terça-feira, 4 de setembro de 2018

Merval Pereira: Esticando a corda

- O Globo

Perder a eleição não seria o pior cenário para o PT, que poderia compensar a perda com forte bancada no Congresso

Não foi surpresa a decisão pessoal do ex-presidente Lula de esticar a corda até onde for possível para manter sua candidatura à Presidência da República no centro do debate político. Lula está convencido de que quanto mais tempo conseguir fazer a disputa jurídica nos tribunais superiores, mais protagonizará a cena eleitoral, tornando secundária a transferência de votos para seu vice, Fernando Haddad.

Há quem veja nessa estratégia, que parece arriscada a muitos, a visão de longo prazo de Lula sobre sua própria liderança na esquerda brasileira. Perder a eleição não seria o pior cenário para o PT, que poderia compensar essa perda com a eleição de fortes bancadas no Congresso e no plano estadual, para comandar a oposição a um possível governo Bolsonaro.

Lula não deve ficar preso o tempo de sua pena, beneficiando-se da complacência de nossa legislação, e, com um pouco de sorte dele, ano que vem o Supremo Tribunal Federal (STF) mudará o entendimento sobre a prisão depois da condenação em segunda instância, e ele poderá comandar seu grupo de fora do poder, esticando o mais possível os recursos ao STJ e ao STF.

Mesmo que venha a ser condenado em outros processos, o que é provável, terá os recursos infindáveis previstos na legislação para prosseguir sua luta política até que uma eventual anistia o libere. Para isso, precisará de uma forte presença no Congresso.

José Casado: Lula, de novo, só em 2038

- O Globo

Ele passou os últimos 36 anos no palanque. Foi candidato a governador de São Paulo, a deputado na Constituinte e a presidente. Falava namorando microfones, spots e câmeras. Quando vencia, discursava três vezes ao dia, de olho na próxima eleição. Na insônia das derrotas, fugia da cama na madrugada, ia até a cozinha, abria a geladeira e, sob a luz fria, fazia seu breve e secreto “comício” — ele descreveu acena inúmeras vezes em praças públicas.

Lula candidato, de novo, só em 2038. Não se fala sobre isso no PT nem nos partidos adversários, mas o “fato concreto”, como ele dizia, é o seguinte: ao confirmara validade da Lei da Ficha Limpa para todos, a Justiça Eleitoral declarou o ex-presidente inelegível pelos próximos 20 anos.

Em janeiro, ele foi condenado a 12 anos e um mês de prisão pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. A sentença do tribunal (TRF-4) foi reconhecida em duas instâncias superiores (STJ e Supremo).

Na madrugada de sábado, foi enquadrado na lei (n° 135, de 2010) aprovada no Congresso por unanimidade, celebrada pelo PT e sancionada pelo próprio Lula, sem vetos. Ela determina que a inelegibilidade vai “desde a condenação até o transcurso do prazo de oito anos após o cumprimento da pena” (artigo 1º, inciso I, alínea E).

Ricardo Noblat: Lula bate o pé e insiste com a farsa

- Blog do Noblat

E se ele decidir não indicar ninguém para candidato?

Estelionato é “obter, para si ou para outro, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil ou qualquer outro meio fraudulento”, segundo o Código Penal brasileiro. Pena: de um a cinco anos de reclusão.

Estelionato eleitoral é “um conceito da ciência política utilizada para descrever os casos de candidatos eleitos com uma plataforma ideológica que, após a eleição, adotam um programa de signo ideológico contrário”, segundo a Wikipédia. Pena: nenhuma.

Misture as duas definições, bata bem e não tenha dúvida: Lula é um estelionatário. Sua falsa candidatura a presidente da República foi o meio fraudulento encontrado por ele para se beneficiar e conferir vantagem ilícita a quem venha a substitui-lo.

Estelionato eleitoral só se configura depois que as urnas cantam seu resultado, que o eleito começa a governar e a fazer o contrário do que prometeu. A criatividade assaz louvada do brasileiro acaba de patentear o estelionato eleitoral que dispensa tudo isso.

A candidatura de Lula não existe, jamais existiu. Ele não poderia ser candidato, impedido por lei que carrega sua assinatura. Mas foi preciso que a mais alta corte da Justiça Eleitoral esfregasse tudo isso na cara dele e na nossa cara para que… Para quê o quê?

Para nada. Para que parte de nós continue acreditando, por devoção ou ignorância, que Lula será, sim, candidato – quem sabe, não é? Fernando Haddad voou ontem a Curitiba com a esperança de voltar de lá ungido pelo encarcerado ilustre.

Voltou dizendo que o candidato será Lula para sempre, ou até quando ele quiser, ou até que se esgote o prazo de 10 dias dado pela Justiça para que o PT indique outro candidato. Pobre do Haddad, que imagina estar cumprindo bem o seu papel de capacho.

Raymundo Costa: Diminui poder de Lula para transferir votos

- Valor Econômico

PT tem pouco tempo para viabilizar Haddad presidente

A menos que sofra uma violenta queda nas intenções de voto, o deputado Jair Bolsonaro é o cara a ser batido nas eleições presidenciais. Há precedentes de reversão rápida de expectativa, sendo o mais próximo o de Marina Silva (Rede Sustentabilidade), que em 48 horas perdeu o lugar no segundo turno para o senador Aécio Neves (PSDB), o que parecia assegurado, após sofrer intensa campanha negativa movida pelo PT na propaganda oficial, em 2014.

Ainda na noite do sábado que antecedeu a eleição, Marina teve uma reunião com o então presidente do PSB, Roberto Amaral, para tratar de providências para o segundo turno. Os dois foram dormir certos de permanecer na campanha e disputar com a ex-presidente Dilma Rousseff a principal cadeira do Palácio do Planalto, mas acordaram no dia seguinte com Aécio Neves com o pé na porta.

Sem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na disputa, só uma campanha semelhante de desconstrução - e com o mesmo sucesso - pode ameaçar a posição de Bolsonaro. Os próximos sete, dez dias dirão sobre a eficácia dos petardos dirigidos contra o candidato do PSL, principalmente do aspirante do PSDB, Geraldo Alckmin. Mas o navio de Bolsonaro, aparentemente, segue sem grandes danos estruturais no casco. Nesse ritmo, a disputa de 7 de outubro é pela segunda vaga.

Quem vai, Marina, que hoje ocupa a segunda colocação, Alckmin, que ainda não decolou, Ciro Gomes (PDT), que ficou isolado ou Fernando Haddad, o ex-prefeito de São Paulo, com total apoio de Lula? Em geral os analistas têm afirmado que Lula terá capacidade de transferência de votos suficiente para colocar Haddad no segundo turno. Logo o próximo presidente sairia de uma disputa entre Bolsonaro e Haddad. Há controvérsia.

O professor David Fleischer, da Universidade de Brasília (UnB), vê mais obstáculos à frente de Haddad do que de Marina Silva e Geraldo Alckmin. Entre a última sexta-feira e o início desta semana foi possível perceber o motivo das dúvidas do professor: a campanha de Haddad com Lula é uma coisa e sem Lula é outra inteiramente diferente.

Dividido, PT segue com Lula

Rafael Moro Martins, Andrea Jubé, Luísa Martins, Isadora Peron e Marcelo Ribeiro | Valor Econômico

CURITIBA E BRASÍLIA - A decisão do ex-presidente Lula de prolongar a estratégia em torno de sua candidatura presidencial contrariou uma ala expressiva do PT, que considera urgente oficializar o vice, Fernando Haddad, na cabeça de chapa. A avaliação desse grupo, que inclui os governadores da sigla, é de que o adiamento deixa o PT sem candidato e coloca em xeque a transferência de votos de Lula. A ala do partido que defende manter o nome do ex-presidente "até o fim" é liderada pela presidente da sigla, Gleisi Hoffmann.

Ontem, após reunião com Lula em Curitiba, Haddad anunciou que o PT entrará com recurso contra o veto à candidatura do ex-presidente no STF e no Comitê de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU). Ele ainda pode ser alçado à cabeça de chapa até o dia 11, prazo fixado pelo TSE, mas cresce a angústia interna no partido e o receio de debandada dos eleitores.

Lula resiste a sair e contraria petistas
A decisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de prolongar a estratégia em torno de sua candidatura presidencial, em confronto aberto com a Justiça Eleitoral, contrariou uma ala expressiva do PT que considera urgente oficializar o vice Fernando Haddad na cabeça de chapa. A avaliação do grupo, que inclui os governadores da sigla, é de que o adiamento deixa o PT sem candidato, e coloca em xeque a transferência de votos.

Ontem, após a reunião com Lula em Curitiba, Haddad anunciou os recursos do PT contra o veto à candidatura de Lula ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ao Comitê de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU). Ele ainda pode ser alçado à cabeça de chapa até o dia 11, prazo fixado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), mas até lá, cresce a angústia interna e o receio de debandada dos eleitores.

No fim de semana, Lula pediu aos petistas mais próximos que lhe escrevessem cartas com conselhos sobre os próximos passos a tomar. Muitos lhe sugeriram apressar a ascensão de Haddad à cabeça de chapa, e acreditaram que influenciaram Lula - o que não se confirmou.

TSE proíbe propaganda com Lula como protagonista

Horário eleitoral. Ministros suspendem propagandas veiculadas pelo PT no rádio e na TV; deliberações apontam tentativa de ‘confundir o eleitor’ e afronta à decisão da Corte

Rafael Moraes Moura, Amanda Pupo, Ricardo Galhardo. Daniel Weterman, Jamil Chade e Katna Baran | O Estado de S. Paulo

Os ministros Carlos Bastide Horbach e Luís Felipe Salomão, do TSE, determinaram a suspensão de propagandas veiculadas pelo PT no rádio e na TV que tenham como protagonista o ex-presidente Lula. As deliberações apontam tentativa de “confundir o eleitor” e “frontal oposição” ao que foi decidido pela Corte. As decisões se referem às peças veiculadas no sábado.

Ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) determinaram ontem a suspensão de propagandas veiculadas pelo PT no rádio e na TV que tinham como protagonista o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva – preso e condenado na Lava Jato. Carlos Bastide Horbach e Luís Felipe Salomão apontaram nas deliberações tentativa de “confundir o eleitor” e “frontal oposição” ao que foi decidido pela Corte.

As decisões se referem às peças veiculadas no sábado passado, horas depois de o plenário do TSE negar o registro de candidatura de Lula. Ainda ontem, outro ministro da Corte, Sérgio Banhos, suspendeu inserções televisivas veiculadas pela coligação liderada pelo PT. Na peça, Lula aparece exaltando suas gestões e afirmando que no período o “povo sorria”, “comia” e “trabalhava”. Os ministros determinaram a aplicação de multa de R$ 500 mil em caso de reincidência.

Na madrugada do dia 1.º, os ministros do Tribunal também decidiram manter o horário eleitoral reservado para a coligação encabeçada pelo PT, mas proibiram a aparição de Lula na propaganda na condição de candidato.

O entendimento do plenário do TSE aumentou a pressão interna no PT para que a substituição do ex-presidente por Fernando Haddad na cabeça da chapa seja antecipada. A tendência, hoje, é que a substituição seja feita até o dia 11, prazo estipulado pelo ministro Luís Roberto Barroso, apesar dos recursos apresentados pela defesa à ONU e ao Supremo Tribunal Federal.

‘Estados mentais’. Na avaliação de Horbach, os blocos televisivos de propaganda confundem o eleitor, criam artificialmente “estados mentais e emocionais equivocados” e afrontam a autoridade da decisão da Corte Eleitoral. Horbach atendeu ao partido Novo, que entrou com seis pedidos no TSE contra as aparições de Lula no horário eleitoral do PT.

PT insiste em Lula, mesmo inelegível

‘Afronta à autoridade’

TSE pune propaganda que ‘confunde o eleitor’

André de Souza, Luiza Dalmazo e Sérgio Roxo | O Globo

BRASÍLIA E SÃO PAULO - O TSE suspendeu propaganda do PT que mostrava Lula como candidato à Presidência. Em reunião com Fernando Haddad, ele decidiu manter luta jurídica pela candidatura. Enquanto o PT reafirmava o plano de manter Luiz Inácio Lula da Silva como o nome para a disputa presidencial, à revelia da decisão judicial que o declarou inelegível, dois ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) condenaram propagandas em rádio e TV que apresentaram o ex-presidente como candidato no fim de semana.

Ontem, o ministro substituto Carlos Horbach determinou o pagamento de multa de R$ 500 mil em caso de repetição de peças de TV. E, em seu voto, declarou que as propagandas “confundem o eleitor e criam estado emocional de dúvida não só quanto à candidatura, mas também em relação à autoridade desta Justiça especializada para conduzir o pleito em curso à luz do ordenamento jurídico vigente”.

Horbach afirmou que as peças de TV “evidenciam afronta à autoridade” ao pedir voto a “cidadão inelegível”. Na madrugada de sábado, o TSE deu prazo de dez dias para que o PT escolha o substituto de Lula.

Em outra decisão, na noite de domingo, o ministro Luis Felipe Salomão considerou irregular a propaganda de rádio, levada ao ar no sábado, que mencionava “Lula presidente”. As ações foram protocoladas pelo partido Novo.

Ao questionara propaganda petista, o Novo ainda pediu a retirada de vídeos nas redes sociais. E afirmou que o PT manipulou dados ao dizer que “a ONU já decidiu que Lula poderia ser candidato e ser eleito presidente do Brasil”. O TSE, por seis votos a um, julgou que a recomendação do Comitê de Direitos Humanos da ONU, favorável à candidatura de Lula, não precisa ser seguida pela Justiça brasileira.

Na frente jurídica, o PT afirmou, por meio de nota, que a representação do partido Novo é “maliciosa” e “induza Justiça a erro e quer restaurara censura política no país ".“A coligação substituiu os programas eleitorais cumprindo a decisão provisória sobre a candidatura Lula e não é responsável por erros de emissoras que não fizeram a troca de programas. Cumprimos a lei e queremos que ela seja cumprida, sem perseguição política".

Aposta em estratégia para transferir votos

Sérgio Roxo | O Globo

Ao anunciar ontem que irá novamente à ONU e ao STF para tentar manter Lula na eleição, o PT busca ser coerente com o discurso que faz desde o ano passado. A avaliação até entre pessoas próximas a Fernando Haddad, em tese o maior interessado em ser apresentado logo como candidato a presidente, é que o eleitor precisa ter clara a ideia de que o partido lutou por Lula até o fim e só trocou o cabeça da chapa quando não havia alternativa.

Se indicasse agora o ex-prefeito, a mudança poderia ser lida como oportunista. O entendimento, referendado por Lula, é que a almejada transferência de votos tem mais chance de ser eficaz dessa forma. Até o dia da mudança, o partido usará o horário eleitoral para atacar o TSE e apresentar Haddad.

Atentado à soberania: Editorial | O Estado de S. Paulo

Para os liberticidas petistas, o partido não é obrigado a respeitar a legislação eleitoral nem, muito menos, as decisões do Tribunal Superior Eleitoral

A eleição de um presidente da República por meio do voto é expressão inequívoca da soberania popular. Para o PT, contudo, não cabe ao povo brasileiro estabelecer as regras de funcionamento desse processo.

Pouco importa se essas regras estão baseadas em leis livremente pactuadas, aprovadas por seus representantes legítimos no Congresso Nacional e cuja constitucionalidade é atestada pela mais alta instância judicial, o Supremo Tribunal Federal. Segundo a patológica visão petista de democracia, bastam duas assinaturas num pedaço de papel, em nome de um comitê sem caráter deliberativo, vinculado a uma entidade internacional sem jurisdição sobre as eleições no Brasil, para subtrair do povo brasileiro – representado por suas instituições democráticas, que funcionam de forma regular, em conformidade com a Constituição – a autoridade para nortear a eleição presidencial.

Em seus já anunciados recursos contra a decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de cassar a candidatura de Lula da Silva à Presidência da República, a defesa do demiurgo petista, conforme relatou o PT em nota oficial, vai insistir na tese segundo a qual o Brasil “tem a obrigação de cumprir” a “determinação” do Comitê de Direitos Humanos da ONU para “garantir os direitos políticos de Lula, inclusive o de ser candidato”.

Há vários problemas nessas poucas palavras. Em primeiro lugar, o Comitê de Direitos Humanos da ONU não “determinou” nada. O documento ao qual o PT se refere é uma mera recomendação, assinada por apenas dois dos 18 integrantes do tal comitê. Mas, ainda que fosse uma demanda explícita, não teria qualquer valor jurídico no Brasil, porque o comitê não tem competência jurisdicional, limitando-se a funções técnicas. Trata-se de organismo que emite avaliações sobre alegadas violações de direitos humanos de indivíduos, no âmbito do Protocolo Facultativo do Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos, ratificado no Brasil por decreto legislativo de 2009. Esse Protocolo, contudo, não tem valor jurídico no País porque não foi sancionado pelo presidente da República, conforme determina o artigo 84 da Constituição.

Voto de Barroso no TSE desmonta farsa armada em órgão da ONU: Editorial | O Globo

Acionar um comitê administrativo faz parte do plano do PT de estender ao máximo a questão

As manobras, as táticas, as chicanas usadas pelo PT para tentar emplacar a candidatura de Lula, apesar de o ex-presidente estar enquadrado de maneira insofismável na Lei da Ficha Limpa, confirmaram o que se sabia. Ou seja, a inegável capacidade de luta dos militantes da legenda. Que, como está claro desde o escândalo do mensalão, denunciado em 2005, privilegiam os objetivos a atingir, independentemente dos meios.

É para enfrentar situações como esta que a República conta com instituições para, acima de todos os interesses, reafirmarem o império da lei, o estado democrático de direito.

Neste sentido, foi exemplar o desfecho do julgamento do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), iniciado na tarde de sexta-feira e concluído na madrugada de sábado passado, em que a candidatura de Lula foi barrada, como esperado, por ele ter sido condenado em segunda instância, por corrupção e lavagem de dinheiro, condição que o torna inelegível, de acordo com a lei.

A longa sessão do julgamento também serviu para, pelo voto do ministro-relator, Luís Roberto Barroso, ser detalhada a patranha da tal defesa “da ONU” do reconhecimento da candidatura do ex-presidente.

Como ficou registrado no voto de Barroso, não houve qualquer pronunciamento “da ONU”, mas de um órgão administrativo da instituição, chamado Comitê de Direitos Humanos. Não confundir com a Comissão de Direitos Humanos, em que países são representados. Dos 18 componentes do tal comitê, dois concordaram em tomar a medida cautelar em favor da candidatura, sem que ela tivesse ou tenha qualquer efeito vinculante sobre a Justiça brasileira, apesar do entendimento em contrário do ministro Edson Fachin, único voto no TSE pelo acolhimento do pedido. Foi derrotado por seis a um.

Experiente na saúde, Geraldo Alckmin repetirá projetos de SP para tirar sistema da UTI

Danilo Queiroz | Assessoria do candidato

A saúde pública do Brasil está em estado caótico e pedindo socorro. Nos últimos governos, diversas negligências gerenciais colocaram a área em situação crítica. Médico por formação, o candidato à Presidência da República Geraldo Alckmin (PSDB) sempre se mostrou preocupado com o sistema de atendimento do País. Enquanto governador de São Paulo – ficou no cargo durante oito anos -, o tucano colocou em prática diversas ações que melhoram o sistema público paulista e que servem de referência para a retomada do setor no Brasil (veja aqui  as diretrizes gerais do programa de governo do candidato).

Estado mais populoso do País, São Paulo tem uma alta demanda na área saúde. Cerca de 60% da população paulista é usuária do SUS (Sistema Único de Saúde) gerido pelo governo. Além disso, a cada 30 minutos, a rede acolhe a internação de um paciente oriundo de outra região. Nos hospitais paulistas, são realizados ainda mais de 30% dos atendimentos de urgência e 35% dos transplantes feitos em todo o país.

Durante o governo Alckmin, São Paulo se tornou referência em saúde. O status é fruto de muito trabalho e diversos cuidados tomados com o setor. Entre diversas ações, o tucano dedicou atenções no combate ao câncer. Geraldo criou, por exemplo, a Rede Hebe Camargo de Combate ao Câncer. Ao todo, 76 unidades integradas geram atendimento para que os pacientes possam se tratar perto de suas casas. O governo paulista investiu R$ 113 milhões nas unidades de atendimento.

Desta forma, Geraldo implantou a maior rede de combate a doença do País, onde pacientes de todo o estado recebem atendimento especializado por meio de um serviço de saúde unificado. Cerca de 94% dos pacientes são atendidos na região onde vivem, recebendo assistência integral e de qualidade. O atendimento da rede oferece procedimentos cirúrgicos, quimioterápicos e radioterápicos. O sistema tem capacidade para realizar 3,5 milhões consultas anuais.

Alckmin propõe programa que irá pagar metade do botijão de gás para famílias de baixa renda

O candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, apresentou nesta segunda-feira sua proposta de criar um programa por meio do qual o governo federal pague metade do valor do botijão de gás para famílias de baixa renda. Em agenda na capital paulista, Alckmin citou dados do IBGE segundo os quais 17% da população brasileira não têm acesso a gás de cozinha. “Não há nada mais importante que uma boa alimentação. Nós temos uma população muito pobre que precisa do apoio do governo, e a melhor maneira de fazê-lo é por meio da alimentação de qualidade”, afirmou.

Alckmin explicou que o programa vai beneficiar as famílias cadastradas na tarifa social de energia elétrica, em torno de 8,3 milhões de pessoas. Ao explicar como a União vai custear o programa, o candidato afirmou que há muito espaço para cortar gastos do governo federal e que promoverá um duro ajuste fiscal. “Governar é escolher”, ressaltou.

Além do Vale Gás, o presidenciável, que visitou a unidade do Bom Prato no Brás, citou o programa como importante medida para garantir alimentação saudável à população carente. Alckmin se comprometeu a levar o Bom Prato para o Brasil. O programa atende cidades paulistas com mais de 200 mil habitantes, em parceria com prefeituras. Mantidos pelo governo do Estado, os restaurantes são implementados em parceria com os municípios e geridos por organizações sociais da sociedade de civil.

Diariamente são servidas 90 mil refeições ao preço de R$ 1. Crianças de até 6 anos não pagam. Qualquer pessoa pode se servir.

As refeições são balanceadas e de adequado teor calórico (1.200 calorias). Oferecem arroz, feijão, carne, legumes, salada, farinha de mandioca, pão, fruta da estação e suco. O Bom Prato nasceu no governo Covas, em 2000, e hoje conta com 54 unidades (22 na capital, 9 na Grande São Paulo, 6 no litoral e 16 no interior). Desde 2011, o Bom Prato passou a servir também café da manhã, a R$ 0,50.

*Ouça aqui o áudio da coletiva.

Alckmin faz ofensiva para passar de governador dos números a candidato dos pobres

Tucano prepara anúncios de cunho social que reforcem imagem de 'Geraldo é cabeça e coração'

Thais Bilenky | Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - O candidato Geraldo Alckmin (PSDB) deu início nesta segunda-feira (3) a uma operação para modelar a sua imagem, reforçando a preocupação social.

Rejeitado por 26% da população, considerado um político frio, o tucano quer mostrar que está atento ao povo e aos mais pobres.

A estratégia é a espinha dorsal da campanha, segundo integrantes do núcleo duro, sintetizada pelo jingle, “Geraldo é cabeça e coração”.

Sempre desfiando números e estatísticas, Alckmin se esforça para construir uma imagem de gestor com responsabilidade fiscal que também é comprometido com a população carente.

A avaliação da equipe é que não adianta focar o aprofundamento técnico do plano de governo —que, até agora, resume-se a um documento genérico de 15 páginas.

Será necessário demonstrar sensibilidade social e, para isso, a campanha planeja anunciar uma medida de impacto e fácil compreensão para cada uma das quatro principais áreas do programa: emprego, segurança, saúde e educação.

Dentro desse roteiro, nesta segunda, na capital paulista, o tucano prometeu subsidiar metade da tarifa de gás de botijão às famílias carentes.

O vale-gás, como Alckmin chamou o programa, teria custo estimado em menos de R$ 2 bilhões por ano para beneficiar 8,3 milhões de famílias, já cadastradas na tarifa social de energia elétrica.

São aquelas de renda per capta inferior a meio salário mínimo, estão no BPC (benefício de prestação continuada) ou têm membro com doença ou deficiência grave.

Alckmin associa Dilma a Temer em propaganda na TV

Tucano busca atrair o eleitor antipetista que hoje declara voto a Jair Bolsonaro nas eleições 2018; candidato do PSL à Presidência segue como alvo principal da campanha

Pedro Venceslau e Yuri Silva | O Estado de S.Paulo

Após a campanha do presidenciável tucano Geraldo Alckmin usar a maior parte de suas inserções para atacar o deputado Jair Bolsonaro (PSL) na estreia do horário eleitoral de rádio e TV, na sexta-feira, 31, novos comerciais apontam a presidente cassada Dilma Rousseff (PT) e o presidente Michel Temer (MDB) como responsáveis pela crise que o Brasil atravessa em diversas áreas. A ideia é associar Dilma a Temer.

O candidato do PSL continua como alvo principal em metade das propagandas – são 12 ao longo do dia. Os ataques mais duros são no rádio. Mas um quarto dos comerciais de TV que começarão a ser veiculados a partir de hoje usam o mote “O Brasil de Dilma e Temer é assim” ao mostrar dados sobre violência, educação e segurança pública.

Desde o início da campanha presidencial, Alckmin vem sendo criticado pelos adversários por ter firmado uma aliança com os partidos do Centrão que formam a base de sustentação de Temer no Congresso.

A diferença em relação às inserções que atacam Bolsonaro é que nesse caso Alckmin aparece no fim das locuções em off. Em uma delas, um locutor fala sobre os “13 milhões de desempregados” registrados nos últimos quatro anos enquanto um casal toma café. “O desemprego é cruel. Faz a família toda sofrer. Economia tem que gerar emprego. O presidente tem que ser o comandante da boa economia”, diz o ex-governador.

A crítica resvala no ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles (MDB), que tem exaltado na campanha que foi presidente do Banco Central do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo um dos coordenadores políticos da campanha tucana, a ideia é abrir uma ofensiva para atrair eleitores antipetistas que devem começar a se descolar de Jair Bolsonaro.

Por isso a decisão foi preservar Alckmin nos ataques a Bolsonaro, mas expô-lo no caso do PT e de Temer. A ideia dos comerciais é fazer com que temas sensíveis aos olhos do eleitor deixem de ser associados exclusivamente a Temer, que foi vice de Dilma e assumiu após sua deposição, e passem a ser tratados como “problemas nascidos no governo do PT”.

Novos programas devem lembrar que a escolha do emedebista para o cargo de vice-presidente na chapa de Dilma foi do próprio PT – ligando o presidente ao partido de Lula, condenado no âmbito da Operação Lava Jato e preso na carceragem da Polícia Federal, em Curitiba (PR).

Pesquisas. Antes de elaborar os novos comerciais, a campanha de Alckmin fez uma rodada de pesquisas qualitativas após as primeiras aparições do tucano no programa eleitoral no rádio e na TV, no sábado.

Opiniões de eleitores de São Paulo, Goiânia e Recife foram colhidas por uma empresa contratada pela campanha do ex-governador paulista, com a finalidade de entender regiões distintas (Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste).

Ainda de acordo com interlocutores que tiveram acesso aos resultados da sondagem, o presidenciável do MDB, Henrique Meirelles, e a propaganda do PT, que não deixou claro para o público se o candidato do partido é o ex-presidente Lula ou o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, também agradaram aos eleitores que participaram das qualitativas contratadas pelo PSDB.

Efeito. Auxiliares e aliados de Alckmin acreditam que a próxima pesquisa Ibope/Estadode intenção de voto sobre a eleição presidencial, que será divulgada nesta terça-feira, 4, ainda não deve captar o resultado do horário eleitoral no rádio e TV.

Por isso seria precipitado mudar o cronograma original. A expectativa é de que os primeiros resultados comecem a aparecer após dez dias de exibição dos comerciais. O ex-governador tucano conta com o maior tempo de TV e rádio entre os 13 candidatos que disputam as eleições para o Palácio do Planalto.

Alckmin adota agenda popular e promete medidas de cunho social

Por Fernando Taquari | Valor Econômico

SÃO PAULO - Sem decolar nas pesquisas de intenção de voto, o candidato o PSDB a presidente, o ex-governador Geraldo Alckmin, adotou ontem uma agenda de apelo popular e anunciou duas propostas de cunho social. O tucano prometeu implantar restaurantes em todo o país que ofereçam refeição ao custo de R$ 1 e um subsídio às famílias mais pobres para a compra do botijão de gás.

Alckmin informou que o vale-gás, inspirado em um programa similar do governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), beneficiará 8,3 milhões de famílias que estão cadastradas no programa de tarifa social de energia elétrica. O impacto fiscal, segundo ele, não chega a R$ 2 bilhões por ano. O candidato tucano afirmou que os recursos vão vir de um severo ajuste fiscal.

"O espaço para reduzir gastos é enorme", disse Alckmin ao apresentar, na capital paulista, os colaboradores de seu programa de governo. Ao ser questionado especificamente sobre a origem do dinheiro para bancar essa proposta, o tucano foi vago. "Vem do conjunto de todos os ajustes", declarou.

O ex-governador justificou a necessidade do subsídio ao ressaltar que dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que 17% da população brasileira ainda cozinha à lenha por conta da dificuldade financeira em adquirir o botijão.

Antes do almoço, Alckmin seguiu para a zona leste de São Paulo, onde visitou um dos restaurantes "Bom Prato", que servem refeição a R$ 1 e são considerados uma das vitrines de sua gestão no governo do Estado.

Propaganda de Alckmin com tiros não ofende Bolsonaro, decide ministro

Sérgio Banhos, do Tribunal Superior Eleitoral, negou representação do deputado do PSL, candidato à Presidência, contra inserção do tucano que traz o slogan 'Não é na bala que se resolve'

Luiz Vassallo | O Estado de S. Paulo

O ministro do Tribunal Superior Eleitoral Sérgio Silveira Banhos negou representação do deputado Jair Bolsonaro (PSL), candidato à Presidência, contra propaganda do ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) ao Palácio do Planalto que traz o slogan ‘Não é na bala que se resolve’.

Na inserção, projéteis atingem objetos que simbolizam o ‘desemprego’, o ‘analfabetismo’, a ‘fome’ e outros. Na último segundo, uma bala segue em direção à cabeça de uma criança. “Não é na bala que se resolve”, diz a legenda – em uma clara alusão ao discurso do candidato Bolsonaro.

A defesa de Bolsonaro alegou à Corte que a introdução ‘visa atacar diretamente’ o deputado ‘no intuito de desequilibrar a disputa eleitoral, ofendendo a lisura e a moralidade do pleito’.

Dessa forma, pediu a ‘concessão de medida liminar para determinar a suspensão imediata da veiculação na televisão e nas páginas oficias do representado no Facebook e no Twitter da inserção impugnada, até o julgamento final da demanda’.

No entanto, para o ministro Sérgio Silveira Banhos, ‘não se verifica irregularidade capaz de denegrir a imagem’ do deputado.

“A uma porque não houve qualquer referência ao seu nome ou a sua imagem na propaganda eleitoral ora impugnada. A duas porque imagens tidas como ‘impactantes’ como a utilizada na inserção são apresentadas diariamente nos telejornais, uma vez que a violência explícita, lamentavelmente, é uma realidade do país”, anotou.

Bolsonaro diz que adversário faz 'jogo sujo'

Por Cristian Klein | Valor Econômico

RIO - Alvo de ataques de Geraldo Alckmin (PSDB) desde o primeiro dia da campanha em rádio e TV, o candidato a presidente Jair Bolsonaro (PSL) acusou o golpe. Dirigindo-se diretamente ao adversário, o deputado federal chamou de "jogo sujo" a campanha tucana. "Não tenta querer crescer fazendo esse jogo baixo, sujo, que parece uma característica de seu partido", disse Bolsonaro, antes de participar de almoço promovido por empresas do setor de seguros, no Rio.

O parlamentar reclamou que, em vez de Alckmin mostrar o que fez como governador de São Paulo, "fica me atacando", com o "videozinho do embate meu com a [deputada federal] Maria do Rosário [PT-RS]". A inserção de Alckmin mostra a discussão em que Bolsonaro disse que não estupraria a parlamentar porque ela não merecia. O deputado é réu no Supremo Tribunal Federal (STF) por apologia ao estupro.

"O senhor tem é que explicar o roubo da merenda escolar, que está sendo denunciado por quatro delatores, está até o pescoço no Rodoanel, na Dersa, seu cunhado está em maus lençóis sendo acusado de ter desviado milhões também junto a empreiteiras. Responda por você, não fique me acusando com leviandade", contra-atacou.

Bolsonaro, que lidera as pesquisas no primeiro turno mas perde em cenários de segundo turno, indicou que não aceitará o resultado das eleições se for derrotado em outubro. O presidenciável respondia a uma pergunta sobre seu apoio no eleitorado evangélico, quando afirmou que, "desde que não haja fraude nas eleições, nós chegaremos lá". Questionado em seguida se respeitará o resultado das urnas, Bolsonaro afirmou: "Quem quer que seja o vencedor acho que o outro lado vai acusar de fraude".

O candidato do PSL disse que aprovou dois artigos em projeto de lei que garantia o voto impresso mas o STF os julgou inconstitucionais. Bolsonaro afirmou que "vamos para as eleições informatizadas onde sabemos que nada é indevassável aqui no Brasil - ou qualquer lugar do mundo". Indagado novamente se reconhecerá o resultado, caso perca a eleição, Bolsonaro insistiu: "Qualquer que seja o lado perdedor não vai reconhecer".

O deputado relacionou a possibilidade de fraude com a necessidade de adversários de escaparem da Justiça. "O que está em jogo é a cadeia para a nata da política brasileira. E eles sempre discutem entre eles o indulto para condenados da Lava-Jato, a começar por Lula, Aécio e o próprio Alckmin, que responde a processos nesse sentido", disse.

O candidato à Presidência se mostrou muito irritado quando abordado sobre o incêndio que destruiu, anteontem, o Museu Nacional e não falou da importância da instituição. Preferiu culpar partidos de esquerda, pela administração do museu, ligado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), cujo reitor é filiado ao Psol. "Pergunte para eles o que fizeram esse tempo todo a não ser aparelhar essa instituição e colocar militantes lá dentro", disse. Depois, lembrado de que as verbas são do governo federal, mirou o presidente da República: "Pergunta para o Temer o que ele fez. Eu não fiz nada. Vocês querem que eu tenha solução para tudo agora?".

Indagado se poderia destacar uma entre as 20 milhões de peças que havia no museu - como o meteorito Bendegó, o crânio de Luzia, fóssil humano mais antigo encontrado no país, ou a coleção de cultura egípcia, a maior da América Latina - Bolsonaro perdeu o controle: "Para de fazer esse tipo de pergunta, porque onde você quer chegar eu não vou te responder. Acabou a entrevista. Está a serviço de quem?". O candidato também não respondeu se já tinha visitado o museu com os filhos. "Pergunta para o seu sobrinho essa aí", disse, já se esquivando e dando fortes tapinhas na barriga do interlocutor.

Eliane Cantanhêde: Indignação

- O Estado de S.Paulo

Tem dinheiro para tudo, menos para educação, saúde e muito menos cultura e museus

O Brasil é uma das maiores economias do mundo, despejou fortunas na Copa, na Olimpíada, nas “campeãs nacionais” JBS e Odebrecht e tem tanto dinheiro sobrando que o ex-governador do Rio nadava em joias, um dos envolvidos na Lava Jato estocava malas de dinheiro num apartamento vazio de Salvador, um outro devolveu US$ 100 milhões roubados à Petrobrás e vai por aí afora.

E os miseráveis? A geração de empregos? O dinheiro da Cultura? E a nossa história, o Museu Nacional, o da República, o do Ipiranga...? Para isso não há recursos, nem campeões nacionais, nem boa vontade, nem reconhecimento. Entra governo, sai governo, e o risco só aumenta, até que uma tragédia como a de domingo sacode o País.

As labaredas que destruíram os 200 anos de história jogaram luz no descaso, na falta de prioridade, nos desvios milionários, na simbiose entre corrupção e colapso, no empurra-empurra da culpa. Um erro vai puxando o outro, num círculo vicioso que leva a níveis insuportáveis a indignação, em pleno ano de eleições gerais.

O jornalista Sérgio Aguiar e eu adoramos o Museu da República, em Laranjeiras, no Rio, com peças lindas e tanta história que os personagens parecem eternizados ali. Uma parte, porém, estava bloqueada ao público, com goteiras e mofo. Era, nada mais nada menos, o quarto onde Getúlio Vargas “se despediu da vida para entrar para a história”.

No Museu Nacional, a indignação começa com questões simples. Por que não tinha brigada de incêndio de plantão? Nem água suficiente para debelar o fogo? Nem detecção, alarme e sistema de combate a incêndios? O Ministério da Cultura diz que fechou um financiamento em junho com o BNDES para restaurar o museu e prevenir incêndios. Agora, as verbas vão sair...

Os governos nunca deram muita bola para cultura e vêm reduzindo os recursos do museu desde 2010, mas Dilma Rousseff, o senador Lindbergh Farias e o deputado Wadih Damous, do PT, trataram de “esquecer” que o descaso vem de governo em governo e foi mantido inclusive nos oito anos de Lula e nos seis da própria Dilma. Por isso, arranjaram dois culpados: o governo Michel Temer e o teto de gastos. Falsear a realidade não é fazer política, é má-fé.

Depois do leite derramado, como sempre, todos apressaram-se a prometer mundos e fundos para reconstruir o Museu Nacional, mas não há dinheiro que possa recuperar o tesouro que havia dentro daquele prédio. Temer soltou nota de pesar, o ministro da Educação acenou com recursos de emergência, o da Cultura, que não apareceu na festa dos 200 anos do museu, passou o dia ao vivo nas TVs, o reitor da UFRJ ficou rouco de tanto falar que fizera a parte dele.

Míriam Leitão: O que fazer com as cinzas

- O Globo

Luzia resistiu por milênios, mas não sobreviveu a nós. E teremos que explicar isso aos estudantes, porque museu é parte da educação de um povo

É tão simbólico que grita. O incêndio do Museu Nacional em momento de tanta confusão sobre quem somos nós parece deliberado. E de certa forma é. Queimamos o nosso passado, ignoramos o nosso futuro e ficamos prisioneiros do redemoinho presente. Os brasileiros choram hoje sobre as cinzas e se perguntam como recuperar o patrimônio perdido. Irrecuperável, dizem os especialistas e cada um de nós sabe que é verdade. Mas haverá um amanhã depois do incêndio.

O meteorito sobreviveu, mas não a história do Brasil. E o que fazer agora? Na manhã do dia seguinte tudo o que se sabe é que o próprio prédio pode ruir. Perdeu-se um patrimônio da riqueza natural, da história que vivemos e do que houve nos milhares de anos antes de começarmos a construir o que podemos chamar de civilização brasileira. Anda Luzia. E agora? A presidente do Iphan anunciou que “Luzia morreu”. Ela resistiu por milhares de anos, mas não sobreviveu a nós. E teremos que explicar isso aos estudantes, porque museu é parte da educação de um povo.

Neste tempo da perplexidade é inevitável pensar no simbolismo de tudo isso. De certa forma, o Brasil sempre ignorou seu passado. Durante muito tempo preferimos fazer blague sobre os personagens fundadores do que somos, preferimos jogar luz sobre os maiores defeitos de cada personagem e não seus acertos. Rimos dos exotismos, e não valorizamos as sagas. Nas viagens ao exterior, visitamos museus e reverenciamos a história alheia. Mas aqui, deixamos para ir aos museus de arte ou de história em outro momento. Afinal, eles estarão sempre ali. E quando chegam as notícias, parcas, esporádicas, de que a manutenção do patrimônio está precária, lamentamos e vamos cuidar da vida. 

Há tantas emergências, o passado fica para depois.

Hélio Schwartsma: De quem é a culpa pelo incêndio?

- Folha de S. Paulo

Desastre museológico é também um alerta em relação ao que está por vir

O incêndio do Museu Nacional, no Rio, que destruiu parte importante de seu acervo, é uma tragédia para a ciência e o patrimônio cultural do país. Ao que tudo indica, as péssimas condições de conservação do prédio e a falta de equipamentos antifogo foram determinantes para aumentar a escala dos estragos.

O desastre museológico é também um alerta em relação ao que está por vir. A situação fiscal da União, estados e municípios é tão ruim que é quase uma fatalidade que se descuide da manutenção de incontáveis bens públicos. Podemos esperar, nos próximos anos, problemas variados não só em museus e outros edifícios como também em estradas, pontes, redes elétricas, barragens etc. Precisaremos de sorte para que não ocorram novas tragédias. E é sempre ruim depender da sorte em vez de contar com a previdência.

Luiz Carlos Azedo: A história à deriva

- Correio Braziliense

“Em pleno processo eleitoral, a identificação das causas reais do incêndio do Museu de nada servirá para evitar o embate político que já se estabeleceu entre governo e oposição”

O Museu Nacional da Quinta da Boa Vista, cujo acervo foi quase completamente destruído por um incêndio na noite de domingo, era o retrato da relação do Brasil com a sua cultura. Entrou na pauta das eleições da pior forma possível: como nova tragédia nacional, que comoveu o mundo da cultura e, principalmente, o povo do Rio de Janeiro. Por causa das linhas de trens e de metrô, era muito visitado por estudantes de todas as idades e pelas famílias de cariocas dos subúrbios da Central do Brasil e da Leopoldina, para os quais era uma janela para o mundo da História Natural e das civilizações antigas.

A existência do museu se deve, em primeiro lugar, à transferência da Corte portuguesa para o Rio de Janeiro, entre 1808 e 1821, com a vinda de Dom João VI e sua família para o Brasil, acompanhado de mais de 10 mil pessoas, entre serviçais, religiosos, militares e a nobreza, fugindo do exército de Napoleão Bonaparte, o imperador francês. O antropólogo e jornalista australiano Patrick Wilcken, no livro Império à deriva, descreve essa mudança de forma magistral, no contexto da política europeia da época. O choque cultural que ela provocou, porém, é narrado com riqueza de detalhes por Laurentino Gomes, no livro 1808.

Laurentino Gomes é autor de uma trilogia que inclui 1822 — Como um homem sábio, uma princesa triste e um escocês louco por dinheiro ajudaram D. Pedro a criar o Brasil – um país que tinha tudo para dar errado, sobre a Independência; e 1889 – Como um imperador cansado, um marechal vaidoso e um professor injustiçado contribuíram para o fim da Monarquia e a Proclamação da República do Brasil, que narra o colapso do regime imperial escravocrata. É dele, “depois de uma noite mal- dormida”, o comentário mais crítico sobre o incêndio na Quinta da Boa Vista:

“Abandonado, desleixado, com um acervo rico, porém esquizofrênico, pouco acolhedor para quem se animassem a visitá-lo, o Museu Nacional era um símbolo do que nos tornamos nos últimos anos: uma caricatura do que gostaríamos de ser e nunca fomos”, criticou. O prédio da Quinta da Boa Vista foi palco de grandes momentos da história do Brasil Imperial. Segundo Laurentino, tinha vocação para Museu Histórico, mas virou Museu de Ciências Naturais. “O acervo era confuso e pouco didático, entregue aos malcuidados de funcionários e curadores burocráticos, sem inspiração e entusiasmo”, critica.

Para o historiador, era um símbolo do toma lá dá cá na política brasileira: o prédio original foi um presente de um grande traficante de escravos a D. João no dia da chegada da Corte portuguesa ao Rio de Janeiro, em 1808. Elias Antônio Lopes era “um dos homens que mais se enriqueceria e ganharia títulos e honrarias nos 13 anos da Corte portuguesa no Brasil.” De fato, a coleção do museu começou como um projeto que se inspirava nas casas reais europeias. D. Pedro II era neto do rei português João VI e de Francisco II, último monarca do Sacro Império Romano-Germânico, sobrinho de Napoleão Bonaparte e primo dos imperadores Francisco José I da Áustria e Maximiliano do México.

Sergio Lamucci: A dificuldade de enfrentar a restrição orçamentária

- Valor Econômico

Teto se tornou bode expiatório da política fiscal

O teto de gastos está cada vez mais na linha de tiro. Não falta nem mesmo quem o aponte como um dos culpados pelo incêndio que destruiu no domingo o Museu Nacional, no Rio de Janeiro, responsabilizando o mecanismo pela falta de recursos para a manutenção das instalações da instituição.

A crítica obviamente não faz sentido. O teto entrou em vigor apenas no ano passado, e o descaso com a situação do museu é um problema de muitos anos - em novembro de 2004, o então secretário estadual de Energia, Indústria Naval e Petróleo do Rio de Janeiro, Wagner Victer, alertou para o risco de incêndio, depois de visitar a instituição. "O museu vai pegar fogo. São fiações expostas, malconservadas, alas com infiltrações, uma situação de total irresponsabilidade com o patrimônio histórico", disse ele, hoje secretário estadual de Educação, em reportagem da Agência Brasil na época.

O episódio mostra como o teto virou uma espécie de bode expiatório para quem reclama da estratégia atual de ajuste das contas públicas. O mecanismo foi concebido para reduzir o ritmo de crescimento das despesas não financeiras do governo federal, que aumentaram mais de 6% ao ano acima da inflação entre 1997 e 2015. Inscrito na Constituição, vale por 20 anos, podendo ser revisto no meio do caminho.

Uma das críticas mais frequentes ao teto é que ele tende a causar uma redução drástica das chamadas despesas discricionárias (aquelas sobre as quais o governo tem maior controle), como investimentos. Outra reclamação é sobre o período excessivamente longo de validade da medida, que impedirá as despesas federais de crescerem acima da inflação por no mínimo uma década, independentemente da situação da atividade econômica.

O risco de que o teto seja descumprido nos próximos anos é elevado, mesmo com a aprovação de iniciativas como uma reforma dura da Previdência, o fim dos aumentos acima da inflação para o salário mínimo a partir de 2020 e a contenção dos reajustes para os servidores públicos. A Instituição Fiscal Independente (IFI) vê espaço para o cumprimento das regras até 2020. Se for rompido, gatilhos são acionados, proibindo aumentos nominais dos salários, aposentadorias e pensões para o funcionalismo, a criação de novos cargos, alteração de carreiras, novas contratações e a realização de concursos, entre outros pontos.

Roberto Freire lamenta a “tragédia do Museu Nacional”

O presidente do PPS, Roberto Freire, divulgou nota pública (veja abaixo), nesta segunda-feira (03), lamentando o incêndio que destruiu o Museu Nacional, no Rio de Janeiro. Para ele, o incêndio é uma “tragédia recorrente” cuja “causa verdadeira foi a incúria, a negligência e o descaso de cuidar com a devida responsabilidade dos bens culturais do País.”

“Nota sobre a tragédia do Museu Nacional
O incêndio desastroso que reduziu a cinzas o Museu Nacional é bem mais que uma tragédia anunciada. É uma tragédia recorrente. Mais um museu brasileiro tragado pelo fogo, mas a causa verdadeira foi a incúria, a negligência e o descaso de cuidar com a devida responsabilidade dos bens culturais do País.

No caso do Museu Nacional, ligado à UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), era uma referência internacional de pesquisas sobre a flora e a fauna brasileira, além de ser um dos mais importantes centros de pesquisas antropológicas, e referência absoluta no campo da entomologia.

Nunca foi tão necessário por na agenda do País uma nova maneira de gestão de seus acervos culturais e bens públicos, construindo uma nova forma de governança com o apoio de empresas privadas e gerência profissional, não apenas para garantir a integridade de seus espaços e conteúdos, artístico ou científico, mas, sobretudo, o acesso a estes bens para esta e as próximas gerações.

Chega de descaso!

Roberto Freire
Presidente do PPS

Tucanos lamentam incêndio que destruiu Museu Nacional, no Rio

Descaso, abandono, negligência, desrespeito com a cultura e a história do país. O Brasil perdeu na noite deste domingo (2) mais de 200 anos de história com o incêndio que atingiu o Museu Nacional, a mais antiga instituição cientifica do país, que guardava em seu acervo mais de 20 milhões de itens, entre eles o crânio de Luzia, o fóssil mais antigo das Américas e tesouro arqueológico nacional. Criado por D. João VI em 1818, o museu ocupa, desde 1892, um prédio histórico, o palácio de São Cristóvão, na Quinta da Boa Vista, zona norte do Rio de Janeiro.

Tucanos de todos os cantos do país lamentaram a tragédia. O presidente nacional do PSDB e candidato à Presidência da República, Geraldo Alckmin, afirmou que o incêndio agride a identidade nacional e entristece todo o país.

“Neste momento de profunda perda, quero me solidarizar não apenas com os cariocas, mas com todos os cidadãos brasileiros. Diante da perda irreparável do maior acervo museológico brasileiro, devemos resgatar o compromisso de zelar permanentemente, com consciência e investimento, pela preservação do patrimônio e da memória do país”, disse.

O fogo começou por volta das 19h30 de ontem depois do fechamento para visitantes. Boa parte da estrutura do prédio era de madeira, e o acervo tinha muito material inflamável. Assim, o fogo se espalhou rapidamente. Segundo a assessoria de imprensa do museu e o Corpo de Bombeiros, não houve feridos.

Em seu perfil no Facebook, o deputado federal Otavio Leite (PSDB-RJ) definiu o incidente como uma “tragédia cultural” e defendeu melhores condições para as instituições históricas que carregam a cultura do país.

“Uma manhã muito triste. Nossos museus, em grande parte, vivem muito precárias situações por ausência de recursos. Lá se vão 200 anos de história. Fico imaginando o que vai ser possível fazer para soerguê-lo. É uma tristeza muito grande. Queria compartilhar esse sentimento de frustração geral porque, no fundo, é um patrimônio de todos os brasileiros e das futuras gerações”, afirmou.

A candidata tucana ao Senado pelo Rio de Janeiro, Aspásia Camargo, destacou que a tragédia é “irreparável” e foi causada pela negligência dos governantes, a “irresponsabilidade política”.
“Perdemos história, arqueologia, cultura. Perdemos o museu histórico mais importante do Brasil, justamente na comemoração de seus 200 anos. Não há razão que explique não haver um sistema anti-incêndio, como em qualquer museu do mundo”, declarou.

Candidato ao governo de Minas Gerais, o senador Antonio Anastasia (PSDB) também lamentou o ocorrido. Na avaliação do tucano, a cultura e a história brasileira precisam ser mais valorizadas por todas as esferas do poder público.

Museu de cinzas: Editorial | Folha de S. Paulo

Incêndio na Quinta da Boa Vista aniquila parcela importante da memória nacional

Não será de todo arbitrário tomar o incêndio que destruiu o Museu Nacional como uma metáfora da situação em que se acha o país. Instituições e serviços do Estado passam por grave crise, na penúria criada pela deterioração orçamentária em todos os níveis de governo.

Só por má-fé ou autoengano, contudo, alguém tentará lançar a tragédia da Quinta da Boa Vista na conta de uma única administração. O descaso com o principal museu da história e da pré-história brasileiras se cultiva há anos, se não há décadas, ou por gerações inteiras.

A devastação emerge como um símbolo consternador, ainda, por ter lugar no Rio, a capital imperial e depois republicana que mergulhou em colapso econômico e político pouco depois de sediar eventos mundiais e inaugurar um vistoso Museu do Amanhã.

O passado mais uma vez se impôs, com força exterminadora.

A um só tempo arderam o palácio bicentenário, adotado como moradia por dom João 6º (e em que se assinou a independência do Brasil) e, tudo indica, a quase totalidade de um acervo ímpar.

Tragédia do Museu reflete má política de gastos: Editorial | O Globo

Corporações controlam maior parte do Orçamento, e a isso se soma o desprezo com a Cultura em geral

Não é um desastre qualquer a destruição pelo fogo do Museu Nacional, no Rio, instituição de 200 anos, abrigo de um acervo de 20 milhões de peças, recolhidas a começar pela própria família real, que teve no prédio incendiado a sua residência oficial.

A dimensão da catástrofe é ampla: atinge a memória nacional, devido à perda de importante acervo histórico; afeta a área científica, por interromper pesquisas, e representa um prejuízo cultural impossível de ser quantificado. Sabe-se apenas que é enorme. A impossibilidade de a população em geral e, em particular, estudantes e pesquisadores, terem acesso no país a registros da história da nação e da própria Humanidade é um empobrecimento sério no campo da cultura.

Por mais óbvio que seja, deve-se enfatizar a necessidade de governos, de políticos e da própria sociedade aprenderem com a tragédia. Mais uma neste setor. A coincidência da campanha eleitoral dá oportunidade de o assunto ser discutido, embora também possa ser utilizada para manipulações típicas de candidatos em busca de votos.

A reclamação da falta de recursos para museus e outras instituições públicas da área cultural é conhecida. E justificada. Mas não se trata de uma particularidade deste segmento do Estado, pois o país enfrenta grave crise fiscal. É bastante provável que o incêndio sirva de argumento a candidatos para pregar o fim do teto dos gastos públicos, tema da campanha.

Mas, sem o combate aos déficits, recursos ficarão ainda mais escassos, por força da volta da inflação e da queda na coleta de impostos provocada pela inexorável recessão, causada pelo retorno à irresponsabilidade fiscal desvairada. No campo do aprendizado, ainda está viva a lição da crise aguda de 2015/16, cuja origem foi esta.

Vergonha: Editorial | O Estado de S. Paulo

A tragédia do Museu Nacional revela que o corte de gastos precisa respeitar prioridades

O incêndio ocorrido no Museu Nacional, no Rio de Janeiro, na noite de domingo passado, suscitou na maioria dos brasileiros uma profunda vergonha. É ultrajante o descaso do poder público com o patrimônio histórico, cultural e científico do País. A tragédia resultante joga luzes sobre uma série de graves problemas envolvendo a administração dos recursos públicos voltados para a educação e cultura. É inadmissível o que ocorreu no Museu Nacional.

Fundado em 1818 por d. João VI, o museu é a mais antiga instituição científica do País, com um acervo de 20 milhões de itens relativos às áreas da arqueologia, etnologia e geologia, além de coleções da antiguidade, trazidas ao Brasil no século 19. O ministro da Cultura, Sérgio Sá Leitão, qualificou o incêndio de “tragédia incomensurável”. Segundo Luiz Fernando Dias Duarte, vice-diretor do museu, “é como se queimassem o Louvre ou Museu de História Natural de Londres”. Ainda não há informações precisas do que foi destruído ao longo das seis horas de incêndio, mas as perdas, obviamente, são irrecuperáveis.

O mais grave na tragédia do Museu Nacional é que o incêndio não foi uma surpresa. “O museu estava jogado, apodrecendo, incluindo a parte elétrica”, disse Walter Neves, professor da Universidade de São Paulo (USP). Em junho deste ano, quando a instituição completou 200 anos, reportagem do Estado mostrou a existência de goteiras, infiltrações e problemas das instalações elétricas.

A lamentável situação do Museu Nacional é resultado de uma série de distorções nas políticas públicas voltadas para educação e cultura. O Museu Nacional está vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e seu orçamento caiu, entre 2013 e 2018, de R$ 500 mil para menos de R$ 100 mil. Como se sabe, nos últimos 15 anos, houve uma multiplicação de despesas do Ministério da Educação, com a criação de inúmeras instituições de ensino superior em todo o País, sem um mínimo de critério acadêmico e administrativo. Uma vez que os recursos públicos não são infinitos, a criação de despesas produziu inexorável impacto sobre a manutenção de outros equipamentos públicos. Os museus, principalmente, foram atingidos por essa forma suicida de administrar.

Retratos terríveis saem das avaliações da educação: Editorial | Valor Econômico

A educação segue claudicante no Brasil, com reflexos inevitáveis na desigualdade social e na competitividade da economia. Os resultados do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb) de 2017, divulgados na semana passada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), anteciparam o que o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) confirmou ontem: o desempenho preocupante dos estudantes do ensino médio, apesar da ligeira melhora nos anos iniciais do fundamental. Se for considerado apenas o desempenho dos estudantes das escolas públicas, a conclusão é ainda pior. Os números revelam que o ensino médio está praticamente estagnado desde 2009, um "desastre", nas palavras do ministro da Educação, Rossieli Soares.

De acordo com o Inep, 70,6% dos estudantes do ensino médio apresentaram aprendizagem "insuficiente" em língua portuguesa e 71,67% em matemática. No caso do português, isso significa que não conseguem localizar informações explícitas em reportagens, crônicas e artigos ou reconhecer a relação de causa e consequência em piadas e trechos de romance. A insuficiência na matemática fica evidente na incapacidade para realizar contas de multiplicação. Somente 1,62% dos estudantes atingiram nível "adequado" em língua portuguesa, e 4,52% em matemática.

No ensino fundamental, os melhores resultados foram obtidos nos primeiros anos. No quinto ano, os estudantes obtiveram nível 4 de proficiência média, em uma escala que vai até nove no caso da língua portuguesa e até dez no de matemática. Nos anos finais os avanços são menores. No nono ano, os estudantes obtiveram nível três nas duas áreas, considerado insuficiente pelo próprio Ministério da Educação. Quando se excluem as escolas privadas, há uma piora: o desempenho de português cai 1,22 ponto, e o de matemática, 0,4 (Valor 31/8).

João Cabral de Melo Neto: A mulher sentada

Mulher. Mulher e pombos.
Mulher entre sonhos.
Nuvens nos seus olhos?
Nuvens sob seus cabelos.

(A visita espera na sala;
a notícia, no telefone;
a morte cresce na hora;
a primavera, além da janela).

Mulher sentada. Tranquila
na sala, como se voasse.