segunda-feira, 16 de abril de 2018

Opinião do dia: Luiz Sérgio Henriques*

Uma esquerda forte e plural é condição necessária, ainda que não suficiente, para a efetivação de uma agenda social digna do nome, bem como de um regime de liberdades que garanta essa agenda e seja por ela nutrido. Uma coisa nunca vai sem a outra: não há progresso social sem voto e democracia “formal”. Entre nós e esse caminho virtuoso ainda se interpõem os populismos de esquerda e de direita, que deveriam ser, mas não são, fato marginal ou lembrança do passado.

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*Tradutor e ensaísta, é um dos organizadores das ‘Obras’ de Gramsci. “Populismos e democracia bloqueada”, O Estado de S. Paulo, 15/4/2018

Entrevista: Alberto Aggio

O Partido dos Trabalhadores fez muito mal para a esquerda brasileira, avalia Alberto Aggio. De acordo com ele, além de ter entrado em um mecanismo de corrupção jamais visto, o PT também não acompanhou as transformações ocorridas em todo o mundo

Por Germano Martiniano | FAP

O entrevistado desta semana da série FAP Entrevista é com Alberto Aggio, professor titular da Universidade Estadual Paulista (UNESP). Historiador pela Universidade de São Paulo (USP), onde também realizou mestrado e doutorado, a trajetória acadêmica dele, em grande parte, voltou-se para o estudo e compreensão da história e questões socioeconômicas da América Latina, especialmente Brasil e Chile. Além dos títulos acadêmicos, que não se finalizaram no doutorado, mas também no pós-doutorado no Chile e na Itália, Aggio também publicou diversos livros, nos quais explorou as questões latino-americanas e também o pensamento gramsciano. Esta entrevista faz parte de uma série que a FAP está publicando, aos domingos, com intelectuais e personalidades políticas de todo o Brasil, com o objetivo de ampliar o debate em torno do principal tema deste ano: as eleições.

A vida política de Alberto Aggio começou no final da década de 1970, na Zona Leste de São Paulo, quando entrou no Partido Comunista Brasileiro (PCB) ficando até seu final. Na fundação do Partido Popular Socialista (PPS), do qual que é filiado atualmente, Aggio se afastou do política por ter sido contra alguns caminhos tomados pelo partido. “Não me afastei porque fui contra a mudança, mas porque discordei dos caminhos pós-mudança”, disse o historiador. Aggio também participou da campanha presidencial de Roberto Freire em 1989 e da Revista Presença, liderada por Luiz Werneck Vianna, até seu final, em 1992.

Aggio possui forte vínculo com o pensamento de Gramsci e com o comunismo democrático. Para o historiador, a questão da democracia é de vital importância. “Sempre achei que o pós-comunismo do PPS deveria avançar para uma esquerda democrática mais ampliada, com liberais avançados e outras culturas políticas democráticas do país”, expôs. Atualmente, Aggio dedica-se ao lançamento de mais um livro, um conjunto de ensaios que tenta repensar precisamente a trajetória recente da esquerda, particularmente no Brasil e na América Latina.

Este “repensar” da esquerda foi um dos temas tratados com Aggio na entrevista para FAP, da qual também é dirigente. Para o historiador, o PT fez muito mal à esquerda brasileira, não apenas a colocando num sistema de corrupção “jamais visto”, como também não a atualizando, rechaçando as mudanças que ocorreram no mundo. “É uma esquerda que vive ainda no século XIX ou XX”, enfatizou Alberto. Além da necessidade de uma nova visão para esquerda brasileira, Aggio também discorreu de temas como a prisão de Lula, Lava Jato e justiça brasileira, eleições 2018 e o que esperar do novo presidente do Brasil.

Confira, abaixo, os principais trechos da entrevista com Alberto Aggio:

Hamilton Garcia: A Justiça por um voto

- FAP

Em pleno séc. XXI, decorridos quase 200 anos da independência do Brasil, o supremo tribunal ainda discute o fim da impunidade no país. Sim, a egrégia corte se divide entre os que querem o fim do (virtual) foro especial por prerrogativa de meios, votando pela prisão do condenado esgotada a segunda instância forense, e os que defendem o conceito abstrato de presunção de inocência mesmo diante de um arcabouço legal que combina, astuciosamente, recorrências judiciais excessivas com prazos de prescrição penal generosos, tornando esses condenados inimputáveis, de fato, e “inocentes”, de direito.

A prisão de Lula — na esteira da detenção de Odebrecht, Cunha, e outros expoentes do sistema neopatrimonial — não passa de apenas mais um capítulo na longa batalha para pôr fim à justiça seletiva instituída entre nós ao longo dos séculos. O revolucionário veredicto sobre o Mensalão petista (2012) — esquema inspirado no Mensalão tucano de MG —, que, sintomaticamente, transformou o relator do caso, Joaquim Barbosa, em herói nacional, foi o primeiro sinal de que a democratização das estruturas de Estado poderia ter, enfim, um desfecho melhor no Poder Judiciário do que aquele verificado no Legislativo e no Executivo desde 1985.

Todavia, estamos longe de poder cantar vitória, basta ver a frente ampla articulada no Congresso Nacional, que vai do PT ao PP, passando pelo MDB e parcelas do PSDB, assim como no STF, que abrange de Toffoli & Lewandowski a M.A.Mello, passando por Mendes e um embaraçado (e hesitante) decano, todos a advogar do “estancamento da sangria” à impunidade possível — ou seja, prisão após terceira instância (STJ) com vagas promessas de reversão da chicana institucionalizada. O apertado placar (6×5) que negou acolhimento ao pedido de libertação de Lula, no STF, dá a dimensão do risco de retrocesso.

Marcus André Melo: Quem controla a toga?

- Folha de S. Paulo

Prerrogativas necessárias, privilégios descabidos

Em 1931, o governo revolucionário determinou a aposentadoria compulsória de seis juízes do STF e a redução de 30% nos vencimentos dos magistrados da corte. Era uma retaliação aos juízes que haviam negado habeas corpus aos tenentes revoltosos de 1922 e 1924, que agora estavam no poder.

“É a morte do Poder Judiciário no Brasil”, bradou Hermenegildo de Moraes, veterano da corte. E lamentou que seu tribunal fora “desprestigiado, vilipendiado, humilhado”. Não renunciava ao cargo depois de 43 anos na magistratura “para que não se diga que desertei do posto por terem sido diminuídos os vencimentos do STF”.

Não é à toa que as Constituições liberais estipulam prerrogativas para os magistrados: irredutibilidade de vencimentos, inamovibilidade, foro por prerrogativa de função, estabilidade no cargo. Ao mesmo tempo em que estabelecem que devem ser indicados por agente eleito —o presidente— para que a autonomia judicial não se converta em soberania.

As prerrogativas visam a proteção contra a interferência dos outros poderes, sobretudo do Executivo. E que assumem historicamente a forma de violação das regras da competição política e de direitos.

Quanto mais abusos, maiores os incentivos para a criação de garantias constitucionais. No entanto, elas próprias podem dar margem a desvios, como bem sabemos.

*Denis Lerrer Rosenfield: A religiosidade petista

- O Estado de S.Paulo

O próprio PT torna-se um apêndice da vontade de seu chefe, colando seu destino ao dele

O ocaso petista está vindo acompanhado de formas políticas religiosas, alicerçadas na figura de Lula, considerado acima da lei, e na crença dos militantes de que seu líder máximo não seria um cidadão como os outros. À medida que o partido vai perdendo sua base social, seu discurso se descola da realidade, buscando principalmente uma maior adesão dos que já lhe são fiéis. O próprio PT torna-se um apêndice da vontade de seu chefe, colando seu destino ao dele.

Discurso descolado, ruas ausentes. As manifestações prometidas pelas lideranças petistas após a prisão de Lula simplesmente não ocorreram. O PT chegou a anunciar que as cidades seriam tomadas por multidões. Os mais radicais chegaram a apregoar um clima de extrema instabilidade política, todos clamando em uníssono pela libertação de seu líder. O máximo que conseguiram foi uma manifestação com 2 mil a 3 mil pessoas em volta do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, com militantes trazidos de vários lugares. Um anticlímax, que expõe a falta de apoio popular ao PT e a Lula.

O contraponto de um discurso descolado da realidade é uma forma de religiosidade política, que ganha a cena. O PT adota uma linguagem intramuros como se estivesse abandonando a pretensão de conquistar eleições num futuro próximo. Cerra fileiras em torno de uma liderança inconteste e não se abre para a sociedade. Refugia-se em seu gueto. Nesse processo, em vez de apostar numa refundação, o PT volta aos seus antigos dogmas, nada oferecendo para além da repetição dos seus erros.

Mario Vargas Llosa: Lula atrás das grades

- O Estado de S.Paulo

Ex-presidente não foi levado à cadeia pelas coisas boas que fez, mas pelas más, a corrupção

Que Lula, o ex-presidente do Brasil, tenha dado entrada em uma prisão em Curitibacumprindo uma pena de doze anos de prisão por corrupção, e originado protestos organizados pelo Partido dos Trabalhadores e homenagens de governos latino-americanos tão pouco democráticos como os da Venezuela ou da Nicarágua, era algo previsível. Mas é menos previsível que tantas pessoas honestas, socialistas, social-democratas e até mesmo os liberais tenham considerado que foi cometida uma injustiça contra um ex-mandatário que muito se preocupou em combater a pobreza e realizou a proeza de tirar, aparentemente, cerca de 30 milhões de brasileiros de extrema pobreza quando esteve no poder.

Aqueles que pensam assim estão convencidos, aparentemente, que ser um bom governante tem a ver apenas com a execução de políticas sociais avançadas, e isso o isenta de cumprir as leis e agir com probidade. Porque Lula não foi levado à cadeia pelas coisas boas que fez durante seu governo, mas pelas más, e entre estas figura, por exemplo, a corrupção espantosa da companhia estatal Petrobrás e de seus empreiteiros, que custou ao castigado povo brasileiro nada menos que três bilhões de dólares (dois bilhões deles em subornos).

Além disso, aqueles que têm Lula em tão alta consideração esquecem o papel feio de alguém “que corre de um canto para outro levando fofocas” que atuou como um emissário e cúmplice em várias operações da Odebrecht – no Peru, Peru, entre outros países – corrompendo com milhões de dólares presidentes corruptos e ministros para que favorecessem essa transnacional com contratos multimilionários de obras públicas.

É por este motivo e outros casos que Lula tem não um, mas sete processos por corrupção em curso e que dezenas de seus colaboradores mais próximos durante seu governo, como João Vaccari ou José Dirceu, seu chefe de gabinete, tenham sido condenados a longas penas de prisão por roubos, golpes e outras operações criminosas. Entre as mais recentes acusações que recaem sobre ele, está a de ter recebido da construtora OAS, em troca de contratos públicos, um apartamento de três andares em uma praia do Guarujá (São Paulo).

José Casado: Rebeldia para reinventar a política, sugere FH

- O Globo

Em depoimento de 203 páginas, ex-presidente Fernando Henrique alerta para riscos da desagregação política. A 24 semanas das eleições gerais, o horizonte político não poderia estar mais nebuloso. É grande a fragmentação política. Ela confunde o eleitor e impede até a distinção nas pesquisas dos mais competitivos entre dezena e meia de candidatos à Presidência da República.

Sobram algumas certezas. Uma delas é que, em janeiro de 2019, haverá no Palácio do Planalto alguém eleito em circunstâncias de fragilidades.

Sobram, também, crises na futura agenda presidencial. O próximo presidente terá menos apoio no Congresso do que seus quatro antecessores. E, na melhor das hipóteses, vai atravessar 75% do mandato com as contas no vermelho — o atual governo prevê capacidade de investimento reduzida à metade, com despesas públicas em Previdência Social um terço maiores do que são hoje.

Governo fraco e sem dinheiro é promessa de agonia coletiva, filme antigo para brasileiros. Há alternativa? Sim, e somente na política, desde que se aumente o campo de possibilidades — acredita Fernando Henrique Cardoso.

Quatro décadas atrás, sob o regime militar, ele trocou a biblioteca universitária pela aposta num experimento da caça de votos nas ruas. Reuniu 1,2 milhão de eleitores e aportou no Senado como suplente. Saiu dali nove anos mais tarde, como chanceler. Na sequência, virou ministro da Fazenda e acabou presidente da República — por duas vezes, eleito no primeiro turno.

Aos 86 anos, está convicto de que na História nada é imutável, nada se repete, tampouco se transforma completamente. “Mais do que nunca, é imperativo interpretar o mundo para poder transformá-lo”, incita em “Crise e reinvenção da política no Brasil”, depoimento de 203 páginas aos seus amigos Miguel Darcy de Oliveira e Sergio Fausto, em que procura demonstrar que o Brasil não está “em um beco sem alternativas”.

Vinicius Mota: Mais que centro: centrão

- Folha de S. Paulo

Prisão de Lula descomprime cenário e aprofunda dilema no PT

O Datafolha deste domingo (15) mostra que a prisão de Lula não intensificou os vetores que apontam para os extremos antiestablishment. Atuou no sentido contrário, como válvula de uma descompressão que talvez esteja no início.

A perspectiva de que o cacife eleitoral do ex-presidente decaia com o tempo aprofunda o dilema do PT. Quanto mais energia gasta na reiteração fanática de lealdade a seu líder religioso, menor o poder de barganha da legenda para o pleito de outubro.

A alta do teor de temperança na disputa também se vê no estancamento do fenômeno Bolsonaro e na confirmação de sua baixa viabilidade num hipotético segundo turno. A contingência sorri mais uma vez para Marina Silva, ela mesma emblema de moderação.

Se Ciro Gomes se portou até aqui como patrocinador de ideias e retórica excêntricas, a possibilidade de ter dois competidores fortes pelo voto da centro-esquerda e dos pobres (Marina e o ex-ministro Joaquim Barbosa) sugere correção de rota.

Leandro Colon: E a centro-direita?

- Folha de S. Paulo

Datafolha mostra Temer, Meirelles e Maia com desempenho pífio, o que favorece diálogo com tucano

Desoladora é a pesquisa Datafolha para os dois possíveis candidatos do governo à Presidência. Michel Temer, que flerta com a possibilidade de reeleição, apresenta um teto de 2%. O seu ex-ministro Henrique Meirelles, que deixou há pouco a Fazenda, tem mísero 1%.

Ambos são apontados como as apostas do MDB para disputar o Planalto em outubro. Recentemente, no ato de filiação de Meirelles ao partido, os emedebistas aproveitaram para inflar o nome de Temer.

Ficará difícil para a sigla definir quem será o candidato presidencial entre os dois se o critério de decisão for o desempenho em pesquisa. Nem Temer nem Meirelles dão sinais de fôlego eleitoral. Até a ideia de o ex-ministro da Fazenda ser vice do atual presidente soa a delírio sob perspectiva de intenção de voto.

Se tem uma coisa de que o MDB entende (e muito) é expectativa de poder. É custoso acreditar que uma legenda de alta penetração nos rincões do país embarcará em uma candidatura à Presidência incapaz de ser competitiva e ter força de crescimento político-eleitoral.

Em cenário parecido se encontra o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Fracassaram nas ruas seus movimentos desde o começo do ano para tentar alavancar uma pré-candidatura presidencial.

Marcus Pestana: Cinco crises à procura de uma saída

- O Tempo (MG)

O Brasil parece estar revivendo Pirandello em seu “Seis Personagens à Procura de um Autor”. O país enfrenta um horizonte povoado de incertezas e interrogações. Mergulhado em profunda crise de múltiplas faces, tem dificuldades de se libertar dos fantasmas do passado e olhar para a frente, descortinando seu futuro.

Estou completando 36 anos de vida pública. Metade no Executivo, a outra em mandatos parlamentares e na militância política. Fui eleito muito cedo, aos 22 anos, vereador em Juiz de Fora, em 1982. Sou da geração que lutou e vivenciou todo o processo de redemocratização a partir da segunda metade dos anos 70.

Nesse longo período, jamais assisti a uma crise tão complexa e desafiadora como a atual. Na verdade, vivemos a superposição de cinco crises, com suas dinâmicas próprias, que se retroalimentam.

A primeira, aquela que mais afeta o cidadão brasileiro, a econômica. A maior recessão de nossa história, com 14 milhões de desempregados, crescimento negativo, falência de empresas, endividamento das famílias, estrangulamento fiscal inédito, crise federativa, queda dos investimentos. A atual retomada terá fôlego curto se não forem feitas as mudanças e reformas necessárias.

Ricardo Noblat: Em breve, “pesquisa sem Lula é fraude”

- Blog do Noblat | Veja

Para não ser esquecido

Em nome do PT, sua presidente, a senadora Gleisi Lula Hoffmann (PR), protestou contra o fato de o nome de Lula só ter sido testado pela mais recente pesquisa Datafolha em 3 dos 9 cenários pesquisados.

Ora, ora, ora. Não deveria ter sido testado em nenhum. Simplesmente porque Lula foi condenado e está preso. Mesmo se for solto, candidato não será porque virou “ficha suja”. É o que está na lei.

Só falta, em breve, começarmos a ouvir que “pesquisa sem Lula é fraude”. O grito de “eleição sem Lula é fraude” parece ter sido arquivado. Primeiro porque perdeu sua força. Segundo porque o PT disputará a eleição.

Se eleição sem Lula fosse fraude, o PT, no mínimo para ser coerente, não poderia participar dela, por ilegítima. Alguns malucos do partido chegaram a propor isso. Levaram um chega pra lá.

A direção do PT estava convencida de que o espetáculo encenado em São Bernardo do Campo por ocasião da prisão de Lula teria sido mais do que suficiente para convulsionar o país.

E, assim, as futuras pesquisas de intenção de voto registrariam o crescimento de Lula. Não deu certo. Lula caiu seis pontos percentuais no Datafolha. Aumentou o índice dos que acharam justa sua prisão.

O empenho, doravante, é para que Lula permaneça sob os holofotes e possa chegar a agosto com a mesma capacidade atual de transferir votos, beneficiando quem por ele for indicado.

O Datafolha conferiu que um terço dos eleitores de Lula já se bandeou para outros candidatos. Se nada de positivo para Lula ocorrer até agosto, ele deverá perder mais uma fatia dos eleitores que ainda retém.

Eleitor é um sujeito pragmático. Costuma ser. E até lá, Lula possivelmente será condenado em mais um processo. Crescerá a percepção de que ele cometeu de fato crimes. E de que traçou o próprio destino.

Vida que segue.

Fernando Limongi: The day after

- Valor Econômico

Em jogo, o velho ditado sobre a mulher de César

A prisão de Luiz Inácio Lula da Silva desorientou a todos. No domingo, quando o ex-presidente embarcou em um carro da Polícia Federal, houve quem comemorasse nos bairros nobres de São Paulo, batendo panelas e soltando rojões. No dia seguinte, o dólar subiu e a bolsa caiu. A prisão não entusiasmou o mercado.

Há algo muito estranho aqui. Quando reagiu com o fígado, o cidadão foi para a janela e festejou como se seu time tivesse levado a taça. Ao acordar, levou a mão ao bolso e se deu conta de que não havia o que comemorar.

Não se confunda. Não está em discussão se Lula deveria ou não ser preso. Disso o Poder Judiciário se ocupou. Dura lex, sed lex. Alguns acham que de acordo com o rigor da lei, outros que por motivação política. Esse debate não terá fim. Uma parte não convencerá a outra e insistir nessa conversa é deixar de se ocupar do que importa e que, de fato, pode por termo à briga. Vencedores e perdedores serão definidos com a contagem dos votos em outubro e a transmissão da faixa presidencial em janeiro.

Uma eleição sem Lula é inaudito. Queira-se ou não, a disputa politica no Brasil antes de sua prisão girava em torno do ex-presidente. Estava na frente nas pesquisas eleitorais e seu partido conta com o maior número de adeptos no país. Não era certo que ganharia, mas era o candidato mais forte e com maior penetração entre os mais pobres. Sua retirada forçada gerou um vazio e jogou os demais candidatos em um atoleiro.

O cenário eleitoral tornou-se ainda mais incerto e indefinido. O PT e Lula perderam, mas entre os dois lados em que o país se encontra dividido, não é certo quem saiu ganhando, se os que comemoraram ou os que lamentaram a prisão de Lula. E quem vai decidir não foi às ruas a favor de um lado (poucos atenderam a convocação do Vem Pra Rua e do MBL para pressionar o Supremo Tribunal Federal), ou do outro (o PT não trouxe multidões à porta do sindicato). Provavelmente, ninguém ficou indiferente, mas a incógnita permanece. Quem será o beneficiário efetivo da prisão: direita, centro ou esquerda?

Alckmin dá largada em campanha sob pressão

Na primeira semana como pré-candidato ao Planalto, tucano vê adversários mais fortes nas pesquisas e ainda teme ser ‘contaminado’ por julgamento de Aécio e Azeredo

Pedro Venceslau e Adriana Ferraz | O Estado de S.Paulo

Pressionado a apresentar melhores resultados nas pesquisas de intenção de voto e se firmar como o candidato do centro à Presidência da República, o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) viveu momentos de susto e alívio em sua primeira semana longe do Palácio dos Bandeirantes. Se, por um lado, ele ficou fora das investigações da Operação Lava Jato no Estado, o tucano viu novamente seu desempenho eleitoral ser colocado em xeque.

No âmbito jurídico, Alckmin temia que o rótulo de “investigado pela Lava Jato” contaminasse sua campanha, e por isso comemorou o envio do inquérito para apurar recebimento de caixa 2 à Justiça Eleitoral. A avaliação interna agora é que a decisão dá ao tucano uma narrativa segura para se defender e não cair na vala comum da corrupção que aflige outros políticos.

“Não será danoso para nós (a apuração do caso pelo TSE). Danoso é ficar sem julgar e ele sempre ser citado como envolvido na Lava Jato. No meio de tudo isso que está acontecendo, Alckmin tem todas as condições de responder sobre esse caso na campanha”, afirma o deputado federal Silvio Torres, membro da executiva nacional do PSDB e principal aliado de Alckmin no Congresso.

Em pesquisa divulgada neste domingo, 15, pelo Datafolha, o ex-governador aparece, no melhor dos nove cenários avaliados, com 8% das intenções de voto, atrás de seus principais adversários. Ele vê Marina Silva (Rede) e Ciro Gomes (PDT) herdarem votos do ex-presidente Luiz Inácio da Lula da Silva (condenado e preso na Lava Jato) e o crescimento da preferência pelo nome de Joaquim Barbosa – o ex-ministro do STF se filiou ao PSB para concorrer ao Planalto.

Após pesquisa, petistas reafirmam candidatura de Lula e criticam Datafolha

Integrantes do partido dizem que não há plano B e que ex-presidente será inscrito candidato

Géssica Brandino | Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Integrantes da executiva nacional do PT reafirmam a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva após a divulgação, neste domingo (15), da pesquisa Datafolha sobre as eleições presidenciais. O levantamento nacional mostrou que Lula aparece com até 31% das intenções de voto. Em janeiro, em cenários com menos pré-candidatos, o ex-presidente aparecia com 37%.

Os petistas criticaram a metodologia, mas consideram positivo o resultado de Lula, que lidera nos três cenários em que aparece. O instituto pesquisou ao todo nove listas de candidatos. “Para nós o resultado é excelente, pois só mostra consolidação e confiança”, afirma Paulo Pimenta, líder do PT na Câmara dos Deputados.

Ele disse que Lula será inscrito na eleição presidencial no dia 15 de agosto. "Não vamos ter um plano B. Vamos eleger o Lula em primeiro turno e queremos que, quando o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) se debruçar sobre essa matéria, já não seja mais o candidato, mas o presidente Lula”, declarou.

O Datafolha também mostra que a candidatura de Lula segue dividindo o eleitorado: para 50%, o ex-presidente deveria ser barrado da corrida presidencial, enquanto outros 48% acham que não deveria haver impedimento.

Prisão de Lula mexe com xadrez eleitoral

A primeira pesquisa Datafolha após a prisão do ex-presidente Lula aponta migração de votos do petista para Marina Silva e põe o ex-ministro do STF Joaquim Barbosa (PSB) no centro da disputa. Mesmo sem ter assumido a candidatura, ele já supera Geraldo Alckmin (PSDB) e Ciro Gomes (PDT) em quase todos os cenários sem a presença de Lula.

O fator Joaquim Barbosa

Ex-ministro do STF surge à frente de Alckmin e Ciro no Datafolha e se credencia para a disputa

Maria Lima, Geralda Doca | O Globo

-BRASÍLIA -O fator Joaquim Barbosa, revelado na última pesquisa Datafolha, em que o ex-ministro do STF aparece à frente de candidaturas tradicionais como a do tucano Geraldo Alckmin ou a de Ciro Gomes (PDT), movimentou o cenário para as eleições de outubro. Filiado ao PSB, mas ainda sem definição se será ou não candidato a presidente da República, o relator do processo do mensalão do PT aparece em quarto lugar, com 8% das intenções de voto no cenário com Lula candidato, atrás de Jair Bolsonaro (PSL), com 15%, e de Marina Silva (Rede), com 10%. Sem Lula na disputa, Barbosa passa a terceira colocação, com 9% das intenções de votos, empatado com Ciro Gomes. Fica apenas atrás de Jair Bolsonaro, com 17%, e de Marina, com 15%, que passa a ter empate técnico com o deputado do PSL e aparece como a principal beneficiada pela migração de votos do petista.

Joaquim Barbosa só não será o candidato do PSB à presidência da República se não quiser. O prazo para ele se decidir é maio, mas o martelo pode ser batido ainda esta semana. Resistências pontuais a seu nome são consideradas irrelevantes e motivadas por “falta de conversa”, na opinião do presidente nacional da legenda, Carlos Siqueira. O resultado da pesquisa Datafolha, sem que Joaquim Barbosa tenha se apresentado como candidato, foi considerado espetacular pelo dirigente do partido.

Em praticamente todos os cenários, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o presidente Michel Temer (PMDB) aparecem estacionados em 1% das intenções de votos. O mesmo acontece com o ex-ministro da Fazenda, Henrique Meirelles.

Siqueira diz que o ex-ministro do STF ainda não mostrou seu real potencial e pode crescer muito caso se exponha oficialmente como o candidato que representa “o novo”, de vida limpa e preparado para a disputa.

— No dia que ele assinou a ficha de filiação no PSB, houve um acordo. O combinado é que ele entrava sem a garantia da legenda de que seria o candidato a presidente, e o ministro teria mais tempo para refletir se aceitaria ser o candidato. A hipótese de ser é muito grande. Eu não apostaria na possibilidade de não ser. O único senão reside na dúvida de setores pontuais, que ainda têm certas interrogações em relação a essa candidatura, pelo fato de não o conhecerem suficientemente — diz Carlos Siqueira.

Tucanos e petistas minimizam resultado do último levantamento

Principais lideranças das duas legendas consideram quadro indefinido

Aline Ribeiro e Maria Lima | O Globo

-SÃO PAULO E BRASÍLIA- Embora seus pré-candidatos apareçam em situações bem diferentes, o PT e o PSDB reagiram de modo a minimizar os resultados da pesquisa Datafolha sobre intenção de votos para a Presidência. No levantamento, o ex-presidente Lula lidera, com 31%, seis pontos percentuais abaixo da pesquisa anterior, de janeiro, quando aparecia com 37%. De lá para cá, Lula foi condenado em segunda instância — portanto, sujeito à aplicação da Lei da Ficha Limpa — e preso há um pouco mais de uma semana. Os candidatos alternativos do PT, como Jaques Wagner ou Fernando Haddad, não passam de 2% das intenções de voto.

Já o ex-governador paulista Geraldo Alckmin oscila entre 6% e 8% nos diferentes cenários testados. E, quando Lula está fora da disputa, Alckmin aparece atrás do ex-ministro do STF Joaquim Barbosa em todos os cenários.

Mesmo assim, os tucanos viram um dado positivo na pesquisa: sem o ex-presidente Lula como candidato, o cenário mais provável, Alckmin é capaz de vencer o deputado Jair Bolsonaro (PSL-RJ). Se chegar ao segundo turno, empataria com Ciro Gomes (PDT) e perderia para Marina Silva. Os tucanos criticam o fato de a pesquisa incluir no questionário de consultas candidaturas ainda não colocadas, como a de Joaquim Barbosa, e de Lula, virtualmente inelegível.

— A eleição está longe, mas um bom dado é que Geraldo vence Bolsonaro num provável segundo turno — avalia o ex-líder do PSDB na Câmara, Ricardo Tripoli (SP), vice-presidente nacional do PSDB e pré-candidato ao Senado na chapa de Alckmin.

O secretário geral do PSDB, deputado Marcus Pestana (MG), diz que o jogo está completamente aberto e o quadro sem Lula, fragmentado.

— O Joaquim Barbosa, primeiro, tem que convencer o PSB, que não tem mostrado muito interesse em lançá-lo a partir de outras prioridades. Se conseguir legenda teremos um outsider competitivo, mas que não tem perfil conhecido, agrada à direita por conta do mensalão e desagrada por suas posições contra o impeachment e outras comportamentais. Só a TV mexerá com os números — avalia Pestana.

Sem Lula, Datafolha traz eleição embaralhada

Vandson Lima | Valor Econômico

BRASÍLIA - A nova sondagem sobre a eleição presidencial apresentada pelo Datafolha ontem mostra, no provável cenário de inviabilização da candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), um aumento significativo entre os eleitores ainda sem candidato, que alcançariam hoje quase um terço da amostra.
Jair Bolsonaro (PSL) e Marina Silva (Rede) lideram. Ele com 17% das intenções de voto e ela variando entre 15% e 16%. Ambos abaixo da soma dos que, sem Lula, preferem votar em branco, nulo ou em nenhum (até 24%). Os que declaram não saber em quem votar, sem Lula, chegam até a 4%. Quando não se apresenta uma lista de candidatos aos entrevistados, segundo o Datafolha, 46% dos eleitores dizem que não sabem em quem votar.

Hoje preso e já condenado em segunda instância, portanto impossibilitado pelo critério vigente da Lei da Ficha Limpa, Lula lidera nos cenários em que seu nome aparece, com 31% das intenções. No entanto, a maior parte do eleitorado, 62%, já avalia que o nome do ex-presidente não estará disponível nas urnas em outubro. Entre os pesquisados mais pobres, de menor escolaridade ou da região Nordeste, que pendem a Lula, aumentou a crença de que ele não vai disputar a eleição.

Sem Lula, votos em branco ou nulos sobem de 14% para cerca de 33% no Nordeste; e de 14% para 27% entre os eleitores com renda familiar menor que dois salários mínimos.

Em nota, o PT afirmou que o ex-presidente Lula será o candidato do partido "aconteça o que acontecer" e criticou que seu nome não conste em todos os cenários testados. O Datafolha trouxe diferentes possibilidades, com e sem a participação de Lula. "Dos nove cenários estudados, o instituto realizou seis deles sem o ex-presidente. A manobra para tentar criar um imaginário em que Lula não esteja no pleito esbarra numa questão fundamental: a preferência popular", afirma o PT.

Pelo Twitter, a presidente nacional do partido, senadora Gleisi Hoffmann (PR), foi além e disse: "Nos cenários sem Lula quem ganha são os votos brancos [sic] e nulos. O PSDB, patrono do golpe, foi o que mais perdeu."

Marina, também pelo Twitter, disse: "Recebo com tranquilidade o resultado da pesquisa Datafolha. Nesse período de pré-campanha em que tenho circulado pelo país, estou atenta ao risco da extrema polarização do debate político e comprometida com o debate e não com o embate."

A assessoria do tucano Geraldo Alckmin divulgou nota na qual minimiza os resultados da pesquisa. Diz que o candidato está "otimista" com a receptividade que tem encontrado neste início de pré-campanha, e que os eleitores apenas começarão a definir o voto a partir de agosto.

Manuela d'Ávila (PCdoB) postou no seu Facebook uma nota em que comemora: "Chegar em abril com 3% de intenções de voto, com uma pré campanha sem estrutura (...) é motivo de muito alegria", diz.

Tendência no STF é tornar Aécio Neves réu pela primeira vez

Senador é investigado por suposto recebimento de propina da JBS

Carolina Brígido | O Globo

-BRASÍLIA- Alvo de nove inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF), o senador Aécio Neves (PSDB-MG) deve se tornar réu pela primeira vez amanhã. A tendência é a Primeira Turma da corte receber a denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) no inquérito que investiga se o tucano recebeu propina de R$ 2 milhões da JBS, transformando a investigação em ação penal. O parlamentar também é acusado de atrapalhar as investigações da Operação Lava-Jato. Ao menos três dos cinco ministros da turma devem concordar que há elementos mínimos para justificar que as apurações sigam adiante.

Nos últimos 14 meses, a Primeira Turma tem firmado posição no sentido de receber a maioria das denúncias apresentadas contra parlamentares. Desde fevereiro do ano passado, o colegiado endossou cinco denúncias e rejeitou apenas uma. Nesse período, foram transformados em réus os senadores Romero Jucá Filho (PMDB-RR), Agripino Maia (DEM-RN) e Wellington Fagundes (PR-MT), além dos deputados Adilton Sachetti (PRB-MT) e Luiz Nishimori (PR-PR). O único que teve a investigação arquivada foi o deputado Rôney Nemer (PP-DF).

Caso não é considerado parte da Lava-Jato
Embora a investigação contra o senador Aécio Neves tenha surgido a partir da delação de executivos da JBS, o caso não é considerado parte da Lava-Jato, por não tratar de desvios da Petrobras. Por isso, o inquérito foi sorteado para a relatoria do ministro Marco Aurélio Mello, e não de Edson Fachin, que cuida dos processos da operação. Como Marco Aurélio integra a Primeira Turma, o caso não será examinado pela Segunda Turma, que costuma julgar os processos sobre o esquema de fraudes na Petrobras. Também compõem a Primeira Turma os ministros Alexandre de Moraes, Luís Roberto Barroso, Rosa Weber e Luiz Fux.

Aécio foi denunciado em junho do ano passado pelo então procurador-geral da República, Rodrigo Janot, por corrupção passiva e obstrução de justiça. O senador nega as acusações. Também respondem por corrupção passiva outros três investigados no mesmo inquérito: Andrea Neves, irmã do senador; Frederico Pacheco, primo deles; e Mendherson Souza Lima, exassessor parlamentar do senador Zezé Perrella (PMDB-MG).

DEFESA QUE INVALIDAR PROVAS
Se a ação penal for aberta, será inaugurada uma nova fase de apurações, com produção de provas e oitiva de depoimentos. Somente depois o STF julgará se Aécio é culpado ou não. Em caso de condenação, Janot pediu que Aécio e Andrea Neves paguem R$ 6 milhões aos cofres públicos: R$ 2 milhões são o valor da propina os outros R$ 4 milhões dizem respeito a danos morais, uma vez que houve “lesões à ordem econômica, à administração da justiça e à administração pública, inclusive à respeitabilidade do parlamento perante a sociedade brasileira”. A PGR também quer que seja decretada a perda do cargo de senador.

Aécio Neves: Sua excelência, o fato

- Folha de S. Paulo

Fui ingênuo, cometi erros e me penitencio por eles, mas não cometi nenhuma ilegalidade

A narrativa que se impõe como um tsunami no país tende a considerar, de antemão, todos os políticos culpados.

Fragmentos de imagens e manchetes repetidos à exaustão definem percepções. Vivemos o tempo da opinião muitas vezes desvinculada da informação.

Sou alvo de denúncia em função da delação da JBS. Aos que não conhecem o seu conteúdo, ofereço este esclarecimento. Ofereço mais, ofereço os fatos.

No início de 2017, precisei contratar advogados. Era uma despesa inesperada e eu não possuía recursos pessoais para enfrentá-la. Minha mãe colocou então à venda o apartamento em que reside há mais de 35 anos no Rio de Janeiro.

Minha irmã, Andrea, ofereceu o imóvel a alguns empresários, inclusive ao senhor Joesley Batista. Ela teve com ele, em toda a sua vida, um único encontro, a meu pedido, motivado por esse assunto familiar que nada teve a ver com política.

Mais tarde, de passagem pelo Rio, ela lhe telefonou, convidando-o para conhecer o imóvel. Ele preferiu não ir e pediu um encontro comigo.

Felizmente, esse telefonema, omitido pelo delator, foi recuperado pela Polícia Federal. Ele mostra, de forma inequívoca, o objetivo do contato feito: a venda do imóvel. Apesar da relevância, essa informação não foi mencionada na denúncia.

Recebi, de boa-fé, o delator no hotel em que estava e, numa conversa criminosamente gravada e induzida por ele, permiti-me usar um vocabulário inadequado e fazer brincadeiras injustificáveis e de enorme mau gosto, das quais me arrependo profundamente. Lamento, especialmente, o que esse episódio acarretou para outras pessoas.

Meu primo, Frederico, é uma pessoa absolutamente correta, íntegra e não tem nenhuma responsabilidade pelos fatos ocorridos. Limitou-se a me fazer um favor ao receber um empréstimo pessoal, a mim dirigido, que não tinha nenhuma vinculação com o cargo que ocupo. Reitero a ele e ao seu amigo Menderson, que o acompanhou, o meu pedido público de desculpas pelas consequências que eles e suas famílias vêm sofrendo.

Minha irmã, reconhecida até mesmo pelos meus adversários por sua seriedade e correção, foi injusta e covardemente exposta apenas por ter contatado o delator com a intenção de vender um imóvel.

Na gravação de que fui alvo, o delator atesta a origem lícita e particular dos recursos e deixa claro — também em depoimento— que partiu dele a decisão de que o empréstimo teria que ser feito em espécie, o que não é ilegal, uma vez constatada a licitude dos recursos.

Errei em aceitá-lo. Mas não cometi nenhum crime. Não houve nenhum prejuízo aos cofres públicos. Ninguém foi lesado.

Hoje, é fácil reconhecer que o objetivo dessa exigência era gerar as imagens para o seu extraordinário acordo de delação. Os recursos ficaram guardados, esperando serem formalizados, para que eu pudesse pagar honorários de advogados. Como isso não ocorreu, não foram usados e foram entregues à Justiça.

Mas vamos às acusações.

PT joga a cartada Bolsonaro: Editorial | O Estado de S. Paulo

Chama-se “Jair Bolsonaro” a nova carta na manga do PT para convencer o Supremo Tribunal Federal a soltar o ex-presidente Lula da Silva. Pela lógica do partido, a impossibilidade de Lula disputar a eleição ou de, livremente, fazer campanha para algum outro petista pode abrir caminho para a vitória do extremista Bolsonaro, que aparece em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto para presidente. Assim, o Supremo prestaria um serviço ao País se levasse esse cenário em conta nas próximas oportunidades em que for analisar casos que podem, direta ou indiretamente, beneficiar o ex-presidente.

A estratégia petista foi explicitada pelo presidente do partido em São Paulo, Luiz Marinho, também candidato ao governo do Estado e político muito próximo de Lula. Em entrevista à Rádio Eldorado, Marinho disse que é preciso voltar a “dialogar” no País para evitar que “um Bolsonaro” chegue à Presidência. Tudo isso travestido do nobre objetivo de impedir que o Brasil mergulhe na incerteza, razão pela qual, conforme o ardiloso discurso petista, é preciso que a sociedade e as instituições superem o “ódio” ao PT e a Lula, por serem estes a única força eleitoral capaz de barrar a ascensão de “um Bolsonaro”. “A pregação do ódio não ajuda, vamos ponderar com todos que pudermos conversar”, arrevesou Marinho, em referência às conversas que ele e o ex-ministro petista Gilberto Carvalho tiveram com ministros do Supremo recentemente acerca do processo de Lula.

Marinho e Gilberto Carvalho são, por assim dizer, extensões físicas de Lula. Ao enviá-los para falar com ministros do Supremo, o ex-presidente sabe que é como se ele, em pessoa, estivesse lá. Sendo assim, é evidente que Lula está realizando no Supremo uma ofensiva exclusivamente política, pois no campo jurídico, diante de sucessivas e acachapantes derrotas, parece que não há muito mais o que fazer. É aí que entra a cartada “Bolsonaro”, fantasma que, para os petistas, seria assustador o suficiente para que os ministros do Supremo livrassem Lula da cadeia, permitindo, no mínimo, que ele pudesse subir no palanque para ajudar a eleger alguém do PT.

Universo sem controle: Editorial | O Globo

Privatização deve ser feita não apenas devido ao Tesouro, mas também para a economia ser eficiente

Programas de privatização se constituem nervo exposto da esquerda. É assunto muito sensível e, por isso, inspirador de mitos. Um deles, que estatal é “empresa do povo”. Ora, só quando, para tapar rombos no Tesouro, abertos na injeção de dinheiro em estatais cronicamente deficitárias, o “povo” é convocado a pagar mais impostos.

Na vida real, as empresas públicas têm respondido é ao controle de corporações de funcionários e às rédeas do partido político no poder. Os 12 anos do lulopetismo no Planalto apresentam este aspecto didático: mostrar como aparelhos são montados dentro do Estado, uma forma tentacular de o grupo no poder controlar a máquina burocrática e estatais, fonte estratégica de recursos infindáveis. Pois são retirados do contribuinte por meio de impostos, contribuições, taxas de toda ordem etc.

Nos exemplos lulopetistas de como se drenam recursos públicos para projetos próprios de poder — e até pessoais, de enriquecimento —, o controle da Petrobras, a fim de, por meio de contratos feitos de forma generosamente superfaturada com empreiteiras amigas, é um modelo muito bem acabado do uso de estatais por interesses particulares. De partido, de grupos, de sindicatos, do que seja.

BC se prepara para conter volatilidade no ano eleitoral: Editorial Valor Econômico

O presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, antecipou nos últimos dias as linhas gerais da mensagem que pretende levar à reunião de primavera do Banco Mundial e Fundo Monetário Internacional (FMI), que ocorre nesta semana em Washington. O Brasil, afirmou, tem uma posição externa mais forte para absorver choques externos e recompôs a sua munição para combater eventuais episódios de volatilidade nos mercados locais.

Em depoimento na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado e em entrevista à imprensa estrangeira, Ilan disse que o Banco Central está pronto para enfrentar uma eventual mudança nas condições de liquidez internacional para os países emergentes. Investidores internacionais e representantes de organismos multilaterais, porém, provavelmente estarão mais preocupados com turbulências durante o processo eleitoral brasileiro. A combinação de mudança de humor externo com incerteza política doméstica poderá ter fortes impactos no mercado financeiro.

O presidente do Banco Central argumentou que o déficit em conta corrente do Brasil, um dos mais importantes indicadores de vulnerabilidade externa, equivale atualmente a apenas 0,39% do Produto Interno Bruto (PIB). Nas eleições presidenciais de 2014, superava 4% do PIB. Além de menor, o resultado negativo é financiado confortavelmente com os investimentos diretos no país, que representam 3,14% do produto.

A bomba fiscal e a LDO: Editorial | O Estado de S. Paulo

Desarmar a bomba fiscal para evitar um desastre no primeiro ano do próximo governo é uma das tarefas mais complexas e mais assustadoras da recém-nomeada equipe econômica. Se tudo correr de acordo com as previsões oficiais, o presidente que será eleito em outubro chegará ao fim de 2021, terceiro ano de seu mandato, ainda com um déficit de R$ 70 bilhões nas contas primárias do governo central. Não terá ainda conseguido um centavo, portanto, para pagar os juros e frear o crescimento da dívida pública. Será impossível afastar o risco da insolvência, em 2022 ou pouco mais tarde, sem a reforma do sistema de aposentadorias e pensões.

Mas o desafio mais próximo, o de programar as finanças federais para 2019, já é bastante grave para concentrar as atenções do pessoal do Planejamento e da Fazenda e dos membros mais sérios e respeitáveis do Congresso Nacional.

Garantir o cumprimento da chamada regra de ouro das finanças públicas, em 2019, foi uma das preocupações da equipe econômica ao montar o projeto da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), recém-apresentado ao Legislativo. Aquela regra proíbe endividar o Tesouro para cobrir gastos de custeio, como salários do funcionalismo, contas de luz e outras despesas do dia a dia.

Descumprir essa norma pode sujeitar o presidente da República a processo por crime de responsabilidade. Como prevenção, foi incluída no projeto da LDO uma autorização do Congresso para um crédito suplementar ou especial. Esse remédio é previsto na Constituição, mas depende de aprovação no Legislativo. Sem esse dinheiro, o governo ficará impossibilitado de custear certos gastos obrigatórios ou terá de estourar limites legais, como a meta do déficit primário.

Trump ataca: Editorial | Folha de S. Paulo

EUA e aliados fazem ofensiva, mas há pouco a fazer para mudar o curso da guerra na Síria

A agressividade da retórica de Donald Trump após o suposto ataque químico do regime sírio contra rebeldes, ocorrido em 7 de abril, não lhe permitia a opção de desistir de uma ofensiva retaliatória.

Se não deslanchasse um ataque, emitiria inequívoco sinal de fraqueza diante da Rússia, fiadora maior do ditador Bashar al-Assad.

O presidente dos EUA corria ainda o risco da desmoralização doméstica se emulasse seu antecessor, Barack Obama —criticado com dureza pelo republicano quando se esquivou de dar resposta militar depois de ter dito que Assad cruzara uma “linha vermelha” ao empregar armas químicas.

Trump contou com o auxílio da França e do Reino Unido para destruir três instalações que seriam ligadas à produção e armazenamento de um arsenal proibido por convenções internacionais.

A ajuda europeia fortalece o discurso de que as potências do Ocidente repudiam as ações externas do líder russo Vladimir Putin, a quem buscam isolar.

Os EUA repetiram o que fizeram há um ano —quando bombardearam alvos sírios após Assad ser acusado de lançar gases venenosos contra opositores. E, tal como em 2017, a retaliação não deve passar disso, salvo se confirmada uma outra eventual agressão de Damasco.

Angela Bittencourt: Exterior pesa, mas cenário é positivo

- Valor Econômico

Empresas têm bons resultados e juro é baixo, diz Templeton

Exagero ou experiência acumulada, o bombardeio orquestrado por Estados Unidos, Reino Unido e França à Síria pode ressuscitar a insegurança da Guerra Fria, afirmaram especialistas após o lançamento de 105 mísseis contra três instalações de armas químicas naquele país.

O Pentágono diz que não houve vítimas e os líderes ocidentais indicam que não haverá outros ataques. A Rússia, que na primeira hora avisou aos EUA que deveriam esperar por algum tipo de retaliação, passa a ser observada com mais atenção. A tolerância de Vladimir Putin com o Ocidente pode ter data de validade: 15 de julho, quando termina a Copa do Mundo.

O risco de um conflito armado levantar o Oriente Médio afetou o petróleo na madrugada de sábado. No domingo, as forças armadas sírias atacaram os rebeldes. Essa ação mostrou que o presidente Bashar al-Assad não se intimidou com o bombardeio.

Na sexta-feira, quando aviões dos três países iniciaram o bombardeio, o mercado brasileiro estava fechado, após uma semana tensa com a prisão do ex-presidente Lula e a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de sequer analisar o pedido de habeas corpus de Antonio Palocci, ex-ministro da Fazenda e da Casa Civil dos governos Lula e Dilma, que segue em prisão preventiva há quase dois anos.

Palocci conhece as relações estabelecidas pelos governos petistas com políticos, empresas, bancos e outros países. E o mercado prefere nem pensar na possibilidade de Palocci estar negociando uma delação.

A semana terminou em expectativa com a posição do STF que decide na terça-feira se acata ou não denúncia da Procuradoria-Geral da República contra Aécio Neves que teria pedido R$ 2 milhões ao empresário Joesley Batista, dono da J&F, e tentado atrapalhar o andamento da Operação Lava-Jato.

O resultado da pesquisa Datafolha de intenção de voto para a Presidência na eleição de outubro - outra expectativa do mercado -- foi publicada pelo jornal "Folha de S.Paulo" neste domingo. Lula ainda é o vitorioso no pleito com grande vantagem em segundo turno. Jair Bolsonaro segue na segunda posição. Marina Silva está no encalço de Bolsonaro no cenário que exclui Lula. A ex-senadora e Ciro Gomes são os pré-candidatos mais beneficiados com a distribuição dos votos de Lula.

Geraldo Alckmin, do PSDB - visto pelo mercado financeiro como o representante ideal de centro-esquerda nas eleições - não atrai votos. E corre o risco de dividir o seu eleitorado com o ex-ministro do STF Joaquim Barbosa, que ainda não lançou sua candidatura.

Luiz Carlos Mendonça de Barros: O BC e a recuperação cíclica

- Valor Econômico

Trajetória da Selic ao longo do tempo foi claramente equivocada, lenta demais para o quadro que vivíamos

A recuperação cíclica iniciada em junho de 2016 está perdendo o fôlego nestes primeiros meses do ano. Os dados já disponíveis mostram isto de maneira clara e cristalina. O que mais me assusta é a piora do mercado de trabalho depois de vários meses de recuperação. Em uma economia em que o consumo das famílias representa quase 70% do PIB, a confiança do consumidor na recuperação e o crescimento do emprego são pedras básicas para a manutenção da recuperação cíclica.

Trata-se de uma armadilha ainda mais perigosa depois da recessão que reduziu em 9% o PIB e criou um hiato negativo da mesma ordem no tecido econômico produtivo. Nesta situação, o investimento se reduz de forma dramática em função do excesso de capacidade produtiva que se instala na economia. Para completar o quadro de falta de demanda agregada que estamos vivendo o governo federal vem reduzindo de forma expressiva seus gastos discricionários de consumo e investimento.

Este cenário é comum nas economias de mercado no momento seguinte ao estouro de uma bolha de consumo, como aconteceu nos Estados Unidos e na Europa Unida entre 2008 e 2012. Os indicadores deste período mostram um quadro muito semelhante ao do Brasil pós-governo Dilma Rousseff, com uma expressiva queda no PIB abrindo um hiato de produto e um déficit fiscal parecidos com o nosso. A grande diferença entre estes dois cenários é que no Brasil não tivemos uma crise bancária como a ocorrida nos dois blocos mais influentes do primeiro mundo.

Esta diferença é muito importante quando avaliamos as ações do Copom no período pós impeachment, pois o grau de liberdade da ação da política monetária no Brasil foi maior do que a que se apresentou ao Fed e ao BCE no período de recuperação. Mesmo assim no caso brasileiro prevaleceu um conservadorismo exagerado na condução da política monetária e que está comprometendo a recuperação econômica iniciada em junho de 2016.

Cida Damasco: Sinais vitais

- O Estado de S.Paulo

Privatizações, controle fiscal e até 'coisas novas': governo quer mostrar que não parou

Governos em final de mandato empenham-se para mostrar que continuam andando e não há um hiato até a chegada do próximo ocupante da cadeira presidencial. Em maior ou menor escala, porém, acabam frustrados e frustrando a população. E com a atual administração a situação não é diferente. O discurso oficial de Temer e de sua equipe é que a política econômica continua firme e forte, até porque a campanha do candidato governista vai repisar que esse é um legado da sua administração.

Na prática, porém, é preciso um esforço brutal para evitar que os sinais vitais do governo comecem a falhar. Seja porque o próprio Temer, em busca da reeleição, equilibra-se entre seus interesses políticos imediatos e sua agenda de austeridade, seja porque o Congresso não parece disposto a tocar em frente medidas que possam comprometer seu desempenho nas urnas. O resultado é que correm o risco de ficar pelo caminho compromissos assumidos ao longo do percurso.

A primeira prova de vida, sem sombra de dúvida, é a garantia de mão firme na gestão do setor público. É fato que os números do desempenho do setor neste começo de 2018 sugerem que a meta fixada para o encerramento do ano, um déficit primário de R$ 159 bilhões, será cumprida até com uma certa folga. Segundo a mais recente avaliação oficial, o rombo deverá ficar em R$ 157,4 bilhões.

Mesmo assim, frente ao risco de não concretização das receitas previstas para a desestatização da Eletrobrás e às despesas com a intervenção federal na segurança do Rio, o governo tratou de autorizar um bloqueio de gastos de R$ 18,2 bilhões. Para a virada da década, porém, as expectativas só pioram. A projeção de superávit primário foi adiada mais uma vez, de 2021 para 2022, em razão do explosivo déficit da Previdência, que deve bater a marca dos R$ 200 bilhões já no ano que vem.

Livro sobre Armênio Guedes

“Queridos Gilvan e Grazi. Quero convidá-los pro lançamento do livro do Mauro Malin sobre o Armênio Guedes. Será no dia 7/5, na Travessa do Shopping Leblon, a partir das 19hs. Se puderem ir, vou gostar muito de vê-los. Beijos saudosos”
Cristina Konder

Cecília Meireles: Lua adversa

Tenho fases, como a lua
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua…
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha.

Fases que vão e que vêm,
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.

E roda a melancolia
seu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém
(tenho fases, como a lua…)
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua…
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu…