• Estado - As pesquisas de opinião apontam, de forma geral, um grande descrédito, uma grande desconfiança da população em relação aos políticos no Brasil - e não é de hoje. Como o senhor analisa essa questão?
Fernando Henrique - Isso não é só aqui, é geral. No mundo todo, se está com um pé atrás em relação à política e aos políticos. A sociedade mudou muito, talvez com mais rapidez do que os políticos se adaptaram a essas mudanças. Os políticos vêm de uma tradição em que os partidos tinham, de alguma maneira, um enraizamento forte na sociedade. Numa certa época, havia quase uma correlação entre partidos e classes sociais. As pessoas se sentiam representadas. A ideia era essa. Hoje, não que não existam classes, porque, obviamente, elas estão estão aí, mas a sociedade se transformou e existem muitas outras identidades. É importante o que você pensa sobre o racismo, a imigração, o movimento LGBT, drogas, meio ambiente. Tornou-se muito mais difícil você encontrar uma correspondência de posição dos políticos com essa multiplicidade de questões. Houve quase uma separação entre o que os políticos e a sociedade falam. Os políticos falam de uns temas e a sociedade de outros. De onde vem essa sensação de vazio, de falta de correspondência entre os anseios das pessoas e o comportamento dos políticos.
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Fernando Henrique Cardoso, sociólogo, foi presidente da Repúplica, em entrevista O Estado de S. Paulo, 28/9/2016