quarta-feira, 24 de março de 2021

O que a mídia pensa: Opiniões / Editoriais

A necessidade de ação conjunta – Opinião / O Estado de S. Paulo

O coronavírus é o grande beneficiário dessa falta de coordenação entre os entes federativos na definição de políticas públicas

Os governadores de São Paulo e Rio de Janeiro e os prefeitos das respectivas capitais – mas não só eles – demonstraram há poucos dias uma perigosa dissonância quanto às medidas a serem adotadas em nível estadual e municipal para conter o vertiginoso crescimento dos casos e mortes por covid-19.

O coronavírus é o grande beneficiário dessa falta de coordenação entre os entes federativos na definição de políticas públicas locais com o objetivo de frear a disseminação descontrolada do patógeno. O desencontro de ações governamentais é especialmente grave no momento em que o País atravessa a fase mais dramática da pandemia, com hospitais à beira do colapso, falta de insumos básicos para um bom atendimento médico e predomínio de contaminação por uma cepa mais contagiosa. O resultado é uma média móvel de mortes diárias por covid-19 superior a 2 mil.

No Estado de São Paulo, são 483 mortos por dia, em média. No Rio de Janeiro, 121. Os atuais patamares de média móvel de mortes diárias representam crescimentos de 62% e 31%, respectivamente, em relação à semana anterior. Ou seja, o momento impõe soma de esforços. Sem o acerto entre o governador paulista, João Doria, e o prefeito da capital, Bruno Covas, a tendência é de piora, não de melhora dos indicadores. O mesmo pode ser dito sobre as diferenças entre o governador fluminense, Cláudio Castro, e o prefeito do Rio, Eduardo Paes.

Vera Magalhães - Bolsonaro fora do segundo turno?

- O Globo

Cresce nos meios políticos e entre os analistas a crença de que o segundo turno de 2022 pode se dar sem a presença de Jair Bolsonaro. Não é por outra razão que dia sim, outro também, o presidente aumenta a estridência de suas declarações e as ameaças a adversários com supertrunfos como o estado de sítio.

Mas como se daria esse cenário do presidente fora da reta final da disputa? Como o impeachment ainda parece uma possibilidade pouco provável, não pela falta de crimes de responsabilidade a granel, mas de apetite do Congresso, coragem das forças econômicas e perda mais significativa de respaldo popular (que pode vir e puxar as outras duas variáveis), a construção tem de ser pela política.

A volta de Lula ao tabuleiro eleitoral, anabolizada na tarde desta terça-feira pelo julgamento do habeas corpus de sua defesa pela Segunda Turma do STF, que reconheceu a suspeição de Sergio Moro para julgá-lo, foi o primeiro fator a ameaçar a presença garantida de Bolsonaro na “final” no ano que vem.

Bernardo Mello Franco - A corrupção de Moro

- O Globo

A Segunda Turma do Supremo concluiu que Sergio Moro violou o dever da imparcialidade ao condenar o ex-presidente Lula. A decisão esvazia o mito que começou a ser inflado em 2014, quando o ex-juiz emergiu à frente da Lava-Jato. A pretexto de combater a corrupção, ele fez política com a toga e corrompeu o sistema judicial.

Nos últimos sete anos, Moro e a Lava-Jato se tornaram personagens centrais da vida brasileira. A República de Curitiba implodiu os partidos tradicionais e deu impulso ao impeachment de Dilma Rousseff. Dois anos depois, ajudou um populista de extrema direita a vestir a faixa presidencial.

Jair Bolsonaro passou a campanha de 2018 fazendo juras à Lava-Jato. Nem precisava. A operação prendeu e tirou de campo seu principal concorrente. Às vésperas do primeiro turno, ainda divulgou uma delação para beneficiá-lo.

Rosângela Bittar - Congresso: omissão fatal

-  O Estado de S. Paulo

Lira e Pacheco comportam-se como reféns de uma dívida acidental com Jair Bolsonaro

Com a pressão elevada pela carta de exortação dos banqueiros e o apelo direto do empresariado paulista à interferência dos presidentes da Câmara e do Senado, o presidente Jair Bolsonaro pode estar entrando hoje numa nova onda. Participa de encontro com os presidentes dos três Poderes, governadores e ministros para ser aconselhado sobre a gestão da pandemia.

Todos sabem, trata-se de um faz de conta institucional, como se o presidente já não soubesse o que precisa fazer. Vá lá, serve o pretexto. Apostas na mesa sobre o resultado desta iniciativa:

Um. Os financiadores de campanha abrem a Bolsonaro a brecha para abandonar os delírios impostos pelo obscurantismo que move suas atitudes e assumir a coordenação das soluções da crise de saúde pública com base na ciência e eficiência.

Dois. O presidente usa a reunião para promover um movimento circense destinado a distrair a arquibancada e dar a impressão que faz alguma coisa com seu mandato presidencial.

Três. Bolsonaro busca e encontra, no grupo, disposição para socialização do prejuízo e da impopularidade. Como de hábito, ouvirá uma coisa, fará outra e, diante das consequências trágicas, coletivizará as culpas.

Luiz Carlos Azedo - A parcialidade de Moro

- Correio Braziliense

A suspeição do ex-juiz desgasta muito mais o Supremo na opinião pública do que a eventual candidatura do ex-magistrado, que passaria de justiceiro a injustiçado

O ex-ministro da Justiça Sergio Moro foi considerado parcial no julgamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pela Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), no caso do triplex de Guarujá. Foi uma reviravolta no julgamento, que estava três a dois a favor do ex-juiz da 13a Vara Federal de Curitiba, responsável pela Operação Lava-Jato. A ministra Cármen Lúcia, que já havia votado contra a suspeição no começo do julgamento, mudou seu voto ao final da sessão, acolhendo argumentos do presidente da Turma, ministro Gilmar Mendes, e do ministro Ricardo Lewandowski. Segundo ela, a atuação de Moro não foi imparcial, favoreceu a acusação e, portanto, houve um julgamento irregular.

Cármen Lúcia fez questão de ressaltar que a decisão se aplica apenas ao caso do triplex de Guarujá: “Não acho que o procedimento se estenda a quem quer que seja, que a imparcialidade se estenda a quem quer que seja ou atinja outros procedimentos. Porque aqui estou tomando em consideração algo que foi comprovado pelo impetrante relativo a este paciente, nesta condição”. Embora se diga que a ministra foi pressionada por Mendes durante o julgamento, a magistrada já havia sinalizado que poderia rever seu voto, na sessão anterior da Turma.

Ricardo Noblat - Gilmar Mendes faz história e abre passagem a Lula

- Blog do Noblat / Veja

Aumenta o risco de Bolsonaro morrer na praia em 2022

Data vênia aos demais ministros da Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal, e por extensão aos demais, Gilmar Mendes fez história ao comandar o pelotão de fuzilamento da reputação do ex-juiz Sergio Moro, considerado suspeito de ter sido parcial nos processos de condenação de Lula pela justiça de Curitiba.

Tiraram Gilmar para dançar e deu nisso. Não foi por falta de aviso. No final de 2018, quando Lula entrou no Supremo com o pedido de habeas-corpus para declarar Moro suspeito, Gilmar propôs levá-lo direto ao exame do plenário do tribunal. Por 4 votos contra o dele, a Segunda Turma achou que caberia a ela julgar o pedido.

Então Gilmar, como presidente da Segunda Turma, propôs a concessão de uma liminar para libertar Lula. Foi derrotado por 3 votos contra dois – o dele e o do ministro Ricardo Lewandowski. Inconformado, pediu vista e o julgamento acabou suspenso. Lula só seria solto em novembro de 2019. Foram 580 dias preso.

Para salvar Moro da suspeição e preservar o que fosse possível da Operação Lava Jato, o ministro Edson Fachin decretou a anulação das condenações de Lula, alegando que o foro de Curitiba não era o mais adequado para julgá-lo. Calculou que a sua inviabilizaria qualquer posterior decisão da Segunda Turma contra Moro.

Cláudio Gonçalves Couto* - Golpismo e destruição

- Valor Econômico

Não é só o discurso de Bolsonaro que atenta contra a democracia, mas também medidas concretas de articulação autoritária

Com o Brasil à beira de atingir 300 mil mortos oficiais por covid-19, o presidente Jair Bolsonaro achou por bem se refestelar com seus apoiadores, à frente do Alvorada, no dia de seu aniversário. Fosse só isso, seria indecoroso, mas não ultrapassaria os limites do que a democracia admite. Contudo, houve mais. Novamente o chefe do governo federal investiu contra seus pares nos Estados, acusando-os de serem tiranetes e emendando: “Podem ter certeza, o nosso Exército é o verde oliva e é vocês também. Contem com as Forças Armadas pela democracia e pela liberdade.”

Ou seja, o presidente da República sugeriu que contra a “tirania” de governadores e prefeitos - que apenas exercem suas competências constitucionais no combate à pandemia - pode usar o poder armado dos militares por ele chefiados e, ainda, mobilizar suas tropas civis - formadas por aqueles que ajuda a armar. Não é novidade. Na famigerada reunião ministerial tornada pública por decisão do ex-ministro do STF, Celso de Mello, Bolsonaro deixou claro que armava as pessoas para que pudessem se insurgir contra governadores e prefeitos cujas ações divergem das que preconiza.

Elio Gaspari - Párias, patetas e prepotentes

- Folha de S. Paulo / O Globo

O doutor Araújo é um expoente da estupidez que reina no governo

O chanceler Ernesto Araújo pediu às embaixadas do Brasil que saiam às compras para conseguir insumos médicos. Para quem se orgulhou da condição de “pária”, hostilizou a China com o “comunavírus” e viu o oxigênio venezuelano chegando a Manaus, foi no mínimo um gesto de humildade. O “projeto globalista” que, a seu ver, ameaça o mundo, tem lá suas utilidades.

O doutor Araújo é um expoente da estupidez que reina no governo. Está nas livrarias a prova acabada dessa patetice. É o volume “Alexandre de Gusmão (1695-1753): o estadista que desenhou o mapa do Brasil”, do embaixador Synesio Sampaio Goes Filho.

Synesio é tudo o que Araújo ainda não conseguiu ser. Erudito, estuda a diplomacia brasileira e uma questão que pouca gente procura conhecer: como é que Portugal ficou com a Amazônia? Afinal, pela linha do Tratado de Tordesilhas (1494), suas terras paravam na foz do Amazonas. Diplomata, chefiou as embaixadas em Bogotá, Lisboa e Bruxelas. Além disso, presidiu a Fundação Alexandre de Gusmão, que foi uma usina de produção cultural do Itamaraty.

Bruno Boghossian – A operação e a política

- Folha de S. Paulo

Tribunal elenca ações de Moro e da força-tarefa que tiveram impacto na eleição

O STF não declarou apenas que Sergio Moro pisou fora das regras do processo legal. O julgamento que definiu a suspeição do ex-juiz na condução de um dos processos contra o ex-presidente Lula deixou às claras uma deformidade central da Lava Jato. O tribunal aplicou à operação a marca da motivação política.

Ao analisar a conduta de Moro, ministros do STF elencaram momentos em que a Lava Jato tomou decisões com impacto sobre o cenário político. A Segunda Turma do STF entendeu que a atuação do ex-juiz teve relação principalmente com eventos da última eleição presidencial.

Hélio Schwartsman - Paradoxos da Covid-19

- Folha de S. Paulo

Contra a pandemia, tudo importa um pouco, mas nada explica tudo

Assim como o câmbio existe para humilhar economistas, a Covid-19 existe para humilhar epidemiologistas. Estou sendo injusto, pelo menos com os epidemiologistas. O chiste, porém, ajuda a mostrar que ninguém ainda entendeu direito essa moléstia. É claro que há aspectos básicos que estão bem estabelecidos, mas há algumas diferenças de desempenho entre países que desafiam as explicações.

Dinheiro? Temos nações muito ricas que foram extremamente mal, e outras quase miseráveis que foram muito bem, como é o caso, respectivamente, de EUA e Vietnã. Recursos são um fator relevante, mas não dão conta de explicar o todo.

Governança? É importantíssima. Ilustram-no EUA e Brasil sob Trump e Bolsonaro. Mas também temos a Alemanha, que, dirigida pela competente Angela Merkel, foi bem na primeira onda, mas mal na segunda.

Ruy Castro - Os mortos de cada um

- Folha de S. Paulo

Esta é a minha lista. Que cada leitor faça a sua. Um dia precisaremos dessa contabilidade

Não é que a morte esteja chegando perto. Desde que a Covid começou, ela nunca esteve longe. Meu primeiro amigo a partir com a doença foi o artista plástico e educador Daniel Azulay, criador da Turma do Lambe-Lambe, e isso já tem um ano. Foi em março de 2020, quando ainda começávamos a nos acostumar com as máscaras. Em maio, a morte de Aldir Blanc equivaleu a silenciar um milhão de palavras --as que ele ainda não tinha escrito. Mas foi todo um mês de devastação: a radialista Daysi Lucidi, o cantor Carlos José, o compositor Evaldo Gouveia, o romancista Sergio Sant'Anna, a poeta Olga Savary e a grande dama da sociedade Lourdes Catão.

Em junho, perdemos a cantora Dulce Nunes, uma das inspiradoras da bossa nova, o economista e historiador Carlos Lessa e o fotógrafo Pedro Oswaldo Cruz, a quem o patrimônio histórico do Rio tanto ficou devendo. Em julho, o jornalista José-Itamar de Freitas, o teatrólogo Antonio Bivar e o apresentador de TV Rodrigo Rodrigues. Em agosto, o médico e cientista Elsimar Coutinho. Nos meses seguintes, a maldita pareceu dar uma trégua, mas voltou a ceifar em dezembro, levando, entre muitos, a atriz Nicete Bruno e a jornalista e psiquiatra Germana de Lamare. E não parou mais.

Bolsonaro, na TV, mente sobre ações na pandemia

Em pronunciamento, Bolsonaro mente sobre ações do governo na pandemia e agora diz que 2021 será o ano da vacinação

Presidente adota tom diferente em pronunciamento de rádio e TV no dia em que Brasil registra mais de 3.000 mortes pela Covid em 24 horas

Daniel Carvalho e Gustavo Uribe / Folha de S. Paulo

 BRASÍLIA - Pressionado pelo recorde de mortes e pela escassez de leitos de UTI, de medicamentos para intubação e de vacinas contra Covid-19, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse em pronunciamento em cadeia nacional de rádio e TV na noite desta terça-feira (23) que 2021 será "o ano da vacinação dos brasileiros".

"Estamos fazendo e vamos fazer de 2021 o ano da vacinação dos brasileiros. Somos incansáveis na luta contra o coronavírus", afirmou Bolsonaro, que distorceu ações do governo durante o combate da pandemia e mentiu sobre a sua atuação.

O pronunciamento foi veiculado no dia em que, em apenas 24 horas, 3.158 mortes por Covid-19 foram registradas no país.

Apesar do lento ritmo de vacinação, o presidente prometeu ainda imunizar toda a população até o final de 2021. "Ao final do ano, teremos alcançado mais de 500 milhões de doses para vacinar toda a população. Muito em breve, retomaremos nossa vida normal", afirmou.

Bolsonaro repetiu o discurso de que, desde o começo da pandemia, há um ano, tem dito que os desafios são dois, o vírus e o desemprego.

Ele afirmou que "em nenhum momento, o governo deixou de tomar medidas importantes tanto para combater o coronavírus como para combater o caos na economia, que poderia gerar desemprego e fome".

O governo lançou uma série de medidas econômicas, mas Bolsonaro, durante os últimos 12 meses, minimizou a pandemia, provocou aglomerações, falou contra o uso de máscaras, brecou negociações de imunizantes e, por diversas vezes, manifestou-se contra as vacinas.

Veja, em 11 pontos, as diferenças entre a realidade da pandemia e pronunciamento de Bolsonaro

Após minimizar pandemia durante um ano, presidente afirma que sempre combateu o vírus

Thiago Amâncio, Isabela Palhares, Phillippe Watanabe / Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) fez um pronunciamento em cadeia nacional na noite desta terça-feira (23), mesmo dia em que o Brasil cruzou pela primeira vez a marca das 3.000 mortes registradas em 24 horas, para defender sua gestão no combate à pandemia do novo coronavírus, iniciada há pouco mais de um ano.

Com o aumento desenfreado no número de mortes no país, onde já morreram quase 300 mil pessoas (100 mil apenas de meados de janeiro até agora), Bolsonaro tem sido pressionado a modular seu discurso sobre a crise sanitária no país, cuja gravidade, além de deixar uma montanha de mortos, afeta as perspectivas econômicas, sociais, políticas e de relações exteriores do país, cada vez mais isolado.

No pronunciamento, de quatro minutos, o presidente disse que seu governo é "incansável" no combate ao vírus —que por 12 meses ele minimizou— e se solidarizou com as famílias e amigos das quase 300 mil vítimas, após ter debochado do temor e do luto da população em diferentes ocasiões.

Folha checou como 11 afirmações de Bolsonaro no discurso desta terça se comparam com suas declarações passadas, suas ações e a realidade da pandemia.

Bolsonaro é alvo de panelaços durante pronunciamento na TV

Presidente decidiu se pronunciar em rede nacional sobre a gestão da pandemia

 - Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - O presidente Jair Bolsonaro foi alvo de panelaços em diversas capitais pelo país durante seu pronunciamento em rede nacional na TV na noite desta terça-feira (23).

Ele decidiu falar publicamente a respeito do enfrentamento ao coronavírus em um momento em que a pandemia se aproxima da marca de 300 mil mortes no país —em apenas 24 horas, 3.158 mortes por Covid-19 foram registradas. O novo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, tomou posse nesta terça, em substituição ao general Eduardo Pazuello.

Em São Paulo, houve panelaço em bairros como Santa Cecília e Higienópolis (região central), Perdizes (zona oeste), Saúde (zona sul) e Tatuapé (zona leste).

Em Santana (zona norte), houve gritos de "assassino" e, no Ipiranga (zona sul), de "genocida".

Houve também panelaço na Asa Norte, em Brasília, em Laranjeiras, no Rio, no Recife, em Curitiba, em Belo Horizonte, em Salvador e em Belém. Moradores também protestaram acendendo e apagando luzes em apartamentos.

Doria critica Bolsonaro e diz que “faltou vergonha e verdade” em pronunciamento

Rodrigo Maia (DEM-RJ), ex-presidente da Câmara, Ciro Gomes (PDT), ex-ministro e ex-governador do Ceará, e Fernando Haddad (PT), ex-prefeito de São Paulo, também criticaram fala do presidente sobre a pandemia

Por Cristiane Agostine e Lilian Venturini / Valor Econômico

SÃO PAULO - O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), criticou o presidente Jair Bolsonaro pelo pronunciamento feito na noite desta terça-feira (23) em rede nacional de rádio e televisão. Pelo Twitter, o tucano disse que faltou “vergonha” e “verdade” ao presidente.

No dia em que o país registrou um novo recorde de óbitos por covid-19, com 3.158 mortes em 24 horas — conforme levantamento do consórcio de veículos de imprensa —, Bolsonaro afirmou no pronunciamento que “em nenhum momento o governo deixou de tomar medidas importantes” para combater a pandemia. O país, no entanto, lidera o número de mortes e de casos da doença no mundo. Já são mais de 298,6 mil óbitos pelo novo coronavírus No Brasil e 12,1 milhões de pessoas contaminadas. Durante o pronunciamento, o presidente foi alvo de protestos em diversas cidades do país.

Ex-presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) afirmou que o presidente estava “nitidamente acuado”. “Obrigado a falar de vacina, mas não tratou da falta de oxigênio, da necessidade de utilização de máscaras e do isolamento. Não mudou nada. Continua, infelizmente, patrocinando a morte de milhares de brasileiros”, criticou Maia.

Zeina Latif - A cada tijolo que cai, uma agonia

- O Globo

Temos assistido a situações de fraqueza e desvio institucional — talvez retrocesso —, em várias frentes. Não se trata apenas do funcionamento de órgãos de controle e instituições democráticas, mas também do respeito às regras do jogo que promovem o bem comum.

Garantir boas práticas na ação estatal é o que falta neste momento, afetando a confiança da sociedade e de agentes econômicos, e a imagem do país.

A anulação das condenações de Lula, por erros formais de jurisdição, e as possíveis decisões para invalidar processos da Operação Lava-Jato, por ação inadequada de juízes e promotores, poderiam ter sido evitadas caso as instituições tivessem funcionado como deveriam anos atrás.

Enquanto a Lava-Jato tornava-se “patrimônio nacional”, parte da classe jurídica criticava seus métodos e apontava equívocos. Não houve, porém, reação devida de entidades civis relevantes — como a OAB —, do próprio Ministério Público e dos poderes Judiciário e Legislativo.

Vinicius Torres Freire – O movimento cartista dos empresários

- Folha de S. Paulo

Ideia é fazer pressão para que Bolsonaro permita um governo funcional na epidemia

Empresas querem financiar leitos extras de UTI, também em hospitais privados. Mas querem um incentivo para facilitar essa ajuda, por assim dizer. Foi uma das ideias que deram em reuniões com os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), entre outras. O essencial seria levar Jair Bolsonaro a fazer uma reviravolta no governo.

Alguns empresários dizem que ainda seria possível arrumar leitos extras de UTIs em hospitais privados, que as reservam para pacientes de cirurgias eletivas, até por motivos financeiros. As empresas “comprariam” esses leitos em tese ainda disponíveis, com algum incentivo de redução de impostos.

As reuniões desta segunda-feira (23) acontecem na onda da repercussão da carta de economistas, financistas e empresários contra a política sanitária insana de Bolsonaro. Vamos chama-lo de movimento “cartista”, com ironia histórica (o Cartismo foi um movimento político operário que surgiu na Inglaterra dos anos 1830).

De política mesmo, o movimento pretende “aumentar a pressão” para que Bolsonaro ao menos deixe de sabotar o combate à epidemia. A pressão mais direta acontece por meio de conversas com lideranças do Congresso. Não tem impeachment no programa.

Nilson Teixeira* - Baixo crescimento pode ser duradouro

- Valor Econômico

Empenho de grupos de interesse impedirá que reformas tributária e administrativa sejam abrangentes o suficiente

A expansão média do PIB brasileiro nas últimas quatro décadas foi muito inferior à média dos países emergentes, notadamente os da Ásia. A expectativa para os próximos anos é ainda menos alvissareira, mesmo após as transformações das últimas décadas. A inflação descontrolada, que justificou por muito tempo o baixo crescimento, é parte do passado. O controle da taxa de câmbio em patamar apreciado, considerado por muito tempo razão para o frágil desempenho da economia, já não existe, apesar das intervenções nos mercados à vista e de swap cambiais. A conquista da democracia e da liberdade política, fator importante para estimular o crescimento, já está consolidada.

Todavia, há áreas que precisam de grande avanço. O ambiente de negócios, um empecilho à maior expansão da economia, tem evoluído pouco. A violência permanece elevada, o que reduz o fluxo de investimentos e de turismo. O risco jurídico se mantém exagerado, pois as ações judiciais são demoradas e sujeitas a muitos recursos - não é incomum ações contra a União demorarem mais de 20 anos.

Cristiano Romero - Sem nação, pandemia é mais devastadora

- Valor Econômico

Manifesto é tardio, mas é cinismo criticar iniciativa

É de um cinismo atroz a crítica feita, principalmente por alguns setores da esquerda, ao contundente manifesto, assinado por 500 economistas e lançado no fim de semana passado, que cobra do governo Bolsonaro mudança radical no enfrentamento da pandemia. Subscrito por economistas de orientação ideológica distinta, o manifesto, intitulado “O País Exige Respeito; a Vida Necessita da Ciência e do Bom Governo”, é uma forma de sensibilizar a opinião pública para a tragédia que assola o país devido ao inacreditável negacionismo do presidente da República diante da maior crise sanitária vivida pela humanidade em cem anos.

O movimento é tardio? Sim, não se tenha dúvida disso. Mas, o que explica o imobilismo da elite intelectual brasileira, assim como de todos os outros setores da vida nacional, é o fato de, infelizmente, não sermos uma nação. Esta só existe quando cada cidadão se reconhece no outro, quando compartilha valores e aspirações, quando todos são rigorosamente iguais perante as leis, quando não existe discriminação de qualquer espécie, quando o Estado assegura a todos oportunidades iguais de formação educacional e acesso a serviços, como a saúde e segurança pública.

Entrevista | Judith Butler: 'Trump e Bolsonaro são sádicos desavergonhados'

'Bolsonaro e Trump são os rostos da crueldade do nosso tempo, e cada um é responsável por incontáveis mortes', afirma Judith Butler

Filósofa americana, que participa nesta quarta (24) de seminário virtual sobre feminismo, fala sobre as perdas da pandemia agravadas pela desigualdade e o novo livro que chegará ao Brasil, em julho, pela Boitempo

Renata Izaal / O Globo

Na última vez em que esteve no Brasil, em 2017, Judith Butler foi alvo de petições on-line e ações judiciais de grupos conservadores que tentaram impedir sua vinda ao país para um seminário sobre democracia. Ela veio, cumpriu sua agenda, mas, na volta para casa, foi agredida no Aeroporto de Congonhas por quem acredita que a filósofa americana é a fundadora da “ideologia de gênero”.

Mas Butler não fundou coisa nenhuma. O que ela fez, de modo muito resumido, foi teorizar sobre o gênero como algo socialmente construído, uma performance. Sua obra, na verdade, é muito mais extensa e avança sobre política e democracia; violência de Estado; luto; poder, discurso e sexualidade; sionismo e a questão palestina.

Hoje, às 14h, Butler voltará a se encontrar com o Brasil, mesmo que remotamente. Ela vai discutir feminismo, corpo e território com a cantora, compositora e ativista Preta Ferreira, dentro da programação do ciclo de debates on-line “Feminismo para os 99%”, realizado pela Boitempo. O encontro será transmitido no canal no YouTube da editora, que publicará, em julho, o livro mais recente de Butler. Em “A força da não violência”, ela critica o individualismo na ética e na política e defende a “igualdade radical” para que se possa construir algo bom juntos.

Em uma breve entrevista, Judith Butler, que leciona na Universidade da Califórnia, Berkeley, reflete sobre pandemia e luto, o negacionismo de Bolsonaro e de Trump e vibra com o feminismo latino-americano: “Movimentos como o Ni Una Menos e o Las Tesis me tocam e inspiram muito”, afirma.

Poesia | Ayrton Rocha - Felicidade, eu preciso te conhecer

Oh, felicidade,
Preciso tanto te encontrar
Eu quero te conhecer felicidade
Quero me apresentar e contigo morar
Eu preciso de ti para viver
Eu preciso de ti para não morrer
Preciso viver dias mais lindos
E minhas noites mais calmas
Eu preciso ver a chuva cair
Sem chorar de tristeza
Eu preciso ver o Sol nascer
E sentir, que ele nasceu também para mim
Eu preciso cantar nas minhas noites de Lua
Eu preciso caminhar sobre as Estrelas
Em busca de ti, felicidade
Eu preciso caminhar entre as Rosas
Sem me ferir nos espinhos
Eu preciso me banhar em águas puras
Onde os Rios sejam cristalinos
Sem sentir o frio da dor
Eu preciso do teu sorriso, felicidade,
Do afago de tuas mãos
Eu preciso do teu beijo
Eu preciso do teu amor
Eu preciso te ter em meu coração
Porque felicidade, eu não te conheço?
Porque foges tanto de mim?
Não faz isso comigo felicidade
Já virou judiação!
Por favor, felicidade, vem morar comigo
Faz do meu coração a tua casa
E da minha vida,
A tua razão de viver
Se não queres que te vejas,
Se não queres me conhecer,
Por favor, felicidade,
Manda pelo menos o teu retrato
Que eu quero ver como tu és
Será felicidade, que tu és mesmo feliz?
Quero conhecer o teu rosto
Quero ver se ele tem a marca do meu desgosto
Que vive tão perto de mim
Quero ver o teu retrato
E conhecer o teu sorriso
Quero saber se tens perfume
Se tu pareces uma Flor
Quero saber por onde andas felicidade
E saber se tens coração
Eu preciso te encontrar felicidade
Eu preciso continuar a sonhar
Como eu vou conseguir amar sem te conhecer!
Por favor, felicidade, não chore
Às vezes é bom à gente sofrer
Marca um encontro comigo felicidade
Eu juro que eu te farei feliz
Se não vieres comigo, eu serei eternamente infeliz