segunda-feira, 20 de agosto de 2018

Opinião do dia: Ulysses Guimarães

A vida pública brasileira será também fiscalizada pelos cidadãos. Do Presidente da República ao prefeito, do senador ao vereador.

A moral é o cerne da pátria. A corrupção é o cupim da República. República suja pela corrupção impune toma nas mãos de demagogos que a pretexto de salvá-la a tiranizam.

Não roubar, não deixar roubar, por na cadeia quem roube, eis o primeiro mandamento da moral pública. Não é a Constituição perfeita. Se fosse perfeita seria irreformável.

(...) Não é a Constituição perfeita, mas será útil, pioneira, desbravadora, será luz ainda que de lamparina na noite dos desgraçados.

(...) A Nação quer mudar. A Nação deve mudar. A Nação vai mudar. A Constituição pretende ser a voz, a letra, a vontade política da sociedade rumo à mudança.

Que a promulgação seja o nosso grito.

Mudar para vencer. Muda Brasil."
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Do discurso de Ulysses Guimarães, presidente da Assembleia Constituinte, no ato de promulgação da Constituição, 5/10/1988

FH: "Bolsonaro assusta com soluções simplistas e autoritárias"

Tucano admite que imagem do PSDB está desgastada, mas diz que Alckmin ainda pode ‘ultrapassar a poeira’ e sugere que Haddad virou ‘marionete de Lula’

Para Fernando Henrique Cardoso, o Brasil se aproxima da eleição mergulhado num clima de ódio e de medo. O ex-presidente se diz assustado com a possibilidade de Jair Bolsonaro (PSL) chegar ao segundo turno. Neste caso, ele admite a hipótese de um acordo entre PSDB e PT, algo inédito desde 1989, quando os dois partidos se uniram contra Fernando Collor.

— Não farei objeção a que o PT nos apoie. Naturalmente, isso significa também que não haveria objeção ao contrário. Mas nós pensamos de forma diferente — ressalta.

Aos 87 anos, FH acaba de entrar no Twitter. O tucano promete usar o próprio celular para conversar com os eleitores. Na sexta, um jovem quis saber o que ele pensou quando o ex-jogador Vampeta deu cambalhotas no Palácio do Planalto.

— Pensei que ele fosse cair da rampa! — respondeu.

“Há uma tentativa de desmoralizar o sistema. Quem sancionou a Lei da Ficha Limpa foi o Lula”

“Boa intenção ajuda. Especialmente no convento. Na política, você tem que ter um certo grau de realismo”

Bernardo Mello Franco | O Globo

• Desde 1989, um candidato do PSDB não vai tão mal nas pesquisas. Por que Geraldo Alckmin não decola?

A mídia presta atenção em tudo o que é novo ou extravagante. Quando surgiu o Bolsonaro, eu disse: “Vai subir”. Até que o Geraldo ultrapasse a poeira, é difícil. Mas ele sempre ultrapassou.

Em abril de 1994, eu virei candidato. Em maio, falei com a Ruth: “Vou desistir”. Eu tinha 12%, o Lula tinha 40%. As pessoas não acreditavam. Em agosto, comecei a crescer. Em outubro, ganhei no primeiro turno. É claro que tinha o Plano Real. Mas não é só o que você faz. É o que você fala. Tem que cacarejar.

• Alckmin cacareja pouco?

Cada um tem um jeito de ser. O importante, em política, é não tentar ser o que não é. Este é o problema dos marqueteiros. O Geraldo ganhou várias vezes em São Paulo. Ele é médico, tem experiência, não enriqueceu na política, não é gastador. Tem que mostrar isso. Não basta ser simpático, tem que ser confiável.

• Em 2006, ele foi criticado por vestir um macacão com os logotipos das estatais...

Ele foi o chefe da privatização em São Paulo. Aquilo foi marquetagem, foi errado. O marqueteiro é indispensável, mas ele tem que ressaltar o jeitão do candidato, e não fazer o candidato do jeitão dele. As pessoas percebem quando é inautêntico.

• Alckmin se aliou ao centrão em troca de palanques regionais e tempo de TV. Isso ainda vai decidir eleição em 2018?

Não tenho certeza. Não é suficiente, mas é necessário. Embora a rede social tenha muita influência, a televisão tem peso. Todos os candidatos tentam ter o máximo de tempo. Quando um consegue, o outro acusa. Ele está apanhando porque fez o que todos ambicionavam e não conseguiram. Todos os presidentes tiveram que governar também com eles (os partidos do centrão): eu, Lula, Dilma.

• O PSDB ainda pode se recuperar do desgaste com a Lava-Jato?

Todos os partidos estão desgastados. O mensalão e o petrolão mostraram o dinheiro público sustentando partidos no poder. É outra natureza de corrupção, a corrupção da própria democracia. Não tem nenhum tesoureiro do PSDB na cadeia.

• O senador Aécio Neves foi gravado pedindo R$ 2 milhões a um empresário. A polícia filmou as malas de dinheiro.

Isso prejudica, obviamente, a imagem do partido. Não dá para tapar o sol com a peneira.

Por que o PSDB não o expulsou?

Ele não foi condenado ainda. Tem que respeitar a Justiça.

• Um colaborador próximo de Alckmin, Laurence Casagrande, foi preso sob suspeita de desviar dinheiro do Rodoanel.

São Paulo faz muita obra. É possível que funcionários tenham ganhado alguma coisa. Mas não vi nada indo para o Alckmin. Nada que possa prejudicar a imagem dele.

No passado, caixa dois era uma coisa banal. É errado? É. É crime eleitoral. A Justiça vai ter que separar bem as coisas. Tudo é crime, mas são crimes diferentes. Sou favorável à Lava-Jato. Pode haver exageros. Acho difícil aceitar prisão provisória por mais de um ano, por exemplo. Não é bom ver pessoas que você conhece indo para a cadeia, mas o processo era necessário. O Brasil não aguenta mais assalto ao cofre.

Marcus André Melo: Jogo pesado ou remédio constitucional?

- Folha de S. Paulo

O petrolão e o contexto de crise alimentaram a polarização atual

Em “Como as Democracias Morrem”, Steven Levitsky e Daniel Ziblatt (ambos de Harvard) apontam para a recente erosão das normas políticas —regras informais que informam o jogo democrático.

Ela se manifestaria na diminuição tanto da tolerância mútua entre os contendores da disputa política quanto da “forbearance” (autocontenção no uso de estratégias que mesmo legais são entendidas como fora dos limites do jogo).

A dupla destaca entre as práticas que violam essa autocontenção o jogo pesado constitucional (“constitutional hardball”), que exemplificam com a tentativa de impeachment de Bill Clinton, que envolveu “a banalização de um instrumento extremo”.

A questão fundamental, para a qual os autores não dão resposta satisfatória, diz respeito as causas da erosão das regras informais. Eles acertam quando descartam as novas mídias como principal fator explicativo.

De fato, as pesquisas empíricas quantitativas ainda não produziram evidências robustas de que os nichos produzidos pelas mídias sociais contribuam decisivamente para a polarização. Mas o argumento defendido no livro é que não há explicação universal e que no caso americano o fator decisivo é contingente: a mudança na composição racial da sociedade que produz uma ameaça à maioria branca.

Levitsky tem sido cauteloso ao falar do Brasil, mas pouco feliz ao estender ao caso brasileiro alguns dos argumentos do livro. Assim afirmou que o impeachment de Dilma Rousseff seria exemplo de jogo pesado constitucional. No entanto, entre 1990 e 2002, o PT apresentou 50 pedidos de impeachment em desfavor de presidentes, uma média anual de 4,16.

Fernando Gabeira: Meditando com Daciolo

- O Globo

Líderes populares do momento se expressam nessa linguagem direta, cheia de incorreções, mas sem a frieza do texto

Quando vi o Cabo Daciolo subir a montanha, anunciando que iria expulsar a maçonaria e os illuminati do Brasil, cheguei a pensar: é uma campanha singular no planeta, um candidato na cadeia e outro caminhando para o hospício. Teosóficos, cabalísticos, neopagãos e rosacruzes que se cuidem.

Mas é inegável que ele tem uma coerência estratégica: quer entregar o país a Deus. Sua atuação parlamentar confirma, pois tentou alterar o texto da Constituição: todo poder emana de Deus, e não do povo.

Semana passada estava lendo por acaso um livro que falava do poder da transmissão oral . Todos os líderes populares do momento se expressam nessa linguagem direta, cheia de incorreções, mas sem a frieza do texto.

Um jornalista estrangeiro queria minha opinião sobre a campanha, baseada em dois nomes: Bolsonaro e Lula. Minha explicação para o Bolsonaro de hoje é a de que ele tenta encarnar duas grandes correntes: conservadores e liberais. Não era liberal em economia, mas se tornou liberal no caminho, unindo-se a economistas e intelectuais que expressam essa tendência.

Embora tenham pontos de convergência, como o respeito à propriedade privada, há um grande potencial de atrito nesse casamento. Na medida em que a economia avança, tende a se internacionalizar, levando a uma reação nacionalista, como a de Donald Trump.

Os liberais partem do indivíduo; os conservadores, da família. Esses pontos de partida potencialmente também conflitam. E digo isso não com a visão de um teórico, mas de alguém que observa a história dos costumes no Brasil.

Tive a oportunidade de andar nas ruas com o senador Nélson Carneiro. Testemunhei como as pessoas lhe agradeciam pela lei do divórcio. Na época, muitos achavam que seria um golpe mortal na família.

Hoje, creio, até os defensores da família tradicional podem constatar as mudanças na estrutura familiar, em muitos casos mantida apenas pela mulher. O próprio Jair Bolsonaro já se casou algumas vezes. A tensão entre o conservador e o liberal existe na própria vida particular do candidato.

Luiz Roberto Nascimento Silva: Flerte com o abismo

- O Globo

Se é verdade que países não quebram, também é verdadeiro que podem perder sua oportunidade histórica, serem ultrapassados ou estagnados

Ninguém deseja naturalmente a austeridade. Ela não tem sedução quando comparada ao prazer que o dispêndio proporciona. Quando o gasto é feito com recursos públicos, então, é irresistível. Esquece-se que a origem da palavra República é res publica, que significa “coisa do povo” ou “coisa pública”. Adolph Wagner, financista alemão da segunda metade do século XIX, já havia detectado que a trajetória crescente da atividade pública deveria ser financiada por arrecadações fiscais. O ex-presidente Ronald Reagan diria depois que “cada nova receita arranja logo uma despesa”.

Somos mais criativos. Estamos criando novas despesas mesmo sem ter ainda as receitas. O país está imbuído de uma revolta contra a matemática. Pendura gastos e mais gastos para o próximo governo que, seja ele qual for, será também de todos nós. Talvez a agonia de um governo sem legitimidade, nos seus estertores, tenha facilitado essa insurreição contra a realidade, esse flerte com o abismo.

Cada setor forte e organizado pendura sua conta. Os caminhoneiros já tinham conseguido inúmeras vantagens econômicas depois de uma greve que desarrumou o transporte de carga e bagunçou a economia. Curiosamente, constatamos que até hoje a promessa de punir os grupos econômicos que comandaram a greve ficou esquecida. Agora, o Poder Judiciário espeta a possibilidade de uma conta adicional de R$ 4,5 bilhões, segundo a consultoria de Orçamento do Senado que leva em conta o efeito cascata da proposta de aumento do STF para toda a máquina pública. O déficit previdenciário do INSS em 2017 é de R$ 268,79 bilhões. Há um novo Refis das dívidas rurais a caminho...

Os setores corporativos e patrimonialistas do Estado mantêm seus privilégios através de um conjunto de desonerações e subsídios. O conjunto de isenções fiscais consolidadas drena parte expressiva do Orçamento. O tributarista francês Maurice Duverger já ensinou que “o contribuinte escapa pela sonegação, enquanto os grupos de pressão, pelas leis”. A Zona Franca de Manaus, por exemplo, assegura os seus privilégios desde a promulgação da Constituição de 1988 sem qualquer filtro acurado de seus resultados efetivos, mesmo abrigando empresas reais e outras de ficção.

Leandro Colon: Centrão apoia, mas não apoia

- Folha de S. Paulo

Gesto de Ciro Nogueira a favor de Lula e falta de apoio nos estados devem preocupar tucano

A campanha nem começou direito e a candidatura de Geraldo Alckmin (PSDB) ao Palácio do Planalto está sendo boicotada dentro de sua própria coligação com transmissão ao vivo via rede social.

O gesto público veio do senador Ciro Nogueira (PI), presidente do PP, partido da senadora Ana Amélia (RS), candidata a vice do tucano.

Na última sexta (17), Nogueira participou de uma caminhada em Teresina com o petista Fernando Haddad, vice-presidente na chapa de Lula, e Wellington Dias (PT), que disputa a reeleição para governador.

Em vídeo divulgado por Haddad, Nogueira destaca a presença do ex-prefeito de São Paulo, faz o sinal do “L” e diz que está “lutando ao lado de Lula”. “Lula presidente”, afirma.

No dia 26 de julho, ele estava ao lado de Alckmin na mesa em que foi anunciado o apoio dos partidos do centrão, incluindo o PP, à candidatura do ex-governador paulista.

Celso Rocha de Barros: Marina contra Bolsonaro

- Folha de S. Paulo

Contrapor-se a um candidato tão antimulher como Bolsonaro é uma boa forma de Marina marcar sua estratégia de campanha

Já com o debate de sexta-feira se aproximando do fim, Jair Bolsonaro viu Marina Silva vindo correndo lá do fundo do estúdio. Leu a cola na sua mão: "Pesquisa Arma Lula".

No que levantou de novo a cabeça, não teve tempo de soletrar "Ustra" antes que a ambientalista lhe aplicasse os dois pés no peito e o levasse a nocaute. Flutuando fora do próprio corpo, ainda assistiu à candidata da Rede Sustentabilidade dançar a dança da vitória sobre sua carcaça inerte.

Após recuperar os sentidos, Bolsonaro ainda pensou em recorrer ao Conselho de Direitos Humanos da ONU para que interrompesse o ground and pound, mas ficou com medo de que acabassem soltando o Lula no meio da confusão.

Ao fim do debate, parecia o irmão gago do Cabo Daciolo.

No dia seguinte, Bolsonaro precisou dar uma explicação ao seu público. Mostrando que é de fato um pré-sal de testosterona, fez o que qualquer legionário, qualquer cangaceiro, qualquer Conan, qualquer Viking faria: reclamou que Marina andava ameaçadoramente em sua direção enquanto perguntava.

Não foi só o tom de Marina. Ela de fato descobriu uma avenida na defesa de Bolsonaro. Há um vídeo do candidato do PSL no programa SuperPop, da RedeTV!, em que Bolsonaro diz que não contrataria uma mulher pagando o mesmo salário de um homem.

As mulheres são 52% do eleitorado.

Bolsonaro pode colocar Janaina Paschoal na campanha, pode colocar o Mourão ou o Olavo de vestido e peruca: esse vídeo em que defende que 52% do eleitorado ganhe menos que os outros 48% vai assombrá-lo até o final.

Fernando Limongi: O usual suspeito

- Valor Econômico

Diz-se que o atual sistema é a origem de todos os males

Na segunda-feira, em debate público promovido pelo Cebrap e pela "Folha de S.Paulo", o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, não poupou críticas ao sistema politico brasileiro. A avaliação foi ácida e impiedosa: "Não há salvação com esse modelo político." A afirmação peremptória foi seguida pela identificação do culpado: o sistema proporcional de lista aberta, um "desastre completo", responsável pelos altos custos da campanha e pela baixa representatividade do Congresso Nacional.

Com base nesse diagnóstico, o ministro defendeu a adoção do sistema distrital misto. Para Barroso, o modelo praticado pelos alemães teria o condão de propiciar um processo de regeneração da política brasileira, contribuindo decisivamente para baratear as campanhas eleitorais e conferir mais representatividade ao sistema.

No debate, para espanto do ministro e de boa parte da plateia, defendi o sistema atual, notando que ele tem numerosas qualidades e que a maior parte das distorções que lhe são imputadas não são de sua responsabilidade, caso dos elevados custos das campanhas eleitorais no Brasil.

Não faltam defensores do modelo alemão. A "Folha de S. Paulo", em editorial publicado na sexta-feira, após criticar os "exageros" dos debatedores, defendeu a necessidade de reformas ambiciosas, destacando que há muito milita entre os defensores do voto distrital misto, sem explicar as razões deste apoio.

A Lava-Jato e outros escândalos da história recente do país comprovam que o sistema político brasileiro pede reformas. O ministro Barroso está coberto de razões quando o critica e rejeita a tolerância para com a corrupção. Neste ponto não há debate ou controvérsia. Esses problemas precisam ser atacados.

Cabe, no entanto, discutir se estas mazelas derivam da representação proporcional de lista aberta e, em caso positivo, se a adoção do modelo alemão traria os benefícios esperados.

Luiz Carlos Mendonça de Barros: Minha agenda para o próximo presidente

- Valor Econômico

Uma taxa de abstenção e de votos nulos recorde farão com que o presidente tenha uma legitimidade muito baixa

Entramos finalmente na campanha eleitoral para a escolha de um novo presidente da República. A Copa do Mundo ficou para trás e o registro dos candidatos no TSE dará contorno à cédula eletrônica que os brasileiros encontrarão ao votar em outubro próximo. Digo isso por acreditar que a presença de Lula como candidato oficial do PT atende apenas aos objetivos de um plano para manter o ex-presidente como líder inconteste de uma grande parte da população brasileira. Preservá-lo tem como objetivo fortalecer seu partido no cenário político por mais tempo. Haddad será o verdadeiro candidato do PT.

Assumindo este entendimento podemos tratar das questões fundamentais das próximas eleições e entre elas, o que esperarmos do próximo presidente. O cenário eleitoral, visto de hoje, é muito incerto e a previsão de quem vencerá é impossível de ser feita seguindo critérios racionais. Por isto decidi tratar nesta coluna da questão do Plano de Governo do vencedor, seja ele quem for, e que comandará nosso país a partir de janeiro de 2019. Com isto pulo o período nebuloso e de difícil visualização do processo eleitoral e posso refletir com mais segurança sobre o que deve fazer o próximo ocupante do Palácio do Planalto para ter sucesso em seu mandato.

Tenho uma leitura muito particular do que deva ser o plano de voo do próximo presidente. Minhas reflexões são feitas a partir do que vivi e aprendi na convivência com a classe política e com as reações da maioria dos brasileiros ao longo de mais de trinta anos de vida profissional dentro e fora do governo.

Este longo período me ensinou que governar um país como o Brasil, com sucesso, depende de uma combinação equilibrada entre racionalidade e sensibilidade social. Em outras palavras, as aspirações de curto prazo da sociedade têm que ser atendidas para que um governante consiga realizar sua agenda de prazo mais longo. Fernando Henrique governou com sucesso nos primeiros três quartos de seu governo porque acabou com a hiperinflação e Lula porque trouxe de volta o crescimento econômico e aumentou o salário mínimo em termos reais.

Rosiska Darcy de Oliveira: O silêncio das mulheres

- O Globo

Pasmem! Em 2018 ainda há quem repita que as mulheres votam com os maridos! Que maridos? Nos 40% dos lares brasileiros chefiados por mulheres, eles são raros e intermitentes. E quem disse que é preciso não ter marido para pensar com a própria cabeça?

A quem lhes perguntou sua prioridade, as mulheres responderam saúde. Trocando em miúdos: gravidez, pré-natal, parto, preventivo de câncer, vacinação para as crianças, remédios para os idosos, toda essa gente de quem cuidam, além de si mesmas. O corpo da mulher é o primeiro meio ambiente que o ser humano conhece. Desdobra-se em outras vidas, o que talvez explique a centralidade do corpo em seus destinos. A saúde para elas é mais do que um item perdido entre outros em qualquer pauta eleitoral.

Sem acesso à saúde publica como sobrevive a família de quem ganha menos de dois salários mínimos? A sombra da morte acompanha os dias dessa parcela da população ignorada pelos candidatos. Não se tocou nesses assuntos nos debates que assistimos até agora. Ninguém perguntou, ninguém respondeu. E, no entanto, é disso que falam em suas conversas na madrugada, esses milhares de mulheres, com filhos no colo, que, Brasil afora, fazem fila nos hospitais.

Cacá Diegues: Cultura como economia

- O Globo

Através da produção cinematográfica, uma de suas mais poderosas armas, EUA vendem ao mundo seus produtos

O que será que anda acontecendo? O presidente do BNDES, Dyogo Oliveira, comunicou que pretende acabar com o Departamento de Economia da Cultura do banco, no mesmo instante em que o ministro da Cultura, Sérgio Sá Leitão, muito acertadamente, anuncia os valores econômicos dela, com sua parte na oferta de empregos, no pagamento de impostos em valores maiores do que aqueles que o Estado oferece como incentivo à atividade, em sua participação no PIB, na multiplicação dessa indústria cada vez mais ativa e crescente.

A cultura é o espírito da nação, o valor simbólico que a mantém una, que a faz existir. Ela não é só responsável por produtos de cinema, música, televisão, literatura, artes plásticas etc., como também pelos costumes de um povo, os hábitos da população que se desenvolvem ao longo do tempo.

A cultura moderna ganhou um caráter econômico. Sobretudo nos países que fazem dela um soft power, instrumento de influência através do consumo global. Países como os Estados Unidos exercem seu poder internacional graças ao poder de sua cultura espalhada pelas nações de todos os continentes. Através da produção cinematográfica, uma de suas mais poderosas armas, os americanos vendem ao mundo seus produtos, desde geladeira e automóvel até a própria forma de viver.

Abandonar esse poder da cultura como exclusivo dos outros é abrir mão do que nós somos, é desistir de ser.

Hoje, nenhuma cultura sobrevive apenas pela força da imaginação, pela criatividade de seus produtores. Os meios de informação e comunicação do mundo contemporâneo agem muito rapidamente sobre as relações entre o produto e o consumidor, obrigam a uma renovação constante, que acaba criando novas e dinâmicas circunstâncias econômicas. Se o produtor não se der conta disso, é obrigado a sair de cena. O Estado, em todos os países do mundo, em diferentes medidas, se ocupa dessas novas relações econômicas, protegendo e animando a produção cultural local. É assim dos Estados Unidos à China, da Guatemala ao Mali. Como deve ser no Brasil.

Nosso ministro da Cultura sempre entendeu esse ponto e desenvolve um trabalho permanente nessa direção. Por que o BNDES não o acompanha? Por que o BNDES quer agora tratar a cultura como uma produção secundária na economia brasileira? E se isso tudo for uma tendência pré-eleitoral malsã? Como evitaremos mais essa trágica grossura no horizonte político do país?

Um horizonte que talvez não esteja tão longe assim. Semana passada, a Ancine (Agência Nacional do Cinema) informou que o premiadíssimo curta-metragem de um jovem cineasta mineiro, Sávio Leite, “A fadinha lésbica”, animação baseada em conto da consagrada autora Hilda Hilst, teve negado seu Certificado de Produto Brasileiro (CPB), sem o qual não pode ser exibido no país. A Ancine declara formalmente que nega o CPB “pois a obra foi considerada como subtipo (?) Erótico/Ponográfica”. Uma censura que nossa Constituição de 1988 proíbe e que tenho certeza de que não é uma orientação do ministro da Cultura.

Ao lado de Gustavo Dahl, Luiz Carlos Barreto, Luiz Severiano Ribeiro e Rodrigo Saturnino Braga, como representantes da atividade, fiz parte do grupo que, no final do governo FHC, elaborou a nova ordenação do cinema brasileiro, que tinha sido destruído por Fernando Collor.

Ricardo Noblat: Tem cheiro (ou mau cheiro) de Bolsonaro no ar

- Blog do Noblat | Veja

O que falta ser escrito

A 49 dias do primeiro turno da próxima eleição presidencial, a pergunta de não sei quantos bilhões de dólares não é mais sobre os candidatos que disputarão o segundo turno – mas sobre qual será o candidato que no segundo turno enfrentará Jair Bolsonaro (PSL).

Desvalorizou-se, pois, o valor da resposta à pergunta original. Salvo um acidente de campanha, que por acidente é difícil de prever e não se pode descartar, Bolsonaro chegará ao segundo turno em 28 de outubro empurrado pelos eleitores já assumidos dele, e pelos enrustidos.

Não se despreze esses. Há, sim, um grande número deles que por vergonha ou timidez prefere não revelar que votará no capitão – seja para não ter que oferecer muitas explicações aos cobradores, seja por temer ser mal avaliado nas rodas dos pretensos bem pensantes.

Em 1989 foi assim com parte dos eleitores que empurraram Fernando Collor rampa acima do Palácio do Planalto. Em São Paulo, o deputado Paulo Maluf sempre contou com a ajuda dos eleitores envergonhados de confessar que votariam nele. Contaria outra vez se não estivesse preso.

Pesquisa de intenção de voto costuma ser um retrato do passado como dizem os que são do ramo. Mas a levarem-se em conta as características especiais destas eleições e à resiliência (êpa, perdão!) de Bolsonaro, elas parecem indicar com certa clareza o que está por vir.

Trata-se de saber se será bem-sucedido o plano traçado por Lula no cárcere de Curitiba de pôr seu substituto no segundo turno. Ou se Geraldo Alckmin (PSDB) surpreenderá seus aliados de fé e os que fingem apoiá-lo com um crescimento rápido na reta final da campanha.

Tirar da fila do Serviço de Proteção ao Crédito os brasileiros endividados não bastará a Ciro Gomes (PDT) para garantir-lhe a chance de enfrentar Bolsonaro. Por fragilidade partidária e pessoal, Marina Silva (REDE) está mais para santa do que para presidente dos desvalidos. Por ora, é só.

Cida Damasco: Fator desconfiança

- O Estado de S.Paulo

Mudança de governo é essencial para reduzir desalento. Mas não é tudo

Candidaturas registradas, Fernando Haddad “quase” confirmado no lugar de Lula e as eleições presidenciais dobrando a esquina. A nova temporada de pesquisas, nesta semana, já começa a abarcar a situação e deve dar pistas mais claras sobre o que virá a partir de 2019. Em resumo, definições fundamentais para quem precisa fazer planos e se preparar para tocar a vida no novo cenário. Fundamentais, sim, mas não suficientes. Há fortes dúvidas sobre os nomes que estarão preferencialmente nas urnas no segundo turno das eleições presidenciais – e, portanto, sobre os programas econômicos que poderão vingar no mandato do sucessor de Temer.

Esse é um dos motivos que mantêm insatisfatórios os indicadores de confiança, tanto de empresários como de consumidores. Segundo a Fundação Getulio Vargas (FGV), o Índice de Confiança Empresarial avançou 0,9 ponto em julho, recuperando metade da queda de junho, mas considerando as médias móveis trimestrais, foi a quarta queda consecutiva. No caso do Índice de Confiança do Consumidor, também da FGV, julho mostrou um desempenho parecido: alta de 2,1 pontos sobre junho, “devolvendo” parte das perdas registradas no mês anterior, mas níveis ainda baixos em prazos mais longos. E a confiança medida pela Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL) é ainda mais explícita: está praticamente estacionada desde janeiro do ano passado. Tudo isso sem contar a já rotineira volatilidade dos mercados, que deve se acentuar com a ampliação das pesquisas eleitorais: a semana passada, por exemplo, foi marcada pelo sobe e desce dos indicadores, no ritmo da crise da Turquia e da campanha no Brasil, e terminou com alta de 1,3% no dólar e baixa de 0,63% na Bovespa.

Angela Bittencourt: Programas de governo são caixas de surpresa

- Valor Econômico

Hoje tem MDA e Ibope; na quarta, pesquisa Datafolha

Eles são 13, a TV mostra 8 e os investidores estrangeiros interessados em colocar dinheiro no Brasil só enxergam 4 candidatos à Presidência da República: Jair Bolsonaro (PSL), Geraldo Alckmin (PSDB), Ciro Gomes (PDT) e Fernando Haddad (PT). E não necessariamente nessa ordem. Por ora, Haddad é vice na chapa em que Lula é o postulante ao comando do Palácio do Planalto, mas que poderá ter sua candidatura impugnada pela Justiça Eleitoral por estar enquadrado na Lei da Ficha Limpa. O sucessor natural à cabeça da chapa é Haddad, ex-prefeito da cidade de São Paulo.

Os quatro candidatos, sem exceção, sugerem que o próximo governo será uma caixa de surpresas. E que os últimos dois anos podem não ter passado de um exercício perdulário de autoridade.

Os quatro candidatos preocupam pelo que são, pelo que tentam ser e por propostas que estão mais para um desconexo "País de Alice" do que para um Brasil encarcerado num endividamento de quase R$ 700 bilhões, até 2020, que o ex-ministro da Fazenda do presidente Michel Temer Henrique Meirelles, hoje candidato pelo MDB a presidente da República, apresentou à Nação em 2016. E que está fora de questão para quem deverá administrar o país até 2022. Não fosse assim, maior inquietação com o déficit público seria demonstrada.

Nesta semana, três grandes institutos de pesquisa de opinião - tradicional ou presencial - divulgam novos levantamentos nacionais de intenção de voto, e o processo eleitoral vai esquentar. MDA e Ibope apresentam hoje os seus resultados; na quarta é a vez do Datafolha. Em 10 dias, a campanha na TV estará no ar, e a eleição entrará em nova fase. A anterior foi encerrada com o encaminhamento dos programas de governo pelos candidatos à Justiça Eleitoral.

Wagner questiona 'substituto' de Lula

Por Andrea Jubé | Valor Econômico

SALVADOR - Amigo de Lula há 40 anos, em uma história que remonta à fundação do PT, o ex-governador da Bahia e ex-ministro de dois governos petistas Jaques Wagner explicou ao Valor por que não quis ser o vice na chapa presidencial. A ele caberia no futuro, em caso de impugnação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, assumir a candidatura principal: "A mim me incomoda ser o substituto imposto por uma farsa."

Para Wagner, se o PT acusa a "interdição artificial" da candidatura do ex-presidente, indicar um substituto legitimaria a trama. Ele acrescenta que caberá a Lula decidir na "undécima hora" sobre a eventual substituição do candidato. "O patrimônio eleitoral é dele", ressalta.

Em caravana eleitoral pela Bahia para conquistar uma vaga ao Senado, Wagner se diz defensor da renovação na política. Ele define a futura chapa de Haddad e Manuela d'Ávila (PCdoB), que assumirá a vice se Lula for impugnado, como a "mais glamour" da eleição.

Questionado sobre o melhor adversário para o PT caso o partido vá ao segundo turno, ele diz que Jair Bolsonaro (PSL) faz "bravatas", e duvida que Geraldo Alckmin (PSDB) chegue lá.

A maioria do PT preferia ele no lugar de Haddad, pela semelhança com Lula: os trejeitos, a voz grossa, o carisma, o estilo conciliador. Já ouviu que é burrice deixar passar a "oportunidade", mas retruca: "Não é a minha."

Durante a caravana eleitoral, que visitou 16 municípios em três dias, Wagner ganhou um chapéu como o de Dominguinhos para se proteger do sol. Logo ouviu de um eleitor: "O senhor é o verdadeiro cangaceiro, acabou com o coronel!"

Uma referência à sua maior proeza eleitoral: vencer o grupo de Antonio Carlos Magalhães (ACM) na eleição para o governo da Bahia em 2006, após 40 anos de reinado do líder baiano.

A seguir os principais pontos da entrevista ao Valor:

• Valor: Por que o senhor não quis ser o vice de Lula?

Jaques Wagner: A mim me incomoda ser o substituto imposto por uma farsa. Por isso, defendi que a gente não deveria ter substituto, pra mim a gente levava a candidatura dele com outro partido. Outra estratégia era ter um vice que pudesse ampliar, por isso eu falei do Josué [Alencar]. A gente diz o tempo todo que [a prisão de Lula] é uma farsa, aí vai botar alguém pra fazer o jogo? Mas o Lula decidiu...

• Valor: Lula e a maior parte do PT não preferiam que fosse o senhor nesse papel?

Wagner: Eu não viajo nessa maionese, sou a favor da renovação, um rapaz de 55 anos me substituiu [Rui Costa, governador da Bahia]. Se é pra fazer uso da Presidência, tem que estar muito disposto. Não tenho coisa pessoal com isso, me perguntam como vou perder essa oportunidade... Não adianta, não é a minha.

• Valor: Quando o PT vai substituir Lula na cabeça de chapa?

Wagner: Se conheço bem o meu amigo Lula, ele vai até a undécima hora. Pra nós, acaba que também acumula [votos], porque ficamos falando o nome dele. Ainda não nos proibiram de falar o nome dele.

Alckmin em campanha

O candidato do PSDB à Presidência nas eleições 2018, Geraldo Alckmin, inicia campanha visitando o Pará

Pedro Venceslau | O Estado de S.Paulo

SANTARÉM (PA) - Ainda não havia passado oito horas do debate presidencial da RedeTV! quando o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB) chegou à área reservada de jatinhos particulares do Aeroporto de Congonhas. Adepto dos voos de carreira, o presidenciável rendeu-se a um voo fretado para cumprir a primeira viagem oficial de campanha nas eleições 2018 no interior do Pará.

Alckmin começa a sua segunda campanha presidencial – perdeu em 2006 para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva – tendo que provar para o partido, para aliados e principalmente para os eleitores que o resultado desta eleição vai ser diferente. “Mesmo com mais candidatos, a campanha deste ano é mais factível, mas forte”, disse Alckmin ao Estado. O tucano se escora no tempo de TV como principal argumento para chegar ao segundo turno. Sozinho, ele tem 48% do tempo total.

O destino escolhido foi Itaituba, uma cidade no interior do Pará com um pouco apenas 75.805 eleitores. Número (para lá de) insuficiente de votos capaz de lhe tirar da incômoda quarta colocação nas pesquisas eleitorais. O Estado, a convite, acompanhou o candidato pelo Pará. Além do tucano, a comitiva enxuta contava com a presença da mulher de Alckmin, Dona Lu, um assessor, uma fotógrafa, um cameraman e um ajudante de ordens.

Assim que se acomodou na aeronave, o ex-governador tirou da bolsa uma caderneta com o logotipo do Santos – seu clube do coração – e recortes de jornais sobre os problemas de infraestrutura da Região Norte do País. O tucano tem o hábito de anotar estatísticas e dados para utilizar em suas conversas com eleitores e em entrevistas. O tecnicismo de Alckmin é, para assessores, um dos principais desafios neste início de campanha. Nos dois debates na TV até agora, o tucano foi criticado pelo discurso frio, calçado em números que pouco impacta a audiência. “Não sou um showman”, admitiu.

Durante as pouco mais de três horas de voo entra São Paulo e Pará, o tucano reclamou da ação do MDB que tenta anular a aliança entre o PSDB e oito partidos – que lhe dá o maior tempo de TV entre os presidenciáveis –, falou que pensa em vender ou extinguir a Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), e defendeu a tipificação do enriquecimento ilícito no código penal.

A corrupção é um tema que vai estar presente na tentativa de Alckmin chegar ao Planalto. Às vésperas do início oficial da campanha, ele teve que comparecer pessoalmente pela primeira vez a sede do Ministério Público paulista para dar explicações sobre um suposto repasse de R$ 10,3 milhões da Odebrecht para suas campanhas ao governo. “A população vai saber diferenciar as coisas. Tenho 40 anos de vida pública. Não é só Ficha Limpa. Tenho a vida limpa.”

Na passagem pelo Pará, Alckmin gravou em um trecho da Transamazônica, visitou também Santarém e a aldeia de Alter do Chão. Ali, às margens do Rio Tapajós, o anestesista Alckmin tentou suavizar a imagem de prefeito de Pindamonhangaba que o acompanha desde que entrou na vida pública e com a qual ganhou três eleições em São Paulo. Tomou cerveja em copo de plástico, tirou os sapatos sociais e as meias finas para, ao lado de Dona Lu, colocarem os pés na água.

À população local, exaltou o Bolsa Família, passou por uma sai a justa ao ser cobrado pela recriação do Ministério da Pesca – Alckmin é contra e prometeu asfaltar a Transamazônica. Quando se posicionou em frente à câmara para gravar a promessa, se deparou com um outdoor de Jair Bolsonaro (PSL) onde diz: “Pela Família”. “Isso é totalmente ilegal”, afirmou.

Nos dois dias, por mais de uma vez, Alckmin foi questionado por aliados locais sobre as dificuldades da campanha. A cada pergunta, ele repetia como um mantra que o tempo de TV era o seu principal trunfo. “É uma eleição curta. Quem aparecer mais tem mais chance”. Resta combinar com o eleitor.

Ministros consideram controversa contestação de Meirelles contra PSDB

MDB aponta erros formais em atas de partidos que coligaram com o candidato tucano

Letícia Casado | Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Ministros do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) consideram controverso o pedido do MDB que, na prática, tenta reduzir em 35% o tempo de propaganda na TV e no rádio de Geraldo Alckmin (PSDB).

A legislação determina que as coligações sejam definidas em convenção partidária e formalizadas em ata na Justiça Eleitoral. O MDB, do presidenciável Henrique Meirelles, considera que houve erros formaisnas atas da coligação tucana.

Nos bastidores da corte, a avaliação inicial é de que o registro eleitoral de Alckmin possui os dados necessários para validar a coligação.

Um magistrado destaca, reservadamente, que a irregularidade na ata é mera questão formal e burocrática que pode ser ratificada. Em sua opinião, a falha não consiste em aspecto vital para a legitimidade da coligação e a lisura do pleito.

O caso está nas mãos do ministro Tarcísio Vieira, que ainda não se manifestou. O horário eleitoral gratuito começa em 31 de agosto.

A coligação tucana conta com oito partidos (PPS, PSD, PTB, PP, PR, DEM, PRB e SDD). Caso a contestação do MDB de Meirelles seja acatada pelo TSE, sairiam do grupo, pelo menos, PTB, PP, PR, DEM, PRB e SDD. Os emedebistas consideram aceitável a manutenção do PPS e do PSD.

Essa medida levaria a uma redução de 35% do tempo de TV de Alckmin, que conta com cerca de 5 minutos e 32 segundos por bloco de propaganda, 44% do total. Ele passaria para 3 minutos e 35 segundos, aproximadamente.

Denis Lerrer Rosenfield*: Bom senso

- O Estado de S.Paulo

No que diz respeito aos fenômenos sociais, há tentativas constantes de ocultamento como se narrativas políticas fictícias facultassem não reconhecê-los

Há fenômenos, como os naturais, sobre os quais os discursos nada podem, como furacões e tsunamis. Ocorre, porém, que, no que diz respeito aos fenômenos sociais, há tentativas constantes de ocultamento como se narrativas políticas fictícias facultassem não reconhecê-los.

O Brasil aproxima-se de um tsunami em suas contas públicas, se nada for feito no que concerne à reforma da Previdência. Os números não fecham, além de serem profundamente injustos relativamente às aposentadorias e pensões dos servidores públicos e dos demais trabalhadores brasileiros.

No entanto, a campanha eleitoral está se desenvolvendo como se não fosse este um problema maior do País, que deverá ser enfrentado pelo(a) próximo(a) presidente, queira ele(a) ou não. De nada servirá a demagogia, salvo se a alternativa for conduzir o Brasil para uma ruptura institucional e à insolvência fiscal.

Os números são aterradores. Em 2017, o déficit da Previdência foi de R$ 268,79 bilhões (INSS e Regimes Próprios dos Servidores Públicos – RPPS da União), configurando o maior da série histórica, superior em 18,5% ao de 2016. Se nada for feito, os seus efeitos serão avassaladores. Para ter uma ideia do que é gasto, a despesa total eleva-se a R$ 700,6 bilhões. São recursos que certamente faltarão para a saúde, a educação, a habitação e a infraestrutura. Não há governo que possa se sustentar no médio e no longo prazos.

Ademais, o rombo da Previdência é desproporcional, constituindo uma intolerável injustiça entre o despendido com os servidores públicos e os outros cidadãos brasileiros. É como se houvesse cidadãos de primeira e de segunda classes, os privilegiados e os demais. A União gasta R$ 92,9 bilhões com as despesas previdenciárias dos seus servidores, beneficiando – pasmem! – apenas 980 mil pessoas. As despesas do INSS, por sua vez, remontam a R$ 90,3 bilhões beneficiando 32,7 milhões de pessoas. A injustiça é gritante!

As contas previdenciárias equivalem a um furacão se aproximando. Ao contrário, contudo, dos fenômenos naturais, este pode ser evitado. Isso se prevalecer o bom senso na troca de governo que se avizinha.

Os candidatos têm evitado via de regra este tema, por medo de perderem eleitores. Estão prisioneiros da oposição ao governo Temer, que tornou vitoriosa a narrativa de que tal reforma tiraria direitos, prejudicando os mais necessitados. A narrativa, embora falsa, foi comprada, quando na verdade ela visava precisamente a corrigir toda uma situação de injustiça social e de privilégios. De fato, a esquerda, capitaneada pelo PT, defende os privilégios de 980 mil pessoas contra a maioria da população, constituída por 32,7 milhões de pessoas. Marx estaria se revolvendo na tumba!

Poderíamos, no que toca a esta questão, estabelecer a seguinte linha divisória. De um lado, estariam candidatos como Jair Bolsonaro, Geraldo Alckmin, Álvaro Dias, Henrique Meirelles, João Amoêdo e talvez Marina Silva, que poderiam vir a encarar esta questão de frente. Há, evidentemente, distinções importantes entre eles, uns sendo mais assertivos, outros preferindo a imprecisão e a névoa de propostas. Em todo caso, a realidade terminaria, de uma ou outra maneira, se impondo.

Crise mundial impõe urgência às reformas: Editorial | O Globo

É dever dos eleitos em outubro desobstruir os canais de negociação para a retomada do crescimento

O colapso da moeda da Turquia sinaliza aumento dos riscos de recessão, inflação, iliquidez bancária e falências corporativas naquele país. Acena, também, com riscos de contágio para economias de grau médio de desenvolvimento, que ficaram vulneráveis pela soma dos sucessivos erros na política doméstica com os efeitos da guerra comercial deflagrada pelo governo dos Estados Unidos. E o Brasil, lamentavelmente, se enquadra nessa categoria, pelo lado fiscal.

A crise turca expõe o Brasil no mapa das economias frágeis. Vai completar um quinquênio com recessão, administração pública em falência, amplo desemprego urbano e desalento crescente nas maiores cidades.

O cenário já era crítico, ficou ainda mais turvo com os sinais negativos no horizonte da economia mundial.

Isso faz com que seja premente a necessidade de respostas políticas à crise, que empobrece a população brasileira. Não há melhor momento para se trabalhar na construção de saídas do que o atual, quando se inicia a campanha para as eleições gerais de outubro.

Nada de novo: Editorial | O Estado de S. Paulo

Os eleitores que anseiam por uma lufada de ar fresco no Congresso Nacional deverão ter paciência – e esperança – e aguardar mais um pouco. Não será nas eleições deste ano que o quadro de representação política no Poder Legislativo passará por uma renovação, tanto de nomes como, principalmente, de ideias.

Não obstante o forte desgaste por que passam as atuais composições das duas Casas Legislativas, quase 90% dos deputados e cerca de 65% dos senadores tentarão a reeleição em outubro, de acordo com levantamento feito pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), a pedido do Estado.

Na Câmara, ao menos 447 deputados estão dispostos a permanecer mais quatro anos em Brasília. No Senado, são 35 dos 54 senadores eleitos em 2010 os que tentarão obter mais um aval dos eleitores nas urnas. No Senado, trata-se do maior contingente de senadores que irá tentar a reeleição desde 1994. O caso da Câmara não é muito diferente: o maior desde o pleito de 1998.

Subsídios na energia precisam ser revistos com muito critério: Editorial | Valor Econômico

Já faz mais de três anos que a fabricante americana de alumínio Alcoa fechou suas operações de fundição nas unidades situadas em Poços de Caldas (MG) e em São Luís (MA). O alerta sobre a perda de competitividade da indústria por causa dos altos custos da energia elétrica no Brasil não ecoou com a devida urgência entre governos, parlamentares e agentes do setor elétrico.

Paradoxalmente, mantém-se o costume de jogar nas costas dos consumidores todas as disfunções e ineficiências setoriais. Bastaria mencionar que houve aumento de 57% no valor médio do megawatt-hora para clientes industriais entre o início de 2013 e o fim de 2017. Por ora, nenhum sinal de trégua à vista: as contas de luz já subiram 13,79% nos sete primeiros meses deste ano - quatro vezes mais do que a variação acumulada do IPCA.

Não há que se desprezar o efeito da hidrologia desfavorável no encarecimento da eletricidade. O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) já avisou que a bandeira vermelha nas tarifas deve ser preservada até novembro. O baixo volume dos reservatórios só não tem se revertido em preocupação para o abastecimento de energia graças à recessão dos últimos anos e, agora, ao ritmo decepcionante de retomada da economia.

Não são todos iguais: Editorial | Folha de S. Paulo

Ranking da eficiência dos governos estaduais dá mostra das disparidades brasileiras

A comparação entre as gestões estaduais serve como antídoto eficiente para a tese fatalista —e, em última análise, autoritária— de que todas as opções políticas e administrativas à disposição dos eleitores sejam igualmente ruins.

Diferenças expressivas entre resultados, que afetam de modo direto o bem-estar da população, se percebem no Ranking de Eficiência dos Estados - Folha (REE-F), lançado no domingo (19).

Trata-se de um conjunto de indicadores, que podem ser consultados em detalhe no meio digital, referentes ao desempenho em educação, saúde, infraestrutura, segurança e controle orçamentário. Para cada um, leva-se em conta o volume de recursos aplicados.

Com a síntese dos dados em um único índice, o REE-F aponta quais governos estaduais fazem melhor uso do dinheiro do contribuinte na prestação dos serviços prioritários.

As disparidades se mostram sensíveis e reveladoras, ainda que devam ser ponderadas por circunstâncias históricas e regionais. Há apenas cinco casos de eficiência tida como satisfatória —Santa Catarina, São Paulo, Paraná, Pernambuco e Espírito Santo.

'Eduardo Paes não é Cabral', diz vice na chapa ao governo do Rio

Informe do Dia entrevista o deputado estadual Comte Bittencourt (PPS), escolhido pelo ex-prefeito do Rio para compor a aliança

Paulo Cappelli | O Dia

A Coluna entrevista hoje o deputado estadual Comte Bittencourt (PPS), escolhido para ser o vice na chapa de Eduardo Paes (DEM) ao Palácio Guanabara. Ao defender o nome do ex-prefeito do Rio para o governo, o parlamentar argumenta: "O Eduardo não é o Sérgio Cabral".

• O DIA: O discurso do PPS prega a renovação política. Apoiar Eduardo Paes (DEM), experiente e com passagens por tantos partidos, não é um contrassenso?

Comte Bittencourt (PPS): A renovação que o PPS prega é comportamental, não geracional. A crise da política brasileira é uma crítica de valores, de comportamento. Temos tido várias decepções na política de pessoas novas com comportamento antigo.

• Presidido pelo senhor, o PPS não apoiou Paes quando ele indicou Pedro Paulo Carvalho (DEM) para sucedê-lo na prefeitura em 2016. O que mudou de lá para cá?

Discordamos da apresentação do nome do Pedro Paulo, por conta do cenário em que ele estava envolvido naquele momento (acusação de ter agredido a ex-mulher) e que depois ficou esclarecido. É bom lembrar: apoiamos o Fernando Gabeira (à época no PV) em 2008 contra o Eduardo para a prefeitura. E decidimos apoiar o Eduardo já na reeleição em 2012 pelo conjunto da obra. Apoiamos o Eduardo Paes enquanto fazíamos oposição ao Sérgio Cabral. Então ali a gente já deixou claro que o Eduardo não é o Cabral. Não temos nenhum constrangimento nesse apoio ao Eduardo.

• Por que o PPS desistiu da candidatura de Rubem Cesar ao governo?

Não conseguimos transformar o nome do Rubem num centro gravitacional da política. Não tínhamos, sozinhos, como colocar uma candidatura majoritária. Decidimos retirar a candidatura, e o próprio Rubem foi um dos primeiros a indicar o desejo de ver o partido apoiando o Eduardo. Tínhamos também o Ivanir dos Santos, seria um grande candidato ao Senado. Mas não tivemos força política na aliança para impor o nome dele na chapa majoritária (a vaga de Ivanir ficou com a ex-secretária de organização governamental do prefeito Marcelo Crivella (PRB), Aspásia Camargo, do PSDB).

• O senhor preside a Comissão de Educação da Alerj desde 2004. Caso Paes seja eleito, será o secretário de Educação?

Com certeza não serei. Vou ajudar na indicação, se o Eduardo assim quiser, mas não serei o secretário. Assumirei as funções da vice-governadoria, ajudando o Eduardo nas questões que ele achar pertinentes.

• Aliado de Paes, o deputado Dionísio Lins (PP) te criticou dizendo que o senhor foi eleito vice-prefeito de Niterói e abandonou o cargo.

Eu não deixei o cargo. Eu não assumi. Renunciei em 2017, um ano depois de eleito, por conta do quadro de crise que o estado passava. Conversei com o Rodrigo Neves (PDT), um dos grandes prefeitos do Brasil, que compreendeu a situação. Em nome de Niterói e do Rio, me senti com mais responsabilidade de, naquele momento de crise, continuar na Assembleia Legislativa.

Uma receita para escrever bem

O professor de Literatura do Instituto de Estudos Brasileiros e também poeta analisa textos clássicos em "Manual do Estilo Desconfiado'

Ieda Lebenstayn* | O Estado de S. Paulo / Aliás

Nome deste caderno cultural, aliás é um advérbio que sinaliza o acréscimo de ideias ou de formas outras, a retificação ou o aperfeiçoamento de sentenças. Assim, este espaço se abre a reflexões sobre grandes escritores como Machado de Assis e Graciliano Ramos. Donos de estilos singulares, justamente esses dois autores se dedicaram à criação ficcional representativa em termos sociais e psicológicos, logo universais, com exímio cuidado quanto à forma e à escrita, tendo exercido também o cargo de revisores na imprensa.

Narra o escritor Medeiros e Albuquerque, com certa graça, que, quando se fundou a primeira Revista Brasileira, Machado de Assis era “o terror dos revisores”. Dezessete era, segundo se dizia, a média das revisões das suas provas. E mais: ou a última prova diferia totalmente da primeira, ou era inteiramente igual. Ou seja: o aliás, a busca da melhor forma, era a sua prática cotidiana, mesmo que às vezes retornasse à escrita primeira. Conclui Medeiros e Albuquerque: “Foi esse labor paciente do estilo que fez de Machado um grande escritor. Seu estilo é inconfundível. Puro, correto, claro, todo ele revela impecável bom gosto”.

Emendar, etimologicamente tirar o mendum, o “defeito”, era verbo conjugado com frequência por Graciliano Ramos, cujo trabalho como escritor tinha por horizonte justeza formal e social, uma sociedade que não silenciasse desigualdades gritantes, que não tivesse mendigos, palavra da mesma origem de emenda. A atenção ao “fator econômico” e o empenho pela clareza de escrita perfazem a consciência de quem, qual um “sapateiro da literatura”, sabe que ideias, observações, sentimentos, a habilidade de cosê-los e o conhecimento da gramática e das palavras, o convívio com o dicionário são – como o couro, a cola, os ilhós, a sovela – a matéria e os instrumentos necessários para seu ofício. Como o avô do menino se entregava à composição de urupemas, a tarefa de um escritor como Graciliano é “obstinação concentrada”, o olho que “brilha e se apaga” ao se embrenhar no “arranjo de ninharias”. Largos riscos sinalizam ao longo das páginas esse caminho pedregosamente fértil de escolhas de palavras e construções, conforme o leitor pode ver nos manuscritos presentes no Arquivo Graciliano Ramos do Instituto de Estudos Brasileiros da USP.

Carlos Drummond de Andrade: Amar

Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados amar?

Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?

Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o cru,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave
de rapina. Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.

Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.