Elio Gaspari: O PT e Ciro no golpe do plebiscito

- O Globo

Plebiscito logo após a eleição é golpe demagógico. Ciro Gomes e Rui Falcão, ex-presidente do PT, avisaram que em suas plataformas está a convocação de um plebiscito ou de um referendo para ratificar suas propostas caso vençam as eleições de outubro. Ciro defendeu a convocação desse mecanismo para decidir o destino de um projeto de reforma da Previdência. Dias depois, Falcão falou em “reverter as reformas desastradas do Temer por plebiscito ou referendo”. (Num plebiscito os cidadãos escolhem uma entre várias alternativas. Num referendo, aprova-se ou rejeita-se uma proposta.)

Quando deputado, o petista José Dirceu apresentou um projeto propondo que os acordos para o pagamento da dívida externa fossem submetidos a um referendo popular. Diante da perspectiva de poder, o comissariado fez a “Carta aos Brasileiros” e mudou de assunto. Desde 2001 Ciro Gomes defende a realização de plebiscitos, inclusive para decidir a questão previdenciária. Ele chamava essa girafa de “terceiro turno”.

A ideia de uma consulta popular direta logo depois de uma eleição presidencial é um golpe demagógico. Seu objetivo é o emparedamento do Congresso. Esse truque fez o gosto de Hugo Chávez na Venezuela e deu no que deu. No Brasil de 2018 o pescoço da girafa cresce quando se vê que os candidatos estão costurando alianças com partidos devastados pela Lava-Jato.

Trata-se de um jogo de “perde-perde” para o regime democrático, pois ao seu final haverá um presidente imperial esmagando um Parlamento cuja “caciquia” Ciro Gomes cortejou em busca de tempo de televisão. Uma pessoa disposta a votar em Ciro pode achar a ideia boa. E se o poste de Lula ganhar a eleição?

Se um candidato tem o que oferecer, poderá fazê-lo durante a campanha que começa daqui a pouco. Se der, deu. Se não der, não deu.

As vivandeiras querem Bolsonaro
Um pedaço do andar de cima que desfila na tropa de Jair Bolsonaro não quer escolher um presidente da República. Quer um golpe parecido com o de 1964, aquele que colocou cinco generais na Presidência da República. Em 1984, quando a ditadura agonizava, quase todas as vivandeiras que aplaudiram as extravagâncias do poder militar aderiram à campanha de Tancredo Neves e varreram para os quartéis o entulho do regime.

A plateia que ouviu Bolsonaro na Confederação Nacional da Indústria durante uma hora viu que estava diante de um candidato compreensivelmente nervoso e incompreensivelmente desconexo. Vago ao expor sua plataforma econômica, o candidato citou o evangelista João — “conhecereis a verdade e ela vos guiará” — e, em seguida, guiou a audiência para a questão ambiental de Roraima. Adiante, informou: “Estamos entregando a mina de nióbio ao chinês.” Referia-se à mina da Anglo American de Catalão (GO). (Em fevereiro, em Hamamatsu, Bolsonaro prometeu trabalhar em parceria com japoneses para a exploração do nióbio brasileiro.)

Reforma trabalhista? “É remendo novo em calça velha”. Não se pode saber o que isso significa, mas a plateia não reagiu.

Num breve momento o candidato deu uma pista. Mencionando que ele temeu um eventual crescimento da esquerda, disse: “Aí acabou qualquer esperança de mudarmos o Brasil pelas vias democráticas, que tem que ser.”

Desde 1985 o Brasil está numa via democrática e Bolsonaro, com seus sete mandatos, é uma prova disso. O candidato de hoje não repete o deputado que há dez anos, diante de uma manifestação hostil, disse que o “grande erro” da ditadura “foi torturar e não matar”. O Brasil deve ao marechal Castelo Branco a exposição das “vivandeiras alvoroçadas” que, desde 1930, rondam quartéis. Elas ainda estão por aí.

Vera Magalhães: Uma nova lógica

- O Estado de S.Paulo

Força inédita do Centrão é chave para entender as chances do presidente eleito governar

O Centrão já teve várias encarnações e várias conformações, mas sua atual composição e a maneira como negociou o apoio a um candidato a presidente seguem uma nova lógica, que leva em conta, mais do que outros fatores que tradicionalmente pesam nessas escolhas, a nova regra de desempenho dos partidos que passa a vigorar a partir dessas eleições.

Só terá direito ao fundo partidário e ao tempo de propaganda a partir de 2019 o partido que receber 1,5% dos votos válidos nas eleições para a Câmara, distribuídos em ao menos nove Estados, com um mínimo de 1% em cada um deles. Outro critério válido é ter conseguido eleger ao menos 9 deputados federais, distribuídos em 9 unidades da federação.

A exigência vai aumentando gradualmente a cada quatro anos até 2030, quando a cláusula de desempenho passa a ser ter no mínimo 3% dos votos válidos e 9 Estados, com 2% dos votos válidos em cada um, ou eleger 15 deputados federais em 9 Estados.

Não é a primeira vez que se tenta criar uma barreira à existência de partidos nanicos e sua participação no bolo de recursos eleitorais. Mas desta vez as siglas pequenas e médias parecem estar se preparando para de fato cumprir a regra – e não tentar derrubá-la em nova reforma eleitoral ou por meio de recursos ao Judiciário.

Isso ajuda a explicar por que o bloco de partidos que se aglutinou na Câmara em torno da liderança de Rodrigo Maia (DEM) se transpôs também em um blocão para a negociação de apoio nas eleições. Juntos esses partidos imaginam que têm mais cacife para negociar espaços nas chapas estaduais que lhes permita cumprir as novas normas.

Mais: a união, neste caso, projeta a possibilidade de fusão futura das siglas que saírem vitaminadas das urnas com aquelas que, estando sob o mesmo guarda-chuva, não conseguirem cumprir os pré-requisitos para continuar existindo.

Bruno Boghossian: O peso da TV

- Folha de S. Paulo

País está mais ligado à internet, mas 25% dos brasileiros não acessam as redes

A campanha de Geraldo Alckmin (PSDB) deve aparecer 80 vezes por semana na programação de cada emissora de TV a partir do fim de agosto. O PT exibirá 27 inserções, e Jair Bolsonaro (PSL) terá direito a apenas três filmetes a cada sete dias.

A corrida presidencial colocará à prova o peso da propaganda na televisão. Alckmin vai decolar nas pesquisas com seu latifúndio na TV? Limitado à internet, Bolsonaro conseguirá sustentar e ampliar seu eleitorado? O candidato de Lula se tornará conhecido até o dia da votação?

A caçada por alianças partidárias que se desdobrou nos últimos dias se justifica. Cada vez mais brasileiros se informam a partir de novos meios de comunicação, mas a TV preserva um papel relevante na política.

“Nas pesquisas sobre as fontes de informação dos brasileiros, a TV continua aparecendo em primeiro lugar”, diz Márcia Cavallari, CEO do Ibope. “Além disso, na hora da decisão do voto, a televisão e a internet têm o mesmo peso. Cada uma é citada por um terço dos eleitores.”

Ainda que exista um país cada vez mais ligado às redes sociais, cerca de 25% dos brasileiros não costumam acessar a internet.

Isso significa que 36 milhões de eleitores podem escolher seus candidatos até outubro sem consultar o Facebook.

Bernardo Mello Franco: A eleição mais difícil

- O Globo

A total imprevisibilidade da corrida presidencial. Não se preocupe se você não tem ideia do que vai acontecer em outubro. Até quem vive de fazer previsões anda perdido com a corrida presidencial. “Será a eleição mais difícil da História do Brasil”, afirma o presidente do Ibope, Carlos Augusto Montenegro. No instituto desde 1971, ele se diz impressionado com o desinteresse pelo voto. “A população está enojada com a política. Nunca vi o eleitor tão frio e desmotivado.”

O Ibope começou a sondar os eleitores há um ano e dois meses. Segundo Montenegro, o quadro permaneceu imóvel “como água parada”. “Ninguém sobe nem desce, porque os candidatos não emocionam”, avalia. “Pode ser que 70 milhões de brasileiros não votem para presidente. A população está decretando por conta própria o fim do voto obrigatório.”

Apesar da indefinição, Montenegro arrisca alguns palpites. Ele aposta que o atual líder da disputa, Jair Bolsonaro, não se elegerá presidente. “Ele perde para qualquer um no segundo turno”, sentencia. “O voto do Bolsonaro não é ideológico de direita. É como o voto nulo, no Enéas ou no Tiririca.”

O mago das pesquisas duvida que Marina Silva chegue ao segundo turno. “O que ela tem hoje é recall das últimas eleições. Quando o horário eleitoral começar, isso se esfacela. Ela vai sumir”, afirma, referindo-se aos 8 segundos da Rede na TV. Ele diz que Ciro Gomes corre o mesmo risco, caso não consiga fechar alianças. “Mas o maior adversário do Ciro é ele mesmo”, ironiza, referindo-se à língua solta do pedetista.

Rolf Kuntz: Chegar ao século 21, uma boa pauta de governo

- O Estado de S.Paulo

O próximo governo será um dos mais inovadores da história nacional se conseguir trazer o Brasil ao século 21

O próximo governo será um dos mais inovadores da história nacional se conseguir trazer o Brasil ao século 21 ou, no mínimo, até a sua vizinhança. Impedir a quebra do Estado, ameaçado por uma dívida enorme e crescente, será uma condição preliminar - essencial, é claro, mas insuficiente para atualizar o País. Há meio século, economias como a sul-coreana e outras da Ásia, bem menores que a brasileira, apenas começavam a se mover. A Tailândia mal dispunha de algumas indústrias simples no começo dos anos 1980, quando iniciou um programa de modernização com apoio do Banco Mundial. A China estava longe de ser uma potência produtiva, exportadora e, até há pouco tempo, inovadora. Todas se moveram muito mais que a brasileira. O Brasil ficou em 80.º lugar entre 137 países na avaliação de competitividade publicada em setembro do ano passado pelo Fórum Econômico Mundial. Ocupou a 26.ª posição entre os exportadores, em 2017, de acordo com a Organização Mundial do Comércio (OMC), embora tenha continuado entre as dez maiores economias.

Permaneceu entre os últimos, em 2015, no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), nos exames de ciência, matemática e linguagem. Hoje, além de ser uma das mais fechadas, a economia brasileira continua pouco preparada, a começar pelo domínio da própria língua pela maioria das pessoas, para participar do jogo mundial.

O Brasil é competitivo na agropecuária e na mineração. Na indústria, a Embraer e umas poucas empresas ficam muito acima dos padrões dominantes no País. Pouca inovação, ineficiência e baixo investimento produtivo compõem a maior parte do cenário, desde o planejamento estatal, a gestão dos serviços públicos e a oferta de infraestrutura, até a formação escolar, miserável e pouco ambiciosa, oferecida à maior parte dos brasileiros.

Luiz Carlos Azedo: O tabuleiro eleitoral

- Correio Braziliense

Pesaram a favor de Alckmin o discurso moderado, a paciência para conversar e uma trajetória de político tradicional que respeita a palavra empenhada e compartilha o poder

O fato novo na campanha eleitoral é a ampla aliança formada pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB) com o propósito de catapultar sua candidatura ao segundo turno, garantindo-lhe para isso a vantagem estratégica do maior tempo de televisão entre os candidatos. Ao amarrar as alianças com o PTB, PSD e PPS, o tucano conseguiu atrair o bloco de centro formado pelo DEM, PP e PR. O Solidariedade ainda ameaça pular fora do barco. Muita água vai rolar até o registro das coligações, cujo prazo é 15 de agosto, mas os blocos eleitorais estão se consolidando e já se pode dizer que Alckmin entrou, finalmente, na disputa pela Presidência.

O ex-governador paulista foi beneficiado pela falta de identidade dos partidos do Centrão (que não tem nada a ver com o blocão ideologicamente conservador da Constituinte de 1987) com os demais candidatos, depois de a candidatura do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), à Presidência não vingar. O bloco é muito fisiológico e namorava o candidato do PDT, Ciro Gomes, mas as atitudes radicais do ex-governador cearense, outra vez, puseram tudo a perder. A carta enviada à Embraer e a Boeing contra a fusão das duas grandes empresas foi a gota d’água. Sinalizou para o DEM que Ciro não era um político confiável para os que defendem a não intervenção estatal na economia. As afirmações de que não abriria mal da “hegemonia moral” na relação com os aliados espantaram os demais.

Ciro negociava com o Centrão, mas miravam o PSB, que ainda não decidiu o que pretende fazer nas eleições. Uma ala da legenda defende a aliança com PT e outra, propõe o lançamento de uma candidatura própria. Nas pesquisas de intenção de voto, Ciro está em vantagem em relação a Alckmin; essa dianteira, porém, torna-se frágil diante do isolamento em que ficou. Do bloco que aderiu a Alckmin, somente o Solidariedade deve se manter ao lado de Ciro, por causa do alinhamento de sua base sindical com o candidato do PDT.

Pesaram a favor de Alckmin o discurso moderado, a paciência para conversar e uma trajetória de político tradicional que respeita a palavra empenhada e compartilha o poder com os aliados. É tudo o que os políticos do centrão desejam, pois estão mais focados na eleição de bancadas federais que garantam participação no futuro governo, qualquer governo. Não deixa de ser um ônus para Alckmin a aproximação dessas forças, em particular o PR, de Waldemar Costa Neto, figura carimbada desde o mensalão, que negociava com Jair Bolsonaro (PSL) e deixou o ex-capitão a ver navios.

Isolamento
Em primeiro lugar nas pesquisas de opinião sem Lula, Bolsonaro sentiu o golpe, pois contava com o tempo de televisão do PR e a deriva das forças do Centrão para chegar ao segundo turno. A defecção de Costa Neto levou-o ao isolamento, com pouquíssimo tempo de televisão para campanha. Com isso, a jurista Janaína Paschoal, coautora do pedido de impeachment de Dilma Rousseff — acompanhada dos juristas Hélio Bicudo e Miguel Reale Junior — pode vir a ser a vice na chapa de Bolsonaro. Também está isolada a candidata da Rede, Marina Silva, que é a segunda colocada nas pesquisas. Tentou atrair o PPS e o PV, que seriam alternativas de alianças, mas os dois partidos estão com Alckmin. Marina já provou sua resiliência nas duas campanhas anteriores, sua capacidade de resistir ao isolamento será posta à prova novamente.

Celso Ming: As incertezas começam a se dissipar?

- O Estado de S.Paulo

Até agora, as dúvidas sobre quem sairá vencedor da eleição de 2018 fez muita gente adiar investimentos e compras relevantes

O que esperar desse apoio do chamado Centrão (ou Blocão) à candidatura à Presidência da República de Geraldo Alckmin?

Foi por conta disso que, nesta sexta-feira, a Bolsa comemorou, o dólar e os juros mergulharam e o discurso dos analistas, até agora tão soturno, começou a descontrair-se. Mas o que há de novo e o que significaria isso?

Ao longo dos últimos dez meses, em toda análise sobre perspectivas da economia brasileira não se falou de outra coisa senão das enormes incertezas que paralisaram tudo.

E a principal incerteza que bloqueou decisões de investimento, de compras relevantes ou de encaminhamento profissional de tanta gente foi a que pairou (e, por certo, ainda paira) sobre o quadro eleitoral. Investimentos deixaram de ser realizados e os juros não poderiam cair mais, porque o horizonte estava turvado. O risco de trombada logo adiante vinha tomando tudo.

Sem clareza sobre como o Brasil seria governado a partir de 2019, muita coisa foi sendo adiada. Não se trata propriamente de garantir opção ideológica precisa, que aponte para programas de direita ou esquerda, mas de uma direção, qualquer que fosse, que desse o norte para a vida nacional.

O tal Centrão carrega as deformações de nossa política. É, com as exceções possíveis, agrupamento fisiológico aferrado ao toma lá dá cá e ao que há de pior no patrimonialismo herdado do Brasil Colônia. Mas, no momento, leva condições para contribuir para o adensamento da até agora pouco relevante candidatura de centro, no sentido de que se apresenta como relativamente equidistante dos extremos do espectro político nacional.

Cacá Diegues: Os inimigos do demônio

- O Globo

Ortega segue no poder através de sucessivos mandatos contestados pela oposição e sustentados pelo que existe de mais reacionário e corrupto na elite nicaraguense

Entre o final dos anos 1950 e o início dos 1960, nós estávamos convencidos de que o Brasil era, sim, o país do futuro. Não apenas como uma potência social e econômica, mas também como uma organização política original e uma cultura que mudaria o rumo da humanidade, sobretudo ocidental. Já disse mais de uma vez, por exemplo, que o programa de nosso Cinema Novo era muito simples e tinha somente três pequenos pontos objetivos: reinventar o cinema, transformar a sociedade brasileira e mudar a história da humanidade. Nós tínhamos certeza de que o Brasil, e nossa geração dentro dele, estava destinado a isso.

A primeira decepção, o primeiro impasse para o futuro desse projeto de futuro, acabou sendo o golpe militar de 1964. Descobrimos, da noite para o dia, que não eram bem as câmeras e os intérpretes diante delas que mudavam o mundo. No nosso caso específico, eram os tanques que estavam prestando esse serviço não solicitado. Com paciência e certa perseverança, descobriríamos mais tarde que, apesar de tudo, embora não mudassem o mundo, nossos filmes e os filmes que amávamos podiam fazer os espectadores entendê-lo melhor. Se não tínhamos poder para mudá-lo, podíamos ao menos descobrir e revelar o estado do mundo.

Durante cerca de 21 anos (a duração da ditadura), os melhores e mais consequentes artistas brasileiros viveram dessa ilusão sagrada, que justificava nossas obras e mesmo nossas vidas. A determinação da censura contra o que fazíamos, mais do que um problema, era uma vitória da nossa consciência, a garantia de que era esse mesmo o rumo certo, a ação correta que podíamos praticar num mundo autoritário e perigoso, como aquele em que estávamos vivendo.

Aposta de Alckmin é ir para 2º turno com o PT

Tucano acredita que o candidato apoiado por Lula desidratará Ciro, e que parte dos votos de Bolsonaro irá para ele

Marina Dias | Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Três dias antes de o centrão chancelar o apoio a seu nome na disputa pelo Palácio do Planalto, Geraldo Alckmin (PSDB) fez o cálculo político mais importante de sua pré-campanha: como de costume, resolveu esperar.

Desistiu de um encontro que estava marcado para a segunda-feira (16) com Álvaro Dias (Podemos), que também concorre à sucessão de Michel Temer. Na conversa reservada, ofereceria ao ex-colega de partido a vaga de vice na sua chapa à Presidência.

Avaliou, porém, que o movimento –inicialmente programado para evitar um possível isolamento partidário– poderia romper de vez suas pontes com o chamado centrão.

Naquele momento, o grupo formado por DEM, PP, PRB, PR e Solidariedade ainda estava dividido entre avalizar Alckmin ou apoiar Ciro Gomes (PDT), em uma jogada que levaria o bloco a um campo pouco vivenciado por ele: a esquerda.

A habitual paciência do ex-governador de São Paulo, atrelada a conversas individuais que teve com dirigentes do grupo no início da semana, surtiram efeito. Na tarde de quinta-feira (19), o centrão decidiu fechar acordo com o tucano.

O acerto deu sobrevida à candidatura de Alckmin e força à sua principal tese: o candidato apoiado pelo ex-presidente Lula desidratará Ciro Gomes e a disputa deste ano será, mais uma vez, polarizada entre PT e PSDB.

Em sua segunda tentativa de chegar ao Planalto, Alckmin considera que precisa recuperar o espaço que perdeu para Jair Bolsonaro (PSL), principalmente no eleitorado jovem e rico, se quiser voltar à tradicional formatação das eleições presidenciais desde 1994 –e a aliança com o maior bloco de partidos entre os concorrentes pode ajudá-lo.

Com estrutura nos estados, prefeitos e parlamentares engajados na campanha, além dos cerca de 4 minutos e meio que terá na propaganda eleitoral na TV, Alckmin acredita que vai conseguir sair dos 7% que tem há meses nas pesquisas.

Na ponta dos levantamentos, pretende encontrar, no meio de setembro, o adversário petista lançado e apoiado por Lula, que, preso há três meses em Curitiba, lidera as pesquisas com 30%.

Os cotados como plano B do PT, Fernando Haddad e Jaques Wagner, têm apenas 1% quando Lula não aparece na disputa, mas o potencial de transferência de votos do ex-presidente é significativo.

Segundo o Datafolha, 30% das pessoas dizem votar em um candidato apoiado por ele, enquanto 17% afirmam que talvez votariam.

A aliados Alckmin admite que a estratégia do PT de levar a candidatura de Lula até o limite, a despeito do veto imposto pela Lei da Ficha Limpa, é "a melhor possível", porque preserva de ataques dos adversários o nome que será escalado para substituir o ex-presidente nas urnas.

Além disso, o tucano acredita que, quanto mais perto do primeiro turno, mais eficaz será o potencial de transferência de votos do petista.

A aposta de Alckmin é pragmática: em um eventual segundo turno contra o PT, ele receberia parte dos votos de Bolsonaro –que hoje lidera a corrida ao Planalto na ausência de Lula–, principalmente pelo discurso antipetista.

O tucano acredita que, em uma eleição tão fragmentada como esta, será muito difícil um nome alinhado à esquerda ficar fora do segundo turno.

Para duelar com esse personagem, no entanto, precisa de impulso para chegar ao primeiro pelotão das pesquisas.

A receita, dizem seus auxiliares, além do amplo tempo de TV, será atacar frontalmente Bolsonaro, apontando contradições e mostrando o que dizem ser "nítido despreparo" do capitão reformado.

Alckmin pediu que sua equipe fizesse uma espécie de inventário de fracassos da ditadura militar, exaltada por Bolsonaro como um período em que o país crescia com ordem social. O tucano quer um levantamento sobre o número de estatais daquela época, além dos índices de inflação, que dispararam na década de 1980, no fim da ditadura.

Após aliança, DEM e PSDB discutem palanques regionais

Acerto com candidaturas no Rio de Janeiro e em Minas Gerais está em negociação antes da retomada oficial da antiga parceria entre partidos

Por Guilherme Venaglia | Veja

O DEM e o PSDB devem, mais uma vez, estar juntos na maior parte dos estados brasileiros. Os democratas, que integram o chamado Centrão, tiveram participação ativa no acordo para que o grupo de cinco partidos – formado também por PP, PR, Solidariedade e PRB – apoiasse a pré-candidatura de Geraldo Alckmin (PSDB) à Presidência da República.

Daqui até a próxima quinta-feira, quando o Centrão anunciará oficialmente sua posição, no entanto, alguns arranjos regionais ainda precisarão ser feitos. O PSDB abriu mão de candidaturas próprias no Distrito Federal e no Rio Grande do Norte para fechar com o PSD. Com o DEM, as discussões são sobre o Rio de Janeiro e Minas Gerais.

No primeiro estado, a tendência é que o PSDB oficialize, nos próximos dias, o apoio ao ex-prefeito Eduardo Paes (DEM) para governador do Rio, mesmo com um cortejo do deputado Índio da Costa (PSD), também candidato. Em Minas, a expectativa é o inverso: o pré-candidato do DEM, o deputado Rodrigo Pacheco, pode abrir mão para um entendimento em torno do senador Antonio Anastasia (PSDB) como candidato.

“O Democratas entende a prioridade ser o Rio de Janeiro, com Eduardo Paes, e o estado de Minas Gerais, em que nós temos um pré-candidato, que é o Rodrigo Pacheco, que vem nessa história ao lado de Anastasia. Há espaço e é importante esse entendimento. Naturalmente, se ele não ocorrer, em uma ampla aliança como essa que Geraldo Alckmin está construindo, é natural que você tenha vários palanques nos estados”, comentou, sobre as articulações, o deputado Rodrigo Garcia (DEM-SP), que nesta sexta-feira (20) foi confirmado como o vice na chapa de João Doria (PSDB) ao governo de São Paulo.

Isolado, Bolsonaro oficializa candidatura neste domingo

Seus quase 30 anos na Câmara foram pautados por discurso radical, com ataques a gays, mulheres e defesa da ditadura

Talita Fernandes, Ranier Bragon | Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Responsável na atual disputa pelo maior crescimento proporcional nas pesquisas, o capitão reformado do Exército Jair Bolsonaro, 63, oficializa neste domingo (22) no Rio de Janeiro sua candidatura à Presidência da República pelo nanico PSL.

Em menos de três anos, ele passou de 5% das intenções de voto (dezembro de 2015), para os 17% atuais, nos cenários em que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva aparece entre os candidatos.

Deputado federal por sete mandatos, Bolsonaro sempre foi um outsider no Legislativo: de mais de 170 projetos de sua autoria, apenas dois viraram lei. Seus quase 30 anos na Câmara foram pautados pela adoção de um discurso agressivo e radical, incluindo ataques a gays e mulheres, defesa da ditadura militar, de um novo golpe de Estado, assassinato de criminosos, entre outros pontos.

Com esse perfil, reuniu em seu entorno eleitorado em grande parte de extrema direita que lhe dá, hoje, a liderança nas pesquisas nos cenários sem o ex-presidente Lula.

Apesar de largar na frente, Bolsonaro enfrentará o desafio de conseguir, sem partidos aliados e com um minúsculo tempo de propaganda eleitoral na TV, furar a polarização entre PSDB e PT que vem desde 1995.

A acirrada briga da esquerda por apoio do PSB

PT tenta obter ao menos neutralidade de socialistas para não dar mais espaço a Ciro e manter hegemonia

Catarina Alencastro | O Globo

BRASÍLIA - A desistência do bloco de cinco partidos do centrão de apoiar a candidatura do pedetista Ciro Gomes empurrou a esquerda para uma disputa fratricida em torno do apoio do PSB. Além de Ciro, o PT faz um cerco agressivo aos pessebistas. O partido sabe que não pode contar com o PSB para uma aliança formal em torno da candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso há mais de três meses em Curitiba, e seu eventual substituto. Mas não desiste de tentar impedir uma adesão oficial do partido à campanha do PDT, para manter a hegemonia na esquerda. Sem o centrão, Ciro e o candidato do PT passam definitivamente a concorrer no mesmo campo por uma vaga no segundo turno.

Enquanto o PT se concentra em conquistar a neutralidade do PSB, o PDT mantém conversas diárias com caciques da sigla para não sofrer mais uma derrota. Para o PT, o ganho seria simbólico, uma demonstração de que, mesmo com seu maior líder preso, continua a ser um grande ator político.

PERNAMBUCO É PEÇA-CHAVE
Para o PDT, a aliança representaria um salto importante no tempo de TV. Além disso, Ciro ganharia entrada no segundo maior colégio eleitoral do país, Minas Gerais, tendo como vice o ex-prefeito de Belo Horizonte Márcio Lacerda. O nome dele está acertado no caso de confirmação do apoio do PSB a Ciro.

O presidente do PSB, Carlos Siqueira, que nutre preferência não declarada a Ciro, tem se limitado a dizer que é contra a neutralidade do partido. A pressão sobre Siqueira é grande dos dois lados. O presidente do PDT, Carlos Lupi, diz que conversa com ele todos os dias. E a presidente do PT, Gleisi Hoffman, encontrou-se com ele quase uma dezena de vezes nas últimas semanas.

Gleisi e Siqueira não falam, porém, a mesma língua. A senadora é aguerrida e inflamada. Siqueira, manso. Outro dia, quando debatiam o texto da frente ampla de esquerda em defesa da democracia, Gleisi insistia numa crítica ao Judiciário, mas Siqueira foi contra.

Direita, esquerda, democratas cristãos...

Somados, Jair Bolsonaro, Ciro Gomes e Marina Silva já foram filiados a nada menos que 15 partidos

Jussara Soares | O Globo

SÃO PAULO - Eles já foram de direita, de esquerda, democratas cristãos, verdes, socialistas e algo mais. Ao contrário de eleições anteriores, lideradas na maior parte do tempo por políticos de PT e PSDB, neste ano os três candidatos que aparecem nas primeiras colocações nas pesquisas, nos cenários sem o ex-presidente Lula, têm um histórico de mudanças de partidos. Juntos, Jair Bolsonaro (PSL), Marina Silva (Rede) e Ciro Gomes (PDT) passaram por 15 siglas diferentes.

Ciro esteve em sete legendas, em uma transição que acentua sua mudança de perfil ideológico: começou no PDS, identificado com a direita, e passou pelo PPS, antigo Partido Comunista Brasileiro. Foi do PMDB, ajudou a fundar o PSDB e esteve também no PSB e no nanico PROS.

— A partir do PPS são transições em busca de espaço para ele e seu grupo. É muito pragmático — observa o cientista político Cláudio Couto, da Fundação Getulio Vargas.

Embora sempre à direita, Bolsonaro foi outro que não parou quieto. Esteve em seis grupos diferentes. Neste ano, trocou o PSC pelo PSL para ser candidato.

Fundadora do PT, Marina Silva mudou menos: passou por PV e PSB antes de estruturar a Rede.
— No caso dela, fica claro que existe uma vontade de romper com o jeito tradicional de fazer política — diz Couto.

Alckmin diz não ser candidato do mercado e que enfrentará corporações

Por Valor | Valor Econômico

SÃO PAULO - O pré-candidato à Presidência da República pelo PSDB, Geraldo Alckmin, foi o convidado desta sexta-feira (20) do programa “Mariana Godoy Entrevista”, da Rede TV. Entre outras questões, ele foi perguntado se seria o “candidato do mercado”.

“Não, sou o da mudança”, respondeu. “Se não fizermos mudanças rápidas, vamos entrar em decadência”, afirmou, citando o alto endividamento do país e a falta de investimentos — tema que voltou a pontuar em diversos momentos da entrevista. “Com uma dívida tão alta, não tem investimento. Não se cresce só com consumo. E o momento é bom, sobra dinheiro no mundo.”

Ele afirmou ainda ser o candidato que vai “mudar esse status quo” e enfrentar as corporações. Na opinião de Alckmin, o Brasil foi “cooptado” pelas corporações, públicas e privadas. “Minha meta é emprego e renda. Para isso é preciso investimento.”

Alckmin disse ainda que pretende reduzir impostos e simplificar a questão tributária, concentrando cinco cobranças no chamado IVA, imposto de valor agregado.

De acordo com ele, é possível fazer as reformas política, tributária, previdenciária e de Estado, aproveitando-se do apoio popular do candidato que vencer nas urnas, mas para isso o esforço terá que se concentrar o início do governo. “Se não fizer nos primeiros seis meses, não faz mais.”

Ele comentou também que pretende priorizar a educação básica, de zero a cinco anos de idade, depois focar na qualidade do ensino na faixa de 6 a 14 anos e, posteriormente, na formação técnica.

Com relação à saúde, afirmou que pretende melhorar a gestão e oferecer mais serviços. Para ilustrar o problema atual, comentou que existem no Brasil 23 mil leitos fechados por falta de custeio. Alckmin disse também que pretende corrigir a tabela de pagamentos do SUS. “Vamos cobrar R$ 2 bilhões das seguradas de saúde para investir no SUS”, afirmou. A pendência estaria relacionada, por exemplo, a despesas ligadas a tratamentos de câncer.

Sobre segurança, Alckmin disse que violência está disseminada no país e tem forte ligação com o tráfico de drogas — questão, segundo ele, agravada pela falta de vigilância adequada nas fronteiras. Para combater isso, pretende criar uma Guarda Nacional, formada por aqueles que estão saindo das forças armadas. Outra ação seria criar uma força de inteligência.

Em determinado momento da entrevista, Mariana Godoy leu a mensagem de uma internauta que cobrava uma postura mais energética do pré-candidato. “Não está na hora de colocar pimenta nesse chuchu?”, questionou. Alckmin sorriu e, após uma rápida pausa, respondeu: “Nunca fui showman”.

Apoio do Centrão ao PSDB exige reordenar alianças nos Estados

Por César Felício | Valor Econômico

SÃO PAULO - A união do tucano Geraldo Alckmin e do centrão demandará muita negociação para o reordenamento das alianças locais. São poucos os Estados em que existe um alinhamento entre PSDB, PP, DEM e PR, para citar os partidos mais importantes da maior aliança eleitoral na eleição presidencial.

O risco do tucano permanecer frágil em Estados centrais existe, mas a união nacional deve abrir espaço para a formação de novos palanques nos locais em que as candidaturas regionais ainda estão em fase de consolidação.

Os quatro estão juntos em São Paulo e tendem a se unir no Paraná e em Pernambuco. No primeiro caso em torno da candidatura de João Doria (PSDB) a governador e nos outros dois para o apoio respectivo à governadora Cida Borghetti (PP), que tenta a reeleição e ao senador Armando Monteiro (PTB).

Nos demais casos há muito a ser feito para garantir um palanque sólido a Alckmin, cujos índices nas pesquisas rondam os 2% de intenção de voto fora de São Paulo.

A anteposição no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina é entre o PP e o PSDB. O gaúcho Luiz Carlos Heinze (PP) tende a apoiar Jair Bolsonaro na corrida presidencial, na esperança de superar Eduardo Leite, ex-prefeito de Pelotas, candidato pelo PSDB.

Em Santa Catarina, a demanda do PP para que o senador tucano Paulo Bauer desista de sua candidatura ao governo para o ex-governador Esperidião Amin já foi levada a Alckmin.

Em Minas Gerais e Goiás, o confronto é entre os tucanos e o DEM. No caso goiano, trata-se de um problema insolúvel: Ronaldo Caiado (DEM) e o grupo do ex-governador Marconi Perillo (PSDB) representam a principal polarização no Estado e estarão em lados opostos na eleição.

Em Minas, tenta-se conciliar as candidaturas ao governo estadual do tucano Antonio Anastasia e do deputado Rodrigo Pacheco (DEM). Foi outro problema levado a Alckmin.

No Ceará, na Bahia, no Rio Grande do Norte e no Piauí, as principais siglas do centrão apoiam lideranças filiadas a partidos que são adversários diretos da candidatura presidencial tucana. No Ceará, o DEM e o PP estão no chapão pela reeleição do petista Camilo Santana (PT), com aval do PDT de Ciro Gomes.

No Piauí, o PP de Ciro Nogueira, presidente da sigla, está na coligação do petista Wellington Dias. No Rio Grande do Norte, Carlos Eduardo Alves (PDT) reúne na sua chapa o PP e o DEM do senador José Agripino Maia.

Na Bahia, PP e PR são aliados do PT do governador Rui Costa.

A conjugação entre Alckmin e Centrão poderá vitaminar a candidatura do ex-prefeito Eduardo Paes (DEM) no Rio de Janeiro, já que nenhum dos demais partidos que apoiam o tucano para presidente conta com candidatura viável no Estado. Ou servir de catalisador para uma chapa única no Amazonas, onde os partidos oscilam entre apoiar Amazonino Mendes (PDT) ou Omar Aziz (PSD) e nenhum acordo foi fechado.

Também pode servir para as legendas alinhadas a Alckmin acertarem o passo no Distrito Federal, onde ainda não há candidato definido para derrotar a candidatura à reeleição do impopular governador Rodrigo Rollemberg (PSB). Desta união pode surgir ainda um candidato a se confrontar em Alagoas com o governador Renan Filho (MDB), que irá apoiar o PT no plano presidencial.

Alckmin rebate Bolsonaro: 'Tentou apoio do Centrão, não conseguiu e fala mal'

Presidenciável do PSL afirmou que Geraldo Alckmin juntou ao seu lado 'a nata de tudo que não presta no Brasil'

Eduardo Rodrigues | O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA - O pré-candidato à Presidência da República pelo PSDB, Geraldo Alckmin, rebateu neste sábado, 21, as declarações de Jair Bolsonaro (PSL) de que o apoio do chamado Centrão à sua candidatura juntaria “a nata de tudo que não presta no Brasil”, ao seu lado. O tucano também atacou o concorrente na disputa eleitoral.

“Ele (Bolsonaro) passou esse tempo todo querendo o apoio dos partidos. Não conseguiu e aí sai falando mal. É uma grande incoerência”, respondeu Alckmin em entrevista na tarde deste sábado, 21, na sede da Rádio Ji Paraná FM, em Rondônia.

Alckmin também acusou Bolsonaro de envolvimento com políticos que estão presos. “Na realidade, nesses sete mandatos de deputado federal, o que ele fez foi votar com o PT e sempre andar em más companhias. Aliás, é só olhar no Rio de Janeiro quem são as companhias dele: estão todos presos. E o grande mentor dele era o Paulo Maluf”, acrescentou.

O ex-governador de São Paulo disse ainda que só terá “alianças realizadas” na próxima semana e lembrou que a convenção do PSDB está marcada para o dia 4 de agosto. “Estamos trabalhando para um esforço conciliatório. O Brasil está cansado de briga, de divisão. Precisamos pacificar o País para o Brasil sair do marasmo”, afirmou.

Para Alckmin, o apoio do Centrão não é apenas para ganhar a eleição em outubro, mas para ter governabilidade a partir de janeiro. “A população não quer governo para dar show, para ficar se mostrando, para ficar fazendo espetáculo. Ela quer governo para resolver os problemas, para o Brasil voltar a crescer”, completou.

No sábado, outros presidenciáveis também criticaram o acordo de Geraldo Alckmin com o Centrão.

Os pesadelos que habitam o Minha Casa Minha Vida: Editorial | O Globo

É um contrassenso que imóveis praticamente prontos permaneçam fechados quando país tem um déficit habitacional estimado em 6,3 milhões de moradias

Costuma-se dizer que o Brasil é o país dos absurdos, tantas são as situações que desafiam a razão e o bom senso. Exemplos estão por toda parte. Um deles foi ao ar no domingo passado, em reportagem do “Fantástico”, da TV Globo. Ela mostrou que 186.682 unidades do Minha Casa Minha Vida — todas destinadas a pessoas de baixa renda — estão com 95% ou mais das obras concluídas, mas não podem ser entregues por problemas que vão da falta de infraestrutura a pendências com as empreiteiras. Com isso, os imóveis, apesar de quase prontos, permanecem fechados, expostos à deterioração do tempo e sujeitos a ocupações. No entorno desses conjuntos fantasmas, vivem, de forma precária, algumas das famílias que se inscreveram no programa. Estima-se que o país tenha um déficit de 6,3 milhões de moradias.

Um dos casos citados é o do Conjunto Rio Doce, em Linhares (ES). São 600 casas que estão prontas desde 2012, faltando implantar as redes de água e esgoto. Um ano depois de concluído, o empreendimento foi atingido por uma cheia — não prevista, apesar de o condomínio ficar próximo ao rio que, inclusive, lhe dá nome. Por causa da enchente, que afetou também o conjunto vizinho, Mata do Cacau, com 917 casas, foi necessário construir um dique, que só ficou pronto no ano passado.

Em Feira de Santana (BA), um conjunto concluído em dezembro de 2017 também permanece de portas fechadas. E os 3.500 futuros moradores não sabem quando poderão se mudar para lá. Na hora de entregar os imóveis, percebeu-se que faltava algo essencial: energia elétrica. Nem postes de luz existem.

Mobilidade travada: Editorial | Folha de S. Paulo

Metrópoles padecem com opção pelo automóvel e escassez de recursos para o transporte coletivo

A mobilidade urbana é um nó a ser desfeito nas maiores cidades brasileiras, onde a população experimenta excruciante rotina de vias congestionadas, ônibus lotados, escassas alternativas de transporte sobre trilhos e demoradas viagens entre bairros afastados e regiões mais centrais que concentram a oferta de emprego.

Embora iniciativas relevantes tenham surgido nos últimos anos, parte delas em torno da realização de grandes eventos, como a Copa de 2014e a Olimpíada de 2016, as deficiências se acumulam.

Além de insuficientes, nem todas as propostas de melhoria saíram do papel, e algumas já apresentam problemas de conservação.

O drama do transporte público brasileiro tem origem em fatores socioeconômicos e em decisões duvidosas tomadas pelo Estado ao longo de décadas.

No século passado, o forte crescimento demográfico e o processo de urbanização fomentaram uma vertiginosa expansão das cidades sem a necessária infraestrutura e com planejamento precário.

Simultaneamente, os esforços de modernização e de desenvolvimento industrial, que se renovaram no pós-Guerra, levaram o Brasil a optar pela predominância do modelo rodoviário, com o uso intensivo do automóvel.

Nesse quadro, coube ao ônibus, muito mais do que ao trem e ao metrô, assumir a função de principal meio coletivo, numa disputa ferrenha pelo espaço viário com a frota de carros em contínua ampliação.

De olho na dívida brasileira: Editorial | O Estado de S. Paulo

Crescimento, estagnação ou novo desastre, o rumo da economia brasileira nos próximos anos dependerá, em primeiro lugar, de como o novo governo resolva cuidar das contas públicas. Muitas vezes difíceis em tempos de eleição presidencial, as previsões econômicas estão muito mais complicadas neste ano, porque a crise fiscal embaça todo o panorama. Essa dificuldade, apontada pelos vencedores da 12.ª Edição do Prêmio Broadcast Projeções, é percebida também pelos analistas estrangeiros. Economistas do Instituto de Finanças Internacionais (IIF na sigla original), com sede em Washington, decidiram analisar o panorama político brasileiro “pelas lentes do risco fiscal”, chamando a atenção principalmente para as condições de sustentabilidade da dívida pública. Mais uma vez, as conclusões apontam um caminho muito estreito e nada confortável para quem assumir a Presidência em janeiro de 2019.

Se o novo governo implementar reformas para apressar o ajuste das contas e aumentar o potencial de crescimento, o endividamento poderá declinar, mas continuará muito alto pelo menos até 2023, segundo o estudo. Se um caminho heterodoxo retardar o ajuste ou até levar a uma recessão por causa da incerteza política, a dívida aumentará abruptamente. Mas o endividamento brasileiro já é muito alto para um país emergente.

Os autores do estudo mencionam uma dívida equivalente a 83% do Produto Interno Bruto (PIB) e o risco de superação do nível de 95% até 2022 em caso de abandono do teto de gastos. Essas proporções têm como base o critério do Fundo Monetário Internacional (FMI). Pelo padrão do governo brasileiro, a conta exclui os títulos públicos na carteira do Banco Central (BC), mas, ainda assim, a dívida continua próxima de 80% do PIB e com tendência de crescimento.

Manuel Bandeira: Louvação a Cidade do Rio de Janeiro

Louvo o Padre, louvo o Filho
E louvo o Espírito Santo.
Louvado Deus, louvo o santo
De quem este Rio é filho.

Louvo o santo padroeiro
- Bravo São Sebastião -
Que num dia de janeiro
Lhe deu santa defensão.

Louvo a Cidade nascida
No morro Cara de Cão.
Logo depois transferida
Para o Castelo, e de então
Descendo as faldas do outeiro,
Avultando em arredores,
Subindo a morros maiores
Grande Rio de Janeiro!

Rio de Janeiro, agora
De quatrocentos janeiros...
Ó Rio de meus primeiros
Sonhos! (A última hora
De minha vida oxalá
Venha sob teus céus serenos,
Porque assim sentirei menos
O meu despejo de cá.)

Cidade de sol e bruma,
Se não és mais capital
Desta nação, não faz mal:
Jamais capital nenhuma,
Rio, empanará teu brilho,
Igualará teu encanto.
Louvo o Padre, louvo o Filho
E louvo o Espírito Santo.