Oito candidatos participaram do encontro; púlpito que seria destinado ao ex-presidente Lula no estúdio foi retirado pela emissora
Por Da Redação | Veja
No dia seguinte à divulgação, pelo IBGE, de que falta emprego para 27,6 milhões de brasileiros, o desemprego foi o principal tema do segundo debate na TV aberta da campanha presidencial de 2018, nesta sexta-feira, 17, na Rede TV!.
Participaram do debate na emissora paulistana, organizado em parceria com a revista IstoÉ, oito postulantes ao Palácio do Planalto: Alvaro Dias (Podemos), Cabo Daciolo (Patriota), Ciro Gomes (PDT), Geraldo Alckmin (PSDB), Guilherme Boulos (PSOL), Henrique Meirelles (MDB), Jair Bolsonaro (PSL) e Marina Silva (Rede).
Ao menos cinco perguntas feitas e respondidas pelos candidatos giraram sobre a geração de empregos. Dias prometeu criar 10 milhões de vagas de trabalho caso seja eleito, enquanto Meirelles ressaltou que colaborou, enquanto presidente do Banco Central, no governo Lula (PT), e ministro da Fazenda, no governo Michel Temer (MDB), para a criação de 12 milhões de empregos. O emedebista pediu “mais tempo”, como presidente, para combater o desocupação no país.
Ainda desconhecido de boa parte do eleitorado, Henrique Meirelles procurou, assim como no primeiro debate, na TV Bandeirantes, há uma semana, apresentar-se como um executivo bem-sucedido na iniciativa privada e o “escolhido” tanto por Lula quanto por Temer para ocupar postos-chave da economia do país em momentos delicados.
Já Ciro Gomes disse que seu plano de governo prevê a retomada da criação de postos de trabalho em quatro pontos: a retomada do consumo das famílias – por isso pretende “limpar” o nome dos 63 milhões de devedores brasileiros que, segundo ele, estão no Serviço de Proteção ao Crédito (SPC); retomada do investimento do empresariado; “equalização” das contas públicas, que ele classifica como “falidas”; e estímulo à indústria. Ciro afirmou pelo menos duas vezes que há um “genocídio industrial” no país, com o fechamento de 13.000 indústrias.
Geraldo Alckmin afirmou que a geração de empregos no país passa por reformas estruturais, que o tucano prometeu enviar ao Congresso no primeiro mês de governo, caso eleito. Criticado por Ciro Gomes pelo apoio do PSDB à PEC que impôs um teto aos gastos públicos, Alckmin defendeu a manutenção da medida. Ele pontuou, contudo, que o teto só foi aprovado diante do “total descontrole” das contas públicas nos governos do PT e tentou se desvencilhar do governo Temer.
Respondendo à ironia de Guilherme Boulos de que os demais candidatos representam “50 tons de Temer”, Alckmin afirmou que “40 destes tons são vermelhos. É do PT e seus aliados. Eles escolheram o Temer. Aliás, duas vezes”.
Líder das pesquisas de intenção de voto sem a candidatura de Lula, Jair Bolsonaro voltou a dar respostas vagas quando questionado por adversários e jornalistas sobre economia. Indagado por Henrique Meirelles a respeito de propostas para geração de empregos, Bolsonaro atacou os governos de PT e PSDB e o próprio Meirelles. Após propor, em seu plano de governo, um superministério da Economia, que seria gerido pelo economista Paulo Guedes, o candidato do PSL se limitou a dizer que escolherá um “time independente de ministros”.
Novamente perguntado pelo emedebista, desta vez sobre a igualdade salarial entre homens e mulheres, o presidenciável do PSL voltou a afirmar, tal qual no debate da Band, que o governo não deve interferir na iniciativa privada. Ele citou a CLT como “garantia” de paridade entre os gêneros.
Tanto em sua fala de abertura quanto nas considerações finais, Jair Bolsonaro disse que o Brasil “precisa de um presidente honesto, patriota, que respeite a família e afaste de vez o fantasma do comunismo”. Em outros momentos de sua participação, Bolsonaro criticou, como de costume, a “ideologia de gênero” e o “kit gay” nas escolas e defendeu um maior número de colégios militares no país. Em uma destas ocasiões, o capitão da reserva fez dobradinha com Cabo Daciolo, o candidato que carregava uma Bíblia à mão a cada intervenção e voltou a pregar no debate à la pastor evangélico. “Glória a Deus”, não se cansa de repetir Daciolo.
No momento mais tenso do debate, Jair Bolsonaro questionou Marina Silva sobre a opinião dela a respeito da posse de arma de fogo. Marina aproveitou o momento para rebater a posição dele sobre o salário das mulheres e houve bate-boca. “Você não sabe o que é uma mulher que tem um filho jogado no mundo das drogas”, rebateu o deputado, em referência à posição de Marina de defender um plebiscito sobre a legalização das drogas. A ex-ministra contra-atacou: “você fica ensinando para os jovens que tem que resolver tudo na base do grito. Você pegou a mãozinha de uma criança e ensinou como faz para atirar”.
Sem púlpito vazio de Lula
Assim como no debate da Band, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), preso em Curitiba há mais de quatro meses, teve a participação no programa da Rede TV! negada pela Justiça. A emissora pretendia colocar um púlpito vazio no estúdio, mas, com a decisão judicial, levou a possibilidade aos adversários do petista, que rechaçaram a cadeira vazia. Boulos foi o único a discordar da retirada do púlpito destinado a Lula.
O nome do petista foi citado por alguns adversários quando se discutiu o combate à corrupção. Ex-ministra de Lula em seu primeiro governo, Marina Silva foi indagada por Alvaro Dias sobre a cadeira vazia. Ela citou a prisão do ex-presidente, as gravações de Aécio Neves na delação da JBS e a aliança de Geraldo Alckmin com o Centrão. Marina prometeu ao menos três vezes que apoiará às investigações da Lava Jato.
Dias, que costuma dizer que convidará o juiz federal Sergio Moro para o Ministério da Justiça, classificou a candidatura de Lula como “vergonha nacional” e voltou a afirmar que pretende “refundar a República”.
Criticado por adversários por ser apoiado pelos partidos envolvidos em esquemas de corrupção, Alckmin disse que seu governo terá “tolerância zero” com desvios.