sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Opinião do dia - Luiz Werneck Vianna

IHU On-Line – Hoje a esquerda defende a intervenção do Estado como condição necessária para regular a economia e a área social, por exemplo. O que seria uma alternativa sem a presença do Estado?

Werneck Vianna – “A alternativa, nós não a tentamos. O que a esquerda classicamente viveu, desde Marx e de uma tradição que vem com Gramsci e outros, é a busca por autonomia, a criação de novas instituições estatais a partir de baixo. A utopia do movimento socialista, da esquerda em geral, foi sempre a da remoção do Estado, do fim do Estado e isso, num passe de mágica, foi convertido por circunstâncias nossas, a nossa tradição, a maneira como nós nascemos – nós nascemos a partir do Estado – e pelas circunstâncias internacionais, e fomos criando uma esquerda estatalizada, com uma relação mórbida com os grandes interesses da sociedade. Isso foi uma abdicação.”

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Luiz Werneck Vianna é sociólogo PUC-Rio de Janeiro, na entrevista IHU On-Line, 14/9/2016.

Lula faz defesa política e convoca a militância

‘Provem uma corrupção minha que irei a pé para ser preso’

Ex-presidente se diz perseguido pelos ‘meninos’ de Curitiba, chora duas vezes, mas não rebate as evidências de que foi beneficiado por empreiteira no caso do tríplex em Guarujá

Denunciado à Justiça no caso do tríplex em Guarujá e acusado de chefiar uma “propinocracia”, o ex-presidente Lula fez ontem uma defesa política, na qual se disse perseguido pelos “meninos” da Lava-Jato, e conclamou a militância petista a sair às ruas. “Provem uma corrupção minha que irei a pé para ser preso”, disse, num pronunciamento em que chorou duas vezes. Lula, porém, não rebateu as evidências de que foi beneficiado por empreiteiras.

Reação política e desafio

• Sem rebater evidências listadas pelo MP, Lula diz que irá ‘a pé’ para prisão, se provarem sua culpa

Sérgio Roxo e Silvia Amorim - O Globo

-SÃO PAULO- Após ser denunciado por corrupção e lavagem de dinheiro na Operação Lava-Jato, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez ontem um discurso em que a defesa política substituiu argumentos contra as acusações de que foi beneficiado com mais de R$ 3 milhões em propina da OAS. Ao lado de outros líderes petistas, beijou a estrela do PT na camisa vermelha, chorou duas vezes, defendeu seu legado e procurou desqualificar o trabalho da força-tarefa do Ministério Público Federal. Num dos momentos mais contundentes, desafiou os investigadores:

— Provem uma corrupção minha que irei a pé para ser preso.

‘De poderosos, reação toma vulto’, diz Deltan

• Associação Nacional dos Procuradores repudiou o que chamou de ‘deturpação de esclarecimentos’

É natural que investigados reajam. Vamos continuar com serenidade e equilíbrio Deltan Dallagnol Procurador da República

Cleide Carvalho e Renato Grandelle - O Globo

-CURITIBA E RIO- O procurador Deltan Dallagnol minimizou a reação de Lula em relação à denúncia apresentada pelo Ministério Público Federal, anteontem, contra o ex-presidente, acusado de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Em palestra na Semana da Democracia, evento realizado em Curitiba, Dallagnol voltou a rebater as críticas de que a investigação é partidarizada, ao afirmar que a Lava-Jato tem mais de 300 pessoas envolvidas, técnicas e concursadas, e que são apenas “pais de família” fazendo o seu trabalho.

‘Provas’ e ‘convicções’ no centro do embate entre Lula e o MPF

• Frase não dita por procuradores é usada para desqualificar denúncia

Flávio Freire - O Globo

-SÃO PAULO- Bastou a internet reverberar uma frase atribuída aos procuradores da Lava-Jato, mas não dita durante apresentação da denúncia contra o expresidente Lula — “não temos provas, mas convicção" — , para a polêmica ser instalada. Desde anteontem, internautas passaram a acusar os procuradores de sustentar a denúncia contra o petista sem prova cabal. O próprio Lula usou ontem o mote para tentar desqualificar o trabalho dos investigadores.

Embora a polêmica tenha incendiado as redes sociais, não houve, por parte dos procuradores, relação direta entre o que seria falta de provas e a convicção de que Lula tem responsabilidade sobre o esquema de corrupção. No discurso, Lula chegou a ironizar o que teria sido dito na coletiva do Ministério Público Federal (MPF).

Entre a preocupação justa e a desonestidade - Alan Gripp

- O Globo

A estridente apresentação da denúncia do Ministério Público é um case perfeito sobre os tempos atuais. Há naquela cena e na repercussão que se seguiu doses de preocupação justas com possíveis exageros da Lava-Jato e de desonestidade intelectual a serviço de uma causa.

Cada lado dessa história traduziu o episódio ao sabor de suas convicções. Os relatos nas redes sociais acrescentaram ingredientes fantasiosos para reforçar uma ou outra versão. Uma análise fria, porém, permite separar as coisas e concluir que a leitura mais honesta está provavelmente no meio do caminho.

Problema de Lula não é espetáculo do MP - Paulo Celso Pereira

- O Globo

No encerramento de um de seus episódios mais marcantes da série documental “Making a Murderer”, o advogado do acusado chama a família dele para explicar o julgamento que viria a seguir. A boa notícia, diz, era que a defesa havia reduzido de seis para três as acusações contra o réu, mas emenda: “A má notícia é que, se perdermos na primeira acusação, nada mais importa.”

A situação do ex-presidente Lula é semelhante. O Ministério Público Federal (MPF) o acusou de ser o “comandante máximo” da organização criminosa que se instalou na Petrobras. Não é simples provar uma acusação tão subjetiva, uma vez que dezenas de outros acusados no esquema movimentaram montantes muito superiores aos relacionados até agora ao ex-presidente. Mas isso pouco importa.

Janot avalizou denúncia oferecida por MP na Lava-Jato

Por André Guilherme Vieira - Valor Econômico

CURITIBA - A denúncia oferecida pelo Ministério Público Federal (MPF) ao juiz federal Sergio Moro, que pede a abertura de processo criminal contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, começou a ser elaborada há pouco mais de três meses e teve o aval do procurador geral da República Rodrigo Janot, conforme apurou o Valor PRO, serviço em tempo real do Valor.

Em 149 páginas, a força-tarefa de procuradores em Curitiba contextualiza fatos na perspectiva de tempo dos crimes descobertos, apontando qual é a tese jurídica sobre a organização criminosa que se apoderou da Petrobras, de acordo com o MPF. Lula já é réu em ação penal que tramita na Justiça Federal de Brasília e investigado investigado no Supremo Tribunal Federal (STF). O ministro relator da Lava-Jato na Corte, Teori Zavascki, determinou a abertura do processo por reconhecer os indícios da existência de tal organização criminosa.

Tucanos adotam tom de cautela sobre Lula

Por André Ramalho – Valor Econômico

RIO - O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), foram cautelosos ao comentarem a denúncia do Ministério Público Federal contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Cumprindo agenda eleitoral, no Rio, os dois criticaram a gestão do PT ao longo dos últimos anos, mas evitaram ataques mais diretos e duros a Lula.

FHC disse que não lhe cabe comentar o discurso do petista de que a denúncia do MPF tem como objetivo impedir a candidatura de Lula em 2018. O tucano classificou as declarações de Lula como um desabafo de quem "passa por um momento difícil" e disse, ainda, lamentar que uma pessoa com a trajetória como a do ex-presidente Lula tenha "chegado a esse momento".

"Sou uma pessoa cautelosa. É preciso ver o que o Judiciário diz. Uma coisa são as acusações, depois é que vem o processo de provas, verificar o que é certo e o que é errado... Eu fico só como espectador", disse Fernando Henrique, a jornalistas, após participar de almoço em apoio à candidatura do tucano Carlos Osório à Prefeitura do Rio.

Delator coloca Lula no centro de esquema de cargos

‘Vocês estão muito bem atendidos financeiramente’, disse Lula, segundo delator

• Depoimento do ex-deputado Pedro Corrêa (ex-PP/PE) foi anexado à denúncia da força-tarefa da Lava Jato contra ex-presidente, acusado de corrupção e lavagem de dinheiro

Ricardo Brandt, enviado especial a Curitiba, Julia Affonso e Mateus Coutinho – O Estado de S. Paulo

Os procuradores da República que integram a força-tarefa da Operação Lava Jato anexaram à denúncia contra o ex-presidente Lula por corrupção e lavagem de dinheiro depoimento do ex-deputado Pedro Corrêa (ex-PP/PE), que em delação premiada revelou bastidores da organização criminosa que tomou o controle da Petrobrás.

Corrêa atribuiu a Lula diálogos que colocam o petista no centro do esquema de loteamento dos cargos graduados da estatal petrolífera. O relato do ex-deputado é uma das peças que a Procuradoria usa na denúncia formal contra o ex-presidente, a quem acusa de ‘comandante máximo do esquema de corrupção’.

A Procuradoria também juntou à denúncia os depoimentos de outros delatores – o ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás, Paulo Roberto Costa, o ex-diretor de Internacional da estatal, Nestor Cerveró, e o ex-senador Delcídio Amaral (ex-PT/MS).

Lula se compara a Tiradentes e contesta Lava Jato

• Ex-presidente desafia procuradores a apresentar provas de que ele é corrupto e afirma que denúncia apresentada anteontem pelo MPF faz parte de um golpe

Em um discurso de mais de uma hora, entrecortado por choro e cheio de comparações com figuras históricas como Jesus Cristo, Tiradentes e Getúlio Vargas, o ex-presidente Luiz Iná- cio Lula da Silva desafiou procuradores da Lava Jato a apresentar provas de que ele é corrupto. “Eles têm que aprender que a única coisa de que tenho orgulho é que conquistei o direito de andar de cabeça erguida nesse país. Provem uma corrupção minha que irei a pé até a delegacia para ser preso.” Acompanhado por dezenas de aliados, ex-ministros, parlamentares, advogados e dirigentes petistas, Lula afirmou que a denúncia apresentada anteontem é mais um lance do “golpe tranquilo e pacífico” que começou com o impeachment de Dilma Rousseff. “Tenho uma história pública conhecida. Acho que só ganha de mim aqui no Brasil Jesus Cristo.” Nota aprovada pelo PT com ataques ao procurador Deltan Dallagnol trata representantes do Ministério Público Federal como “burocratas facciosos” que “buscam concluir o trabalho sujo encomendado pelas forças reacionárias”. Advogados de Lula prometem reclamar no Conselho Nacional do Ministério Público.

‘Provem corrupção minha e irei a pé ser preso’, diz Lula

• Lava Jato. Ex-presidente reage à denúncia por corrupção e lavagem de dinheiro com ataques à força-tarefa; petista desafia procuradores e afirma ser vítima de perseguição

Ricardo Galhardo Álvaro Campos – O Estado de S. Paulo

Frase editada da força-tarefa viraliza na rede

• ‘Não temos provas, mas temos convicção’ não foi dita na coletiva da Lava Jato anteontem

- O Estado de S. Paulo

A frase “não temos provas, mas temos convicção”, atribuída a integrantes da força-tarefa da Operação Lava Jato, que viralizou na redes sociais, não foi dita literalmente durante a entrevista coletiva para a imprensa do Ministério Público Federal realizada anteontem, em Curitiba.

Os termos “provas” e “convicção” foram utilizados de modo diferente do que foi divulgado na internet durante a exposição dos procuradores Deltan Dallagnol e Roberson Pozzobon para anunciar a denúncia contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a ex-primeira-dama Marisa Letícia e outras seis pessoas por corrupção ativa, passiva e lavagem de dinheiro.

Lula troca ameaça da jararaca pelas lágrimas - Alberto Bombig

- O Estado de S. Paulo

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva mudou radicalmente de estratégia no pronunciamento que fez hoje se comparado ao Lula que vociferou contra tudo e contra todos em março deste ano, quando foi levado de maneira coercitiva para prestar depoimento em uma sala do aeroporto de Congonhas, em São Paulo. No dia 4 de março, após ter sido ouvido por um delegado da Polícia Federal no inquérito da Lava Jato, Lula ameaçou: “Se quiseram matar a jararaca, não bateram na cabeça”. Hoje, um Lula abatido foi às lágrimas diante das câmeras de TV e dos fotógrafos, em mais um espetáculo midiático da operação, desta vez, protagonizado pela defesa.

Distorção da realidade - Ivar A. Hartmann

- O Estado de S. Paulo

Quando servidores de carreira encontram e punem a corrupção de alguns membros isolados de um partido político, normalmente esses são expulsos para proteger o partido. No caso do PT, fez-se o contrário: os acusados e condenados são protegidos à custa da sustentabilidade do próprio partido. O mecanismo central é a distorção da realidade. Do mensalão à denúncia de Lula, qualquer coisa é lida da maneira que mais reforçar a teoria da conspiração.

Se denunciasse rapidamente antes de aguardar ter provas suficientes, a força-tarefa da Lava Jato seria taxada de seletiva e inquisitória. Já se aguarda pacientemente a oportunidade correta para denunciar, enquanto produz as provas necessárias, está perseguindo o ex-presidente sem nunca achar nada.

'Provem minha corrupção e irei a pé até a delegacia', diz Lula após denúncia

Catia Seabra – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Em pronunciamento nesta quinta-feira (15), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se disse indignado com a decisão da força-tarefa da Operação Lava Jato de denunciá-lo. Ele desafiou: "Prova uma corrupção minha que irei a pé ser preso".

Num discurso em que chorou e levou às lágrimas militantes do PT, entre eles, o presidente do partido, Rui Falcão, Lula chamou de "show pirotécnico" aapresentação feita na véspera pelos procuradores, que o acusaram de comandar o esquema de corrupção na Petrobras.

"O procurador deve estar pensativo hoje, o delegado, os ministros: 'O que aconteceu? A custas do que esse espetáculo?'. A custas do que vender um produto que não tem como entregar?", questionou o ex-presidente.

O petista continuou: "Vocês vão ter problema com o golpe, com o que vocês querem tirar dos trabalhadores desses país, entregar nosso pré-sal, nossa Petrobras para o capital internacional. Assim não precisa de governo, mas de um vendedor".

Em 'dia tumultuado', Dallagnol diz que reação à denúncia é 'natural'

Estelita Hass Carazzai, Flávio Ferreira – Folha de S. Paulo

CURITIBA - Em uma palestra na tarde desta quinta-feira (15), um dia depois de apresentada a denúncia contra o ex-presidente Lula, o procurador Deltan Dallagnol afirmou que "é natural que, depois de uma acusação, venha uma reação".

"Hoje é um dia um pouco tumultuado", disse o procurador, que na quarta (14) apontou Lula como "o comandante máximo" do esquema de corrupção na Petrobras.

Desde esta quarta, a apresentação da denúncia do MPF contra Lula tem sidoalvo de críticas por defensores do ex-presidente, que dizem que os procuradores não têm provas, mas apenas convicções.

Até mesmo os slides de Dallagnol, que apontam Lula como o centro de um esquema criminoso, foram satirizados nas redes sociais.

Coordenador da força-tarefa da Operação Lava Jato, Dallagnol brincou: "Eu decidi não usar nenhum slide hoje", disse à plateia da Semana da Democracia, em Curitiba.

Fase que precede ação criminal requer cuidados - Oscar Vilhena Vieira

- Folha de S. Paulo

A denúncia do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi acompanhada de uma longa apresentação da equipe da Operação Lava Jato. Nada mais natural que algo que afete um ex-presidente tenha sido seguido de uma detalhada justificação pública.

Afinal, não há por que excluir o Ministério Público da obrigação de prestar contas de suas decisões à sociedade.

Há, porém, que se tomar cuidado no modo como se disponibilizam informações na fase que precede a formação do processo criminal.
Como todos sabemos, o princípio da presunção de inocência impõe que ninguém deva ser tratado como culpado antes que haja uma sentença transitada em julgado condenando o réu.

Petrolão e mensalão eram uma coisa só, diz Pedro Corrêa a investigadores

Paula Reverbel, Felipe Bächtold – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - O ex-deputado federal Pedro Corrêa, condenado no mensalão e na Lava Jato, disse a investigadores que os dois esquemas são um só.

As afirmações de Corrêa, ex-presidente do PP e hoje delator, foram um dos principais elementos usados pelo Ministério Público Federal para afirmar que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva comandava o petrolão. As declarações do ex-deputado foram dadas no último dia 1º e divulgadas agora.

Corrêa, que cumpre pena de prisão pelo mensalão e é um dos condenados pelo petrolão, disse a investigadores que os dois esquemas são uma coisa só.

Ambos tratam da compra de parlamentares para formação de apoio ao governo –o que se conhecia do mensalão– com dinheiro de propina paga por empresários em troca de contratos públicos –o que se sabe do esquema na Petrobras, investigado pela Operação Lava Jato.

Segundo Corrêa, a indicação de cargos –na Petrobras e em outras empresas públicas, além de ministérios e secretarias– visa atender a demandas empresariais com o fim de arrecadar propina a partidos políticos e seus integrantes.

Roberto Freire diz que Lula promoveu espetáculo patético e que não consegue parar de mentir

• Para o parlamentar, Lula e PT respondem por crimes de corrupção e não sofrem perseguição política

- Portal Nacional do PPS

O presidente do PPS, deputado federal Roberto Freire (SP), classificou o pronunciamento de Lula, no qual não conseguiu dar explicação convincente das denúncias do Ministério Público Federal, como um “espetáculo patético” e disse que o ex-presidente “não consegue parar de mentir”. Para Freire, Lula e o PT não sofrem perseguição política, mas sim, processos judiciais por práticas criminosas cometidas contra a administração pública.

“Um espetáculo patético a resposta de Lula à denúncia do MPF. Um amontoado de frases. Algumas até insensatas. Um exemplar impar do samba do crioulo doído. Lula não consegue parar de mentir”, disse.

O parlamentar afirmou que o PT não sofre perseguição política, como tenta insinuar Lula e demais dirigentes, mas sim processos judiciais por práticas criminosas de corrupção. Freire ressaltou que não se pode confundir a história e, diferentemente do PT, os partidos de esquerda, como o PCB, foram perseguidos pelo processo político vivenciado no período da guerra fria.

“O PPS, como partido sucedâneo do honrado partidão [PCB], não pode ser confundido. A sua cassação foi parte de todo um movimento histórico no mundo com o início da guerra fira. A cassação foi por motivos nitidamente políticos. Não é possível confundir com o drama que o PT sofre hoje”, ressaltou.

Freire afirmou que o PPS é contrário a extinção ou perseguição de qualquer partido político, mas defendeu a punição de corruptos e criminosos.

“Nós somos contra a extinção de qualquer partido. Qualquer tentativa nesse sentido não terá, da nossa parte, nenhuma colaboração. O PT pode continuar. O que não pode continuar são os ladrões, corruptos e criminosos que levaram o País a essa situação de desmantelo. Que eles sejam punidos. Para nós, o partido só pode ser extinto se não tiver votos”, afirmou.

Entrevista com Luiz Werneck Vianna:

Revista IHU-On-Line, 14/9/2016

A análise da conjuntura brasileira, acompanhada de um entendimento da história do país, dos elementos constitutivos do Estado brasileiro e das escolhas políticas feitas nos últimos 80 anos, fornecem os subsídios para o sociólogo Luiz Werneck Vianna apresentar alguns diagnósticos sobre o atual momento brasileiro. O primeiro deles, frisa, é o de que a crise não passou após o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. O segundo é de que essa crise tem “raízes muito poderosas na história brasileira” tanto à direita, com a sustentação do patrimonialismo e das oligarquias, quanto à esquerda, “pelo seu colossal abismo diante da cena contemporânea”, diz à IHU On-Line, na entrevista a seguir, concedida por telefone.

Essa constatação leva a uma terceira, a de que a história do Brasil está permeada por uma “estadolatria” que nasceu como oposição ao “capitalismo imperialista dos EUA”, o qual nos “levou a isto que se vê por aí: a perda de distinção entre o público e o privado, como aparece nas políticas exercitadas pelos fundos de pensão. Isso trouxe uma riqueza para quem? Criou uma sociedade mais igual ou desigual?”, questiona. E acrescenta: “O capitalismo de Estado no Brasil nunca esteve interessado no tema da igualdade de oportunidades, mas na expansão da lucratividade, das forças produtivas materiais”, e a consequência é que “hoje somos, sem o menor orgulho, uma das sociedades mais desiguais do mundo”. E adverte: “O nacional-estatismo já deu o que tinha que dar”.

O quarto diagnóstico é de que, apesar dos protestos que pedem a saída do presidente Michel Temer, não se propõe uma “alternativa moderna” para o país. “Se sai o Temer, põe quem no lugar dele? A volta de Dilma e do nacional-desenvolvimentismo recessivo e anacrônico que nos trouxe ao longo do exercício do seu mandato nos leva aonde? (...) Qual é a alternativa moderna que está se pondo para a sociedade brasileira? Não se tem nada à vista”. “O movimento saudável”, argumenta, “seria procurar, nesses dois anos, caminhos, alternativas a partir de conflitos, e lá por 2018 apresentarmos à sociedade projetos consistentes, mas isso não é o que se pratica”. Ao contrário, lamenta, “os corações estão desconectados da cabeça; estão batendo ao ritmo do passado e não querem bater ao ritmo da hora presente e da hora futura”.

Para ele, se há uma alternativa para sair da crise e modernizar o país, “nós não a tentamos”. E a esquerda, que “classicamente”, “desde Marx”, busca a “autonomia, a criação de novas instituições estatais a partir de baixo” e tem a “utopia” da “remoção do Estado”, “num passe de mágica” se tornou “estatizada” e “isso foi uma abdicação”, de tal modo que hoje o “país tem medo de andar para frente, de romper com as suas tradições mais fundas, e a tradição mais funda que temos aqui é a de Estado”, critica. Romper com o Estado, explica, não significa apostar apenas no livre mercado, mas defender a ideia de que o Estado “não pode ocupar esse papel determinante e monopólico”.

Sobre uma possível Reforma Trabalhista que será iniciada no governo Temer, Werneck disse que as notícias sobre o tema ainda estão na “região dos boatos”, mas foi categórico ao afirmar que neste momento de crise o trabalhador tem que garantir a “sua empregabilidade”, e para isso “trabalhadores e empresários precisam encontrar formas de negociação”.

Ele pontuou ainda que “é consensual a necessidade de um ajuste fiscal”, e entre as questões a serem respondidas neste momento, estão: “Vale ou não vale ampliar o mercado de trabalho? Vale ou não vale ampliar a logística e a malha de ferrovias ou hidrovias? Dispomos de recursos para isso ou não? É o Estado que deve satisfazer a essas necessidades? Mas o Estado está falido. (...) Como vamos conseguir recursos para enfrentar a tarefa mais nobre que este país requer, que é a da educação?” E responde: “A saída nós temos que ir tateando na parede, procurando onde ela está. Não vai ser agarrados às velhas opiniões que vamos encontrá-las. (...) Diria que apostar na livre associação é um belo remédio. É claro que sozinho isso não leva a nada; é preciso uma orientação política, a qual, dirigida para o Estado, é sua democratização”.

Luiz Werneck Vianna é professor-pesquisador na Pontifícia Universidade Católica - PUC-Rio. Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo - USP, é autor de, entre outras obras, A revolução passiva: iberismo e americanismo no Brasil (Rio de Janeiro: Revan, 1997); A judicialização da política e das relações sociais no Brasil (Rio de Janeiro: Revan, 1999); e Democracia e os três poderes no Brasil (Belo Horizonte: UFMG, 2002). Sobre seu pensamento, leia a obra Uma sociologia indignada. Diálogos com Luiz Werneck Vianna, organizada por Rubem Barboza Filho e Fernando Perlatto (Juiz de Fora: Ed. UFJF, 2012).

Confira a entrevista.

Guerra retórica - Merval Pereira

- O Globo

Exagero retórico do MP abriu brecha para Lula. O ex-presidente Lula aproveitou-se da retórica agressiva do procurador Deltan Dallagnol para politizar sua resposta, e, assim como os procuradores de Curitiba não apresentaram a denúncia de que Lula é o chefe da quadrilha, ele também não se dignou a responder às acusações sobre sua relação com a OAS e os favores que teria recebido da empreiteira.

Os procuradores claramente anteciparam uma acusação que está sendo preparada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, no processo conhecido como “quadrilhão”, que é o principal de todos os que estão em andamento.

Todas as provas indiciais mostradas na entrevista coletiva de quarta-feira fazem parte de um esquema que é apoiado por provas testemunhais e indiciais, da mesma maneira que no mensalão as provas contra José Dirceu foram aceitas pelos ministros do STF.

Lula foi Lula - Eliane Cantanhêde

- O Estado de S. Paulo

Lula foi Lula ontem, ao fazer seu pronunciamento de mais de uma hora para “responder” aos procuradores da Lava Jato. Ele não “respondeu” nada, nem se ateve às questões objetivas e à acusação de que seria o “comandante máximo”, o “grande general”, o “chefe” e o “maestro” do esquema de corrupção. Limitou-se a negar, pela enésima vez, que é dono do triplex do Guarujá e fez o que faz de melhor: um discurso político, emocional, com direito a lágrimas, em que lembrou toda a sua vida e enfatizou os êxitos dos seus governos.

Não estava se dirigindo aos procuradores Deltan Dallagnol e Roberson Henrique Pozzobom, nem rebatendo as 149 páginas da denúncia, nem questionando a acusação de que teria recebido R$ 3,7 milhões da OAS, uma das empreiteiras da Lava jato. Ele estava falando para o PT, para os militantes, para os que estão com ele e com o partido faça chuva ou faça sol, com ou sem Lava Jato. Exibindo uma camisa vermelho-sangue, Lula terminou sua fala conclamando a militância para usar (ou resgatar?) o vermelho e a estrela do partido.

A montanha e o rato - Hélio Schwartsman

- Folha de S. Paulo

A montanha pariu um rato. Se eu usasse essa fórmula para descrever a denúncia que a força-tarefa da Lava Jato apresentou contra o ex-presidente Lula, não estaria sendo mais hiperbólico do que foram os procuradores na entrevista coletiva em que apresentaram o caso, chamando Lula de "comandante máximo" do petrolão, "artífice da propinocracia", "maestro da orquestra criminosa", entre outras expressões de igual calibre.

Antes de prosseguir, porém, vamos contextualizar as coisas. Do ponto de vista ético, não resta nenhuma dúvida razoável de que o ex-presidente estabeleceu com empreiteiras uma relação extremamente promíscua, daquelas que o PT dos anos 80 e 90 jamais teria tolerado nem de um militante júnior, quanto mais de seu dirigente máximo. Eu acrescentaria ainda que, descontados os arroubos retóricos, a descrição que o Ministério Público fez de Lula como chefe de um amplo esquema de corrupção que prosperou sob seu governo e o subsequente é verossímil.

Em busca de sócios à vitimização- Maria Cristina Fernandes

- Valor Econômico

Deltan Dallagnol jogou terra no ajuste fiscal do governo Michel Temer com a apressada denúncia contra Luiz Inácio Lula da Silva. O discurso do ex-presidente deixou claro que sua estratégia de defesa é se associar, na vitimização, aos afetados pelo corte de gastos sociais que está por vir.

Não parece ser outra a razão pela qual o governo, depois de reconhecer o erro de ter menosprezado as mobilizações, adiou para o próximo ano a reforma trabalhista e também colocou em ponto morto a da Previdência, duas das mudanças que mexem mais concretamente em direitos sociais. Resta a PEC dos gastos e sua centralidade para a manutenção da confiança dos mercados.

Se, por um lado, o recente sucesso dos pixulecos infláveis coloca incertezas sobre o sucesso dessa estratégia, sindicatos e movimentos sociais têm levado um outro manifestante de volta à rua. É um público que cresce com repressão policial. Por isso não pareceu ter sido fortuito o elogio do ex-presidente aos estudantes que apanham da polícia do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. Lula busca sócios à sua vitimização para elevar o clamor por sua inocência.

Supremas esperanças – Nelson Motta

- O Globo

• Não há discurso jurídico que explique Renan Calheiros há sete anos sem julgamento no STF, só a baixa política

Baixa política explica por que STF não julgou Renan. Até que os discursos inflamados e empolados do decano Celso de Mello impressionam com sua retórica de combate implacável à corrupção e aos “marginais da República”. E, no entanto, quando foi julgada a decretação da prisão depois de condenação por colegiado em segunda instância, fundamental no real combate à impunidade, o ministro votou contra a maioria do STF. Em nome da presunção de inocência, quem tem dinheiro e bons advogados consegue arrastar seus processos até a prescrição.

E os “marginais da República”? Renan Calheiros tem 12 processos no STF, entre eles o que acusa o lobista de uma empreiteira de pagar a pensão de sua filha fora do casamento, que se esconde há sete anos no Supremo, e ninguém sabe por que até agora não foi julgado.

Lula tenta salvar o mito – Bernardo Mello Franco

- Folha de S. Paulo

No momento mais dramático de sua carreira, o ex-presidente Lula entra em duas batalhas simultâneas. Sua prioridade é se defender da Lava Jato, que ameaça levá-lo para a cadeia e suspender seus direitos políticos. Ao mesmo tempo, ele tentará salvar o mito que começou a construir há mais de três décadas, nas greves do ABC.

Lula superou a miséria, enfrentou a ditadura, fundou um grande partido e se tornou o primeiro operário a chegar à Presidência da República. Essa trajetória épica foi posta em xeque pela denúncia da força-tarefa de Curitiba, que o acusou de ter sido o "comandante máximo" de um esquema bilionário de corrupção.

Estados na penúria - Miriam Leitão

- O Globo

Estados estão em penúria, e só quem entrou na Justiça teve alívio na dívida. Os estados que não entraram na Justiça contra o pagamento da dívida ainda estão pagando as parcelas mensais, o que é uma enorme injustiça. “Isso é o avesso do avesso do avesso”, diz o governador Paulo Hartung. A situação das contas públicas nos estados é dramática e todos têm uma parcela de culpa, mas esse ponto tem que ser corrigido sob pena de se perpetuar um tratamento desequilibrado na Federação.

Os estados aumentaram muito seus gastos de pessoal e outras despesas fixas, principalmente os governadores que disputaram a reeleição. Ao mesmo tempo, o Tesouro aceitou, no governo Dilma, conceder a eles aval para novos empréstimos. Com essas dívidas contraídas junto a diversas instituições, eles conseguiram mascarar suas dificuldades.

A faxina no Orçamento - Claudia Safatle

- Valor Econômico

• Programas podem ser extintos depois de avaliados

O governo vai fazer uma faxina geral nos programas e projetos do Orçamento da União para conter as despesas, enquanto a reforma da Previdência Social não resultar em redução do déficit. A Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 241, que congela o gasto em valores reais por até 20 anos, tem gordura suficiente para se sustentar nos dois primeiros anos.

Após 2019, a disputa por espaço no Orçamento vai ficar acirrada com o aumento contínuo do pagamento das aposentadorias e demais benefícios. Se não fizer nada, nenhum corte adicional, a PEC se inviabiliza no médio prazo, enquanto que nos primeiros anos ela é inócua para barrar o crescente endividamento do setor público.

O teto para o gasto federal, em 2017, é de R$ 1,316 trilhão, sendo que com a previdência social dos trabalhadores do setor privado e dos servidores públicos ele supera R$ 670 bilhões. Com as contribuições muito aquém dos pagamentos dos benefícios, o déficit está em uma trajetória explosiva. Só o do regime geral é estimado em R$ 181, 2 bilhões em 2017, além de mais R$ 75,5 bilhões do funcionalismo público civil. Ou seja, em 2017 a previdência total, excluídos os militares, terá um déficit de R$ 256,7 bilhões.

O acerto de contas das instituições com o lulopetismo – Editorial / O Globo

• Denúncias da Lava-Jato contra o líder petista refletem a reação de organismos de Estado à tentativa de execução de um projeto de poder por vias não democráticas

Virada a página de Eduardo Cunha, neste longo capítulo sobre como a corrupção serve de método de exercício do poder no Brasil, cresce no enredo a figura do ex-presidente Lula, denunciado na quarta-feira, com a mulher, Marisa Letícia, pela Operação Lava-Jato, por corrupção, passiva e ativa, e lavagem de dinheiro.

Acompanham o casal, na denúncia feita no caso do tríplex de Guarujá, o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto; Léo Pinheiro, da empreiteira OAS, acusado de ceder o imóvel como propina em troca de contratos; e mais quatro executivos da empreiteira (Paulo Gordilho, Agenor Medeiros, Fábio Yonamine e Roberto Ferreira).

A prova do crime – Editorial / O Estado de S. Paulo

O maior indício de que Luiz Inácio Lula da Silva cometeu os crimes que lhe são imputados está justamente em sua defesa: ao bradarem que o chefão petista é “perseguido político”, os advogados e os áulicos de Lula deixam claro que não têm como justificar as evidências de que o ex-presidente participou – como “comandante máximo”, “grande general” e “maestro”, segundo o Ministério Público Federal – do maior esquema de corrupção da história brasileira.

Talvez influenciado pelo estilo bravateiro do seu cliente, um dos advogados do capo disse que “o crime de Lula, para a Lava Jato, é ter sido presidente eleito democraticamente duas vezes”. Com isso, a defesa do ex-presidente confirma sua estratégia de insultar a Justiça e transformar Lula em vítima de um grande complô das “elites”.

Lula, pessoalmente, não se furta a desempenhar o patético papel de vítima: vai à televisão, conta detalhes de sua sofrida vida – até se tornar o nababo de hoje –, descreve a fome e chora copiosamente. Explicações sobre as acusações que sobre ele pesam não dá nenhuma, até porque não existem.

Novo tom do Mercosul – Editorial / Folha de S. Paulo

Sob a pertinaz liderança do Itamaraty, os quatro países fundadores do Mercosul completaram nesta semana expressiva mudança de atitude em relação à Venezuela. Abandona-se a indulgência quase servil praticada durante boa parte dos anos petistas, passa-se a um rigor quase hostil neste começo de governo Michel Temer (PMDB).

Na terça-feira (13), Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai decidiram não só impedir a Venezuela de assumir a presidênciarotativa do bloco mas também dirigir-lhe um ultimato: se não se adequar às normas do Mercosul até o dia 1º de dezembro, o que parece impossível, o país terminará suspenso.

Do ponto de vista formal, a justificativa reside no fim do prazo de quatro anos, encerrado mês passado, para que a Venezuela implementasse os compromissos assumidos ao assinar o ato de adesão. O comunicado conjunto cita pontos importantes, como o protocolo de proteção aos direitos humanos.

Venezuela agora recebe um ultimato do Mercosul – Editorial / Valor Econômico

Na medida em que a Venezuela se afunda em uma crise política e econômica profunda, seus laços com o Mercosul se tornam tênues e tendem a desaparecer. O governo de Nicolás Maduro, incapaz de corrigir os rumos desastrosos a que seu governo levou o país, deveria assumir a presidência do bloco, mas foi barrado pelos governos do Brasil e do Paraguai. Após invectivas bolivarianas e um período de acefalia, Brasil, Paraguai e Argentina sacramentaram que irão preencher o vácuo com uma direção colegiada até o fim do ano, com a anuência do Uruguai, que se absteve na questão. Foi dado um prazo - 1 de dezembro - para que a Venezuela se adeque a determinações importantes para continuar a pertencer ao grupo.

A Venezuela, segundo nota da chancelaria brasileira, deixou de cumprir obrigações econômicas imprescindíveis como membro do bloco e descumpriu o prazo estipulado, 12 de agosto, quando completava os quatro anos de seu polêmico ingresso no Mercosul, após o afastamento temporário do Paraguai. Mas a nota lembra também que há deveres políticos igualmente deixados de lado, como o Compromisso sobre a Promoção e Proteção dos Direitos Humanos que, no contexto da crise venezuelana atual, têm sua importância magnificada.

Quem desinforma é o governo – Editorial / O Estado de S. Paulo

Se o presidente Michel Temer quer mesmo combater a desinformação, neutralizar boatos e preservar o governo de suspeitas e acusações sem fundamento, deve começar melhorando a comunicação do Executivo. Nenhum rumor sobre redução de gastos em saúde e educação ou sobre conspiração contra os direitos do trabalhador surgiu do nada ou foi meramente inventado por detratores. Todos os mal-entendidos surgiram de confusões criadas pela equipe governamental. Ministros falam na hora errada, contam histórias perigosamente incompletas, tratam de assuntos fora de sua área e agem, perante a imprensa, como se a sua primeira e maior preocupação fosse aparecer e ocupar espaço e tempo nos meios informativos. Em resumo, o governo se comunica de forma desorganizada e amadora e irresponsável, mas o presidente parece desconhecer esse fato.

Gratos à vida – Ruy Castro

- Folha de S. Paulo

Morando em Lisboa no começo dos anos 70, ainda peguei o fim da longa guerra de Portugal contra os movimentos de libertação de suas colônias - Angola, Moçambique e Guiné-Bissau. Era uma guerra perdida, condenada por todo mundo e só sustentada porque Portugal vivia sob ditadura. O custo dela era visível em suas cidades: poucos jovens nas ruas (claro, a maioria estava fora, combatendo) e, entre os que se podia ver, muitos estropiados, cegos, sem um braço, perna ou ambos - todos cruelmente uniformizados. A situação entre os nativos nas colônias devia ser pior ainda.

Dentro da perda da memória – João Cabral de Melo Neto

Dentro da perda da memória
uma mulher azul estava deitada
que escondia entre os braços
desses pássaros friíssimos
que a lua sopra alta noite
nos ombros nus do retrato.
E do retrato nasciam duas flores
(dois olhos dois seios dois clarinetes)
que em certas horas do dia
cresciam prodigiosamente
para que as bicicletas de meu desespero
corressem sobre seus cabelos.
E nas bicicletas que eram poemas
chegavam meus amigos alucinados.
Sentados em desordem aparente,
ai-los a engolir regularmente seus relógios
enquanto o hierofante armado cavaleiro
movia inutilmente seu único braço.

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(do livro “Pedra do Sono”)