terça-feira, 30 de novembro de 2021

Merval Pereira - Fato novo

O Globo

O que parecia apenas um balão de ensaio está se transformando em fato político relevante. Ao abrir caminho para aceitar ser vice-presidente na chapa de Lula, o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin não apenas se vinga de seu arqui-inimigo João Doria, como permite que Lula dê a guinada para o centro que era esperada e parecia ter sido superada pela ala radical do PT que defende ditaduras como as de Maduro na Venezuela e Ortega na Nicarágua.

Lula saiu da prisão menos disposto a ser o “Lulinha Paz e Amor” que chegou à Presidência da República em 2002. O PSDB sempre foi a alternativa ao PT, e Bolsonaro, que para muita gente parecia ser a nova opção, já não é mais. É uma extrema direita que não respeita a democracia. Como as recentes pesquisas mostram, Bolsonaro está esvaziando, carcomido pela inflação, pelo desemprego, por um governo inepto, pela radicalização.

Lula, cada vez que fala a favor das ditaduras da América Latina ou do tal “controle social da mídia”, deixa de ser opção moderada para os que procuram uma saída. Não está conseguindo ir para o centro, como em 2002. Faz a mesma coisa que Bolsonaro com seus extremistas: aumenta a intensidade da retórica para segurar seus nichos mais radicais.

Eliane Cantanhêde - Doria e a corrida de obstáculos

O Estado de S. Paulo

Ou o PSDB fecha com Doria e a terceira via ou vai virar história em 2022

A sucessão presidencial vai ganhando forma e nomes e a definição do governador João Doria como candidato do PSDB é um novo fator relevante, pela tradição do partido e a determinação do candidato, mas há uma forte divisão e uma corrida de obstáculos.

Começou com o fiasco das prévias, que jogaram luzes não no PSDB e em Doria, mas na incompetência da votação, na guerra interna, que não é novidade, e nas fragilidades dos candidatos, que ficaram mais em evidência do que as qualidades.

Doria bateu o também governador Eduardo Leite por 54% a 45%, ou seja, sai das prévias com um partido dividido exatamente ao meio e com um histórico de ciúmes e guerras internas entre os paulistas e, por fim, entre paulistas e o mineiro Aécio Neves. Como unir os cacos agora?

Luiz Carlos Azedo - Doria e Moro iniciam dança do acasalamento da 3ª via

Correio Braziliense

Os demais pré-candidatos parecem dispostos a aguardar a orquestra encerrar a sessão de boleros e começar o sertanejo para decidir o que vão fazer

O governador de São Paulo, João Doria, e o ex-ministro da Justiça Sergio Moro inauguraram a dança de acasalamento da chamada terceira via, cada qual sinalizando suas prioridades para a escolha de um vice na chapa que pretendem encabeçar. Estão observando a pista Ciro Gomes (PDT), Luiz Henrique Mandetta (DEM), Alessandro Vieira (Cidadania), Rodrigo Pacheco (PSD) e Simone Tebet (MDB), todos pré-candidatos, que parecem dispostos a aguardar a orquestra encerrar a sessão de boleros e começar o sertanejo para decidir o que vão fazer.

Nem bem comemorou a vitória nas prévias do PSDB, o governador paulista revelou que gostaria de uma mulher na chapa como vice, num recado claro para Tebet, a senadora que preside a Comissão de Constituição e Justiçado (CCJ) Senado e se destacou na CPI da Covid. Doria tem boas relações com o ex-presidente Michel Temer e uma aliança com o presidente do MDB, deputado Baleia Rossi (SP), responsável pelo lançamento da candidata sul-mato-grossense. Tebet tem mais apoio na bancada do Senado do que entre os deputados liderados por Rossi.

Catapultado pelas redes sociais, nas quais lavajatistas e ex-bolsonaristas focaram seu nome, Moro surfa a onda de sua filiação ao Podemos e procura ocupar o espaço vazio deixado pela queda de popularidade do ex-presidente Jair Bolsonaro e a estagnação dos concorrentes da terceira via. Até agora, Moro fez movimentos muito precisos, a começar pela indicação do economista Celso Pastore para cuidar da sua relação com a turma da Faria Lima.

Andrea Jubé - “Terceira via precisará de muita composição”

Valor Econômico

“São corridas diferentes”, diz Vieira sobre Moro

Diante da rápida ascensão do ex-juiz Sergio Moro nas pesquisas sobre a sucessão presidencial, o pré-candidato a presidente pelo Cidadania, senador Alessandro Vieira (SE), nega a intenção de retirar o nome da disputa pela vaga de presidenciável que representará a terceira via.

Ambos se projetaram na cena nacional pelo combate à corrupção e atuação na segurança pública.

Moro comandou a Operação Lava-Jato, mas depois foi julgado suspeito pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Como ministro da Justiça do governo Bolsonaro, reacomodou chefes de facções em presídios diferentes, desarticulando organizações criminosas.

Como delegado, Alessandro Vieira chefiou a Polícia Civil de Sergipe. Ele desbaratou um esquema de desvio de recursos públicos, incomodou aliados do governo local e acabou exonerado da função. Ganhou projeção na cena nacional pela atuação na CPI da Covid.

Carlos Andreazza - Pacheco secreto

O Globo

Podem me chamar de obsessivo. O jornalismo também é feito de obsessões. Paulo Guedes decerto chamou o colunista de obsessivo enquanto este se dedicava a mostrar a impossibilidade de um programa reformista liberal sob o populismo de instabilidades de Bolsonaro; e como o ministro, contratando a dilapidação fiscal, entregara-se ao propósito gastador que, crê-se no governo, dará competitividade eleitoral ao presidente.

Mostrar não seria bem o verbo. Demonstrar. Ainda que houvesse competência para formular e promover reformas estruturais, e não havia, o propósito de reeleger o mito sempre foi o norte de Guedes. Aí está. Nada é pessoal.

Insisto agora no tema do orçamento secreto; particularmente, o orçamento secreto de Rodrigo Pacheco. Haverá um? O comportamento do presidente do Senado nos autoriza a pensar que sim. Ele é o mentor-articulador do conjunto de gambiarras institucionais que, descumprindo decisão do Supremo, mentindo para descumprir determinação da Corte constitucional, propõe meia transparência para o futuro — e nenhuma sobre o passado, sobre os exercícios orçamentários de 2020 e 2021.

Míriam Leitão - As visíveis vitórias das cotas raciais

O Globo

A adoção das cotas raciais nas universidades públicas provocou um acirrado debate no Brasil. A vitória foi dos defensores da medida. Hoje, 20 anos depois de iniciadas, e 10 anos após sua adoção nacional, são visíveis as mudanças positivas das ações afirmativas. O debate amadureceu, a presença dos pretos e pardos nas universidades teve uma alta impressionante. Mas o racismo permanece, as barreiras são muitas, e a presença dos pretos em posição de destaque ainda é pequena. O Congresso está discutindo a revisão prevista para 2022. O momento não poderia ser mais desafiador.

— O Congresso está rachado. A esquerda tem projetos para consolidar e expandir as cotas. A maioria dos projetos da direita é para abolir a política. A preocupação é que as propostas estão tramitando muito rápido, sem tempo para discussão. Por isso há uma apreensão generalizada e é muito difícil prever o que vai acontecer — disse o cientista político João Feres, do Observatório do Legislativo Brasileiro e professor da UERJ, a primeira universidade a adotar a reserva de vagas.

Pedro Cafardo - Uma PEC oportunista que lembra a ditadura

Valor Econômico

Manobra cria arapuca orçamentário para quem assume o governo em 2023

Mais de 40 anos se passaram e, não por coincidência, o comando econômico do governo tenta adotar medidas que lembram tristes momentos da ditadura. A proposta de mudança da indexação no teto de gastos, já aprovada na Câmara e em avaliação no Senado, traz essa lembrança.

Deixemos de lado a discussão sobre a insensatez ou não de se ter colocado na Constituição, em 2016, um congelamento de gastos reais do governo por 20 anos, algo que sabidamente acabaria desmoralizado mais cedo ou mais tarde, como está sendo agora com a PEC do Calote dos Precatórios.

O ponto de reflexão, que lembra a ditadura, é o uso oportunista de índices de inflação. Nos anos 1970, no auge da era da correção monetária, quando os índices que reajustavam salários, aluguéis e outros custos aumentavam demais, por exemplo, buscava-se mudá-los por decreto.

Durante muitos anos, a inflação oficial foi medida pelo IGP-DI, até hoje calculado pela FGV, que era e continua sendo 60% impulsionado pelos preços no atacado. Quando subia demais, tentava-se adotar outro indexador para correções, que medisse apenas os preços ao consumidor. Meses depois, quando os preços no atacado acabavam se refletindo no varejo, como geralmente ocorre, o custo de vida subia mais que o IGP e, de novo, tentava-se trocar o índice.

Joel Pinheiro da Fonseca - Terceira via: por que e como?

Folha de S. Paulo

Terceira via nunca foi tão improvável, nem tão necessária

Pouco a pouco vão se afunilando as escolhas para a candidatura de terceira via, essa última esperança de que o Brasil escape da dicotomia Lula Bolsonaro em 2022. Mas por que ser contra essas duas candidaturas?

De Bolsonaro não é preciso falar muito, já que o estamos vivendo: o misto de incompetência e má fé a que estamos submetidos há quase três anos lançou o país num clima de bagunça constante no qual tudo se deteriora: educação, meio ambiente, saúde pública (sem esquecer a conduta criminosa na pandemia), economia, relações internacionais. Em todas as áreas, o retrocesso é palpável. Bolsonaro é bom em criar ruído e desviar o foco; em todo o resto, é um desastre. Sem falar nos insuportáveis ataques à democracia.

Cristina Serra - Bolsonaro em necrose eleitoral

Folha de S. Paulo

Sua estátua abandonada é imagem que vale mais que mil palavras

O mundo se apavora diante do recrudescimento da pandemia na Europa e do surgimento de outra variante do vírus, identificada na África do Sul, país castigado pela escassez de vacinas, como quase todo o continente. A ômicron já se espalha pelo planeta, agravando temores e incertezas.

E o que faz Bolsonaro? Dá de ombros e diz que temos de "aprender a conviver com o vírus". É uma nova cepa do palavreado hostil de sempre, o "E daí? Quer que eu faça o quê?". Ele também menospreza medidas simples e eficazes de controle, como a exigência do passaporte da vacina para os viajantes. Estende o tapete vermelho para a peste.

Arthur Virgílio Neto - Crime, inação e cumplicidade

Folha de S. Paulo

Garimpo avança porque não teme os Poderes e conta com cobertura do tráfico

Faz muito tempo que eu denunciava, quase solitariamente, a atividade criminosa e poluidora do garimpo no rio Madeira, inicialmente na parte que banha Rondônia: mercúrio para "lavar" o ouro; assassinatos de mergulhadores que descobriram veios e que não são investigados seriamente. Vidas que nunca importaram.

Outros delitos se agregam ao garimpo ilegal: lavagem de dinheiro e sonegação, grilagem de terras indígenas, cumplicidade com desmatadores, início de "construção" de uma Serra Pelada nas águas de um rio piscoso, caudaloso e destinado a, no futuro próximo, junto aos demais grandes rios da Amazônia, abastecer o mundo de água doce, potável e de facílima extração. Quem sabe nossas águas virarão produto de exportação! Quem sabe os países amazônicos constituirão a Opep das águas!

O garimpo tem sido tolerado e até estimulado pelo governo Jair Bolsonaro. Resultado: a ousadia dos infratores, criminosos impunes, foi crescendo ao ponto de terem descido o rio Madeira para ocupá-lo, praticamente de uma margem a outra, em frente à cidade de Nova Olinda do Norte (AM). Que audácia: sentaram praça a apenas 25 minutos de voo de Manaus. São agora "vizinhos" do aparato de segurança do estado do Amazonas. Vizinhos igualmente da Polícia Federal, do Poder Judiciário e, sobretudo, do povo de Manaus —além, obviamente, de Nova Olinda do Norte, de Novo Aripuanã (AM), com penetração ainda incipiente, e de Autazes (AM), banhada pelos rios Madeira e Amazonas, este o maior do planeta.

Alvaro Costa e Silva - O talento das cronistas mulheres

Folha de S. Paulo

Elas escreveram em pé de igualdade com os homens na era de ouro do gênero

Um mistério da crônica como gênero tipicamente brasileiro é seu frescor. Escritos há mais de 60 ou 70 anos, no improviso e às pressas, textos feitos para o momento e para encher meia página de jornal ou de revista tinham tudo para ser esquecidos imediatamente e virar embrulho de peixe. No entanto, pela sua qualidade, vão ficar para sempre.

O espaço nobre das livrarias neste fim de ano está ocupado por antologias com as obras de Antônio Maria, Rubem Braga, Vinicius de Moraes, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos, José Carlos (Carlinhos) Oliveira, Stanislaw Ponte Preta, expoentes de uma geração fora de série, não à toa conhecidos como sabiás da crônica. Talvez aí esteja a solução do mistério: o talento dessa turma era capaz de fazer qualquer coisa durável.

Zuenir Ventura - À espera de punição

O Globo

Apesar das cobranças feitas por Defensoria Pública, Anistia Internacional, Supremo Tribunal Federal e ONU, nenhuma investigação consequente foi realizada sobre as incursões policiais que resultaram nas chacinas ocorridas nos últimos seis meses na favela do Jacarezinho e no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Entre as autoridades que se indignaram com essas operações armadas e exigem punição dos culpados na forma da lei, estão a antropóloga Jacqueline Muniz, especialista em segurança pública, que as classificou de desastrosas.

O “Fantástico”, da TV Globo, teve acesso aos registros da ocorrência no Salgueiro mostrando que os policiais fizeram mais de 1.500 disparos, um tiro a cada minuto numa ação que durou 35 horas e deixou nove mortos.

O que a mídia pensa - Editoriais / Opiniões

EDITORIAIS

As tarefas de Doria

Folha de S. Paulo

Presidenciável terá de unir o PSDB, mostrar-se viável e apresentar um programa

Dirigentes do PSDB encararam com alívio a conclusão do turbulento processo de escolha do candidato da sigla à Presidência, no sábado (29). Com a superação das prévias, o partido deixa para trás uma fonte de desgaste interno, mas também se vê obrigado a reconhecer que mal começou a enfrentar o desafio de 2022.

A contenda deu a João Doria o direito de concorrer ao Palácio do Planalto. O governador paulista aparece na casa dos 5% das intenções de voto nas pesquisas, com índices de rejeição comparáveis aos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que lidera a corrida.

Seria exagero dizer que as prévias criaram novas dificuldades para o PSDB. O processo —saudável, ressalte-se— expôs conhecidas divisões internas e reforçou a imagem de uma legenda que ainda hesita diante do bolsonarismo.

Marcada por falhas na votação e acusações de fraude entre os competidores, a disputa tucana aprofundou a cisão entre o grupo de Doria e a ala que conta com líderes como o deputado Aécio Neves (MG).

Poesia | João Cabral de Melo Neto - O cão sem plumas (Trecho)

IV. Discurso do Capibaribe

Aquele rio
está na memória
como um cão vivo
dentro de uma sala.
Como um cão vivo
dentro de um bolso.
Como um cão vivo
debaixo dos lençóis,
debaixo da camisa,
da pele.

Um cão, porque vive,
é agudo.
O que vive
não entorpece.
O que vive fere.
O homem,
porque vive,
choca com o que vive.
Viver
é ir entre o que vive.

O que vive
incomoda de vida
o silêncio, o sono, o corpo
que sonhou cortar-se
roupas de nuvens.
O que vive choca,
tem dentes, arestas, é espesso.
O que vive é espesso
como um cão, um homem,
como aquele rio.

Como todo o real
é espesso.
Aquele rio
é espesso e real.
Como uma maçã
é espessa.
Como um cachorro
é mais espesso do que uma maçã.
Como é mais espesso
o sangue do cachorro
do que o próprio cachorro.
Como é mais espesso
um homem
do que o sangue de um cachorro.
Como é muito mais espesso
o sangue de um homem
do que o sonho de um homem.

Espesso
como uma maçã é espessa.
Como uma maçã
é muito mais espessa
se um homem a come
do que se um homem a vê.
Como é ainda mais espessa
se a fome a come.
Como é ainda muito mais espessa
se não a pode comer
a fome que a vê.

Aquele rio
é espesso
como o real mais espesso.
Espesso
por sua paisagem espessa,
onde a fome
estende seus batalhões de secretas
e íntimas formigas.

E espesso
por sua fábula espessa;
pelo fluir
de suas geléias de terra;
ao parir
suas ilhas negras de terra.

Porque é muito mais espessa
a vida que se desdobra
em mais vida,
como uma fruta
é mais espessa
que sua flor;
como a árvore
é mais espessa
que sua semente;
como a flor
é mais espessa
que sua árvore,
etc. etc.

Espesso,
porque é mais espessa
a vida que se luta
cada dia,
o dia que se adquire
cada dia
(como uma ave
que vai cada segundo
conquistando seu vôo).

segunda-feira, 29 de novembro de 2021

Fernando Gabeira - Democracia brasileira, coitadinha

O Globo

Um relatório divulgado em Estocolmo pelo Idea (Instituto Internacional para a Democracia e a Assistência Eleitoral) aponta a decadência da democracia brasileira.

Na semana passada, escrevi um longo artigo sobre isso. Reconheço que Bolsonaro é um dos principais responsáveis, da gestão da pandemia aos ataques à imprensa e ao STF. No meu entender, contudo, Bolsonaro não inventou a decadência da democracia brasileira. Apenas aproveitou-se dela para aprofundá-la ainda mais com seus impulsos autoritários.

Gostaria de anotar alguns pontos que escapam ao radar dos grandes observadores internacionais, coisas miúdas do cotidiano, que, de certa maneira, são o dínamo da decadência, pois têm o poder de arruinar o apoio popular à democracia.

O clima de Brasília mudou nos últimos tempos. Formou-se uma frente bastante ampla de parlamentares, e até setores da Justiça, destinada a favorecer a impunidade.

Durante muito tempo, vigorou o orçamento secreto, uma aberração no sistema democrático. Em menos de dois meses, surgiram duas propostas de emenda constitucional com o mesmo apelido: PEC da Vingança. Uma delas visava ao Ministério Público; a outra, ao próprio STF. Nesta última, então, a vingança parecia mais explícita: queriam aposentar exatamente a ministra Rosa Weber, que bloqueou o orçamento secreto.

Demétrio Magnoli - A alma do PT

O Globo

A nota infame do PT que descreveu a “eleição” de Daniel Ortega como “grande manifestação popular e democrática” foi retirada do site para não provocar ruídos eleitorais no Brasil. Mas ela expressa a posição do partido — e o desprezo de dois ex-presidentes, Lula e Dilma, ao sistema democrático.

“Por que Angela Merkel pode estar no poder por 16 anos e Ortega não?”, indagou Lula em entrevista ao jornal El País, reativando um paralelismo cínico que mobiliza desde sempre. Diante da resposta singela da entrevistadora — “ela não encarcerava os opositores”—, o candidato favorito a 2022 simulou recuar, apenas para insistir na falácia de fundo: “Se Ortega detém opositores para que não concorram às eleições, como fizeram comigo, está equivocado”.

A democracia brasileira propiciou que um retirante nordestino, sindicalista metalúrgico, fundador de um partido de esquerda alcançasse a Presidência por dois mandatos. A ditadura de Ortega aboliu a alternância no poder, prendendo as lideranças concorrentes, inclusive os antigos companheiros de esquerda da Frente Sandinista. No Brasil democrático, Lula foi preso por corrupção, mas um Judiciário independente revisou o processo, declarou parcial o juiz que o sentenciou e anulou as condenações. Na tirania nicaraguense, os juízes fazem o que Ortega determina. Mas, segundo Lula, é tudo igual.

Bruno Carazza* - A esquerda que enxerga além

Valor Econômico

Movimentações atuais miram o futuro sem Lula

Na recém-lançada biografia Lula: Volume I, o jornalista Fernando Morais conta que, após deixar a cela da PF em Curitiba, o petista se dirigiu aos manifestantes que o acompanharam em vigília nos 581 dias de prisão. Depois do discurso inflamado, “Lula dá um beijo cinematográfico em Janja, desce a escadinha do palanque e, sem precisar anunciar a ninguém, pisa no chão como candidato a presidente do Brasil”.

Morais estava certo. A anulação dos processos contra Lula automaticamente definiu a escolha da esquerda para 2022. Líder com folga nas pesquisas, o recente périplo internacional mostra o apetite do petista por obter um terceiro mandato e, assim, terminar sua carreira política por cima.

O retorno de Lula reenergiza a militância e pode reverter a tendência de queda de votos nesse campo observada desde que ele passou a faixa para Dilma Rousseff, em 2011.

Computando os votos para deputado federal, verificamos que o conjunto de partidos inclinados à esquerda (PT, PSB, PDT, Psol, PV, Cidadania, PC do B, Rede, PCB, PSTU e PCO) viu seu eleitorado subir de 17,1 milhões de votos em 1998 para 31,3 milhões com a primeira vitória de Lula, em 2002.

Sergio Lamucci - O difícil ambiente para a economia em 2022

Valor Econômico

Com Bolsonaro empenhado em se reeleger e o Congresso em manter a captura de uma fatia expressiva do Orçamento, o panorama fiscal deve permanecer nublado

A economia brasileira está em marcha lenta, e as perspectivas para os próximos meses são desanimadoras. A inflação segue elevada e os juros vão continuar a subir, num ambiente em que a atividade já dá sinais claros de fraqueza, como mostraram os resultados da indústria, do comércio e dos serviços em setembro. A um ambiente interno repleto de incertezas, somam-se agora as dúvidas quanto a uma nova variante da covid-19, a ômicron. Há temores de que nova cepa seja mais transmissível e resistente às vacinas existentes. O medo de uma nova variante que acelere o contágio da doença, dando um tranco na economia mundial, aumentou com força a aversão global ao risco na sexta-feira.

Celso Rocha de Barros - Ladrões ameaçam STF com fascismo

Folha de S. Paulo

A direita quer reduzir a idade de aposentadoria dos ministros do Supremo para 70 anos, de modo a permitir que Bolsonaro indique mais dois integrantes do tribunal

A Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados aprovou a proposta da militante de extrema-direita Bia Kicis (PSL-DF), presidente da comissão, que revoga a "PEC da Bengala".

"PEC da Bengala" foi uma das inúmeras falcatruas cometidas pela direita brasileira em 2015-2016. Para evitar que Dilma Rousseff exercesse seu direito de indicar mais ministros para o STF, o Congresso ampliou a idade de aposentadoria compulsória dos ministros para 75 anos. Agora que a direita governa o país, a turma quer reduzir de novo a idade de aposentadoria para 70, de modo a permitir que Bolsonaro indique mais dois ministros.

O objetivo de Kicis e Bolsonaro é claro: seguir, no Brasil, o roteiro de desmonte da democracia implementado pelos governos autoritários que os inspiram, como os da Hungria e da Polônia. Os "novos autoritários" já descobriram faz tempo que o caminho mais curto para desmontar a democracia é o aparelhamento da Suprema Corte. A Suprema Corte decide o que a Constituição diz, quem controla a Suprema Corte diz o que é a Constituição.

Marcus André Melo - Ministérios e corrupção

Folha de S. Paulo

O que impede que coalizões não degenerem em acordos escusos?

Duas manchetes —uma internacional, outra doméstica— dão o mote para uma coluna sobre a formação de governos em contextos multipartidários. A primeira: "Alemanha finalmente escolhe o sucessor de Merkel". Pela primeira vez o país terá uma "coalizão semáforo" com três partidos: SPD, Verdes e Liberais (FDP). A segunda: "Minha reeleição na Câmara não depende da reeleição de Bolsonaro, diz Lira".

Sob o parlamentarismo, a formação de governos tipicamente envolve acordos formais programáticos como também a divisão de pastas ministeriais, como mostrei neste espaço em 14/2. Nos casos em que não se formam maiorias, o governo continuará minoritário, mas alguns partidos fora da coalizão assinam acordo de não obstrução, garantindo a investidura.

Catarina Rochamonte - A quarta onda e a terceira via

Folha de S. Paulo

É imprescindível a convergência em torno de um bom projeto para o país

Mais uma vez, o mundo está em alerta devido à alta de casos de Covid-19 na Europa e à descoberta de uma nova variante do coronavírus, a ômicron, detectada na África do Sul. Em tempo de imprevisibilidade, tensão e medo como este no qual vivemos, ter à frente da nação uma liderança séria, sóbria, equilibrada e preparada é fundamental.

Os alemães, por exemplo, tiveram a sorte de atravessar as primeiras ondas da pandemia sob a liderança de Angela Merkel, enquanto nós, brasileiros, tivemos o infortúnio de atravessá-las sob a desorientação de Jair Bolsonaro; e corremos o risco de termos por presidente, nas próximas crises, alguém sem noção e autoritário o suficiente para equiparar essa grande estadista alemã ao ditador da Nicarágua.

Carlos Pereira – Não é só um problema moral

O Estado de S. Paulo

O debate sobre o combate à corrupção qualifica as eleições de 2022

Alguns têm argumentado que a entrada de Sérgio Moro na corrida presidencial traria novamente o tema do combate à corrupção para o centro do debate público, o que supostamente seria contraproducente, diante de problemas mais urgentes a serem enfrentados pelo Brasil, como desenvolvimento econômico, inflação e inclusão social.

É como se o combate à corrupção fosse eminentemente um problema moral e não houvesse correlação entre os resultados de políticas econômica e social e comportamentos predatórios de governantes.

Entretanto, como mostro no quarto capítulo do livro Making Brazil Work: Checking the President in a Multiparty System, governos que vivem em ambientes politicamente competitivos e sob fortes restrições de organizações de controle robustas e independentes apresentam melhor desempenho econômico e social do que governos não controlados.

Definição no PSDB cria ‘núcleo duro’ no centro com Doria, Ciro e Moro

Pedetista tem assegurado que não abre mão da disputa; unificação depende de entendimento entre governador e ex-juiz, que admitem a ideia de composição futura

Adriana Ferraz / O Estado de S. Paulo

O fim das prévias tucanas serviu para delimitar uma espécie de núcleo duro do centro político para a disputa presidencial de 2022. Expandido por mais sete pré-candidaturas, a chamada terceira via tem agora três postulantes que trabalham efetivamente para liderar uma candidatura: Ciro Gomes (PDT), Sérgio Moro (Podemos) e João Doria (PSDB).

Ciro e o PDT têm assegurado que não abrem mão da disputa. O governador paulista e o ex-juiz da Lava Jato admitem a ideia de composição futura. Ambos, porém, esperam arregimentar apoios, demonstrando até o fim do primeiro trimestre do próximo ano que seus projetos possuem mais perspectiva de poder.

Entrevista | Doria: “Minha candidatura se posiciona frontalmente contra Lula e Bolsonaro”

Vencedor das prévias do PSBD diz que governo de SP é exemplo do que poderá ser sua gestão do país

Por Cristiano Romero / Valor Econômico

BRASÍLIAO governador de São Paulo, João Doria (PSDB), estreou na política há apenas cinco anos, mas não pode ser mais chamado nem de “novato” nem de “outsider”. Em meia década, foi eleito para administrar, respectivamente, o terceiro e o segundo maior orçamento do país. No sábado, foi eleito por seu partido, o PSDB, numa disputa renhida, para concorrer em 2022 ao cargo máximo da República, responsável por gerir um dos maiores orçamentos públicos do planeta.

Na prévia concluída no sábado, como ocorreu na escolha do candidato à prefeitura de São Paulo em 2016 e ao governo paulista dois anos depois, tucanos históricos se uniram para tentar impedir a escolha de Doria. Com poucas exceções - uma delas, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, apoiador do governador -, esse grupo trabalhou intensamente para eleger o jovem governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite.

É uma narrativa falsa, de que não sou agregador; temos 13 partidos na base aliada de apoio ao governo na Assembleia”

Doria se recusa a se auto-definir como o candidato da ‘terceira via’, caminho com o qual setores da sociedade contam para tirar o incumbente do cargo - o presidente Jair Bolsonaro, candidato à reeleição - e evitar a volta ao poder de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), atual líder das pesquisas. Mas, nesta entrevista ao Valor, Doria se lança como o candidato posicionado frontalmente contra Bolsonaro e Lula. É provável que a partir de hoje o governador seja considerado por analistas a terceira via.

Dentro do PSDB, a principal crítica dirigida a Doria seria a de que ele não é um político agregador. O governador não gosta de falar sobre isso, mas, no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo de São Paulo e da residência oficial do governador, sabe-se que ele considera essa a mais falsa das teses que seus colegas de partido criam para defini-lo de maneira pejorativa.

“Como alguém pode não ser agregador e ter Henrique Meirelles, que é de outro partido, no seu governo? Rodrigo Maia, por exemplo? E Rossieli Soares, que veio para o governo assumir a área de educação? Sérgio Sá Leitão veio para cultura. O Vinicius Lumertz, que era de outro partido, e veio cuidar da área de turismo? O vice-governador Rodrigo Garcia era do DEM, mas transferiu-se para o PSDB. É candidatíssimo à sucessão em São Paulo”, desabafa Doria.

“Para complementar, temos 13 partidos na base aliada de apoio ao governo na assembleia legislativa de São Paulo, incluindo o PL, o PP e o Republicanos. E não tem nada de espúrio, até porque se houvesse a mídia já saberia, os tribunais de contas saberiam, o Ministério Público, o Tribunal de Justiça etc. Foram três anos de governo sem nenhum escândalo, nenhuma investigação, nada. É possível fazer a política de pratos limpos, a política republicana”, diz Doria. 

A seguir, os principais trechos da entrevista.

César Felício - João competidor

Valor Econômico

O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), é, acima de tudo, um competidor. Nunca foi um homem da composição política e provavelmente nunca será. Assim conseguiu se tornar prefeito de São Paulo, governador do Estado e agora candidato do PSDB à presidência: com embate duro contra colegas de partido, rupturas com aliados, enfrentamento com adversários.

Em processo de eleições internas, mobilização é a palavra chave. Quem tem cadastro atualizado, organização, equipe para chegar até a base, leva vantagem. E Doria tem expertise no assunto.

Ele ignora os caciques e vai direto à base. Não é à toa que os mestres em composição construíram as regras das prévias de modo a estabelecer travas na entrada hostil de Doria em currais eleitorais alheios. Criaram um complexo sistema com cinco grupos de eleitores, divididos em quatro colégios eleitorais, de forma a realçar o peso da cúpula.

"Tempo da corrupção, da incompetência e do negacionismo precisa ficar para trás", diz Doria

Pré-candidato tucano criticou não só o governo do presidente Jair Bolsonaro, como também os petistas Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff

Por Edna Simão e Rafael Walendorff / Valor Econômico

BRASÍLIA- O vencedor das prévias do PSDB para a disputa da Presidência da República no ano que vem, João Doria, ressaltou que o tempo da corrupção, da incompetência, do negacionismo, da irresponsabilidade fiscal, da regulação da mídia e dos ataques às instituições democráticas precisa ficar para trás.

Ele elencou ainda, em discurso, medidas adotadas em seu governo no Estado de São Paulo, como trazer a vacina contra o novo coronavírus aos brasileiros, e criticou não só o governo do presidente Jair Bolsonaro, como também dos petistas Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff.

“Trouxemos a vacina para os brasileiros. Vacina negligenciada pelo governo federal. Mas que salvou milhões de vidas em todo Brasil e hoje nos permite vencer a pandemia e retomar a economia”, ressaltou.

O pré-candidato tucano afirmou que os governos dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff representaram a captura do Estado pelo maior esquema de corrupção do qual se tem notícia no país. “A moralidade convertida em roubalheira. Fazer políticas públicas para os mais pobres não dá direito, a quem quer que seja, de roubar o dinheiro público. Os fins não justificam os meios. A péssima gestão da economia com Dilma nos legou dois anos de recessão e desemprego”, frisou.

Mirtes Cordeiro* - Nossos Contos, o livro nº 37

Falou e Disse

Crianças aprendem lendo e escrevendo. Esse processo trabalhado desde o início, em que as crianças vão se acostumando a compreender o que leem e o que escrevem, torna-as capazes para aprender também a exercer o seu protagonismo na vida que têm pela frente.

Não importa os tropeços, se a letra é maiúscula ou cursiva, importa, sim, o conteúdo, a compreensão sobre a escrita e a forma como a criança se vê através das suas manifestações sobre esse processo, porque elas desenvolvem o seu próprio conhecimento.

Ao aprender, a criança vai construindo seu aprendizado a partir da sua linguagem e sua escrita.

Era uma tarde de verão e grande calor, mas a quadra da escola estava repleta de pais, avós, alguns tios e até irmãos dos que iam se formar no ABC, uma tradição nas nossas escolas brasileiras.

Concluir o ABC, numa referência histórica a aprender as primeiras letras, significa estar apto a entrar no ensino fundamental, dominando os princípios básicos da escrita, da leitura. Atualmente já se sabe que inclui também conhecimentos sobre matemática, história geografia e ciências.

As crianças das três turmas do Primeiro Ano Escolar da Escola Polichinelo, felizes e saltitantes, postaram-se em suas cadeiras para ouvir as professoras e a representante das turmas na leitura do seu pequeno texto de agradecimento. Todas entre 6 e 7 anos de idade.

O que a mídia pensa - Editoriais / Opiniões

EDITORIAIS

O estado da democracia

O Estado de S. Paulo.

País sofre abalos nos pilares democráticos desde a eleição de Jair Bolsonaro, mas está longe de ser um país autoritário

Uma democracia vigorosa se sustenta sobre um tripé formado por eleições limpas, liberdade de expressão e associação assegurada por lei e plena vigência do Estado de Direito. É o que o cientista político Tom Ginsburg e o jurista Aziz Huq, professores da faculdade de Direito da Universidade de Chicago, chamam de “predicados básicos da democracia”. Falar em retrocesso democrático, portanto, implica constatar que ao menos um dos elementos desta tríade não vai bem, deixando capenga todo um sistema de direitos e deveres finamente equilibrado.

De acordo com o relatório Estado da Democracia Global 2021, publicado recentemente pelo Instituto Internacional pela Democracia e Assistência Eleitoral (Idea, na sigla em inglês), o Brasil foi um dos países que registraram retrocesso democrático em 2020, ano marcado pela pandemia de covid-19. É preciso entender muito bem os eventos que contribuíram para esse resultado a fim de evitar uma erosão ainda maior dos pilares democráticos no País no futuro próximo.

O Idea avalia o estado da democracia em cerca de 160 países, nos cinco continentes, há décadas. Desde 2016, o Brasil é um dos países-membros da organização intergovernamental, sediada em Estocolmo. Para medir a higidez da democracia nos países avaliados, o Idea leva em consideração critérios como a legitimidade dos governantes, a participação da sociedade nas definições de políticas públicas, a impessoalidade da administração pública, a garantia de direitos fundamentais e o funcionamento do sistema de freios e contrapesos.

Poesia | Carlos Pena Filho - A Rosa, no íntimo

Entro em teu breve sono, onde os minutos

são três pássaros líquidos e enorme,

e descubro os gelados aquedutos
guardiães do silêncio, enquanto dormes.

Pouso a cabeça nos teus lábios sujos

de mundo e tempo, e vejo que possuis

em teus seios, dois bêbados marujos

desesperados, sós, raros, azuis.

Enfim, além (no além de tuas pernas

onde Deus repousou a sua face,

cansado de inventar coisas eternas)

desvendo, ao desespero de quem passe,

a rosa que és, a mística e sombria

a noturna e serena rosa fria.

domingo, 28 de novembro de 2021

Merval Pereira - Espaço para a terceira via

O Globo

Com a disputa pela presidência da República em processo acelerado, que começou na verdade há mais tempo, provocado pelo próprio Bolsonaro, que ganhou a eleição prometendo acabar com a reeleição e saiu das urnas já candidato a ela, é importante ter um olho no futuro para avaliar os diversos cenários em que nos moveremos  daqui a um ano.

O lançamento da candidatura do ex-juiz Sérgio Moro tendo dado uma chacoalhada em uma disputa que já se tinha como certa a polarização final entre Bolsonaro e Lula, fica-se agora à espera da possibilidade de união no PSDB mesmo depois de prévias conturbadas para que um novo quadro eleitoral se desenhe.

O economista Cláudio Porto, fundador da Macroplan, consultoria especializada em estratégia e análises prospectivas, saiu a campo para testar a temperatura,  avaliar incertezas e as tendências delas derivadas. Realizou uma sondagem de expectativas junto a 250 integrantes das redes da empresa no período de 9 a 16 de novembro: uma amostra não aleatória de executivos, políticos, gestores, acadêmicos e especialistas dos setores privado, público e do 3º setor de todo o Brasil.

Bernardo Mello Franco - Bolsonaro prepara fuga em 2022

O Globo

O capitão avisou: só vai aos debates em 2022 se os adversários aceitarem suas condições. “É para falar sobre o meu mandato. Até a minha vida particular, fique à vontade. Mas que não entre em coisas de família, de amigos, porque vai ser algo que não vai levar a lugar nenhum”, disse.

“Tenho quatro anos de mandato para mostrar o que fiz”, prosseguiu. “Agora, eu não posso aceitar provocação, coisas pessoais, porque daí você foge da finalidade de um bom debate”, encerrou.

Pelas regras expostas na quinta-feira, Jair Bolsonaro não poderá ser questionado sobre o vaivém de dinheiro no gabinete do filho Zero Um. “Coisas de família”, incluindo os depósitos de R$ 89 mil para a primeira-dama. Também ficam proibidas perguntas sobre o gabinete do ódio e a indústria das fake news, que puseram o Zero Dois e o Zero Três na mira da polícia.

Elio Gaspari - Os saltos altos do PT

O Globo / Folha de S. Paulo

O PT subiu num salto alto à sua maneira. Num pé, calçou um modelo Sabrina; noutro, um Stiletto. Como eles têm alturas diferentes, incomodam pouco quem joga sentado, mas atrapalham, e muito, quem tiver que se mover numa campanha eleitoral.

Em menos de um mês, o comissariado se amarrou numa incompreensível, porém deliberada, defesa de regimes ditatoriais ditos de esquerda. Primeiro, um comissário saudou a vitória de Daniel Ortega numa eleição que lhe rendeu o quarto mandato à custa da prisão de postulantes. A presidente do PT disse que o festejo não havia passado pelo crivo da direção. Passaram-se semanas, e Lula foi confrontado pelo caso nicaraguense por duas entrevistadoras do jornal “El País”. Numa resposta marota de palanque, bateu no cravo e acertou Ortega defendendo a alternância dos governantes no poder. Na ferradura, lembrou que Angela Merkel ficou 16 anos no poder. Adiante, repetiu o truque ao dizer que a democracia em Cuba depende do fim do bloqueio econômico dos Estados Unidos. Nenhuma das duas coisas tem a ver com a outra.

Nosso Guia foi prejudicado pela retórica de que se vale nos discursos. As repórteres Pepa Bueno e Lucía Abellán, contudo, eram entrevistadoras.

Luiz Carlos Azedo - Bolsonaro, o cisne negro na política brasileira

Correio Braziliense/ Estado de Minas

Beneficia-se do fato de que qualquer Governo é a forma mais concentrada de Poder: arrecada, normatiza e coage. E usa em benefício próprio a mão pesada do Estado, no limite de suas possibilidades

O escritor Nassim Nicholas Taleb é um libanês que resolveu escrever sobre probabilidades e incertezas após deixar o emprego de “trader” de derivativos na Bolsa de Chicago. Seu livro A lógica do Cisne Negro (Best Seller) faz muito sucesso entre os executivos, porque trata de eventos raros e da necessidade de estar preparado para lidar com eles. O título do livro decorre do fato de que todos os cisnes eram brancos, até a “descoberta” da Austrália. A novidade do cisne negro foi uma demonstração da fragilidade do conhecimento humano. O presidente Jair Bolsonaro é um cisne negro na política brasileira. Sua eleição era altamente improvável, mas aconteceu. O mesmo ainda pode se repetir em 2022.

O Cisne Negro existia, antes de ele ter sido visto pela primeira vez por um explorador do Ocidente. Taleb destaca que eventos dessa ordem ocorrem com muito mais frequência, mas não estamos preparados para percebê-los. Depois que tomamos conhecimentos deles, buscamos explicações que muitas vezes são fantasiosas, porque isso é melhor do que admitir que não estamos entendendo nada. Nossas opiniões formadas sobre tudo, como diz a canção, nos impedem de compreender o que contraria aquilo em que acreditávamos.