quinta-feira, 6 de abril de 2017

Após Renan ‘esticar a corda’, PMDB reage

Senadores da bancada reclamam que líder está usando interesses pessoais como se fossem do partido

Maria Lima | O Globo

-BRASÍLIA- Bem que a anfitriã, a ex-ministra dilmista Kátia Abreu (PMDB-TO), se esforçou para convencer os governistas da bancada do PMDB no Senado que o jantar em sua casa, que entrou pela madrugada de quarta-feira, não seria uma reunião dos rebelados aliados do líder Renan Calheiros (AL) para conspirar contra o governo Michel Temer. Renan, que na tarde de terça-feira atacara duramente o governo e dissera ter afinidade com o ex-presidente Lula, não perdeu a oportunidade de continuar com o discurso provocativo nas mesas por onde se sentou. Mas já no jantar, e ontem ao longo do dia, senadores do PMDB começaram a reclamar com ele que seus problemas eleitorais de Alagoas não poderiam ser levados para dentro da bancada.

Durante o jantar, embalados por Renan, investigado na Lava-Jato e citado na primeira e na segunda Lista de Janot, alguns senadores não pouparam críticas à política econômica e às reformas de Temer. Em uma das mesas, o líder do PMDB fez comparação do que chama de “falta de rumo” do governo Temer com o “desgoverno” da presidente cassada Dilma Rousseff. Disse que a diferença é que Dilma não sabia para onde ir, e Temer não tem para onde ir. Ontem à tarde, ele repetiu a mesma comparação, no microfone do plenário, o que levou a uma acirrada discussão com alguns senadores do partido.

— Eu fiz uma manifestação a partir da minha percepção e pela convivência que tive com os dois (Temer e Dilma). — disse Renan.

A senadora Rose de Freitas (PMDBES) foi tirar satisfação.

— Do meu gabinete eu vi o discurso do Renan e desci para o plenário como uma flecha e perguntei: Como assim Renan? Você está falando isso como líder? Você sabe o que eu penso sobre isso? — questionou Rose de Freitas.

Ao ouvir a discussão, no plenário, Kátia Abreu saiu em defesa de Renan:

— Você tem que entender o problema dele em Alagoas — disse Kátia.

Presente ao jantar, o senador Raimundo Lira (PMDB-PB) foi outro que fez questão de ressaltar a diferença entre as posições de Renan e as da maioria da bancada. Lira disse que as manifestações do senador contrariando a orientação do governo são pessoais.

— A bancada está fora disso. Respeitamos, mas a grande maioria não concorda com seu posicionamento pessoal — disse Lira.

A mesma posição foi manifestada pela senadora Simone Tebet (PMDBMS). Ela disse que preferiu não ir ao jantar de Renan e Kátia porque já sabia o que sairia de lá.

— Achei que não deveria ir. Não podemos esquecer que somos governo. Lógico que não estamos aqui para ser vaquinhas de presépio. Tanto é que estamos melhorando muito a reforma da Previdência, para ser uma reforma boa. Mas não concordamos com crítica de palanque para resolver problemas pessoais — disse Simone Tebet.

‘O PMDB SABE ATÉ ONDE ESTICA A CORDA’
Fazendo o contraponto com Renan, o presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), não compareceu ao jantar. Dos 22 senadores da bancada, só 12 foram ao encontro promovido por Kátia e Renan. Mas o time de Renan foi reforçado pelo ex-presidente José Sarney e pela filha Roseana Sarney. Jader Barbalho (PMDB-PA) foi acompanhado do filho Hélder Barbalho, ministro da Integração Regional. Para tentar acalmar Renan, também foi ao jantar o ministro do Planejamento, Dyogo Oliveira. O líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR), também compareceu. Mas não entrou em confronto com Renan.

À noite, Eunício Oliveira tentou minimizar a crise entre Renan Calheiros e o Palácio do Planalto.

— O PMDB sabe até onde estica a corda. Antes de arrebentar, ele solta. O PMDB está acostumado com a divergência — afirmou.

O senador Roberto Requião (PMDB-PR), presente ao encontro da noite de terça-feira, acusou ontem à tarde o governo de impor à base uma “suicídio coletivo” à la Jim Jones, pastor que comandou um massacre que matou 918 pessoas em 1979 no território da Guiana. A maioria dos mortos bebeu, a mando do pastor, fundador de uma seita pentecostal cristã de orientação socialista, veneno misturado a um ponche de frutas. (Colaborou Leticia Fernandes)

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