sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Opinião do dia – O Estado de S. Paulo

O argumento dos que defendem a flexibilização das regras, como a redução do porcentual de votos exigidos, parte do princípio de que, como está, a proposta “inviabiliza” pequenos partidos politicamente ativos no Congresso, como Rede, PSOL, PCdoB e PPS. Ora, a legitimidade de sua representação popular os partidos têm que conquistar nas urnas, não nos conchavos parlamentares. E a suposição implícita nos argumentos favoráveis a esses pequenos partidos, de que merecem tratamento especial porque representam correntes “progressistas”, é altamente questionável, porque implica julgamento de valor que ofende o princípio da isonomia. Afinal, quem é que estabelece o critério para a definição do “mérito” que justificaria facilitar a vida de partidos, não por coincidência, todos de “esquerda”?

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O Estado de S. Paulo, Editorial. ‘Reforma partidária dá a largada’, 11/11/2016

Câmara resiste à proposta que reduz nº de partidos

• Medida que prevê cláusula de barreira a siglas enfrenta oposição de deputados, que já falam em promover alterações nas regras ou engavetar o projeto

Daiene Cardoso e Erich Decat - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - A reforma política aprovada em primeiro turno no Senado terá dificuldades para avançar quando chegar à Câmara. Parte da Casa rechaça a proposta e já articula para engavetá-la. Deputados dizem que para aprovar a medida vão promover mudanças significativas no texto. O principal ponto de insatisfação é a cláusula de barreira, que, na prática, pretende limitar o número de partidos no País.

Atualmente, são 35 legendas – 28 com representação no Congresso. A Proposta de Emenda à Constituição aprovada nesta quarta-feira, 9, pelos senadores, em comparação com os resultados das eleições de 2014, reduziria a apenas 16 o número de partidos hoje. No Tribunal Superior Eleitoral (TSE), estão em processo de criação mais 29 siglas.

Deputados afirmam que a proposta vai limitar a representatividade, em especial a dos partidos pequenos, e reclamam que grandes legendas culpam os “nanicos” pela dificuldade em se obter a estabilidade política. “As mazelas da política não estão localizadas nos partidos pequenos. É falsa a ideia de que os pequenos dificultam a governabilidade”, disse o líder do PCdoB na Câmara, Daniel Almeida (BA).

Na Câmara, partidos pequenos já reagem à cláusula de barreira

• Se Senado não abrandar proposta, deputados vão usar eleição à presidência da Câmara para barganhar

Isabel Braga e Júnia Gama - O Globo

-BRASÍLIA- Mal foi aprovada em primeiro turno no Senado, a reforma política já é alvo de polêmica na Câmara. Parlamentares de pequenos e médios partidos da esquerda querem mudar a regra para permitir que essas legendas sobrevivam e dizem que esta discussão pode afetar, inclusive, a eleição para o novo presidente da Câmara. Ontem, o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP) criticou o texto aprovado pelo Senado e disse que seu conteúdo irá fazer com que, na Câmara, a reforma seja debatida de forma casada com a disputa pela presidência da Casa. Segundo Silva, se os autores da PEC tivessem concordado em mudar o texto, garantindo uma transição mais alongada para a cláusula de desempenho, a proposta teria sido aprovada por consenso e eles defenderiam a aprovação na Câmara.

Da forma como está, diz Orlando Silva, os partidos menores irão se reunir contra a cláusula e usarão a discussão para as articulações com os candidatos à presidência da Câmara.

Cláusula de barreira é negociada na eleição pelo controle da Câmara

Por Raphael Di Cunto – Valor Econômico

BRASÍLIA - A cláusula de barreira para os partidos políticos, aprovada em primeiro turno no Senado anteontem, se tornou um dos principais assuntos da eleição para a presidência da Câmara dos Deputados. Legendas menores, que serão ameaçadas de exclusão do Congresso, uniram-se para pressionar os candidatos a trabalharem para, pelo menos, abrandar a proposta do PSDB.

O grupo de cerca de 100 deputados, apurou o Valor, já conversou com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e com o líder do PTB, Jovair Arantes (GO). A proposta, de autoria dos senadores Aécio Neves (PSDB-MG) e Ricardo Ferraço (PSDB-ES), tem afastado essas legendas de uma eventual candidatura tucana - o favorito nesse caso seria líder do PSDB, Antonio Imbassahy (BA).

"Tentamos dialogar com o Senado para mudar a cláusula de barreira, fazendo um escalonamento, mas, como não teve diálogo, não temos outra alternativa a não ser debater esse assunto casado com a eleição para a Mesa Diretora da Câmara", afirmou o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), um dos principais aliados de Maia. "Nenhum partido pequeno vai fechar com ninguém sem colocar isso na mesa de negociação", disse o líder do Pros, deputado Ronaldo Fonseca (DF).

Cláusula de barreira e a democracia brasileira

*Marcelo Gurjão Silveira Aith – O Estado de S. Paulo

O Senado aprovou, nesta quarta-feira (9), por 58 votos favoráveis e 13 contrários, uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) alterando parcialmente o sistema político brasileiro. Em síntese, estabeleceu uma cláusula de desempenho eleitoral para que os partidos políticos tenham acesso ao fundo partidário e ao tempo gratuito de televisão.

Uma mudança significativa que poderá ser introduzida na hipótese de aprovação definitiva da PEC é o fim das coligações para eleições proporcionais (deputados e vereadores). Atualmente, é permitida a coligação entre os partidos para eleger deputados e vereadores. Por esse sistema, os votos obtidos pelas siglas são somados e se elegem os candidatos mais votados da coligação.

Outros pontos da reforma devem ser analisados ainda neste ano

• Um deles seria o fim da reeleição para cargos do Executivo, como prefeito, governador e presidente da República

Isabela Bonfim e Erich Decat - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Após a aprovação, anteontem, em primeiro turno da PEC 36/2016, que trata de alguns pontos da reforma política, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) admitiu que outros aspectos da reforma podem ser analisados pelo Senado ainda antes do fim do ano.

“É muito importante que, na quarta-feira, para além do que aprovamos e do segundo turno que vamos aprovar, que estabeleçamos outros pontos da reforma política que serão votados até o final do ano legislativo”, afirmou Renan.

O texto aprovado no Senado trata apenas do fim das coligações proporcionais, mecanismo que permitir “puxar” deputado pelos votos da coligação, e a criação de uma cláusula de barreira, que tem por objetivo diminuir a quantidade de partidos políticos. A intenção de Renan é de que o texto não receba emendas e, assim, seja aprovado da mesma forma na votação em segundo turno.

Mas dada a facilidade de aprovação e o apoio político da proposta, até mesmo entre alguns senadores da oposição, o presidente do Senado já quer adiantar a discussão de outros pontos da reforma política. Um deles seria o fim da reeleição para cargos do Executivo, como prefeito, governador e presidente da República.

Lula diz ser alvo de 'pacto diabólico' na Lava Jato

Catia Seabra – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva acusou os responsáveis pela Operação Lava Jato de comprometimento político e ideológico.

Ao discursar durante ato programado em sua defesa, na noite desta quinta (10), Lula se disse alvo de "um pacto diabólico". O ex-presidente afirmou que os agentes públicos responsáveis pela operação "mexeram com a pessoa errada" e "fazem mal ao Ministério Público, que tem muita gente séria".

Também fazem mal, completou Lula, "a uma instituição chamada Polícia Federal, que foi criada para defender o Estado brasileiro e para investigar, e não para permitir que delegados comprometidos ideologicamente e politicamente com determinados partidos venham fazer falsas acusações".

Lula diz ser vítima de 'pacto quase diabólico'

• Ex-presidente, réu em três processos relacionados a casos de corrupção, partiu para o ataque contra a força-tarefa da Lava jato, durante ato de lançamento da campanha 'Um Brasil Justo pra Todos e pra Lula', em São Paulo

Ricardo Galhardo - O Estado de S. Paulo

Réu em três processos relacionados a casos de corrupção, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva partiu para o ataque contra a força-tarefa da Operação Lava Jato na noite desta quinta-feira, 10, durante ato de lançamento da campanha “Um Brasil Justo pra Todos e pra Lula”, em São Paulo.

O ex-presidente disse ser vítima de um “pacto quase diabólico” que tem como objeto destruir sua reputação e o projeto de país implementado em seus oito anos de governo.

“Eu penso que eles cometeram um pequeno erro. É que eles mexeram com a pessoa errada. Eu não tenho nenhuma preocupação de prestar contas à Justiça brasileira. O que eu tenho preocupação é quando eu vejo um pacto quase diabólico entre a mídia, a polícia federal, o ministério público e o juiz que está apurando todo esse processo”, disse o petista, diante de um auditório lotado com centenas de pessoas na Casa de Portugal, na Liberdade, zona sul de São Paulo.

PT agora trava briga interna por delegados

Ricardo Galhardo – O Estado de S. Paulo

O primeiro dia de reunião do Diretório Nacional do PT terminou ontem em impasse entre as duas principais forças da legenda sobre a forma de escolha dos delegados que vão definir a nova direção do partido. O entrave aumenta o temor de um racha e fez com que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que trabalha para evitar a ruptura, encerrasse o encontro com um apelo pela unidade.

“Ninguém vai convencer mais ninguém. Os argumentos estão se repetindo. Todo mundo vai ter de ceder um pouco”, disse Lula, após cinco horas de debates sem conclusão.

Anteontem, pressionada por Lula, a corrente majoritária Construindo um Novo Brasil (CNB) recuou e aceitou que a próxima direção seja eleita no 6.º Congresso Nacional por delegados e não eleições diretas. O Muda PT, que reúne as cinco maiores correntes de esquerda e a maioria da bancada petista na Câmara, defende a escolha da direção por delegados.

PSB e PSDB já disputam sucessão em SP

• Tucanos descartam apoiar candidatura de vice, Márcio França, em troca de aliança por Alckmin

Pedro Venceslau Erich Decat – O Estado de S. Paulo

/ BRASÍLIA - A dois anos da disputa presidencial de 2018, o PSDB paulista e o PSB, que ensaiam aliança para lançar Geraldo Alckmin ao Palácio do Planalto, já enfrentam a primeira crise. Tucanos reagiram à decisão de lideranças do PSB de condicionar o acordo com o governador ao apoio do PSDB a uma eventual candidatura de seu vice, Márcio França (PSB), ao Bandeirantes.

“Não existe a menor chance de o PSDB não lançar candidato próprio a governador em 2018. Eu garanto isso. A proposta do governador de Pernambuco está fora da realidade”, disse ao Estado o deputado estadual Pedro Tobias, presidente do Diretório Estadual do PSDB.

A insatisfação ganhou contorno público após o governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), dizer ao Estado que tem a “expectativa” de lançar França com apoio de Alckmin.

Para Eduardo Paes, Rio sofreu 'bullying político'

Italo Nogueira – Folha de S. Paulo

RIO - O prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), atribuiu parcialmente o fracasso de seu candidato à sucessão no cargo, Pedro Paulo (PMDB), ao "bullying político" sofrido pela cidade durante a crise no Estado.

"Teve um ano de bullying político com o Rio de Janeiro, de cobertura de mídia. [...] Quando tem o país em crise, violência, falha na prestação de serviço público, quem está no poder tende a perder popularidade", disse ele.

Apesar disso, ele diz não considerar o resultado da eleição um termômetro da avaliação de seu governo. Atribui a derrota também a erros de estratégias de marketing, que o excluiu da campanha, e à investigação contra Pedro Paulo por agressão à ex-mulher, arquivada no Supremo Tribunal Federal.

"Imaginava que, declarada a inocência dele, fossem entender que ele era vítima de uma acusação falsa."

Paes não quis comentar o desempenho de Pezão como governador, nem mesmo as acusações contra Cabral, seu principal padrinho para chegar à prefeitura em 2008.

Vendo como "caminho natural" uma candidatura ao governo do Estado, ele defendeu o PMDB como alternativa "num quadro político sem sentido como" o do Brasil.

"É um partido que permite uma certa liberdade de posições, opiniões. Não é vertical", diz.

Leia a entrevista

Pezão ameaça pedir intervenção federal no Rio

• Após bloqueio de R$ 140 milhões, governador reclamou com Temer

Pela Constituição, medida impediria Congresso de votar emendas do ajuste fiscal

Após a União bloquear R$ 140 milhões do estado, o governador Pezão ameaçou pedir intervenção federal no Rio, revela GERALDA DOCA. Irritado, ele ligou para o presidente Temer e a secretária do Tesouro Nacional, Ana Paula Vescovi. Temer prometeu buscar solução com o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. A intervenção não é cogitada pelo Planalto porque, pela Constituição, a medida inviabilizaria a votação de emendas constitucionais, como a que limita os gastos púbicos. Pezão busca também um plano B, depois de a Alerj devolver o projeto que eleva desconto de servidores para 30%.

Pezão ameaça fazer pedido de intervenção

• Governador procura Temer para reclamar de novo arresto da União em contas do estado

Geralda Doca e Ludmilla de Lima - O Globo

-RIO E BRASÍLIA - Irritado ao tomar conhecimento de um novo bloqueio de R$ 140 milhões da União nas contas do estado, o governador Luiz Fernando Pezão ameaçou ontem a secretária do Tesouro Nacional, Ana Paula Vescovi, de entrar com pedido oficial de intervenção federal no estado. A medida, embora precise ser aprovada pelo governo federal, tem consequências que não interessam ao governo Michel Temer, que tenta passar a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) dos gastos no Congresso. Pela Constituição, esse tipo de votação fica inviabilizada quando há um estado sob intervenção. O governador falou também com o próprio presidente Temer, que prometeu ter nova conversa com o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, para buscar uma alternativa para o Rio e outros estados com dificuldades financeiras.

Presidente diz que situação do Rio é ‘seríssima’ e que segurança preocupa

• Ministro da Defesa estaria empenhado em resolver problemas do estado

Catarina Alencastro e Eduardo Barretto - O Globo

-BRASÍLIA- O presidente Michel Temer reconheceu ontem que a situação do Rio é “seríssima” e que o ministro da Defesa, Raul Jungmann, está “preocupadíssimo” com a questão da segurança no estado. Durante reunião do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia, Temer fez uma defesa do ajuste fiscal que o governo federal pretende levar a cabo — com o teto dos gastos e a reforma da Previdência — e disse que não dá para gastar mais do que arrecada. Em seu discurso, o presidente voltou a dizer que herdou um governo em crise econômica. E reafirmou que não se importa de ser impopular, desde que consiga botar o Brasil “nos trilhos”.

Meirelles: ajuda a estados não pode prejudicar ajuste fiscal

• Segundo ministro, alternativa em estudo é securitização de dívidas

Bárbara Nascimento, Simone Iglesias – O Globo

-BRASÍLIA- O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, disse ontem que o governo estuda formas de ajudar os estados na crise fiscal por meio de medidas que não prejudiquem o ajuste das contas da União. Perguntado sobre a dificuldade de vários entes em realizar os pagamentos em dia, sobretudo do 13º salário, ele afirmou que, entre as opções levantadas pelos técnicos, estão, por exemplo, a viabilização da securitização da dívida e de outras receitas futuras.

— Nós estamos ajudando dentro da limitação de não prejudicar o ajuste fiscal. Isso é fundamental. Estamos olhando várias coisas, como a viabilização da securitização, de receitas futuras, etc. — disse o ministro.

Meirelles afirmou que não há um compromisso direto da Fazenda com os governadores de dividir com estados e municípios a arrecadação com uma eventual nova etapa do programa de repatriação de recursos no exterior.

A urgente reforma do Ensino Médio - Roberto Freire

- Blog do Noblat

Uma das questões mais graves que afligem o país e sobre a qual a sociedade brasileira deve se debruçar é a falência do nosso sistema educacional, sobretudo quando observamos o modelo do Ensino Médio nas escolas. Diante de tal desmantelo após 13 anos de gestões lulopetistas, o governo do presidente Michel Temer não fugiu à sua responsabilidade e teve a coragem de apresentar uma Medida Provisória que propõe a reforma desse importante segmento escolar, levando em consideração a urgência e a relevância da matéria. Não podemos mais perder tempo e cruzar os braços enquanto o futuro do Brasil fica seriamente comprometido.

Não faltam indicadores que apontam, de forma categórica, o quanto nossos jovens sofrem com a falta de qualidade e o descalabro da educação em geral. Dados do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2015 mostram que nada menos de 91% das 8.732 escolas públicas do país com notas divulgadas obtiveram um desempenho abaixo da média na avaliação nacional. Já o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) teve sua meta para o ano passado cumprida apenas nos anos iniciais do Ensino Fundamental (etapa que vai do 1º ao 5º ano), enquanto o Ensino Médio não alcança o índice mínimo estipulado desde 2013 e, para piorar, apresenta uma estagnação desde 2011.

A decisão crucial - Merval Pereira

- O Globo

O cheque de R$ 1 milhão depositado pelo PMDB na conta do então vice-presidente Michel Temer na campanha de 2014 está sendo tratado pela oposição como uma prova irrefutável de que ele também recebeu dinheiro desviado da Petrobras da empreiteira Andrade Gutierrez. Tornou-se um novo foco de desequilíbrio institucional.

É uma espécie de vingança dos advogados da ex-presidente Dilma Rousseff que, em vez de defendê-la, tentam incriminar o atual presidente. O ex-presidente da empreiteira Otávio Azevedo, em sua delação premiada, disse que deu ao PT uma doação de R$ 1 milhão proveniente de propina de obras, e o partido apresentou um cheque do mesmo valor depositado na conta do candidato a vice, como que dizendo que também ele se beneficiou de dinheiro ilegal no financiamento de campanha.

Um Trump brasileiro? - Eliane Cantanhêde

- O Estado de S. Paulo

• Quem achava impossível dar Trump agora corre para saber quem seria o 'Trump brasileiro'

A vitória de Donald Trump na maior potência mundial não só põe o mundo em suspenso, sem saber para onde estamos indo, como também deixa um rastro de erros de avaliação e uma penca de lições para pesquisas, analistas, acadêmicos e jornalistas. Além, claro, de mais uma vez colocar em xeque o sistema eleitoral norte-americano, que novamente elegeu para a Presidência o segundo colocado das urnas. A vitoriosa Hillary perdeu, o derrotado Trump ganhou.

O erro mais grave foi partir de uma premissa subjetiva: a de que a vitória de Trump seria um absurdo. Logo, a hipótese não existia. Lá se foi a racionalidade, que exige trabalhar os diferentes cenários, não só um. Foi correto criticar tudo o que tinha de ser criticado em Trump, mas foi errado ignorar as reais chances dele.

O fim dos tempos - Hélio Schwartsman

- Folha de S. Paulo

O fim dos tempos é anunciado com frequência superior àquela com que o mundo costuma acabar. É ruim que Donald Trump tenha sido eleito presidente dos EUA, mas é improvável que isso se reverta no colapso da civilização.

O principal problema com Trump, além da personalidade instável e das ideias bizarras, é a enorme dose de incerteza que ele traz consigo. Nós simplesmente não sabemos o que o futuro presidente fará depois que assumir o poder em janeiro próximo.

As ondas convergem, mas não se misturam - César Felício

- Valor Econômico

• Trump chega ao poder com poucas dívidas políticas

Donald Trump não será o chefe de Estado de estilo mais brutal que emergiu das urnas nos últimos tempos. Dificilmente superará as palavras e ações de Rodrigo Duterte, o apoiador de esquadrões da morte que governa as Filipinas, vencedor de eleições em julho. Trump mencionou a possibilidade de barrar a entrada de muçulmanos, Duterte a de comê-los vivos, em recado a uma corrente fundamentalista que age no país.

A interpretação de que o mundo caminha para uma única direção é tentadora, porque amparada em evidências que indicariam que há um processo que não começou com Trump e nem terminará com ele.

Solavanco Trump - Celso Ming

- O Estado de S. Paulo

O comportamento nervoso e volátil do mercado financeiro desta quinta-feira ainda não é consequência de mudanças na economia mundial. Refletiu apenas a expectativa do impacto Trump sobre a economia real dos Estados Unidos e do mundo que começará apenas a partir de janeiro quando da posse do novo governo americano.

Depois de uma quarta-feira relativamente inibida pela perplexidade produzida pela vitória de Donald Trump nas eleições dos Estados Unidos, os trancos provocados pela aflição dos senhores do dinheiro ficaram mais impressionantes nesta quinta-feira.

A percepção é a de que o futuro governo Trump vai mudar muita coisa na política econômica dos Estados Unidos e que essas mudanças produzirão solavancos sobre o resto do mundo.

Pezão e a crise do Rio - Míriam Leitão

- O Globo

O governador Luiz Fernando Pezão disse que 66% dos funcionários do estado têm direito a aposentadoria especial e poderão se aposentar com menos de 50 anos. “Eu não acho isso normal. Estou colocando essa discussão no Fórum dos Governadores, porque se não discutirmos a Previdência nenhum estado fica de pé”. O Rio não acessa o seu caixa desde o dia 28 porque um juiz bloqueou as contas.

Pezão recusa a palavra “confisco” para definir a sua ideia de cobrar 30% dos funcionários e dos inativos para a Previdência, mas evidentemente essa é a palavra para um percentual tão grande de desconto no salário. Depois da reação dos servidores, da Justiça, e a devolução do projeto pela Assembleia, o governador conta apenas com as outras propostas, entre elas a de elevar a alíquota da Previdência para 14%.

Os adultos do mundo – Ruy Castro

-Folha de S. Paulo

Durante o século 20, quem quer que tenha sido exposto ao cinema americano foi ensinado a acreditar que os EUA eram os adultos do mundo. Os americanos também foram ensinados a acreditar nisso. Na maioria de seus filmes, sempre havia um personagem encarregado de usar sua indiscutível firmeza moral para impor a lei, a justiça e a ordem — não apenas no seu próprio quintal, mas nos outros em que aquela qualidade estivesse em falta.

Em "Casablanca" (1942), Humphey Bogart abre mão da mulher de sua vida, Ingrid Bergman, porque, naquele momento, ela "pertence" ao marido. Em "Matar ou Morrer" (1952), Gary Cooper defende sozinho uma cidade contra a covardia de seus próprios cidadãos. Em "Julgamento em Nuremberg" (1961), Spencer Tracy, o juiz que preside o processo dos nazistas acusados de crimes de guerra, pondera sobre se é possível julgar um indivíduo, um governo ou uma nação. Nestes, e em milhares de outros filmes, o americano é o homem mais justo, sensato, equilibrado – adulto.

Por um punhado de reais – Nelson Motta

- O Globo

• Por gostar de levar vantagem em tudo, preferia o triplex como um agrado dos amigos da Odebrecht

O tempo passa e mostra que a “Lei de Gérson”, a compulsão por levar vantagem em tudo, é um dos vícios mais arraigados e nefastos da cultura política brasileira. É a raiz da derrocada de Lula. Se tivesse apenas comprado o triplex do Guarujá como qualquer mortal, pagando pela reforma, elevador e cozinha, não teria nenhum problema. Com certeza, tinha rendimentos que davam de sobra. Mas não, por gostar de levar vantagem em tudo, preferia receber o triplex como um agrado dos seus amigos da Odebrecht, por ter sido tão amigo deles.

Reforma partidária dá a largada – Editorial /O Estado de S. Paulo

O Senado Federal aprovou em primeiro turno, na quarta-feira passada, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que trata da reforma partidária. É “uma resposta à sociedade brasileira, que não pode mais conviver com 35 partidos políticos registrados e mais 30 partidos com solicitação de regularização no Tribunal Superior Eleitoral (TSE)”, nas palavras de um dos autores da proposta, o senador Aécio Neves, presidente nacional do PSDB. A PEC estabelece, entre outros dispositivos, a chamada cláusula de barreira, ou de desempenho, para que os partidos tenham direito de acesso aos recursos do Fundo Partidário e à programação eleitoral na mídia eletrônica. Para ter esse acesso, em 2018 os partidos terão que conquistar pelo menos 2% dos votos válidos em 14 unidades da Federação. A partir de 2022 o porcentual será de 3%. Ficam proibidas, a partir de 2020, as coligações nas eleições proporcionais.

Perspectiva de inflação e juros em alta agita os mercados – Editorial/Valor Econômico

Donald Trump colocou no radar dos mercados financeiros globais uma preocupação que havia desaparecido nos últimos oito anos e que continuava submersa no futuro próximo: inflação. Sua inesperada vitória trouxe à tona suas promessas eleitorais de estímulos fiscais e um amplo programa de gastos de infraestrutura, de US$ 1 trilhão em uma década, reiterado em discurso da vitória. Acompanhadas de suas críticas à política monetária cautelosa do Federal Reserve, compõem um quadro de mais déficit fiscal, mais crescimento (no curto prazo) e mais inflação. No parco programa exibido por Trump na campanha eleitoral, esses pontos formaram um núcleo constante e tudo indica que ele buscará executá-los. Os efeitos prováveis dessas intenções sacudiram os mercados ontem.

Capítulo de incertezas – Editorial/Folha de S. Paulo

Coerência nunca foi o forte de Donald Trump. Durante a disputa pela Presidência dos Estados Unidos, o republicano se contradisse diversas vezes sem o menor pudor, como se a incerteza provocada pelo comportamento errático não constituísse um problema para candidatos à chefia do Executivo.

Seria imprudente, portanto, traçar um prognóstico detalhado das iniciativas na área da economia, mas já se podem entrever algumas de suas linhas de ação —e elas sugerem mudanças expressivas, especialmente porque seu partido obteve a maioria em ambas as Casas do Legislativo.

A plataforma apresentada na campanha divide-se em duas frentes principais. Primeiro, uma visão antiglobalização e nativista, com intenção de reavaliar acordos comerciais e limitar a imigração.

Político ainda não percebe a profundidade da crise – Editorial/O Globo

• Em alegada defesa do servidor, parlamentares não apoiam ajuste fiscal, e assim a economia não cresce, recolhe menos impostos e o funcionalismo é prejudicado

É inerente ao político em geral uma enorme dificuldade de economizar o dinheiro do contribuinte, considerado por ele “sem dono”, portanto ao seu dispor. Mas não se vive uma crise qualquer no Brasil. Abate-se sobre o país uma tempestade perfeita — recessão, inflação (em retrocesso, porém ainda elevada), desemprego e um setor público quebrado. Não seria pedir muito à classe política que caísse em si e recuasse no ímpeto com que se comporta como se os cofres públicos já não estivessem vazios e cada vez mais endividados.

Poema dialético – Murilo Mendes

I
Todas as coisas ainda se encontram em esboço
Tudo vive em transformação
Mas o universo marcha
Para a arquitetura perfeita.
Retiremos das árvores profanas
A vasta lira antiga.
Sua secreta música
Pertence ao ouvido e ao coração de todos.
Cada novo poeta que nasce
Acrescenta-lhe uma corda.

II
Uma vida iniciada há mil anos atrás
Pode ter seu complemento e plenitude
Numa outra vida que floresce agora.

Nada poderá se interromper
Sem quebrar a unidade.

Um germe foi criado no princípio
Para que se desdobre em plenos múltiplos.
Nossos suspiros, nossos anseios, nossas dores
São gravados no campo do infinito
Pelo espírito sereníssimo que preside às gerações.

III
A muitos só lhes resta o inferno.
Que lhes coube na monstruosa partilha da vida
Senão um desespero sem nobreza, e a peste da alma?
Nunca ouviram a música nascer do farfalhar das árvores,
Nem assistiram à contínua anunciação
E ao contínuo parto das belas formas.
Nunca puderam ver a noite chegar sem elementos de terror.
Caminham conduzindo o castigo e a sombra de seus atos.
Comeram o pó e beberam o próprio suor.
Não se banharam no regato livre...

Entretanto, a transfiguração precede a morte.
Cada um deve realiza-la na sua carne e no seu espírito
Para que a alegria seja completa e definitiva.

IV
É necessário conhecer seu próprio abismo
E polir incessantemente o candelabro que o esclarece.

Tudo no universo marcha, e marcha para esperar:
Nossa existência é uma vasta expectação
Onde se tocam o princípio e o fim.
A terra terá que ser retalhada entre todos
E restituída um dia à sua antiga harmonia.
Tudo marcha para a arquitetura perfeita.
A aurora é coletiva.