Folha de S. Paulo
Bolsa Família mais gordo é uma batalha
política final para Bolsonaro
O aumento do Bolsa Família deve ser a
grande batalha da contraofensiva de Jair Bolsonaro. Grande e talvez última, no
universo das providências racionais, pois se sabe que o tipo pode muito bem
apelar para a explosão de alguma bomba no país.
Não se tem dado a devida atenção ao
confronto, pois os “formadores de opinião” ou “influencers” não ligam muito
para pobres e talvez porque, no caso, a conversa envolva uma solução
para os precatórios que não derrube o teto de gastos ou o avacalhe em
excesso. Só de ouvir as palavras “precatório” e “teto” as pessoas comuns caem
no torpor único do enfado. No entanto, essa decisão deve definir o ambiente
socioeconômico e político em que Bolsonaro e seus apaniguados no Congresso
devem dar as próximas tacadas.
O prestígio de Bolsonaro foi talhado porque
perdeu o apoio dos mais pobres, como é meio óbvio em um país de pobreza bem
piorada pela desigualdade, como o Brasil. A diferença maior é que quase
qualquer outro governante, pelo menos um com características parecidas com a da
humanidade média, poderia ter algum outro recurso de convencimento e simpatia:
esperança, caridade, uma tentativa mínima de governar.
O pico da popularidade de Bolsonaro foi em dezembro de 2020, segundo as pesquisas do Datafolha. Tinha 37% de nota “ótimo ou bom” e 32% de “ruim ou péssimo”. Entre os mais pobres, pessoas de famílias com renda de dois salários mínimos ou menos, era mais ou menos a mesma coisa: 37% de aprovação, 27% de desaprovação. No Datafolha desta semana, 17% dos pobres aprovavam o governo; 52% desaprovavam. Entre os mais “ricos” (renda familiar igual ou maior do que dez salários mínimos), ficou na mesma.