quinta-feira, 28 de outubro de 2021

Maria Hermínia Tavares* - Ambiente e justiça social

Folha de S. Paulo

Direito a um ambiente protegido da devastação propiciará novas formas de ação política

Às vésperas da COP-26, o Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas incluiu entre aqueles sob a sua guarda o de viver em um ambiente limpo, saudável e sustentável. Além disso, designou um relator especial para tratar dos impactos da degradação da natureza sobre tais direitos —forma prática de dar à questão a importância apropriada.

Na origem de ambas as decisões está uma ideia de há muito defendida pela ex-presidente da Irlanda, Mary Robinson, que também chefiou o Alto Comissariado da ONU para Direitos Humanos. É o tema de seu livro "Justiça Climática", recém-lançado no Brasil pela editora Record. A autora argumenta que a mudança climática representa uma crise de justiça por afetar de modo desproporcional os países de baixa renda e, em toda parte, os direitos básicos dos mais vulneráveis: homens e (especialmente) mulheres pobres, minorias étnicas e populações indígenas ou tradicionais. Gera ainda injustiça entre gerações, as mais novas pagando a imensa fatura do desastre semeado pelos seus predecessores.

Assis Moreira - Mudança climática e insegurança global

Valor Econômico

Alteração do clima é um multiplicador global de riscos

Representantes de 197 países são esperados na Conferência do Clima em Glasgow, que começa no dia 31 em meio à constatação crescente de que a crise climática é uma ameaça para a segurança coletiva - alimentar, energética ou física. Certos analistas preveem que as tensões vão aumentar em todos os continentes à medida, por exemplo, que alguns países ampliarem movimentos para controlar terras aráveis, estoques de pescado e recursos em água doce, que vão diminuir com o aquecimento climático num contexto marcado pelo crescimento demográfico.

Discussões sobre a relação entre mudança climática, paz e segurança internacional entraram na agenda do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Certos analistas militares falam de “novo inimigo”, sem bandeira, sem dirigente, sem combatente, mas que desestabiliza sociedades inteiras e pode ser uma catástrofe para a segurança mundial.

Antecedendo Glasgow, o governo dos EUA tomou a iniciativa de liberar na semana passada vários relatórios sobre o tema elaborados por suas agências da área de informação. O documento mais amplo é o do Conselho de Segurança Nacional, projetando tendências para 2040 que diz serem baseadas em consenso de estudos científicos, modelos e projeções do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), do US National Climate Assessment e do conjunto de agências oficiais americanas.

Bruno Boghossian – O doutor e o almirante

Folha de S. Paulo

Médico defendeu presidente e disse que ele foi mal interpretado em declaração falsa sobre vacinas

O médico que comandava o Ministério da Saúde no início da pandemia foi demitido porque decidiu contestar os desatinos do chefe. Na véspera de perder o cargo, Luiz Henrique Mandetta reconheceu que estava em risco porque havia "um descompasso" entre a pasta e Jair Bolsonaro. O doutor que ocupa a cadeira hoje prefere não correr o mesmo perigo.

Marcelo Queiroga faz figuração no cargo de ministro da Saúde enquanto espera para lançar uma candidatura nas próximas eleições. Ele já lançou dúvidas sobre o uso de máscaras numa época em que morriam 1.000 pessoas por dia e suspendeu a vacinação de adolescentes para seguir as vontades de um presidente que acredita em boatos da internet.

Ruy Castro - Para Aras ler na cama

Folha de S. Paulo

Teme-se que a leitura do relatório da CPI o faça dormir. Mas, desta vez, Aras pode perder o sono

Sim, nós sabemos que Augusto Aras, procurador-geral da República, passa o dia ocupado ignorando ou indeferindo pedidos de investigação dos crimes do governo, inclusive os praticados por apoiadores como políticos, médicos e advogados de aluguel, pistoleiros condecorados e incansáveis newsfakers ou, em faria-limês, influencers. Donde será demais exigir que se debruce durante o expediente sobre as 1.287 páginas do relatório do CPI da Covid, que pede o indiciamento de seu chefe Jair Bolsonaro por mais crimes que uma única vida seria capaz de pagar.

Mas nada impede que Aras, dedicado cumpridor das funções que lhe garantem o salário, leve a papelada para ler na cama. Muita gente lê antes de dormir, e Aras poderá pedir a um membro de sua equipe para organizar o material em blocos que lhe facilitem a leitura. Uma ideia seria separá-lo por tópicos, cada qual tratando de um dos nove crimes atribuídos a Bolsonaro: contra a saúde pública, incitação à morte, prevaricação, charlatanismo etc.

Vinicius Torres Freire -BC ainda crê que teto sobrevive

Folha de S. Paulo

Banco pediu um tempo e vai pensar na 'relação' antes de chutar o pau da política monetária

Banco Central fez o mínimo ou o básico. Aumentou a taxa de juros básica, a Selic, para 7,75% ao ano. Aumentou o ritmo também: vinha na casa de 1 ponto percentual por reunião, foi para 1,5 ponto agora. Em dezembro, afora milagres, repete essa dose. A Selic então terminaria este 2021 em 9,25% ao ano, o maior nível desde meados de 2017.

Foi o maior salto da Selic em 19 anos, desde que Lula da Silva estava para assumir o governo, depois do pânico da eleição, desvalorização brutal do dólar e "medo do socialismo".

O salto apenas não foi maior porque o pessoal do BC ainda parece acreditar que Jair BolsonaroPaulo Guedes e o centrão não vão conseguir chutar o pau do teto. Hum.

Por que "mínimo" ou "básico"? Na praça financeira ou, pelo menos, entre seus porta-vozes, um aumento menor do que 1,5 ponto percentual significaria que o Banco Central teria jogado a toalha quanto à inflação de 2022, correndo o risco de perder o controle para 2023.

A fim de temperar esse "mínimo" ou "básico", deixou uma porta aberta para um aumento maior do que 1,5 ponto na próxima decisão, em dezembro. Isto é, não deu de barato que governo e Congresso vão mudar de vez o teto de gastos federais. Por ora, na linguagem do comunicado em que o BC explicou sua decisão, o BC chamou o sururu de "recentes questionamentos em relação ao arcabouço fiscal", que "elevaram o risco de desancoragem das expectativas de inflação, aumentando a assimetria altista no balanço de riscos".

José Serra* - Um teto seguro e possível

O Estado de S. Paulo

PEC 182 propõe excluir do limite de gastos as despesas com benefícios do RGPS e o excesso de precatórios previsto para o ano seguinte

O Orçamento do governo federal precisa do teto de gastos, e nossos concidadãos mais vulneráveis e mais duramente atingidos pela pandemia também precisam de um teto para morar, de comida no prato e de uma renda básica para viver dignamente. O governo alega que esses dois objetivos são incompatíveis, mas existe no Congresso uma proposta de legislação tecnicamente superior, que permite ao Executivo financiar novos gastos com assistência aos mais vulneráveis, mas preservando o arcabouço institucional na área fiscal e evitando postergar infinitamente o pagamento de dívidas do governo já sancionadas em definitivo pelo Judiciário (os afamados precatórios).

A proposta do governo federal para mudar a forma de calcular o teto de gastos, combinada com a fixação de um limite de pagamento de precatórios, pode ser encarada como uma bomba fiscal. Trata-se de uma aventura que terminará com a sociedade toda sem saber o rumo que o País resolveu seguir, vivendo com juros altos e inflação descontrolada.

Após a aprovação da reforma da Previdência em 2019, apresentei a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 182, com o objetivo de aperfeiçoar e harmonizar as instituições e regras fiscais em vigor no País. São pouquíssimos artigos, mas com efeitos importantes: amplia controladamente o espaço fiscal no teto de gastos e institui no Brasil um sistema de revisão periódica dos gastos públicos. É uma mudança que permite manter o Teto Constitucional até 2036, com possibilidade de alteração em 2026, tal como estabelece a Emenda Constitucional promulgada no final de 2016.

Merval Pereira - Cólera e algoritmos

O Globo

A revelação de que o Facebook estimulava o compartilhamento de notícias cujos conteúdos geravam reações mais emocionais e provocativas nos usuários, por meio dos emojis que representavam as sensações pessoais ao lê-las, especialmente os que mostravam uma cara avermelhada de raiva, não apenas confirmou que durante anos Mark Zuckerberg e sua equipe manipulavam os usuários da rede social, como abriram um caminho vicioso para as campanhas políticas, até hoje explorado.

Os documentos vazados por uma ex-funcionária mostram que, a partir de 2017, cada reação emocional recebia de quatro a cinco pontos em relação à curtida, mas a raivosa era a que tinha maior pontuação. O Facebook compreendeu que a reação emocional tinha maior potencial de engajamento, fazendo o usuário passar mais tempo na rede social.

O sociólogo Manuel Castells, um dos maiores especialistas em redes sociais, já havia detectado, anos atrás, que o medo é a emoção primária fundamental, a mais importante de nossa vida a influenciar as informações que recebemos. As descobertas mais recentes da neurociência já definiram que o eleitor vota mais com a emoção do que com a razão, e agora o politólogo Giuliano da Empoli, que lidera o think tank Volta, de Milão, e é professor da Sciences Po, de Paris, em artigo recente no Le Monde sobre o candidato de extrema-direita Éric Zemmour, adverte que o extremismo não é um instrumento para atingir seu limite, mas sim um estimulante que pode levá-lo mais longe na política francesa.

Míriam Leitão - Crise na economia e acusação na CPI

O Globo

O procurador-geral da República, Augusto Aras, começou a conversa num estilo “Rolando Lero”, na definição de um senador. O presidente da CPI, senador Omar Aziz, encurtou a conversa e disse: “procurador, o deputado Ricardo Barros está dizendo por aí que o senhor vai arquivar esse relatório em 30 dias. A gente espera que isso não seja premonição.” O dia começou nessa cena “constrangendo Aras”, continuou com a Câmara às voltas com a PEC que fura o teto de gastos e terminou com uma grande alta da taxa de juros. A Selic foi para 7,75%, com aumento de 1,5%.

O grupo dos parlamentares que liderou a mais competente CPI dos últimos tempos decidiu que vai entregar a cada autoridade responsável a cópia do documento. Começou, claro, por Aras. Os senadores e as senadoras trabalharam para não ligar o forno de pizza. Por isso, a CPI produziu durante os seus trabalhos inúmeros efeitos que ajudaram a salvar vidas. É difícil imaginar o que teria sido do Brasil sem a CPI e sem o STF reforçar a autoridade de os governadores adotarem medidas protetivas. Mesmo assim há um duro caminho à frente, segundo fontes do Ministério Público.

Maria Cristina Fernandes - Jair, Paulo e Arthur

Valor Econômico

O presidente usa o ministro para regatear que lhe cobra o Centrão e se vale do bloco para tirar de Guedes o que precisa para turbinar sua reeleição

O presidente Jair Bolsonaro usa o ministro Paulo Guedes para regatear o preço do resgate cotidiano que lhe é cobrado pelo Centrão. E se vale do bloco para tirar do ministro da Economia o que precisa para turbinar sua reeleição. Não é um casamento de papel passado porque tem que ser renovado a cada ano no Orçamento. Tampouco é uma união estável. Trata-se de uma relação a três, eivada de infidelidades mútuas e que se sustenta na dependência crescente que cada um tem dos outros dois.

O embate orçamentário que hoje se assiste é uma demonstração de que o teto que os abriga, não bastasse o material de segunda com que foi feito, se desgastou na cobertura de tão atribulada relação. Como o teto já não comporta mais tantas claraboias, chaminés e remendos, eis que os três parecem ter concluído que é hora de derrubá-lo. O problema é que, ao longo desse tempo, acumularam-se desconfianças e ressentimentos, além de flertes extraconjugais. Se não há como sustentar o teto, tampouco se sabe como preservar uma relação exposta às intempéries dos próximos 14 meses.

Depois de convencer Guedes a abrir mão do teto, Bolsonaro busca a cumplicidade de seu ministro para resguardar um abrigo para si sem se importar se o Centrão pode acabar na chuva. Que indícios dá disso? Quisesse apenas viabilizar o auxílio emergencial o presidente poderia tentar fazê-lo via crédito extraordinário. É bem verdade que a calamidade que o justificaria é mais da ordem da inépcia do que do inevitável, mas esta relação já expôs outros tantos pecados públicos que ninguém se escandaliza mais. Bolsonaro vale-se do expediente porque quer trazer outras prebendas para seu abrigo, dos agrados a caminhoneiros a tantos quantos forem necessários para continuar a ser o eixo desta relação.

Luiz Carlos Azedo - O desafio de Pacheco

Correio Braziliense

A política mineira é polarizada pelo governador Romeu Zema Neto (Novo) e o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), que está no segundo mandato

Para bom entendedor, “Oh! Minas Gerais”, de José Duduca de Moraes, cantor e compositor mineiro, em parceria com Manoel Araújo, disse tudo. Inspirada na melodia da napolitana “Vieni Sur Mar”, que chegou ao Brasil no final do século 19, a canção embalou o ato de filiação do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, ao PSD do ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab. A bancada mineira no Congresso compareceu em peso, mas o desafio de unir Minas para projetar sua candidatura à Presidência em nível nacional ainda é um longo caminho a percorrer.

Juntar os mineiros não é fácil, mas é possível, em torno de um projeto nacional. Entretanto, constitui um desafio à altura das figuras de Juscelino Kubitschek e de Tancredo Neves, o presidente eleito em 1985, no colégio eleitoral, para pôr fim ao regime militar e que não chegou a tomar posse. A canção é um bom exemplo de que os caminhos de Minas não são um passeio pelo Eixo Monumental, no qual se situa o Memorial JK, que abrigou o ato de filiação de Pacheco. Nunca se chegou a um acordo quanto ao hino oficial dos mineiros. Em 1985, um concurso desclassificou as 72 composições inscritas. Em 1992, o número de desclassificadas subiu para 570.

Malu Gaspar – Bolsonaro não está morto

O Globo

Todas as pesquisas de opinião disponíveis no Brasil mostram que, se as eleições presidenciais fossem hoje, teríamos um segundo turno entre Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva. As projeções indicam ainda que o petista ganharia do presidente por larga margem. Nos últimos meses, os índices de popularidade de Bolsonaro têm derretido.

Esses fatores estão orientando a estratégia da esquerda, que, assim como parte da opinião pública, calcula seus movimentos para 2022 baseando-se na presunção de que Bolsonaro já era. Parando para analisar com mais calma os fatos dos últimos dias, porém, a coisa muda de figura.

A CPI da Covid aprovou na terça-feira seu relatório pedindo o indiciamento de Bolsonaro por nove crimes, mas encontrará na Procuradoria-Geral da República uma barreira sólida — Augusto Aras, que já está bolando formas de postergar qualquer iniciativa a respeito.

Carlos Melo* - Na esperança da inviabilidade de Bolsonaro

O Estado de S. Paulo

Ponto fixo na geometria, na política brasileira o centro é lugar incerto e não sabido. Torcendo por fatos novos, conforma-se em campo fragmentado e dependente dos erros de adversários descuidados. Parece marcado pelo signo nonsense de “Terceira Via”, o terceiro lugar na corrida em que apenas dois passam para o segundo turno.

Disputas entre personalidades imodestas mal disfarçam remorsos pelo apoio, em 2018, e pela simpatia inicial ao governo Bolsonaro, desde sempre a calamidade social, política e democrática que se conhece. Resultado do vazio programático que supervaloriza o discurso reformista voltado mais ao passado que ao futuro; agenda sob alguns aspectos necessária, mas atropelada pelo mundo de revoluções e exclusões catalisadas na pandemia.

Dentre outros, é o caso do PSDB cujas crises de projeto e identidade remontam ao final do governo FHC – quando, de fato, se conduziu importante processo de modernização. Desde então, questões aprofundadas por escaramuças entre caciques de ontem e hoje e na divisão da bancada federal cindida por princípios democráticos e lamentáveis fisiologismo e oportunismo eleitorais.

É assim que o Centro se anima: na expectativa da inviabilidade política de Bolsonaro, quando, mais uma vez, será erguido o estandarte oco do antipetismo — quem sabe, a modo de reconstruir a trilha de 2014, que nos trouxe ao labirinto. Sem olhar para o futuro, renunciar a projetos pessoais, construir diálogos e despertar a esperança, o Centro caminha sem sair do lugar.

*Carlos Melo, cientista político. Professor do Insper.

Indefinições no PSDB, de Moro e fator Bolsonaro estimulam pré-candidaturas no centro político

Três respostas são consideradas fundamentais para que uma terceira via possa se tornar competitiva: quem vai vencer as prévias tucanas? ex-juiz será candidato? presidente vai conseguir estancar a queda de popularidade?

Adriana Ferraz, O Estado de S. Paulo

Ainda distantes de qualquer sinal de convergência para uma candidatura única na disputa presidencial de 2022, os partidos do centro político optam, por enquanto, por um movimento contrário à chamada terceira via. A praticamente um ano da definição do próximo presidente da República, ao menos 11 pré-candidatos se apresentam para a disputa. Entre eles o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, que se filiou nesta quarta, 27, ao PSD, e entrou oficialmente nessa fila.

Este cenário reflete a movimentação dos presidenciáveis que hoje estão nas primeiras colocações das pesquisas de intenção de voto, a começar pelo próprio presidente Jair Bolsonaro, que colocou trabalha persistentemente por criar condições para a reeleição. Neste ano, Bolsonaro reforçou a agenda de rua com apoiadores – incluindo as motociatas – e, mais recentemente, lançou o Auxílio Brasil, programa social que substituirá o Bolsa Família.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem se dedicado a encontros partidários desde que se tornou novamente elegível por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). Com suas condenações na Lava Jato anuladas e seu retorno ao xadrez político, o petista aparece com larga vantagem nas pesquisas, o que obrigou à revisão de estratégias nos campos da direita e da esquerda.

Com discurso de candidato, Pacheco se filia ao PSD pregando união e fim da intolerância

‘Já passou da hora de voltarmos ao diálogo’, afirma presidente do Senado, apontado como presidenciável em 2022

Marcelo de Moraes, O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA – Em clima de lançamento de candidatura ao Palácio do Planalto, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (MG), assinou nesta quarta, 27, sua ficha de filiação do PSD. Pacheco afirmou que a definição de um projeto de candidatura somente será feito em 2022, mas já fez um discurso em tom de campanha, defendendo a união nacional e o fim da intolerância para que o País possa retomar seu desenvolvimento.

“Nós hoje vivemos um momento de enorme preocupação quanto ao futuro da nossa nação e da nossa gente”, afirmou. “Não há dúvida que estamos atravessando um dos momentos mais difíceis da nossa história. Esse último biênio nacional foi marcante. Foi tristemente marcante.

Nós temos desafios enormes pela frente que precisam ser enfrentados e solucionados. O desafio da pandemia e sua cura, o desafio social e do mercado de trabalho, os desafios na área ambiental, os desafios da saúde e de uma educação de qualidade, o desafio na produção de energia e agora também o desafio da fome, um flagelo inaceitável que tem castigado tantos e tantos brasileiros”, defendeu o senador.

“Hoje, estamos todos cansados e descrentes. Estamos cansados de viver em meio a tanta incerteza, a tanta incompreensão e intolerância. Uma sociedade dividida, em que cada um não admite o contrário e não aceita a existência do outro, nunca irá chegar a lugar algum”, ponderou.

“Já passou da hora de voltarmos ao diálogo, de retomarmos o diálogo, o desenvolvimento e a paz”, acrescentou.

Se Pacheco preferiu não assumir sua candidatura, o presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, foi direto a respeito do projeto e ironizou o “segredo” em torno do projeto político.

“Evidentemente, por causa da cautela dos mineiros, ele não vai aqui reconhecer, até porque vai fazer uma reflexão, mas em off, reservadamente, o Rodrigo Pacheco vai ser o nosso candidato e será presidente da República”, afirmou Kassab diante da plateia que compareceu ao ato em Brasília.

A solenidade foi cercada de simbolismos políticos ligados ao provável projeto presidencial envolvendo Pacheco. A cerimônia foi feita no Memorial JK, uma espécie de museu sobre o ex-presidente Juscelino Kubitscheck e contou com a presença de sua neta Ana Cristina e de seu marido, o ex-senador Paulo Octávio, que preside o PSD no Distrito Federal. Além disso, um conjunto de chorinho foi trazido de Diamantina para tocar durante a solenidade.

Pacheco usou fartamente a associação com JK, especialmente na defesa da busca de conciliação e de desenvolvimento para o País. Também buscou citar Tancredo Neves como referência para sua política.

Além de muitos prefeitos mineiros, a solenidade de filiação de Pacheco teve presença maciça da bancada de senadores, não se restringindo aos 11 companheiros de bancada de PSD do presidente da Casa. Representantes de outros partidos prestigiaram sua filiação, como foi o caso dos senadores Davi Alcolumbre (DEM-AP), Marcos Rogério (DEM-RO), Katia Abreu (PP-TO), entre outros.

William Waack - Ctrl + T + Del

O Estado de S. Paulo

Se depender do procurador-geral da República, Bolsonaro não será denunciado

Ao receber o relatório final da CPI da Pandemia, o procurador-geral da República afirmou em rede social que o Ministério Público poderá agora “avançar” em investigações. Até aqui Augusto Aras não viu crime cometido por Jair Bolsonaro nas mais de mil páginas produzidas pela CPI, uma convicção que ele foi formando à medida que recebia os materiais da investigação feita pelos senadores (através do Giac, o Gabinete Integrado de Acompanhamento da Epidemia Covid-19, que ele mesmo coordena abrangendo todos os braços do Ministério Público).

À medida que o Giac encaminhava os materiais coletados pela CPI (que formam a base do relatório final), o PGR solidificava a percepção de que a investigação se dava num importante e legítimo palco da política, mas que não passava disso: de atividade inerente à política e com forte coloração eleitoral. E eventuais crimes de responsabilidade cometidos pelo presidente cabem ao Senado resolver, e não ao PGR.

Adriana Fernandes - Festão em Brasília

O Estado de S. Paulo

Com discursos vazios, a política coloca o País no fundo do poço e leva a economia junto

São dias de festa em Brasília. Normalmente elas acontecem mais para perto dos últimos dias de novembro e início de dezembro na votação do Orçamento. Mas a PEC dos Precatórios acabou antecipando os festejos.

É planilha para cá; é planilha para lá nos gabinetes do Congresso. Os caciques dos partidos estão dividindo o bolo das emendas parlamentares para 2022.

O PSDB, que para o público de fora vende a bandeira da responsabilidade fiscal com seus dois candidatos à Presidência, entrou de cabeça na negociação das emendas.

A PEC virou um “trem da alegria” para encaixar tudo que é tipo de demanda. Tem adiamento do pagamento (calote) de precatórios, furo no teto de gastos para aumentar fundo eleitoral, Refis generoso para dívidas previdenciárias dos prefeitos e securitização de dívida ativa dos Estados, que nada mais é do que antecipação de receitas que vai prejudicar os futuros governadores.

O que a mídia pensa - Editoriais / Opiniões

EDITORIAIS

Estamos vencendo

Folha de S. Paulo

Vacinação se dissemina no Brasil como em poucos países e permite retorno vigilante à normalidade

É uma lástima que a incompetência e a ignorância do governo Jair Bolsonaro tenham retardado a vacinação contra a Covid-19, contribuindo para dezenas de milhares de mortes evitáveis no Brasil. A resistência da sociedade, entretanto, empurrou a campanha para a frente e produziu resultados que já podem ser considerados excelentes.

No estado de São Paulo, adiantado no processo, 87 de cada 100 adultos completaram seu ciclo de imunização. Os indicadores paulistas hoje são equiparáveis aos de nações desenvolvidas como França e Itália, e melhores que os da Alemanha, do Reino Unido e dos Estados Unidos.

A julgar pelos que tomaram ao menos uma dose —praticamente todos com 18 anos ou mais—, a cobertura em São Paulo chegará muito perto de abranger o conjunto das populações alvo em semanas.

Curvas parecidas se delineiam para o público de 12 a 17 anos, que começou a ser vacinado recentemente, e também no caso dos acima de 60 habilitados à dose de reforço. Em ritmo pouco inferior, as demais unidades da Federação convergem para resultados similares.

Poesia | Vinicius de Moraes -Tomara

Que a tristeza te convença
Que a saudade não compensa
E que a ausência não dá paz
E o verdadeiro amor de quem se ama
Tece a mesma antiga trama
Que não se desfaz

E a coisa mais divina
Que há no mundo
É viver cada segundo
Como nunca mais...