O julgamento da cassação, por parte do presidente do Supremo Luis Fux, do habeas corpus dado pelo ministro Marco Aurélio Mello ao traficante André do Rap, um dos chefes da maior organização criminosa em atuação no país, trouxe à baila temas fundamentais no debate jurídico-político que vem se desenrolando, como a prisão em segunda instância e o excesso de decisões monocráticas dos ministros do Supremo.
Política e cultura, segundo uma opção democrática, constitucionalista, reformista, plural.
quinta-feira, 15 de outubro de 2020
Merval Pereira - A busca do colegiado
Gabriela Prioli* - André do Rap: de quem é a culpa?
Os
jovens que o sistema judiciário entrega para as facções
Muito
já se escreveu sobre a recente decisão do ministro Marco Aurélio que deu
interpretação literal ao parágrafo único do artigo 316 do Código de Processo
Penal. A decisão, ao obedecer o texto da lei aprovada pelo Congresso Nacional e
sancionada pelo presidente da República, não é o absurdo. O absurdo é o descaso
dos responsáveis por revisar a necessidade da prisão não o terem feito. Como
estavam presentes os requisitos da prisão preventiva, bastaria que os
responsáveis estivessem atentos e não haveria ilegalidade a ser reconhecida
pelo ministro.
Aliás,
o próprio parágrafo único do artigo 316 é uma resposta para o descaso. Se não
prestam atenção nem no caso do André do Rap, de que maneira vocês acham que
eles lidam com os casos da grande maioria dos 253.963 presos provisórios?
Respondo: não lidam, esquecem. Pesquisem no site da Folha de S.Paulo os termos
"mutirão" e "presos provisórios".
A
decisão do ministro Marco Aurélio, entretanto, mais do que aos interesses
individuais dos chefes do crime organizado, atenderá aos interesses daqueles
que se dedicam a, de forma oportunista, discutir o processo penal como se ele
fosse uma amontoado de casos de "Andrés do Rap" ou de grandes casos
de corrupção.
Joaquim Falcão* - Supremo Tribunal Federal: ordem na casa
O
importante é retirar, agora que o susto passou, lições do caso André do Rap
Que
cada juiz tenha preferência por uma teoria de interpretação constitucional,
tudo bem. É normal. Faz parte. Marco Aurélio tem sua
preferência. O presidente Fux, a dele. Cada um, a
sua. Interpretar diferentemente é possível. Mas há limites. O Supremo não pode colocar a
sociedade em risco e perigo.
O
importante é retirar, agora que o susto passou, lições do caso André do Rap. Ficou claro para todos
que o processo decisório do Supremo está doente. Necessita de cura. As decisões
são caóticas. Não se sabe quem decide. Quando decide. Como decide. Se
decide.
Se decisões liminares têm de respeitar jurisprudência, quais? Nunca ninguém é impedido ou suspeito para julgar qualquer caso. Com parentes envolvidos ou não. Os ministros não avaliam as consequências reais de suas decisões. Como diz o ministro Alexandre de Moraes, o Supremo está com um grave problema de eficiência. Daqui a pouco, a máquina vai “grimpar”. Diante da inação do Supremo e de sua administração interna.
William Waack* - Não faltou aviso
Banco
Central adverte: populismo faz mal para saúde fiscal
Jamais
terá sido por falta de aviso. Caso o governo brasileiro abandone o rigor fiscal
em troca de popularidade – possibilidade que mercados passaram a considerar
real –, ficará provado que, no Brasil, não só a História pouco serve de lição.
Ainda por cima se repete como farsa cada vez mais trágica.
Parece
até mesmo um ciclo maldito. Sarney se encantou com a
popularidade trazida pelo Cruzado e
prorrogou medidas “temporárias” até cair na hiperinflação. Lula abandonou
os superávits primários depois da vitória de 2006, derrotando as consequências
do mensalão. Na doce conversa das medidas contracíclicas para combater a crise
de 2008, e atrás de dividendos políticos, Dilma expandiu o intervencionismo
fiscal até cair nas pedaladas.
“A história se repete agora” foi uma frase muito usada entre agentes de mercado nos últimos dias, chegou aos andares de comando em grandes corporações e esfriou consideravelmente ânimos de investidores. Esse estado de espírito se consolidou no alerta feito na terça à noite pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que foi contundente (para os padrões convencionais de um “central banker”) ao admitir que a credibilidade da política econômica do governo está arranhada, que a fragilidade fiscal contribui para a desvalorização da moeda brasileira e que o País já perde fluxo de capitais por conta das políticas ambientais.
Carlos Alberto Sardenberg - A corte brasiliense
Então
o juiz partilha jantar e bons vinhos com um parlamentar e no dia seguinte julga
se ele recebeu corrupção?
Algum
tempo atrás, um ministro do STF me ligou para reclamar de uma coluna em que eu
criticava o fato de ele (ministro) ter dado um habeas corpus a uma pessoa de
suas relações. Não cito o nome do ministro porque isso foi solicitado por ele.
Mas o teor da conversa não está incluído nessa restrição.
Foi
assim: o ministro começou perguntando se eu duvidava da isenção dele naquele
julgamento. Respondi que o ponto não era exatamente isso: havendo ou não
dúvidas, para mim estava claro que nem ele nem qualquer outro ministro poderia
julgar pessoas com que mantinha relações sociais.
O
ministro respondeu que isso seria praticamente impossível em Brasília. Lá,
acrescentou, todo mundo que gira em torno das diversas esferas do poder se
conhece. Disse, inclusive, que mantinha ótimas relações com políticos
influentes.
E
me perguntou: você acha que eu não posso julgar um deputado ou senador com quem
troco ideias, e até jantamos juntos?
Respondi:
pois acho que não devia de jeito nenhum. Então o juiz partilha jantar e bons
vinhos com um parlamentar e, no dia seguinte, julga se ele recebeu corrupção?
Logicamente,
voltamos ao tema da isenção, o ministro garantindo que era capaz de separar a
função de juiz de suas atividades sociais e políticas.
Estranhei
a questão das atividades políticas. O ministro então comentou que
frequentemente participava de negociações com membros de outras esferas de
poder para administrar crises, apagar incêndios, encaminhar projetos de lei e
emendas constitucionais. Tudo absolutamente normal, sustentava com vigor.
Na
verdade, isso é mesmo normal na corte brasiliense. Diversos episódios estão
acontecendo neste exato momento. O então presidente do STF, Dias Toffoli,
recebe para uma pizza o presidente da República, que é investigado naquela
corte. Sendo que o próprio Toffoli havia poucos dias dera uma decisão favorável
a um dos filhos de Bolsonaro.
Luiz Carlos Azedo - Não existe vírus grátis
A
fatura chegou primeiro para os desempregados e trabalhadores “por conta
própria”, que dependem do auxílio emergencial do governo; mas virá para todos,
à prestação
Desculpe-me
o trocadilho, mas tem tudo a ver com a velha frase dos bares norte-americanos
que nas décadas de 1930 e 1940 ofereciam a refeição para quem pagasse a bebida.
Ficou mundialmente famosa porque intitulou um dos livros do economista liberal
Milton Friedman, guru do ministro da Economia, Paulo Guedes. A lembrança não
tem nenhuma relação direta com suas frases de efeito, até porque, ele tem
evitado declarações polêmicas, mas, com o artigo publicado, ontem, pela economista
Mônica de Bolle no jornal O Estado de S. Paulo, a propósito dos custos
econômicos do negacionismo de Donald Trump em relação à pandemia. Os custos
políticos podem inviabilizar a reeleição dele.
Segundo
os economistas norte-americanos David Cutler e Lady Summers, citados no artigo,
a queda do PIB norte-americano deve chegar a US$ 16 trilhões até outubro do
próximo ano, ou seja, 90% do PIB, se a pandemia for controlada até lá. Nos
cálculos dos dois economistas, foram incluídos os indicadores econômicos, como
o aumento dos pedidos de seguro desemprego, mas, também, estimativas relativas
aos prejuízos causados pela liquidação de vidas humanas, ou seja, de força de
trabalho geradora de riqueza.
Maria Cristina Fernandes - A única frente ampla é a do poder
Enquanto
a esquerda se divide, Bolsonaro aprende a compor
Numa disputa em 5.569 municípios, sempre será possível comprovar uma tese e seu contrário, principalmente na eleição mais apartada da história. Uma parte dos eleitores está trancada na autossuficiência de seu ensino e trabalho remoto, plano de saúde e entregas em casa. Outra, mais numerosa, se depara com o despreparo das escolas públicas para o ensino à distância, de um transporte público desaparelhado para um serviço sem riscos, de postos de saúde desorientados pela ausência de uma política nacional de prevenção à pandemia e de um Estado que pretendeu anestesiar tudo isso com um auxílio financeiro.
É
difícil imaginar que tamanhas fissuras num colégio eleitoral de 147.918.498
pessoas mantenham quaisquer teses em pé, mas aí estão muitas a pontificar. A
primeira delas é a de que o mote da anti-política, que moveu as eleições de
2018, perdeu força. Três indícios respaldam esta tese: o presidente Jair
Bolsonaro abraçou a velha política e respira sem ajuda de aparelhos; estrelas
da renovação, como os governadores Wilson Witzel (RJ), Carlos Moisés (SC) e
Wilson Lima (AM), caíram em desgraça; e, finalmente, a gravidade da pandemia
levou o eleitor a revalorizar a experiência de políticos testados.
A
liderança dos prefeitos Alexandre Kalil (PSD), em Belo Horizonte, Rafael Greca
(DEM), em Curitiba, Marquinhos Trad (PSD), em Campo Grande, dos ex-prefeitos
Eduardo Paes (MDB), no Rio, e Edmilson Rodrigues (Psol), em Belém, e do
ex-governador Amazonino Mendes (Podemos), em Manaus, serve aos arautos da tese.
Por outro lado, se houvesse tanto conformismo assim com a política tradicional,
o candidato do Psol em São Paulo, Guilherme Boulos, não estaria tão à frente de
seus adversários de esquerda, todos eles com mais estrada na política. Também
fica difícil explicar, com a tese da revalorização de políticos testados, a
liderança da candidata do PCdoB em Porto Alegre, Manuela D’Ávila, que hoje tem
a soma das intenções de voto de um ex-prefeito, José Fortunati (PTB) e de seu
ex-vice, Sebastião Melo (MDB).
Bruno Boghossian – Bolsonaro abraçou a máquina
TV
Brasil e Itamaraty operam a favor de agenda ideológica e projeto particular
Em
setembro, o Itamaraty reuniu um filósofo, um empresário e um jornalista para
discutir “a conjuntura internacional no pós-coronavírus”, num
seminário transmitido pela internet. Ninguém naquele trio era um
especialista renomado no assunto. O principal atributo dos três era o
bolsonarismo fervoroso.
O
ministério serviu de palanque para críticas à OMS, às medidas de distanciamento
e ao papel da China na economia global. A certa altura, o professor de
filosofia alegou que máscaras
eram inúteis para conter a pandemia –embora estudos médicos digam
o contrário. O YouTube demorou, mas removeu esse trecho do vídeo de sua
biblioteca.
Em
vez de atender ao interesse público, a máquina federal é explorada pelo governo
para servir às ambições políticas de Jair Bolsonaro. A desinformação e o
personalismo ocuparam uma estrutura que opera a serviço de uma agenda ideológica
e de projetos particulares.
Maria Hermínia Tavares* - O honrado Dr. Tibiriçá
O
Judiciário reconheceu sua responsabilidade pelo sequestro, tortura e morte de
opositores da ditadura
No
final de 1973, passei uma semana no DOI-Codi do 2° Exército, em São Paulo.
Nesse período, fui interrogada pelo então major Carlos Alberto Brilhante Ustra,
a quem os subalternos chamavam de Doutor Tibiriçá. Nos porões da repressão,
nenhum agente usava o nome verdadeiro —vários adotavam o mesmo pseudônimo. O
major "doutor" era uma pessoa vulgar, meio fanfarrona, que
demonstrava prazer em infundir medo e gostava de alardear conhecimentos que não
tinha. Não sofri maus-tratos físicos, mas, entre os poucos prisioneiros que vi,
havia pelo menos um com marcas visíveis de tortura.
Os
especialistas chamam de justiça de transição diferentes procedimentos adotados
em países que se democratizaram ou saíram de conflitos armados internos para
lidar com violações de direitos humanos cometidos no passado recente. Incluem
Comissões da Verdade ou outras formas de tornar público o sofrimento das
vítimas; instrumentos judiciais para o reconhecimento dos crimes praticados,
responsabilização ou punição de seus autores; reparações simbólicas e monetárias;
expurgo de funcionários; anistia aos perpetradores.
Fernando Schüler* - O país precisa de senso de urgência
Narrativas extremas perderam fôlego, mas isso não garante que o país pare de procrastinar
Duas
narrativas pautaram o debate brasileiro nesta era Bolsonaro. As duas vêm
murchando como um balão furado, nos últimos tempos.
Uma
delas, governista, conhecida de todos, sempre apostou na versão de Bolsonaro
como um Capitão Nascimento capaz de purificar o sistema e destruir o
“mecanismo”, como certa vez me explicou um sujeito bastante animado em um
desses eventos empresariais.
A
narrativa perdeu sua última camada de verniz por estas semanas. Bolsonaro se
afasta dos radicais, consolida
a base com o centrão, assiste
jogo com o ministro Dias Toffoli, faz as pazes, pela
enésima vez, com Rodrigo Maia, ganha afagos de Renan Calheiros e é
cortejado pelos partidos tradicionais para uma eventual filiação.
A
nossa líder fascista de história em quadrinhos, Sara
Winter, jogou a toalha. Salpicaram ativistas na internet dizendo
“chega”. Muitos deles foram banidos da internet (de mentirinha, claro) por
defender o tal “cabo e soldado” que iria fechar a Suprema Corte.
A
segunda narrativa apostou suas fichas na tese do abismo. A ideia saborosa de
que havíamos nos tornado uma República de Weimar dos anos 1930, que havia em
curso uma conspiração fascista “subterrânea” para terminar de vez com nossa
democracia.
Bernardo Mello Franco - Caminho livre para o ministro tubaína
As
suspeitas de plágio acadêmico não devem abalar a caminhada de Kassio Nunes rumo
ao Supremo. O desembargador que copiava está a um passo de garantir a cadeira
na Corte. Deverá ocupá-la por quase 27 anos, até maio de 2047.
Ontem
o senador Eduardo Braga apresentou seu relatório à Comissão de Constituição e
Justiça. O líder do MDB descreveu Kassio como um “exemplo de garra e
perseverança”. Para ele, os indícios de fraude no mestrado e no doutorado não
desabonam a reputação do escolhido. “Mirar abstratamente o curriculum do
indicado significa retirar a dimensão humana dos conhecimentos que ele
adquiriu”, filosofou.
Ascânio Seleme - A hora da garotada
Ao
novo eleitor, a responsabilidade chega enquanto ele ainda amadurece
Há
alguns momentos cruciais na vida dos jovens que são excitantes por natureza. A
graduação num curso superior é um deles. O formando sabe que, daquele momento
em diante, terá total responsabilidade por sua vida. Mesmo que, em alguns
casos, ainda haja a quem recorrer, melhor não. Melhor seguir sozinho, dono de
seu próprio nariz, orientado pelas suas próprias convicções, remunerado pelo
seu próprio trabalho. Outro momento exuberante ocorre ainda mais cedo, quando
eles deparam com a urna pela primeira vez.
Ao
jovem formando, um mundo absolutamente novo se abre diante dos seus olhos, com
inúmeros caminhos e atalhos. É nessa hora que decisões significativas para o
resto da jornada terão de ser tomadas. No discurso para os graduandos de
Harvard de 2008, J.K. Rowling, autora de “Harry Potter”, disse que a
responsabilidade passa para as mãos de uma pessoa no momento em que ela se
torna madura o suficiente para tomar a direção.
Míriam Leitão - Melhora pontual e o mar de incerteza
O
Brasil ainda está na pior crise econômica da sua história, e a saída do dilema
fiscal nem está esboçada. O temor das contas públicas pode estimular a inflação
mesmo num quadro recessivo. Os bancos e as consultorias estão diminuindo a
projeção de recessão este ano. Há dados surpreendendo positivamente, outros que
confirmam a expectativa. Mesmo no melhor cenário, é uma recessão forte e a
volta está se dando de forma desigual e incerta. O que a atenuou foi o auxílio
emergencial que não é sustentável.
Ontem
foram divulgados os números de atividade do setor de serviços em agosto e
repete-se o mesmo quadro de dupla temperatura. Cresce 2,9% em relação julho,
cai 10% em relação a agosto do ano passado. O segmento que mais subiu, serviços
prestados à família, com alta de 11,4%, foi também o que mais caiu em relação a
agosto do ano passado, com queda de 43,8%. Não está fácil entender o que está
acontecendo na economia. A incerteza volta a aumentar com notícias como a de
ontem, de Portugal entrando em novo estado de calamidade e Paris em novo toque
de recolher.
Ribamar Oliveira - A ponta de um iceberg
Demandas judiciais com risco provável têm forte elevação
A
proposta do governo de limitar o pagamento de precatórios pela União, com o
objetivo de usar a sobra dos recursos para financiar o novo programa Renda
Cidadã, teve apenas um mérito: chamou a atenção para uma despesa que não para
de crescer. O gasto da União com o pagamento de sentenças judiciais aumentou de
forma acelerada nos últimos anos e, o que é pior, há indícios de que a situação
poderá se agravar no futuro. Ou seja, a despesa atual pode ser a ponta de um
iceberg.
Quem
tiver a curiosidade de ler o anexo de riscos fiscais, que acompanha o Projeto
de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) para 2021, vai verificar que o total
das demandas judiciais contra a União, considerando aquelas de risco possível e
provável em conjunto, se elevou de R$ 1,645 trilhão em 2018 para R$ 2,204
trilhões em 2019 - um crescimento de 33,9%. O anexo informa que o resultado foi
influenciado pelo forte crescimento de ações de risco provável no período, que
se elevaram de R$ 117,6 bilhões em 2018 para R$ 664,1 bilhões em 2019 - uma
variação de 410%.
Vinicius Torres Freire – O sucesso da TI na crise e as cidades
Tecnologia de informação estão no azul e vida urbana está longe de se recuperar
As
empresas de tecnologia de informação faturaram mais em agosto do que logo antes
do início da epidemia, em fevereiro. É alta pequena, algo mais do que 2%, e
esse tipo de serviço era o que crescia mais rápido antes da calamidade,
mostram os dados do IBGE.
Dada
a devastação na média do setor de serviços, é um alívio, compartilhado com o
mercado financeiro, aliás. Não por acaso, volta a se ouvir das firmas de TI que
falta gente para contratar.
Para
voltar ao nível de faturamento de fevereiro, o conjunto dos serviços precisa
ainda crescer quase 11%. No caso dos ditos “serviços às
famílias”, terríveis 72%. No rótulo “serviços às famílias” estão
hotéis, restaurantes e similares, cultura, recreação, lazer, esportes, cursos,
academias, lavanderias, salões de beleza e afins.
Em
um resumo muito estilizado, dá para dizer que a transformação tecnológica é
prioridade e continua; a vida nas cidades, nas ruas, continua muito abaixo do
que se chamava de normal, no início do ano.
Celso Ming - É ruim, mas nem tanto
Depois
do baque produzido pelos efeitos diretos e colaterais da pandemia, percepção é
de que a economia do Brasil está em recuperação
Quando
o pior dá lugar ao ruim ou ao menos pior, em geral, produz alívio. Algo como a
sensação esperada quando se tira o bode da sala, ainda que todos os outros
problemas continuem lá.
Nesta
terça-feira, o Fundo
Monetário Internacional (FMI), presidido pela búlgara
Kristalina Georgieva, divulgou seu principal documento de avaliação da
atividade econômica em que projetou um
tombo de 5,8% no PIB do Brasil neste ano, o mais alto de que se tem
notícia, maior do que o de 1990, que foi de 4,35%, e o de 1981, quando houve
queda de 4,25%.
Ainda assim, tanto a projeção do Fundo como a atual expectativa dos analistas brasileiros vêm produzindo certo alívio. A projeção anterior do Fundo era de uma retração de 9,1%. A revisão agora divulgada, o mencionado recuo de 5,8%, é um pouco maior do que vem sendo esperado pelos analistas brasileiros. O Boletim Focus, realizado semanalmente pelo Banco Central, aponta para uma queda de 5,03%.
De
qualquer maneira, depois do baque enorme produzido pelos efeitos diretos e
colaterais da pandemia, a percepção geral é a de que a economia brasileira está
em recuperação. Por toda parte, as estatísticas de desempenho setorial sugerem
não só que o fundo do poço já foi ultrapassado, mas que a atividade econômica
está em boa recuperação. Mas é preciso cautela quando se examinam essas novas
condições.
Zeina Latif* - A insegurança jurídica grita a ouvidos moucos
É
necessário liderança e vontade política para enfrentar a insegurança jurídica
Segurança
jurídica significa estabilidade das relações judiciais, não havendo mudanças
arbitrárias de leis e regulamentos, e nem de sua interpretação. Trata-se de um
alicerce do bom funcionamento da economia. Quando as regras do jogo mudam sem
critério e inesperadamente, a economia não floresce.
O Brasil sofre
do mal da insegurança jurídica. Exemplo recente é a disputa judicial entre a
prefeitura do Rio de Janeiro e a concessionária da Linha Amarela.
No ano passado, o prefeito Marcelo Crivella mandou
destruir cabines de pedágio após cancelar unilateralmente o contrato de
concessão, por julgar o pedágio abusivo. O TJ do Rio concedeu liminares em
favor da empresa. No mês passado, o STJ,
em decisão monocrática, as derrubou.
Esse
é um exemplo de populismo que penaliza a todos ao final. Reduz o interesse por
investimento em infraestrutura e pressiona as tarifas, que tendem a ser mais
elevadas para remunerar riscos regulatórios.
O que a mídia pensa – Opiniões / Editoriais
Na
ânsia de criticar as medidas de combate à pandemia, bolsonaristas escancaram
seu darwinismo social, o que deveria custar votos
Não é somente a corrupção que degrada a política, como querem fazer crer os oportunistas que se travestiram de cruzados anticorrupção para alcançar o poder nas eleições passadas. A política também perde o sentido quando a ignorância é elevada à categoria de ativo eleitoral.
Tome-se
como exemplo a declaração de Celso Russomanno, candidato à Prefeitura de São Paulo,
segundo a qual “não temos uma quantidade imensa de moradores de rua com
problema de covid” porque “talvez eles sejam mais resistentes que a gente
porque convivem o tempo todo nas ruas, não têm como tomar banho todos os dias,
et cetera e tal”.
Seria
um erro tratar essa declaração grotesca como simples anedota de campanha
eleitoral, como tantas que períodos estranhos como esse costumam produzir. É,
ao contrário, fortemente simbólica do pesadelo que o País atravessa, entregue
em parte a políticos que deliberadamente tratam os eleitores como néscios e,
pasme o leitor, ainda ganham votos com isso.
Poesia | Graziela Melo - Menina triste
Triste olhar
e uma dor
sem nome...
menina pobre
que não conhece
o amor
mas dia
após dia,
sente a dor
da fome!!!
Todos
os dias
a vejo
na esquina!
Volto
para casa
e não consigo
esquecer
o olhar
da menina!!!