sexta-feira, 19 de maio de 2017

Opinião do dia – O Estado de S. Paulo

Nesse clima de fim de mundo, revoam os urubus. Parlamentares e líderes políticos, uns mais criativos que outros, propõem as soluções mais estapafúrdias para uma crise que só existe porque grassa a insensatez entre aqueles que deveriam preservar a estabilidade no País.

Resta demandar que a Constituição não seja rasgada ao sabor das conveniências daqueles que lucram com o caos.

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Editorial | O Estado de S. Paulo, 19/5/2017

STF manda investigar Temer; presidente diz que não renuncia

O ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no STF, autorizou abertura de inquérito

para investigar o presidente Michel Temer com base na delação dos sócios da JBS, Joesley e Wesley Batista. Em meio à reação negativa do mercado, ameaças de debandada de ministros e diante de especulações de que deixaria o cargo, Temer veio a público e negou a possibilidade de renúncia.

“Não renunciarei. Repito: não renunciarei”, disse. Ele repudiou as acusações de que teria dado aval para a compra do silêncio de Eduardo Cunha. “Não comprei o silêncio de ninguém.” À noite, Fachin liberou a gravação da conversa entre Joesley e Temer, que tem trechos inaudíveis. O empresário conta ao presidente como tentou obstruir investigação da qual é alvo. Principal aliado, o PSDB deu sinais de que deixaria o governo, mas resolveu esperar o avanço das apurações.

Temer orienta equipe a ir para ‘o enfrentamento’

Presidente pediu ‘resistência’ aos partidos aliados durante reuniões ao longo do dia no Planalto e retocou discurso para enfatizar indignação

Vera Rosa, Tânia Monteiro e Carla Araújo, O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA O presidente Michel Temer orientou a equipe a “partir para o enfrentamento”, na tentativa de mostrar que não está acuado com as delações feitas pela JBS nem com o inquérito autorizado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para investigá-lo.

Ao minimizar áudio, Temer torce para STF arquivar processo

No Planalto, há leitura de quem acredita que gravação não 'compromete' governo e outro que vê 'erro grave' de reunião de presidente com empresário investigado

Tânia Monteiro | O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA - O presidente Michel Temer se reuniu nesta quinta-feira, 18, com pelo menos 14 dos seus 28 ministros e inúmeros parlamentares, além do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), em diferentes audiências, ao longo de todo o dia, no Palácio do Planalto. A Presidência tenta vender a tese de que a gravação divulgada da conversa de Temer com o empresário da JBS, Joesley Batista, "não compromete" o presidente e não apresentou "nenhuma conduta inadequada" dele e que "a montanha pariu um rato".

Depois do pronunciamento, em que avisou que não irá renunciar, Temer ouviu opiniões e tentou reverter a sangria de seu governo em relação à base aliada. Conseguiu segurar o ministro Bruno Araújo, das Cidades, que é do PSDB, mas seus esforços não foram suficientes para segurar Roberto Freire, do PPS.

‘NÃO RENUNCIAREI’

Em gravação, Temer ouve dono da JBS relatar crimes

As gravações feitas por Joesley Batista mostram que o presidente Temer ouviu, sem fazer objeções, o dono da JBS relatar como vinha tentando obstruir investigações contra ele, inclusive com aliciamento de juízes e procuradores. Temer chega a repetir “ótimo, ótimo”, após a revelação do empresário. O presidente escutou, sem repreender o dono de empresas que já foram alvo de cinco operações da PF desde 2016, relatos de pagamentos ao ex-deputado Eduardo Cunha. No documento em que pediu a abertura de inquérito para investigar o presidente, autorizada pelo STF, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, diz que Temer deu “anuência” ao pagamento mensal de propina a Cunha. Antes da divulgação das gravações, em pronunciamento, o presidente afirmou: “Não renunciarei. Sei o que fiz.” Em diversas capitais, houve manifestações pela saída de Temer.

ÁUDIO COMPROMETEDOR 
Joesley relatou crimes a Temer, que nada fez

Presidente foi informado sobre tentativas de obstrução à Justiça, com cooptação de juízes e procuradores

Marco Grillo e Eduardo Zobaran | O Globo

Os áudios gravados por Joesley Batista, da JBS, revelam que o presidente Michel Temer (PMDB) ouviu, sem fazer objeção e nem depois reportar aos órgãos competentes, um relato de um empresário — dono de um grupo que foi alvo de cinco operações da Polícia Federal em menos de um ano — com detalhes sobre mecanismos usados por ele para obstruir a Justiça, como a cooptação de juízes e procuradores. Temer também escutou, sem repreender o interlocutor, declaração sobre pagamentos ilegais ao ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB).

Fachin abre inquérito no STF contra presidente

Pedido foi feito a partir da delação da JBS, que, segundo o Ministério Público, revelou pagamento de propinas com aval de Michel Temer

Carolina Brígido | O Globo

-BRASÍLIA- O ministro Edson Fachin, relator da Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), abriu inquérito para investigar o presidente Michel Temer. A base das investigações está na delação do dono da JBS, Joesley Batista, revelada na quarta-feira pelo GLOBO. O empresário gravou conversa com Temer, na qual abordam esquemas irregulares de pagamento de propinas e relações pouco republicanas entre a empresa e o governo.

Pela Constituição, o presidente da República não pode ser responsabilizado por atos cometidos antes do exercício do mandato. Como os fatos delatados ocorreram depois de Temer ter assumido a Presidência da República, não haveria impedimento legal para o início das investigações.

‘Não renunciarei’, diz presidente

Em discurso, Temer sustenta que ‘fantasma da crise política’ não pode abalar reformas

Leticia Fernandes, Eduardo Barretto e Cristiane Jungblut | O Globo

-BRASÍLIA- Após quase sete horas fechado em reunião com ministros, deputados e assessores para decidir o seu futuro, o presidente Michel Temer fez um pronunciamento ontem no qual afirmou que não irá renunciar. Em sua fala, que ocorreu no segundo andar do Palácio do Planalto, ele voltou a negar as denúncias feitas por Joesley Batista, dono da JBS, e lamentou que o “fantasma da crise política” tenha voltado a rondar o Planalto, quando o “andamento das reformas ia bem”. Ele não explicou, no entanto, o teor das acusações e não fez qualquer referência ao deputado Rodrigo Rocha Loures, um de seus mais próximos aliados e a quem incubiu de tratar assuntos de interesse da JBS.

— Não renunciarei. Repito: não renunciarei! Sei o que fiz e sei da correção dos meus atos — disse um presidente exaltado, de dedo em riste e tom de voz elevado.

— Exijo investigação plena e muito rápida para os esclarecimentos ao povo brasileiro. Meu único compromisso é com o Brasil, e só este compromisso me guiará — completou.

Partidos anunciam rompimento; Roberto Freire, da Cultura, deixa o governo

Jungman, da Defesa, fica no governo por ‘relevância de sua área’

Catarina Alencastro, Júnia Gama e Cristiane Jungblut | O Globo

-BRASÍLIA- A delação que atingiu em cheio o presidente Michel Temer levou partidos de sua base aliada a anunciarem o rompimento com seu governo e à entrega do cargo de ministro da Cultura por Roberto Freire, do PPS. Os partidos aliados amanheceram o dia em reuniões para decidir o que fazer. O primeiro a anunciar que vai desembarcar do governo foi o PSB, que já ensaiava esse passo desde quando optou por se rebelar às reformas trabalhista e da Previdência. Em seguida, foi a vez do PPS, cuja bancada na Câmara não só defendeu o rompimento, como pediu a renúncia do presidente Temer.

Com dois titulares na Esplanada, o PPS manteve, no entanto, Raul Jungmann no Ministério da Defesa. Em nota, o partido explicou que “tendo em vista a gravidade da denúncia” estava deixando o governo e que a manutenção de Jungmann se deveu, segundo à legenda, “à relevância de sua área de atuação de segurança do Estado”.

Temer diz que sairá da crise ‘muito rápido’

Após ouvir gravação, presidente afirma que ‘a montanha pariu um rato’

- O Globo

-BRASÍLIA- O colunista Gerson Camarotti publicou na noite de ontem em seu blog no portal G1 trechos de uma entrevista que fez com o presidente Michel Temer após a divulgação dos trechos da gravação do encontro entre o presidente e o empresário Joesley Batista. Temer disse que “a montanha pariu um rato” e que os políticos que o visitaram ontem pediram que ele resistisse no cargo.

“Ninguém chega aqui para me pedir renúncia. Pelo contrário, todos estão pedindo para eu resistir. Vou resistir. Se precisar, vou fazer outro pronunciamento amanhã. Vou sair dessa crise mais rápido do que se pensa”, afirmou.

O presidente se disse muito incomodado com o episódio:

“Fiquei profundamente agastado com o episódio. Isso é uma irresponsabilidade. Não se pode tratar o país desse jeito. A Bolsa desabou!”

Temer afirma que não renunciará; áudio sobre Cunha é inconcluso

Temer diz que não renunciará e que nada esconde após denúncia da JBS

Marina Dias, Gustavo Uribe, Bruno Bohgossian | Folha de S. Paulo

BRASÍLIA- O presidente Michel Temer (PMDB) disse nesta quinta-feira (18) que não vai renunciar ao cargo e que não agiu para comprar o silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Em rápido discurso no Palácio do Planalto, Temer chamou as gravações de "clandestinas", afirmou que não tem "nada a esconder" e que, por isso, não precisa de foro privilegiado.

Caso renunciasse ao cargo de presidente da República, o peemedebista perderia a prerrogativa de ser investigado pelo STF (Supremo Tribunal Federal).

"Não renunciarei. Repito: não renunciarei. Sei o que fiz e sei a correção dos meu atos. Exijo investigação plena e que dê muito rápido esclarecimentos ao povo brasileiro. Essa situação de dubiedade não pode existir por muito tempo", declarou Temer.

Trecho sobre Cunha de diálogo entre Temer e Joesley é inconclusivo

Letícia Casado, Camila Mattoso, Rubens Valente | Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Em conversa gravada, o presidente Michel Temer (PMDB) afirmou ao empresário Joesley Batista, ao ouvir as iniciativas que o dono do grupo JBS vinha tomando com relação ao ex-deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ): "Tem que manter isso, viu?". O trecho do diálogo não é conclusivo sobre a realização de pagamentos ao ex-deputado para comprar seu silêncio.

A conversa contém trechos inaudíveis. Após a fala de Temer, Batista afirma: "Todo mês", o que indica, segundo o empresário afirmou em seu acordo de delação premiada fechada com a PGR (Procuradoria Geral da República), acertos em dinheiro.

Não houve divulgação de transcrição oficial do diálogo liberado pelo STF (Supremo Tribunal Federal). Novos trechos ainda podem vir a público.

Cunha, que está preso em Curitiba (PR), tem indicado nos bastidores a ideia de fazer um acordo de delação com a Lava Jato.

O sigilo judicial sobre a gravação, que integra o acordo de delação premiada homologada com o empresário do grupo JBS, foi levantado nesta quinta-feira (18) por ordem do ministro relator dos casos da Operação Lava Jato no STF, Edson Fachin.

Minutos antes, o ministro havia autorizado a entrega de uma cópia da gravação à área jurídica do Palácio do Planalto.

Temer se recusa a renunciar e crise política se intensifica

Por Raymundo Costa | Valor Econômico

BRASÍLIA - A divulgação do diálogo entre Michel Temer e Joesley Batista deixou o presidente em situação delicada. No áudio, o empresário relata pagamentos de R$ 50 mil por mês a um procurador cooptado por ele e que lhe dá informações sigilosas da força-tarefa do Ministério Público. O relato de obstrução à Justiça é feito ao presidente da República sem que este esboce nenhuma reação de desconforto. Em nota, o Palácio do Planalto alega que o presidente "não acreditou" na veracidade das declarações. Para ele, o empresário "parecia contar vantagem".

Na avaliação do governo, o áudio não é comprometedor, por não comprovar o envolvimento de Temer na compra do silêncio do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, como se depreendeu dos vazamentos sobre o diálogo na quarta-feira.

Ontem, no fim do dia, o Supremo Tribunal Federal levantou o sigilo de parte das gravações que provocaram um terremoto no país. O PMDB comparou o impacto da delação da JBS ao da Operação Carne Fraca, que parecia ter desmontado um grande esquema de corrupção, mas pegou apenas funcionários corruptos e prejudicou a exportação da carne brasileira. No entanto, nem o impacto da Carne Fraca, cujo conteúdo ainda está por ser revelado, foi tão insignificante, nem a crise da delação da JBS foi superada.

Em pronunciamento à nação, Temer foi claro: "Não renunciarei". Ao decidir ficar, fez uma aposta de alto risco. Com menos de 10% de aprovação popular, o presidente espera para ver a reação das ruas, em protestos programados para o domingo. As grandes manifestações foram decisivas para a queda da ex-presidente Dilma Rousseff. Em segundo lugar, mas não por último, ele conta com um julgamento favorável do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na ação de impugnação da chapa Dilma-Temer, proposta pelo PSDB, já marcado para a primeira semana de junho. Eventual absolvição ajudaria a aliviar a pressão política sobre o governo.

Temer e seu grupo de conselheiros mais próximos avaliam todas as possibilidades. O presidente quer recompor sua base política, que está esgarçada, como mostram as defecções ocorridas ontem no PSDB e no PPS, mas precisa dizer aos aliados em torno do quê pretende juntar os cacos. Ele vai acenar com a complementação das reformas e com a estabilização da economia. Se ficar sem base de apoio e incapaz de cumprir a promessa, como aconteceu com a ex-presidente Dilma Rousseff, não terá muito mais o que fazer sozinho no Palácio do Planalto.

Economia frágil deve forçar governo de coalizão, diz Mendonça

Por Camilla Veras Mota | Valor Econômico

SÃO PAULO - A fraqueza da economia e o risco de que a crise política comprometa a já combalida recuperação da atividade deve ser motor para que o cenário de instabilidade que se abriu com a possível saída do presidente Michel Temer seja resolvido com a formação de um governo de coalizão, avalia Luiz Carlos Mendonça de Barros, ex-presidente do BNDES e ex-ministro das Comunicações.

Em um cenário hipotético em que a presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Carmén Lúcia, assuma a presidência até a realização de novas eleições, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, poderia se manter no cargo e dar sequência à agenda econômica.

Dessa forma, ele pondera, as reformas trabalhista e da Previdência passariam, ainda que a aprovação fosse postergada em "dois ou três meses", sem grande desidratação. O cenário alternativo, que ele avalia como menos provável, é o "caos".

O nervosismo do mercado ontem, com queda forte da bolsa de valores e alta expressiva do dólar e dos Credit Default Swaps (CDS), que mede o risco-país, é condizente com o que o mercado financeiro chama de "cisne negro", eventos que acontecem com raridade. Instrumentos como o "circuit breaker", que pode interromper as negociações na bolsa caso as perdas cheguem a determinado limite - e que foi usado ontem - é um mecanismo para "deixar as pessoas pensarem um pouco" e entenderem melhor o que vai acontecer.

A seguir, trechos da entrevista.

Faltou trabalho para 26,5 milhões de pessoas no 1º trimestre de 2017, aponta IBGE

No primeiro trimestre, 24,1% da força de trabalho brasileira estava desocupada ou subutilizada; em São Paulo a taxa de desemprego fica em 14,2%

Daniela Amorim | O Estado de S.Paulo

RIO - Nos primeiros três meses do ano, 24,1% da força de trabalho brasileira estava desocupada ou subutilizada. O índice supera o registrado no quarto trimestre do ano passado (22,5%) e ao que foi observado de janeiro a março de 2016 (20,9%). Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) trimestral, divulgados nesta quinta-feira, 18, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado equivale a dizer que faltava trabalho para 26,5 milhões de pessoas no País no primeiro trimestre. No quarto trimestre de 2016, eram 24,3 milhões nessa condição.

O indicador inclui a taxa de desocupação, a taxa de subocupação por insuficiência de horas e a taxa da força de trabalho potencial, pessoas que não estão em busca de emprego mas estariam disponíveis para trabalhar.

Hora da verdade e da ousadia |Marco Aurélio Nogueira

- O Estado de S. Paulo

Não basta ser, nem dizer que é. É preciso parecer, demonstrar, deixar evidente que é honesto e ser visto assim pelos outros. Especialmente numa sociedade do espetáculo.

Os grampos e as gravações da JBS dando conta de conversas e tratativas escabrosas do presidente Temer, assim como de maletas de dinheiro recebidas por Aécio Neves, fecham o círculo aberto pela Lava Jato.

Agora, abraçados como siameses, descem ao inferno personagens e partidos que mandaram na política brasileira nas últimas décadas. Lula (com Dilma a tiracolo), Temer e Aécio, o PT, o PSDB e o PMDB chafurdam no pântano por eles criado. Sem falar da legião de assessores, ajudantes, colaboradores, asseclas e tarefeiros que com eles trabalhavam, pessoas como Dirceu, Cunha, Palocci, Padilha, Moreira, Vaccari, Mantega, Cabral, para lembrar os mais conhecidos e importantes.

Juntos e misturados, esbofetearam a República. Terão de comer o pão que o diabo amassou.

Desdobramentos se sucedem. O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu a prisão do senador Aécio Neves, mas o ministro Edson Fachin recusou. A irmã de Aécio foi presa e Aécio já foi afastado do mandato de senador. Até um procurador da República foi preso hoje cedo.

Crimes em série | Merval Pereira

- O Globo

O que se ouve nos áudios que registraram conversas nada republicanas entre o presidente Michel Temer e o senador Aécio Neves com o dono da JBS Joesley Batista, em momentos distintos, é uma série de crimes sendo descritos, sendo premeditados. E demonstram que continua em marcha uma ação no Congresso para anistiar os parlamentares acusados de corrupção na Operação Lava-Jato e obstruir as investigações.

As conversas demonstram que os procuradores de Curitiba e o juiz Sergio Moro têm razão ao defender as prisões preventivas alongadas para impedir que os crimes continuem acontecendo. Mesmo assim, eles acontecem, como fica claro nos diálogos. O ex-deputado Eduardo Cunha tem a atuação semelhante aos chefes de facções criminosas, que continuam controlando o crime de dentro da cadeia.

Uma emboscada muito lucrativa | José Casado

Até agora, o apostador Joesley ganhou todas as suas jogadas

Michel Temer passou o dia de ontem no Palácio do Planalto dando vazão à sua incredulidade diante da rápida desintegração do seu governo. Estava a milhares de quilômetros de distância do seu algoz, Joesley Batista, principal acionista do conglomerado agroindustrial JBS, maior exportador mundial de proteína animal.

Temer, um político que atravessou mais da metade dos 71 anos de vida escapando de armadilhas, acabou emboscado pelo empresário bilionário de 45 anos de idade numa noite de março, em Brasília. O teor da conversa nada republicana sobre a Lava-Jato, gravada por Batista na residência oficial, expôs Temer no centro de uma trama suspeita para obstrução da justiça, levando o Supremo Tribunal Federal a determinar uma investigação criminal contra o presidente da República.

O fim do governo | Míriam Leitão

- O Globo

Estava tudo errado naquela reunião. O presidente Michel Temer recebeu na calada da noite um alvo da Justiça que relatou estar tentando interferir na Lava-Jato, querendo influir em órgãos reguladores e dando dinheiro a um investigado. A única saída boa para aquela conversa era Temer chamar o procurador-geral da República e relatar os crimes que ouviu. Seu silêncio fala mais que as palavras.

O empresário demonstrou intimidade com Temer até na maneira cifrada de falar e no pedido para outros encontros noturnos. Aquele foi depois das 22h. Temer se pega a detalhes, achando que basta provar que não pediu para Joesley mandar dinheiro para Cunha. O que é estarrecedor é o conjunto da reunião. Joesley reclama de um procurador, diz que deu uma “segurada” em dois juízes, avisa que tem um procurador que passa informações da Força Tarefa. Só isso já é claramente obstrução de Justiça, é confissão de crime. Ele continuou falando sobre interferir na CVM e no Cade, órgãos que regulam empresas. Conta que falou com o “Henrique” Meirelles sobre mexer na Receita Federal. Meirelles trabalhou quatro anos no grupo J&F.

A crise continua | Eliane Cantanhêde

- O Estado de S.Paulo

Menos comprometedora para Temer, gravação da JBS avança sobre PT, PMDB e PSDB

As delações de Joesley e Wesley Batista que serão divulgadas hoje pelo Supremo Tribunal Federal jogam Lula, Dilma, Renan, Serra e novos personagens no lamaçal da JBS. Não é só o presidente Michel Temer que parece estar afundando, é todo o mundo político.

Quem teve acesso diz que os valores são estonteantes e a intimidade dos irmãos com os políticos é nauseante. A Odebrecht vai ficar com ciúme... E isso tudo, evidentemente, dificulta uma solução para a maior crise de que se tem notícia.

Temer tenta adiar desfecho e renúncia pode ser inevitável | Vera Maralhães

- O Estado de S. Paulo

O pronunciamento de Temer foi tentativa de ganhar tempo, mas o tom da fala não escondeu a falta de sustentação política

O pronunciamento do presidente Michel Temer foi uma tentativa de ganhar tempo, mas o tom taxativo que ele tentou empregar à fala não eliminou a falta de sustentação política instantânea que atingiu o governo depois da revelação das primeiras informações das delações de Joesley Batista e demais colaboradores do grupo JBS.

Temer apostou na divulgação dos áudios da conversa gravada por Joesley com ele para tentar negar que tenha avalizado o pagamento de mesada a Eduardo Cunha ou indicado o deputado e ex-assessor Rodrigo Rocha Loures como intermediário para a negociação de interesses da holding mediante pagamento de propina.

Cantando no escuro | Fernando Gabeira

- O Estado de S.Paulo

A redemocratização caiu num pântano. A chegada da polícia renova as esperanças

No momento em que escrevo está tudo muito confuso. Concordo com a ideia de que o Brasil entrou numa rota de incerteza. Mas existem algumas bússolas, ainda que precárias.

Em alguns artigos afirmei que a difícil tarefa de Temer consistia em jogar ao mar os que fossem envolvidos na Lava Jato e saber, com precisão, se em algum momento ele também teria de se lançar na água. Pois bem, chegou a hora. Temer deve abandonar o barco. O momento é ruim porque uma tímida recuperação aparecia no horizonte.

Na verdade, o que restou no poder foi uma parte da grande quadrilha que dirigiu o País nos últimos anos. Agora o quadro se torna um pouco mais completo.

Analistas - Como o País pode sair desta situação?

Opiniões: Fábio Wanderley Reis, David Fleischer, José Alvaro Moisés e Lincoln Secco*

- O Estado de S.Paulo

País pode não se acalmar nem mesmo com eleições diretas | Fábio Wanderley Reis*,

Ninguém tem uma resposta clara e segura sobre como sair da crise. Vivemos uma situação perigosamente incerta. Nossa realidade é muito fluida e repleta de nuances. Mesmo pensando em eleições diretas, que acredito ser a solução mais adequada, existe um fator de desequilíbrio e de acirramento das tensões: a possibilidade de eleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

BNDES em foco | Rogério Furquim Werneck

- O Globo

Banco se permitiu aportes despropositados à JBS, sob a égide de um programa de aumento deliberado da concentração industrial

A problemática atuação do BNDES, entre 2007 e 2016, vem atraindo, afinal, a atenção de órgãos de controle que devem zelar pela gestão conscienciosa dos recursos públicos no país.

Escapa aos propósitos desse artigo analisar fatos específicos relacionados ao objeto primordial das investigações ora em curso, concentradas nos aportes do banco à JBS e, ao que tudo indica, balizadas por informações extraídas de delações premiadas dos seus donos.

Mais vale aqui manter enfoque mais amplo e relembrar o papel central que teve o BNDES na deflagração do desastre promovido sob a bandeira da nova matriz econômica e — não se pode esquecer — na exacerbação da farra fiscal de que fartamente se nutriu o processo de corrupção do qual o país, agora, vem tomando conhecimento.

O preço cobrado pelas lambanças e pela incerteza | Celso Ming

- O Estado de S.Paulo

Toda incerteza na política e na economia cobra um preço da sociedade. E ele será tanto mais alto quanto maior a incerteza.

Alguns desses preços começaram a ser cobrados tão logo ficou sabido que o presidente Michel Temer foi gravado ao autorizar um cala-boca em delação premiada do ex-deputado Eduardo Cunha.

Enquanto não se souber qual será a solução política a ser dada para a crise, também não se saberá quem conduzirá a política econômica e com que mudanças. As grandes questões ficam paralisadas, sabe-se lá até quando. Sobram dúvidas sobre o encaminhamento a ser dado às reformas e sobre o ritmo em que serão tocados os projetos de concessão de serviços públicos.

Vidas paralelas | Hélio Schwartsman

- Folha de S. Paulo

Com um intervalo de poucas horas, brasileiros e norte-americanos viram seus presidentes envolvidos em denúncias documentadas de obstrução de Justiça.

No caso de Michel Temer, há a gravação em que ele teria chancelado o pagamento de propina para silenciar Eduardo Cunha. No de Donald Trump, existe o memorando escrito por James Comey quando ainda era diretor do FBI em que afirma que o magnata lhe pediu que uma investigação sobre seu governo fosse abafada. Se confirmados, são delitos que justificariam impeachment, processos criminais e até cadeia.

Um zumbi no Planalto | Bernardo Mello Franco

- Folha de S. Paulo

Michel Temer, o presidente sem votos, agora quer ser presidente sem governo. Flagrado numa trama de corrupção e obstrução da Justiça, ele vê sua autoridade se esfarelar em praça pública. Mesmo assim, insiste em se agarrar à cadeira.

O governo começou a respirar por aparelhos na noite de quarta. Assim que o diálogo com o dono da JBS foi divulgado, aliados passaram a discutir procedimentos para desligar as máquinas. As conversas avançaram pela madrugada de Brasília.

Um dia normal de pânico e sujeira | Vinicius Torres Freire

- Folha de S. Paulo

O paniquito na feira do mercado de dinheiro foi horrível, mas normal, para não dizer estereotipado. Nem mesmo ainda é possível dizer se a reação da praça financeira foi exagerada ou se tende a ser pior. Esse não é nem de longe o maior problema econômico-financeiro agora.

Os preços e o tamanho do tumulto na economia real dependerão, óbvio, de política e, por tabela, da reação de bancos, empresas e consumidores. Vão depender da dimensão do choque de confiança causado por esse novo despejo de lixo político sobre as nossas cabeças.

Isto posto, é improvável que a crise política não dê um talho neste crescimento que tendia a ser quase estagnação neste 2017: para zero.

O sentido da narrativa | César Felício

- Valor Econômico

Luta de Temer para ficar pode sepultar as reformas

A declaração do presidente Michel Temer de que não irá renunciar, em tom de veemência inusual tratando-se de quem se trata, pode ser o primeiro lance de uma retirada, que ele tenta fazer de modo organizado. Temer se pronunciou, mas o cenário mais provável ainda é o do fim do seu governo a curto prazo. Ele já começou a trilhar o seu caminho para o passado do Brasil.

É crescente a percepção na opinião pública de que o presidente não tem a legitimidade do voto, não conta com sustentação nem entre os movimentos que trabalharam pelo impeachment, não possui mais condições morais de permanecer no cargo, depois que o Supremo Tribunal Federal (STF) aceitou a abertura de inquérito por obstrução à Justiça. No empresariado, aumenta o sentimento de que a defesa de Temer e a continuidade das reformas são excludentes. A renúncia ou cassação de Temer pela Justiça tornou-se um imperativo. Mesmo sua base no Congresso começa a se desfazer, como mostraram ontem os movimentos do PPS e PSB. A queda de Temer é a única conclusão com sentido para a narrativa.

Economia está sob risco de um colapso | Claudia Safatle

- Valor Econômico

Seria um desastre o país entrar em dominância fiscal

O tornado que abalou o presidente da República, Michel Temer, pode levar o país a um colapso econômico. Fontes do setor financeiro privado alertavam, ontem, para o risco de empresas quebrarem, de o pouco crédito que ainda existe desaparecer e de a economia afundar em depressão, abortando a tênue recuperação da atividade depois de três anos de profunda recessão.

A crise, deflagrada pela delação dos irmãos Joesley e Wesley Batista, da holding J&F, que controla o JBS - que, com a anuência do STF e a ajuda da Polícia Federal, gravaram o presidente da República supostamente avalizando a compra do silêncio do deputado cassado e preso, Eduardo Cunha - encontra um país frágil, sem forças para "sangrar" em mais uma turbulência.

O dia do fico | Luiz Carlos Azedo

- Correio Braziliense

Os áudios revelam que Eduardo Cunha era o assunto que mais interessava a Temer, mas deixam evidente que a conversa foi conduzida para incriminar o presidente da República

O presidente Michel Temer, em pronunciamento oficial, disse ontem que não vai renunciar e negou qualquer envolvimento nos fatos criminosos narrados nas delações premiadas dos empresários Joesley e Wesley Batista, que foram homologadas pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Luiz Edson Fachin, relator da Operação Lava-Jato. Os áudios foram liberados pelo ministro e são comprometedores. Não foi uma conversa republicana. Seria motivo para o presidente da República dar voz de prisão ao empresário; no mínimo, expulsá-lo do Palácio do Jaburu com um eloquente passa-fora, logo que o caso Eduardo Cunha fora abordado. Os áudios revelam que era esse o assunto que mais interessava a Temer, mas deixam evidente que a conversa foi conduzida para incriminar o presidente da República e conseguir a delação premiada.

A hora da responsabilidade – Editorial | O Estado de S. Paulo

Este grave momento da vida nacional deverá passar à história como aquele em que a irresponsabilidade e o oportunismo prevaleceram sobre o bom senso e sobre o interesse público. Tudo o que se disser agora sobre os desdobramentos do terremoto gerado pela delação do empresário Joesley Batista, em especial no que diz respeito ao presidente Michel Temer, será mera especulação. Mas pode-se afirmar, sem dúvida, que a crise é resultado de um encadeamento de atitudes imprudentes, tomadas em grande parte por gente que julga ter a missão messiânica de purificar a política nacional. A consequência é a instabilidade permanente, que trava a urgente recuperação do País e joga as instituições no torvelinho das incertezas – ambiente propício para aventureiros e salvadores da pátria.

Não há saída da crise fora da Constituição – Editorial | O Globo

As delações do dono do grupo JBS também são pluripartidárias, sem discriminações, como já se observou em outros testemunhos

A Carta e as instituições têm passado, com êxito, por duros testes, e não deve haver dúvidas de que são o caminho para superar o atual

Noticiada a partir do início da noite de quarta-feira pelo GLOBO, a delação de um dos donos do grupo JBS, Joesley Batista, inclui conversa com o presidente Michel Temer em que o empresário o informa de que paga uma mesada a Eduardo Cunha e ao operador financeiro deste, Lúcio Funaro, em troca de seu silêncio. E teria sido encorajado pelo presidente: “Tem que manter isso, viu?” Temer rejeita esta interpretação.

Caso tudo seja confirmado, ficará claro que pesaram muito os usos e costumes de um tipo de prática política inaceitável, também vista no PMDB do presidente. Temer não poderia ouvir o que ouviu sem reagir.

O Planalto passou o dia de ontem em busca da gravação — à noite conseguiu autorização do Supremo —, para decidir sobre algum pronunciamento de Temer. Mesmo antes de conseguir acesso ao material, o presidente, em pronunciamento de pouco menos de cinco minutos, tachou a gravação de “clandestina” — o que não lhe tira validade jurídica — e garantiu que não renuncia. Falou por duas vezes, enfático.

Na tormenta – Editorial | Folha de S. Paulo

Com rapidez vertiginosa, abriu-se, desde a noite desta quarta (17), uma crise política de contornos ainda incertos, a pôr instantaneamente sob suspeita o comportamento do presidente da República.

Foi esse o impacto inicial das declarações atribuídas ao presidente da JBS, Joesley Batista, pelas quais teria havido intervenção direta de Michel Temer (PMDB) no sentido de impedir revelações comprometedoras de Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara dos Deputados.

Pelos relatos que vieram a público, gravações feitas pelo empresário atestavam a disposição de Temer em consentir com pagamentos a Cunha, para que este mantivesse o seu silêncio.

O conteúdo do áudio veio a ser divulgado no dia seguinte. Certamente confidencial e sibilina, a conversa não parece todavia constituir a devastadora peça de evidência que se imaginava inicialmente.

Com governo por um fio, Temer diz que não renuncia – Editorial | Valor Econômico

A frágil estabilidade do governo de Michel Temer foi violentamente abalada pela divulgação das delações de Joesley Batista, dono da J&F, controladora da JBS, em que o presidente dá seu aval à compra do silêncio do deputado cassado Eduardo Cunha. A divulgação do teor integral das gravações pode por um fim à carreira política de Temer. Não é a primeira vez que o presidente aparece em depoimentos de investigados pela Lava-Jato, mas é a primeira em que ele indica homens de sua confiança para intermediar negócios privados com o Estado, em troca de propina. Acusado pela Procuradoria Geral da República, Temer será investigado por obstrução de Justiça.

Ao amor antigo | Carlos Drummond de Andrade

O amor antigo vive de si mesmo,
não de cultivo alheio ou de presença.
Nada exige nem pede. Nada espera,
mas do destino vão nega a sentença.

O amor antigo tem raízes fundas,
feitas de sofrimento e de beleza.
Por aquelas mergulha no infinito,
e por estas suplanta a natureza.

Se em toda parte o tempo desmorona
aquilo que foi grande e deslumbrante,
a antigo amor, porém, nunca fenece
e a cada dia surge mais amante.

Mais ardente, mas pobre de esperança.
Mais triste? Não. Ele venceu a dor,
e resplandece no seu canto obscuro,
tanto mais velho quanto mais amor.