quinta-feira, 11 de maio de 2017

Interesse por triplex era de Marisa, diz Lula a Moro

‘Certamente queria o apartamento pra fazer investimento’, diz Lula sobre Marisa e o interesse pelo triplex do Guarujá

Interrogado pelo juiz Moro, ex-presidente admitiu ter visitado o imóvel em 2014 com a ex-primeira dama e o empreiteiro Léo Pinheiro, da OAS

Ricardo Brandt, Julia Affonso, Bruno Ribeiro e Luiz Vassallo | O Estado de S. Paulo

O ex-presidente Lula admitiu em interrogatório do juiz Sérgio Moro nesta quarta-feira, 10, que esteve em 2014 no apartamento triplex do Guarujá acompanhado de sua mulher, a ex-primeira dama Marisa Letícia (morta em fevereiro deste ano), e do empreiteiro Léo Pinheiro.

Lula atribuiu à Marisa interesse pelo imóvel, ‘certamente para fazer investimento’, mas afirmou que não fez a compra. Segundo o ex-presidente, Marisa ‘não gostava de praia’ e ele próprio havia identificado ‘quinhentos’ defeitos no apartamento.

Moro questionou Lula se Marisa havia relatado a ele sobre a reforma do tríplex pela OAS.

“Ela disse que não tinha gostado do apartamento mais uma vez e como eu tinha insistido para ela que ela não gostava de praia e que eu gostava, sabe, mas que era inadequado para mim, eu acho que ela tomou a decisão de não comprar”, declarou.

Lula atribui a Marisa decisões sobre tríplex e confirma reunião com Duque

‘Não solicitei, não recebi e não paguei (o imóvel)’

Ex-presidente diz que não soube de propinas

Petista afirma ser vítima de perseguição

Réu em cinco processos, o ex-presidente Lula depôs ontem pela primeira vez ao juiz Sergio Moro, da Lava-Jato, e negou as acusações de que teria recebido propina da OAS na forma de reserva do tríplex no Guarujá. O petista atribuiu à mulher, dona Marisa, morta em fevereiro, o interesse e as decisões sobre o imóvel. No depoimento de mais de cinco horas no processo do tríplex, Lula também negou ter tido conhecimento de corrupção na Petrobras, mas admitiu ter se encontrado com o ex-diretor da estatal Renato Duque e perguntado se ele tinha contas no exterior. O ex-presidente afirmou ter feito a pergunta porque ouvira “boatos de que estavam roubando dinheiro” na estatal, e o executivo — que já disse ao juiz que Lula comandava o esquema — era indicado pelo PT.

A versão de Lula

Ex-presidente diz que Marisa negociou tríplex e admite pergunta a Duque sobre contas

- O Globo

Ex-presidente atribui a Marisa interesse pelo tríplex no Guarujá

Lula afirmou ter dito a Léo Pinheiro que apartamento tinha ‘500 defeitos’

Cleide Carvalho, Tiago Dantas e Silvia Amorim | O Globo

-SÃO PAULO E CURITIBA- Depois de negar ser dono do tríplex no Guarujá e de ter dito que achou “500 defeitos” no imóvel, que visitou em 2014, o expresidente Luiz Inácio Lula da Silva atribuiu as decisões a respeito do apartamento à ex-primeira dama Marisa Letícia, que morreu em fevereiro passado. Afirmou que só falou sobre o apartamento duas vezes — a primeira em 2005, quando a ex-primeira dama comprou uma cota da Bancoop, a cooperativa que lançou o empreendimento, e a segunda em 2013, quando foi chamado pelo empresário Léo Pinheiro, então presidente da OAS, para conhecer o imóvel.

— Léo estava querendo vender o apartamento. E como todo e qualquer vendedor, quer vender de qualquer jeito. Não sei se o doutor já procurou alguma casa para morar, para saber como o vendedor quer fazer. E eu disse ao Léo que o apartamento tinha 500 defeitos — disse Lula.

O ex-presidente e Marisa visitaram o tríplex juntos, no início de 2014. A Moro, Lula disse que achou o apartamento inadequado e apontou defeitos, mas nunca pediu qualquer reforma à OAS, como a instalação de um elevador privativo. E assinalou que só soube depois que dona Marisa havia feito uma segunda visita ao local, em agosto de 2014:

Petista admite que perguntou a Duque sobre conta na Suíça

Ex-presidente sustenta que desconhecia corrupção na Petrobras

Mariana Sanches | O Globo

-SAO PAULO- Em depoimento ao juiz Sergio Moro ontem, o ex-presidente Lula confirmou ter tido um encontro com o ex-diretor da Petrobras Renato Duque, no Aeroporto de Congonhas, no qual perguntou sobre contas do executivo no exterior. O episódio havia sido relatado à Justiça Federal por Duque em depoimento no último dia 5 e faz parte de uma tentativa do ex-diretor de negociar uma delação premiada. Duque e Lula, no entanto, têm importantes divergências. Lula afirma que não se lembra de quando a conversa ocorreu e não menciona ter feito qualquer sugestão para que Duque se livrasse de provas de corrupção. Para Duque, a conversa indicava que o ex-presidente tinha conhecimento da corrupção na Petrobras.

Lula disse que estava preocupado com boatos de corrupção e pediu ao então tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, que arranjasse o encontro entre ambos.

Lula nega posse de tríplex e atribui decisões a Marisa

Lula nega propina da OAS e se diz alvo de perseguição

- Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Em quase cinco horas de depoimento ao juiz Sergio Moro no processo em que é acusado de receber propina da OAS, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva negou que tenha recebido vantagens indevidas da empreiteira e se disse perseguido pelo Ministério Público Federal e pelo Judiciário. Foi o primeiro depoimento de Lula a Moro como réu.

A Procuradoria diz que o petista participou do esquema de desvios na estatal e recebeu da OAS um total de R$ 3,7 milhões em vantagens indevidas -parte desse valor teria sido pago com a reserva de um tríplex em Guarujá (SP) e em benfeitorias nesse imóvel.

Lula disse a Moro que nunca teve intenção de adquirir o tríplex e atribuiu decisões sobre o imóvel à ex-primeira-dama Marisa Letícia, morta em fevereiro.

"Fui ver o apartamento, coloquei 500 defeitos no apartamento, voltei e nunca mais conversei com o Léo [Pinheiro, ex-presidente da OAS] sobre o apartamento".

Interesse por tríplex era de Marisa, diz Lula a Moro

André Guilherme Vieira | - Valor Econômico

CURITIBA, BRASÍLIA E SÃO PAULO - Durante interrogatório de cinco horas prestado ao juiz Sergio Moro, o ex-presidente Lula confirmou encontro com o ex-diretor da Petrobras Renato Duque no hangar do aeroporto de Congonhas, em São Paulo. No encontro, perguntou sobre a existência de contas no exterior. O ex-presidente disse que procurou Duque por causa de "boatos de corrupção na Petrobras" envolvendo o ex-gerente da estatal. Em sua versão, Duque dissera que recebeu orientação do ex-presidente para fechar contas no exterior.

Lula também negou que tenha orientado o empresário Leo Pinheiro, da OAS, a destruir provas de propina. "Isso nunca aconteceu e nunca vai acontecer", sustentou, ao ser questionado por Moro. O ex-presidente ainda atribuiu à sua mulher, Marisa Letícia, morta em fevereiro, o interesse na aquisição do tríplex reformado pela OAS no Guarujá (SP). Afirmou que só visitou o imóvel uma vez e que Marisa foi uma segunda vez, mas ele só soube disso posteriormente.

Marisa Letícia teria agido sem conhecimento do marido
No interrogatório realizado ontem pelo juiz Sergio Moro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se contradisse em relação ao que falou à Polícia Federal (PF) durante sua condução coercitiva, realizada em março de 2016, e atribuiu à sua mulher, Marisa Letícia (morta em fevereiro), o interesse pela aquisição do tríplex reformado pela OAS no Guarujá (SP).

Lula diz que vai ser candidato, mas Justiça pode barrá-lo

Petista diz não ter influência no PT e recua de ameaça a procuradores

“Eu não tenho nenhuma influência no PT, eu tenho influência na sociedade. Quando eu falo, me ouvem” Lula Ex-presidente

Tiago Dantas | O Globo


-SÃO PAULO- Em depoimento ao juiz Sergio Moro e no comício que fez em seguida, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a afirmar que será candidato à Presidência da República no ano que vem. Mas, a julgar pelo prazo das decisões na Justiça, ele corre risco de ser enquadrado na Lei da Ficha Limpa.

A média de tempo levada por Sergio Moro e pelos desembargadores do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) para julgar processos recentes indica que a condenação em segunda instância aconteceria perto da data limite estipulada pela Lei da Ficha Limpa, às vésperas da eleição do ano que vem, segundo levantamento feito pelo GLOBO.

Na versão de Lula, presidente da OAS era ‘vendedor’ de apartamento

Ex-presidente contou ao juiz Sérgio Moro que ex-chefe de uma das maiores empreiteiras do País foi com ele até tríplex do Guarujá, que ele chamou de 'Minha Casa Minha Vida', para saber de interesse de compra da família

Ricardo Brandt, Julia Affonso, Bruno Ribeiro, Fausto Macedo e Luiz Vassallo | O Estado de S. Paulo

Presidente de uma das maiores empreiteiras do País, em 2014, José Aldemário Pinheiro, o Léo Pinheiro, foi apresentado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como um “vendedor” de imóveis, ao relatar sua versão ao juiz federal Sérgio Moro, sobre o emblemático tríplex 164-A, do Edifício Solaris, no Guarujá (SP).

“O Léo esteve no escritório dizendo que o apartamento tinha sido vendido e que ele tinha mais um apartamento dos normais e o tríplex. Eu fui lá ver o apartamento, coloquei 500 defeitos no apartamento, não voltei e nunca mais conversei com Léo sobre o apartamento”, afirmou Lula, ao ser questionado se já visitou um dia o imóvel, que ele afirma não ser o dono.

Contra os fatos | Merval Pereira

- O Globo

As explicações do ex-presidente Lula sobre o tríplex do Guarujá não batem com os fatos nem com sua própria narrativa, pois não é concebível que ele tenha tratado do assunto em 2005 e só depois, em 2014, o tenha recusado, enquanto dona Marisa e seu filho combinavam com o então presidente da OAS as obras que seriam feitas, inclusive a colocação de um elevador devido à reclamação do próprio Lula sobre a escada estreita, que ele reafirmou ontem no depoimento.

A coincidência das cozinhas iguais no tríplex e no sítio de Atibaia também fica entre as coisas inexplicáveis que rondam as propriedades que Lula diz não serem dele. O impressionante é como dona Marisa tinha capacidade de decisão sem nem mesmo consultar o marido, até em casos como o terreno do Instituto Lula.

Gravata verde-amarela e jato privado | José Casado

- O Globo

Lula é um político que tenta explicar o inexplicável

Lula levou ontem a Curitiba algumas das principais agruras da sua biografia política, entre elas o mensalão e a corrupção na Petrobras.

Chegou à cidade, para interrogatório em processo no qual é réu por corrupção, nas asas de um jato do empresário Walfrido dos Mares Guia, ex-deputado federal pelo PTB.

Dono de uma das maiores fortunas de Minas Gerais, Mares Guia se destacou no papel de operador do propinoduto que abasteceu campanhas eleitorais do PT e do PSDB, partidos dominantes na política nacional nas últimas duas décadas.

Em 1998, Mares Guia esteve no centro do desvio de recursos públicos e de doações privadas ilegais que irrigaram o caixa do PSDB mineiro na candidatura de Eduardo Azeredo para o governo de Minas.

Pobre Marisa Letícia | Ricardo Noblat

- O Globo

Foi tudo obra dela, segundo Lula. Foi ela que quis comprar o tríplex — ele, não. Quando visitou o apartamento, enxergou nele mais de 500 defeitos

Para se livrar do escândalo do mensalão em 2005, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva entregou a cabeça do ex-ministro José Dirceu, o coordenador de sua campanha vitoriosa de 2002 à Presidência da República.

Para se livrar do escândalo dos aloprados, quando assessores seus forjaram, em 2006, documentos contra o PSDB, ele entregou as cabeças que pôde, inclusive a do coordenador de sua campanha à reeleição, Ricardo Berzoini.

Economia e política num trimestre decisivo | Jarbas de Holanda

Nas semanas restantes de maio e até o final de junho, o desencadeamento da reforma Trabalhista no Senado, com o trâmite acelerado por regime de urgência nas Comissões Especiais; a aprovação da reforma da Previdência na Câmara dos Deputados, por 3/5 dos seus integrantes; e a votação conclusiva desta no Senado antes do final do semestre (ou no início de julho com possível, se necessária, convocação extraordinária). A implementação desse cronograma, assumida como prioridade central do presidente Michel Temer, envolve o fechamento de questão pró-reformas do PMDB e do PSDB (bem como de partidos menores). E de sua efetivação, com resultados favoráveis, dependerão variáveis básicas – econômicas, políticas e sociais – do cenário do país no segundo semestre e do pleito presidencial de 2018. Da manutenção da governabilidade (recuperada após o impeachment de Dilma Rousseff) à permanência da equipe econômica e da nova agenda reformista do conjunto do governo.

A culpa foi de Marisa | Eliane Cantanhêde

- O Estado de S.Paulo

Lula jogou o apartamento no colo da mulher dele, que já morreu e agora está no centro da Lava Jato

Como estava escrito nas estrelas, o ex-presidente Lula disse que não pagou pelo triplex, não estava interessado nele, não poderia nem ir à praia (“só às segundas-feiras e nas Quartas-feiras de Cinzas”), “Dona Marisa” não gostava mesmo de praia e, afinal, o apartamento era pequeno e cheio de defeitos. Ah! E Lula não sabia de nada do que ocorria na Petrobrás nem no PT.

Então, quem sabia alguma coisa? Lula jogou o apartamento no colo da mulher dele, que já morreu e agora está no centro da Lava Jato. Marisa Letícia é quem estava interessada no triplex (para investimento?) e Lula só soube depois que ela tinha ido lá com o filho, mesmo depois da desistência da compra. Essas mulheres...

Mulher emerge como ‘investidora’ | Vera Magalhães

- O Estado de S.Paulo

As inconsistências da defesa e o truque de terceirizar para alguém que morreu e, assim, não é mais parte do processo não parecem ser um caminho jurídico seguro

Mais uma vez, Luiz Inácio Lula da Silva não sabia de nada. Antes foram Delúbio Soares, Silvio Pereira, José Dirceu e os “malfeitos” do mensalão. Depois, os “aloprados” do dossiê contra os tucanos em 2006. Agora, o triplex: sua mulher, Marisa Letícia, a despeito de “odiar” praia, visitou o apartamento no Guarujá mais de uma vez, desejava adquiri-lo para “investimento”, mas não conversava com o marido sobre isso, nem sobre a eventual troca de uma cota de unidade simples pelo triplex.

Entre a tecnicalidade e a informalidade | Davi Tangerino*

Dada a palavra aos comentários finais do réu, Lula assumiu a esperada posição de perseguido político; Moro fez questão de consignar que o julgamento seria pautado pela lei

- O Estado de S.Paulo

Uma análise preliminar do interrogatório do ex-presidente Lula já permite alguns comentários. Primeiramente, chama atenção os minutos dedicados por Moro em declarar-se neutro em relação a Lula, bem como nas palavras tranquilizadoras quanto à sua (não) prisão naquela audiência. Em segundo lugar, a defesa insistiu fortemente que perguntas estranhas à acusação (por exemplo, relativas ao sítio de Atibaia) fossem deixadas de fora do interrogatório, já que o acusado se defende apenas dos fatos descritos na denúncia.

O foco na política | Míriam Leitão

- O Globo

O ex-presidente Lula não se preparou para responder às questões de ontem ou é um investidor descuidado a ponto de não saber por que não pediu de volta R$ 209 mil. Toda a sua atenção continua sendo na preparação da cena pública onde montou o palanque no qual pensa que poderá se salvar da briga judicial. Lula primeiro precisa ganhar a briga na Justiça, mas é à luta política que ele se dedica.

Ele apresentou uma versão em relação ao triplex que não tem sequência lógica. Alega que soube duas vezes do imóvel: quando D. Marisa comprou a cota, em 2005, e depois em 2013. Mas admite que visitou o imóvel em 2014 com Leo Pinheiro, quando “colocou um milhão de defeitos no apartamento”. Disse que nunca pensou em comprar o apartamento, e que isso era ideia de investimento da mulher. Mas em seguida afirma que desistiu de comprar, em 2014, ao visitá-lo, com o presidente da empreiteira, Leo Pinheiro, e se dar conta de que não poderia ir àquela praia, por ser pessoa pública. Admite que nunca comunicou Leo Pinheiro dessa desistência. Quando o juiz Sergio Moro perguntou por que ele nem confirmou a compra, nem pediu ressarcimento dos R$ 209 mil no prazo que houve para fazer isso, em 2011, ele respondeu: “Tem que falar com D. Marisa”.

Um ato nada banal | Bernardo Mello Franco

- Folha de S. Paulo

Segundo o juiz Sergio Moro, seria apenas um "ato banal". Não foi bem isso, no entanto, o que se viu nesta quarta-feira em Curitiba. O depoimento de Lula durou quase cinco horas, mobilizou um exército de 1.700 policiais, interditou quarteirões inteiros e dividiu a capital paranaense em duas cidades.

De um lado, manifestantes de vermelho repetiam palavras de ordem em defesa do ex-presidente. Do outro, militantes em verde e amarelo gritavam o nome de Moro e agitavam um boneco inflável do petista com uniforme de presidiário. Parecia uma viagem no tempo de volta aos dias mais quentes da batalha do impeachment. Até a ex-presidente Dilma Rousseff reapareceu, desta vez para apoiar o padrinho político.

Apoio reduzido nas ruas reflete limite de Lula | Igor Gielow

- Folha de S. Paulo

O embate entre Luiz Inácio Lula da Silva e Sergio Moro, anticlimático dentro e fora do prédio da Justiça Federal de Curitiba, serviu politicamente para consolidar parte do discurso a ser adotado pelo petista na eleição presidencial de 2018.

Se os apoiadores de Lula queriam tornar o 10 de maio de 2017 uma espécie de marco do trajeto de retorno do petista ao Planalto, as reiteradas dúvidas no depoimento e a ausência de um movimento avassalador nas ruas embaçaram a pretensão.

Lula sabe que, sendo ou não candidato, terá seu legado julgado em alguma medida. Ao longo de sua fala, ele deita bases de argumentação sobre o tema -a rejeição às reformas do governo Michel Temer irão compor a outra metade do discurso, de muito mais fácil assimilação.

O petista diz ser vítima de uma perseguição movida pelas "elites" e por um conluio entre imprensa e "Justiça", embora ele acuse repetidamente o Ministério Público. Afirma que seu "estilo de governar está sendo julgado".

Negativa de autoria | Luiz Carlos Azedo

- Correio Braziliense

Apesar de irônico, Lula foi muito cauteloso e focado nas respostas. Em nenhum momento afrontou o juiz Moro, que sempre se referia ao líder petista como ex-presidente

O depoimento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao ser interrogado ontem pelo juiz Sérgio Moro na 13ª Vara Federal de Curitiba, foi todo na base do “eu não sabia”, “eu não queria”, “eu desconheço”. Ou seja, da negativa de autoria dos crimes que lhe estão sendo imputados pela força-tarefa da Operação Lava-Jato, basicamente a suposta compra e ocultação da propriedade do tríplex no Guarujá, bem como o recebimento de propina da OAS para guardar presentes e outros bens pessoais que teria acumulado durante os oito anos em que exerceu a Presidência da República.

Quem comanda o espetáculo | Maria Cristina Fernandes

- Valor Econômico

Acirramento prejudica justiça e pode favorecer réu

Romero Jucá anunciou encontro com sindicalistas, Aécio Neves comemorou avanço das reformas, Marina Silva reproduziu carta pública sobre retrocessos socioambientais, Jair Bolsonaro publicou vídeo em homenagem a um filósofo de direita, Moreira Franco comemorou a perspectiva de redução da inflação e João Doria anunciou a contratação de 200 guardas civis municipais.

Esta foi a movimentação, nas redes sociais, dos principais personagens da cena política nas horas que antecederam o interrogatório do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo juiz Sergio Moro em Curitiba.

Entraram em jogo os capitães das duas maiores torcidas organizadas do país no papel de juiz e réu. O silêncio dos demais jogadores não poderia ter sido mais eloquente. Os desdobramentos da audiência de ontem serão determinantes para o futuro dos arrolados na Lava-Jato e para os rumos da sucessão presidencial de 2018.

Judiciário em transe | José Roberto de Toledo

- O Estado de S.Paulo

A principal linha de defesa do ex-presidente está do lado de fora dos tribunais

Para sorte do governo Temer, a Justiça roubou os holofotes. Em vez de votação da Previdência, a atenção foi para o festival de suspeições togadas. Do bate-boca entre procuradores, juízes e advogados à recepção pela presidente do Supremo de um bonde de grandes empresários, o Judiciário protagonizou a semana. Sem contar o show em que se transformou o encontro de Lula da Silva com o juiz Sérgio Moro em Curitiba. Quando o Judiciário entra em transe, é a República que parece perder os sentidos.

Tratado como luta de telecatch, o depoimento de Lula mostrou que a principal linha de defesa do ex-presidente está do lado de fora dos tribunais. Enquanto os advogados do petista colecionavam derrotas em todas as instâncias e cortes, sua militância desfraldava bandeiras e comandava o coro na “casa do adversário”. Dos antipetistas nas ruas curitibanas, a maioria era fardada. Lula disputou os direitos de transmissão do evento porque tem mais chance de influir na narrativa do que nos fatos.

O mergulho da inflação | Celso Ming

- O Estado de S.Paulo

A população, tão acostumada com as remarcações de preços, demora a perceber os benefícios de uma inflação baixa. Por isso, não põe reparo e, mesmo quando põe, tende a atribuí-la a fatores negativos, como, por exemplo, quando afirma que a inflação mais baixa é o resultado da recessão braba e do desemprego que derrubaram a renda, o consumo e a produção.

O fato é que a inflação em 12 meses deixou a faixa dos 10% e passou aos 4% (veja o gráfico), conforme mostrou o IBGE. A inflação de abril ficou em 0,14%, sensivelmente mais baixa do que o 0,18% das apostas do mercado. Em 12 meses, resvalou para os 4,08%, número que não se via há dez anos.

São três as principais consequências positivas desse mergulho do custo de vida. A primeira delas é o ganho de poder aquisitivo. Uma coisa é a perda do poder de compra com uma inflação rodando a 10% ao ano e outra, bem diferente, quando roda a 4,0%.

Um ano de governo Temer | Maria Clara R. M. do Prado

- Valor Econômico

As reformas não deram prestígio popular a Michel Temer, que não deve entrar na lista dos presidenciáveis em 2018

Há um ano, às vésperas da formalização do afastamento da ex-presidente Dilma Rousseff, o então vice-presidente Michel Temer preparava-se para assumir o governo. Nomeado presidente interino no dia 12 de maio e efetivado no cargo em 31 de agosto, Temer apostou todas as fichas na capacidade de aglutinar uma maioria política no Congresso Nacional, suficiente para implantar as reformas institucionais que há tempos o país demandava.

Em setembro do ano passado, vencidos os meses de interinidade, os planos do governo Temer tornaram-se mais ousados, com a acentuada defesa da PEC (proposta de emenda constitucional) do teto dos gastos públicos - promulgada pelo Congresso em fins de 2016 - e da reforma da previdência social, cuja tramitação tem se acelerado. Contava com isso para impulsionar o crescimento econômico e angariar prestígio popular.

Sobre democracia e oportunidade | Zeina Latif

- O Estado de S. Paulo

A sociedade brasileira não deseja a reforma da Previdência. É o que mostra a pesquisa Datafolha, com 71% dos entrevistados contra a reforma. A dificuldade de comunicação do governo certamente atrapalha, pois apenas 18% das pessoas afirmam estar bem informadas sobre o tema.

Se a sociedade estivesse mais bem informada sobre a importância da reforma para o equilíbrio fiscal e macroeconômico, e para a capacidade do governo de fazer políticas públicas, o apoio seria maior. Mas, provavelmente, insuficiente.

Cientistas sociais apontam para a baixa motivação dos cidadãos para se informar e deliberar sobre questões públicas em democracias de massa. A decisão é racional. Se a opinião individual pouco pesa no todo, o indivíduo acaba elegendo outras prioridades.

Viés de queda da arrecadação federal | Ribamar Oliveira

- Valor Econômico

Fenômeno resulta de mudanças na economia, diz estudo

A grande questão hoje, entre os especialistas em finanças públicas, é saber qual será o ritmo de recuperação das receitas tributárias com a retomada do crescimento econômico. A própria Secretaria da Receita Federal, que faz a estimativa oficial, está cautelosa. A projeção que ela fez para a arrecadação em 2018 é bastante conservadora, pois prevê queda na comparação com a estimativa para este ano. Na área acadêmica, os prognósticos não são mais animadores.

O economista José Roberto Afonso, por exemplo, está convencido de que a receita da União está com um viés de queda desde antes da atual recessão econômica. Em apresentação feita na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, na terça-feira, Afonso, que é professor do mestrado do Instituto de Direito Público (IDP), argumentou que o fenômeno pode ser explicado pelas mudanças estruturais que estão ocorrendo na economia brasileira, com perda relativa de importância da indústria, que tem uma tributação mais elevada, e avanço do setor de serviços, principalmente de "outros serviços", com taxação mais amena.

Reforma da Previdência no limite – Editorial | O Globo

As concessões na primeira rodada de negociações desidrataram o projeto, mas ele continua a apontar para a direção certa; importante é evitar novos recuos

Passada a primeira fase de negociações, em comissão especial na Câmara, a reforma da Previdência chega desidratada para o teste de plenário, onde será votada em dois turnos. Depois das concessões feitas pelo governo, ficou aquém da necessidade de uma mudança profunda no quadro fiscal do país. Mas, de qualquer forma, o projeto continua a apontar para a direção correta.

Principalmente, devido à fixação de idades mínimas de 65 anos para homem e 62 para mulheres, como pré-condição ao pedido de aposentadoria. Assim, estancam-se as aposentadorias precoces, permitidas pela regra da concessão do benefício por tempo de contribuição: 35 anos, no caso dos homens; 30, das mulheres.

Inflação cai, risco permanece – Editorial | O Estado de S.Paulo

Boas notícias continuam surgindo no front da inflação e indicando melhores dias para o consumidor, espaço para novos cortes de juros e condições favoráveis à reativação econômica. Já se especula, no mercado financeiro, sobre uma tesourada mais audaciosa na taxa básica de juros, na próxima reunião do Copom, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (BC), prevista para o fim de maio. Há condições para podar 1,25 ponto porcentual e baixar a taxa para 10%, segundo as avaliações mais entusiasmadas. A última alteração, em 12 de abril, foi de 1 ponto. Mas é cedo para um prognóstico desse tipo. Os membros do comitê deverão avaliar a evolução dos preços, o quadro geral da economia e, de modo especial, o ritmo e as perspectivas da arrumação das contas públicas. O andamento da reforma da Previdência será com certeza um dos temas considerados com mais atenção.

Se o cenário de abril fosse a única referência para a decisão do Copom, estaria quase garantido um afrouxamento maior da política de juros. Ficou em 0,14%, a menor taxa para o mês em toda a série iniciada em 1994, a alta do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Esse é o indicador usado com maior frequência para as definições políticas dos Ministérios econômicos e do BC.

Pragmatismo caro – Editorial | Folha de S. Paulo

Pode-se atribuir ao realismo político de Michel Temer (PMDB) o feito de introduzir na Constituição um teto para os gastos públicos e, mesmo sob resistência atroz, fazer avançar reformas que há anos se esvaem nas lutas parlamentares.

Esse pragmatismo, por certo, não se põe em prática sem custos, no sentido mais literal da palavra. Alguns deles, aliás, já se materializam no Orçamento federal.

Exemplo dos mais evidentes encontra-se na decisão de distribuir, em pleno período de desemprego galopante e penúria orçamentária, reajustes salariais generalizados ao funcionalismo.

Dobrando-se ao poderoso lobby dos servidores (engrossado pelas pressões do Judiciário e do Ministério Público), o governo criou para si dificuldades adicionais no reequilíbrio de contas do Tesouro.

Uma carga de tributos desigual em meio à renda concentrada – Editorial | Valor Econômico

Visto pelo olhar da Receita Federal, o retrato do imposto de renda abre um espaço bastante considerável para se ampliar a cobrança de tributos no Brasil. Com os grandes números à vista, empresários e economistas reclamam que a carga tributária, de 32,4% do PIB em 2014, é a maior entre os países da América Latina e Caribe. Vista pelo consumidor, que em geral não a enxerga, a distribuição dos impostos recai principalmente sobre bens e serviços do que sobre qualquer outra fonte de renda. E esses vários ângulos compõem o quadro de brutal concentração de renda no país. Foi isso que mostrou a radiografia dos impostos apresentada pelo secretário da Receita Federal, Jorge Rachid, na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, - a carga tributária é desigual e desequilibrada.

No desenho tributário feito por Rachid, o Brasil é um país com carga tributária média na comparação com os países da OCDE, atingindo 32,4% do PIB em 2014. A comparação média não revela as disparidades brasileiras, porém. Dos 30 países comparados, o Brasil é o que menos tributa lucros, renda e ganho de capital (5,85% do PIB). A carga sobre bens e serviços, ao contrário, é a segunda maior de todas elas (16,28%), atrás apenas da Hungria (16,8%).

Discurso | Cecília Meireles

E aqui estou, cantando.

Um poeta é sempre irmão do vento e da água:
deixa seu ritmo por onde passa.

Venho de longe e vou para longe:
mas procurei pelo chão os sinais do meu caminho
e não vi nada, porque as ervas cresceram e as serpentes
andaram.

Também procurei no céu a indicação de uma trajetória,
mas houve sempre muitas nuvens.
E suicidaram-se os operários de Babel.

Pois aqui estou, cantando.

Se eu nem sei onde estou,
como posso esperar que algum ouvido me escute?

Ah! Se eu nem sei quem sou,
como posso esperar que venha alguém gostar de mim?