Senadores
têm o direito, e neste caso também o dever, de dizer não ao presidente e também
aos oportunistas, que são capazes de fazer qualquer coisa para ganhar uma vaga
eterna no panteão da justiça nacional
As
instituições públicas valem mais quando exercem plenamente suas funções.
Cumprir parcial ou burocraticamente designações legais ou constitucionais as
tornam fracas e em alguns casos desnecessárias. Além de legislar e fiscalizar o
Poder Executivo, foram dadas ao Senado Federal competências especiais que vão
desde processar e julgar o presidente da República nos crimes de
responsabilidade até aprovar previamente a indicação de magistrados para os
tribunais superiores. Como não podem contar com o presidente do Senado, Rodrigo
Pacheco, cabe aos demais senadores barrar a escalada autoritária de Bolsonaro.
Sua
primeira missão é impedir que Augusto Aras ou André Mendonça sejam
aprovados para a vaga do ministro Marco Aurélio no Supremo Tribunal Federal,
caso um deles venha a ser indicado por Bolsonaro. Os senadores têm o direito, e
neste caso também o dever, de dizer não ao presidente e também aos
oportunistas, que são capazes de fazer qualquer coisa para ganhar uma vaga
eterna no panteão da justiça nacional. A sessão do STF que julgou legal a
restrição de cultos e missas em igrejas e templos durante a pandemia não deixou
qualquer dúvida, se ainda restava alguma, de que os dois são feitos da mesma
matéria com que se modelou Kassio Nunes. Fizeram, fazem e farão qualquer coisa
que o chefe mandar.
Parecia uma sessão de sabatina de alunos de segundo grau, cada um tentando provar ao mestre ser mais aplicado do que outro. Augusto Aras repetiu a frase óbvia “o Estado é laico, as pessoas não são” apenas para bajular o capitão e mostrar que ele é adequado para o cargo de Marco Aurélio porque “pensa” como Bolsonaro. André Mendonça foi mais longe, e despudoradamente indagou: “Por que só as igrejas? Por que a discriminação?”. Pois é exatamente o contrário o que rezam os decretos de interdição, também as igrejas e templos devem ser fechados, como bares, restaurantes, clubes, lojas e cinemas. Ao afirmar pateticamente saber que a Covid mata, Mendonça disse que “os cristãos estão dispostos a morrer para garantir o direito ao culto”.