terça-feira, 9 de outubro de 2018

Opinião do dia: Roberto Freire

"Posso lhe adiantar que, pelo Brasil democrático, defendo que o PPS não apoie nenhum dos dois contendores nesse segundo turno. E se posicione desde logo como oposição responsável respeitando a Constituição de 88 e lutando pelas reformas, seja qual for o presidente eleito",


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Roberto Freire é presidente nacional do PPS, em sua página no Twitter

*Bruno P. W. Reis: Abertura ao compromisso, por cada um de nós

- O Estado de S.Paulo

Nada ganhamos com a intolerância mútua. Estamos condenados a viver juntos neste país

Depois de termos vivido, desde 1994, as duas décadas mais estáveis e construtivas de nossa História, nos últimos cinco anos o Brasil tem vivido ao sabor de uma tempestade produzida pela confluência de cinco fatores: 1) um desenho institucional falho quanto ao financiamento das campanhas eleitorais; 2) um governo inepto quanto à política econômica; 3) órgãos de controle cada vez mais autônomos, no entanto imunes a controles eficazes; 4) um Judiciário com dificuldades crescentes de coordenação interna, sobretudo em sua Corte Suprema; e 5) um jornalismo incapaz de esboçar algum diagnóstico, propenso antes a tocar fogo no circo e a desestabilizar o sistema pela reverberação acrítica de qualquer denúncia.

No turbilhão de eventos que decorreu, uma das raras rotinas a, felizmente, resistirem é o calendário eleitoral. Assim, quatro anos depois da traumática reeleição de Dilma Rousseff, eis que voltamos ao reinício do jogo. Aqui não cabe um balanço detalhado desses anos, mas uma lição deve ser apontada, antes que seja tarde: um sistema político sob a vigência do Estado Democrático de Direito não se presta a “depurações”. Quando atores são ejetados, os que os substituem terão necessariamente chegado ali pelos mesmos procedimentos que haviam promovido os seus antecessores.

Não nos iludamos, o único atalho é a violência. Os golpes, as listas de inimigos públicos, os linchamentos – ou então, mais frequentemente, o assédio plebiscitário às instituições com vista à sua desconstrução, ilustrado agora pelo caso da Venezuela. Mas dois minutos de reflexão bastam para concluir que tais processos não podem diminuir a corrupção. Ao contrário, sob ameaça de violência o ambiente torna-se mais viciado e brutal, pois os atores se percebem em perigo e procuram se defender e atingir seus adversários, agora percebidos como inimigos.

O combate à corrupção só existe sob a democracia e o Estado de Direito. Sob a tirania, os amigos do tirano mandam, e o problema que se impõe é a vida ou morte de amigos e inimigos do regime, urgente demais para preocupações com a lisura dos procedimentos. Já sob a democracia, se todos passamos a ser iguais perante a lei, particularismos e privilégios até ali normais passam a ser vistos como corruptos.

José Casado: Onda conservadora muda o mapa político

- O Globo

Afluência do conservadorismo ocorreu em dimensão imprevista nas pesquisas e inesperada para para todos

Uma onda conservadora avançou sobre as urnas no primeiro turno, mudou o mapa político nacional e impôs a vitória expressiva de Jair Bolsonaro sobre Fernando Haddad, o "advogado de Lula" como ele faz questão de se apresentar nos palanques. Bolsonaro ganhou com 17 pontos de vantagem sobre o adversário.

Essa afluência do conservadorismo ocorreu em dimensão imprevista nas pesquisas e inesperada para para todos. É novidade relevante num país onde até pouco tempo atrás parecia ser mais fácil acertar na loteria do que encontrar um político que assumisse pertencer às legiões da "direita".

Desde a noite de ontem, pode-se dizer que o Brasil está alinhado ao fenômeno do conservadorismo que se espraia pelo mundo. É uma reação contundente ao avanço do debate de questões sociais relevantes, como os direitos das minorias.

Pelo avesso, Bolsonaro (PSL) conseguiu cristalizar na campanha presidencial o debate sobre a desigualdade de gênero no país. A resistência feminina encheu as ruas, em manifestações que partidos da esquerda tentaram manipular, sem êxito.

Uma peculiaridade brasileira é o fato de que essa súbita afluência de ideais conservadores ocorre na esteira de década e meia de crispação política, protagonizada pelo PT e partidos satélites.

Da prisão em Curitiba, Lula reafirmou sua força no partido e no segundo maior colégio eleitoral, o Nordeste, conduzindo o seu "advogado" ao segundo turno. No entanto, acabou derrotado pelo maior cabo eleitoral dessa primeira rodada - o antipetismo.

A direita emergente impulsionou Bolsonaro, um ex-militar afastado dos quartéis por indisciplina, explícito na nostalgia de um governo autoritário. Também, alavancou candidatos regionais que, embora de formação liberal, com ele estiveram identificados ou se associaram na campanha, como ocorreu no Rio (Wilson Witzel, do PSC), em São Paulo (João Doria, do PSDB) e em Minas Gerais (Rodrigo Zema, do Partido Novo).

O resultado da disputa presidencial deu relevo ao tamanho da liquefação da legitimidade do sistema político. Ela se tornou visível nas manifestações de rua em 2013 e foi acelerada com a exposição dos envolvidos em corrupção nos contratos públicos nos inquéritos da Operação Lava-Jato.

Dela resultou uma anomalia: na final da disputa pela Presidência da República estarão os dois candidatos mais desprezados pela maioria nas pesquisas realizadas durante toda a campanha. Exemplo: no sábado, véspera da votação, quatro em cada dez eleitores diziam ao Datafolha e ao Ibope que não votariam neles "de jeito nenhum". Bolsonaro e Haddad continuam se apresentando como "solução", sem perceber que são sinônimos eleitorais de uma grave crise de representatividade.

Reverter essa rejeição seria o desafio de ambos nos próximos 21 dias. Sem isso, o futuro presidente se arrisca a sair das urnas no domingo 28 de outubro como refém de uma inédita antipatia eleitoral.

Bolsonaro insiste em se manter enclausurado no antipetismo. Para Haddad, confinado aos limites do PT, sobrou a retórica da união contra o "facismo".

Entre ambos, restam forças de centro absolutamente fracionadas, como é o caso do PSDB de Alckmin e da Rede de Marina Silva, ou agrupamentos partidários tradicionais como o PMDB, DEM e PTB, cujo foco habitualmente está na partilha do orçamento federal.

Qualquer que seja o resultado do segundo turno, logo depois da celebração o vencedor vai descobrir que ganhou o governo, mas não o poder. Nem a direita emergente à volta de Bolsonaro, nem a esquerda dogmática em torno Haddad têm maioria na Câmara e no Senado. Ambos não demonstraram competência em construí-la durante a campanha.

O eleito será obrigado a negociar com um Congresso fragmentado, habitualmente desgastado e empenhado num virtual semi-presidencialismo. Com todas as fragilidades, no último quarto de século esse mesmo Legislativo derrubou dois presidentes eleitos pelo voto direto. Em comum, eles tinham o vício da arrogância, eram devotos do isolamento político e amargavam alta rejeição nas ruas.

Marco Aurélio Nogueira: O vendaval conservador

- O Estado de S. Paulo

A pregação bolsonariana soube explorar e manipular as vertentes que agitaram os rios subterrâneos da sociedade, extraindo disso o efeito político-eleitoral de que necessitava

A constatação já foi feita por todos os observadores. Resta agora buscar as razões.

Independente do que acontecer no segundo turno, o Brasil infletiu para a direita nas eleições de 2018. Não necessariamente para a extrema-direita, mas seguramente para um polo hostil à esquerda.

Foi um vendaval, que varreu o País de cima a baixo e empurrou o PT para seu nicho mais tradicional, o Nordeste, onde se manteve firme e forte, mas numa dimensão incômoda para um partido que se quer de esquerda. O eleitor petista da região não é ideológico, não é de esquerda nem tipicamente “democrático e racional”: orienta-se pelos hábitos do coração, pelo agradecimento. Lula é seu farol, não o PT. O resto do apoio vem por força da ação dos políticos tradicionais, dos grandes caciques e das famílias poderosas, com suas coligações.

Bolsonaro foi impulsionado por um tipo de conservadorismo curioso: parte de seus votos veio de pessoas interessadas em “mudar o que está aí”. Houve votos ideológicos, de extrema-direita, fanatizados, evidentemente, mas não há como saber em que proporção. Não foram votos “fascistas”. Parcela da votação obtida foi composta por pessoas que optaram por viver o paradoxo de mudar para experimentar uma conservação. O antipetismo foi o ingrediente que “racionalizou” o veto a práticas governamentais tidas como avessas ao bom governo, a repulsa ao descaso dos políticos e dos partidos.

Eliane Cantanhêde: ‘Fica, Temer!’

- O Estado de S.Paulo

Na eleição, democracia versus autoritarismo. Depois, todos são populistas e gastadores

A melhor sacada do fim do primeiro turno foi o “Fica, Temer!”, que viralizou na internet, foi um dos assuntos mais comentados do Twitter mundial e resume bem a sensação no Brasil de 2018: “Se correr, o bicho pega; se ficar, o bicho come”.

Num segundo turno totalmente atípico, como em tudo nesta campanha tão cheia de surpresas, haverá menos festa e mais irritação, menos apoio e mais crítica do que jamais se viu. E o medo do autoritarismo estará pairando no ar, soprado pelos ataques mútuos das campanhas.

Já nas primeiras horas após o primeiro turno, o petista Fernando Haddad conclamava “os democratas” a aderirem à sua candidatura. A insinuação é clara: ele é o lado da democracia, o outro é o do obscurantismo. Com 4 milhões de votos para o Senado, Flávio Bolsonaro, filho de Jair Bolsonaro, reagiu dizendo que “o lado das trevas” – o PT – não terá governabilidade.

Essa guerra para carimbar o outro de mais autoritário, perigoso, obscurantista e antidemocrático é estimulada por uma outra peculiaridade da eleição: os altíssimos índices de rejeição dos dois candidatos do segundo turno, mais de 40%. Mas há também dados concretos para o discurso do medo.

Bolsonaro, capitão reformado do Exército, tem uma visão de mundo, e de direitos humanos, muito particular. E seu vice, um general que passou há pouco para a reserva, tem ideias exóticas. Já defendeu intervenção militar, condenou a “indolência dos índios” e a “malandragem dos negros” e está orgulhoso do “branqueamento” do neto. Hitler sorriu no túmulo.

Merval Pereira: Narrativa renovada

- O Globo

Eleitorado tirou caciques da vida pública, velhas lideranças e seus filhos não foram reeleitos, a despeito do poder econômico

Entre mortos e feridos, poucos se salvaram, mas entre estes o PT, paradoxalmente, é um dos que resistiram à onda bolsonarista, apesar de derrotas emblemáticas em todo o país e de ter sido confinado ao Nordeste, e mesmo assim não nas capitais e grandes cidades. Além de ter elegido a maior bancada da nova Câmara, reelegeu no primeiro turno os governadores da Bahia, do Ceará e do Piauí. E governadores aliados no Norte e Nordeste como Renan Filho, do MDB de Alagoas; Flávio Dino, do PCdoB no Maranhão; João Azevedo, do PSB na Paraíba; e Paulo Câmara, do PSB em Pernambuco. E está no segundo turno da eleição presidencial pelo quinta vez seguida, embora pela primeira vez em posição de desvantagem.

A bancada petista no Senado caiu de nove para seis, mas, exceto o MDB, com 12 senadores (tinha 18 antes), nenhum outro partido terá mais representantes. O PT já tem papel de destaque caso Bolsonaro confirme sua vitória no segundo turno: liderará a oposição.

Seu oposto tradicional, o PSDB, sai das urnas ferido de morte. Por sua tibieza, foi engolido pela onda conservadora que varreu o país, fez apenas a nona bancada da Câmara, quando era a terceira, mas pode ter um fôlego se eleger os governadores de São Paulo, Rio Grande do Sul e Minas.

Os que se surpreenderam com o resultado das urnas não levaram em conta que o sucesso de Bolsonaro é produto de três coisas: deu voz a uma onda conservadora nos costumes; fala claramente em combate mais feroz a bandidos, fortalecendo a atuação das polícias e mexendo na legislação; e, finalmente, o desmonte dos partidos tradicionais.

A onda de antipetismo que se formou no país tem papel complementar às duas primeiras, pois o PT está sendo associado pela maioria dos brasileiros com o que seria um abandono dos valores tradicionais e a leniência com os bandidos em nome dos direitos humanos.

Sérgio Abranches: Momento de risco

- O Globo

Polarização social pode gerar desordem e violência. Só os dois candidatos a presidente têm poder para conter seus seguidores

O Brasil vive um momento político sem precedentes e de muito risco. O eixo que organizou a vida político-partidária no últimos 24 anos, desde a eleição de FHC, em 1994, rompeu-se. O presidencialismo de coalizão, neste período, foi marcado pela disputa presidencial polarizada entre PSDB e PT. Ela organizava e articulava governo e oposição. Este duopólio partidário nunca foi ameaçado nas últimas seis eleições. Sem poder competir pela Presidência, os outros partidos miravam a coalizão. Buscavam fazer a maior bancada possível para compartilhar o poder pela via do apoio parlamentar ao presidente eleito. Nenhum presidente conseguiu eleger a maioria no Congresso com seu partido. 

Dificilmente algum presidente conseguirá. Ao mirarem a coalizão, estes partidos parlamentares, principalmente o PMDB/MDB, passaram a organizar o jogo parlamentar orientando-o para a formação de coalizões majoritárias, independentemente do partido vencedor da disputa presidencial. Este sistema começou a naufragar com a revelação de um processo de corrupção político-empresarial abrangente, que atingiu as principais lideranças, tanto dos partidos presidenciais, PT e PSDB, quanto da maioria dos partidos parlamentares. Processo que o PSDB e o PT negaram ou não quiseram ver.

Diante da incapacidade dos dois partidos organizadores da vida política do país de dar respostas à indignação da sociedade com a corrupção e a perda progressiva, porém rápida, da qualidade das políticas públicas, prenunciava-se um realinhamento partidário, que começou nesta eleição presidencial. O PSDB, cujas bases sempre foram menos sólidas que as do PT, elegeu uma bancada anêmica para o Congresso. O PT perdeu 12 deputados. Deixou de eleger senadores importantes e ficou confinado ao Nordeste. Manteve-se como a primeira bancada na Câmara, e isso lhe permitirá estruturar a oposição, se perder o segundo turno, ou liderar uma coalizão, se ganhar, mas como muito menos força.

Bernardo Mello Franco: O sistema político morreu. E agora?

- O Globo

O furacão eleitoral desmanchou o sistema político de 1988. ‘Estamos virando uma página’, diz o ex-presidente Fernando Henrique, que prevê ‘tempos de agitação’ pela frente

Nada será como antes. O furacão eleitoral levou o telhado e as paredes da casa que abrigava a política brasileira há três décadas. “O sistema partidário que nós conhecíamos morreu no aniversário de 30 anos da Constituição”, resume o cientista político Jairo Nicolau. Ele é um dos estudiosos que tentam entender as mudanças decretadas pela urna.

O eleitor resolveu apressar a morte do doente. Despejou o presidente do Senado, desempregou o líder de todos os governos e humilhou oligarquias que não desgrudavam do poder, como o clã Sarney. No Rio, deu uma surra nos filhos de Sérgio Cabral, Eduardo Cunha, Jorge Picciani e Roberto Jefferson. Um ex-juiz desconhecido até a semana passada virou favorito para conquistar o governo do estado.

Ao mesmo tempo, a eleição premiou o ultraconservadorismo, o discurso truculento e o fundamentalismo religioso. A bancada da bala engordou e promete ficar mais estridente. No Rio, o campeão de votos para a Câmara foi um subtenente do Exército que tomou emprestado o sobrenome Bolsonaro. Há dois anos, ele tentou se eleger vereador em Nova Iguaçu. Teve míseros 480 votos. Agora recebeu mais de 345 mil na garupa do capitão.

Míriam Leitão: A democracia no centro do debate

- O Globo

Bolsonaro disse que será ‘escravo da Constituição’ e Haddad descartou nova Constituinte. É um alívio que este seja o primeiro ponto do 2º turno

A democracia foi o centro da conversa neste começo de segundo turno. Em entrevistas, Fernando Haddad, do PT, e Jair Bolsonaro, do PSL, falaram sobre o tema. No Jornal Nacional, Haddad disse que mudou a posição do programa que propunha nova Constituinte e rechaçou declarações de José Dirceu. Jair Bolsonaro desautorizou a defesa de uma nova Constituição escrita por notáveis, que foi defendida pelo candidato a vice, Hamilton Mourão, e disse que nem entendeu o que ele quis dizer com a expressão “autogolpe”.

É um alívio que este seja o primeiro ponto desta nova caminhada. O fundamental para o Brasil é a preservação da democracia. José Dirceu falou em “tomar o poder” e disse que isso é “diferente de ganhar eleições”. Haddad afirmou que ele não trabalha na campanha, não estará em seu governo e não concorda com ele. Mourão, na entrevista à Globonews, falara da possibilidade de um presidente dar um golpe. Bolsonaro garantiu que será escravo da Constituição, disse que o general foi infeliz e que jamais autorizaria tal medida.

Com isso posto, o país discutirá nos próximos dias o programa de cada um. Na economia, a tarefa do próximo governo será tocar uma agenda de ajuste fiscal. Ela será rigorosa e tem emergências. Quem ganhar as eleições atrairá como um imã os parlamentares dos mais variados partidos, principalmente os que aderem a qualquer governo que se eleja. A questão é: para aprovar o quê? Os inúmeros políticos que hoje correm para Jair Bolsonaro, ou que foram eleitos graças à sua força, não têm relação com a agenda liberal do economista Paulo Guedes. O PT só tem chance de vencer se fizer movimentos em direção ao centro, mas terá uma base parlamentar resistente aos ajustes, mesmo se passar a defendê-los.

Joel Pinheiro da Fonseca: Candidatos, venham a nós

- Folha de S. Paulo

O eleitor sem voto é quem vai decidir essa eleição polarizada e cheia de ressentimentos

Dois movimentos claros foram observados nas urnas neste domingo (7). O primeiro é o movimento antissistema: muitos nomes ligados à política tradicional e que esperavam se eleger foram abandonados pelo eleitor. O segundo é a guinada, fora do Nordeste, para a direita.

No Sul e no Sudeste (fora o ES), quem é visto como sendo de fora da política, combateu o PT e se alinhou a Bolsonaro se deu bem. O centro está bem pequenininho na eleição presidencial. E, mesmo assim, é para ele que Haddad e Bolsonaro terão que correr para garantir a vitória. Bolsonaro larga na frente: com mais de 46% dos votos válidos, ele precisa de apenas uma pequena parcela dos votos que não foram para ele no primeiro turno.

Para isso, deve mostrar que sua candidatura não é o fantasma ultrarreacionário e militarista que seus adversários pintam. E que, para além das declarações polêmicas, existe algum tipo de visão coerente para o Brasil. Não faltará tempo de TV, sabatinas e debates para avaliar seu conteúdo.

Chega do silêncio imposto ao general Hamilton Mourão e a Paulo Guedes: o Brasil precisa saber o que Bolsonaro tem a dizer, se é que tem algo.

Para Haddad, a corrida ao centro é mais longa. Sua vitória dependerá não apenas de ganhar a imensa maioria dos votos que não foram para Bolsonaro; ele terá que converter alguns eleitores do capitão para o seu lado. Não será fácil, mas talvez ele consiga algo no eleitorado nordestino. Apoiadores de Bolsonaro que demonstrem preconceito contra o Nordeste serão seus aliados involuntários nessa missão.

Hélio Schwartsman: Segundo turno é outra eleição?

- Folha de S. Paulo

Com onda direitista que impulsionou Bolsonaro, vai ser difícil para Haddad reverter o quadro

Segundo turno é outra eleição, assevera o lugar-comum. O lugar-comum está errado. O segundo turno é sempre a continuação do primeiro, e a onda direitista que impulsionou Jair Bolsonaro nos últimos dias da disputa o colocou tão perto de uma vitória antecipada que vai ser muito difícil para Fernando Haddad (PT) reverter a situação.

Com efeito, faltaram a Bolsonaro apenas quatro pontos percentuais para sagrar-se presidente. Improvável que ele, só por gravidade, não atraia mais do que isso entre os cerca de 25 pontos que foram distribuídos a outros candidatos.

Para triunfar, Haddad teria ou de trazer para o seu campo mais de 84% dos eleitores que ficaram órfãos ou conseguir desconstruir a imagem do rival, fazendo com que ele perca apoiadores. Não chega a ser impossível (e já vimos muita coisa estranha acontecer neste pleito), mas o petista tem diante de si uma tarefa monumental.

E, se a onda direitista permitiu que Bolsonaro surfasse na disputa presidencial, ela teve o efeito de um tsunami sobre o sistema partidário, que se fragmentou ainda mais. O número de legendas com representação na Câmara passou dos já elevados 25 para incríveis 30. A sigla com maior número de deputados tem pouco mais de 10% da Casa. No Senado o movimento foi semelhante. As legendas passaram de 16 para 21.

Bruno Boghossian: Abalos secundários

- Folha de S. Paulo

Com caciques fracos, votação de projetos pode ter negociação custosa no varejo

O terremoto que derrubou velhos políticos e provocou uma redistribuição de forças no Congresso no domingo ainda deve produzir abalos secundários. O poder de caciques, líderes e partidos ficou abalado. A lógica das futuras campanhas eleitorais e da composição de governos será posta à prova.

A estrutura das siglas, a hierarquia e a disciplina se tornaram acessórios nessa disputa. Jair Bolsonaro (PSL) se lançou à Presidência por uma legenda nanica e conseguiu 49 milhões de votos. Em muitos estados, candidatos esnobaram orientações de dirigentes e fizeram campanha com rivais de seus próprios partidos.

Deputados e senadores alinhados com os ideais de uma sigla sempre foram exceções. Ainda assim, as legendas conseguiam garantir a fidelidade de seus quadros com a distribuição de algumas recompensas, como cargos em governos e na estrutura partidária, além do financiamento de suas eleições.

Ricardo Noblat: A conversão de Bolsonaro à democracia

- Blog do Noblat | Veja

O que a barbárie produz

Jair Bolsonaro (PSL) prometeu respeitar a Constituição caso se eleja presidente da República. Fernando Haddad (PT), também.

O vice de Bolsonaro, o general Hamilton Mourão, disse que uma nova Constituição poderia ser escrita por um grupo de sábios.

Consta do programa de governo do PT a convocação de uma Assembleia Constituinte para a redação de uma nova Constituição.

Bolsonaro desautorizou Mourão. “Ele é general, eu sou o capitão, mas eu sou o presidente”, afirmou. O capitão bateu duro no general.

Haddad anunciou que o PT desistiu da ideia de reformar a Constituição por meio de uma assembleia. O Congresso será o único meio.

Vez por outra o PT vê-se tentado a conspirar contra a democracia tal qual a conhecemos, mas nunca de fato cedeu à tentação. Sempre segurou seus radicais.

Bolsonaro conspira contra a democracia desde que trocou a farda de capitão pelo terno de deputado Seu vice a paisano parece uma dama se comparado a ele.

Não basta a Bolsonaro dar por não dito o que sempre disse. Seu discurso belicoso despertou os instintos primitivos de muita gente que votou nele e que votará.

Se quer que se acredite em sua conversão recente à democracia poderia começar ensinando aos seus que não se trata adversários como inimigos fossem.

Sequer a campanha eleitoral foi reiniciada e já se multiplicam os episódios de agressões de partidários de Bolsonaro aos que não pensam como eles.

Barbárie só produz barbárie.

Luiz Carlos Azedo: Oposição antecipada

- Correio Braziliense

“Hoje, com a volta dos parlamentares a Brasília, o Congresso deve fervilhar em razão do resultado das eleições proporcionais. Será um grande encontro de derrotados”

Derrotados nas urnas, os candidatos Geraldo Alckmin (PSDB) e Marina Silva (Rede) derivam para a oposição antecipada aos dois candidatos que vão disputar o segundo turno das eleições, Jair Bolsonaro (PSL), que obteve 46,3% dos votos, e Fernando Haddad (PT), com 29,8% dos votos. Como outras lideranças do chamado “centro democrático”, entre as quais o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, não pretendem apoiar nenhum dos dois candidatos, com o argumento de que ambos não têm claros compromissos democráticos, nem apoiar o governo a ser formado por eles, seja quem quer que ganhe. É uma espécie de “oposição, já!”.

A mesma posição está sendo discutida no PPS, partido que sofreu duas derrotas importantes: o senador Cristovam Buarque (DF) não conseguiu se reeleger; Roberto Freire (SP), presidente da legenda, também foi surpreendido pelo tsunami eleitoral que afastou do Congresso muitas lideranças políticas de prestígio. “Posso lhe adiantar que, pelo Brasil democrático, defendo que o PPS não apoie nenhum dos dois contendores nesse segundo turno. E se posicione desde logo como oposição responsável respeitando a Constituição de 88 e lutando pelas reformas, seja qual for o presidente eleito”, anunciou Freire no Twitter.

Bolsonaro, líder da disputa, ontem anunciou que não fará concessões para vencer as eleições. Em entrevista à rádio Jovem Pan, disse que não pode “virar o Jairzinho paz e amor” e se “violentar”, mas falou em pacificar o país e insistiu na plataforma política focada no binômio: mais segurança, menos corrupção. Em entrevista à TV Globo, negou a intenção de modificar a Constituição, proposta do general Hamilton Mourão, seu vice: “Sou capitão, mas quem manda sou eu, serei o presidente”. Bolsonaro se beneficia da onda gerada a seu favor no primeiro turno, que provocou grandes viradas em alguns estados importantes, nos quais seus candidatos obtiveram grande votações em eleições majoritárias e proporcionais.

O candidato do PT, Fernando Haddad, ontem esteve mais uma vez em Curitiba, para conversar com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, como fez em todas as semanas de campanha. Também em entrevista à TV Globo, anunciou que havia reformulado seu programa e que não mais pretende convocar uma Constituinte. Disse que fará emendas constitucionais via Congresso para fazer a reforma tributária e acabar com o teto de gastos. Adiantou que está procurando entendimentos com o PDT, de Ciro Gomes, e com o PSB, o grande aliado nos estados do Nordeste, onde Haddad venceu as eleições. Nos bastidores da campanha, a grande mudança foi a entrada do senador eleito Jaques Wagner, ex-governador da Bahia, no estado-maior petista, para cuidar dos entendimentos políticos. O governador baiano Rui Costa, reeleito com grande votação, anunciou que pretende ampliar ao máximo as alianças de Haddad para o segundo turno.

Fernando Exman: O Congresso na mira do futuro presidente

Valor Econômico

Mudanças constitucionais são desafios para 2019

Mal foram contabilizados butins, espólios, mortos e feridos do primeiro turno das eleições gerais, Jair Bolsonaro e Fernando Haddad já começaram a colocar em prática novos movimentos táticos para atrair os eleitores. O segundo turno será só no dia 28 e até lá há tempo suficiente para a calibragem dos discursos. Contudo, o que se viu até agora foi a radicalização de posturas, lados opostos de uma mesma visão maniqueísta da realidade que em nada contribuem para a pacificação do país. Ambos não têm amplas coligações. Ou seja, quem for eleito terá como desafio imediato a construção de uma base governista sólida e estável, em um Congresso ainda mais fragmentado.

A partir de fevereiro do ano que vem, quando tomarão posse os novos parlamentares, não haverá apenas uma renovação de rostos no Parlamento. Afinal, 243 dos 513 integrantes da Câmara dos Deputados serão calouros e no Senado ocorre a maior renovação de sua história, segundo registros da própria instituição. Das 54 cadeiras em disputa neste ano, 46 serão ocupadas por novos nomes. Em ambas as Casas também haverá mais partidos presentes.

A partir do ano que vem serão 21 no Senado, enquanto em 2015 eram 15. Na Câmara dos Deputados, serão 30 partidos representados no ano que vem, ante 28.

Esses são fatores que influenciarão a formatação de um novo padrão de relacionamento entre o Executivo e o Legislativo. Mas, o que mais deve contribuir para essa mudança deve ser a postura do próximo chefe de governo. Bolsonaro e Haddad prometem construir novos padrões de diálogo, cada um à sua maneira, fórmula que pode até atender em parte à demanda da sociedade por mudanças na forma de fazer política. Mas que tende a sofrer resistências dos partidos, cenário perfeito para a gestação de crises e turbulências.

Uma vitória no primeiro turno daria ainda mais força para Bolsonaro colocar seu plano em ação. O capitão da reserva já anunciou que, caso eleito, reduzirá o número de ministérios para 15 e isolará o processo de nomeação para esses cargos de influências partidárias. Sua ideia, dizem interlocutores do candidato, é preencher esses postos com nomes técnicos que "irão surpreender positivamente" quem imagina que seu governo será formado apenas por desconhecidos do grande público ou militares da ativa e da reserva.

A vitória do cansaço: Editorial | O Estado de S. Paulo

As eleições de domingo passado representaram um duro revés para partidos e políticos tradicionais, transformando um deputado do baixo clero, filiado apenas recentemente a uma legenda inexpressiva, no principal eleitor do País. O candidato a presidente Jair Bolsonaro e seu partido, o PSL, são os maiores beneficiários de um movimento desorganizado e espontâneo que ansiava por alguém disposto a liderá-lo em seu desejo de castigar o lulopetismo e sanear o País, visto por esses brasileiros como visceralmente corrompido na política e nos costumes. Se há hoje um partido com ampla penetração nacional, em quase todos os estratos sociais, econômicos e regionais, é o partido da revolta contra a desfaçatez dos que há tempos se assenhorearam do Estado, aparelhando-o politicamente e arrancando-lhe privilégios. Bolsonaro e o PSL deram a face institucional a esses brasileiros.

Tal fenômeno só foi possível porque os partidos ditos tradicionais falharam miseravelmente em sua tarefa de representar os anseios desse eleitorado que cansou de pagar impostos e de receber em troca um tratamento quase hostil de um Estado loteado pelos de sempre; que cansou de ser acusado de insensibilidade social por criticar as políticas assistencialistas; e que cansou de ser chamado de “golpista” por manifestar seu repúdio à corrupção. O ápice da revolta pode ser localizado em 2013, quando milhões foram às ruas para deixar claro ao então governo petista que a farsa do “nunca antes na história deste país” já não enganava mais ninguém. Nem essa imensa demonstração de força foi capaz de tirar aqueles partidos de sua inércia.

O resultado disso pôde ser visto agora nas urnas. PSDB e MDB, dois gigantes da Câmara, farão companhia na próxima legislatura ao pelotão de partidos médios, pois foram punidos em razão de sua timidez perante o desafio de fazer frente às muitas demandas represadas de seus eleitores. Vários dos políticos mais conhecidos e poderosos do País foram barrados nas urnas.

Haverá oposição: Editorial | Folha de S. Paulo

Finalistas na disputa presidencial, PSL e PT elegem as maiores bancadas na Câmara

Nos números recém-apurados acerca da renovação do Congresso Nacional, o mais chamativo decerto terá sido a expressiva bancada de 52 deputados eleitos pelo outrora nanico PSL, de Jair Bolsonaro.

A legenda se torna a segunda maior da Câmara, atrás apenas do PT de Fernando Haddad, o outro finalista do segundo turno presidencial, que conquistou 56 cadeiras.

Nem por isso tais números garantem ao futuro mandatário, quem quer que seja, uma base de sustentação confortável no Legislativo. Trata-se, nos dois casos, de pouco mais de 10% dos 513 membros daquela Casa —o que mais proporciona ao derrotado um bom alicerce para organizar a oposição.

A despeito das muitas peculiaridades e surpresas deste pleito, a vida parlamentar do país seguirá marcada por fragmentação partidária, ainda que a aplicação da cláusula de desempenho vá reduzir o número de agremiações.

Se causou espécie a extensa lista de caciques políticos derrotados na tentativa de chegar ao Senado, a sigla de Bolsonaro obteve apenas 4 das 54 vagas (dois terços da Casa) em disputa.

A renovação no Congresso feita pelo eleitor: Editorial | O Globo

Não se sabe se qualidade do Legislativo melhorará, mas voto muda a Câmara

A renovação dos quadros políticos é termo quase tão repetido quanto a reforma política. E se esta não tem sido executada pelo Legislativo com a velocidade e profundidade requeridas, a primeira acaba de ser feita no domingo pelo próprio eleitor. Se a qualidade do Congresso, sempre tão criticada, e com razão, melhorará, ainda não se sabe. Mas ocorreu a maior troca de deputados por estreantes em 20 anos: 243 para 513 cadeiras. Ou 47,3%.

A chamada onda bolsonarista, impulsionada por diversas forças — o conservadorismo, a irritação da população com a falta de segurança e o antipetismo, por exemplo — gerou fatos que seriam inimagináveis pouco tempo atrás.

Nomes de ampla vivência no Congresso, alguns caciques foram varridos pelos eleitores. Além de outros, bem colocados em pesquisas e conhecidos, que não conseguiram se eleger. Caso de Dilma Rousseff (PT) e Cesar Maia (DEM), que não conseguiram apoio dos eleitores mineiros e fluminenses para entrar no Senado.

Entre os chefes políticos, o MDB teve baixas consideráveis: Romero Jucá (RR), Edison Lobão (MA) e Eunício Oliveira (CE), este presidente do Senado. Lobão, por sua vez, simboliza a derrota do clã Sarney no Maranhão, cujo principal adversário, o governador Flávio Dino (PCdoB), se reelegeu. A família emplacou apenas um deputado estadual.

Ainda no aspecto das famílias, alguns filhos também foram rejeitados nas urnas. Como Marco Antônio, filho de Sérgio Cabral; Danielle Cunha, filha de Eduardo Cunha, e Crivella Filho, do prefeito do Rio.

Renovação no Congresso foi feita com o avanço da direita: Editorial | Valor Econômico

A renovação da Câmara e do Senado, constrita pelo financiamento de campanha sob controle das cúpulas partidárias, acabou acontecendo, mas não da forma prevista. O ínfimo e direitista PSL, de Jair Bolsonaro, invadiu o parlamento com 52 deputados e 4 senadores. MDB, PSDB e DEM encolheram bastante e a dispersão partidária aumentou. Velhas lideranças políticas apanharam nas urnas e não foram reconduzidas, enquanto que duas dezenas de parlamentares que precisavam do foro para escapar da Lava-Jato se reelegeram. O Congresso que saiu das urnas é mais conservador que o atual.

Os partidos-âncora do Legislativo perderam posições. Deles, o PT foi o que conseguiu manter sua posição de primeira bancada na Câmara, com 56 cadeiras, um pouco à frente do PSL, a segunda maior legenda da Casa. O partido de Bolsonaro ainda pode crescer. Há 23 deputados que poderão migrar porque suas legendas não ultrapassaram a cláusula de barreira. Capitaneando não só o antipetismo, mas a antipolítica, o PSL fez estragos no MDB do presidente Michel Temer e no PSDB que, reduzido a 29 cadeiras, passou da terceira para a nona maior representação.

Foram movimentos distintos. O MDB foi abalado nas urnas pelo desempenho do governo, por escândalos de corrupção e pelo fisiologismo. No caso dos tucanos, houve uma mudança de grande relevância: a direita bolsonarista desalojou o PSDB de sua preponderância no eleitorado de classe média urbana, de alta instrução e renda. Os resultados são eloquentes. Bolsonaro venceu em 97% dos municípios do Estado de São Paulo, que os tucanos governam há 18 anos e em 98,7% das cidades em que o PSDB foi o mais votado nas eleições de 2016 (Folha de S. Paulo, ontem).

Bolsonaro e Haddad prometem respeitar a Constituição de 1988

Candidato do PSL desautoriza Mourão; petista desiste de Constituinte e rechaça José Dirceu

Em entrevistas ao “Jornal Nacional”, os candidatos Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) se comprometeram a respeitar a Constituição de 1988 e a propor emendas para reformá-la. Haddad disse que “revisou posicionamento” e renunciou à convocação de Constituinte. Ele rechaçou fala de José Dirceu sobre “tomada de poder”. Bolsonaro desautorizou seu vice, o general Mourão, que havia proposto uma Constituinte de notáveis e falado em “autogolpe”. Para ele, faltou tato ao general. Bolsonaro disse que, se eleito, governará “com autoridade e sem autoritarismo”. “Se estamos disputando a eleição é porque acreditamos no voto popular e seremos escravos da Constituição”, disse.

COMPROMISSO FIRMADO

Bolsonaro e Haddad prometem respeito à Constituição Cidadã

- O Globo

Os dois candidatos que disputam o segundo turno da eleição presidencial, Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT), se comprometeram, ontem em entrevista ao “Jornal Nacional”, da TV Globo, a respeitar a Constituição de 1988 caso sejam eleitos.

O programa de governo do PT, entregue ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), prevê a convocação de uma Assembleia Constituinte, enquanto o vice de Bolsonaro, general Hamilton Mourão, criticou o texto da atual Constituição e afirmou que uma nova poderia ser redigida por um grupo de “notáveis”.

A Constituição em vigor, no entanto, não permite a convocação de uma Assembleia Constituinte pelo presidente da República. As mudanças, segundo o texto, devem ser feitas por emendas — a determinação para que as alterações ocorram desta forma é uma cláusula pétrea, que não pode ser modificada.

Haddad afirmou que o partido reviu a proposta e que possíveis reformas que necessitem de mudanças no texto constitucional serão feitas por emendas, que precisam ser aprovadas por três quintos da Câmara dos Deputados e do Senado.

Já Bolsonaro, também ao “Jornal Nacional”, disse que desautorizou Mourão sobre a declaração dos “notáveis” que poderiam promover as mudanças constitucionais. O candidato do PSL afirmou que será “escravo” da Constituição e que não tem poderes para propor uma nova Constituinte.

As duas entrevistas foram acompanhadas por apoiadores e opositores dos candidatos, que se manifestaram com gritos e buzinaços a favor e contra Bolsonaro e Haddad por todo o país.

PSL ou PT terá de negociar com Centrão para governar

A renovação da Câmara dos Deputados será de 52% depois das eleições de domingo, taxa que não se verificava há mais de 20 anos. O cenário da próxima legislatura, porém, continuará parecido com o atual. Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT), que disputam o segundo turno do pleito presidencial, ainda ficarão dependentes dos partidos do Centrão para governar.

O PT continuará com a maior bancada, de 56 deputados. O PSL de Bolsonaro obteve o maior avanço, saindo de 8 para 52 parlamentares. MDB, PSDB e DEM diminuíram de tamanho, enquanto PRB e PSB cresceram.

A cláusula de desempenho, uma novidade nesta eleição, pode aumentar ainda mais a legenda de Bolsonaro, caso ele confirme o favoritismo no segundo turno. Ao todo, 14 partidos, com 32 deputados, não ultrapassaram essa barreira, que exige a eleição de pelo menos nove deputados federais por Estados diferentes ou 1,5% dos votos válidos à Câmara para que possam ter direito ao fundo público e à propaganda na TV e no rádio. Esses deputados poderão mudar de sigla sem perder o mandato.

A força com a qual Bolsonaro saiu do primeiro turno pode atrair parte desses deputados para o PSL. Isso dependerá, porém, de uma provável manifestação do Supremo Tribunal Federal (STF), que em 2006 já derrubou a cláusula de barreira, que visava diminuir o número de partidos. Siglas nanicas já se mobilizam para questionar a nova regra.

Entre os nanicos que não superaram a cláusula de barreira estão o Patriota, com 5 deputados, PRP, com 4 e PMN, com 3. Haverá disputa pelas filiações, o que pode encorpar parte dos partidos médios ou fortalecer ainda mais o PSL e torná-lo a maior bancada.

O PSL elegeu apenas um deputado em 2014 e, após a filiação de Bolsonaro, neste ano, chegou a oito. Com o resultado de domingo, quando Eduardo Bolsonaro, um dos filhos do presidenciável, teve mais de 1,8 milhão de votos ao se reeleger por São Paulo - recorde histórico -, a sigla saltou para 10% da Câmara. Para aprovar reformas constitucionais, como a da Previdência, é necessário o apoio de 308 deputados.

Taxa de renovação na Câmara é de 52%

Raphael Di Cunto | Valor Econômico

SÃO PAULO - O PT continuará a maior bancada da Câmara, com 56 deputados. O PSL explodiu de votos e saiu de oito para 52 parlamentares. MDB, PSDB e DEM diminuíram de tamanho, enquanto o PRB cresceu. A renovação chegou a 52%, taxa que não ocorria há mais de 20 anos, e o número de mulheres aumentou 50%, para 77. Mas o cenário para a próxima legislatura continua parecido: Fernando Haddad (PT) e Jair Bolsonaro (PSL), que disputam o segundo turno na eleição presidencial, ainda ficarão dependentes do Centrão para governar.

Bolsa dispara com onda conservadora na Câmara

Novo Congresso e Jair Bolsonaro no segundo turno levam investidores a apostar em reformas econômicas

Em um cenário de fragmentação recorde – 30 legendas elegeram deputados –, partidos mais ligados ao ideário conservador, como PRB, DEM e, principalmente, o PSL, de Jair Bolsonaro, ampliaram a representação na Câmara na próxima legislatura. MDB e PSDB, siglas que antes estavam entre as maiores da Casa, encolheram, respectivamente, 48% e 46%, na comparação com 2014. A taxa de renovação foi de 52%, a maior dos últimos 20 anos. A vantagem que Bolsonaro obteve sobre Fernando Haddad (PT) e a composição mais conservadora do Congresso levaram o Ibovespa a movimentar R$ 28,9 bilhões ontem, o maior volume nominal da história. Para investidores, o novo perfil do Congresso poderá permitir a Bolsonaro encaminhar reformas econômicas, caso seja eleito. A Bolsa fechou em alta de 4,57%, aos 86.083 pontos, nível mais elevado em quase cinco meses. O dólar fechou em baixa de 2,40%, aos R$ 3,76, menor cotação em dois meses.

Partidos conservadores avançam na Câmara

Felipe Frazão / O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Embalados pelo PSL, do presidenciável Jair Bolsonaro, partidos mais ligados ao ideário conservador ampliaram a representação na Câmara na próxima legislatura. Em um cenário de fragmentação recorde – 30 legendas elegeram parlamentares –, siglas como o PRB, ligado à Igreja Universal, e o DEM, além do PSL, melhoraram seu desempenho.

O resultado das urnas revelou também que a distância se encurtou no grupo dos partidos médios. Houve uma queda expressiva de dois partidos que antes estavam entre os maiores: o MDB e o PSDB. Eles caíram, respectivamente, 48% e 46%, em comparação com o desempenho de quatro anos atrás. A taxa de renovação na Câmara foi a maior dos últimos 20 anos – 52%, conforme dados do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap).

Bolsonaro e Guedes recrutam executivos para sua equipe

Nomes da iniciativa privada seriam opção para eventual governo na falta de quadros técnicos do PSL

Bolsonaro já busca executivos do setor privado para governo e estatais

Lista inclui conselheiros de Paulo Guedes que atuam em bancos, teles e gestoras de investimento

Mariana Carneiro, Julio Wiziack | Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - A equipe de Jair Bolsonaro (PSL) está reunindo apoio do setor privado para levar executivos ao governo, caso o capitão reformado vença o segundo turno da eleição presidencial, no dia 28 deste mês.

São pessoas que aconselharam o economista do candidato, Paulo Guedes, e as equipes do presidenciável nos últimos meses, e por isso sua participação no governo passou a ser discutida.

Fazem parte da lista Alexandre Bettamio, presidente-executivo para a América Latina do Bank of America, João Cox, presidente do conselho de administração da TIM, e Sergio Eraldo de Salles Pinto, da Bozano Investimentos (gestora de investimentos presidida por Guedes).

Para integrantes da campanha de Bolsonaro, Bettamio poderia assumir a presidência do Banco do Brasil, dada sua experiência no setor bancário. O executivo mora atualmente em Nova York.

Os demais poderiam ocupar postos-chave, mas isso ainda não está definido. Convites formais só devem ocorrer após a eleição.

Do setor financeiro, há outros "paraquedistas" —como estão sendo chamados esses executivos nos bastidores— sendo aguardados: Maria Silvia Bastos Marques, presidente-executivo da Goldman Sachs no Brasil e ex-presidente do BNDES, e Roberto Campos Neto, diretor do Santander e neto do renomado economista liberal.

A entrada dele no time é tratada como o símbolo da chegada dos chamados liberais autênticos ao poder e por isso passou a ser considerada como bastante provável entre apoiadores paulistas de Bolsonaro.

Por sua experiência, Roberto Campos Neto poderia eventualmente assumir o Banco Central, caso a primeira opção, Ilan Goldfajn, não queira permanecer no cargo.

Conforme mostrou a Folha, o atual presidente do BC é cotado para ficar e, em conversas reservas, Guedes já teria demonstrado o interesse em mantê-lo no cargo.

Mas Goldfajn é ligado ao PSDB, colaborou com Arminio Fraga na campanha de Aécio Neves em 2014 e pode optar por deixar o BC.

Um terço dos partidos ficará sem verba pública

Cláusula de barreira entra em ação, e pelo menos 14 dos 35 partidos deixam de ter acesso a recursos e tempo de propaganda na TV e no rádio; entre eles, PCdoB, Rede, PSTU, PCB, PMN, PRTB e PTC

Bernardo Mello e Igor Mello | O Globo

Mais de um terço dos 35 partidos registrados no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) deve ficar abaixo da cláusula de barreira, mecanismo que tenta reduzir a fragmentação partidária no Brasil. A projeção foi feita pelo GLOBO com base em dados divulgados pelo TSE e que ainda podem sofrer alterações por eventuais anulações de candidaturas.

Das 30 legendas que elegeram representante para o Congresso, 14 não atingiram o índice mínimo de votos válidos, tampouco fizeram deputados federais em número suficiente para vencer a cláusula, que definirá acesso ao fundo partidário e à propaganda de rádio e televisão no próximo ano. Os 14 partidos políticos que perderão os benefícios são: PCdoB, Patriota, PHS, PRP, PMN, PTC, Rede, PPL, DC, PRTB, PMB, PCB, PSTU e PCO.

Se, em 2022, essas siglas tiverem desempenho suficiente, voltam a ter acesso ao fundo partidário e à propaganda. A regra fica mais rígida de eleição em eleição.

Outros quatro partidos passaram no limite e precisam melhorar seus desempenhos em 2022. Avante, PPS, PSC e PV cumpriram um dos critérios deste ano —seus candidatos à Câmara tiveram mais de 1,5% dos votos válidos e ficaram acima de 1% em pelo menos nove estados —, mas suas votações ainda não superam a barreira da próxima eleição. Já metade (18) do total de partidos conseguirá, caso mantenha a votação no mesmo patamar, superar novamente a cláusula daqui a quatro anos.

A Rede Sustentabilidade, partido de Marina Silva, é um dos partidos que não cumpriram nenhuma das metas, segundo a projeção. O mau desempenho de Marina na eleição presidencial teve paralelo no resultado da legenda na disputa por vagas na Câmara dos Deputados, com apenas uma parlamentar eleita —a indígena Joenia Wapichana, em Roraima.

REORGANIZAÇÃO GERAL
Especialistas ouvidos pelo GLOBO avaliam que a cláusula de barreira deu o primeiro passo para reduzir a fragmentação partidária, mas afirmam que outras variáveis influenciarão a representação de cada legenda no Congresso nos próximos anos. O cientista político Fernando Abrúcio, da FGV, lembra que o fim das coligações proporcionais, a partir das eleições municipais de 2020, trará dificuldades para legendas nanicas cujos deputados são puxados por partidos mais fortes.

— O sistema partidário brasileiro vai se reorganizar, e a cláusula de barreira é só a primeira etapa. Acho que o fim das coligações proporcionais é até mais interessante, e também é normativamente mais justo —avaliou

Cláusula de barreira atinge 14 siglas

Por Raphael Di Cunto e Fernando Torres | Valor Econômico

SÃO PAULO - A cláusula de desempenho atingiu 14 partidos, dos quais nove elegeram representantes para a Câmara dos Deputados neste domingo, e deixará 32 deputados federais "livres" para trocarem de legenda. Esse contingente, que será disputado pelas siglas, tem potencial para mudar o panorama do novo Legislativo após a onda anti-PT que tornou o PSL a segunda maior bancada.

Além de partidos nanicos, como o PTC do ex-presidente Fernando Collor, o PRTB de Levy Fidelix e o DC do sempre presidenciável José Maria Eymael, foram barrados pela cláusula o Patriota, que disputou a Presidência com o deputado Cabo Daciolo (RJ), o Rede, que concorreu com Marina Silva, e o PCdoB, que tem Manuela D'Ávila como vice na chapa encabeçada por Fernando Haddad (PT).

Pela regra instituída no ano passado, os parlamentares eleitos por legendas que não superaram a cláusula de desempenho poderão trocar de partido sem risco de perder o mandato por infidelidade partidária. Levantamento do Valor com base nos dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostra que há 32 deputados federais liberados.

A sigla com maior número de deputados federais eleitos que estarão livres para negociar os seus "passes" com outros partidos é o PCdoB, que elegeu nove deputados (embora esse seja o número mínimo de um dos critérios da cláusula de barreira, isso não ocorreu em nove Estados diferentes, como exige a norma). Em seguida aparecem partidos bem menos ideológicos como PHS, que fez seis parlamentares, o Patriota, com cinco, e o PRP, com quatro. Esse segundo grupo, pode, por exemplo, fazer a diferença na disputa entre as bancadas. Se recebesse os seis do PHS, o PSL do presidenciável Jair Bolsonaro se tornaria a maior legenda da Câmara, com 58 deputados, a frente do PT, que tem 56.

Da mesma forma, partidos menores já observam as movimentações e pretendem disputar a filiação dos colegas. "Minha primeira missão será conversar com eles. Meu apelido não é "janeleira à toa", brinca a deputada Renata Abreu (SP), presidente do Podemos, que elegeu 11 deputados no domingo e conta com cinco senadores. Na atual legislatura, o partido dela, então PTN, começou com quatro e terminou com 17 deputados federais.

PPS avalia resultado das eleições e debate segundo turno nesta quarta-feira

O secretário-geral do PPS, deputado estadual Davi Zaia, convocou reunião da Comissão Executiva Nacional (veja abaixo) do partido em Brasília, nesta quarta-feira (10), a partir das 10h, para avaliação do resultado do primeiro turno das eleições e debate sobre o segundo turno do pleito.

“Ofício Nº 026/18
Brasília, 08 de agosto de 2018.

Prezado(a) companheiro(a),

Por meio deste, estamos convocando os membros da Comissão Executiva do Diretório Nacional para uma reunião no dia 10 de outubro, quarta-feira, às 10h, no Pátio Brasil, salas 826/828, para tratar das seguintes questões:

1. Avaliação das eleições e segundo turno;

2. Informes gerais.

Sem mais para o momento e certos de contarmos com sua imprescindível presença,
subscrevemo-nos,

Atenciosamente,
David Zaia
Secretário-Geral”

Carlos Drummond de Andrade: Ao amor antigo

O amor antigo vive de si mesmo,
não de cultivo alheio ou de presença.
Nada exige nem pede. Nada espera,
mas do destino vão nega a sentença.

O amor antigo tem raízes fundas,
feitas de sofrimento e de beleza.
Por aquelas mergulha no infinito,
e por estas suplanta a natureza.

Se em toda parte o tempo desmorona
aquilo que foi grande e deslumbrante,
a antigo amor, porém, nunca fenece
e a cada dia surge mais amante.

Mais ardente, mas pobre de esperança.
Mais triste? Não. Ele venceu a dor,
e resplandece no seu canto obscuro,
tanto mais velho quanto mais amor.