quarta-feira, 23 de abril de 2014

Opinião do dia: Eduardo Campos

Devemos ter menos as figuras de sempre. Aquele modelo de Brasília já deu o que tinha que dar.

Vamos romper com o pacto existente e vamos colocar aquelas figuras atrasadas na oposição. Vamos colocar aquelas velhas práticas da política na oposição. O Brasil não vai sobreviver a esse presidencialismo de coalizão se não houver coragem de ruptura e um novo pacto renovador brasileiro.

Eduardo Campos, ex-governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB. Em discurso em Florianópolis. O Globo, 23 de abril de 2014.

Dilma perde apoio entre governadores para as eleições de outubro

Em relação a 2010, presidente terá neste ano menos máquinas estaduais ao seu lado

Paulo Celso Pereira – O Globo

BRASÍLIA - A dois meses e meio do início das campanhas eleitorais, os principais candidatos à Presidência da República estão em fase final de montagem de seus palanques nos estados. Hoje, 24 dos 27 governadores já deixaram claro publicamente quem devem apoiar, e uma comparação do cenário atual com o de 2010 mostra que a presidente Dilma Rousseff perdeu espaço entre os chefes dos Executivos locais. Há quatro anos, Dilma contou com apoio de 19 dos 27 mandatários, em estados que reúnem 75,3 milhões de eleitores. Este ano, até agora, a presidente tem assegurado o apoio de 13 governadores que governam 55,7 milhões de votantes — numa queda de influência sobre quase 20 milhões de votos.

Os governadores são os donos de palanques mais desejados por candidatos à Presidência pois, além de emprestarem eventual popularidade ao candidato, comandam a máquina estadual, que exerce grande influência nas áreas mais desassistidas e permite que a campanha chegue aos grotões.

Fator Eduardo Campos
Com a piora na situação de Dilma, o tucano Aécio Neves figura como detentor dos apoios de governadores responsáveis pelos estados com maior contingente populacional. Em 2010, José Serra havia conseguido apoio dos governos de sete estados, com 65,1 milhões de eleitores. Este ano, os seis governadores que já deixaram claro o apoio a Aécio governam 67,2 milhões de eleitores. A particularidade dessa situação se deve à grande concentração populacional nos estados tucanos — 70% desses eleitores estão concentrados em São Paulo e em Minas Gerais.

A grande mudança para o PT foi a entrada em cena de Eduardo Campos, que tem apoio já declarado de cinco governos, que respondem por 12,9 milhões de eleitores — metade deles concentrados em Pernambuco. O principal baque do PT ocorreu nas regiões Norte e Nordeste, justamente as áreas onde o PSB de Eduardo Campos mais se expandiu. Em 2010, Dilma contou com o apoio público de governadores de oito dos nove estados nordestinos. Agora, são apenas quatro que já declararam que marcharão com a presidente — dois estão com Campos, um com Aécio, e outros dois ainda não se posicionaram. O próprio Campos havia ajudado a dar a Dilma 75% dos votos de Pernambuco em 2010, e este ano terá o governador João Lyra, que era seu vice, a seu lado.

Na região Norte, o PT tinha apoio de cinco dos sete governos, e agora deve contar com três — o PSDB e o PSB deverão dividir os outros quatro. O Pará é outro exemplo. Estado mais populoso da região, com 5,2 milhões de eleitores, e onde Dilma ganhou com 53% dos votos há quatro anos, passou a ser controlado pelo PSDB do governador Simão Jatene, e a capital, Belém, está desde 2012 nas mãos do também tucano Zenaldo Coutinho.

Diante da evidente diferença de estrutura entre seu partido e o de seus principais adversários, o ex-governador Eduardo Campos já deixou claro que focará sua campanha na construção de um discurso contra a política tradicional e com ênfase na campanha virtual, já que terá pouco tempo de televisão. Detentores das maiores estruturas partidárias e governamentais, os aliados próximos de Dilma e Aécio consideram os palanques estaduais fundamentais:

— De modo geral, um governador sempre tem peso e influência favorável, porque ele tem suas realizações para mostrar. Mas o fato de ter mais ou menos governadores pode não ser decisivo, tem que relativizar.

Apesar de o governador ajudar muito, é preciso analisar a conjuntura. Em São Paulo, que é o maior colégio eleitoral do país, a situação não é igual a 2010, quando foi muito favorável a eles. Este ano temos uma conjuntura muito favorável, onde os candidatos ao governo que são pró-Dilma com certeza vão ganhar a eleição — afirma o secretário nacional de Comunicação do PT, José Américo (PT-SP).

Para o presidente nacional do DEM, senador José Agripino Maia (RN), o elemento fundamental para definir o peso que o apoio do governador terá é a popularidade do mandatário durante as eleições. Por isso, é tão difícil dar a real dimensão que cada um dos apoiadores terá no resultado final da eleição da presidente.

— Se o governador estiver bem avaliado, ele leva os votos dos eleitores tanto no estado muito populoso quanto no menos populoso — defende Agripino.

É baseado nesse princípio que José Américo minimiza a redução no número de apoiadores da presidente Dilma. Para ele, o cenário deste ano nos estados é tão favorável para a petista quanto foi em 2010.

— Nos principais estados da Federação, Dilma continua com uma situação muito favorável. Nos grandes estados, exceto em Minas Gerais, de onde vem o candidato da oposição, a situação é igual ou muito mais favorável a ela do que em 2010. Apesar do número, acho que a conjuntura nos estados equilibra deixando uma situação parecida com a de 2010. Eles melhoram em Minas, mas pioram muito em São Paulo e no Rio de Janeiro — analisa Américo.

Para Agripino Maia, por sua vez, Aécio Neves conseguiu grandes avanços na montagem dos palanques regionais. Mas ele ressalta que isso é apenas uma parte das conquistas necessárias para chegar ao Palácio do Planalto:

— A eleição presidencial é um misto de arrumações estaduais e da mensagem do candidato. O candidato tem que ser o grande coordenador de campanha e um grande arauto do interesse nacional.
Na organização dos estados, o Aécio vai muito bem. Mas tem que ser também o arauto do interesse nacional. No quesito coordenadora, a Dilma está de médio a inferior. E ela não é mais o arauto do futuro do Brasil. Hoje, ela ainda tem uma estrutura boa, mas menor do que tinha.

Partidos têm alternativas onde não contam com máquinas estaduais

PT aposta nas políticas públicas e em Lula; PSDB amplia alianças, e PSB vai explorar Marina

- O Globo

BRASÍLIA - Embora o apoio explícito de governadores seja o desejo dos principais candidatos, PT, PSDB e PSB já elaboraram estratégias diferentes para os locais onde não terão ao seu lado o poder local. A presidente Dilma Rousseff terá a seu lado a força e a capilaridade da máquina federal, mas não só ela. Na avaliação de petistas, a presidente conta com quatro grandes pilares: a força das políticas públicas de seu governo, a estrutura capilarizada do próprio PT, a influência dos movimentos sociais e a presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao seu lado.

— O PT é maior partido do país, tem o maior número de deputados federais e uma estrutura partidária que dá sustentação à campanha da Dilma. Além disso, há as centrais sindicais, as organizações de trabalhadores e a força do Lula — afirma o deputado Márcio Macêdo (PT-SE).

Aécio Neves, por sua vez, focou os últimos meses na construção de alianças com as principais forças políticas de oposição ao PT nos grandes estados. Assim, garantiu na Bahia o apoio de Paulo Souto (DEM), candidato ao governo, e de Geddel Vieira Lima (PMDB), que disputará o Senado, adversários do governador Jaques Wagner (PT); e encaminhou a aliança com a senadora Ana Amélia (PP), que deve disputar o governo gaúcho com o governador Tarso Genro (PT). Além disso, os tucanos apostam em rachar vários diretórios estaduais do PMDB, como fizeram no Rio, e estão esperançosos com o fato de prefeitos de capitais de estados pró-Dilma em 2010 estarem agora ao seu lado, como ACM Neto, em Salvador, e Arthur Virgílio, em Manaus.

— Essa perda de apoio da presidente é maior do que se imagina, porque ele é acrescido dessa mudança na correlação de forças de muitos estados. Com ACM Neto nós vamos comer um pedaço do eleitorado que era do Jaques Wagner; com Ana Amélia, comemos parte do Tarso, e assim por diante — avalia o vice-presidente do PSDB, Bruno Araújo (PE).

Já o grupo de Eduardo Campos aposta em duas frentes: dividir o palanque com o PSDB em alguns estados-chave, como Paraná e Minas Gerais, e apostar na força da senadora Marina Silva. A divisão de palanques locais com os tucanos era um dos princípios da campanha de Campos, mas acabou enfraquecida pela aliança com a Rede, grupo político de Marina. No maior colégio eleitoral do país, São Paulo, a tendência era Campos dividir o palanque com o governador Geraldo Alckmin, mas o plano foi mudado por exigência dos marineiros. Com isso, o objetivo agora é explorar a popularidade de Marina nos grandes centros urbanos para reverter a falta de estrutura.

— A tendência é que a gente fique com palanque comum só com o PSDB. Em alguns desses estados, a tendência é ser pró-Aécio, como em Minas; e em outros, pró-Eduardo, como em Pernambuco. Se você fizer a soma dos palanques pró-Eduardo com os pró-Aécio, a tendência é que ganhem da Dilma. Onde isso não for possível, entra o fenômeno Marina, com o peso e o capital político que ela construiu — diz o deputado Júlio Delgado, um dos coordenadores da campanha de Campos.

Uma crise a jato - Ofensiva lançada mesmo sem CPI

Oposição na Câmara vota hoje cinco requerimentos para convocar ex-presidente da Petrobras e quer ouvir ex-diretor preso pela PF

João Valadares – Correio Braziliense

Enquanto a ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) Rosa Weber estuda se aprova ou não uma CPI exclusiva para apurar denúncias de corrupção na Petrobras, os oposicionistas se anteciparam e lançaram ofensiva na Câmara para ouvir o ex-presidente da estatal José Sergio Gabrielli. Cinco requerimentos em quatro comissões diferentes pedindo o comparecimento do petista vão ser votados hoje. Ontem, em mais uma ação para minar a manobra governista que visa esvaziar a CPI, membros da comissão externa da Casa criada para investigar suspeita de pagamento de propina a funcionários da Petrobras pela empresa holandesa SBM Offshore decidiram encaminhar à Justiça Federal pedido para ouvir o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, que está preso em Curitiba.

A mesma comissão aprovou ontem requerimento para que o Tribunal de Contas da União (TCU) fiscalize os contratos de fretamento considerados suspeitos entre a empresa Astramarítima e a Petrobras. No documento, foi aprovado o convite ao presidente da companhia, Renato Cabral, para que ele preste esclarecimentos na Câmara. Há seis contratos, todos assinados no ano passado, no valor de R$ 490 milhões.

Paulo Roberto Costa era responsável pela Diretoria de Abastecimento e Refino da Petrobras. Ele está preso desde março na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba e deve ser transferido para o presídio federal de Catanduvas, no Paraná. A Operação Lava-Jato apontou que ele e o doleiro Alberto Youssef, também preso em Curitiba, atuavam juntos. Os dois e mais 43 pessoas foram indiciados por lavagem de dinheiro, evasão de divisas, formação de quadrilha e falsidade ideológica. Segundo a PF, a organização integrada pela dupla é suspeita de movimentar R$ 10 bilhões.

Os requerimentos para convocação de Gabrielli foram protocolados nas Comissões de Fiscalização Financeira e Controle; Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio; Relações Exteriores e Defesa Nacional e também na de Segurança Pública. Foram protocolados pelos deputados Mendonça Filho (DEM-PE), Fernando Francischini (PR), líder do Solidariedade, Vanderlei Macris (PSDB-SP) e Duarte Nogueira (PSDB-SP).

"Responsabilidade"
Gabrielli declarou, em entrevista publicada no domingo pelo jornal O Estado de S.Paulo, que a presidente Dilma Rousseff não deveria "fugir da responsabilidade dela", no polêmico episódio em que a Petrobras comprou a refinaria texana de Pasadena, nos Estados Unidos, em 2006. Na época, Dilma presidia o conselho administrativo da estatal. Gabrielli, que defendeu publicamente a aquisição como sendo um "bom negócio", assumiu a responsabilidade pelo resumo executivo que baseou a operação. A presidente Dilma afirmou, em março, que duas cláusulas não constavam no relatório e que, se soubesse do teor delas, não teria aprovado o empreendimento.

"Eu sou responsável. Eu era o presidente da empresa. Não posso fugir da minha responsabilidade, do mesmo jeito que a presidente Dilma não pode fugir da responsabilidade dela, que era presidente do conselho. Nós somos responsáveis pelas nossas decisões, mas é legítimo que ela tenha dúvidas", declarou Gabrielli.

O deputado Fernando Francischini reforça a necessidade de ouvir o ex-presidente da Petrobras: "Precisamos saber em qual parte do negócio Dilma precisa assumir a responsabilidade. Por isso, é muito importante a vinda do Gabrielli aqui", afirmou. O deputado Macris que saber de Gabrielli sobre a proposta da companhia belga Astra Oil de recomprar a parte da Petrobras quando as duas empresas entraram em litígio. A estatal recusou a oferta na época.

"Julgamos fundamental ouvir o que tem a dizer o senhor. Gabrielli, que dirigiu a empresa por anos e teve participação na aquisição de Pasadena, entre outros negócios. Trata-se de oportunidade para que eventuais mal-entendidos sejam esclarecidos, abrindo caminho para que a população brasileira entenda melhor o que se passa nos corredores e nos escritórios de empresa tão importante para o país", afirma Mendonça Filho no requerimento protocolado ontem.

Relação tensa com Dilma

Paulo de Tarso Lyra – Correio Braziliense

A disposição do ex-presidente da Petrobras José Sergio Gabrielli de dividir com a presidente Dilma Rousseff os estragos decorrentes da compra da refinaria de Pasadena tem três motivações básicas. A primeira é a pressão feita por setores petistas que defendem o movimento "Volta, Lula" para substituir Dilma como candidata nas eleições de outubro. A segunda remonta a divergências antigas entre os dois — em uma reunião de 2005, quando Dilma era ministra da Casa Civil, ela desautorizou Gabrielli rispidamente na frente do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A terceira razão é afastar do próprio colo a imagem de um gestor incapaz de perceber quando uma operação traz lucro ou prejuízo.

Por isso, a possibilidade iminente de Gabrielli ser convidado a comparecer na Câmara reacende os temores de que o bate-boca possa ser amplificado. O Planalto sabe desse risco e não gostou do tom de Gabrielli, mas preferiu responder de maneira "calculadamente tímida", segundo avaliação de um interlocutor presidencial. "Não poderíamos deixar Gabrielli falando sozinho nem tampouco aumentar essa combustão", declarou um aliado da presidente.

O esforço de Gabrielli é para evitar que ele fique sozinho com o ônus do prejuízo. Há duas semanas, enquanto a atual presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, estava, nas palavras de petistas, "encastelada na estatal sem saber como agir", Gabrielli foi à Câmara expor aos deputados do PT os números da operação. No mesmo dia, ele municiou os senadores, durante um jantar, para que eles travassem o "embate político" com a oposição.

O Senado, então, aprovou o convite para que Graça Foster fosse à Comissão de Assuntos Econômicos no último dia 15, quando ela disse que "Pasadena não foi um bom negócio e que nem seu antecessor poderia ter dito que foi um bom negócio". No dia seguinte, o ex-diretor Nestor Cerveró sustentou o argumento de Gabrielli. "Ficou um jogo de empurra, parecendo que Gabrielli e Cerveró trouxeram prejuízo ao erário e que Dilma foi enganada no processo", afirmou um petista que acompanha de perto o assunto.

A queda de braço também se reflete na Bahia. Quando deixou a estatal, exonerado por Dilma, Gabrielli acalentava o plano de se tornar o sucessor de Jaques Wagner (PT), mas o governador baiano optou por lançar o chefe da Casa Civil no estado, o também petista Rui Costa. Segundo apurou o Correio, bem antes de a polêmica sobre a refinaria se acentuar, Wagner já analisara que o episódio dificultaria a vida de Gabrielli em uma disputa que se antecipa como acirrada contra a oposição baiana. "Ele construiu um currículo gerencial para ser governador da Bahia. Foi preterido por Wagner, e agora Dilma tenta desconstruir o currículo dele. É muita coisa de uma só vez", afirmou um companheiro de partido.

Aécio cobra investigação

Presidenciável tucano reitera a necessidade de apurar desmandos na Petrobras. PSDB escolhe data para oficializar candidatura

Paulo de Tarso Lyra – Correio Braziliense

O senador Aécio Neves (PSDB-MG), pré-candidato tucano à Presidência, voltou a defender a instalação de uma CPI para investigar a Petrobras, mesmo que a decisão da ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) Rosa Weber seja por uma investigação mais ampla, envolvendo também o suposto cartel do metrô de São Paulo e as suspeitas de irregularidades nas obras do Porto de Suape e da Refinaria de Abreu e Lima, ambos em Pernambuco. "A CPI da Petrobras não é uma demanda das oposições, como os governistas gostam de dizer. É uma demanda da sociedade brasileira, que está indignada, aviltada com todos esses desmandos, com todos esses desvios", afirmou Aécio, após a reunião da Executiva do PSDB que definiu 14 de junho como data para lançar a candidatura ao Planalto.

Para Aécio, as recentes informações de que a Petrobras se recusou a vender de volta 50% da refinaria de Pasadena para a Astra Oil só reforçam a ausência de governança na principal empresa do país. "O que estamos percebendo é que a Petrobras era administrada quase como uma quitanda, com excesso de poder dos diretores, que tomavam decisões não se sabe se em benefício da companhia ou em benefício dos parceiros da companhia", criticou.

O presidenciável tucano lembrou ainda as recentes declarações do ex-presidente da Petrobras Sérgio Gabrielli, dizendo que a presidente Dilma Rousseff também tem que assumir a responsabilidade pela compra da refinaria de Pasadena, no Texas: "Todas essas novas denúncias demonstram a necessidade urgente de termos uma CPI para investigar o que vem sendo feito com a maior empresa brasileira".

Aécio afirmou também que, caso a ministra Rosa Weber aprove a instalação de uma CPI ampla — a decisão é esperada para hoje —, ele defenderá a indicação dos integrantes do colegiado para evitar que governistas comandem os trabalhos. "Não pode ser uma comissão simplesmente para adiar as investigações, para fazer teatro."

A reunião da Executiva Nacional do PSDB ontem serviu para referendar o nome de Aécio Neves como pré-candidato ao Planalto em outubro. A convenção nacional do partido está marcada para 14 de junho, em São Paulo. "É uma deferência ao governador Geraldo Alckmin e uma prova da importância de São Paulo no cenário político nacional", declarou Aécio Neves.

Eleições
No encontro de terça-feira, foi feito um balanço dos palanques estaduais e, segundo Aécio, em 80% dos estados, haverá candidaturas competitivas, tanto do PSDB, quanto de partidos aliados. "Teremos um exército de companheiros para levar as ideias da nossa candidatura, baseadas na eficiência e na ética, algo que está em falta no governo federal", anunciou.

Pelos cálculos do PSDB, um bom resultado em São Paulo, em Minas Gerais, na Bahia e no Ceará tornam Aécio extremamente competitivo. "Na Bahia, temos uma chapa forte, com cheiro de vitória, e no Ceará, por enquanto, temos a confirmação de Tasso Jereissatti para o Senado e conversas com o PR para o governo estadual", explicou Aécio. "Se repetirmos o resultado que tivemos em 2010 no Sul e no Centro-Oeste, teremos grandes chances de sermos eleitos", completou.

Aécio, contudo, ainda não definiu quem será o vice na chapa. Na semana passada, o pré-candidato do PSB ao Planalto, Eduardo Campos, confirmou a indicação da ex-senadora Marina Silva (PSB). "O tempo para a definição é o tempo da convenção", disse o tucano. Ele não descartou a possibilidade de ter uma mulher como companheira de chapa — como é o caso de Eduardo/ Marina e Dilma Rousseff/ Michel Temer. "Seria, com certeza, algo até mais agradável, mas estamos pautando essa escolha com base em propostas, não por uma questão de gênero ou regional", assegurou.

"A Petrobras era administrada quase como uma quitanda, com excesso de poder dos diretores, que tomavam decisões não se sabe se em benefício da companhia ou em benefício dos parceiros"
Aécio Neves, pré-candidato do PSDB à Presidência da República

Socialista começa giro pelo país
O pré-candidato do PSB ao Planalto, Eduardo Campos, disse ontem que, com o apoio das ruas, conseguirá maioria no Congresso caso seja eleito presidente da República. Segundo o ex-governador de Pernambuco, o eleitor não vai reeleger "muita gente que está no Congresso atrasada, fisiológica e patrimonialista". Ele também voltou a criticar o Executivo federal. "Eu vi esse governo com tanta base, tanto partido, tanto ministério, passar um ano todo sem votar." O socialista esteve ontem em Florianópolis, primeira parada de um giro por seis estados. A ex-senadora Marina Silva (PSB), que será vice na chapa de Eduardo, não participou do evento.

PSDB lança campanha presidencial de Aécio no dia 14 de junho, em SP

Executiva nacional da legenda definiu nesta terça-feira a data oficial do evento para oficializar candidatura de tucano; vice, contudo, ainda não foi definido

Erich Decat - Agência Estado

SÃO PAULO - Em reunião da Executiva Nacional do PSDB, integrantes da cúpula do partido definiram o próximo dia 14 de junho a data do lançamento oficial da campanha presidencial do presidente da legenda, senador Aécio Neves (MG). O evento será realizado em São Paulo, maior colégio eleitoral do País, e governado há quase 20 anos pelos tucanos. "É uma decisão consensual do partido também uma homenagem ao governador Alckmin e obviamente a importância de São Paulo para essa construção política", disse Aécio Neves, após o encontro, realizado em Brasília.

Na reunião, o vice-presidente da legenda, Bruno Araújo (PE), entregou um manifesto de apoio dos dirigentes estaduais do partido à campanha de Aécio. Sobre quem deverá compor a chapa como vice, Aécio Neves disse que ainda não há uma definição. "Tem mais um assunto ai pela frente. A data é o tempo da convenção." Questionado se a indicação seria de uma mulher, o tucano se afirmou: "Não farei campanha centrada na questão de gênero. O que é preciso são propostas para as mulheres."

Segundo Aécio, os outros partidos que deverão compor a chapa, como o DEM e o Solidariedade, não impuseram nenhum nome. "Eles têm colocado que a decisão deve ser a melhor para a chapa."
Estados.Aécio também falou sobre a situação das disputas em alguns Estados e anunciou que o ex-governador do Ceará Tasso Jereissati será candidato ao Senado. "Temos conversas avançadas com Roberto Pessoa, do PR. Isso já me dá tranquilidade enorme nos principais colégios eleitorais do Nordeste e do País, onde sempre tivemos uma situação muito difícil. ", afirmou Aécio.

O tucano não descartou, entretanto, aproximação com integrantes de partido que hoje compõe o governo federal. "Mas qualquer início de conversa passa pela disposição de dar apoio à chapa presidencial do PSDB." O recado foi dirigido de forma indireta ao líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE), que sem apoio do governo federal na campanha ao governo local pode abrir palanque para Aécio no Estado. Questionado onde estaria como aliado com o PSB, que deverá lançar Eduardo Campos na disputa presidencial, o tucano respondeu: "No coração".

PSDB lança Aécio como pré-candidato do partido à Presidência da República

Nome de vice e principais alianças estaduais segue sem definição pela legenda, que terá convenção no dia 14 de junho

Júnia Gama – O Globo

Aécio Neves ao lado do também senador tucano Aloysio Nunes Jorge Willian / O Globo
BRASÍLIA - Dirigentes do PSDB de todo o Brasil vieram a Brasília nesta terça-feira lançar a pré-candidatura de Aécio Neves (PSDB-MG) à Presidência da República. A convenção para lançar seu nome ficou marcada para 14 de junho, em São Paulo. Não há ainda definição sobre o vice de Aécio ou sobre as alianças em estados importantes como Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul.

— Definimos para o dia 14 de junho, a partir 10h, a convenção nacional do PSDB em São Paulo para definir a candidatura presidencial do partido. É uma homenagem ao governador Alckmin e à importância de São Paulo na construção política. Recebo a indicação com a humildade de quem sabe que essa é uma construção coletiva em favor do Brasil — disse Aécio.

O evento foi realizado em Brasília na presença de lideranças tucanas para criar um fato político e dar destaque à candidatura de Aécio, uma semana após o ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), lançar sua chapa com Marina Silva.

— Achava que as finalizações ocorreriam só em maio, mas elas se precipitaram. Outros acordos vão depender de ajustes finais porque em alguns casos dependem de questões pessoais.

No evento, Aécio anunciou que o ex-senador Tasso Jereissati será candidato ao Senado no Ceará, resolvendo um problema de falta de palanque para o PSDB no estado. O nome que será apoiado ao governo do estado é o do ex-deputado Roberto Pessoa.

No Rio de Janeiro, ainda não há definição sobre a aliança. Aécio destacou que há sinalizações de apoio por parte de peemedebistas, mas que nenhum acordo foi fechado até o momento.

— Uma parcela dos partidos políticos mais importantes que hoje estão na base do governo já manifestaram vontade de caminhar com o PSDB no Rio. Temos conversa com PSD, PMDB e SDD e também deveremos ter uma manifestação do PP se dispondo espontaneamente a estar conosco. A aliança formatada até agora é com DEM e PPS, com possibilidade de agregar o PV. Não há definição de quem será o candidato ainda — afirmou Aécio.

PSDB oficializará candidatura de Aécio à Presidência no dia 14 de junho em SP

Gabriela Guerreiro – Folha de S. Paulo / EBC

BRASÍLIA - O PSDB decidiu nesta terça-feira (22) lançar no dia 14 de junho, em São Paulo, a candidatura do senador Aécio Neves (MG) à Presidência da República, de olho no apoio do governador Geraldo Alckmin (PSDB) e da ala da sigla ligada ao ex-governador José Serra (PSDB).

A cúpula do partido lançou hoje a pré-candidatura do tucano durante reunião da executiva nacional do PSDB em que representantes dos 27 diretórios estaduais do partido lançaram manifesto em apoio ao nome de Aécio.

No documento, os tucanos afirmam que o candidato do PSDB representa o "desejo de mudança" da maioria dos brasileiros após "anos de um regime de improviso, compadrio e ineficiência". O manifesto também diz que o país está "cansado de desvios, mazelas e escândalos de corrupção em série".

A escolha de São Paulo para o lançamento oficial da candidatura de Aécio tem como objetivo fazer crescer o nome do tucano junto ao eleitorado do Estado –que é o maior colégio eleitoral do país. Será a primeira vez depois de cinco eleições que o PSDB lançará ao Palácio do Planalto um candidato que não é de São Paulo.

Aécio disse que o Estado foi escolhido por sua "importância" na construção política do partido, além de ser uma homenagem a Alckmin. O nome do tucano enfrenta resistências da ala serrista da sigla, embora oficialmente o diretório de SP apoie a sua candidatura.

Mesmo sem definir o nome do vice em sua chapa, o senador afirmou que terá o apoio do DEM e do Solidariedade, mesmo que um tucano seja escolhido para o posto.

"A data [para escolha do vice] é o tempo da convenção. Há várias especulações, nomes qualificados. A vantagem que eu vejo de partidos que estarão conosco, como o DEM e o SDD, todos colocam a candidatura como a questão mais relevante. Claro que expectativas podem existir, mas todos que conversam comigo dizem para resolver da forma que for melhor para a vitória. Vamos decidir consensualmente ouvindo os partidos da aliança", afirmou.

Palanques
A executiva nacional do PSDB se reuniu hoje em Brasília para tentar solucionar problemas de palanques estaduais para Aécio.

O senador diz já ter soluções em 80% dos Estados, com exceção de casos como o Rio de Janeiro –onde parte do PMDB quer apoiar Aécio, mas o ex-prefeito César Maia (DEM) quer o apoio do tucano para a sua candidatura ao governo do Estado.

Em um aceno a Maia, Aécio disse que a aliança formada pelo PSDB com o DEM e o PPS no Estado é que vai definir quem cederá palanque ao tucano. "Independente dessa estrutura de apoio formal, você tem aliança que reúne PSDB, DEM e PPS, inclusive com alianças proporcionais definidas com a possibilidade de acrescentar o PV. Esse conjunto vai definir o candidato ou a possibilidade de aliança com o PMDB", disse Aécio.

Outro Estado ainda indefinido é o Rio Grande do Sul, onde Aécio diz estar em conversas "muito adiantadas" para ter o apoio da pré-candidata ao governo Ana Amélia Lemos (PP) ao seu nome.

No Nordeste, onde a presidente Dilma Rousseff teve ampla maioria nas últimas eleições, Aécio disse que o cenário é mais favorável à oposição especialmente em Estados como a Bahia e o Ceará –onde o ex-senador Tasso Jereissatti (PSDB) decidiu lançar-se ao Senado para também reforçar o palanque do tucano.

"No Sul e no Centro-Oeste, se repetirmos o resultado das últimas eleições, nós ganhamos. Não há porque não achar que isso não possa se repetir. No Nordeste, a nossa situação é muito melhor do que era nas últimas eleições. Ganhamos musculatura em praticamente todos os Estados. Nenhum dos outros candidatos tem esse diferencial, incluindo a presidente Dilma. Cumprimos nosso dever de casa até aqui", disse Aécio.

Segundo o senador, o PSDB terá candidatos próprios em pelo menos dez Estados (Goiás, Santa Catarina, Paraná, Minas, Alagoas, Paraíba, Pará, Distrito Federal, Rondônia e Espírito Santo). Em outros Estados, como Bahia e Mato Grosso, o PSDB terá candidatos nas alianças regionais encabeçadas por siglas como DEM e PDT.

"Eu achei que as finalizações ocorreriam em maio, mas no final de abril há 80% dos palanques já resolvidos, a maioria contra o PT. Os outros vão depender de alguns ajustes", afirmou.

Campos promete romper com ‘pacto existente’ e colocar ‘figuras atrasadas na oposição’

Depois de condenar o aborto, pré-candidato evita falar de temas sociais preferindo abordar questões econômicas e de crise de governança

Juraci Perboni – O Globo

FLORIANÓPOLIS - O pré-candidato a presidente pelo PSB, Eduardo Campos, defendeu nesta terça-feira que o Brasil rompa com seu atual modelo de governança e tenha “menos as figuras de sempre”. Em Santa Catarina, onde se encontrou com empresários em Florianópolis e depois falou com jornalistas, Campos propôs um novo pacto social “a partir da sociedade”.

— Devemos ter menos as figuras de sempre. Aquele modelo de Brasília já deu o que tinha que dar.

Vamos romper com o pacto existente e vamos colocar aquelas figuras atrasadas na oposição. Vamos colocar aquelas velhas práticas da política na oposição. O Brasil não vai sobreviver a esse presidencialismo de coalizão se não houver coragem de ruptura e um novo pacto renovador brasileiro — afirmou.

Para o pré-candidato, o Brasil vive uma crise política em muito porque o governo e o Congresso Nacional não fizeram o debate necessário após a crise financeira internacional de 2008 — o que, segundo Campos, blocos econômicos e países como China e Estados Unidos fizeram ao debater questões como energia, padrões de crescimento ou conceitos de desenvolvimento, governança e planejamento.

— O debate ficou empobrecido no Brasil. Esse debate, que deveria ter sido feito nas eleições de 2010, não foi feito. O debate (da última eleição) foi um pobre debate marcado por temas religiosos e poucas vezes sobre temas centrais da vida do país, da importância do Brasil com a complexidade e os desequilíbrios sociais que esta nação tem. Perdeu a oportunidade de fazer o debate sobre seu futuro — declarou ele.

No domingo, Campos havia declarado ser contrário a uma revisão da lei que define quando uma mulher pode interromper a gravidez, afirmando que sua posição contrária ao aborto estaria em sua campanha.

Nesta terça-feira, ao ser indagado por jornalistas sobre outras questões que afetam o chamado “voto religioso”, como o casamento gay ou a descriminalização das drogas, o ex-governador de Pernambuco não quis manifestar a sua posição.

— Nós vamos colocar no nosso programa. Nossa opinião vai estar no nosso programa. Não vim fazer essa resposta, vim fazer exatamente a agenda. Eu tenho opinião conhecida — declarou o pré-candidato, que priorizou declarações sobre política e economia durante sua visita.

Eduardo Campos frisou que o “Brasil real está muito distante do Brasil de Brasília”, cujos líderes não lidam com questões que fazem parte da agenda da população, como a má qualidade dos serviços públicos ou a falta de um projeto para o país.

— Muitos investidores daqui e de fora estão com um pé atrás (...) Tudo que acontece hoje com a Petrobras, que era a 12ª empresa do mundo e que hoje está abaixo da 100ª empresa (...) Tudo isso tem afetado a economia e seus fundamentos, mas sobretudo tem afetado a confiança, a visão, a expectativa sobre o futuro. Vivemos uma crise política — declarou.

O pré-candidato prometeu levar adiante uma agenda com um novo pacto federativo e nova divisão dos recursos de impostos, fazer a reforma política e a reforma tributária. Prometeu reduzir o número de ministérios, adotar uma gestão de resultados e disse que todos os nomes para cargos, inclusive da Petrobras e das agência reguladoras, deverão ser selecionados a partir da sua capacidade técnica e serem aprovados pelo Congresso Nacional.

Sobre o Legislativo, Campos disse pretender por fim a esse “toma lá dá cá”, que se instituiu nos últimos anos.

Eduardo Campos defende redução do número de ministérios

Pré-candidato do PSB visitou Florianópolis e Chapecó em reunião com empresários e correligionários

Mayara Rinaldi – Diário Catarinense

A primeira medida de Eduardo Campos (PSB), se eleito presidente nas eleições de outubro, será diminuir em pelo menos a metade o número de ministérios. Com um forte discurso de crítica ao Planalto, o ex-governador de Pernambuco e pré-candidato à Presidência da República fez palestra a empresário de Santa Catarina nesta terça-feira, dando largada em sua campanha no Estado.

Por pouco mais de uma hora, Campos disse que o Brasil perdeu a oportunidade de fazer um debate sobre o futuro do país na eleição de 2010 e reforçou seu nome, ao lado da ex-senadora Marina Silva, como terceira via na disputa deste ano.

O pré-candidato enfatizou o que chamou de três ciclos na história recente do país: a transição democrática, a estabilidade econômica e o combate à desigualdade. E direcionou as críticas para as medidas que vem sendo tomadas pelo governo Dilma Rousseff (PT).

Foi aplaudido pelos empresários em dois momentos. Primeiro ao dizer que seu compromisso será o de “colocar as forças atrasadas” que hoje estão em Brasília na oposição. Da segunda vez, quando disse que estamos num país capitalista e, por isso, não podemos ter preconceito com investidores.

Campos minimizou a possiblidade de não ter palanque em Santa Catarina durante a eleição deste ano:

– A decisão será tomada pelo nosso pessoal local. Mas nós vamos fazer a campanha aqui como em todo o Brasil, dialogando, fazendo chegar às casas as propostas de nosso programa de governo, fazendo a campanha nas condições que nós temos.

Em Florianópolis, o pernambucano participou ainda de evento com pré-candidatos do PSB a deputado.

Eduardo Campos encontra o governador catarinense

Upiara Boschi – Diário Catarinense

O mais importante dos encontros que o presidenciável Eduardo Campos (PSB) teve ontem em Santa Catarina não contou com plateia, discurso e aplausos. Em uma agenda guardada a sete chaves, o pré-candidato se encontrou pela manhã com o governador Raimundo Colombo (PSD) na Casa d’Agronômica. Durante pelo menos 30 minutos conversaram a sós – exigência feita previamente pelo pernambucano.

Depois se juntaram a eles o deputado federal Paulo Bornhausen (PSB) e o ex-senador Jorge Bornhausen. A conversa foi tão reservada que o próprio Campos, mais tarde, não admitiria o encontro. Na conversa, Colombo reforçou a intenção de apoiar a reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT), a quem se sente grato pelos financiamentos de R$ 9 bilhões viabilizados pelo Planalto e que são sua principal aposta administrativa.

Os reflexos da conversa estavam visíveis inclusive no discurso de Campos. Sobre o apoio de Colombo a Dilma, limitou-se a dizer que o PSB toca sua vida e o governador “está tocando a dele, com as circunstâncias que está vivendo”. Perguntado sobre suas propostas para o Estado, provocou:

– Que Santa Catarina viva um tempo em que não se tira recursos do Estado e se empresta o que tirou com juros.

Em sua agenda catarinense, Campos falou a língua do empresariado que o recebeu. Disse que um país capitalista como o Brasil não pode ter preconceito contra investidores, defendeu parcerias com a iniciativa privada, concessões, e redução pela metade dos ministérios distribuídos como “cachos de banana” em Brasília.

Elogiou Lula e Fernando Henrique, focando as críticas à gestão de Dilma Rousseff e à base aliada no Congresso. Chegou a dizer que é preciso oferecer ao Brasil uma opção que coloque na oposição as forças atrasadas, o lado mais fisiológico da política nacional. Não detalhou como pretende convencer o parlamento a desistir da fisiologia, mas mostrou ter assimilado boa parte do discurso de sua companheira de chapa, a ex-senadora Marina Silva. Para as eleições, pode ser suficiente.

Pela 1ª vez no ano, projeção para a inflação ultrapassa o teto da meta

Segundo o boletim Focus desta semana, IPCA deve fechar o ano em 6,51%, valor acima do teto da meta do governo, de 6,5%

Victor Martins - Agência Estado

BRASÍLIA - Pela primeira vez no ano, a projeção para a inflação medida pelo IPCA em 2014 estourou o teto da meta, limite definido em 6,5%. Segundo o boletim Focus, divulgado pelo Banco Central, a estimativa saltou de 6,47% para 6,51% entre uma semana e outra. Há quatro semanas, a estimativa era de 6,28%. Para 2015, a previsão ficou estável 6%. Há quatro semanas, a expectativa era de 5,80%.

A previsão de inflação para os próximos 12 meses à frente subiu de 6,12% para 6,07%, conforme a projeção suavizada para o IPCA. Há quatro semanas, estava em 6,20%.

Nas estimativas do grupo dos analistas consultados que mais acertam as projeções, o chamado Top 5 da pesquisa Focus, a previsão para o IPCA em 2014 no cenário de médio prazo também estourou o teto da meta ao passar de 6,49% para 6,59%. Para 2015, a previsão dos cinco analistas recuou de 6,27% para 6,00%. Há quatro semanas, o grupo apostava em altas de 6,57% para 2014 e 6,00% para 2015.

Entre todos os analistas ouvidos pelo BC, a mediana das estimativas para o IPCA de abril aumentou de 0,69% para 0,80%. Há quatro semanas, estava em 0,60%. Para maio, a projeção subiu de 0,45% para 0,47%.

PIB. A previsão de crescimento da economia brasileira em 2014 recuou de 1,65% para 1,63%. Há quatro semanas, a expectativa era de 1,70%. Para 2015, a estimativa de expansão se manteve em 2,00%, mesmo valor há oito semanas.

A projeção para o crescimento do setor industrial em 2014, no entanto, apresentou aceleração; passou de 0,70% para 1,40%. Para 2015, economistas mantiveram a previsão em 2,95%. Quatro semanas antes, a Focus apontava estimativa de expansão de 1,41% para 2014 e de 3,00% em 2015 para o setor.

Os analistas mantiveram estável, em 34,80%, a previsão para o indicador que mede a relação entre a dívida líquida do setor público e o PIB em 2014. Há quatro semanas, estava em 34,75%. Para 2015, segue em 35,00% há 18 semanas.

Juro. Os economistas mantiveram a previsão para a taxa Selic no fim de 2014 em 11,25% ao ano, há quatro semanas a previsão era a mesma. Para 2015, a mediana segue em 12,00% ao ano há dez semanas. A taxa básica de juros está em 11,00% ao ano desde a última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que ocorreu em abril.

A previsão para a Selic média em 2014 ficou estável em 11,06%. Para 2015, passou de 12,01% para 12,00%. Há quatro semanas, estavam em 10,94% e 11,83% ao ano, respectivamente.

Nas estimativas do grupo dos analistas consultados que mais acertam as projeções, o chamado Top 5 da pesquisa Focus, a previsão para a Selic no fim de 2014 ficou estável em 11,88% ao ano e, para 2015, permaneceu em 13% pela terceira semana consecutiva. Há quatro semanas a projeção era, respectivamente, 11,75% ao ano e 12,00%.

Déficit. O mercado financeiro elevou a previsão para o déficit em transações correntes em 2014. A pesquisa Focus mostra que a mediana das expectativas de saldo negativo na conta corrente este ano passou de US$ 77,00 bilhões para US$ 77,05 bilhões. Para 2015, a previsão de déficit nas contas externas ficou estável em US$ 75,60 bilhões. Há quatro semanas, o déficit estava em US$ 75,00 bilhões para 2014 e em US$ 73,50 bilhões para 2015.

Na mesma pesquisa, economistas elevaram ligeiramente a estimativa de superávit comercial em 2014 de US$ 3,00 bilhões para US$ 3,02 bilhões. Quatro semanas antes, estava em US$ 4,71 bilhões. Para 2015, a projeção se manteve em US$ 10,00 bilhões, mesmo valor de sete semanas atrás.

A pesquisa mostrou ainda que as estimativas para o ingresso de Investimento Estrangeiro Direto (IED), aquele voltado ao setor produtivo, ficou estável em US$ 60,00 bilhões em 2014 pela segunda semana consecutiva. Para 2015 segue em US$ 55 bilhões, mesmo valor registrado há sete semanas.

Governo estuda tirar alimentos do cálculo da inflação

Defensores da mudança dizem que altas de alimentos como o tomate e o chuchu não deveriam influenciar o IPCA total, pois não são insubstituíveis

Gabriela Valente, Cristiane Bonfanti - O Globo

BRASÍLIA - Preocupados com o impacto da alta dos alimentos na inflação, alguns técnicos do governo começaram a defender nos bastidores mudanças polêmicas na formulação da política econômica. Diante dos frequentes choques nos preços de produtos in natura por causa de problemas climáticos, eles acreditam que esses itens deveriam simplesmente ser retirados do cálculo do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). A ideia não é novidade e tem a simpatia da equipe econômica, pois tornaria o indicador mais realista. No entanto, todos os técnicos ouvidos pelo GLOBO são unânimes em afirmar que isso teria que ser feito com cuidado e num momento de inflação baixa, para que o governo não seja acusado de mais uma maquiagem.

Economistas do mercado financeiro estimaram na terça-feira, pela primeira vez, que a inflação vai estourar o teto da meta do governo em 2014. Analistas ouvidos pela pesquisa Focus, do Banco Central, pioraram suas estimativas e esperam agora que a inflação oficial medida pelo IPCA encerre o ano em 6,51% — ante uma projeção de 6,47% na semana passada. Esta foi a sétima alta consecutiva na previsão para a inflação.

O argumento dos defensores da mudança na formulação da política econômica é que as altas de alimentos, como o tomate e o chuchu, por exemplo, não deveriam influenciar o IPCA total, uma vez que não são produtos insubstituíveis. Os consumidores costumam deixar de comprá-los quando os preços sobem demais em função do clima. Eles afirmam que inflação teria de ser medida por itens que não podem ser trocados por outros, como combustíveis ou alimentação fora de casa.

— Nos Estados Unidos, por exemplo, não há alimentos no índice oficial de inflação por uma questão simples: se você vai ao mercado e vê o tomate caro, você pode substituir por outra coisa. A gente faz isso com morango. Ninguém come morango o tempo inteiro — argumentou um técnico do governo.

— Essa é uma discussão interessante e oportuna. Será que o IPCA é o melhor índice para o Brasil guiar a política monetária? — questionou outra fonte da área econômica.

A inflação acumulada em 12 meses até março está em 6,15%, muito próxima do teto da meta de 6,5% fixada pelo governo para o ano. Grande parte dessa alta é resultado do aumento dos preços de alimentos. Só o preço do tomate já subiu 31,72% em 2014. A batata inglesa teve alta de 17,27% no mesmo período.

Os economistas do mercado financeiro afirmam que qualquer alteração no índice seria vista com muita desconfiança. Segundo o ex-diretor do Banco Central Alexandre Schwartsman, não há nada de honesto no argumento que os alimentos que contaminaram o IPCA e provocaram a persistência da inflação que, por sua vez, acomodou-se perto do teto da meta.

— (A ideia) tem um alto nível de cretinice. Acho surpreendente que as pessoas voltem a debater isso neste momento, porque parece que elas não prestam atenção nos números — disse.

Schwartsman se referia aos dados do núcleo da inflação, ou seja, o número que despreza a alta dos alimentos e das tarifas de serviços públicos. Nos últimos 12 meses, esse núcleo está ainda maior que o IPCA geral: 7,36%. Ou seja, a culpa não está apenas nos alimentos. A inflação sofre também com outros fatores, como altas nos serviços.

— Seria trocar seis por meia dúzia e ainda na hora errada. O único resultado seria mais um arranhão na credibilidade do país. Se olharmos os dados do passado, a inflação brasileira não tem um histórico de pressão por alimentos — disse o ex-secretário do Tesouro Nacional Carlos Kawall, economista-chefe do Banco Safra.

Para 2014, o governo espera que os alimentos deem uma trégua à inflação nos próximos meses. Em apresentação feita ao ministro da Fazenda, Guido Mantega, o secretário de Política Econômica, Márcio Holland, informou que o IPCA deve subir menos a partir de agora, por causa da entrada da safra no mercado.

A meta do governo para o IPCA é de 4,5% ao ano, com margem de tolerância de dois pontos percentuais. Se não atingir a meta, o BC precisará explicar, oficialmente, por que não conseguiu, além de informar as providências que serão tomadas. Para 2015, a estimativa de inflação no Boletim Focus foi mantida em 6% ao ano. O grupo de economistas que mais acertam as projeções já havia projetado uma inflação acima do teto da meta para este ano. A mediana das projeções do chamado “top 5” chegou a 6,57% há cerca de um mês e, agora, está em 6,59%.

O economista da LCA Consultores César Esperandio, destacou que o resultado recente do IPCA-15, a prévia da inflação, ficou abaixo do esperado — com percentual de 6,19% em 12 meses — o que contribuiria para uma redução na estimativa dos analistas. No entanto, observou, os reajustes recentes das tarifas de energia elétrica pressionaram as projeções. Na semana passada, a AES Sul Distribuidora Gaúcha de Energia S/A, por exemplo, foi autorizada a reajustar em 28,86% a tarifa de consumidores residenciais.

Alessandra Ribeiro, da Tendências Consultoria, ressaltou que, embora o IPCA-15 tenha vindo abaixo do esperado pelo mercado, ele trouxe expectativa de reajuste elevado da alimentação no domicílio.

— Com isso, nós elevamos nossa expectativa de inflação para abril de 0,70% para 0,77%. Nossa projeção para o ano, de 6,3%, passa a ter viés de alta — afirmou Alessandra.

Comissão externa da Petrobrás quer fiscalizar empresa de planilha de Paulo Roberto

Documento apreendido pela PF aponta que ex-diretor da estatal recebia 'comissões' de até 50% dos contratos entre a companhia e a estatal petrolífera

Eduardo Bresciani - O Estado de S. Paulo

A comissão externa da Petrobrás na Câmara aprovou um requerimento para que o Tribunal de Contas da União fiscalize contratos realizados entre a Astromarítima e a Petrobrás. O nome da empresa aparece em uma planilha encontrada na casa de Paulo Roberto Costa, ex-diretor da estatal que está preso desde o mês passado, ao lado de anotações que a Polícia Federal suspeita serem comissões a receber. Além do pedido de fiscalização, foi aprovado também convite para que Renato Cabral, CEO da companhia preste depoimento.

"A Astromarítima diz que era uma comissão por um investimento que seria feito, mas uma comissão de 50% não é normal. Tem alguma coisa por trás", afirmou o líder do SDD, Fernando Francischini (PR).

A comissão externa tem como foco a investigação de suposto pagamento de propina a funcionários da Petrobrás pela empresa holandesa SBM Offshore.

A justificativa para incluir a Astromarítima é de que a empresa atua na mesma área que a holandesa, o fretamento de embarcações. Foi aprovado ainda um pedido ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) para que informe se foram registradas movimentações atípicas de Júlio Faerman e suas empresas. Segundo a SBM, ele recebeu recursos para atuar pela empresa no Brasil.

Os deputados do colegiado visitarão nesta terça-feira, 22, a Controladoria Geral da União (CGU) e o Tribunal de Contas da União (TCU) para reiterar o pedido de acessos a investigações dos órgãos sobre o caso da SBM. Aguardam ainda resposta do juiz Sérgio Moro se terão autorização para tomar o depoimento de Paulo Roberto na prisão. Não há ainda previsão de quando os parlamentares irão a Holanda em busca de informações do Ministério Público daquele país, objetivo principal da comissão.

Lulopetismo reage à acusação de Dilma: O Globo - Editorial

A discussão pública entre o ex-presidente da Petrobras e a presidente da República reforça as dúvidas sobre a compra da refinaria e a defesa da CPI

Governo e PT tentam de todas as formas evitar que a história muito mal explicada da compra da refinaria de Pasadena pela Petrobras seja investigada por uma CPI no Congresso. Mas os desdobramentos do caso se sucedem, contra os interesses do Planalto e do partido. Dessa vez, foi a entrevista concedida pelo ex-presidente da estatal, José Sérgio Gabrielli, ao “Estado de S.Paulo”, na edição de domingo, em que ele afronta a presidente Dilma ao dizer que ela “não pode fugir da sua responsabilidade” naquele negócio.

Dilma, na condição de presidente do Conselho de Administração da empresa, em 2006, quando era chefe da Casa Civil e Gabrielli, presidente da Petrobras, aprovou aquela operação, que mais tarde se mostraria um “mau negócio", como disse a atual responsável pela companhia, Graça Foster, em depoimento ao Senado, e concorda Dilma.

Gabrielli reage porque é atingido pela acusação da presidente da República de que ela e demais conselheiros deliberaram sobre uma operação, que custaria US$ 1,2 bilhão, a partir de um sumário “técnica e juridicamente falho", redigido pelo diretor Internacional da empresa, Nestor Cerveró, subordinado a Gabrielli. Paira a suspeita de que havia interesse em que a Petrobras fechasse um “mau negócio”, suposição que se torna mais grave quando são lembrados outros projetos cujos orçamentos também chegaram às estrelas (o da refinaria Abreu e Lima foi multiplicado por quase dez). E piora com a prisão do ex-diretor Internacional Paulo Roberto Costa, metido num esquema de lavagem de dinheiro, e colocado atrás das grades pela Polícia Federal.

A entrevista foi respondida por Dilma, por meio do ministro Aloizio Mercadante. A presidente mantém a opinião, por considerar um erro a omissão, no sumário, da existência de cláusulas, no negócio, as quais, se soubesse, não aprovaria a compra: rentabilidade mínima para os sócios belgas e aquisição compulsória das ações da outra parte, em caso de litígio. Gabrielli e Cerveró minimizam o fato.

Disso tudo, sai fortalecida ainda mais a ideia da CPI exclusiva — como deve ser, segundo juristas. E fica mais evidente o choque entre o lulopetismo e Dilma, em torno do passado nebuloso da Petrobras. Não esquecer que a gestão Gabrielli tem como patrono o presidente Lula, de cuja campanha à reeleição, em 2006, o então presidente da estatal participou com estrelinha na lapela do paletó. O conflito dentro de hostes do PT realça, ainda, o aparelhamento da estatal pelo lulopetismo, um combo de que participam sindicalistas e frações fisiológicas de partidos aliados na função de padrinhos de técnicos da casa, um estilo gerencial que marca a administração de Gabrielli.

Espera-se que as investigações da PF sobre o ex-diretor Paulo Roberto Costa, um dos elos naquele aparelhamento, ajude a desenrolar, pelo menos em parte, este novelo. Mas a CPI daria uma contribuição essencial no esclarecimento de desmandos e na defesa do patrimônio da Petrobras.

A crise volta ao Planalto: O Estado de S. Paulo - Editorial

Bem que o ex-presidente Lula reclamou da sua afilhada Dilma Rousseff por "trazer para dentro do Planalto" a crise, até então restrita à Petrobrás, da compra da metade da Refinaria de Pasadena, em 2006. O que motivou o desolado comentário do mentor, em conversa com petistas, foi a já afamada nota da presidente ao Estado, em 17 de março passado, na qual confirmava que, na condição de titular do Conselho de Administração da estatal, aprovara a transação, que anos depois daria um prejuízo de US$ 530 milhões, apenas com base em um parecer de página e meia, "técnica e juridicamente falho", preparado pelo diretor da área internacional da empresa, Nestor Cerveró. Só mais tarde, segundo a sua versão, ela teria descoberto que o texto omitira duas cláusulas potencialmente lesivas à petroleira. Se delas tivesse tido conhecimento à época da decisão, garantiu, "seguramente" teria se oposto à compra.

Na semana passada, em depoimentos distintos na Câmara e no Senado, Cerveró, recém-demitido de um cargo na BR Distribuidora para o qual tinha sido removido, e a presidente da Petrobrás, Graça Foster, cuidaram, cada qual a seu modo, de manter a chefe do governo longe do fogo. Ela, por sua vez, saiu alegando que, ao propor uma CPI sobre esse e outros casos suspeitos, a oposição iniciara uma "campanha negativa" contra a empresa para, ao fim e ao cabo, promover a sua privatização. A blindagem de Dilma não estava, porém, completa. Faltou combinar - se é que teria sido possível - com o ex-presidente da Petrobrás José Sérgio Gabrielli, o primeiro defensor da parceria com o grupo belga Astra Oil, proprietário da refinaria. Numa entrevista a este jornal, publicada domingo, disse deliberadamente: "Não posso fugir da minha responsabilidade (pelo negócio), do mesmo jeito que a presidente Dilma não pode fugir da responsabilidade dela".

Assim como a nota oficial de Dilma, as palavras de Gabrielli são uma defesa prévia diante dos eventuais desdobramentos da admissão de Graça Foster de que a Petrobrás enterrou US$ 1,249 bilhão em Pasadena, segundo as contas oficiais. Com o argumento de que, em última análise, foi induzida a erro ao endossar a primeira parte da desastrosa transação, a presidente tentou resguardar-se da acusação de negligência, ou de ter cometido um ato de gestão temerária. Já Gabrielli, ao compartilhar a responsabilidade com Dilma, alvejou quem não gostava de sua gestão e tampouco disse uma palavra em sua defesa desde que o caso eclodiu. Ele não se limitou a isso. Reconhecendo que o Conselho não teve acesso às cláusulas citadas pela presidente, considerou-as irrelevantes. Por fim, na contramão do que ela escreveu sobre o que seguramente faria se as conhecesse, disse acreditar que o colegiado, ainda assim, "teria aprovado" a operação.

A diferença entre a manifestação de Dilma e a de Gabrielli é que a dela foi uma decisão solitária, temperamental - e, afinal de contas, contraproducente. Já a dele decerto resultou de conversas com seu bom companheiro Lula, que foi quem lhe entregou o comando da Petrobrás. Talvez Gabrielli tenha sido um pouco mais incisivo do que o ex-presidente apreciaria - a única concessão a Dilma na entrevista foi achar "legítimo que ela tenha dúvidas". Mas demarcou o seu território para o que der e vier e reiterou que a compra da refinaria "foi um bom negócio para a conjuntura de 2006, um mau negócio para a conjuntura de 2008 a 2011 e voltou a ser bom em 2013 e 2014". Só que, em 2007, a Petrobrás teria se recusado a revender à sua antiga proprietária, como esta queria, a metade que dela havia comprado, conforme noticiou ontem a Folha de S.Paulo. Coisas assim explicam o ostensivo empenho do governo em impedir a abertura de uma investigação parlamentar sobre, antes de tudo, as possíveis malfeitorias escondidas no subsolo de Pasadena.

Outras dúvidas pairam sobre a conduta da então dublê de ministra da Casa Civil e conselheira chefe da Petrobrás. Não é crível que, numa função ou na outra, ela tenha ignorado um ano das negociações com a Astra Oil, sabendo apenas acerca do seu desfecho o que constava no tal resumo executivo. E se, mesmo assim, aprovou a transação, foi - a palavra é esta - irresponsável.

Aloysio Nunes Ferreira: Marco Civil é bom, mas poderia ficar melhor

Ao especificar de antemão o que deve ser colocado no lugar do conteúdo considerado ofensivo, o Marco Civil limita o poder decisório do juiz

- Folha de S. Paulo /EBC

Um dos três pilares do Marco Civil, a neutralidade da rede foi garantida na Câmara dos Deputados. Todo conteúdo será tratado da mesma maneira, e o provedor é proibido de diminuir a velocidade de um serviço em favor de outro.

Ao Senado, caberia ampliar o debate a respeito da guarda de dados dos usuários. Ficaria para a Casa a tarefa de amarrar as pontas que envolvem os outros dois pilares do projeto: privacidade e segurança. Essa discussão, porém, não aconteceu.

O PLC (projeto de lei da Câmara) nº 21/2014 foi aprovado ontem às pressas para atender ao cronograma da presidente Dilma Rousseff com pouquíssimas emendas acatadas: apenas aquelas que alteram a redação do texto e não obrigam sua devolução à Câmara. Defensor da internet livre e da neutralidade da rede, apresentei 16 emendas. Quase todas foram rejeitadas.

Concordo com o pai da web, Tim Berners-Lee, que alertou para questões que ainda precisam ser discutidas, embora o texto represente o que a internet deve ser --aberta, neutra e descentralizada. Havia, porém, artigos que precisavam ser modificados em nome dessa liberdade.

Um deles é eliminar o acesso a informações pessoais por autoridades administrativas porque dá margem à possibilidade de criação de um "big brother" oficial. Por isso, sugeri que a competência local para requisitá-las é do delegado de polícia e do Ministério Público.

Reforcei também a inviolabilidade: "O conteúdo das comunicações privadas será solicitado por ordem judicial e para fins de investigação criminal ou processual penal". O texto atual exige apenas ordem judicial, sem discriminar em quais situações é permitido obtê-las.

Um assunto que está na ordem do dia é a superexposição, e o Marco Civil traz exigência desnecessária: substituir conteúdo ofensivo por motivação judicial ou fundamentação da ordem de retirada. Não se pode limitar o poder decisório de um juiz, uma vez que a lei já permite ao ofendido incluir pedido de retratação ou resposta. Ao especificar de antemão o que deve ser colocado no lugar do conteúdo considerado ofensivo, o Marco Civil limita a aplicação da lei.

Outra questão delicada é a punição a provedores de aplicação caso não tomem providências, após ordem judicial específica, para "tornar indisponível" conteúdo apontado como infringente. O uso da expressão "tornar indisponível", aliado à ideia imprecisa do interesse da coletividade, pode ser instrumento de censura, contrariando o propósito da lei. E pode resultar em uma avalanche de ações em juizados especiais, porque o texto atrai para esse foro simplificado a competência para processar essas causas.

A não especificação de conteúdos sujeitos a indisponibilização pode abrir brecha contra a liberdade de imprensa sempre que uma notícia for reputada como desfavorável.

Uma resposta importante que o Marco Civil dá é exigir apenas uma notificação do usuário para retirada de conteúdo que viole a intimidade pela divulgação não autorizada de imagens ou vídeos com cenas de nudez ou ato sexual. Essa regra de exclusão, porém, não oferece tratamento igual a situações que violem a dignidade humana, como o caso da garota cuja tortura feita por uma colega motivada por ciúme foi filmada e postada nas redes sociais. Ou do jovem que compartilhou o vídeo do assassinato de sua ex-namorada.

Houve tentativa de assegurar a ampla defesa e o contraditório no caso de infrações cometidas por provedores de conexão e de aplicação, e a multa representará 10% do faturamento bruto do grupo, e não o faturamento sem tributos, como previsto. Da forma como está, a penalidade abrange impostos federais, estaduais ou municipais, além de contribuições sociais e taxas. Se implantada, a medida fere o princípio da isonomia.

A chamada Constituição da internet é boa, mas poderia ficar melhor. Votei a favor do Marco Civil, mas fui contra esse afogadilho. Ontem, o Senado não pôde exercer seu dever de aprimorá-lo. Parlamentares, temos a obrigação de revisar as leis originárias na Câmara para, posteriormente, aprimorá-las. É o que diz a Constituição brasileira.

Aloysio Nunes Ferreira é líder do PSDB no Senado Federal

Merval Pereira: Problemas às pencas

- O Globo

Nos últimos dias, o PT anda às voltas com problemas que afetam sua imagem, faltando poucos meses para a eleição presidencial. Alguns deles poderiam ser evitados, outros, não.

Cada notícia sobre os atrasos das obras para a Copa, especialmente os estádios de futebol, é mais um ponto negativo na avaliação da capacidade de gestão do governo. Poderia ter sido evitado se o governo, desde que foi anunciada a decisão da Fifa, em 2007, tivesse trabalhado com seriedade.

Mas, por um bom tempo, pareceu que a propaganda seria o suficiente para aumentar a popularidade do governo. A realidade tratou de colocar as coisas nos devidos trilhos, e o gasto excessivo (que seria bancado pelo setor privado, lembram-se da promessa?) acabou explicitando as verdadeiras necessidades da população: hospitais e escolas “padrão Fifa”, e não estádios de futebol.

A crise da Petrobras poderia ter sido evitada se a presidente Dilma não tivesse furado, com seu “sincericídio”, a bolha de mentiras que protegia o mau negócio da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos. Uma reação correta, mas atrasada, que parece estava martelando a cabeça da presidente — que evitou estourar a bolha antes para não atrapalhar a eleição do presidente Lula em 2006.

Estávamos lidando com os escândalos do mensalão, e seria demais surgir outro escândalo, e logo na Petrobras. Foi nessa campanha, aliás, que o governo jogou todas as suas fichas na demonização das privatizações, e deu certo, para espanto do próprio marqueteiro João Santana — que, mais tarde, admitiu em entrevista que ficara surpreso com a falta de reação do PSDB em defesa da privatização da telefonia, por exemplo, que levara os celulares para a classe média e até para os trabalhadores.

Como presidente do conselho, a presidente Dilma lutou contra a compra da outra metade de Pasadena, mas, como agora, não tinha condições de ir mais fundo na apuração. Hoje, ela bate boca em público com o ex-presidente da Petrobras José Sergio Gabrielli, mas não tem condições de ir adiante, pois exporá ao cidadão as transações ocorridas na gestão da Petrobras durante o governo Lula.

O caso do deputado André Vargas, que insiste em não renunciar, porém, é exemplar de como a situação política foge ao controle dos caciques petistas, até mesmo do maior deles, o ex-presidente Lula.

Na já famosa entrevista aos “blogueiros confiáveis”, como definiu muito bem um “jornalista confiável”, o ex-presidente Lula jogou Vargas ao mar, dizendo que ele tinha que se explicar, “porque senão é o PT que paga o pato”.

Foi nessa entrevista também que Lula, num ato falho, pediu empenho para impedir a CPI da Petrobras, lembrando que uma CPI para investigar uma corrupção de R$ 3 mil nos Correios do PTB acabou se transformando na CPI do mensalão. Lula tem toda a razão de temer que a CPI da Petrobras acabe em coisa pior para o governo e para o petismo, e é por isso que recomenda que o governo se dedique a inviabilizá-la.

Também a ex-ministra Gleisi Hoffmann mostra-se preocupada com a situação de Vargas e fez um comentário bizarro sobre essa situação: “O envolvimento do deputado com um doleiro não encontra justificativa para ter acontecido e acaba impactando no PT e na política”.

Como não encontra justificativa para ter ocorrido, senadora? A senhora não ouviu o diálogo de Vargas com o doleiro Alberto Youssef em que este diz ao deputado que está tratando da “independência financeira” dos dois?

Mas tanto Lula quanto Gleisi Hoffmann têm razão em uma coisa: esses casos estão mesmo impactando a imagem do PT, já muito abalada desde os tempos do mensalão.

Rosângela Bittar: A carta forte na mesa

O novo Banco Central, com autonomia e mandato

- Valor Econômico

Em um governo Eduardo Campos (PSB), o Banco Central terá autonomia não apenas informal. O candidato a presidente começou a debater internamente com sua equipe de economistas e acadêmicos que elaboram o programa de governo o que está chamando de "autonomia legal" para o BC, com mandato. "Estou trabalhando internamente para colocar no programa a autonomia legal. Acho um sinal importante para a retomada. Estamos tendo tantos problemas no Brasil que é preciso colocar uma carta forte na mesa. Eu acho que essa é uma carta forte importante", afirmou, ontem, em entrevista por telefone, enquanto se dirigia ao voo que o levaria de Florianópolis a Chapecó, em Santa Catarina.

O ex-governador de Pernambuco e candidato do PSB a presidente começou a fazer ontem, com a candidata a vice em sua chapa, a ex-senadora Marina Silva (Rede), viagens de apresentação às principais cidades de cada Estado, com o objetivo de tornar-se mais conhecido. Por sinal, embalado por análise de pesquisa Datafolha que o aponta como beneficiário de uma constatação: entre os 17% dos eleitores que conhecem os três principais candidatos, há um empate técnico, com Eduardo em primeiro lugar. O que dá razão aos analistas que defendem a impropriedade de comparações de intenção de voto entre candidatos conhecidos e desconhecidos.

Enquanto se apresenta ao eleitorado, Eduardo vai tratando de dar forma ao programa de governo em discussão por sua equipe. Haverá um seminário no dia 30 e vários outros até a convenção de junho, quando divulgará o conjunto do seu projeto. O próximo tratará de economia e energia.

"Qual a minha argumentação interna? Todas as agências têm mandato, por que o Banco Central não deve ter?" Acredita que essa seja uma ideia que sinaliza concretamente seu rumo. "Eu assumir isso passa uma visão, cria uma relação de confiança com os agentes econômicos. A autonomia informal já está. Eu estou nesse momento evoluindo na discussão interna para a autonomia legal".

Um instrumento de financiamento muito controvertido ultimamente também está na agenda de debates: o BNDES. Para Eduardo Campos, o BNDES tem que voltar ao "seu leito normal", de onde saiu em 2009, por razões que define como conjunturais.

"Voltar ao leito de normalidade, inclusive diversificar e pulverizar seus investimentos, chegar à micro e pequena empresa". O ex-governador não é nada taxativo com relação a suas ideias, tudo o que diz é o que está levando ao debate interno do seu grupo, e sempre usando o plural, "nós"...

Além dos já sabidos economistas André Lara Resende e Eduardo Giannetti, estão também no grupo de formuladores alguns economistas mais jovens, outros considerados mais regionais, uma turma diversificada. Os seminários e discussões têm tido a contribuição de pessoas como Tânia Bacelar, Leonardo Guimarães, Tiago Cavalcanti, os dois últimos ligados a Cambridge que vieram envolver-se nos debates.

Há um consenso de que o mal maior da economia brasileira é a falta de credibilidade da equipe e das decisões. Como resgatá-la? "Inaugurando uma nova governança", afirma Eduardo Campos.
Essa nova governança inclui expressar a decisão de que romperá "o pacto político que está aí nesse presidencialismo de coalizão". Isso, segundo disse, vai lhe permitir montar uma equipe que tenha o respeito da sociedade e que possa cumprir metas. "Como você vai baixar a carga tributária, melhorar a qualidade do serviço público preenchendo as funções públicas na forma de um velho balcão da chantagem política?"

Para Eduardo Campos, quem teve a capacidade de tirar os generais, fazer a transição democrática, romper um ciclo de hiperinflação, viver um tempo de inclusão, por que não pode melhorar a qualidade da governança do país e colocar na oposição "essa tropa que sequestra todos os governos?"

O ex-governador de Pernambuco acredita também em um Congresso diferente, uma nova maioria que, parte dela, a sociedade vai ajudar a eleger. "Vai haver uma surpresa, virá aí um voto de mudança muito grande no Congresso". A outra parte se produz com o exemplo do partido que lidera.

"Todos querem um ministério para chamar de seu, todos querem uma estatal para chamar de sua, todos querem um fundo de pensão para chamar de seu. Isso aí está esgotado como política", determina. Segundo sua opinião, a chapa é a força política a se apresentar e dizer: "Nós somos o caminho que vai garantir a ruptura desse padrão". Não é negar a política, alerta, é remeter a política a um outro padrão.

Os seminários internos discutem também o recrudescimento da inflação. "Precisamos retomar o compromisso com a meta, e não é com o teto, é com o centro da meta. E como se faz isso? As políticas têm que estar articuladas. Não pode a política monetária ir para um lado e a fiscal para o outro. Agora nós temos a bomba relógio, uma série de preços administrados que estão represados. Precisamos jogar isso com o tempo para não ter efeitos que sabemos quais são." O candidato acha que o governo atual só está esperando passar as eleições para recompor os preços, senão não chega ao fim do ano.

Explicando o que seria o novo desenvolvimentismo, expressão com que alguns economistas estão definindo seu programa econômico, Eduardo Campos afirma querer buscar o crescimento econômico com qualidade, "uma visão de que é possível fazer o desenvolvimento não às custas de largar a inflação, bagunçar as contas públicas e ter ciclos curtos de crescimento. Vamos ter uma visão de longo prazo, de responsabilidade fiscal, de sinalização consistente para o mercado".

O candidato reafirma seus compromissos com uma agenda de reformas com prioridade para algumas: "Fazer uma reforma tributária, temos também ajustes na Previdência, coisas pontuais mas importantes de serem feitas". O salário mínimo com poder de compra recomposto é questão "fundamental no Brasil". E responde ao pedido para avaliar como pode haver gestão em um governo loteado, um aparelhamento partidário como nunca visto no Executivo, Legislativo e até Judiciário, com uma palavra: critério. Critério para formação de listas, critério para escolha, critério para nomeação. A ruptura do velho padrão, a construção do novo.

Luiz Carlos Azedo: A maldição de Rangel

Ao segurar os reajustes da gasolina e do diesel e ao derrubar as tarifas de energia por decreto, o Brasil está flertando com soluções que poderão provocar um ajuste brutal de preços logo após as eleições

- Correio Braziliense

Um dos mais criativos economistas brasileiros foi Ignácio de Mourão Rangel, que encabeça o panteon dos nossos desenvolvimentistas ao lado de Celso Furtado. É dele um dos principais alertas de que o velho modelo de substituição das importações estava esgotado e de que um novo ciclo de crescimento dependeria de um robusto programa de concessões de serviços, ou seja, de privatizações. Fez isso logo após a crise do petróleo da década de 1970 — que pegou o então presidente Ernesto Geisel de calças curtas e levou ao fracasso o II Plano Nacional de Desenvolvimento (PND). Rangel concluiu, à época, que o Estado brasileiro já não tinha condições de investir em infra-estrutura para ingressar num novo ciclo de modernização.

Polêmico e ousado, aos 76 anos, citando Erasmo e seu "Elogio à loucura", em 1990, Rangel resolveu fazer um elogio à inflação, eterno objeto de seus estudos sobre economia brasileira. Segundo ele, a partir da Revolução de 1930, a inflação em diversos momentos impediu que a economia deslizasse para o fundo do poço da recessão e permitiu que amadurecessem as mudanças institucionais necessárias aos investimentos não especulativos, viabilizando a industrialização do país. Na época, lutava-se para sair da hiperinflação. No governo de Fernando Henrique Cardoso, o Brasil fez as privatizações, até hoje contestadas pelo PT, mas o Plano Real optou por combater radicalmente a inflação e estabilizar a moeda com o famoso tripé câmbio flutuante, superávit fiscal e meta de inflação.

Está voltando
Desde então, manter a inflação sob controle foi a regra de ouro da política econômica. Até que a presidente Dilma Rousseff exumou as lições de Rangel. Conforme destacou o repórter Deco Bancillon, ontem, no Correio, desde o início de 2011, quando a presidente tomou posse, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a carestia oficial no país, avançou 22%. Ou seja, em média, a cada ano, a inflação engoliu 6% da renda da população. A nossa carestia só não foi maior do que a da Venezuela, Argentina e Uruguai, que combatem a inflação com congelamentos de preços.

Ao segurar os reajustes da gasolina e do diesel e ao derrubar as tarifas de energia por decreto, o Brasil está flertando com soluções que poderão provocar um ajuste brutal de preços logo após as eleições. O governo não admite esse estratagema, que seria um estelionato eleitoral. Dilma diz que isso é terrorismo da oposição, porém, economistas ligados ao Palácio do Planalto, como Luiz Gonzaga Belluzzo, começam a admitir que a coisa está ficando feia. Há quatro anos, o custo de vida sobe muito acima do centro da meta perseguida pelo BC, de 4,5%. Em 2014, a estimativa da instituição é de que os preços ultrapassem os 6%. Pelos cálculos do mercado, o IPCA romperá o teto da meta, de 6,5%, entre maio e junho próximos, e encerrará o ano em 6,47% — a maior taxa desde 2011.

Apostas eleitorais
Ao estimular o consumo, Dilma Rousseff manteve satisfatório nível de emprego e elevou o poder de compra da população, o que lhe rende votos. Mas, se perder o controle sobre a inflação, corre riscos eleitorais que já se traduzem na queda de aprovação de seu governo e do seu modo de governar nas pesquisas. Além disso, o aumento da taxa de juros, que já está em 11%, já diminuiu o poder de compra, mas não conseguiu segurar a inflação de alimentos. Na verdade, a vida anda mais difícil para a nova e a velha classes médias.

O Palácio do Planalto não tem controle sobre variáveis externas que podem fazer a inflação disparar, por exemplo, a evolução da taxa de juros americana e os preços das commodities. E ainda há riscos internos, que estão no terreno das especulações da oposição, como a ameaça de racionamento de energia e um eventual fiasco na Copa Mundo. O maior problema, porém, talvez seja a maldição de Ignácio Rangel, para quem a nossa inflação se exacerba, não nos períodos de prosperidade, mas quando não há crescimento porque o governo não fez a sua parte.

Elio Gaspari: Crise? Que crise?

Arma-se mais uma bolsa, resta saber se é a Bolsa Montadora, a Bolsa Meta-lúrgico, ou um mimo híbrido

- O Globo

A repórter Cleide Silva revelou que a Casa Civil da Presidência da República, as montadoras e os sindicatos estão discutindo um socorro para os trabalhadores ameaçados com a perda do emprego por causa da queda nas vendas de veículos. No ano passado elas caíram 0,9% e, no último trimestre, mais 2,1% em relação ao mesmo período de 2013. Cerca de 1.500 operários já perderam seus empregos.

As empresas e os sindicatos discutem a importação de um mecanismo eficaz, usado na Alemanha. Nele, o trabalhador reduz sua carga horária, mantém seus benefícios e, durante um período de seis meses a dois anos, recebe até 67% do que lhe é devido. No limite, recebe mesmo sem trabalhar. Um pedaço dessa conta vai para a Viúva. Aí está o primeiro problema.

O segundo está no exemplo. O mecanismo alemão foi acionado pela primeira vez no século passado, quando a banda federal engoliu a comunista. Depois, em 2009, diante da crise financeira mundial, quando a venda de veículos caiu 30% e o PIB do país sofreu uma contração de 4%. Nada a ver com o que sucede no Brasil, onde a taxa de desemprego é baixa, mas o ministro Guido Mantega repete a marchinha: "Este ano não vai ser igual àquele que passou".

Ninguém quer ver trabalhadores desempregados, e as montadoras, com razão, preferem preservar sua mão de obra qualificada. Contudo, do jeito que as empresas e os sindicatos formularam-na, a proposta assemelha-se mais a uma empulhação do que a um programa social. Mais um caso em que a sacrossanta "destruição criadora" do capitalismo é reciclada no Brasil destruindo a Bolsa da Viúva para criar puxadinhos de cartórios. A redução dos impostos cobrados às montadoras permitiu que vendessem 3,8 milhões de veículos em 2012. Seus operários mantiveram os empregos, mas não viram a cor desses lucros. Essa mesma desoneração resultou em menos arrecadação e, portanto, em menos dinheiro de volta para quem paga impostos. (Admitindo-se que o dinheiro pago volta, o que é uma licença poética.)

Se os empresários e sindicalistas estão diante de uma crise, devem botar a boca no mundo, expondo as razões pelas quais as vendas de veículos caíram. É verdade que isso não faria bem à campanha eleitoral da doutora Dilma e de seu comissariado. Coisas da vida. O que não se pode é viver num país sem problemas, importando-se um mecanismo de amparo social usado na Alemanha quando ela estava engolindo uma nação sucateada ou quando o mundo estava se acabando.

Resta também discutir o tamanho da conta. É uma Bolsa Metalúrgico ou uma Bolsa Montadora? Num aspecto, o problema deriva da rigidez das leis trabalhistas nacionais. Lula entrou na política dizendo que a Consolidação das Leis do Trabalho era "o Ato Institucional nº 5 dos trabalhadores". O PT está no Planalto há 11 anos, refestelado no conforto que essa legislação dá a quem tem a chave do cofre do Ministério do Trabalho.

O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Moan, diz que "esse é o momento para retomarmos a discussão sobre um plano de estabilização dos empregos, mas pensamos no longo prazo e não apenas na situação atual". Ótimo, para todos os setores da economia e para todos os trabalhadores.