quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Opinião do dia – Roberto Freire

Esse governo não é um governo de salvação nacional, que vai resolver todos os problemas do País. Precisamos fazer uma reforma administrativa, com o enxugamento da máquina, para dar maior eficiência, porque nós ainda temos ministérios demais, discutir a reforma política, com uma discussão séria do parlamentarismo, mas reformas como a da previdência devem ficar para aquele que sair das urnas em 2018.

Que venha com todo um debate com a sociedade, fruto das urnas, escolhendo e definindo caminhos. Nenhum governo que veio com um mandato das urnas deu prosseguimento a essa reforma. Não será um governo de transição que terá que fazer isso. É um assunto para ser resolvido pelo governo eleito em 2018.

Mas é preciso cuidado para não imaginarmos que somos governo de salvação nacional, e que todos os problemas têm que ser por esse governo resolvidos

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Roberto Freire é deputado federal (SP) e presidente nacional do PPS. ‘Freire diz que reforma da Previdência deve ficar para sucessor de Temer’, Portal do PPS, 2/9/2016

Supervalorização de fundo sócio da Eldorado é alvo de investigação

• FIP Florestal, que detém a participação dos fundos de pensão na companhia de celulose, teve valorização de 184% no ano passado

Josette Goulart - O Estado de S. Paulo

O Ministério Público Federal (MPF) investiga a expressiva valorização de 184%, em 2015, registrada pelo FIP Florestal. O fundo, que reúne os fundos de pensão Petros e Funcef, é um dos acionistas da Eldorado Celulose, do grupo J&F. O Florestal começou 2015 com um patrimônio de R$ 2,2 bilhões e terminou o ano valendo R$ 6,3 bilhões, em função de uma reavaliação do valor da companhia feita pela empresa de auditoria Deloitte. Com essa supervalorização, os fundos de pensão, que são cotistas do Florestal e haviam investido R$ 225 milhões cada na Eldorado por meio desse fundo, ganharam R$ 1 bilhão a mais em seus balanços de 2015.

Operação da PF foi autorizada há dois meses

• Olimpíada do Rio foi um dos motivos para postergação do início da Greenfield

Gabriela Valente – O Globo

-BRASÍLIA- A Operação Greenfield — que investiga um esquema de desvio de recursos dos maiores fundos de pensão do país — deflagrada na segunda-feira, foi autorizada pela Justiça quase dois meses antes de ir para as ruas. O primeiro despacho dado por um juiz é datado de 08 de julho. De acordo com fontes ouvidas pelo GLOBO, a realização da Olimpíada do Rio foi o principal motivo da postergação.

Por causa da realização dos Jogos, a maior parte dos agentes da PF estava focada na segurança de atletas e turistas e prevenção do terrorismo. Eo s policiais federais tinham de cumprir nada menos que 127 mandados de prisão temporária, condução coercitiva e buscas em escritórios particulares e prédios públicos em oito estados e no Distrito Federal. Ao menos 560 policiais participaram da Greenfield. A maioria em São Paulo e no Rio, onde a demanda por causa da Olimpíada era maior.

Para vice dos EUA, transição no Brasil seguiu Constituição

• Manifestação de apoio do governo de Obama a Michel Temer é a mais contundente desde o afastamento de Dilma

Cláudia Trevisan - O Estado de S. Paulo

/ WASHINGTON - O vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, disse ontem que a transição de poder no Brasil seguiu a Constituição e os procedimento legais estabelecidos e afirmou que seu governo vai trabalhar “de perto” com a administração do presidente Michel Temer. “O Brasil é e continuará a ser um dos parceiros mais próximos dos Estados Unidos na região, porque, entre democracias, as parcerias não são baseadas nas relações entre dois líderes, mas são baseadas no duradouro relacionamento entre os dois povos.”

A declaração foi a mais contundente manifestação de apoio ao impeachment e a Temer de um integrante do governo Barack Obama desde o afastamento definitivo de Dilma Rousseff, há uma semana. Biden era uma das pessoas mais próximas da petista na gestão americana e representou seu país na posse da presidente cassada no ano passado.

Tucanos e comunicação pautaram ‘recuo do recuo’ de Temer sobre reforma

Vera Magalhães – O Estado de S. Paulo

A pressão do PSDB e a estratégia de comunicação do governo pautaram a decisão de Michel Temer de “recuar do recuo” e manter o envio da reforma da Previdência ao Congresso antes das eleições.

Temer bateu o martelo ao voltar da viagem à China, e a decisão foi consolidada em reunião entre o coordenador político do governo, Geddel Vieira Lima — que foi voto vencido na discussão, já que defendia abertamente que o projeto só fosse encaminhado após o pleito — e o presidente do PSDB, Aécio Neves.

Os responsáveis pela comunicação do governo alertaram Temer de que ele havia anunciado publicamente o compromisso de enviar a reforma antes da eleição, e que uma mudança em algo tão sensível quebraria uma expectativa importante do mercado.

“Teria um simbolismo importante, porque ele já tinha dito que ia mandar”, explicou Geddel nesta manhã.

Maia diz que envio de reforma agora é ‘inócuo’

• Para presidente da Câmara, medida que altera regime de aposentadoria não será discutida na Casa antes de outubro; líderes preveem votação só no ano que vem

Erich Decat - O Estado de S. Paulo

/BRASÍLIA - O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou ontem considerar “inócua” a decisão do governo Michel Temer de enviar a proposta de reforma da Previdência ainda neste mês ao Congresso. A medida, anunciada anteontem pelo ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, desagrada a parte da base aliada, receosa de que o tema cause prejuízos aos candidatos nas disputas eleitorais.

O principal partido aliado a Temer, no entanto, cobrou o envio neste mês como uma sinalização do governo com o compromisso de ajuste fiscal.

“Se enviar a partir de quarta-feira, ela só vai dar entrada na Câmara no dia 3 de outubro. Isso porque, para eu encaminhar qualquer proposta à Comissão de Constituição e Justiça, é preciso duas sessões no plenário da Casa. E isso não ocorrerá até o dia 3 do próximo mês”, afirmou Maia ao Estado.

STF tende a não modificar julgamento da ex-presidente

• Ministros avaliam que reviravolta aumentaria instabilidade no país

Carolina Brígido - O Globo

-BRASÍLIA- Embora boa parte dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) considere juridicamente problemática a decisão do Senado de fatiar a condenação de Dilma Rousseff no processo de impeachment, é pequena a chance de se modificar a situação no julgamento dos recursos enviados à Corte. Isso porque uma decisão que cause uma reviravolta no caso — suspendendo todo o julgamento ou declarando Dilma inabilitada para o exercício de cargos públicos — traria um desgaste grande ao STF e aumentaria ainda mais a instabilidade política no país.

A expectativa é que os ministros Rosa Weber e Teori Zavascki não levem os recursos ao plenário. Eles deverão decidir sozinhos, negando os pedidos de liminar. Porém, isso não acontecerá por ora. A tendência é que os dois esperem que diminua o clima de tensão em torno do tema.

A decisão sobre o futuro de Dilma deve ficar para depois da votação do processo de cassação do deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) pela Câmara — o que, por sua vez, deverá provocar nova enxurrada de recursos ao STF. 

Presidente ouve vaias e aplausos no desfile de 7 de Setembro

• Temer quebra o protocolo ao não usar faixa presidencial; houve protestos em 25 estados e no DF

- O Globo

-BRASÍLIA, RIO E SÃO PAULO- Em seu primeiro evento a céu aberto desde que tomou posse como presidente da República, Michel Temer foi recebido com vaias e aplausos ao chegar ontem à tribuna de autoridades para acompanhar o desfile de 7 de Setembro, na Esplanada dos Ministérios. Quebrando o protocolo, ele não usou a faixa presidencial. Um grupo de manifestantes numa arquibancada, a cerca de cem metros da tribuna de autoridades, gritou “Fora, Temer!” e “golpista”, quando ele e sua mulher, Marcela, saíram do carro oficial e foram para a área reservada.

Protestos contra o novo governo foram registrados ontem em 25 estados e no Distrito Federal. Políticos como Gilberto Carvalho, ex-ministro do governo Dilma Rousseff, e o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), participaram de manifestações.

FH: Temer tem maturidade para escapar da armadilha da reeleição

- O Globo

• Ex-presidente criticou fatiamento de impeachment de Dilma no Senado

“O compromisso do PSDB não é com a pessoa do Michel Temer, é com a situação do Brasil” Fernando Henrique Cardoso -Ex-presidente da República

-SÃO PAULO- O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse, em entrevista publicada ontem, que o presidente Michel Temer tem uma “chance histórica” de conduzir bem o país, desde que cumpra o que vem dizendo e não se candidate à reeleição:

— Eu acho que o Michel Temer tem noção de que foilhe dada uma chance histórica. Não creio que ele vá ser mordido pela mosca azul. Vão tentar mordê-lo. A entourage sempre quer que o presidente se reeleja e, se possível, permaneça. Acho que o Michel tem maturidade suficiente para escapar dessa armadilha — afirmou, ao portal UOL.

“Grandeza é ser firme”
FH afirmou, ainda, que Temer deveria ter enfrentado os servidores:
— É impopular. Mas a grandeza no momento atual não vai derivar de ser popular. Vai derivar de ser firme — e completou o ex-presidente:

— O compromisso do PSDB não é com a pessoa do Michel Temer, é com a situação do Brasil.

O ex-presidente foi confrontado com frase registrada em 1996 em seu livro de memórias, quando escreveu estar à frente de um país “onde a modernização se faz com a podridão, a velharia e o tradicionalismo o qual, na verdade, ainda pesa muitíssimo”.

— PSDB e PT tinham um certo frescor, uma coisa de vanguarda. Hoje não lhe parece que também esses dois partidos, inclusive o vosso, integram a velharia? — perguntou o portal UOL ao expresidente.

— Me parece (...) Você quer melhorar, avançar, ser progressista. Mas você precisa de partido que existe. E o que existe na maior parte é isso. Por isso, é necessário a liderança. Infelizmente, não fomos capazes de superar esses entraves enormes, que chamo de atraso. Não é direita e esquerda, é cultural. São pessoas que querem tirar proveito do Estado — disse FH.

FH criticou o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski por terem dividido em duas partes a votação do impeachment de Dilma Rousseff (PT), o que permitiu à ex-presidente ter os direitos políticos preservados.

— Acho que a obrigação número um do senador é ser a favor da Constituição. Você pode até, na alma, dizer: ‘Ah, meu Deus, que pena!’ Eu, por exemplo, tenho muita dificuldade, mesmo quando escrevo, quando critico, com relação à presidente Dilma. Eu procuro ser uma pessoa que a considera. Mas isso é uma coisa no plano pessoal. Outra coisa é você como senador — disse FH.

O ex-presidente disse considerar que a decisão de Lewandowski se situa no “absurdo”:

— Vamos falar português claro: o presidente do Supremo Tribunal Federal tomou a decisão e não podia ter tomado essa decisão — disse.

FHC diz que votaria contra manter direitos políticos de Dilma

SÃO PAULO - O ex-presidente tucano Fernando Henrique Cardoso disse em entrevista publicada nesta quarta-feira (7) pelo UOL, do Grupo Folha, que não teria sido misericordioso com a também ex-presidente Dilma Rousseff, que sofreu impeachment mas foi considerada apta a ocupar funções públicas.

Ele foi questionado sobre se votaria a favor de preservar o direito de Dilma e disse que não.

"Acho que a obrigação número um do senador é obedecer a Constituição. Você pode até lá, na alma, [pensar] 'ai, meu Deus, que pena'. Eu, por exemplo, tenho muita dificuldade, quando eu escrevo ou critico, com relação à presidente Dilma. Eu procuro ser uma pessoa que a considera. Mas isso é uma coisa no plano pessoal. Outra coisa é você como senador", disse.

Em entrevista, FHC compara governo Temer a pinguela

• Ex-presidente da República e presidente do PSDB, tucano disse ainda, ao blogueiro Josias de Souza, do UOL que seu partido faz parte da 'velharia' política que dificulta a modernização do País

Karla Spotorno - O Estado de S. Paulo

O ex-presidente e tucano Fernando Henrique Cardoso afirmou que o seu partido, o PSDB, faz parte da "velharia" política que dificulta a modernização do País, em entrevista publicada nesta quarta-feira, 7, no blog do jornalista Josias de Souza, do UOL. Para ele, o PSDB e o PT perderam o "frescor" que tinham na década de 1990. O problema da classe política no Brasil, diz o tucano, não é uma dicotomia entre direita e esquerda. É, isso sim, um problema cultural. "São pessoas que querem tirar proveito do Estado", argumentou.

Jobim: Temer precisa ‘mudar a cabeça’ do Congresso

• Ex-ministro diz que este será o desafio do governo para reforma da Previdência passar

Henrique Gomes Batista - O Globo

WASHINGTON - O ex-ministro Nelson Jobim disse que o presidente Michel Temer precisa “mudar a cabeça” do Congresso e do governo para aprovar a reforma da Previdência. Jobim — peemedebista histórico que comandou as pastas da Justiça e da Defesa nos governos Lula e Dilma e foi indicado ao Supremo Tribunal Federal (STF) pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso — afirmou que o país ainda vive a ressaca do impeachment, mas se mostrou otimista.

— (A questão da Previdência) É um problema que não vai se resolver no curto prazo, tem que ser enfrentado e é preciso que o governo do Michel mude a cabeça. Mude a cabeça do parlamentar, que é a cabeça do acordo, a cabeça de conciliação de interesses. E, no governo, a cabeça de romper determinados interesses — disse Jobim, após discursar no 20º Congresso Anual do Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF), em Washington.

Cristovam: Papel do novo governo é recuperar a credibilidade da economia

O senador afirmou que é fundamental a manutenção dos projetos sociais

O senador Cristovam Buarque (PPS-DF) disse ao Portal do PPS que o papel principal do presidente Michel Temer será de recuperar a credibilidade da economia brasileira. O parlamentar destacou que o novo mandatário do País também tem o dever de manter os projetos sociais e retomar o diálogo nacional.

“É preciso entender que o impeachment é o primeiro momento de um novo tempo, não pode ser o último. Esse novo momento começa com a travessia, até 2018, com Michel Temer. Até lá, o novo presidente precisa recuperar a credibilidade na economia, o que significa trazer de volta a estabilidade dos preços no que implica no equilíbrio das contas públicas”, disse.

O parlamentar lamentou o sectarismo gerado pelo processo de cassação da ex-presidente Dilma Rousseff e defendeu que Temer retome o diálogo nacional com a sociedade. Buarque destacou a importância de manter os programas sociais criados nos últimos 25 anos.

“Além da retomada do crescimento econômico e da geração de empregos, que será feito por meio da credibilidade, é fundamental que o novo governo mantenha os projetos sociais tão importantes para a sociedade brasileira. Não apenas os programas criados por Lula e o PT, mas também todos aqueles criados por FHC, como o Bolsa Escola, e pelo Sarney. Não podemos perder isso de vista”, defendeu.

De novo as ruas? - Alberto Aggio

As manifestações que ocorreram no final de semana contra o governo foram mal compreendidas pelo Presidente Temer e até mesmo por políticos experientes, como o ministro José Serra. Ambos deram palpites infelizes e, equivocadamente, mais tarde, se convocou o ministro da Fazenda, Henrique Meireles para amenizar. As manifestações tiveram alguma importância e impacto apenas em São Paulo. Pelo numero de manifestantes, se fizermos um cômputo nacional, sua significado fica bastante comprometido. Houve manifestações muito pequenas no Rio de Janeiro, Curitiba e Salvador. Não há noticia de manifestações em importantes capitais como Recife, Brasília, Belo Horizonte, Fortaleza, Natal, Goiânia. Se nos referirmos a cidades importantes como Guarulhos, Santos, Juiz de Fora, Ribeirão Preto, Campinas, Joinville, Ilhéus, Caruaru, para mencionarmos apenas algumas, o fracasso é retumbante.

Os erros de cada lado - Míriam Leitão

- O Globo

A saída de Dilma resolve um problema do PT. É muito mais fácil fazer manifestação contra do que a favor, até porque é indefensável um governo como o de Dilma. A truculência da polícia paulista dá ao PT o argumento definitivo para sustentar a “narrativa” de que há no país uma luta entre democratas e golpistas. A atitude do governo Temer de subestimar os protestos completa a festa petista.

Os atos radicais dos black blocks não legitimam o comportamento da polícia paulista que, entra secretário, sai secretário, só consegue ir para a rua se for para, a certa altura, bater em quem vê pela frente. Em outros estados, também há relatos de violência policial desnecessária, mas em São Paulo são mais frequentes. São incontáveis os jornalistas que já sofreram nas mãos de policiais, mesmo exibindo os seus crachás de imprensa brasileira ou estrangeira. Haver um grupo desordeiro em um protesto não justifica a reação violenta contra todos. O Estado tem o poder de polícia para usá-lo na defesa do cidadão, e não o contrário. Um coronel achar engraçado uma jovem de 19 anos perder a visão de um dos olhos é revoltante.

O preço da campanha - Maria Cristina Fernandes

- Valor Econômico

• Pior mudança seria o fim das receitas em tempo real

A campanha que mal começou e está prestes a acabar fornecerá os subsídios para a batalha legislativa do financiamento eleitoral. Na base dos partidos que apoiam o presidente Michel Temer é majoritário o desejo de que a eleição de outubro seja filha única das regras que proíbem o financiamento empresarial. O fim do veto se imiscuiria na gincana de descriminalização das relações entre dinheiro e política, onde se inclui a anistia da Lava-jato.

A maior recondução de prefeitos ou o sucesso de candidatos apoiados pelo ocupante do poder, além da eleição de um grande número de postulantes ricos, midiáticos e evangélicos servirá de combustível para os proponentes da volta às regras anteriores. A vitória de candidatos de oposição em campanhas que, a despeito de modestas, vierem a ser bem sucedidas em capturar o fastio do eleitor com a política demonstrará, por outro lado, que as regras ainda carecem o benefício de novas disputas antes de virem a ser descartadas.

Próximo da cassação - Merval Pereira

- O Globo

Com 260 deputados federais declarando o voto pela cassação do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, três a mais do que o número mínimo necessário, sua sorte parece estar selada inapelavelmente. Como o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, já disse que, ao contrário do que fez o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, vai deixar que o plenário decida sobre eventuais destaques ou emendas ao parecer favorável à cassação, tudo indica que não haverá espaço para que os defensores de Cunha encontrem uma brecha para alterar esse veredito.

Mas, como vimos na decisão de Lewandowski, nunca se sabe o que está para sair do bolso do colete de nossos representantes. A explicação repetida por assessores do STF e do Senado de que o presidente do Supremo apenas seguiu o que já havia feito na etapa anterior, isto é, acatar destaques, um direito de todo parlamentar ao analisar uma proposição, serve apenas para dar um ar de legalidade ao que foi uma manobra de bastidores combinada com bastante antecedência.

Atrás do Fora, Temer! - Luiz Carlos Azedo

- Correio Braziliense

• Temer era o vice escolhido pela presidente deposta, é seu sucessor constitucional e não foi eleito pela oposição ao governo Dilma

Grosso modo, há dois tipos de articuladores do movimento Fora, Temer! Os espertos e os ingênuos. Os espertos são aqueles que utilizam essa palavra de ordem como biombo para ganhar tempo e reagrupar suas forças, depois de apeados do poder pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff. Os ingênuos são os que acreditam sinceramente na narrativa do golpe e veem o afastamento definitivo da ex-presidente Dilma Rousseff como uma ameaça à democracia. Do ponto de vista prático, porém, ambos convergem na mesa direção: desestabilizar o governo de transição. Temer era o vice escolhido pela presidente deposta, é seu sucessor constitucional e foi eleito pelos espertos e pelos ingênuos. Não foi eleito pela oposição aos governos petistas.

Ranking dos prefeitos - José Roberto de Toledo

- O Estado de S. Paulo

O ranking Ibope dos prefeitos das capitais analisado aqui em primeira mão mostra que os quatro primeiros colocados se reelegeriam no primeiro turno se a votação fosse hoje. Dos 20 candidatos à reeleição nos centros do poder de cada Estado, eles são os únicos franco favoritos. Suas gestões são aprovadas pela imensa maioria da população, são rejeitados no máximo por um quarto e estão muito mais presentes na cabeça do eleitor.

Os campeões de popularidade são, pela ordem, Teresa Surita (PMDB - Boa Vista), ACM Neto (DEM - Salvador), Marcus Alexandre (PT - Rio Branco) e Luciano Cartaxo (PSD - João Pessoa). De seu desempenho depreende-se que quem tem saldo de popularidade acima de 30 pontos tem também intenção de voto acima de 50%. Não basta ter taxa de ótimo/bom alta: a de ruim/péssimo tem que ser baixa.

Míni, míni... míni? – Bernardo Mello Franco

- Folha de S. Paulo

Na primeira entrevista como presidente efetivo, no lobby de um hotel de Hangzhou, Michel Temer foi questionado sobre as manifestações que começavam a pipocar contra seu governo. "As 40 pessoas que quebram carro?", ele desdenhou.

Refestelado numa confortável poltrona de couro, o presidente classificou os protestos como "inexpressivos". "Foram grupos pequenos e depredadores, né? Não foi uma manifestação democrática", menosprezou. "São 40, 50, 100 pessoas, nada mais do que isso. No conjunto de 204 milhões de brasileiros, acho que isso é inexpressivo", disse.

O golpe e a corrupção - Maria Clara R. M. do Prado

- Valor Econômico

• Desvio de bilhões teve como contrapartida a precariedade de serviços públicos e a carência de investimentos

A palavra golpe entrou na conversa do dia a dia no país. Golpe ou não golpe? Há os que a difundem nas manifestações de rua, nas plataformas digitais ou nas rodas de botequim. São os que repudiam a destituição da ex-presidente Dilma Rousseff, convencidos de que ela foi vítima de uma decisão que afronta à Constituição. Há os que, defensores do afastamento, alimentam a estranha crença de que, proibindo o uso da palavra golpe - como ocorreu durante os Jogos Olímpicos - ou valendo-se da coerção física contra quem a usa, a farão desaparecer da boca dos brasileiros, como em passe de mágica.

Estranha e conflitante crença que, ao defender preceitos constitucionais afetos à substância e ao rito do "impeachment", confronta a própria Constituição que nos artigos 1º, 5º e 220º garante a liberdade de pensamento e de expressão e veda toda e qualquer censura de natureza política, ideológica ou artística. Além de anticonstitucional, é inócua, pois ao insistir-se em abafar os ecos da expressão golpe, está-se apenas contribuindo para difundi-la ainda mais.

Corrupção miúda, roubo graúdo - Carlos Alberto Sardenberg

- O Globo

• No governo em geral e nas estatais, soma de roubo e incompetência resulta do aparelhamento promovido nas gestões de Lula e Dilma

Havia desde muito uma desconfiança de que era exagerado o gasto do INSS com auxílio-doença e aposentadoria por invalidez. A direção do órgão resolveu fazer um teste em Jundiaí, cidade no interior de São Paulo. Resultado: metade desses benefícios foi cancelada. Os beneficiários podiam, sim, trabalhar. Estavam apenas “encostados na caixa”, como se dizia antigamente.

Essa notícia saiu no mesmo dia em que a Polícia Federal e o Ministério Público desfechavam a Operação Greenfield, para apurar roubos nos quatro maiores fundos de pensão de estatais. Neste caso, há suspeita inicial de desvio de R$ 8 bilhões

Tudo pela negociação - Cida Damasco

- O Estado de S. Paulo

O presidente Michel Temer desembarcou no Brasil, depois do encontro do G-20, no meio de um cabo de guerra em relação ao calendário mais indicado para pôr em marcha as reformas da Previdência e trabalhista, eleitas pelos empresários como prioritárias para destravar a economia. Uns querem que Temer se apresse, enquanto outros preferem que ele vá mais devagar. Tudo isso dentro de um cenário de turbulências ampliadas pela volta da oposição às ruas.

A decisão de encaminhar a proposta da Previdência antes das eleições, anunciada por Temer nesta semana, é resultado de pressões do PSDB, mercado financeiro e setor produtivo. Mas está sendo vista como algo mais simbólico do que efetivo, já que, durante a campanha, os parlamentares costumam fugir de temas polêmicos para não espantar eleitores. Não há nenhuma segurança de que a outra banda dos aliados, do próprio PMDB e do DEM, se empenhará para discutir e votar as reformas no menor tempo possível.

Um fenômeno que pode ajudar o governo - Ribamar Oliveira

- Valor Econômico

• Deflator maior que o IPCA reduz gasto em relação ao PIB

A estimativa de aumento de 10% da receita com tributos federais em 2017, que consta da proposta orçamentária enviada na semana passada pelo governo ao Congresso Nacional, foi feita com base em duas premissas principais, de acordo com fontes da área econômica.

A primeira é que, com a retomada da economia, a arrecadação vai crescer em velocidade um pouco maior do que a expansão do Produto Interno Bruto (PIB). Na linguagem técnica, a elasticidade da receita em relação ao PIB será um pouco maior do que um.

A segunda premissa é que o indicador que medirá a variação média dos preços da economia no próximo ano, em relação aos preços deste ano, que é conhecido na área técnica como deflator implícito do PIB, será maior do que a variação dos preços mensurada pelo IPCA, que é o índice oficial de inflação. Em resumo, o deflator implícito do PIB será maior do que o IPCA médio do ano.

No caminho certo – Editorial / O Estado de S. Paulo

A decisão do presidente Michel Temer, tomada logo após seu regresso da China, de enviar a proposta da reforma da Previdência ao Congresso ainda este mês – antes, portanto, das eleições municipais – tem o sentido simbólico de mostrar que o governo está determinado a assumir eventuais ônus políticos decorrentes da difícil, mas necessária e urgente, escolha do caminho capaz de levar o País na direção do saneamento das contas públicas e da retomada do crescimento.

Decisões governamentais, especialmente aquelas adotadas em períodos de crise, são necessariamente políticas, mas sua pertinência e eficácia estarão condicionadas à observância de fundamentos da boa prática econômica, pela razão óbvia e inelutável de que, sem esses fundamentos, um país não alcança seu potencial de desenvolvimento.

Urgência e cautela – Editorial / Folha de S. Paulo

Contrariando aliados que preferem não fustigar o humor da população antes das eleições de outubro, o presidente Michel Temer (PMDB) anuncia que entregará ao Congresso seu projeto de reforma da Previdência ainda neste mês. Parece um sinal da determinação de levar a reforma adiante a todo custo, o que seria desejável.

O presidente ainda não marcou data para apresentar seu projeto. Pela promessa, poderá fazê-lo até o último dia de setembro, quando faltarão dois dias para o primeiro turno e ninguém estará prestando muita atenção nisso.

Temer e sua coalizão estão preocupados com o debate da reforma porque sabem que ela enfrentará enorme resistência de sindicatos, funcionários públicos e seus representantes no Parlamento. Para um presidente alvo de protestos abertos nas ruas e cuja força no Congresso sempre comporta alguma dúvida, não vai ser fácil aprová-la.

Arrumação do setor elétrico é vital para retomada econômica – Editorial / Valor Econômico

Mais uma despesa bilionária vai cair na conta dos consumidores de energia elétrica em consequência da Medida Provisória 579, de 2012. Transformada na Lei 12.783/2013, que prometeu proporcionar uma economia de 20% na conta de luz, na verdade, a MP 579 apenas postergou e turbinou os custos da energia, que voltam como bumerangue para assombrar a população. O mais recente caso é o pagamento de indenizações de ativos não amortizados de transmissoras de energia que tiveram as concessões renovadas pelas regras impostas pela medida provisória.

A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) levou pouco mais de três anos para calcular a indenização devida, que foi parar no bolso dos consumidores porque, nesse meio tempo, os fundos setoriais foram esgotados e o Tesouro, pressionado pela crise fiscal, diz não ter recursos para cobrir a despesa. A indenização foi calculada inicialmente em cerca de R$ 20 bilhões, o que teria impacto equivalente a 2% nas contas de energia, a ser distribuído pelos próximos oito anos. No entanto, o custo será mais do que o dobro disso, alerta a Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (Abrace). O cálculo da associação leva em consideração que, além da atualização pela inflação medida pelo IPCA estabelecida pela lei, há uma portaria sobre o assunto esquecida pela Aneel que determinou que a indenização deve incluir a "remuneração" dos valores. A Abrace projeta que a despesa final vai superar os R$ 50 bilhões, elevando as contas em 5% e receia que esse aumento possa até inviabilizar alguns projetos industriais.

Paisagem do Capibaribe – João Cabral de Melo Neto

Entre a paisagem
o rio fluía
como uma espada de líquido espesso.
Como um cão
humilde e espesso.

Entre a paisagem
(fluía)
de homens plantados na lama;
de casas de lama
plantadas em ilhas
coaguladas na lama;
paisagem de anfíbios
de lama e lama.

Como o rio
aqueles homens
são como cães sem plumas
(um cão sem plumas
é mais
que um cão saqueado;
é mais
que um cão assassinado.

Um cão sem plumas
é quando uma árvore sem voz.
É quando de um pássaro
suas raízes no ar.
É quando a alguma coisa
roem tão fundo
até o que não tem).

O rio sabia
daqueles homens sem plumas.
Sabia
de suas barbas expostas,
de seu doloroso cabelo
de camarão e estopa.

Ele sabia também
dos grandes galpões da beira dos cais
(onde tudo
é uma imensa porta
sem portas)
escancarados
aos horizontes que cheiram a gasolina.

E sabia
da magra cidade de rolha,
onde homens ossudos,
onde pontes, sobrados ossudos
(vão todos
vestidos de brim)
secam
até sua mais funda caliça.

Mas ele conhecia melhor
os homens sem pluma.
Estes
secam
ainda mais além
de sua caliça extrema;
ainda mais além
de sua palha;
mais além
da palha de seu chapéu;
mais além
até
da camisa que não têm;
muito mais além do nome
mesmo escrito na folha
do papel mais seco.

Porque é na água do rio
que eles se perdem
(lentamente
e sem dente).
Ali se perdem
(como uma agulha não se perde).
Ali se perdem
(como um relógio não se quebra).

Ali se perdem
como um espelho não se quebra.
Ali se perdem
como se perde a água derramada:
sem o dente seco
com que de repente
num homem se rompe
o fio de homem.

Na água do rio,
lentamente,
se vão perdendo
em lama; numa lama
que pouco a pouco
também não pode falar:
que pouco a pouco
ganha os gestos defuntos
da lama;
o sangue de goma,
o olho paralítico
da lama.

Na paisagem do rio
difícil é saber
onde começa o rio;
onde a lama
começa do rio;
onde a terra
começa da lama;
onde o homem,
onde a pele
começa da lama;
onde começa o homem
naquele homem.

Difícil é saber
se aquele homem
já não está
mais aquém do homem;
mais aquém do homem
ao menos capaz de roer
os ossos do ofício;
capaz de sangrar
na praça;
capaz de gritar
se a moenda lhe mastiga o braço;
capaz
de ter a vida mastigada
e não apenas
dissolvida
(naquela água macia
que amolece seus ossos
como amoleceu as pedras).