quinta-feira, 15 de março de 2018

Vinicius Torres Freire: Futuro bom é ter problema novo

- Folha de S. Paulo

Futuro da economia depende muito do resultado da eleição, se ouve no Fórum Econômico Mundial

Suponha que a economia brasileira dê tão certo que surjam até problemas novos. Por exemplo, que entre tanto investimento estrangeiro no país que a taxa de câmbio se valorize muito (isto é, que o dólar fique bem barato). O dinheiro viria em massa, por exemplo, para financiar a infraestrutura.

A hipótese futurística foi levantada nesta quarta-feira (14) por Armínio Fraga, do Gávea, ex-presidente do Banco Central, em debate no Fórum Econômico Mundial América Latina, que ocorre em São Paulo. Uma premissa do bom problema novo seria a vitória de um candidato adepto de um programa reformista liberal e condições políticas de implementação desse projeto.

No debate estavam João Doria, prefeito de São Paulo, Roberto Jaguaribe, presidente da Apex, Candido Bracher, presidente do Itaú, e Fraga. Era um palanque em defesa de reformas, com expectativas bipolares: de sombrias a muito animadas, a depender do que ocorra no rubicão eleitoral de outubro.

Segundo Fraga, talvez seja possível que o Brasil receba um jorro de investimento em infraestrutura caso se dê jeito na ruína financeira do governo. Poderíamos passar por uma espécie de "doença holandesa da infraestrutura" (na doença holandesa original, a moeda de um país se valoriza devido a um grande influxo de recursos, exportações e investimentos, devido à exploração de um recurso natural abundante, petróleo ou outras commodities, o que a princípio acaba prejudicando a indústria de transformação).

Tem sido até bom além da conta o volume de investimento estrangeiro no país, dado o tamanho do estrago da economia nos últimos quatro anos, observaram Bracher e Fraga. Segundo Bracher e Jaguaribe, o Brasil tem um grande mercado, agronegócio muito forte e, ressaltou Bracher, mais segurança institucional e garantia da propriedade privada que a maioria dos países emergentes relevantes. Fraga acrescentou ainda que o custo (e o retorno) do capital é alto aqui, o que atrai investimentos, claro.

Mas as empresas brasileiras não estão tão animadas assim, dadas a crise fiscal, a falta de estabilidade e previsibilidade e grossas ineficiências. Fraga citou a baixíssima taxa de investimento, ora em 15% do PIB, insuficiente até para cobrir a depreciação (desgaste e reposição) do capital, depreciação ainda maior na infraestrutura.

Estabilidade macroeconômica não basta. São apenas condições necessárias a inflação baixa e estável e a dívida pública sob controle ou em queda (o que será impossível sem reforma previdenciária). Esses requisitos básicos permitiriam ao país crescer apenas de modo medíocre, disse Bracher. Faltam microrreformas, como a tributária, normas que aumentem a segurança jurídica de negócios, como a nova lei de falências.

Tanto ou mais importante, falta uma revolução educacional, formação de pessoal para uma economia que possa crescer de modo sustentável, do ensino básico ao médio, que teve uma reforma curricular que ainda não pegou, na opinião de Bracher. Para Fraga, mais que discutir Estado maior ou menor, é preciso dar um jeito no grande poço de ineficiências que seria o governo brasileiro, que usa muito mal os 33% do PIB que recolhe em impostos.

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