domingo, 13 de novembro de 2016

Opinião do dia – Roberto Freire

Assim como a tese do “golpe” havia sido enterrada, a narrativa da “onda conservadora” foi desmentida pelo resultado das eleições. Basta analisar o desempenho das forças políticas vitoriosas. Mesmo que algumas tenham contradições internas, nenhuma delas se confunde com a direita nacional. Todas estão no campo democrático e, em especial, honrando a esquerda democrática brasileira.

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Roberto Freire é deputado federal e presidente nacional do PPS. ‘Sem onda conservadora’, O Globo, 10/11/2016

Em seis meses de governo Temer, Planalto destaca vitórias no Congresso

• Em rede social, governo fala de ações que teriam provocado efeitos positivos na economia, entre elas, a PEC do Teto

Thaís Barcellos - O Estado de S. Paulo

O Palácio do Planalto divulgou uma nota em sua página oficial neste sábado, 12, para destacar as ações dos seis primeiros meses de mandato do presidente Michel Temer, completados hoje. Nas redes sociais do Planalto e de Temer, também foi publicado um vídeo.

Temer assumiu interinamente o País em 12 de maio, quando o Senado aceitou o processo de impeachment contra a presidente cassada Dilma Rousseff. Depois, com o afastamento definitivo da petista, em 31 de agosto, ele foi efetivado no cargo.

Delação da Odebrecht vai dobrar ações da Lava Jato

• Colaboração. Na avaliação de pessoas com acesso às negociações, revelações de executivos vão ampliar apurações para áreas como petroquímica, saneamento e defesa

Ricardo Brandt, Fausto Macedo – O Estado de S. Paulo

/ CURITIBA - Em fase de conclusão com a Procuradoria-Geral da República (PGR), a delação premiada de executivos da Odebrecht vai ampliar significativamente o volume de trabalho da Operação Lava Jato. A avaliação é de investigadores, advogados e profissionais com acesso às negociações com a empreiteira. Eles estimam que o número de inquéritos, agentes e empresas sob suspeita, além de valores desviados, mais que dobre em relação aos apresentados até agora.

Em 2 anos e 8 meses de investigações da força-tarefa, foram 250 denunciados em 54 ações penais, dos quais 82 já condenados a mais de mil anos de prisão, e R$ 6,4 bilhões de propina identificados no esquema de formação de cartel, desvios e corrupção na Petrobrás.

Ações da Lava-Jato sob ameaça

A Operação Lava-Jato e outras grandes investigações relacionadas a fraudes, contravenção e tráfico de drogas correm o risco de ser afetadas por julgamento do STF sobre a validade de escutas telefônicas superiores a 30 dias, mesmo quando autorizadas pela Justiça.

Investigações ameaçadas

• Limitação a escutas, a ser julgada pelo Supremo, pode afetar operações como a Lava-Jato

André de Souza e Manoel Ventura - O Globo

BRASÍLIA - Em 17 de março de 2014, os brasileiros foram apresentados à Lava-Jato. Inicialmente focada numa rede de doleiros, ela viria a se tornar a maior operação de combate à corrupção no país. Anos antes, em maio de 2005, dois policiais civis se reuniam num restaurante em Aparecida do Norte, no interior de São Paulo, para extorquir guias que organizavam viagens ao Paraguai com o objetivo de trazer muamba. Embora bem diferentes, tanto no porte como na repercussão que tiveram, as duas investigações têm algo em comum. Ambas poderão ser afetadas por um julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF), ainda sem data marcada, que discutirá a validade de escutas telefônicas com duração superior a 30 dias, mesmo quando autorizadas pela Justiça.

PF investiga se Odebrecht fez reforma de piscina para Lula

Bela Megale, Marina Dias – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - A Polícia Federal investiga suspeitas de que a Odebrecht fez uma reforma na piscina do Palácio da Alvorada durante o segundo mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sem ter contrato com o governo e sem que a obra tivesse registro público.

Indícios de que isso ocorreu foram encontrados após análise de mensagens trocadas em 2008 pelo então presidente da empresa, Marcelo Odebrecht, com outros executivos investigados por causa de seu envolvimento com o esquema de corrupção revelado pela Operação Lava Jato.

A nova frente de investigação pode reforçar as acusações da Lava Jato contra o ex-presidente Lula. O petista responde a três inquéritos, que investigam favores e pagamentos que ele recebeu de empreiteiras como a Odebrecht após deixar o governo.

Partidos de esquerda não se entendem sobre frente eleitoral

• Principal divergência é nome do candidato a presidente em 2018

Fernanda Krakovics - O Globo

Partidos de esquerda discutem a transformação da Frente Brasil Popular, criada durante o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff e composta também por movimentos sociais e centrais sindicais, em uma frente eleitoral para as eleições de 2018. O principal empecilho é definir um nome de consenso para disputar a presidência da República.

Integrantes da corrente majoritária do PT, a Construindo um Novo Brasil (CNB), dizem que o nome natural é o do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mesmo com as investigações da operação Lava-Jato. Já o PDT não abre mão da candidatura do ex-ministro e ex-governador do Ceará Ciro Gomes. Principal liderança da esquerda petista, o ex-governador do Rio Grande do Sul Tarso Genro propõe a realização de prévias.

Alckmin sai de eleição fortalecido para 2018, diz Richa

Catia Seabra – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - "Alckmin sai fortalecido, sim, como pré-candidato. Todo o Brasil, em especial o PSDB inteiro, está de olho no que aconteceu em São Paulo. A força do PSDB está aqui

O governador do Paraná, Beto Richa (PSDB), diz acreditar que o governador tucano Geraldo Alckmin (SP) se fortaleceu como candidato à Presidência em 2018 após a disputa municipal.

Embora não descarte o nome do rival interno do paulista na disputa, o senador Aécio Neves (MG), Richa ressalta que "a força do PSDB" está em São Paulo.

Na manhã de quinta-feira (10), hospedado no mesmo hotel em São Paulo onde se reunia o comando do PT, Richa disse à Folha que o modelo petista "está vencido".

• Folha - O Xico Graziano lançou o movimento "Volta, FHC".
Beto Richa - FHC merece nossas homenagens. Passou por um período difícil após deixar a Presidência. A política é ingrata. O sujeito sai desgastado depois de dois mandatos. Depois, a justiça é feita. É um gesto mais simbólico. FHC é bom conselheiro.

Temer: ‘Parece que a luz se acendeu no horizonte’

• Planalto divulga nota e vídeo com um balanço de seis meses de gestão

- O Globo

O Planalto divulgou ontem um balanço de seis meses de governo Michel Temer só com as principais ações positivas do peemedebista. Temer assumiu a Presidência em 12 de maio, após o impeachment de Dilma Rousseff. Uma nota e um vídeo no site do governo lembram os feitos mais importantes dos primeiros meses, sem mencionar recuos ou a queda de ministros no início da gestão.

Planalto: nomes de consenso para evitar racha

• De olho em disputas na base, Temer busca aliados para presidir Câmara e Senado; governo já atua no bastidor

Júnia Gama, Leticia Fernandes e Simone Iglesias - O Globo

BRASÍLIA - O Palácio do Planalto está de olho na sucessão para as presidências da Câmara e do Senado, que ocorrerá em 1º de fevereiro de 2017, onde quer ter aliados no comando para o próximo biênio, que serão também os últimos dois anos do governo Michel Temer. Além de assegurar que terá presidentes afinados com o governo em ambas as Casas, há uma preocupação em não provocar rachas na base por conta da disputa. A estratégia é repetir a fórmula usada durante a eleição do atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), quando Eduardo Cunha renunciou ao cargo, em julho: não interferir diretamente, a não ser para apoiar um candidato da base contra um da oposição, mas movimentar peças nos bastidores para garantir seus objetivos.

Crise do Rio abala a rotina de quem mais precisa dos serviços públicos

Lucas Vettorazzo, Luiza Franco e Nicola Pamplona – Folha de S. Paulo

RIO - "Paguei o aluguel, luz e água e só sobraram R$ 50 na carteira. Não vou poder fazer uma compra para os meus filhos", diz a desempregada Veridiana Viana Fonseca, 45.

Ela é uma das cerca de 10 mil beneficiadas com o programa Aluguel Social, que atende a desabrigados por tragédias no Rio e, antes mesmo de ser extinto, já vem atrasando os repasses.

Fonseca perdeu sua casa, na comunidade da Garganta, em Niterói, nas chuvas que deixaram centenas de mortos no Rio em 2010. Desde então, ela aguarda um dos apartamentos do Minha Casa, Minha Vida prometidos pelo governo aos desabrigados.

Como na Grécia - Merval Pereira

- O Globo

Estamos chegando a um ponto crítico que nos aproxima da Grécia A ressalva do governador do Rio de que a União só poderá ajudar os governos em dificuldades financeiras se fizer ele mesmo seu ajuste fiscal, iniciado com o pacote de teto de gastos, é uma demonstração de que estamos chegando num ponto crítico que nos aproxima mais da Grécia, que quebrou antes de iniciar seu programa de ajustes para continuar na União Europeia, do que dos poucos países que já conseguiram sair da crise que o mundo enfrenta desde 2008.

A“marolinha” prevista pelo ex-presidente Lula transformou-se em um tsunami, e não apenas pelos efeitos da crise internacional. Ao contrário, nós conseguimos piorar as coisas com nossas mazelas internas, potencializando uma crise que originalmente já era muito difícil de enfrentar.

O tempo histórico - Eliane Cantanhêde

- O Estado de S. Paulo

• A história é feita de ondas e a esquerda e o PT não morreram

Uma geração inteira viu, e sentiu, três vezes, a queda do Muro de Berlim: o fim do comunismo e de seus mitos, a realidade surpreendente de ídolos como Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir e, agora, os votos pró-Brexit, contra o acordo de paz na Colômbia e alçando Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, com tudo o que ele representa.

O comunismo, que foi significado de igualdade e justiça para intelectuais, trabalhadores e jovens do mundo todo, deixou um saldo de milhões de assassinatos e um rastro de miséria, atraso e corrupção. A travessia da Berlim Oriental para a Ocidental logo após a queda do Muro foi uma experiência demolidora – e educativa.

Ocaso da ideia-força - Luiz Carlos Azedo

- Correio Braziliense

• Ao subordinar toda a construção política ao “labor”, o “socialismo real” derivou inexoravelmente para o autoritarismo

Quando, em 27 de janeiro de 1945 ,as tropas do Exército Vermelho libertaram os sobreviventes dos campos de extermínio de Auschwitz e Birkenau, revelando ao mundo os horrores do holocausto – muito mais do que a heroica vitória de Stalingrado –, o fascínio do marxismo entre os intelectuais ganhou uma nova aura humanista. A Revolução de Outubro (que no próximo ano completará 100 anos, no dia 7 de novembro), tornara-se uma ideia-força no Ocidente, o que possibilitou o surgimento de grandes partidos comunistas, além de legitimar a ocupação soviética dos países do Leste europeu.

Nem mesmo o relatório de Nikita Kruschov, no XX Congresso do PCUS, em fevereiro de 1956, ao revelar os crimes de Josef Stálin, abalou a fé quase religiosa de que o mundo caminhava para o socialismo. A primeira rachadura política só viria com a invasão da Hungria, em outubro do mesmo ano. Foi preciso o fim da Primavera de Praga, com a invasão da antiga Tchecoslováquia pelo Pacto de Varsóvia, em 1968, para que a ficha caísse: o “socialismo real” havia perdido sua força transformadora e se tornara um regime autoritário e burocrático.

Fim do comunismo gerou vazio ideológico que precisa ser preenchido – Ferreira Gullar

- Folha de S. Paulo

O "Manifesto Comunista", escrito por Karl Marx e Friedrich Engels em 1848, deu início a uma visão crítica do regime capitalista. Assim, mudaria a história humana, para o bem e para o mal, durante o último século e meio.

Para o bem porque pôs à mostra a exploração do trabalho humano, posta em prática pelo capitalismo; para o mal, porque, em nome de uma suposta igualdade, criou um regime autoritário e às vezes cruel.

É verdade, porém, que o regime soviético, por excluir de si a exploração capitalista, acendeu no espírito dos que a repeliam uma utopia que, ali, conforme acreditavam, começava a realizar-se.

A morte de Lênin e a ascensão de Stálin tornaram o regime soviético mais sectário e repressivo, levando à divisão da intelectualidade ocidental de esquerda, quando uma parte dela se tornou trotskista.

Na corda bamba - Dora Kramer

- O Estado de S. Paulo

• Presidência da Câmara pode levar PSDB a sair da base de apoio a Temer

Quem ouvir o senador Aécio Neves dizer que o PSDB apoiará o deputado Rodrigo Maia caso ele encontre uma brecha no regimento que o permita concorrer à reeleição na presidência da Câmara, pode ter certeza: é conversa de mineiro. Há em Brasília quem jure ter ouvido isso de Aécio, mas há muito mais gente achando que se o senador disse isso é porque ou tem absoluta segurança de que Rodrigo não terá base legal para disputar ou quis levar deliberadamente o interlocutor ao erro.

Verdade ou boato, fato é que os tucanos não só não cogitam desistir de presidir a Câmara a partir de 1.º de fevereiro do ano que vem como esperam que o PMDB cumpra o acordo feito durante o processo de impeachment de Dilma Rousseff, e apoie o nome de um tucano. Não um apoio qualquer. Esperam empenho firme e forte engajamento dos pemedebistas para a construção de uma candidatura de consenso na base governista.

Trump e a curva do Rio - Fernando Gabeira

- O Globo

EUA e Rio mostram como o mundo pirou. O mundo não acabou, apenas ficou mais louco. Esta frase, de um dirigente alemão, é precisamente o que penso depois da vitória de Donald Trump. Mas, às vezes, sou tentado a revê-la quando olho o Rio de Janeiro, lugar onde moro, ameaçado pelo caos e pela anarquia. Todos se lembram do Brexit, o rompimento da Inglaterra com a comunidade europeia. Também ali, imprensa e pesquisa foram traídos pelas circunstâncias. Esperavam um resultado que não veio.

Oque há de comum nas supresas de Trump e do Brexit é a confiança na racionalidade inevitável da globalização. O filósofo John Gray escreveu muitas vezes sobre o tema. Para ele, o comunismo internacional e a expansão planetária do livre comércio são duas utopias nascidas do Iluminismo. Discordo apenas num detalhe: o livre comércio não se impõe à força, ninguém é obrigado a tomar Coca-Cola ou comprar tênis Nike.

O preço da perversidade - José de Souza Martins

• Tanto nos EUA do presidente eleito Trump como no Brasil das últimas eleições, as urnas têm rechaçado o capitalismo da caridade iníqua e da pobreza conveniente, diz sociólogo

O Estado de S. Paulo / Aliás

Um conjunto relativamente extenso de questões está vinculado à inesperada eleição do republicano Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, derrotando no colégio eleitoral Hillary Clinton, democrata, que teve a maioria dos votos populares. Questões relativas ao fato de que estas eleições americanas representaram o ápice de um processo político mundial de redefinição da própria política, de anulação dos sujeitos tradicionais e típicos da concepção de política inaugurada com a Revolução Francesa, da própria concepção de povo. As transformações neste episódio não dizem respeito apenas à sociedade americana e ao capitalismo que ela representa e centraliza.

Nova era de fechamento dos mercados pode estar a caminho - Samuel Pessôa

- Folha de S. Paulo

A primeira Guerra Mundial, iniciada em outubro de 1914, deu fim a longo período de globalização no mundo, liderada pelo poder de polícia sobre os mares da Inglaterra e por várias mudanças técnicas, como o telégrafo e o navio de metal a vapor. Esses fatores impulsionaram o desenvolvimento de diversas periferias: Sudeste brasileiro, Argentina, Chile, Austrália e Nova Zelândia, além das economias americana e canadense. As periferias exportavam bens primários e importavam bens manufaturados da Europa.

Em seguida à Primeira Guerra, houve seis décadas de fechamento das economias. Em meados dos anos 1970, inicia-se a segunda globalização pós-Revolução Industrial.

Pezão sabe como comeram o coelho – Elio Gaspari

- O Globo

Do palacete dos Guinle, Pezão administra a ruína do Rio de Janeiro Maria Antonieta, coitada, nunca mandou que na falta de pão os parisienses comessem brioches. Muito melhor fez o governador Luiz Fernando Pezão, do Rio de Janeiro: provocou o fechamento de restaurantes populares que serviam pratos de comida aR$2, quer cortar o aluguel social que ampara milhares de famílias de desabrigados e mudou-se do seu apartamento no Leblon para o Palácio Laranjeiras, onde será servido pela criadagem da mansão.

Pezão administrará a ruína do andar de baixo no luxo do andar de cima. Governa um estado falido e vai morar num palacete francês construído no inicio do século passado para alegrar o magnata Eduardo Guinle. A casa tem um momento de humor na estátua de um nu feminino exposto no terraço, com o traseiro voltado para o olhar do castelão. Quando os Guinle precisaram de dinheiro, passaram a propriedade ao governo federal que mais tarde entregou-a ao Estado do Rio. Foi no Laranjeiras que senhores de terno e gravata praticaram na biblioteca a indecência jurídica da edição do Ato Institucional nº 5. Sob a administração do Estado do Rio, senhores sem terno, gravata ou fosse lá o que fosse, divertiam-se na sala de jantar. Em todos os casos as contas foram para os contribuintes.

Problemas internos são muito piores que Trump - Rolf Kuntz

- O Estado de S. Paulo

• Mesmo sem barreiras no exterior o Brasil já tem um poder de competição muito baixo

A primeira disputa entre o governo brasileiro e a administração do recém-eleito Donald Trump já está armada. Brasília começou na semana passada uma ação contra a nova barreira erguida nos Estados Unidos contra o aço fabricado no Brasil. A iniciativa foi do presidente Barack Obama, em mais uma tentativa de socorrer a enfraquecida siderurgia americana. O assunto ficará para o republicano, um autoproclamado protecionista. Se ele for fiel às promessas de campanha, poderá ir muito além de seu antecessor na criação de entraves ao comércio. Como candidato, anunciou até a disposição de rever acordos e de confrontar o sistema internacional de regras comerciais. Todos têm motivos para preocupação, mas no caso brasileiro é necessária uma ressalva. Barreiras no exterior são sempre ruins, ninguém pode negar, mas os principais obstáculos ao sucesso comercial das empresas brasileiras estão mesmo dentro do País.

Tempo sombrio - Míriam Leitão

- O Globo

Temores se confirmaram no grupo de transição. Entramos em um momento sombrio da humanidade. As palavras amenas ditas por Donald Trump não indicam moderação. São só a natural defesa da união em torno dele. Trump já nomeou pessoas do lobby do petróleo para a transição na energia e no meio ambiente e avisou que vai acabar com o programa de saúde de Obama. Ele não tem poder para fazer tudo o que disse, mas o que fizer será estrago suficiente.

Nestes primeiros dias pós-eleição, Trump tem usado palavras suaves em relação aos ex-adversários na campanha — elogiou Hillary e disse que pode pedir conselhos a Obama — mas tem feito escolhas que confirmam os piores temores sobre ele. Parte das ofensas que espalhou contra diversos grupos era estratégia de marketing copiada dos reality shows nos quais quem grita e ataca mais captura mais atenção. Mas além das frases bizarras, ele defendeu políticas que concretamente representam retrocesso. Nem todas são exequíveis, mas até a tentativa já fará estrago.

Ironias de Temer – Editorial/Folha de S. Paulo

Reconhecido, até por seus adversários, como político habilidoso e de trato gentil, o presidente Michel Temer (PMDB) deu mostras de incorrer, por vezes, nos equívocos da autossuficiência e do desdém.

Há menos de um mês, celebrando com uma plateia de empresários a sanção de um projeto que amplia o prazo para o pagamento de dívidas tributárias, referiu-se jocosamente aos que, fora do palácio, protestavam contra a flexibilização de direitos trabalhistas.

Eles "aplaudem este grande momento do governo federal", sorriu Temer, sugerindo aos empresários que contratassem os manifestantes ao final do evento. "Se não têm emprego, quem sabe arrumam", arrematou.

Antagonismo impatriótico – Editorial/O Estado de S. Paulo

Na casa em que falta vergonha, todo mundo reclama e ninguém tem razão. Essa pequena adaptação do conhecido adágio compromete a rima, mas aplica-se perfeitamente ao cenário nacional em que, para resumir, figuras notórias como Renan Calheiros de um lado e magistrados e suas associações de outro se engalfinham numa disputa em torno de interesses que, fossem outros os tempos, seriam publicamente inconfessáveis. De um lado, o presidente do Senado Federal, comprometido até a medula com as suspeitas de corrupção contidas em uma dezena de processos que tramitam a passo descansado na Suprema Corte, proclama ser “um acinte que o Brasil continue a conviver” com os proventos nababescos, muito acima do teto constitucional, de que se beneficiam ministros, desembargadores e juízes em geral. De outro lado, a Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), por intermédio de seu presidente, João Ricardo dos Santos, reage levando o confronto para o campo que lhe interessa, ao denunciar a intenção, por parte de parlamentares, de “interromper a Lava Jato”.

Crise fiscal ganha ares de tragédia grega – Editorial/O Globo

• Embora por caminhos diferentes e em momentos distintos, Brasil e Grécia chegaram ao mesmo ponto em que o Tesouro quebra e falta dinheiro para tudo

É muito provável que brasileiros, ao verem, em 2015, as cenas de gregos em filas à frente de caixas eletrônicos sem dinheiro, imagens de aposentados em Atenas durante protestos contra cortes nos benefícios, ao lado de servidores públicos com salários atrasados, tenham se sentido aliviados porque aqueles dramas aconteciam muito distante do Brasil. Quase do outro lado do mundo.

Mas, na verdade, encontravam-se, àquela altura, bastante próximos, à medida que a crise fiscal semeada pelo governo Lula/Dilma consolidava no subsolo da economia as condições — já visíveis há algum tempo por analistas — para uma grave crise fiscal. Algo no padrão grego daqueles dias, infelizmente. No fim do ano, o pedido de abertura de processo de impeachment contra Dilma seria aceito na Câmara, por Eduardo Cunha. A eclosão da crise prevista na campanha eleitoral de 2014 — a imprensa profissional começara a tratar do assunto antes —e o impeachment da presidente foram o desfecho de tudo.

Obsessão do Mar Oceano – Mario Quintana

Vou andando feliz pelas ruas sem nome…
Que vento bom sopra do Mar Oceano!
Meu amor eu nem sei como se chama,
Nem sei se é muito longe o Mar Oceano…
Mas há vasos cobertos de conchinhas
Sobre as mesas… e moças na janelas
Com brincos e pulseiras de coral…
Búzios calçando portas… caravelas
Sonhando imóveis sobre velhos pianos…
Nisto,
Na vitrina do bric o teu sorriso, Antínous,
E eu me lembrei do pobre imperador Adriano,
De su’alma perdida e vaga na neblina…
Mas como sopra o vento sobre o Mar Oceano!
Se eu morresse amanhã, só deixaria, só,
Uma caixa de música
Uma bússola
Um mapa figurado
Uns poemas cheios de beleza única
De estarem inconclusos…
Mas como sopra o vento nestas ruas de outono!
E eu nem sei, eu nem sei como te chamas…
Mas nos encontramos sobre o Mar Oceano,
Quando eu também já não tiver mais nome.