quarta-feira, 20 de outubro de 2021

Vera Magalhães - Um partido em busca de um discurso

O Globo

O PSDB não é apenas um partido em busca de um candidato a presidente. Também é uma sigla à procura de um projeto de país. E parece mais distante de encontrar o discurso que de escolher um dos postulantes à sucessão de Jair Bolsonaro.

Nas pouco mais de duas horas de debate promovido pelo Globo e pelo Valor entre os três pré-candidatos sobraram justificativas para o apoio pretérito a Bolsonaro, críticas entre tímidas (no caso de Eduardo Leite) e mais enfáticas ao presidente, propaganda das próprias gestões feitas pelos dois governadores tucanos e alguma nostalgia do passado glorioso do partido.

Mas e para o futuro? O que propugna a sigla que por duas décadas se revezou com o PT no comando do Brasil, ajudou a formular e a implementar o Plano Real, quebrou os monopólios das telecomunicações e do petróleo, formulou a Lei de Responsabilidade Fiscal, implementou o Bolsa Escola no plano federal, promoveu a universalização do ensino fundamental, vendeu a Vale e criou os genéricos, só para ficar em alguns grandes projetos estruturantes?

Nem Doria nem Leite conseguiram apresentar, até aqui, a espinha dorsal de qual seu programa para o pós-bolsonarismo.

Se em 1995 Fernando Henrique Cardoso assumiu tendo o Real como força eleitoral e aproveitando a lua de mel com o eleitorado para fazer, logo de cara, as reformas econômicas mais difíceis e modelar as privatizações, agora os postulantes do partido saem de um patamar em que o PSDB não é sequer uma das principais vozes de oposição.

O partido não consegue nem ao menos se contrapor de forma inequívoca ao bolsonarismo, tanto que, no debate, os pré-candidatos tiveram de enfrentar o constrangimento de admitir que há setores das bancadas que flertam com o apoio ao presidente.

Zeina Latif - Sim, há lugar para otimismo

O Globo

A sociedade mais exigente contribui para aumentar a concorrência na política, ingrediente essencial para o bom funcionamento da democracia

Somos uma nação ainda adolescente. Foi apenas na década de 1930 - lamentavelmente, em um contexto autoritário -, que o país atingiu um ponto que o permitia trilhar o caminho sem volta de construção de uma nação.

Até então, havia ameaças recorrentes de movimentos separatistas e revoltas regionais que questionavam o poder central. Desde então, foi crise atrás de crise na política e, pior, por bastante tempo se buscou a solução de impasses pela violência, como nas ditaduras.

A adolescência não costuma ser uma fase tranquila. A nação anseia descobrir o que quer para si e avança por tentativa e erro. Enquanto isso, vai se defrontando com as consequências e limitações de suas escolhas.

Foi assim no “contrato social” da Constituição de 1988, que apesar dos avanços civilizatórios, pecou ao querer colocar a todos sob o manto da proteção estatal.

A sociedade foi considerada hipossuficiente em vários aspectos, o que gerou uma Carta contraditória e injusta com as gerações subsequentes, que têm de arcar com o consequente desarranjo das contas públicas.

Na adolescência, tudo parece estridente, como se não houvesse o dia seguinte, mas apenas a agonia do presente.

Nesta confusão atual é importante, porém, separar problemas estruturais, que demandarão, nos próximos mandatos presidenciais, políticos capazes, e questões conjunturais, que podem ser mais facilmente superadas, especialmente no cenário de renovação na política.

Bernardo Mello Franco - O golpismo compensa

O Globo

A CPI da Covid apertou políticos, lobistas e empresários que contribuíram para o avanço da pandemia. Faltou a mesma coragem para confrontar militares que colaboraram com o morticínio.

A comissão chegou a ouvir o general Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde. Mas recusou-se a convocar o general Walter Braga Netto, ex-chefe da Casa Civil e atual ministro da Defesa.

Os senadores Humberto Costa e Alessandro Vieira apresentaram quatro requerimentos para que o oficial fosse inquerido. A CPI vai terminar sem que nenhum deles tenha sido votado.

Não foi por falta de motivo. Por mais de um ano, Braga Netto comandou o comitê de crise que deveria coordenar as ações do governo. O órgão se notabilizou pela inércia e pela falta de transparência.

O general deixou sua marca no atraso para comprar vacinas e na demora para levar oxigênio a Manaus. Além disso, comandou a reunião em que a médica Nise Yamaguchi tentou emplacar uma mudança na bula da cloroquina. A ideia só foi abortada porque o presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, recusou-se a participar da trama negacionista.

Elio Gaspari - A cloroquina que ameaça a CPI

Folha de S. Paulo / O Globo

Os senadores fizeram um grande serviço

Os senadores da CPI trabalharam direito. Mostraram as conexões do charlatanismo com a picaretagem e a má administração da Saúde numa pandemia que já matou mais de 600 mil pessoas. Num país onde o presidente da República falou na “gripezinha” e reclamou dos “maricas” que se protegiam contra o vírus, isso é muita coisa.

Na reta final, como se tivesse tomado cloroquina, a CPI foi vitimada pelos efeitos colaterais provocados pelo teatro que lhe deu fama.

Uma coisa foram as investigações, em cuja retaguarda trabalhou uma infantaria competente. Outra foi o espetáculo que mostrava ao vivo e em cores charlatães, picaretas e profissionais de saúde honestos. Ele produziu também momentos de policialismo e teatro. Mesmo assim, encurralou a retórica do negacionismo do governo, do ministro-general Pazuello e de seu sucessor, o coronel Queiroga, da cepa dos senhores de engenho. Quando ele mostrou o dedo, não foi apenas mal-educado. Acima de tudo, informou que, ao presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia, não restava outra forma de expressão.

Vinicius Torres Freire - A grande mutreta de Bolsonaro

Folha de S. Paulo

Plano do presidente tem calote e aumenta dívida e déficit públicos

plano de Jair Bolsonaro e do centrão para engordar o Bolsa Família implica furar o teto gastos e dar um calote nos precatórios. Além disso, aumenta dívida e déficit públicos e deixa um problema explosivo para o próximo governo. Grande dia para os liberais.

Para dar apenas um exemplo das consequências desse plano, considere-se a conta que vai ficar para o próximo governo. Grande parte das despesas com o novo Bolsa Família, o “Auxílio Brasil”, vai estourar o limite legal de gastos, o “teto”, em 2022.

Não haverá dinheiro para pagar essa conta em 2023 a não ser que 1) o “teto” continue sendo estourado (isto é, Bolsonaro-Guedes terão implodido o teto para sempre) ou; 2) o próximo governo corte esse pagamento e deixe os pobres a ver navios cheios de pelancas e ossos; 3) o próximo governo fique com o ônus de fazer um corte de despesas brutal, em outra parte, o que Bolsonaro não quer fazer. Tal corte será ainda mais inviável em 2023 (dependeria de arrocho nas despesas com o funcionalismo ou com benefícios previdenciários e sociais).

A leitora pode ser contra ou a favor do teto de gastos, tanto faz. Este será um grande resultado do plano Bolsonaro-centrão.

Bruno Boghossian - Bolsonaro e a emergência

Folha de S. Paulo

Governo avista abismo político e prepara gambiarra com cara de programa social

Jair Bolsonaro dizia, em dezembro de 2020, que o país vivia "um finalzinho de pandemia", mas era também um negacionista da crise econômica. À época, o presidente avisava que o auxílio emergencial seria interrompido na virada do ano porque a prioridade do governo era manter as contas públicas em equilíbrio.

O Planalto nunca deu muita bola para o controle de gastos, como mostram as despesas generosas com benefícios para caminhoneiros, policiais e outros integrantes da base que apoia Bolsonaro. O presidente provou também que não ligava para uma situação que se agravaria na população mais pobre.

Para Bolsonaro, a emergência não é a fome de quem perdeu renda na pandemia. Ele só se mexeu nessa área ao ver seu futuro político ameaçado. Quando a popularidade do presidente despencou, no início do ano, o governo voltou a pagar o auxílio por alguns meses. Agora, improvisa um novo programa para recuperar fôlego na corrida pela reeleição.

Hélio Schwartsman - A tragédia se impôs

Folha de S. Paulo

Sem a CPI, não se teria consolidado a percepção de que o governo federal fracassou miseravelmente na pandemia

Quando a CPI da Covid começou, avaliei que ela seria capaz de produzir um relatório forte, mas não o impeachment de Bolsonaro. No plano objetivo, não há o que mudar na análise, mas, no subjetivo, vejo-me obrigado a morder a língua. A comissão se saiu bem melhor do que eu esperava.

Não é que eu tenha recobrado a fé em CPIs. Continuo achando que elas não são bons instrumentos de investigação. Fora uns poucos parlamentares, em geral com experiência como delegados ou promotores, os membros dessas comissões não sabem instruir um processo nem estão muito interessados nisso. Sua prioridade é criar fatos políticos e produzir imagens em que apareçam bem, para usá-las na próxima campanha eleitoral.

Armando Castelar Pinheiro* - Covid, da pandemia ao meio normal

Valor Econômico

Como será o novo normal em um Brasil bem mais tecnológico e diferente é bom tema para campanha eleitoral

Semana retrasada fui pedalar até o centro do Rio. Me surpreendi com quanta gente havia nas ruas, indo ou vindo do trabalho, ou já nos bares, aproveitando que o fim de semana começava. É uma evidência pontual, reconheço, mas consistente com indicadores mais amplos, como aqueles de mobilidade do Google e da Apple. A vida aos poucos entra em nova rotina que, sem ser a do pré-pandemia, está mais perto do normal do que foram 2020 e a maioria deste ano. Se fosse apostar, diria que o “meio normal” será a regra em 2022.

O principal motor dessa mudança é o sucesso na vacinação. Segundo o Ministério da Saúde, 97% dos brasileiros com 60 anos ou mais já receberam a segunda dose ou a dose única da vacina contra a covid-19. Na faixa de 40 a 59 anos essa taxa é de 76%, caindo para 48% no grupo de 25 a 39 anos e 32% no de 18 a 24 anos. Já as taxas para a primeira dose, ou única, são de, respectivamente, 100%, 94%, 86% e 80%. São ótimos números, que posicionam o Brasil para, até o fim do ano, ser um dos países com maior cobertura vacinal do planeta.

Fernando Exman - Véspera de aniversário do Bolsa Família

Valor Econômico

Aliados cobram há meses solução para a área social

No fim do ano passado, um aliado do presidente Jair Bolsonaro, daqueles poucos que não têm medo de dizer o que pensa a um homem poderoso de temperamento imprevisível, alertou-o sobre a urgência de o governo olhar para os milhões de brasileiros que passam fome. A discussão sobre a necessidade de uma prorrogação do auxílio emergencial já estava à mesa, mas o apelo ia além. Era imperativo, argumentava o parlamentar do Centrão, que o governo acelerasse as discussões do programa social que substituiria o Bolsa Família. Mesmo que a equipe econômica fosse contra a ampliação do valor do benefício.

A tese, agora aplicada na prática, era que o mercado precisava compreender que não ganharia todas. A questão era política e por políticos seria tratada.

O aliado estava impressionado com o número de pessoas pedindo dinheiro nas ruas. Não só no Nordeste, para onde continuava a ir aos finais de semana visitar sua base eleitoral e o Bolsa Família virara um valioso ativo eleitoral do PT. Ele também mantinha reuniões frequentes em São Paulo. Em Brasília, vez ou outra precisava fazer compras. “Não tem um supermercado que você entre e não seja abordado por alguém pedindo ajuda.”

Daniel Rittner - Social-democracia volta, e a ultradireita está viva

Valor Econômico

Escrever obituário político é tentador, mas o vento vira

O obituário da social-democracia foi escrito diversas vezes na segunda metade da década passada, após uma série de derrotas de partidos da centro-esquerda na Europa e nos Estados Unidos. François Hollande teve só 6% dos votos como candidato à reeleição na França. O trabalhismo britânico afundou. Na Espanha, o fim do bipartidarismo deixou o PSOE numa crise existencial. O Pasok, na Grécia, virou sinônimo de tragédia. Surgiu o nacional- populismo. Viktor Orbán na Hungria e os irmãos Kaczynski na Polônia ganharam força espalhando preconceitos e xenofobia. Matteo Salvini se tornou uma ameaça na Itália. A Alternativa para a Alemanha (AfD) ressuscita demônios. E teve, é claro, Donald Trump.

O vento começou a mudar de direção. Em parte porque o discurso da direita radical é bom para conquistar votos, mas ruim para construir coalizões e governar. Em parte porque a social-democracia, onde não houve radicalização, conseguiu reconectar-se com suas bases tradicionais. “Os partidos de esquerda vão melhor quando as questões socioeconômicas dominam o debate”, afirmou o cientista político Cas Mudde, da Universidade da Geórgia, em entrevista ao “Washington Post” semanas atrás. Já a direita leva vantagem, segundo ele, quando temas “socioculturais” - como identitários ou imigração - prevalecem na agenda pública.

Debate das prévias do PSDB tem mea-culpa sobre apoio a Bolsonaro e disputa por reformas

João Doria, Eduardo Leite e Arthur Virgílio debateram sobre teto de gastos, emendas parlamentares e reeleição, entre outros temas, em evento promovido pelos jornais O GLOBO e Valor (Veja o vídeo, abaixo)

Bernardo Mello e Camila Zarur / O Globo

RIO — O debate entre candidatos das prévias do PSDB, realizado nesta terça-feira pelos jornais o GLOBO e Valor, teve alfinetadas diretas e veladas entre os três participantes: o governador de São Paulo, João Doria, o ex-prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto, e o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite. As críticas envolveram principalmente o apoio ao presidente Jair Bolsonaro nas eleições de 2018 e a realização de reformas em âmbito estadual. Doria e Leite fizeram um mea-culpa sobre o apoio ao presidente no segundo turno.

No bloco inicial, Virgílio citou o voto declarado por Leite em Bolsonaro no segundo turno de 2018 e contestou que o governador não deveria ter se manifestado a favor do então candidato do PSL. Segundo Virgilio, se Leite achasse que venceria sem isso, "deveria ter desprezado esse apoio"; e, se pensasse que não venceria, "deveria ter perdido como um verdadeiro tucano".

Em sua resposta, Leite aproveitou para alfinetar Doria. O governador de São Paulo buscou associar seu nome a Bolsonaro já no primeiro turno da última eleição presidencial, e lançou no segundo turno o movimento "BolsoDoria".

— Eu no primeiro turno votei no Alckmin, ninguém tem dúvida de que votei nele. Fiz campanha junto, isso sim foi apoio, independentemente do que as pesquisas apontavam. Não vendo a alma para ganhar eleição a qualquer custo — disse Leite, que também citou o apoio de seu adversário naquela eleição, o então governador José Ivo Sartori (MDB), a Bolsonaro, mas de forma que também fazia referência velada a Doria.

Merval Pereira – Sem mortos e feridos; tucanos saem fortalecidos

O Globo

Salvaram-se todos no debate dos pré-candidatos do PSDB

Aparentemente, vai ser menos complicado do que se supunha garantir a unidade dos tucanos após as prévias para escolher o candidato do partido à Presidência da República. O que parecia estar caminhando para um confronto aberto sobre as regras da disputa, com o governador paulista João Doria se insurgindo contra possíveis manobras que lhe tirem o favoritismo dentro do PSDB, acabou refluindo, pelo menos neste primeiro momento, para um debate civilizado em que o partido mostrou que ainda tem fôlego para discutir os grandes temas nacionais sem grande divisões.

Os três pré-candidatos - o próprio Doria, o governador do Rio Grande do Sul Eduardo Leite, e o ex-prefeito de Manaus Arthur Virgilio - defenderam os pontos partidários básicos, como o equilíbrio fiscal e as privatizações, divergiram em pouca coisa, como quanto à reeleição, que também é uma marca do partido. Embora o próprio Fernando Henrique Cardoso já tenha admitido que foi um erro a implantação do sistema de reeleição.

Míriam Leitão – Em busca do resgate da própria identidade

O Globo

Debate mostra como as prévias fazem bem ao PSDB

O PSDB começou nesta terça-feira uma caminhada à procura de si mesmo. Os tucanos nasceram como o partido da social democracia, foram acusados pelos petistas de serem “neoliberais” e, na última eleição, dois dos três pré-candidatos votaram na extrema direita. Seus parlamentares oscilam entre o governo Bolsonaro e a oposição. A chance dessa pré-campanha é que, nos debates, os tucanos saiam da sua longa crise de identidade.

O que uniu os três pré-candidatos foi o que eles tinham a exibir de conquistas fiscais. Fizeram reformas, melhoraram as contas em Manaus, no Rio Grande do Sul e em São Paulo. O governo gaúcho atrasava salário e hoje, com Eduardo Leite, paga em dia os servidores. São Paulo governado por João Doria, em época de crise econômica, ampliou arrecadação e investimentos. Economistas do PSDB fizeram a estabilização da economia. A Lei de Responsabilidade Fiscal tem o DNA tucano. Isso é um dos fundamentos do partido. Mas não o único.

O que a mídia pensa - Editoriais / Opiniões

EDITORIAIS

CPI pedirá indiciamento de Bolsonaro por 11 crimes

Valor Econômico

Nada acontecerá ao presidente se não obtiver o aval tácito do presidente da Câmara, Arthur Lira, e do procurador-geral da Republica, Augusto Aras, que até hoje o tem protegido de problemas legais

A Comissão Parlamentar de Inquérito da Covid no Senado encerra seus trabalhos traçando a história detalhada de como o governo de Jair Bolsonaro contribuiu para que mais de 603 mil pessoas morressem até agora vítimas do vírus. Boa parte da trajetória indecorosa de Bolsonaro durante a pandemia, por se desenrolar à luz do dia, já estava documentada e era conhecida. Ao fim de seis meses, a CPI mostrou detalhes escabrosos de ações que se desenrolavam longe da cena pública e revelou nomes de charlatões, oportunistas e corruptos que se abrigavam sob o letal negacionismo bolsonarista. O relatório da CPI deve ser lido hoje no Senado e votado na próxima semana.

Poesia | João Cabral de Melo Neto - O sertanejo falando

A fala a nível do sertanejo engana:
as palavras dele vêm, como rebuçadas
(palavras confeito, pílula), na glace
de uma entonação lisa, de adocicada.
Enquanto que sob ela, dura e endurece
o caroço de pedra, a amêndoa pétrea,
dessa árvore pedrenta (o sertanejo)
incapaz de não se expressar em pedra.

Daí porque o sertanejo fala pouco:
as palavras de pedra ulceram a boca
e no idioma pedra se fala doloroso;
o natural desse idioma fala à força.
Daí também porque ele fala devagar:
tem de pegar as palavras com cuidado,
confeitá-la na língua, rebuçá-las;
pois toma tempo todo esse trabalho.