos. Seus seguidores querem ser vistos como vanguarda da luta contra o capital, a ala mais intransigente da contestação, aqueles que tirarão as massas do pacifismo que não perturba a ordem nem abala as instituições. A ação não traz consigo direitos, causas ou utopias, somente o fim dos tempos. Não leva rigorosamente a lugar nenhum. Reforça o sistema, em vez de miná-lo. É, na verdade, o efeito colateral de uma vida bloqueada, sem esperança, sem utopia, individualizada e fragmentada, de uma sociedade em que a violência entrou na corrente sanguínea, de um Estado pouco eficiente, de uma cultura que homenageia o espetáculo, mas não se complementa com uma ética pública consistente. Produto das contradições de um capitalismo sem freios e do descontrole que afeta a vida coletiva.

Mas nem tudo que verte sangue nas ruas é ação black bloc. Nem todos os que batem e quebram seguem a eventual filosofia de vida que lhe é típica. Muitos são revoltados, gente que quer dar um basta à vida infame que leva na periferia ou que deseja visualizar algum futuro além dos shopping centers. Podem até existir alguns “riquinhos” que aproveitam o pique para descarregar hormônios reprimidos ou mal utilizados.

Não havia black blocs na rodovia Fernão Dias, em São Paulo. Mas havia muita revolta, indignação, ressentimento e medo. Adrenalina de sobra para enfrentar a polícia, pois a polícia é um dos piores pesadelos das periferias urbanas, onde entra sem pedir licença, sem dialogar, matando com espantosa facilidade.

Não se precisa de black blocs para que se extravase o que está armazenado nos porões das periferias, carências e sofrimentos que se misturam com criminalidade, drogas e miséria. A desesperança alimenta desejos de vingança, protestos imprecisos contra tudo que representa ordem e autoridade. Porque a ordem e a autoridade que se apresentam ali não nasceram de nenhuma construção, não são de modo algum “amigáveis”.

É uma situação que afeta a todos, mas fere sobretudo os mais jovens. Mata-lhes o futuro, convida-os a fazer cálculos existenciais negativos. É por isso que são eles que se jogam contra a polícia, que queimam e destroem. Encontram assim formas de lutar por reconhecimento, de aparecer, de adquirir uma identidade que a vida lhes rouba, de exigir uma atenção que lhes é negada. Ou será que há alguma política para eles, algum braço do Estado que não seja o da polícia? A democracia política não lhes faz muito sentido, pois seus resultados não são palpáveis, não são decodificados. Quem atua nas periferias como agente democrático? Agem ali operadores e associações de outro tipo, algumas delas especializadas em fomentar violência.

A violência explode sempre que a política soluça, a democracia não encorpa como valor e os governos não produzem resultados. Anda junto com a exclusão, o crime, a exploração. Não há como sumariamente suspendê-la. Em épocas de má política e muito espetáculo, a necessidade de dizer “não aguento mais” conflui para a busca de um lugar que dê visibilidade. É uma via torta, contraproducente. Mas há um tipo de política nela, que precisa ser compreendida. Até para que não se ative uma espiral de violência que a ninguém beneficiará.

Como apagar o rastilho? Certamente não com mais polícia. Pactos e entendimentos são recursos cívicos eficazes, atos que celebram a cooperação para a conquista de coisas comuns, no caso, políticas públicas e direitos. Se forem sérios, generosos e tiverem qualidade, vencem. Temos deficiências nessa área, mas sempre se pode tentar superá-las. Poder-se-ia começar, por exemplo, com um pacto intraestatal: situação e oposição, União, Estados e municípios trabalhando juntos, em nome de um plano de recuperação das periferias, de desmilitarização da polícia, de valorização das escolas, gestos que deixem claro que se quer de fato fazer alguma coisa. Sem isso, será difícil que se avance.

*Marco Aurélio Nogueira é cientista social, Diretor do Instituto de Políticas Públicas e Relações Internacionais da UNESP e acaba de lançar As ruas e a democracia - ensaios sobre o Brasil contemporâneo (Contraponto)

Fonte: O Estado de S. Paulo / Aliás

O feitiço contra o feiticeiro - Ferreira Gullar

Há muito mais necessitados do que Lula pensava e todos passaram a querer também bolsa, casa, geladeira etc.

Sinceramente, você acha que Lula contava com tamanho descontentamento popular, após dez anos de governo petista?

Acredito que não. Pelo menos, é o que poderia deduzir dos tantos discursos que fez, quando presidente da República, e que foram repetidos depois por sua substituta, Dilma Rousseff, pelos ministros de ambos os governos e pelos dirigentes petistas. O Brasil nunca antes, em tempo algum, foi tão feliz. Por isso mesmo, insistem em fazer de conta que o descontentamento, que se manifesta todos os dias nas ruas, não tem nada a ver com eles.

Mas tudo tem limite. Por isso mesmo, Lula, esperto como é, veio a público dizer que, quando líder sindical, nunca participou de vandalismos. É verdade. Mas o problema maior, para ele, não é o vandalismo, que todo mundo condena.

O que é mais preocupante, para o governo, nessas manifestações, pelo que reivindicam e pelo que denunciam, é a demonstração de que algo deu errado nos governos petistas, que vieram para contentar os trabalhadores e o povão.

Não resta dúvida de que Lula, ao ampliar o assistencialismo com o Bolsa Família, ao aumentar o salário mínimo e tomar medidas estimuladoras do consumo, possibilitou a ascensão de um amplo número de pessoas a condições de vida um pouco melhores.

Esse fato teve reflexo positivo na vida econômica --mas no quadro social do país, como advertiram os economistas, tratava-se de uma melhoria momentânea, incapaz de ampliar-se e mesmo sustentar-se por muito tempo. É que os investimentos imprescindíveis em setores estruturais, de que depende o crescimento econômico efetivo, não foram feitos, certamente porque não trariam consigo o mesmo apelo eleitoral. Essa é uma característica do populismo, coisa antiga no Brasil.

A preocupação em conquistar o eleitor --e especialmente o eleitor mais carente e menos informado dos problemas do país-- foi desde o início a marca do governo petista. E não por acaso. Todos se lembram da declaração de José Dirceu, dada naquela época, garantindo que o PT ficaria no governo por 20 anos, pelo menos.

Dez anos, ele já ficou; quanto aos outros dez, pelo que se vê agora, restam sérias dúvidas. Mas, por isso mesmo, a preocupação essencial do governo Dilma é a mesma que a do governo Lula, mas com algumas concessões que foi obrigada a fazer, como privatizar aeroportos e, agora, permitir a participação de empresas privadas estrangeiras no leilão do campo de Libra.

Por suas raízes ideológicas, o PT nasceu sonhando com uma revolução do tipo cubana no Brasil e, consequentemente, contra o capitalismo. Foi difícil manter-se nessa posição, com as mudanças ocorridas no mundo, após queda do Muro de Berlim.

O radicalismo petista --que o levara a negar-se a assinar esta nova Constituição que está em vigor-- amainou-se após as sucessivas derrotas de Lula como candidato à Presidência da República. Ele obrigou o partido a recuar e passar a falar mais manso. Graças a isso, foi eleito e passou a viver um dilema: se se mantivesse esquerdista, não governaria. De qualquer modo, abraçava Bush e fazia questão de mostrar que sua verdadeira simpatia para Ahmadinejad.

Aqui dentro, a coisa era mais complicada: como privatizar os aeroportos se sempre condenara as privatizações? Mas tinha de fazê-lo e passou, então, a chamar as privatizações de "concessões" e pôr nelas exigências que as inviabilizavam. Agora, teve que recuar. Por outro lado, restava-lhe o caminho ambíguo do populismo chavista. E assim ampliou em vários milhões os beneficiados pelo Bolsa Família e financiou o consumismo das faixas mais pobres.

Sucede que, no Brasil, há muito mais necessitados do que Lula pensava e todos passaram a querer também bolsa, casa, geladeira, fogão, televisão de graça. Por outro lado, a economia exige que o Estado se abra à iniciativa privada. Ou faz isso, ou o país para de crescer. Aliás, já há quem preveja, para breve, crescimento zero.

Assim, Dilma abriu o leilão de Libra a empresas estrangeiras, o que foi certo, mas os operários do petróleo não pensam assim; pensam como Lula lhes ensinou: privatizar a exploração do petróleo é trair a pátria. Com essa ele não contava.

Fonte: Folha de S. Paulo / Ilustrada

Cheios de dedos - Dora Kramer

Caso estejam mesmo pretendendo algo além de apenas competir na eleição presidencial de 2014, convém que os candidatos de oposição à reeleição da presidente Dilma Rousseff preparem armas e façam as bagagens para enfrentar uma parada dura. Não a presidente, cujo favoritismo não supre suas evidentes deficiências nem obscurece o fato de que, com todas as facas e os queijos à sua disposição, conta com 38% nas pesquisas de intenção de votos. O x da questão é o ex-presidente Lula da Silva, a quem todos eles prestam a maior reverência, a quem todos parecem temer.

A ele todos respondem com punhos de renda enquanto são atacados por mãos de aço. Simulam indiferença para não dar mais corda e fazer exatamente o que ele quer: chamar a briga para si, atrair as luzes, consciente que é da própria mítica, da capacidade de alimentá-la e da carência de atributos de sedução eleitoral de Dilma Rousseff.

Ocorre que não vai adiantar. Bem recuperado de saúde e indiferente à promessa de fazer “churrasquinho em São Bernardo” quando deixasse a Presidência a fim de ensinar a antecessores como devem se comportar chefes de nações após o exercício do poder, Lula está a toda velocidade e, por que não dizer, ferocidade. Não que quando ocupasse de direito o Palácio do Planalto fizesse alguma cerimônia nos quesitos distorção da verdade, atropelo da lei, elogio à incoerência e desapreço pela civilidade no trato de quem lhe faz oposição. Mas agora, livre de questionamentos legais, está solto para dizer o que quiser de quem bem entender, no tom que melhor lhe convier como, de resto, tem feito.

E o que faz a oposição? Faz-se de desentendida. Pega leve. Seja na expressão do tucano Aécio Neves, que convida o ex-presidente a parar de “brigar com a história” (como se não fosse este um dos truques mais batidos e repetidos por Lula) ou nas palavras do governador Eduardo Campos que, diante das provocações, ressalta suas ótimas relações pessoais com o ex-presidente.

Amenidades apenas táticas, certamente. Mas em se tratando do personagem em tela, isso não o paralisa nem o sensibiliza. Não se sugere aqui a socialização da grosseria e da mentira. Fala-se de algo mais simples, da confrontação de Lula com os fatos, a exposição de suas mistificações, a crítica ao seu desprezo aos valores tão exaltados por adversários como Marina Silva. Mas para isso é preciso ter coragem.

Demagogia. Não fica em pé e falta também cabeça à emenda constitucional aprovada semana passada na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara instituindo regra que altera o modelo de composição dos legislativos federal, estaduais e municipais para reservar um mínimo de um quinto e o máximo de 50% das cadeiras existentes a parlamentares que se declarem de origem negra. Note-se que a proposta é muito diferente daquela que exige dos partidos uma reserva de 30% das vagas de candidatos para mulheres. A ideia agora é que o eleitor vote duas vezes, sendo uma especificamente para preencher a cota.

Primeira pergunta: a outra escolha deverá ser necessariamente em brancos? Têm-se aí um desenho perfeito de segregação a ser reproduzido na Câmara dos Deputados, nas assembleias legislativas e nas câmaras de vereadores.

Segunda pergunta: a cor da pele determina ou assegura o desempenho, a compostura, a identificação das ideias, a confiabilidade e até a representação social?

Terceira pergunta: onde fica a igualdade de condições eleitorais como determina a lei?

Quarta pergunta: não fossem essas e tantas outras questões que por certo serão levantadas, desde quando é de se esperar que o Congresso aprove uma reserva de mercado racial? Tal emenda seria apenas mera demagogia não fosse, sobretudo, ridícula.

Fonte: O Estado de S. Paulo

O tempo que resta - Tereza Cruvinel

No ocaso da legislatura, com a demanda do Executivo reduzida, o Congresso tem sua última chance de buscar a sintonia perdida com a parcela frustrada da sociedade civil

Em julho, os líderes da coalizão governista queixaram-se à presidente Dilma da inundação permanente do Congresso por medidas provisórias que trancam a pauta e impedem qualquer outro tipo de deliberação. Ela prometeu usar menos MPs e mais projetos de lei. De fato, editou apenas uma MP em cada um dos últimos três meses. Se a dieta for mantida, o Congresso poderá agora montar uma agenda mais autônoma, aproveitando o que lhe resta da legislatura para buscar a sintonia perdida com a parcela da sociedade civil frustrada com a política.

Há anos ouve-se nas duas Casas, e especialmente no chamado baixo clero, a ladainha de que os projetos dos próprios parlamentares não são votados porque o chicote do governo não deixa. Desde que não tratem de instituir o dia do cortador de banana e coisas assim, os mais relevantes podem agora ser pautados. Até porque, com o fim da legislatura, vão todos para o arquivo. O critério para a seleção devia dar prioridade, obviamente, aos que respondam à manifesta frustração da cidadania com os políticos e o sistema, corrigindo distorções ou aprimorando o exercício da representação. Um bom exemplo, a emenda que acaba com o voto secreto nas cassações, que o Senado deve aprovar conclusivamente esta semana. Mas vai muito além desse ponto a pauta institucional que poderia ser construída para ser tocada neste suspiro final da legislatura, depois que suas excelências aprovarem o inescapável e perigoso orçamento impositivo das emendas orçamentárias.

Não só para reduzir a tensão com os aliados Dilma vai aliviar sua demanda parlamentar, seja através de MPs seja de projetos de lei com urgência constitucional. O fato é que, desde o dia 5 passado, entramos para valer no chamado período eleitoral. Nesta altura, tendo apenas 11 meses de gestão pela frente, os governos concentram-se na rotina administrativa, na conclusão de projetos e na entrega de obras. É tarde para invenções, lançamentos e iniciativas. A própria Dilma admitiu isso aos líderes: dificilmente agora ela enviará ao Congresso MPs que precisem ser aprovadas como casos de vida ou morte, como a dos Portos ou a do Mais Médicos. As duas últimas, por exemplo, uma de 3 de setembro, outra de 25 de outubro, tratam de créditos suplementares, uma rotina na execução do orçamento.

Com a pauta mais livre, o Congresso poderá também resgatar algumas faturas que está devendo, concluindo a aprovação de projetos inconclusos que ficaram pelo caminho. É o caso do projeto de regulamentação dos direitos dos trabalhadores domésticos. Depois do louvor geral à aprovação da emenda constitucional que acabou com uma herança escravista, a regulamentação aprovada pelo Senado parou na Câmara. E, com isso, o FGTS das domésticas continua no papel.

“Nós temos, de fato, uma excelente oportunidade de fazer uma agenda própria, mas temos que evitar a tentação dos malabarismos, aprovando, nesta altura do campeonato, a menos de um ano da eleição, propostas como essa da autonomia do Banco Central. Certas coisas não podem ser feitas em fim de governo”, diz o vice-presidente do Senado, Jorge Viana. Dilma fez chegar ao presidente do Senado, Renan Calheiros, sua contrariedade com a possível votação do projeto, de autoria do senador Francisco Dornelles. Ele respondeu que não fará um cavalo de batalha por isso. Mas tem ele, como seus pares das duas Casas, o desafio de apresentar agora à sociedade uma agenda do próprio Congresso. Acabou a desculpa de que o governo não deixa.

Raça e gênero
A baixa representação política de negros, índios e mulheres faz parte da nódoa indelével do racismo e do preconceito de gênero que só recentemente começaram a ser esmaecidas pelas políticas de cotas, com resultados positivos no acesso ao ensino superior e a algumas carreiras de Estado. Mas o Congresso, diria Cláudio Lembo, continua dominado pela “elite branca”. Embora a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara tenha autorizado sua tramitação, alguns juristas já apontaram inconstitucionalidade na proposta de emenda constitucional dos deputados petistas João Paulo Cunha e Luiz Alberto, fixando uma cota de cadeiras para candidatos negros nos legislativos do país. Eles comporiam uma lista na qual cada eleitor votaria pela segunda vez.

Esse debate vai longe, e como está apenas começando, vale pontuar: qualquer medida corretiva terá de colocar no mesmo patamar a vergonhosa subrepresentação das mulheres. Somos maioria na população e no eleitorado, mas as deputadas somam apenas 8,9% e as senadoras, 12,3%. Diferentemente do que está sendo proposto para os negros, a cota existente para mulheres não é de cadeiras, mas de 30% das candidaturas de cada partido. Entretanto, sem acesso aos recursos, inclusive financeiros, para disputar com os figurões, surtiram pouco efeito. Na Câmara, a fração feminina passou de 5,6%, em 1998, para 8,9%, em 2010.

Mas só agora?
Os grupos violentos e radicais ajudaram a murchar as manifestações de junho. Causaram enormes prejuízos materiais ao patrimônio público e privado. Respondendo apenas com a repressão policial, o Estado ajudou a fermentá-los. Dois jovens de 17 anos perderam a vida e um oficial da PM foi espancado. Coincidência ou não, só depois da revelação de que 95% da população reprovam o vandalismo é que os entes federados resolveram se unir para combater a insurgência mascarada, que, mesmo tendo motivações reais e justas, ultrapassa a fronteira das liberdades democráticas, que foram conquistadas para todos. Não só para os revoltados.

Fonte: Correio Braziliense

O dízimo do reino de Eike - Eliane Cantanhêde

Eike Batista tinha o império X, bem de acordo com a paixão da família pelo Japão. Mas as empresas ruíram e o que sobra é uma grande história a ser contada, com cenários de contos de fadas, bastidores sórdidos, personagens controvertidos.

De um lado, o mítico Eike, que teve tudo na vida, foi casado com o símbolo de desejo do país e sonhou ser o homem mais rico do mundo. Chegou bem perto, na 8ª posição.

De outro, os médicos, engenheiros e assalariados em geral que jogaram nas chamas da assembleia do reino de Eike seus recursos, sua inocência e a falta de informações confiáveis. Foram dormir acreditando na solidez e nas perspectivas apetitosas das companhias de Eike. Acordaram num pesadelo sem fim.

Essas histórias pavorosas se repetem, com empresas que estavam no céu e vieram abaixo a caminho do inferno, levando de roldão as economias de seus clientes como se fossem dízimos de fiéis incautos.

Há a lembrança fresca da Encol, que, dias depois de reluzir na capa da "Gazeta Mercantil" como estrela entre as empreiteiras, deixou na mão 11 mil funcionários e 42 mil crentes (como eu) que compraram imóveis e nunca receberam nem o imóvel nem o dinheiro de volta.
E quem se esqueceu de Edemar Cid Ferreira, do Banco Santos, e Ângelo Calmon de Sá, do Econômico? Eles tinham riqueza, ostentavam riqueza, exalavam riqueza. O mundo deles desabou na cabeça dos que foram levados a acreditar num reino de Deus aqui na terra brasilis. No céu, o lucro era principalmente deles. No inferno, a desgraça maior é dos correntistas e investidores.

Eike Batista deve tantas explicações quanto Edemar, Ângelo e Pedro Paulo de Souza, da Encol, entre tantos "pastores" que estão por aí. Quem, como, onde e por quê? De onde veio e para onde foi o dinheiro?

Entre meias verdades, as vítimas vão para o inferno e os réus ficam eternamente no limbo da boa vida.

Fonte: Folha de S. Paulo

Miséria do debate - Míriam Leitão

O Brasil não está ficando burro. Mas parece, pela indigência de certos debatedores que transformaram a ofensa e as agressões espetaculosas em argumentos. Por falta de argumentos. Esses seres surgem na suposta esquerda, muito bem patrocinada pelos anúncios de estatais, ou na direita hidrófoba que ganha cada vez mais espaço nos grandes jornais.

É tão falso achar que todo o mal está no PT quanto o pensamento que demoniza o PSDB. O PT tem defeitos que ficaram mais evidentes depois de dez anos de poder, mas adotou políticas sociais que ajudam o país a atenuar velhas perversidades. O PSDB não é neoliberal, basta entender o que a expressão significa para concluir isso.

A ele, o Brasil deve a estabilização e conquistas institucionais inegáveis. A privatização teve defeitos pontuais, mas, no geral, permitiu progressos consideráveis no país e é uma política vencedora, tanto que continuou sendo usada pelo governo petista. O PT não se resume ao mensalão, ainda que as tramas de alguns de seus dirigentes tenham que ser punidas para haver alguma chance na luta contra a corrupção. Um dos grandes ganhos do governo do Partido dos Trabalhadores foi mirar no ataque à pobreza e à pobreza extrema.

Os epítetos “petralhas” e “privataria” se igualam na estupidez reducionista. São ofensas desqualificadoras que nada acrescentam ao debate. São maniqueísmos que não veem nuances e complexidades. São emburrecedores, mas rendem aos seus inventores a notoriedade que buscam. Ou algo bem mais sonante. Tenho sido alvo dos dois lados e, em geral, eu os ignoro por dois motivos: o que dizem não é instigante o suficiente para merecer resposta e acho que jornalismo é aquilo que a gente faz para os leitores, ouvintes, telespectadores e não para o outro jornalista. Ou protojornalista. Desta vez, abrirei uma exceção, apenas para ilustrar nossa conversa.

Recentemente, Suzana Singer foi muito feliz ao definir como “rottweiller” um recém- contratado pela “Folha de S.Paulo” para escrever uma coluna semanal. A ombudsman usou essa expressão forte porque o jornalista em questão escolheu esse estilo. Ele já rosnou para mim várias vezes, depois se cansou, como fazem os que ladram atrás das caravanas.

Certa vez, escreveu uma coluna em que concluía: “Desculpe-se com o senador, Miriam”. O senador ao qual eu devia um pedido de desculpas, na opinião dele, era Demóstenes Torres. Não costumo ler indigências mentais, porque há sempre muita leitura relevante para escolher, mas outro dia uma amiga me enviou o texto de um desses articulistas que buscam a fama. Ele escreveu contra uma coluna em que eu comemorava o fato de que, um século depois de criado, o Fed terá uma mulher no comando.

Além de exibir um constrangedor desconhecimento do pensamento econômico contemporâneo, ele escreveu uma grosseria: “O que importa o que a liderança do Fed tem entre as pernas?” Mostrou que nada tem na cabeça. Não acho que sou importante a ponto de ser tema de artigos. Cito esses casos apenas para ilustrar o que me incomoda: o debate tem emburrecido no Brasil. Bom é quando os jornalistas divergem e ficam no campo das ideias: com dados, fatos e argumentos.

Isso ajuda o leitor a pensar, escolher, refutar, acrescentar, formar seu próprio pensamento, que pode ser equidistante dos dois lados. O que tem feito falta no Brasil é a contundência culta e a ironia fina. Uma boa polêmica sempre enriquece o debate. Mas pensamentos rasteiros, argumentos desqualificadores, ofensas pessoais, de nada servem. São lixo, mas muito rentável para quem o produz.

Fonte: O Globo

Painel - Vera Magalhães

Oriente-se
Na esteira do cancelamento da viagem de Estado que faria aos EUA em outubro e do acordo com a Alemanha para uma ação conjunta contra a espionagem norte-americana, Dilma Rousseff reforçará a guinada em sua política externa. A presidente acertou a primeira visita oficial ao Brasil do presidente da China, Xi Jinping, em abril. Assessores do Planalto lembram que foi com Xi que a presidente acertou a entrada das petroleiras chinesas no leilão de Libra, que ocorreu no mês passado.

In loco O detalhamento da agenda de Xi Jinping no Brasil será um dos temas da viagem que o vice-presidente da República, Michel Temer, fará à China nesta semana.

Para fotos Apesar da movimentação de aliados de Aécio Neves para antecipar a formalização de sua candidatura ao Planalto, o time de José Serra mantém no calendário previsão de evento em março para demonstrar "unidade" do PSDB e dar saída honrosa ao ex-governador.

Cada um... Enquanto isso, Serra continuará viajando pelo país e Aécio manterá suas visitas a São Paulo. O PSDB paulista organiza um ato com o senador mineiro em Bauru, ainda neste mês.

... na sua Geraldo Alckmin, por ora, prefere continuar distante da pré-campanha nacional e articular a própria aliança à reeleição.

Vipões Lula e Dilma serão as estrelas do congresso do PC do B, que acontece entre os dias 14 e 16, em São Paulo. O partido fará a troca no comando nacional: depois de 12 anos, Renato Rabelo será substituído pela ex-prefeita de Olinda Luciana Santos.

Vipinho Uma saia-justa cerca a festa do partido comunista: uma ala quer convidar Eduardo Campos, dada a aliança histórica entre a sigla e o PSB. Outros, porém, temem melindrar a presidente colocando a seu lado na mesa o potencial adversário na eleição de 2014.

Quem é vivo... O embaixador José Viegas Filho é mais um ex-ministro de Lula a engrossar o time de colaboradores da dupla Eduardo Campos e Marina Silva.

... sempre aparece Viegas, que foi ministro da Defesa no primeiro mandato do petista, participou na semana passada do seminário do PSB e da Rede. Disse que mantém boa relação com Lula, mas atendeu convite dos ex-colegas de Esplanada.

Foto oficial Campos e Marina têm canal aberto ainda com Roberto Rodrigues e Luiz Furlan, ex-titulares da Agricultura e do Desenvolvimento na gestão petista. O trânsito dos novos rivais de Dilma com seus antigos colaboradores incomoda Lula.

A jato 1 A Frente Nacional de Prefeitos começou a pressionar o Senado para levar a plenário na terça-feira o projeto que define novos indexadores da dívida de Estados e municípios. Antes, no mesmo dia, o texto deve passar por duas comissões.

A jato 2 Prefeitos telefonaram para pedir pressa ao senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), que preside a CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), que vai avaliar o projeto. Seu reduto eleitoral, Campina Grande, é um dos municípios beneficiados pela mudança no indexador.

Vem pra rua A Prefeitura de São Paulo tenta acordo para abrir as 800 vagas do estacionamento da Assembleia Legislativa para os frequentadores do Parque do Ibirapuera aos domingos, quando a entrada de carros é proibida.

Mergulho A Secretaria do Verde também estuda a instalação de piscinas de lona e jatos de água nessas áreas de estacionamento aos domingos durante o verão.

Tiroteio

Padilha aceita enviar médicos reprovados para o interior. Vão se somar a postos de saúde sem equipamento e sem material.

DO DEPUTADO ESTADUAL PEDRO TOBIAS (PSDB-SP), sobre os 48 profissionais que foram reprovados no Revalida, mas que participarão do Mais Médicos.

Contraponto

Soprando velinhas

O senador Magno Malta (PR-ES) apareceu alegre na sessão da Comissão de Constituição e Justiça de 16 de outubro, seu aniversário. O parlamentar aproveitou a data para conseguir pequenos privilégios com os colegas.

-V. Exa. me concede a palavra, em nome do meu aniversário? -solicitou o senador ao presidente, brincando.

Malta pediu até que um de seus colegas se curvasse um pouco para que pudesse enxergar um interlocutor.

-Vou gastar todos os pedidos hoje, porque amanhã...

-Ainda bem que aniversário é só uma vez por ano, ou ninguém aguentaria! -disse Vital do Rêgo (PMDB-PB).

Fonte: Folha de S. Paulo

Panorama político - Ilimar Franco

Sem autonomia
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB), não vai pôr em votação o projeto de autonomia do Banco Central. A presidente Dilma é contra, mas ele diz que “a oposição interditou o debate”. Na terça-feira, tendo como testemunha o senador José Sarney, o ex-presidente Lula advertiu Renan de que ele não devia embarcar nessa canoa. O enterro será amanhã, quando Dilma o receberá.

Acordo costurado
O ministro Paulo Bernardo (Comunicações) e o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB), firmaram um acordo na Anatel. O ministro encaminhou ao Planalto a indicação de Igor Vilas Boas, sugerido pelo senador, para a vaga de conselheiro da agência. Renan, por sua vez, assumiu o compromisso de apoiar a recondução de João Rezende para a presidência do organismo, como é o desejo de Paulo Bernardo. A intenção é enviar as duas indicações na mesma data para o Senado. Mas a de Rezende, cujo mandato vence na próxima sexta-feira, pode ser enviada antes. O nome de Igor está na fase da triagem na Secretaria de Segurança Institucional.

“A polarização (PT x PSDB) é óbvia, Onde está dito que a disputa não será Aécio e Eduardo? O imponderável acontece. Veja o Collor”
Marcus Pestana
Presidente do PSDB de Minas Gerais e deputado federal

No mundo da espionagem
Os ministérios da Justiça, das Comunicações e da Defesa trabalham na criação de mecanismos de defesa cibernética. Já foi definido que o ideal é o Brasil ter satélites próprios e sua rede de cabos submarinos. Hoje, o país aluga esses serviços.

O preferido
A ex-deputada Luciana Genro (RS) e o senador Randolfe Rodrigues (AP) estão medindo forças no PSOL para concorrer à Presidência. Em 2006, Heloísa Helena fez 6,8% dos votos. Já a oposição torce para que o candidato seja o deputado Chico Alencar (RJ). Aposta que ele retiraria percentual relevante de votos da presidente Dilma.

Arrebentando a boca do balão
A secretária Izolda Cela Coelho, candidata do governador Cid Gomes (CE) à sua sucessão, está sendo cantada em prosa e verso no MEC. Ela é apontada, graças aos indicadores do estado, como a melhor secretária de Educação do país.

Luta federativa por terras
O Piauí está em guerra com o Ceará para redefinir seus limites territoriais. A primeira pendência vem do reinado de D. Pedro II (1840) e envolve 13 municípios, reclamados pelo Piauí, numa área equivalente ao território de Sergipe. Em junho, o Piauí acionou a AGU porque descobriu que o Ceará fez um assentamento rural de quatro mil hectares na cidade de São Miguel do Tapuio (PI).

Favoritos
O governador Renato Casagrande (PSB) está estourando a fita no Espírito Santo, com 50% de intenções de voto. Seu único adversário é Paulo Hartung (PMDB), por ora candidato ao Senado, que, no Ibope, tem 70% das intenções de voto.

Mudando a regra
Pela primeira vez, a presidente Dilma pode levar o PT a uma vitória em Santa Catarina. Desde que passou a ter o apoio do governador Raimundo Colombo (PSD), Dilma lidera todas as pesquisas de intenções de votos à reeleição no estado.

TUDO AZUL. Congresso, Planalto e ministérios serão iluminados de azul nesta segunda-feira, em campanha pela prevenção do câncer de próstata.

Fonte: O Globo