sábado, 4 de agosto de 2018

*Luiz Werneck Vianna: Terra à vista

- O Estado de S.Paulo

A hora presente indica que se deve começar a solucionar a atual crise pela dimensão ideal

Estamos chegando depois de tormentosa viagem em mares bravios. Saídos de um continente velho de ideias cediças que nos fazia prisioneiros de um passado exausto que não mais nos permitia as ambições de conviver numa sociedade justa e igual, somos pioneiros em terra nova. Trazemos conosco os ideais anunciados no manifesto “Por uma sociedade democrática e reformista” e a vontade de propagá-lo por toda parte. Não vai ser nada fácil, como atesta a história de todos aqueles que assumiram este papel de desbravar terreno inóspito, a começar pelas próximas eleições. A seu favor, contudo, conspiram os novos ventos que têm varrido nossa sociedade e que assinalam o fim de um longo ciclo de modernização autoritária, que se inicia com Vargas, passa por JK, pelo regime militar e por Lula, e deságua no desastre que foi o governo de Dilma, que pôs a nu o anacronismo deste velho modelo que não é mais capaz de reiterar suas realizações no passado.

O melhor indicador desta mutação foi o massivo movimento da juventude nas jornadas de junho de 2013 – embora inconsciente dos efeitos de sua obra –, que se manifestou contra tudo o que está aí, o nosso Estado inclusive, em nome dos ideais de auto-organização e da participação social. Aquelas jornadas ficaram sem herdeiros que lhes dessem continuidade, mas deixaram no ar em disponibilidade seu significado de fundo para quem souber interpretá-las, tarefa que cabe, nesta hora difícil, às forças democráticas e progressistas.

Merval Pereira: Sem soluções fáceis

- O Globo

Estamos diante de um novo quadro de desânimo, e novamente o eleitorado parece buscar o salvador da pátria

As pesquisas eleitorais mostram há mais de ano Lula e Bolsonaro nos primeiros lugares. Toda vez que o brasileiro votou em busca de um salvador da pátria, o resultado não foi bom.
Desde a redemocratização tivemos outros dois episódios assim: em 1989, quando venceu Collor, e em 2002, quando Lula foi eleito.

Assim como desta vez, o eleitorado naquelas ocasiões estava desanimado com as experiências anteriores, buscando soluções que pareciam fáceis, mas eram simplesmente ilusórias.

Em 1989, primeira eleição direta depois da redemocratização, o país vinha da frustração da morte de Tancredo, outro que parecia o salvador da pátria, mas não te vetem pode ser testado como tal, e buscou os extremos para encontrara saída.

Foram para o segundo turno Collor, um populista de direita, contra Lula, um populista de esquerda, depois de uma campanha de muitas agressões mútuas e baixarias incríveis.

Ficou em terceiro o trabalhista Leonel Brizola, outro político de esquerda que morreu convencido de que foi roubado para que Lula fosse ao segundo turno, pois, conforme sua análise, era um candidato mais fácil de ser derrotado por Collor. Lula superou Brizola por 0,1% dos votos.

Lula já fez sua autocrítica, reconhecendo que seria uma tragédia se tivesse sido eleito naquela ocasião. Disse ele em 2010, num comício: “Hoje eu agradeço a Deus por não ter ganhado em 1989, porque eu era muito novo, muito mais radical do que eu era em 2002 e, portanto, eu poderia ter feito bobagem. Não bobagem porque eu quisesse fazer, mas pela impetuosidade, pela pressa de fazer as coisas”.

Collor não fez sua autocrítica, apenas lamentou que não soubesse interagir com o Congresso naquela ocasião como sabe agora, o que pode significar que teria antecipado já naquela época a metodologia que levou ao mensalão e ao petrolão.

Em 2002, depois de ter elegido Fernando Henrique Cardoso duas vezes no primeiro turno graças ao Plano Real, o eleitorado buscou Lula, o seu contrário.

A disputa entre PT e PSDB que há 30 anos domina apolítica brasileira começou em 1994, o fim da era dos tucanos deu início à dos petistas.

João Domingos: O tiro no pé do PT

- O Estado de S.Paulo

Os petistas de Pernambuco colocaram o Diretório Nacional contra a parede

O acordo entre PT e PSB que isolou Ciro Gomes na campanha eleitoral pode ter liquidado o candidato do PDT. Mas não dá para dizer que foi aquele sucesso que os petistas calculavam que seria. Para acabar com Ciro eleitoralmente juntaram-se o “golpista” Michel Temer, que fez pressão sobre os partidos do Centrão, ameaçando tirar-lhes os cargos que têm no governo caso se bandeassem para os lados do candidato do PDT, e Lula, que da cadeia ordenou à direção nacional do PT que garantisse a neutralidade do PSB. Esse fato inusitado será explorado na campanha por guardar alguma semelhança com peças publicitárias de 2014 veiculadas por Dilma Rousseff. Insinuava-se nelas que, se eleita, Marina Silva se aliaria aos banqueiros e roubaria a comida dos pobres.

Do lado de Temer falou o fígado, pois Ciro costuma dizer que o Palácio do Planalto foi “dominado por uma quadrilha” e que o presidente é o chefe dela. Do lado de Lula, falou a necessidade de exterminar aquele que vinha se tornando uma ameaça à hegemonia do PT no campo da centro-esquerda. Isso o PT não perdoa. Até porque, se perder essa condição, Lula deixa de ter a importância que tem. Outro vai ocupar o lugar dele.

Desde o impeachment de Dilma Rousseff e o processo e a prisão de Lula, o PT nunca esteve tão unido. Isso depois de um desastre na eleição municipal de 2016, em que muita gente chegou a prever não o fim do PT, mas o seu encolhimento à metade, talvez menos que isso. Pois essa unidade petista, que se escondia atrás do afastamento de Dilma e da prisão de Lula em Curitiba, corre riscos por causa do acordo PT/PSB. Há rebeliões no partido numa hora complicada, às vésperas do pedido de registro da candidatura de Lula no TSE.

Demétrio Magnoli: Cancellier, eu e você

Cancellier não fará o que fez Caldas, temos que fazer por ele, para nós

“Convivo com a pior de todas as sentenças: a mácula da minha honra por crimes que não cometi ou que sequer existiram”. Eduardo Jorge Caldas, secretário-geral da Presidência no governo FHC (1995-98), enfrentou uma incessante campanha de acusações, sem prova ou nem sequer denúncia formal, conduzida por Luiz Francisco de Souza, um procurador-militante. Reagiu, lutando nos tribunais por uma década, até provar sua inocência.

Já o reitor Luiz Carlos Cancellier, preso sem um fio de prova e proibido de colocar os pés na universidade, não resistiu à “pior de todas as sentenças”, suicidando-se diante do público num shopping de Florianópolis. Cancellier não fará o que fez Caldas. Temos que fazer por ele, para nós.

O Conselho Nacional do Ministério Público reconheceu finalmente, em 2009, que Luiz Francisco perseguia Caldas por razões político-partidárias. Prudentemente, desde o fim do governo FHC, o procurador sumiu do palco iluminado, desistindo da missão sagrada da denúncia da corrupção para refugiar-se num sinistro blog “socialista cristão”, de onde dispara petardos difamatórios.

Já a delegada Erika Marena, que mandou prender o reitor, foge à obrigação mínima de reconhecer o erro monstruoso, preferindo inventar um processo vazio contra um colega da vítima. Quanto pesa a injustiça? Será necessária uma nova década até que se repare o irreparável?

De Caldas a Cancellier, mudaram os tempos. Sob o signo da Lava Jato, há cheiro de sangue no ar. Da barriga da operação anticorrupção que desvendou tantos crimes escorrem líquidos contrastantes. Num lado, vastas, justificadas esperanças cívicas; no outro, a substância tóxica da arrogância missionária.

Hélio Schwartsman: Identidade e ideologia

- Folha de S. Paulo

Esquerda tem abandonado seus discursos de caráter mais universalista

Desnecessária e inoportuna a decisão da Knesset de aprovar um projeto de lei que define Israel como “Estado-nação do povo judeu” e ainda tira do árabe o estatuto de língua oficial do país. Como bem observou o grande Clóvis Rossi, a medida não apenas é inútil, já que ninguém nunca achou que Israel não fosse um Estado judaico, como ainda abre o flanco para fundadas acusações de etnocentrismo.
Não chega, porém, a ser uma surpresa que o governo capitaneado por Binyamin Netanyahu, o mais conservador da história de Israel, tenha promovido um projeto com esse teor. A adoção de bandeiras nacionalistas e étnicas nunca foi estranha à direita.

O que é relativamente novo —e, a meu ver, representa um retrocesso— é que a esquerda também tenha abandonado seus discursos de caráter mais universalista para abraçar com força as chamadas políticas identitárias. Deixou de enfatizar uma igualdade de direitos que derivam da própria condição de ser humano, sem estar associados a nenhuma característica de grupo, e passou a falar em direitos de negros, mulheres, homossexuais etc.

Nas versões mais radicais, quem não pertence ao grupo discriminado não pode nem falar sobre o assunto, proibição que se estende a cantar canções ou utilizar peças de vestuário que simbolizam o movimento —a chamada apropriação cultural.

Não se contesta que negros, mulheres e homossexuais sofram mais discriminação, o que justificaria priorizar suas demandas. A questão é que o tipo de discurso que se adota faz diferença. Enquanto a esquerda tradicional inscrevia o fim da discriminação no contexto de um movimento de emancipação que beneficiaria a todos, a política identitária ressalta as diferenças entre as pessoas sem apontar nada de universal.

Há autores que afirmam que essa mudança de atitude da esquerda contribuiu mais para a polarização nas sociedades do que a internet e as redes sociais. Seria interessante tentar medir isso.

Ricardo Noblat: Lula em estado de desespero

- Blog do Noblat

Caiu a ficha dele

Há mais de 100 dias, quando se entregou à Polícia Federal, Lula foi para o cárcere de Curitiba com duas certezas: não ficaria preso por muito tempo, e ainda teria chances de disputar a sucessão do presidente Michel Temer. Havia advogados que diziam para ele que isso seria possível, embora outros mais realistas pensassem o contrário, mas preferissem se calar.

A liberdade tão esperada por Lula não veio, e tão cedo virá ao que tudo indica. Todos os recursos impetrados pela defesa de Lula para soltá-lo foram derrotados nos tribunais superiores. Salvo o inesperado, a Justiça Eleitoral negará em prazo relativamente curto o pedido de registro da candidatura dele a ser apresentado até o próximo dia 15.

A ficha de Lula finalmente caiu. Foi por isso que nas últimas horas ele tomou decisões que dão uma ideia do seu estado de desespero. Mandou rifar em Pernambuco a candidatura de Marília Arraes (PT) ao governo do Estado. Para em seguida oferecer ao Partido Socialista Brasileiro (PSB) o que ele pedia e o que nem imaginava pedir para deixar de apoiar a candidatura de Ciro Gomes (PDT).

Os advogados de Lula, ontem, o aconselharam a escolher seu vice para que a chapa chegasse pronta à convenção do PT marcada para logo mais. É o que manda recente resolução do Tribunal Superior Eleitoral. Lula recusou o conselho. O vice, seja qual for, só será escolhido a poucas horas do fim do prazo para o pedido de registro da sua candidatura.

Manuela d’Ávilla, candidata a presidente pelo Partido Comunista do Brasil (PC do B), Fernando Hadadd ou Jaques Wagner, ambos do PT, e quem mais possa vir a ser vice de Lula terão que se conformar com a espera. Lula sabe que tão logo se anuncie quem será seu vice, ele começará a sair de cena. Todos os holofotes se voltarão para o vice no pressuposto de que ele será de fato o candidato do PT.

É tudo o que Lula não quer – perder o protagonismo dentro do PT e da esquerda, perder espaço na mídia, sentir-se, enfim, cada vez mais só. Ele tudo fará para que isso não aconteça, não importa o preço que possa custar ao PT e aos seus antigos aliados.

Armando Castelar Pinheiro: Da funcionalidade das democracias

- Valor Econômico

A falta de legitimidade tira a funcionalidade da democracia e isso anima movimentos totalitários à direita e à esquerda

As novas projeções demográficas do IBGE, divulgadas na semana passada, trouxeram boas notícias, como a contínua alta da esperança de vida ao nascer. Por outro lado, confirmaram o quadro desafiante para áreas como a saúde, onde as despesas continuarão subindo rápido, já que são bem maiores para os idosos, e a assistência à terceira idade, pela queda do número de familiares jovens por idoso.

A notícia mais marcante, porém, foi a antecipação em cinco anos do fim do bônus demográfico - a diferença entre as taxas de crescimento das populações em idade ativa e total. Para a previdência, será um complicador adicional, já que mostra uma queda ainda mais acelerada na razão entre o número dos que contribuem para o sistema e o daqueles que dele recebem benefícios. Também significa que, tudo o mais constante, o PIB per capita vai crescer menos no futuro. Primeiro, porque o número de pessoas em idade laboral por habitante vai cair, em vez de subir, como nas últimas décadas. Segundo, pois a taxa de poupança deve diminuir, já que idosos e crianças poupam menos do que aqueles em idades intermediárias, cuja proporção na população vai cair.

A mudança é significativa. No período pós-1980, o aumento da população ocupada por habitante respondeu por 0,5 ponto percentual (pp) da alta média de 0,7% ao ano na renda per capita, com o outro 0,2 pp vindo do aumento da produtividade do trabalho. Com o primeiro componente desaparecendo e o segundo diminuindo, daqui para a frente, na média, o PIB per capita deve ficar quase estagnado.

Obviamente, o grande "se" é se tudo mais de fato ficará constante. Afinal de contas, o que o Brasil precisa fazer para resolver o problema da previdência e crescer mais rápido é bem conhecido. E, do ponto de vista técnico, não são reformas difíceis de implementar. A questão é que o diagnóstico e o receituário de reformas também já são conhecidos há muito tempo. E nem por isso avançamos.

Há diferentes explicações possíveis para essa inércia. Uma delas é que os não-economistas não entendem bem o porquê desses problemas e das reformas. A solução seria, portanto, insistir em divulgar diagnósticos e propostas de reformas. Eu simpatizo com essa visão, mas não creio que esteja na raiz do problema: afinal, em nenhum país do mundo o eleitor mediano entende dessas coisas e dificilmente isso ocorrerá no Brasil.

Lula, Dirceu e PT ficavam com 2/3 das propinas, diz Duque

Ex-diretor da Petrobrás colabora diretamente com a Justiça após ter acordos de delação rejeitados pelo MPF
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Ricardo Brandt, Julia Affonso e Luiz Vassallo | O Estado de S. Paulo

O ex-diretor de Serviços da Petrobrás Renato Duque afirmou ontem ao juiz Sérgio Moro, da 13.ª Vara Federal em Curitiba, que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-ministro José Dirceu e o PT dividiam dois terços da propina arrecadada com os contratos de plataformas para exploração do petróleo do pré-sal da Sete Brasil. A informação, segundo Duque, foi passada pelo ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto.

Segundo o ex-diretor, um terço da propina iria para a “casa”, nome usado para a propina destinada aos executivos da Petrobrás e da Sete Brasil, e os outros dois para o PT. “Esses dois terços para o partido seriam divididos entre Lula, José Dirceu e o partido”, afirmou.

Condenado a mais de 40 anos na Operação Lava Jato, Renato Duque teve acordos de colaboração premiada rejeitados pelo Ministério Público Federal (MPF) e passou a colaborar diretamente com a Justiça.

Ao juiz Sérgio Moro, ele relatou que o pagamento de propina “era institucionalizado”. “Todos os estaleiros pagaram”, afirmou. Duque disse que ouviu de Vaccari que ele era o homem do partido responsável pela arrecadação de propina da parte política nos contratos da Sete Brasil, empresa criada em 2010 para intermediar os contratos de plataformas, que está em recuperação judicial.

Vaccari disse, segundo Duque, que o ex-ministro Antonio Palocci era o responsável pelo acerto e dava as coordenadas de como seria distribuído. Os contratos de plataformas feitos a partir de 2011 envolveriam, segundo ele, propina de 1%. Ao todo, eram mais de US$ 20 bilhões em contratos.

Duque confessou a Moro que recebeu cerca de US$ 3,8 milhões de propinas em negócio da Jurong com a Sete Brasil. Ele relatou que o dinheiro foi pago em uma conta aberta em Milão, no banco Cramer. Segundo o ex-diretor, os pagamentos da Jurong e dos estaleiro internacionais foram destinados aos executivos da Petrobrás e da Sete Brasil, chamado por eles de “casa”. O valor dos 2/3, que segundo Duque eram destinados ao PT seria bancado por estaleiros criados por empreiteira como Odebrecht, OAS e UTC.

Além de apontar que a propina a Lula foi paga pelo estaleiro liderado pela Odebrecht, Duque relatou que a parte destinada a Dirceu saiu do estaleiro da Engevix e o montante para o PT saiu do estaleiro da Queiroz Galvão e Camargo Corrêa. Depoimentos. Ontem, Moro ouviu depoimentos de quatro réus do terceiro processo a ser julgado na Lava Jato envolvendo negócios dos 21 navios-sonda da Sete Brasil contratados pela Petrobrás a partir de 2011. O caso é o da Jurong, que tem R$ 2,1 bilhão em contratos com a estatal e envolveria propina de US$ 18,8 milhões.

A defesa de Vaccari disse que ele também foi interrogado por Moro nesta sexta-feira, mas foi orientado a permanecer calado. “O ex-tesoureiro nega no processo qualquer envolvimento com arrecadação de propinas e ilícito.” A assessoria de Lula afirmou que “o ex-presidente teve todas as suas contas vasculhadas e jamais recebeu valores ilegais ou teve em Palocci seu representante para receber qualquer valor. Não vamos comentar declarações sem nenhuma prova de presos que buscam fechar acordos para obter benefícios judiciais”.

A defesa de Dirceu emitiu nota afirmando que “diante da situação em que se encontra Renato Duque é absolutamente compreensível, que depois de anos de prisão, diga o que seus acusadores gostariam de ouvir.” O PT foi procurado mas não deu retorno.

Alckmin se torna competitivo, mas carrega o peso do centrão

Mal nas pesquisas, tucano ganhou fôlego ao obter a maior coligação da eleição

Daniel Carvalho, Thais Bilenky | Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Depois de meses de crise partidária e desempenho decepcionante em pesquisas, Geraldo Alckmin (PSDB) chega neste sábado (4) à convenção que o confirmará na disputa pela Presidência com estatura de candidato competitivo.

Se até semanas atrás tinha de lidar com a pressão de correligionários para substituí-lo, o deboche de adversários à esquerda e à direita e o desânimo de sua própria equipe, o tucano hoje precisa responder sobre sua aliança com o centrão (DEM, PP, PR, PRB e SD).

Ele formou o maior arco de alianças, o que trouxe 40% do tempo de televisão e capilaridade partidária, revertendo o clima de abatimento que assombrava seu entorno.

No ato deste sábado, em um centro de convenções em Brasília, Alckmin subirá ao palco com o peso da aliança com partidos conhecidos pelo fisiologismo e lideranças envolvidas em diversos esquemas de corrupção.

O tema também atinge o candidato e a sua legenda, o que esvazia o discurso que sustenta contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso em Curitiba, e o PT, adversário histórico do PSDB.

Sobre Alckmin pesam suspeitas de caixa dois em campanhas, o que ele nega. Além dele, o senador Aécio Neves (PSDB-MG), que não confirmou presença no ato, é réu acusado de corrupção passiva e obstrução de Justiça na Operação Patmos, da Polícia Federal. Aécio foi gravado pelo empresário Joesley Batista, da JBS, pedindo a quantia de R$ 2 milhões. O senador nega qualquer irregularidade.

O presidenciável ainda terá de se esforçar para dissociar sua imagem da do governo Michel Temer. O emedebista chegou ao poder com apoio dos tucanos, fiadores do impeachment de Dilma Rousseff (PT), e o PSDB ocupou ministérios importantes.

Temer também contribuiu indiretamente para a campanha de Geraldo Alckmin ao ameaçar tomar cargos de integrantes do governo que apoiassem a candidatura de Ciro Gomes (PDT), o que pesou na decisão do centrão de se aliar ao tucano.

Em seu discurso, Alckmin vai defender alianças e capacidade de diálogo para gerar consenso e boa governança.

Também vai encampar oficialmente o desafio de retomar a geração de empregos e promover diversas reformas de uma só vez: a previdenciária, a tributária, a política e a de Estado.

Alckmin: ‘Se você não faz aliança, não decola, está abandonado’

Centrão vai mudar porque terei rigor ético

Cristiane Jungblut, Maiá Menezes e Silvia Amorim | O Globo


RIO — Visivelmente mais confortável depois de ter conseguido fechar a mais ampla aliança da eleição e de ter driblado as resistências do centrão para a escolha da senadora Ana Amélia (PP-RS) como vice, o pré-candidato à Presidência Geraldo Alckmin (PSDB) não esconde o pragmatismo das suas ações nas costuras políticas. Em entrevista ao GLOBO, ele afirma que o político que não faz alianças acaba “abandonado” e aposta que o centrão não será fisiológico em seu governo.

Perguntado como enfrentaria Jair Bolsonaro (PSL) mantendo seu estilo discreto, Alckmin faz uma parada para a quinta xícara de café durante uma hora de conversa e dispara: “Quem tem que que ter carisma é o povo. E não é chuchu. É picolé de chuchu, que é mais saboroso”, diz o tucano, rindo da própria afirmação inusitada.

• O senhor diz que representa o “novo” nesta eleição. Como isso é possível se está há 40 anos na política e tem ao seu lado o centrão?

Primeiro, o novo não é não ter nenhuma experiência de administração pública ou nunca ter sido candidato. O novo é defender o interesse coletivo e mudar a política. É isso que queremos.

• Mas são partidos pautados pelo fisiologismo há muitos governos...

Acho que as pessoas entendem o objetivo. Vocês fulanizam muito. O Valdemar Costa Neto (líder do PR) não é nem candidato. O PR tem o Josué Gomes, um dos melhores quadros desta nova geração. O fato é o seguinte: se você não faz aliança, você é criticado, está abandonado, não decola, vai ser cristianizado. Quando faz a aliança, dizem: “Puxa, a aliança é grande demais”. Na política, a gente tem que ter um foco: como é que vamos tirar o Brasil da crise. Esse é o foco e é isso que interessa.

• Por que eles (o centrão) mudariam agora?

Eles vão ter que mudar porque farei um governo com rigor ético absoluto. O que eles querem é ser partícipes.

• Os políticos querem mais do que isso...

Não há a menor hipótese de isso acontecer.

• O senhor é alvo de uma investigação por suspeita de caixa 2 em 2010 e 2014. Seu cunhado, Adhemar Ribeiro, é apontado como arrecadador desses recursos. O senhor disse há algumas semanas que não é crime “apresentar pessoas”. Adhemar apenas apresentou doadores para as suas campanhas?

Ele nunca arrecadou, nunca foi da tesouraria do partido. Agora, uma pessoa que tem mulher banqueira e é dono de financeira tem relacionamentos. Qual é o problema nisso? Não levou pessoas, mas é claro que ele é uma pessoa bem relacionada. As minhas campanhas sempre foram rigorosamente dentro da lei.

• Como pretende tratar o tucano Aécio Neves, réu na Lava-Jato?

Ele foi afastado da direção partidária e ainda não foi julgado. Se for condenado, não vamos passar a mão na cabeça de ninguém.

• Outro ator central na Lava-Jato é o Supremo Tribunal Federal. O senhor é a favor do mandato vitalício dos ministros?

Vi um candidato (Jair Bolsonaro) dizendo que vai dobrar o número de ministros. O sujeito quer fazer da Suprema Corte um puxadinho do Executivo, como na Venezuela. Negativo. Acho que deve ser debatida a alternativa de modelo de mandato para os ministros.

• O senhor promete quatro reformas (tributária, previdenciária, política e de Estado). Terá cacife político para isso?

Essas reformas mais de fundo precisam ser feitas no começo da legislatura, quando o presidente tem mais legitimidade, voto e força.

Em 3ª tentativa de ser presidente, Marina Silva recorre a partido com o qual rompeu

Ex-senadora oficializa candidatura neste sábado, em Brasília

Joelmir Tavares, Angela Boldrini | Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - A pré-candidata da Rede, Marina Silva, passou as últimas semanas repetindo que tinha prata da casa (ou “ouro da casa”, como frequentemente chamava) para o caso de não fechar com um candidato a vice de outro partido.

Em sua terceira tentativa de chegar à Presidência, com 15% de intenção de voto, ela é a segunda colocada nas pesquisas em cenários sem o ex-presidente Lula, de acordo com o Datafolha. Mas a ex-senadora encontrava dificuldades para fechar alianças.

A dois dias da convenção que oficializaria sua terceira candidatura à Presidência, na quinta-feira, 2, porém, veio um alívio: Marina conseguiu fechar aliança com o PV, numa movimentação que esticou levemente seu tempo no horário eleitoral.

A chapa com o ex-deputado e médico Eduardo Jorge será lançada oficialmente na convenção nacional da Rede neste sábado (4), em Brasília.

A campanha avalia que a composição com os verdes deu fôlego à candidatura, embora dificuldades persistam. Com o PV, a candidata salta de 8 para 24 segundos de TV. Apesar disso, continua com tempo escasso se comparado aos adversários: terá apenas uma inserção diária, contra 12 de Geraldo Alckmin (PSDB).

Nos últimos meses, o grupo da ex-senadora tentou negociar alianças com partidos como PMN, PPL, PHS e Pros, mas nenhuma avançou. Lideranças da campanha já se conformavam com a possibilidade de que a ex-senadora fosse para o pleito sozinha.

Vice provoca novo impasse dentro do PT

Sigla homologa hoje nome de Lula, que está preso, mas escolha para chapa opõe dirigentes e advogados; Manuela e Haddad são cotados

Ricardo Galhardo, Daniel Weterman, Katna Baran | O Estado de S. Paulo.

CURITIBA - O PT chega à convenção que vai homologar o nome de Luiz Inácio Lula da Silva, condenado e preso na Lava Jato, como candidato à Presidência sem saber se a escolha do vice será definida agora. A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, esteve ontem com Lula, mas a discussão sobre a vice não foi conclusiva.

O PT chega à convenção que vai homologar o nome do expresidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado e preso na Lava Jato, como candidato do partido à Presidência sem saber se a escolha do vice será definida agora.

A presidente do partido, senadora Gleisi Hoffmann (PR), afirmou ontem que a legenda pode deixar para a Executiva Nacional decidir até o dia 14 o anúncio do nome para vice. Dirigentes petistas, porém, consideram um risco o adiamento da decisão e defendem que a indicação para a composição da chapa seja definida ainda hoje, data da convenção da sigla.

Lula esteve ontem com Gleisi, mas a discussão sobre a vice não foi conclusiva. “Não houve mudança jurisprudencial na Justiça Eleitoral”, justificou a senadora sobre uma possível modificação de entendimento de Tribunal Superior Eleitoral (TSE), determinando que o vice seja homologado 24 horas após as convenções partidárias.

O ex-ministro da Justiça Eugênio Aragão, advogado do PT no TSE, disse que o adiamento é arriscado. “Acho que é uma atitude de risco. A gente nunca sabe como o tribunal vai decidir. Mas existem razões políticas (para a decisão do PT) que têm de ser levadas em conta”, declarou. O ex-presidente, condenado em 2.ª instância a 12 anos e 1 mês de prisão, pode ser enquadrado na Lei da Ficha Limpa.

PSB destitui diretório de Minas Gerais

Ex-prefeito de BH tenta resistir à decisão do partido de rifar sua candidatura ao governo

Jonathas Cotrim, Rafael Moraes Moura, Amanda Pupo | O Estado de S. Paulo.

BELO HORIZONTE, BRASÍLIA - A Executiva Nacional do PSB destituiu ontem o diretório estadual em MG. A decisão foi anunciada após o ex-prefeito de Belo Horizonte Marcio Lacerda ter afirmado que manterá a candidatura ao governo mineiro.

A Executiva Nacional do PSB destituiu ontem o diretório do partido em Minas Gerais. A decisão foi anunciada após o ex-prefeito de Belo Horizonte Marcio Lacerda ter afirmado que desafiará a direção nacional e manterá sua pré-candidatura ao governo do Estado pelo partido.

Um acordo em nível nacional entre PT e PSB fez com que os pessebistas retirassem a candidatura de Lacerda para apoiar a tentativa de reeleição do governador Fernando Pimentel (PT), enquanto em Pernambuco, Marília Arraes (PT) foi rifada para apoiar a candidatura de Paulo Câmara (PSB).

A decisão do partido de destituir o diretório mineiro foi tomada anteontem à noite. Ontem, Lacerda entrou com uma ação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e no Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais (TRE-MG) para derrubar decisão da Executiva.

Ainda na noite de ontem, o juiz Nicolau Lupianhes, do TRE, acatou pedido do ex-prefeito e suspendeu “todo e qualquer efeito do ato de destituição da Comissão Provisória do PSB no Estado de Minas Gerais”. Cerca de uma hora depois, no entanto, o TSE, em decisão do ministro Napoleão Nunes, garantiu a realização da convenção estadual do partido, marcada para hoje. “Juiz incompetente para julgar a causa, vamos recorrer”, afirmou o presidente do PSB, Carlos Siqueira, antes da decisão do TSE.

‘Ilegalidade’. Para a defesa de Lacerda, a destituição da comissão provisória mineira sem a “prévia observância dos postulados constitucionais da ampla defesa e do contraditório” foi um ato de “clara ilegalidade”. Na avaliação do ex-prefeito, a destituição da comissão provisória do diretório estadual do PSB mineiro foi um “completo e inadmissível desrespeito das garantias constitucionais da ampla defesa e contraditório”.

Crise e Estado adoecem a população: Editorial | O Globo

A volta de doenças que estavam erradicadas ou sob controle se soma ao crescimento da mortalidade infantil

O debate econômico, que tende a crescer na campanha eleitoral, segue uma agenda conhecida —déficit público, Previdência, pobreza, inflação, saída da crise, e assim por diante. Nas entrevistas, sabatinas, confrontos, desfilam números, muitos dos quais apenas especialistas dominam.

Mas, por trás de tudo, existe uma população, em que mais de 13 milhões estão desempregados, com a vida em dificuldades. Outra marca da crise é deixada na saúde das pessoas. O Estado tem deficiências históricas na prestação de serviços, e a situação se agrava neste momento. O quadro sanitário se deteriora.

Há pouco, surgiu a assombrosa notícia de que, em 2016 — um dos anos da recessão engendrada pelo lulopetismo —, a mortalidade infantil voltou a crescer, depois de 15 anos. Segundo a Fundação Abrinq, com base em dados do Ministério da Saúde, a mortalidade entre crianças de 0 a 5 anos subiu de 14,3 para 14,9 por mil nascidos vivos, um aumento de 4,19%. Em 2000, o índice era de 30. Houve grande avanço, até este retrocesso. Que não defina uma tendência, oque depende do poder público.

A degradação da saúde tem sido confirmada pela volta de surtos de doenças desconhecidas das gerações mais novas: sarampo, poliomielite e outras. Ainda bem que, enfim, haverá, a partir de segunda-feira, uma campanha nacional de vacinação contra as duas. Mas demorou.

O eleitor desencantado: Editorial | O Estado de S. Paulo

Nada menos que 59% dos eleitores entrevistados na mais recente pesquisa do Ibope para a Confederação Nacional da Indústria (CNI) não têm candidato a presidente. No cenário mais provável, sem o petista Lula da Silva, preso e inelegível, são 31% os que pretendem votar em branco ou anular o voto e 28% os que não souberam ou não quiseram responder à pergunta. Esses dados são da pesquisa espontânea, quando não são apresentados nomes de candidatos ao entrevistado. No mesmo momento da campanha presidencial de 2014, havia, na pesquisa espontânea, 37% de indecisos e 16% de eleitores que pretendiam anular o voto. Ou seja, hoje há menos indecisão e mais vontade de anular o voto. O cenário revelado pela pesquisa mostra, portanto, um grau considerável de desencanto a pouco mais de dois meses do primeiro turno da eleição.

Não se trata de simples indefinição de voto, situação em que o eleitorado está esperando o início formal da campanha para escolher seu candidato. O contingente de indecisos é grande, mas salta aos olhos a hostilidade de parte substancial dos eleitores em relação a qualquer candidato e, pode-se dizer, à própria política.

A mesma pesquisa mostra que 29% dos eleitores que pretendem anular o voto ou votar em branco vão fazê-lo porque consideram que “todos os candidatos são corruptos”. Além disso, 11% mencionaram que “não acreditam em políticos e nos candidatos”, e 11% disseram que “nenhum dos candidatos resolverá os problemas do País”. Ademais, 56% disseram que não iriam votar se o voto não fosse obrigatório.

Sem alarmismo: Editorial | Folha de S. Paulo

Falta de chuvas reacende sinal de alerta, mas, no pior cenário, nova crise só viria após 2019

Trouxe certa inquietude à população da região metropolitana de São Paulo a notícia de que o sistema Cantareira, seu principal reservatório de água, adentrou agosto em estado de alerta. Alerta, contudo, não traz ensejo para alarme.

A definição é técnica: quando o nível das represas cai abaixo de 40%, o sistema se enquadra na faixa 3 (dita de alerta).

Em condição normal, a faixa 1 (60% ou mais da capacidade de reservação), admitem-se 33 mil l/s. Na faixa 2 (40% a 60%), a produção máxima deve ficar em 31 mil l/s.

Entretanto a retirada do Cantareira está há mais de um ano abaixo do permitido, não ultrapassando 26 mil l/s. Em outras palavras, vem sendo administrado com boa margem de segurança.

Não deixa de suscitar preocupação, decerto, a forte estiagem que marcou o mês de julho, por trazer à memória dos moradores as agruras traumáticas da crise hídrica de 2014-15. Todavia, mesmo que se repita a seca incomum dos anos 2013 e 2014, o Cantareira ainda teria água suficiente para abastecer São Paulo por mais de um ano.

Ezra Pound: Saudação

Oh geração dos afetados consumados
e consumadamente deslocados,
Tenho visto pescadores em piqueniques ao sol,
Tenho-os visto, com suas famílias mal-amanhadas,
Tenho visto seus sorrisos transbordantes de dentes
e escutado seus risos desengraçados.
E eu sou mais feliz que vós,
E eles eram mais felizes do que eu;
E os peixes nadam no lago
e não possuem nem o que vestir.

(tradução de Mário Faustino)