quinta-feira, 6 de maio de 2021

Merval Pereira - Bolsonaro no limite

- O Globo

Por mais que o Exército faça para se distanciar de Bolsonaro, o presidente faz questão de incluí-lo em suas ameaças, voltando a confrontos institucionais que já o colocaram em desacordo anteriormente com o ex-ministro da Defesa Fernando Azevedo e Silva e o ex-comandante do Exército e general Edson Pujol. Voltou a chamar de “meu Exército” os militares que, segundo ele, podem sair às ruas para proteger o direito de ir e vir em caso de lockdown. E nenhum juiz ousará contestar essa decisão, garantiu em sua retórica abusiva.

A convocação do ex-ministro da Saúde e general Eduardo Pazuello pela CPI quase se transformou em princípio de crise, não fosse a iniciativa do senador Omar Aziz, presidente da CPI, de ligar ao novo comandante do Exército, general Paulo Sérgio, para esclarecer que Pazuello era convocado na qualidade de ministro civil, e não de general da ativa.

O novo comandante era chefe do Departamento do Pessoal do Exército, encarregado da logística de combate à Covid-19 dentro da corporação, e agiu de acordo com as orientações médicas. Por isso, Pujol certa vez deu o cotovelo para Bolsonaro, que lhe estendia a mão e ficou irritado.

Míriam Leitão - O presidente e o delito continuado

- O Globo

O que a CPI mostrou até agora foi que o presidente Jair Bolsonaro impediu dois ministros da Saúde de agirem conforme as orientações técnicas e científicas durante a pandemia. O ato foi continuado. O ex-ministro Nelson Teich repetiu ontem diversas vezes a informação de que ele não concordava com a recomendação de uso da cloroquina e, por divergir disso, saiu. O ex-ministro Luiz Henrique Mandetta entregou carta a Bolsonaro, fez cenário, mostrou a gravidade da crise e teve que enfrentar uma assessoria paralela no Planalto que queria o uso da cloroquina. Não aceitou e, por isso, foi demitido. As orientações dos ministros poderiam ter salvado vidas.

O presidente da República amarrou a mão de seus ministros, os impediu de agir, não ouviu técnicos, ignorou a ciência, desafiou a medicina e impôs a sua forma de conduzir o país numa pandemia. E isso está nos levando à morte. Bolsonaro deu várias vezes sinais explícitos de que aposta na tese perigosa de ampliar a contaminação para chegar ao fim mais rápido da pandemia. Ontem, Nelson Teich foi claro: “Essa tese de imunidade de rebanho, onde você adquire a imunidade através do contato e não da vacina, isso é um erro.”

Maria Cristina Fernandes - Por trás do picadeiro da CPI da Pandemia

- Valor Econômico

Estratégia de intimidar senadores com 1º de Maio ruiu

O presidente da República e o comandante do Exército não podem ter a mesma expectativa em relação ao depoimento do ex-ministro da Saúde na Comissão Parlamentar de Inquérito. Para tirar a CPI das suas costas, interessa a Jair Bolsonaro mostrar a autonomia de Eduardo Pazuello, como general do Exército, nas condutas ora investigadas. Ao general Paulo Sérgio de Oliveira, convém o inverso. Que, na condição de militar agregado ao serviço civil, fique claro que Pazuello cumpriu ordens do presidente da República. Se o Palácio do Planalto fracassou em treinar o ex-ministro para enfrentar os senadores e o Ministério da Defesa encaminhou o pedido de adiamento de sua presença na CPI, foi o Exército quem negociou com o presidente da comissão, senador Omar Aziz (PSD-AM), o depoimento daquele que hoje é adido à Secretaria-Geral da corporação.

A permanência de Pazuello na ativa e a produção maciça de hidroxicloroquina pelos laboratórios do Exército arrastaram a corporação para a vala bolsonarista. Nos dois lados da linha, porém, havia um senador e um general interessados em preservar o Exército. A consequência só pode ser em prejuízo do presidente da República. A começar pelo adiamento. Quando Pazuello chegar ao Senado, em 19 de maio, a CPI já terá acumulado depoimentos, como os dos ex-ministros Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich, que convergem para responsabilizar o presidente da República, além daqueles, aprovados ontem, dos ex-ministros Fabio Wajngarten e Ernesto Araújo, que são pura combustão. Por mais que Pazuello seja pressionado a nadar contra a maré, terá mais dificuldade em fazê-lo. Com o cerco já formado, o custo para o ex-ministro atestar a origem das ordens que recebeu será menor.

Ricardo Noblat - Carlos Bolsonaro, o Zero Dois, pinta o pai outra vez para a guerra

- Blog do Noblat / Metrópoles

Deve-se ao vereador Carlos a renovada disposição do presidente Jair Bolsonaro para endurecer seu comportamento e bater nos adversários

Basta de intermediário! Por que não o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), o Zero Dois do presidente Jair Bolsonaro, para Secretário de Comunicação Social do governo do pai?

Licenciar-se do mandato não lhe faria tão mal assim. Ele é vereador desde que se elegeu pela primeira vez, com 17 anos, e Bolsonaro o levou pela mão para que tomasse posse.

É difícil que outro filho de Bolsonaro demonstre tanto amor por ele quanto Carlos. Só Carlos concordou em disputar um mandato de vereador para derrotar a própria mãe, também candidata.

Às vezes, temperamental como é, Carlos some do radar do pai e se nega a atender seus telefonemas. É quando Bolsonaro fica mais desesperado e se rende a todas as suas vontades.

Fabio Graner - Reforma tributária exige debate, não tumulto

- Valor Econômico

Ribeiro diz que leis podem mudar tributação de renda

Ofuscado pelo tumulto gerado pelo presidente da Câmara, Arthur Lira, o relatório do deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) sobre a reforma tributária merece ser amplamente discutido pelo Congresso e pela sociedade. O texto mostra uma evolução importante em relação às PECs originais (45 e 110), porém, nasce com algumas lacunas que também precisam ser debatidas, entre elas não atacar a questão da baixa tributação sobre renda e patrimônio.

O substitutivo apenas tangencia o assunto ao reforçar na Constituição o princípio da progressividade fiscal, garantindo sua aplicação no imposto sobre heranças e doações (ITCMD) e no IPVA.

Ao Valor Ribeiro diz que não se trata de omissão. Como as duas PECs originais são centradas na tributação de consumo, seu relatório teve foco nisso, justifica. “Até porque muita coisa de renda pode ser por lei, infraconstitucional. Eu me referi à renda e patrimônio, reforcei o caráter de progressividade. Nós registramos isso e deixamos aberto para os parlamentares fazerem essa contribuição e, se todos entenderem que é devido, não serei eu que vou dizer que não é. Pelo contrário.”

Maria Hermínia Tavares* - Sem lastro nem rumo

- Folha de S. Paulo

Os atributos do Itamaraty estão longe de dar conta do necessário para reconstruir a imagem do país

Em 29 de março passado, a insanidade finalmente deixou o Ministério das Relações Exteriores de braços dados com aquele que a alçara a princípio norteador da atuação internacional do país. A diplomacia brasileira parece ter encontrado a normalidade sob comando de um titular discreto e treinado nas boas práticas do ofício. Pelo menos tem as suas digitais o discurso do presidente na Cúpula de Líderes pelo Clima. Foi o seu primeiro pronunciamento para o mundo que não agrediu a língua ou a lógica, embora encharcado de compromissos mais que duvidosos.

Os atributos do Itamaraty, porém, estão longe de dar conta do necessário para reconstruir a imagem do país e a sua política externa. O prestígio que o Brasil conquistara lá atrás sucumbiu sob o peso do descalabro ambiental e da tragédia sanitária —ambos promovidos por um desgoverno que, de um lado, flerta com o ilícito devastador do patrimônio amazônico e ameaça as populações originárias; e, de outro, desorganiza a política de saúde e estimula comportamentos que só fazem agravar a pandemia.

Mariliz Pereira Jorge - A morte é política

- Folha de S. Paulo

Como não politizar a morte se a política adotada pelo governo federal na pandemia continua a enterrar milhares por dia?

Quanto mais demorarmos a vacinar a população contra a Covid-19, mais gente morrerá. Escrevi isso no dia 9 de dezembro, quando o país chegava a 180 mil óbitos e testemunhávamos a primeira pessoa no mundo a ser imunizada, uma britânica de 90 anos.

O texto seguia: a incompetência, o desdém e a demora do governo, na figura do presidente, serão culpados por todas as mortes que poderiam ser evitadas com uma vacina. De lá para cá, mais do que dobramos o número de vidas perdidas, e a CPI em curso deve mostrar o que eu disse na ocasião: Bolsonaro é um genocida.

Como não politizar a morte se a política adotada pelo governo federal na pandemia continua a enterrar milhares por dia? É resultado da gestão assassina que ignorou as medidas básicas que poderiam ter protegido a população.

Vinicius Torres Freire – O risco do apagão de vacinas

- Folha de S. Paulo

Brasil não vai conseguir acelerar entrega de vacinas de Covid até junho; Dia das Mães é um perigo

Afora milagres, não deve haver aceleração da entrega de vacinas contra a Covid-19 até junho. As perspectivas continuam as mesmas de fins de março e começo de abril. Algumas doses entraram no cronograma mais realista, outras saíram.

Entenda-se: é provável que a entrega de vacinas aumente, mas não em velocidade maior do que a prevista faz um mês e pouco. É uma desgraça, pois estão morrendo mais de 2.300 pessoas por dia no país (eram 700 por dia, em dezembro, por exemplo). Em abril, o número de doses entregues foi quase o mesmo de março, cerca de 26,6 milhões. Em maio, se tudo der muito certo, serão 38,5 milhões. Mas ainda é pouco e tarde.

Para piorar, Jair Bolsonaro está solto da casinha. A fim também de desviar a atenção da CPI da Covid, apoiou comícios golpistas, ameaçou baixar um decreto “incontestável” contra “lockdowns” e voltou a atacar a China. Um dos motivos pelos quais a vacinação não vai ser mais rápida até junho é a falta de matéria prima chinesa. Graças outra vez a Bolsonaro, a coisa pode piorar.

William Waack - Dona Hermínia no Planalto

 - O Estado de S. Paulo

A gente se divertiria com o que dissesse a personagem de Paulo Gustavo

Sentada na cadeira do presidente no Palácio do Planalto, a personagem Dona Hermínia, criada pelo genial Paulo Gustavo, falaria assim sobre a covid-19. “É um vírus novo, ninguém sabe se nasceu em laboratório ou nasceu por algum ser humano ingerir um animal inadequado. Mas está aí. Os militares sabem o que é guerra química, bacteriológica e radiológica. Será que não estamos enfrentando uma nova guerra? Qual o país que mais cresceu o seu PIB? Não vou dizer para vocês.”

Dona Hermínia gostaria e ao mesmo tempo se cansaria de lidar o tempo todo com seu principal auxiliar, o ministro Paulo Guedes, em quem daria broncas como fazia com o ex-marido Carlos Alberto ou a empregada Valdeia. “PG, pode sair e ganhar dinheiro por aí, mas não me tira poder.” Mas, por ser tão mãezona, Dona Hermínia admitiria que às vezes tem de negociar. “Obviamente, com o passar do tempo, vou dando minhas peruadas no Paulo Guedes e ele vai dando na política para mim.”

Quando ficasse brava, Dona Hermínia explodiria rápido e não toleraria ser contestada, especialmente por jornalistas, gente que ela teria certeza de que não serve para muita coisa a não ser criticá-la injustamente. “Vontade de encher tua boca de porrada.” É um tipo de desejo que, seguramente, Dona Hermínia expressaria também em relação a senadores que tentassem encher o saco dela com CPIs. “Vou ter de sair na porrada.”

Eugênio Bucci* - Cartesianos e descabeçados

- O Estado de S. Paulo

Difícil saber quem perdeu a cabeça no Brasil: o chefe de Estado, a opinião pública...?

A imagem da drag queen Tchaka segurando uma cabeça humana moldada em silicone circulou nas redes em dezembro passado. Rapidamente virou mais um assunto a ser investigado pela polícia com base na Lei de Segurança Nacional. Lógico. Ao notarem que a escultura em tamanho natural, sob a axila direita de Tchaka, lembrava a fisionomia do presidente da República, as autoridades se aviaram em brios persecutórios. Enxergaram na fotografia atrevida e coruscante um risco iminente para a integridade da Nação.

O que terão imaginado as autoridades? Assanhadas assombrações comunistas, talvez. Ou talvez tenham presumido que cabeças longe do corpo são uma questão de Estado, e isso desde que João Batista teve a dele exposta numa bandeja, por ordem direta de Herodes. Está no Evangelho. Há quem sinta calafrios cívicos só de pensar nisso. Há quem passe mal quando ouve notícias de que, nos estertores do século 18, os revolucionários franceses, não satisfeitos em decapitar reis e rainhas, decapitavam a si mesmos. Saint-Just e Robespierre ceifaram o pescoço de Georges Danton e, três meses mais tarde, sucumbiram à mesma lâmina. Era o Terror.

Quanto a nós, aqui, temos visto acefalias institucionais sem sentir terror algum. Viraram rotina. Vimos o Ministério da Saúde à deriva, sem cérebro. Vimos outras degolas simbólicas sanguinárias sem reagir. Difícil saber quem perdeu a cabeça no Brasil. Terá sido o chefe de Estado, que já declarou preferir acreditar em mula sem cabeça a crer num instituto de pesquisa? Ou terá sido a opinião pública entorpecida, destituída de seu sistema nervoso central?

Everardo Maciel* - Reforma tributária, mitos e verdades

- O Estado de S. Paulo

Contribuintes, dizia Maurício de Nassau em seu testamento político, são como carneiros, que se tosquiados até a dor se convertem em terríveis alimárias

Não há nenhuma dúvida quanto à necessidade de reforma tributária, no Brasil, por várias razões, como a natureza intrinsecamente imperfeita de todos os sistemas tributários, as mudanças, cada vez mais rápidas e relevantes, nas circunstâncias econômicas e sociais, as controvérsias conceituais em razão de instabilidades na interpretação administrativa e na jurisprudência, a voracidade da burocracia tributária, etc. 

Essa necessidade, todavia, não é exclusiva do Brasil. Alcança todos os países, não necessariamente ao mesmo tempo, nem com a mesma agenda de questões a solucionar. 

Propostas de reforma tributária devem, precipuamente, delimitar seu objeto e eleger a forma de execução, dispensando chavões, dogmatismos, ilações insubsistentes, pretensões de recepcionar acriticamente experiências estrangeiras, estudos e pareceres encomendados por interesses privados. Além disso, devem ser precedidas de estudos, que exponham de forma clara os problemas que pretende enfrentar, as possíveis soluções e suas repercussões, a serem submetidas a debate aberto e transparente.

É como se fez no Brasil, em 1953, quando da elaboração do anteprojeto do Código Tributário Nacional. 

Malu Gaspar – Homens pequenos

- O Globo

 CPI da Covid revela homens ainda menores do que pensávamos

 ‘Um homem pequeno para estar onde está’ foi a expressão usada por Luiz Henrique Mandetta no depoimento à CPI da Covid. O ex-ministro da Saúde se referia ao ex-colega da Economia, Paulo Guedes, que o acusou de “pegar R$ 5 bilhões” e não comprar vacinas quando elas ainda nem existiam. Mandetta falou só de Guedes, mas bem poderia ter usado o aposto para outros personagens.

No momento em que Mandetta se apresentava à CPI, homens de confiança do presidente da República trabalhavam nos bastidores para ajudar outro ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, a escapar do próprio depoimento. Estavam alarmados com o que viram no treinamento aplicado a ele no final de semana. O general que, no poder, se acostumou a dar entrevistas coletivas em que só falava o que queria e não respondia a pergunta nenhuma tremeu diante da simulação de um pelotão agressivo de senadores ávidos por um embate. 

Acuado, o mesmo Pazuello que dias antes circulava sem máscara num shopping center de Manaus, despreocupado com a pandemia, escondeu-se atrás do Exército. Coube a um general assinar um ofício avisando à CPI que ele não compareceria, por ter tido contato com coronéis contaminados com o coronavírus. 

Alberto Aggio* - A revolução, seu mito e a democracia

- Horizontes democráticos 

O tempo dos contemporâneos construiu-se atravessado pela ideia de revolução. Nesta história, ao lado de outras questões, a revolução representou algo expressivo e acabou ganhando feições mundiais. Mas foi, sem dúvida, o Ocidente a matriz original desse percurso. Além do seu lugar marcadamente histórico, foi como conceito político que a revolução apareceu e fixou-se como referente cultural.

Como todo conceito político, também o de revolução, não possui uma leitura unívoca, sendo reconhecidamente um conceito polêmico. Em função disso, este ensaio tem como propósito realizar uma reflexão em torno do conceito de revolução, da mitologia que se formou em torno dele, e da relação nem sempre sincrônica e consonante que teve com o tema da democracia. Obviamente, não há nenhuma intenção de esgotar o problema. Mais do que tudo, o que se quer é levantar alguns elementos relevantes que a literatura a respeito dessa problemática tem apresentado ao debate.

A revolução no centro do mundo

Inicialmente penso ser importante indicar, como já o fizeram diversos analistas do tema, que o termo revolução deriva das ciências naturais[1] e a sua primeira utilização para qualificar um acontecimento político ocorre precisamente na Inglaterra, em 1600, para identificar um processo de restauração política com o fechamento do Parlamento pela Monarquia. Outros processos de restauração política na Inglaterra até o estabelecimento da Monarquia Constitucional em 1689 foram ainda qualificados de revolução. Mas somente com a Revolução Francesa de 1789 é que o termo passou a adquirir o sentido e as conotações que lhe atribuímos hoje[2].

Inscrita na história política e social que abre as portas da modernidade no Ocidente, o conceito de revolução passou a ser objeto de muitas definições. No entanto, as tentativas de se precisar um significado definitivo para o que se entendia como revolução apontou resultados bastante discrepantes. Podemos recolher dessas tentativas definições descritivas do “fenômeno” que se reportam a “mudanças violentas”, a episódios de “guerra interna” ou definições mais negativas que visam qualificar a revolução como o contrário de “evolução” ou “regressão” histórica. Por fim, o entendimento de que a retomada do monopólio do poder sob novas formas, como resultado da fratura das instituições estatais, ou a noção de uma “etapa superior” do desenvolvimento social, conforme uma visão progressiva da história, configuram-se como caracterizações mais precisas, mas não por isso deixam de ser bastante abrangentes.

Em virtude da dificuldade de se encontrar uma definição consensual sobre o conceito é importante ter em mente que principalmente os mais notórios defensores da revolução na história contemporânea, dentre eles, Karl Marx, nunca buscaram uma definição axiológica, preferindo descrever e compreender os seus traços históricos mais importantes. Para a discussão que pretendemos fazer aqui uma outra coisa importante que se deve ter em vista é que a discussão em torno da revolução marcou profundamente a esquerda ocidental precisamente porque todos os seus horizontes estiveram ancorados na perspectiva de buscar uma nova sociedade, tendo como seu paradigma fundante a noção de revolução. Mas, ainda assim, é preciso admitir mais amplamente, como o fez F. Furet (1978), que a idéia de revolução passou a estar no “centro das nossas representações políticas” e, por isso, acabou por fixar no pensamento ocidental uma visão mitológica da revolução e do que ela mais se propunha, ou seja, a transformação histórica.

David Zylbersztajn* - É a mudança climática, estúpido

- O Globo

Na véspera da recente Cúpula do Clima, o presidente americano, Joe Biden, apresentou um plano preconizando investimentos de US$ 2,3 trilhões, centrado na reconstrução da infraestrutura americana, em bases que definiu como um esforço transformacional que poderia criar “a mais resiliente e inovadora economia do mundo”.

O catálogo de medidas é imenso, como reconstrução de rodovias, pontes, reforma de aeroportos, substituição da canalização de chumbo no suprimento de água e diversas outras ações voltadas à criação de milhões de empregos em curto período de tempo e a incrementar a competitividade da economia americana no longo prazo. Biden fez questão de ressaltar a transversalidade da questão do aquecimento global em todas as medidas propostas. Num planeta mais aquecido, tais transformações levariam a grandes avanços em pesquisa de tecnologias limpas e à melhoria da eficiência energética global.

Paes apoia Leite para 2022 e elogia Lula: ‘Não está com ódio, apesar de ter motivos’

Em entrevista ao Papo Com o Editor, do Broadcast Político, prefeito do Rio disse ainda que ‘está muito claro’ o conjunto de erros do governo federal na pandemia

Caio Sartori e Gustavo Porto/ O Estado de S. Paulo

RIO e BRASÍLIA – O prefeito do Rio, Eduardo Paes (DEM), está convicto de que o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), é o melhor nome para concorrer à Presidência em 2022. “Tem experiência, capacidade, é da política. Não quero um CEO para o Brasil, quero alguém com capacidade política para liderar o País, a transformação”, disse em entrevista ao Papo Com o Editor, do Broadcast Político/Estadão. A tendência é que o prefeito migre para o PSD, apesar de ainda não ter confirmado oficialmente a informação. 

Apesar disso, o carioca elogia outros nomes de oposição ao presidente Jair Bolsonaro, inclusive o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com quem manteve relação próxima durante seus mandatos anteriores. Os dois chegaram a protagonizar um áudio vazado pela Lava Jato no qual demonstravam intimidade – foi nele que o prefeito chamou a cidade de Maricá, na região metropolitana do Rio, de “merda de lugar”. O PT compunha os governos anteriores de Paes e chegou a ter o vice-prefeito na segunda gestão, entre 2013 e 2016. 

“Acho que o presidente Lula é nome fortíssimo na disputa. Tive o prazer de governar com ele. Era um momento muito diferente, havia uma visão federativa do Brasil em que municípios e Estados tinham protagonismo na implantação de políticas públicas”, apontou. 

 “Vejo com muita simpatia a candidatura dele. Não me parece um movimento simples um eventual apoio no primeiro turno à candidatura, mas goza com minha simpatia, é bom nome. Tem demonstrado maturidade na construção de consenso e que não está amargurado, com ódio, apesar de ter todos os motivos para isso.” 

Castro começa a organizar base para tentar reeleição

Por Cristian Klein e Rodrigo Carro  / Valor Econômico

RIO - A visita do presidente Jair Bolsonaro ao governador do Rio de Janeiro, realizada ontem, significou uma demonstração de força de Cláudio Castro (PSC), num momento em que o chefe do Executivo estadual fluminense prepara o terreno de alianças visando a aglutinar partidos para disputar a reeleição no ano que vem.

Castro deslanchou uma reforma no secretariado, que começou com trocas nas pastas da Fazenda, assumida pelo contador e professor universitário Nelson Rocha, e da Saúde, onde o PP indicou o médico e major do Corpo de Bombeiros Alexandre Chieppe. O governador, apurou o Valor, ofereceu ao PL outra pasta de grande orçamento, a de Educação, atualmente comandada por Comte Bittencourt (Cidadania), e planeja aumentar o espaço do Republicanos, que hoje já está à frente das secretarias de Trabalho e Renda e de Ciência, Tecnologia e Inovação.

A troca na Secretaria de Saúde, em meio à pandemia, foi avalizada pelo presidente nacional do partido, Ciro Nogueira (PP-PI), e pelo presidente da Câmara dos Deputados - que se aproximaram de Castro durante a campanha de Arthur Lira (PP-AL) ao comando da Casa -, mas teve como principal fiador o deputado federal Dr. Luizinho (PP-RJ). Líder da sigla no Estado, Luizinho chegou a ser cotado para assumir o Ministério da Saúde após a saída de Eduardo Pazuello.

Lula reúne-se com Kassab e Maia e conversa sobre articulações estaduais

Ex-presidente será recebido hoje pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco

Por Andrea Jubé e Maria Cristina Fernandes / Valor Econômico

BRASÍLIA e SÃO PAULO - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva encontrou na manhã de ontem o deputado e ex-presidente da Câmara dos Deputados Rodrigo Maia (DEM-RJ), em Brasília. O encontro, segundo interlocutores que o testemunharam, girou em torno da formação de palanques estaduais, preocupação central do ex-presidente para a montagem de sua candidatura em 2022.

No Rio, Lula tem acenado com a possibilidade de vir a apoiar o deputado federal Marcelo Freixo (Psol), com quem também se encontrou em sua passagem por Brasília, para o governo do Estado. Maia e Freixo têm um bom diálogo. A maior dificuldade para o apoio de Maia ao deputado é do próprio partido de Freixo, que se manifestou contra alianças à direita.

No grupo político de Maia, porém, há a expectativa de que Freixo possa vir a mudar de partido para facilitar a montagem de um palanque mais amplo.

O que a mídia pensa: Opiniões / Editoriais

EDITORIAIS

Autoincriminação

O Estado de S. Paulo

Em discurso, Jair Bolsonaro fez ontem violenta defesa de medicamentos inúteis contra a covid-19. Bravatear é o que resta a ele, já que foi incompetente para esvaziar a CPI

Já se disse que o único trabalho da CPI da Pandemia será o de organizar as inúmeras evidências de que o governo de Jair Bolsonaro comportou-se de maneira irresponsável e muitas vezes criminosa em relação à pandemia de covid-19. E o presidente Bolsonaro colabora, diariamente, com novas provas.

Ontem, Bolsonaro chegou a ponto de produzir essas provas no exato momento em que o ex-ministro da Saúde Nelson Teich prestava depoimento à CPI. Enquanto o ex-ministro confirmava aos senadores que deixou o Ministério da Saúde, depois de menos de um mês no cargo, porque descobriu que não teria autonomia e porque foi pressionado a estimular o uso de medicamentos inúteis contra a covid-19 a título de “tratamento precoce”, Bolsonaro discursava fazendo violenta defesa desses remédios.

“Canalha é aquele que critica o tratamento precoce e não apresenta alternativa. Esse é um canalha”, disse o presidente ao mesmo tempo que seu ex-ministro da Saúde dizia que o “tratamento precoce” é um erro – tal como já fizera na CPI outro ex-ministro da Saúde de Bolsonaro, Luiz Henrique Mandetta, anteontem. Esse erro recebeu vultoso investimento do governo federal, ao passo que a compra de vacinas foi deixada até recentemente em segundo plano.

Em outubro de 2020, quando o País já contabilizava quase 160 mil mortos, Bolsonaro questionou a ânsia por uma vacina. “Não sei por que correr”, declarou na época. No mês seguinte, disse que “o povão parece que já está mais imunizado” porque não ficou em casa, sugerindo que a vacina era desnecessária.

O presidente desestimula sistematicamente a vacinação, dizendo que “ninguém pode obrigar ninguém a tomar vacina”, e espalha suspeitas sobre efeitos colaterais do imunizante. Ao mesmo tempo, Bolsonaro e seu governo fazem forte campanha pelo uso de cloroquina.

No discurso de ontem, o presidente chegou a sugerir que a oposição ao uso da cloroquina contra a covid-19 é motivada por interesses comerciais dos laboratórios que produzem vacinas. “Por que não se investe em remédio? Porque é barato demais”, disse Bolsonaro.

Mas o pronunciamento delirante não parou aí. Bolsonaro insinuou, à sua maneira trôpega, que os chineses produziram o vírus em laboratório para ter ganhos econômicos: “É um vírus novo, ninguém sabe se nasceu em laboratório ou nasceu porque um ser humano ingeriu um animal inadequado. Mas está aí. Os militares sabem o que é guerra química, bacteriológica e radiológica. Será que não estamos enfrentando uma nova guerra? Qual o país que mais cresceu o seu PIB? Não vou dizer para vocês”.