“Política séria é coisa para gente de têmpera especial, com boa formação e domínio das linguagens (a oral, a escrita, a cênica e performática). Falta tudo isso entre nós.
Comunicar-se bem não é algo banal. Em política, está vinculado à possibilidade de ingressar no terreno do diálogo entre governantes e governados, do debate público democrático e das lutas por hegemonia, nos espaços simbólicos que movem e orientam as pessoas. Não é coisa para técnicos, mas para políticos e cidadãos.
Não é por acaso que entre políticos e cidadãos o quadro é de incomunicabilidade: uma parte não entende a outra, não ouve a outra e não fala com a outra. A falta de qualidade discursiva é enorme, o gestual é pobre, a mensagem é repetitiva e banal.
A miséria da nossa comunicação política só faz crescer. Aparece no atual governo e em todos os anteriores, com uma ou outra exceção. Toda a nossa classe política, de qualquer credo ou vertente ideológica, de direita, centro ou esquerda, é bisonha neste quesito. É uma desgraça associada tanto às falhas da formação escolar, quanto a certas marcas da brasilidade, da cultura brasileira, com seu gosto pelo improviso, pelo coloquial, pela intimidade, pela indiferença diante do cultivo da linguagem e da língua. A situação só tem piorado, nesses tempos em que falar bem e escrever bem passaram a ser vistas como manifestação de “elitismo” ou como coisa pouco importante.”
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Marco Aurélio Nogueira é professor titular de Teoria Política da Unesp, ‘Comunicação é coisa séria, e está em falta na política’. O Estado de S. Paulo, 21/9/2016